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O Imposto de Renda é tributo de competência da Uniã o, previsto no inciso III do

art. 153 da Constituiçã o Federal. O Có digo Tributá rio Nacional, por sua vez, ao
discipliná -lo, confere ao legislador ordiná rio a possiblidade de atribuiçã o à fonte
pagadora a responsabilidade por seu recolhimento. Trata-se de medida de
política fiscal a fins de facilitar arrecadaçã o e fiscalizaçã o, donde origina-se o
Imposto de Renda Retido na Fonte.

Pois bem, desde 1997, quando a Organizaçã o para a Cooperaçã o e


Desenvolvimento Econô mico (OCDE) apresentou um modelo para Convençõ es
para evitar a Dupla Tributaçã o em Matéria de Imposto de Renda o Brasil, entã o,
celebrou ou reformulou diversos tratados internacionais nestes moldes,
iniciando disputa em relaçã o à incidência do Imposto de Renda Retido da Fonte
(IRRF) sobre valores remetidos ao exterior em pagamento de serviços sem
transferência de tecnologia.

É que o artigo 7º da referida convençã o modelo determina que a tributaçã o do


lucro será realizada no país sede da empresa contratada, salvo se a empresa
contratante lá exercer atividades através de estabelecimento permanente.

Inicialmente, a controvérsia se deu em relaçã o à força/hierarquia do tratados


internacionais em territó rio nacional, ante divergência de interpretaçã o do
artigo 98 do Có digo Tributá rio Nacional: entendendo-se pela supremacia do
tratado sobre as Leis, qualquer delas que dispusessem de modo diverso da
convençã o têm sua validade prejudicada; por outro lado, entendendo-se pela
ausência de hierarquia, as contradiçõ es entre as normas seriam resolvidas pelo
critério temporal - Lei posterior revoga anterior.

A importâ ncia ao caso em tela revela-se quando da determinaçã o do conceito de


lucro: se este for determinado conforme o tratado, as remessas constituem lucro
a ser tributado nos ditames do art. 7º; por outro viés, se a Lei nacional prevalecer
sobre o tratado, o lucro é tido por 'Outros Rendimentos' (art. 21 da Convençã o
Modelo), tributado na fonte. no país sede da empresa contratante.

De se esperar que a Receita Federal do Brasil adotou o segundo posicionamento,


inclusive amparada por Tribunais que aplicavam o mesmo entendimento, sob o
pressuposto da ausência de hierarquia de normas.

Assim, nesta linha, os valores remetidos ao exterior nã o se configuram como


lucro, mas como "Rendimentos nã o Expressamente Mencionados" e, portanto,
sujeitos à tributaçã o prevista na alínea 'a', inciso II do artigo 685 do Regulamento
do Imposto de Renda - Decreto nº 3.000/99 (tributaçã o na fonte, à alíquota de
25%).

Neste exato sentido se expressou a Coordenadoria Geral de Tributaçã o da


Receita Federal do Brasil em seu Ato Declarató rio nº 01/2000, in verbis: "As
remessas decorrentes de contratos de prestaçã o de assistência técnica e de
serviços técnicos sem transferência de tecnologia sujeitam-se à tributaçã o de
acordo com o art. 685, inciso II, alínea "a", do Decreto nº 3.000, de 1999. (...)
esses rendimentos se classificam no artigo Rendimentos nã o Expressamente
Mencionados (...) o que se dará também na hipó tese de a convençã o nã o
contemplar esse artigo".

Em 17 de maio de 2012, em ocasiã o do julgamento do Recurso Especial nº


1.161.467/RS, o Superior Tribunal de Justiça pô s fim ao embate quando, por
unanimidade de votos, decidiu, dentre outros, que a as normas tributá rias
internacionais se sobrepõ em ao direito interno, e que o artigo 7º da Convençã o
Modelo deve prevalecer sobre o artigo-modelo 21 (Outros Rendimentos).

A Receita Federal manteve seu posicionamento até o advento da Nota Técnica


COSIT nº 23/2013, oportunidade em que, em resposta à manifestaçã o da
Finlâ ndia à possibilidade de denunciar o acordo firmado com o Brasil,
reconheceu a necessidade de revisã o, ante referida decisã o do STJ.

Na mesma esteira se manifestou a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional em


seu Parecer nº 2.363 de 19 de dezembro de 2013.

Em sendo assim, o panorama indicava que o Fisco cederia à s pressõ es da classe


empreendedora e ao entendimento do Judiciá rio.

Ocorre que em 06 de março de 2014 a Receita Federal expediu Instruçã o


Normativa mantendo seu posicionamento original, ou seja, sujeitando as
remessas à incidência do imposto.

É de se verificar que o ó rgã o, em sentido contrá rio ao panorama mundial, segue


rumo a mais uma disputa com a classe empresarial, oferecendo instabilidade e
insegurança jurídica à s empresas que mantém relaçõ es comerciais no exterior.

Nã o obstante, põ e em risco a credibilidade nacional, vez que, evidentemente,


busca brechas e/ou artifícios para burlar os tratados internacionais, atitude esta
já questionada pela Finlâ ndia, conforme anteriormente exposto.

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