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PENAL ESPECIAL
Lei n. 9.455/1997 – Crimes de Tortura
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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Lei n. 9.455/1997 – Crimes de Tortura
Fábio Roque e Flávia Araújo
Sumário
Lei n. 9.455/1997 – Crimes de Tortura.................................................................................................................4
Apresentação......................................................................................................................................................................4
1. Conceito de Tortura.. ...................................................................................................................................................4
2. Competência para Processamento e Julgamento do Crime de Tortura........................................5
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Fábio Roque e Flávia Araújo
Flávia Araújo
Advogada, professora,
Mestra em Políticas Sociais e Cidadania (Ucsal).
1. Conceito de Tortura
A 9.455/1997 é fruto do mandado de criminalização constitucional previsto no art. 5º,
XLIII. Este inciso orienta o legislador ordinário para a elaboração de uma legislação penal,
voltada a criminalizar ou recrudescer o tratamento dispensado aos crimes de tortura, tráfico
ilícito de entorpecentes ou drogas a fins, terrorismo e os definidos como hediondos.
No que diz respeito ao crime de tortura, o mandado de criminalização constitucional só foi
cumprido no ano de 1997, por meio da Lei n. 9.455.
A tortura é equiparada a crime hediondo, conforme podemos observar do art. 5º, XLIII da
CF e do art. 2º da Lei n. 8.072/1990.
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Antes da entrada em vigor da Lei de Tortura, o art. 233 do ECA já criminalizava sua prá-
tica. De acordo com este artigo, incorreria em crime aquele que cometesse o ato de “Sub-
meter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a tortura”. A grande
crítica a esta previsão se refere à ausência de uma conceituação que delimitasse a conduta
criminosa. Outra questão apontada pela crítica diz respeito à delimitação de seus sujeitos
passivos, já que, pela norma, não haveria aplicação da pena caso a vítima da tortura fosse
uma pessoa adulta.
O art. 4º da Lei n. 9.455, que conceitua e impõe penas à crimes de tortura, revogou o art.
233 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
O STJ entende não ser exigível a realização de exame de corpo de delito para a constata-
ção do crime de tortura, já que a tortura psicológica, por exemplo, não deixa vestígios. (STJ
– HC n. 16.142).
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A alínea “a” traduz o crime de constranger alguém com emprego de violência ou grave
ameaça, causando sofrimento físico ou mental com o fim de obter informação, declaração ou
confissão da vítima ou de terceira pessoa.
Trata-se da chamada “tortura-confissão”, “tortura-prova”, “tortura-probatória”, “tortura-
-inquisitorial” ou “tortura institucional”.
Como vimos, o crime de tortura se consuma no momento da imposição do sofrimento
físico ou moral, independentemente da obtenção da finalidade pretendida. Porém, caso esta
finalidade seja alcançada, a informação, declaração ou confissão obtida configura como pro-
va ilícita, não podendo, assim ser utilizada em processos.
O art. 1º, I, “b” tipifica a conduta de “constranger alguém com emprego de violência ou
grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental para provocar ação ou omissão de
natureza criminosa”
Esta é a chamada “tortura-crime” e ocorre quando a prática da tortura tem, como finalida-
de, forçar que a vítima cometa ato criminoso. Lembre-se, porém, que não se exige obtenção
desta finalidade para que ocorra a consumação do fato típico.
Portanto, o crime se consuma no momento da prática do ato (imposição de grave sofri-
mento físico ou mental à alguém), independentemente de o autor do delito conseguir a fina-
lidade almejada. Em outras palavras, não é necessário, para a configuração da tortura, que
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Obs.: Importante: Não haverá crime de tortura se o agente praticar o ato de “constranger
alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico
ou mental” com a finalidade de compelir pessoa a praticar contravenção penal. Isto
porque o art. 1º, “b” da Lei n. 9.455/1997 se refere expressamente a finalidade de “pro-
vocar ação ou omissão de natureza criminosa”. Neste caso, em respeito ao princípio
da legalidade, e da proibição da analogia in malam partem, não haverá crime de tortu-
ra se a vítima for coagida a praticar contravenção penal.
