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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CAMPUS PROF. ALBERTO CARVALHO


CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

SIRLAINE DE ALMEIDA SANTOS

RELATÓRIO DE ESTÁGIO NO ENSINO FUNDAMENTAL

Itabaiana - SE
2023
SIRLAINE DE ALMEIDA SANTOS

RELATÓRIO DE ESTÁGIO NO ENSINO FUNDAMENTAL

Relatório apresentado como requisito parcial de avaliação da


disciplina Estágio Supervisionado em Ensino de Matemática II,
do Curso de Licenciatura em Matemática, da Universidade
Federal de Sergipe – UFS, Campus Prof. Alberto Carvalho.

Prof. Orientador: MARTA ÉLID AMORIM

Itabaiana – SE
2023
1 INTRODUÇÃO

Este relato visa apresentar as minhas experiências vivenciadas no Programa da


Residência Pedagógica (PRP). Fiz a realização desse estágio com o intuito de pôr em prática
meus conhecimentos acadêmicos adquiridos durante o curso, e também porque o residente
ganha experiência de prática no ensino, aprende a gerenciar uma sala de aula, desenvolve
habilidades de comunicação e aprimora sua capacidade de lidar com situações desafiadoras.
Essa fase nos faz refletir sobre as nossas escolhas, se a docência é o que realmente queremos.

O processo para entrar é através da publicação de um edital específico para preencher


vagas de alunos que se formariam naquele período. Dessa forma, assim como previsto no
edital, realizei a inscrição, participei das fases de seleção, alcançando a aprovação. Quando
entrei no RP, em fevereiro/2021, já tinha três meses de início do projeto e para me adequar ao
que havia sido planejado pelo orientador, a saber, o trabalho realizado em grupos, fui incluída
pelo o orientador em um dos grupos previamente formados.

A escolha de turma/escola respeitou a opção por atuarmos no ensino fundamental e,


consequentemente, a professora preceptora foi a Profa. CLÊANE DOS SANTOS que ficou
responsável por nosso acompanhamento. Foi ela que nos direcionou para um 6º ano que
atuava como professora titular. As atividades foram desenvolvidas na Escola Municipal
Professora Clara Meireles Teles em uma turma de 6º ano do Ensino Fundamental, na cidade
de Itabaiana -SE, no período de abril/junho de 2021.

O professor orientador Ricardo Nicasso Benito optou por trabalhar com a Teoria
Antropológica do Didático (TAD) por meio do dispositivo didático Percurso de Estudo e
Pesquisa (PEP). Para tanto, durante o primeiro módulo do programa (outubro/20 a abril/21)
recebemos uma formação que foi dividida em dois momentos. No primeiro momento vivemos
um PEP na posição de estudantes do ensino básico, para que pudéssemos ter um primeiro
contato com essa ferramenta de ensino. Em seguida, planejamos e desenvolvemos novos PEP
– na função de professores de matemática – que foram aplicados com os estudantes do 6º ano
ensino fundamental.

O PEP foi aplicado no período de abril/junho de 2021, de forma remota, no encontro


com os alunos foi feito o questionamento que adotamos como “Q0: Como são definidos os
tamanhos das camisetas?” que favoreceu o surgimento de várias especulações por parte dos
alunos. Na sequência apresentamos um vídeo em que uma pessoa ficava revoltada ao realizar
uma compra e o tamanho de sua camisa ser diferente do indicado na etiqueta.

Em seguida, questionamos se os estudantes já haviam passado por alguma situação


semelhante e, a partir daí, começamos o estudo de Q0. Durante a aplicação do PEP,
professoras e alunos fizeram o papel de investigadores e, dessa forma, elaboramos perguntas
que pudessem solucionar o nosso questionamento, e posteriormente buscamos respostas para
tais perguntas. Esse processo foi repetido por duas vezes, e então foi elaborado outras
perguntas decorrentes
das primeiras, consequentemente outras respostas, até que os alunos pudessem
responder a Q0.