O art. 1º, I, “b” tipifica a conduta de “constranger alguém com emprego de violência ou
grave ameaça, em razão de discriminação racial ou religiosa”
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submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ame-
aça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de
caráter preventivo.
O art. 1º inciso II também traz a finalidade específica pretendida pelo agente com a prática
do ato ilícito. Nesta hipótese, o elemento subjetivo específico (também chamado de “especial
finalidade no agir”) é a aplicação de castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Interessante notar que, neste caso, o legislador faz previsão expressa à necessidade de
o sofrimento físico ou mental imposto à vítima ter natureza “intensa”. O inciso I prevê, para a
configuração do crime, apenas o sofrimento, sem fazer menção ao grau de intensidade.
Em outras palavras, no art. 1º, II, a conduta de submeter alguém a intenso sofrimento
físico ou mental tem, como finalidade, a aplicação de castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo.
Na hipótese prevista no inciso II, só poderá ser vítima de crime de tortura, a pessoa sub-
metida à guarda, poder ou autoridade do sujeito ativo. Esta relação, por sua vez, poderá ser
de Direito Público (ex.: policial e pessoa detida) ou de Direito Público (ex.: tutela e curatela).
3.2.1. Diferença entre o Crime de Tortura Previsto no art. 1º, II da Lei n. 9.455/1997
e o Crime de Maus Tratos, Previsto no art. 136 do Código Penal
O art. 136 do Código Penal prevê o crime de maus tratos, que possui a seguinte redação:
Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para
fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados in-
dispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de
correção ou disciplina.
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crimes de maus tratos (art. 136 do CP), o sujeito ativo possui uma relação de “guarda ou vi-
gilância” para com a vítima. Esta “guarda ou vigilância” possui a finalidade educacional, de
ensino, tratamento ou custódia.
Deste modo, o STJ estabelece uma diferenciação básica entre o crime de maus tratos (art.
136 do CP) e o crime de “tortura-castigo” (art. 1º, II da Lei n. 9.455/1997). De acordo com a
Corte, “para que se configure o delito de maus tratos é necessária a demonstração de que os
castigos infligidos tenham por fim a educação, o ensino, o tratamento ou a custódia do sujeito
passivo”.1
Por outro lado, o Tribunal entende que, “para a configuração da segunda figura do crime
de tortura é indispensável a prova cabal da intenção deliberada de causar o sofrimento físico
ou moral, desvinculada do objetivo de educação”.2
O elemento subjetivo do crime previsto na Lei n. 9.455/1997 é o dolo. Logo, não existe
crime de tortura na modalidade culposa.
1
STJ - CC 102.833/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 26/08/2009, DJe 10/09/2009.
2
STJ - REsp 610.395/SC, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta Turma, julgado em 25/05/2004, DJ 02/08/2004.
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Este dolo será específico, já que o agente pratica o crime buscando alcançar alguma fina-
lidade específica prevista no art. 1º, I “a”, “b” e “c” e art. 1º, II.
Deste modo, são finalidade (dolos específicos) do crime de tortura:
a) obtenção de informação, declaração ou confissão da vítima ou de outra pessoa;
b) provocação de ação ou omissão de cunho criminoso;
c) discriminar alguém por questão racial ou religiosa;
d) pretensão de aplicar castigo ou medida preventiva.
Lembre-se de que, em respeito ao princípio da legalidade, só haverá crime de tortura se
estiver presente um dos dolos específicos previstos no art. 1º Logo, se uma pessoa impõe
grave sofrimento físico ou mental a outra, sem nenhuma finalidade específica, não haverá
incidência da Lei n. 9.455/1997.
Porém, lembre-se também, que não se exige a obtenção desta finalidade (dolo específico)
para que haja a consumação do crime.
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Art. 1º, § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança
a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante
de medida legal.
O art. 5º, XLIX da Constituição Federal dispõe que “é assegurado aos presos o respeito à
integridade física e moral”. Cumprindo esta diretriz, o art. 1º, § 1º da Lei n. 9.455/1997 traz,
como conduta equiparada ao crime de tortura, o ato de submeter pessoa presa, ou sujeita a
medida de segurança, a sofrimento físico ou mental.
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II – Consta no v. acórdão vergastado que a vítima foi agredida por policial civil enquanto se encon-
trava presa. Dessas agressões resultaram lesões graves conforme atestado por laudo pericial. A
vítima, dessa forma, foi submetida a intenso sofrimento físico. Em tal contexto, não há como afas-
tar-se a figura típica referente à tortura prevista no art.1º, § 1º da Lei n. 9.455/1997.
III – Referida modalidade de tortura, ao contrário das demais, não exige, para seu aperfeiçoamento,
especial fim de agir por parte do agente, bastando, portanto, para a configuração do crime, o dolo
de praticar a conduta descrita no tipo objetivo. (STJ – Resp 856.706/AC. Rel. Min Laurita Vaz. Jul-
gado em 06/05/2010. Dje 28/06/2010).
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Art. 1º, § 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou
apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
O art. 1º, § 2º traz a hipótese da “tortura-omissão”. Responderá, por este crime, aquele
que possui o dever de evitar, ou apurar, o crime de tortura e se omite diante de sua ocorrência.
Importante lembrar que, neste caso, o sujeito ativo possui um dever legal de evitar ou apu-
rar o crime.
a) Dever legal de “evitar” a conduta criminosa: Como exemplo deste dever legal de “evitar”
a conduta criminosa, podemos citar a obrigação do agente público, em relação aos custo-
diados, o dever dos pais, em relação aos filhos menores, dever dos tutores ou curadores, em
relação aos tutelados ou curatelados etc. (Ex.: Pai tortura o filho com o conhecimento da mãe,
que nada faz para evitar o ato. Este exemplo, entretanto, não poderá ser aplicado se esta mãe
também é vítima de tortura, física ou psicológica, que a impede de agir com o seu dever legal).
b) Dever legal de “apurar” a conduta criminosa: Apenas os agentes públicos possuem este
dever. Portanto, apenas funcionários públicos incorrem no crime de omissão do dever legal de
apurar crime de tortura,
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Art. 1º, § 3º: Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de
quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
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O art. 1º, § 4º traz as causas de aumento de pena (ou majorantes) aplicáveis ao crime
de tortura. Havendo ocorrência de qualquer das hipóteses previstas neste parágrafo, a pena
poderá será aumentada de um sexto a um terço.
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sequestro previsto no art. 148 do CP, do contrário, haveria bis in idem, o que é proibido pelo
ordenamento jurídico.
Porém, se o dolo inicial do agente é o sequestro e, em decorrência desta conduta, a vítima
acaba passando por grave sofrimento físico ou mental, não será aplicado o crime de tortura e
sim, o de sequestro qualificado, previsto no art. 148, § 2º do CP.
Art. 1º, § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição
para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
O STJ entende que, na condenação por crime de tortura, a perda do cargo, função ou em-
prego público será automática, e não necessitará de fundamentação expressa, na sentença.
(…) 3. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, uma vez reconhecida a prática
do crime de tortura, de acordo com a legislação especial aplicável a este delito, a perda do cargo
público é efeito automático e obrigatório da condenação. 4. Embora fosse dispensável na hipótese,
o Juízo de origem fundamentou concreta e pormenorizadamente a necessidade da imposição da
sanção de perda do cargo público em razão da violação dos deveres do funcionário estatal (policial
militar) para com a Administração Pública. (STJ – REsp n. 1.762.112/MT – 2018/0218898-8. Rel
Min Laurita Vaz. Julgado em 17/09/2019).
Para que haja incidência desta hipótese de perda, faz-se necessário que o crime tenha
sido praticado no exercício da função ou em razão dela. E faz-se necessário o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória.