No princípio da pergunta inicial, surgiu o assunto de razão e proporção, depois das


indagações das perguntas, apareceram outros conteúdos como os números decimais e suas
operações. Devido ao período remoto, o estudo foi realizado em reuniões síncronas e
semanais, utilizando o Google Meet e reuniões assíncronas auxiliadas pelo WhatsApp.
Durante esse período, estudamos e buscamos solucionar a seguinte questão: Como são
definidos os tamanhos das camisas? Para responder a Q0, como a questão foi chamada, os
alunos buscaram o máximo de informações possíveis em sites, artigos, revistas. Na medida
em que avançavam suas pesquisas, se fez necessário que os alunos utilizassem ferramentas
matemáticas como noções de razão e proporção.

2 APORTE TEÓRICO QUE EMBASOU O TRABALHO DOCENTE


DESENVOLVIDO

O PEP propõe uma nova maneira de observar os problemas de ensino e aprendizagem


da Matemática, partindo de um tema central e, a partir daí, iniciar todo o processo de
desenvolvimento na busca de uma boa resposta, construída a partir das articulações de
conhecimentos adquiridos no processo.

O PEP apresenta uma proposta metodológica diferente da vigente nos cursos de


Licenciatura em Matemática, indicando “novos” caminhos para o professor buscar o ensino
dos conceitos previstos durante o curso, promovendo uma compreensão mais significativa
desses conceitos pelos alunos.
Nesse processo de percurso, existe a possibilidade de aplicação para resolver
problemas relacionados à realidade do aluno ou à sociedade na qual ele está inserido,
buscando apresentar-se como uma resposta aos problemas relacionados a epistemologia
escolar monumentalista.

Nesse sentido, Chevallard (2012) menciona que o paradigma “questionar o mundo”


deve ser base na sociedade e na escola, e devemos reviver o espírito da matemática. Assim,
segundo Chevallard (2009), trabalhar coletivamente sobre praxeologias permite aos
professores discutirem como acontece o processo de ensino e aprendizagem de determinado
conceito e é ferramenta essencial para combater o ensino rotineiro em sala de aula:

A “metodologia”, portanto, é o que eu chamarei as praxeologias de pesquisa


colocadas em jogo em um determinado campo (ou em uma dada pesquisa particular).
Eu aproveito este momento para enfatizar que o trabalho coletivo sobre as
praxeologias de pesquisa em didática, ou seja, sobre "os métodos e procedimentos
pelos quais tal conhecimento e compreensão são alcançados" e "a formulação de
métodos sistemáticos e logicamente consistentes para a busca de conhecimento", me
parece hoje mais necessário do que nunca, para combater os efeitos da rotina ou
mesmo da quase naturalização dos métodos frequentemente utilizados.
(CHEVALLARD, 2009, p. 11)

Para Andrade (2012), o PEP:


[...] se constitui em um Percurso de Formação de Professores, na formação inicial e
continuada, à medida que vem constituir processos de estudos para o enfrentamento
do problema praxeológico da instituição docente, de questões que emanam das e nas
práticas docentes, das condições e restrições impostas a essas problemáticas,
eliminando riscos de se querer formar professores a partir de um EP (Equipamento
Praxeológico) imutável que se deixaria sob a responsabilidade do professor para
mobilizá-lo em situações concretas. (p. 36)

Os procedimentos metodológicos do PEP parecem “render frutos” no trabalho com a


formação continuada, essa metodologia colocada em jogo em um domínio dado ou em uma
pesquisa específica, lembra que o trabalho coletivo sobre praxeologias de investigação em
didática se faz necessário para combater os efeitos dos caminhos feito de maneira automática.

3. EXPERIÊNCIA DE DOCÊNCIA REALIZADA

No começo das aulas, fiquei um pouco apreensiva, pois se tratava de uma nova
metodologia, com ensino remoto devido a pandemia, e a turma por conter crianças que requer
cuidados para que tenham compreensão do que estamos mostrando em aula, me deparei várias
vezes com alguns questionamentos internos, como se realmente surtiria efeito com eles. Ao
longo da aplicação desse recurso e com o apoio e compreensão das minhas companheiras de
residência nessa turma, obtive as respostas positivas.

Quando se iniciou a aplicação do PEP, os alunos se mostraram entusiasmado, porque a


matemática é “taxada” como uma matéria insuportável, e quando surge uma oportunidade de
mostrar que a matéria é essencial, que podemos aprender de forma lúdica, usando o que
acontece no dia-a-dia para construir o aprendizado, é algo fantástico.

Depois de sanar todos os medos dos obstáculos da introdução do PEP, começamos a


colher os frutos. Com as indagações das perguntas e respostas para solucionar a Q0, no início
da residência, quando o orientador nos mostrou a metodologia e realizou uma formação
docente, para tentar resolver a Q0, surgiu o seguinte mapa:

Figura 1: Mapa a priori


Fonte: acervo do RP

Com as perguntas elaboradas e as respostas desenvolvidas pelos alunos durante a


aplicação do PEP, foi criado um mapa para acompanhar o desenvolvimento
do estudo. Esse mapa, que foi montado aos poucos, ao longo do processo, sendo reajustado
sempre que necessário, permitia ao professor uma visão mais ampla de como prosseguir,
quais
atividades apresentar aos alunos, quais as suas indagações para responder a Q0.

Nos retângulos brancos e cinzas, respectivamente, estão a perguntas e as respostas que


foram produzidas durante o estudo. Podemos notar que algumas perguntas foram decorrentes
de outras, como indicado pelas setas.

Figura 2: Mapa a posterior


Fonte: Acervo do RP

Analisando os dois mapas, notamos que o que foi previsto no início da nova
metodologia com a construção do mapa a priori, foi alcançado no mapa a posteriori o qual foi
construindo ao longo da aplicação do PEP com os alunos da turma.

O processo de construção do mapa permitiu que o aluno fosse constantemente


incentivado a entender a importância e o porquê de estudar sobre determinados
conteúdos. Além disso, o conteúdo matemático a ser estudado surgiu a partir dos
próprios resultados dos alunos.

Com o prosseguimento das atividades, os alunos sentiram necessidade de aprender


sobre outros conteúdos para ajudar na busca de uma resposta para Q0, surgindo algumas
perguntas que não estavam previstas como:

1- As camisas são medidas com fita métrica?


2- As camisas são cortadas a mão ou através de máquinas? Isso influencia nas medidas?
3- De onde vem as medidas que as fábricas utilizam?

Dentre outras que foram questionadas em sala de aula. Diante de tais questionamentos
houve a necessidade de ensinar o conteúdo de números decimais e suas operações. Com isso
foi possível ampliar ainda mais a área de conhecimento adquirida pelos alunos.
Na busca por encontrar algo que relacionasse as medidas das camisetas, eles se
depararam com os conteúdos de razão e proporção. Foi a partir daí que eles se questionaram:
Será que a resposta para a Q0 seria razão e proporção? Esse foi o ponta pé inicial para
estudarmos os conteúdos e suas definições, utilizando o conhecimento que o aluno adquiriu
durante seu estudo e levou para a sala de aula.
A possibilidade desse conteúdo matemático aparecer já havia sido avaliada e
aguardada pelos residentes, que realizaram uma análise a priori do PEP durante a
formação docente orientados pelo professor coordenador do núcleo. Dessa forma, já
esperávamos que razão e proporção seria um conteúdo inevitável de aparecer nos
resultados de suas pesquisas.

4. REFLEXÕES ORIUNDAS DA AÇÃO DOCENTE REALIZADA


Durante todo o processo de elaboração e aplicação do PEP houve dificuldades,
como em tudo que é novo e incomum em nosso cotidiano. Mas a importância de
conhecer e entender o quanto o PEP pode ajudar no processo de compreensão de
conteúdos matemáticos compensou todo o esforço para superar essas dificuldades.

Quando o aluno consegue encontrar um motivo por qual ele deve estudar, esse
processo acaba se tornando algo necessário para ele, e não apenas um conteúdo que ele

possivelmente irá usar com o decorrer do tempo no seu cotidiano.

Por mais que o professor busque metodologias que ajudem no ensino da


matemática, coloca-las em prática não é uma tarefa fácil, e nesse momento de pandemia
tudo acabou se tornando ainda mais difícil. Diante de tantas dificuldades resultantes do
ensino remoto e somadas a uma problemática precedente à pandemia, a dificuldade de
muitos alunos em compreender a matemática, conhecer e utilizar o Percurso de Ensino e
Pesquisa foi algo grandioso para a minha formação.

É verdade que a falta de recursos para pesquisa, bem como outros problemas
resultantes do ensino remoto, dificultou por diversas vezes a execução do PEP. Também
podemos perceber que a resposta final para o questionamento inicial do PEP utilizado,
não estava diretamente relacionado a matemática. Contudo, por meio dessa ferramenta
foi possível fazer com que os alunos fossem os construtores de seu próprio
conhecimento e o professor exercesse o papel de mediador nesse processo. Além disso,
para o aluno é muito importante entender o porquê de estudar a matemática, ao invés de
receber informações prontas e repeti-las.

5.CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto me proporcionou uma valiosa contribuição na vida acadêmica, nele


pude enxergar mesmo de longe, a realidade da educação atual e construir minha
identidade no ser professor. Com a experiência adquirida, pude entender como
realmente se desenvolve a pratica docente, ao enfrentar algumas dificuldades, percebi
que o que se planeja muitas vezes não conseguimos realizar devido a inúmeros fatores.
Por se tratar de uma metodologia nova, fiquei no início com um pouco de dúvida
se realmente iria dar certo, como estaria com uma turma de criança, surgiram várias
perguntas como: Será que eles irão conseguir elaborar algum questionário? Nas
perguntas elaboradas por eles, discutiremos algum assunto matemático? Aprenderão
algo com essa nova metodologia? E a cada aula aplicada minhas perguntas eram
respondidas com êxito.

O PEP por se tratar de uma metodologia investigativa, criando duvidas em quem


vai aplicar, ele ao longo das aulas, nos mostra que é possível aprender sem aulas
tradicionais.

Diante de tudo que foi exposto, afirmo a minha satisfação em ter tido a
oportunidade de participar do Programa Residência Pedagógica e de conhecer e utilizar
o Percurso de Ensino e Pesquisa. Todas as experiências que adquiri, contribuíram
positivamente em minha formação profissional, além de permitir que eu compreendesse
a importância de se utilizar essa ferramenta para o ensino da matemática.

6. REFERÊNCIAS

SANTOS, V. M. P. (Org.) Avaliação de aprendizagem e raciocínio em Matemática:


métodos alternativos. Rio de Janeiro: Instituto de Matemática/UFRJ, 1997.
CHEVALLARD, Y. Analyse des pratiques enseignantes et didactique des mathématiques:
l’approche anthropologique. Juillet 1998. Cours donné à l’université d’étéAnalyse des
pratiques enseignantes et didactique des mathématiques, La Rochelle, 4-11 juillet 1998; paru
dans les actes de cette université d‟été, IREM de Clermont-Ferrand, p. 91-120. Disponível em
http://yves.chevallard.free.fr/spip/spip/article.php3?id_article=27. Acesso em janeiro de 2017,
com paginação de 1-29.
ANDRADE, R. C. D. A Noção de Tarefa Fundamental Como Dispositivo Didático Para Um
Percurso De Formação De Professores: o caso da Geometria Analítica. Universidade Federal
do Pará, Instituto de Educação Matemática e Científica, Programa de Pós-Graduação em
Educação em Ciências e Matemáticas. Tese. Belém, 2012.

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