Uma vez perdido o cargo, função ou emprego público, este não poderá ser recuperado e o
agente, ficará impossibilitado de assumir outra função, na administração pública pelo dobro
do prazo da pena aplicada.
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A tortura constitui crime equiparado a hediondo. Deste modo, serão aplicadas as disposi-
ções da Lei n. 8.072/1990, salvo se houver contradição entre estas normas, caso em que a lei
especial (Lei n. 9.455/1997) deverá prevalecer.
Seguindo a previsão constitucional e a Lei n. 8.072/1990, o art. 1º, § 6º da Lei n. 9.455/1997
nos informa que “o crime de tortura é inafiançável, imprescritível e insuscetível de graça
ou anistia”.
Porém, o art. 2º da Lei de Crimes Hediondos estabelece que os crimes nela previstos, bem
como os a ela equiparados (tortura, terrorismo e tráfico de drogas) são, também, insuscetíveis
de indulto.
A doutrina majoritária entende que, em respeito ao princípio da especialidade e, diante da
ausência de previsão expressa na Lei n. 9.455/1997, não seria cabível uma interpretação ex-
tensiva que prejudique o réu. Logo, como o art. 1º, § 6º não proibiu a concessão do indulto aos
crimes de tortura, este poderá ser concedido. Contudo, esta questão ainda não foi cristalizada
pelos tribunais brasileiros.
No que diz respeito a inafiançabilidade, Lembre-se de que, seguindo o entendimento se-
dimentado pelo STF, o art. 2º, II da Lei n. 8.072/1990 foi alterado pela Lei n. 11.464/2007, que
retirou, de sua redação, a impossibilidade de concessão da liberdade provisória aos crimes
hediondos e a estes equiparados (tortura, tráfico e terrorismo).
Assim, a proibição a inafiançabilidade não impede a concessão da liberdade provisória.
Neste caso, esta liberdade será concedida sem a exigência do pagamento de fiança.
3
STF - HC 111.840/ES, Rel. Min Dias Toffoli, julgado em 14/06/2012. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticia-
noticiastf/anexo/hc111840dt.pdf
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Apenas para finalizar, perceba que não é possível haver substituição da pena privativa de
liberdade pela restritiva de direitos nos crimes previstos na Lei n. 9.455/1997. Isto porque a
consumação da tortura pressupõe a prática da violência (física ou psicológica), o que impos-
sibilita esta substituição, conforme consta no art. 44, I do Código Penal.
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RESUMO
Chegamos ao fim de nossa aula sobre a Lei n. 9.455/1997. Mas antes que possamos nos
despedir, vamos revisar os pontos estudados!
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JURISPRUDÊNCIAS SELECIONADAS
TORTURA-CASTIGO. Art. 1º, II, DA Lei n. 9.455/1997. CRIME PRÓPRIO. AGENTE QUE
OSTENTE POSIÇÃO DE GARANTE. NECESSIDADE. Somente pode ser agente ativo do
crime de tortura-castigo (art. 1º, II, da Lei n. 9.455/1997) aquele que detiver outra pessoa
sob sua guarda, poder ou autoridade (crime próprio). A controvérsia está circunscrita
ao âmbito de abrangência da expressão guarda, poder ou autoridade, prevista na figura
típica do art. 1º, II, da Lei n. 9.455/1997 (tortura-castigo). De início, cumpre esclarecer
que o conceito de tortura, tomado a partir dos instrumentos de direito internacional,
tem um viés estatal, implicando que o crime só poderia ser praticado por agente estatal
(funcionário público) ou por um particular no exercício de função pública, consubstan-
ciando, assim, crime próprio. A despeito disso, o legislador pátrio, ao tratar do tema na
Lei n. 9.455/1997, foi além da concepção estabelecida nos instrumentos internacionais,
na medida em que, ao menos no art. 1º, I, ampliou o conceito de tortura para além da
violência perpetrada por servidor público ou por particular que lhe faça as vezes, dando
ao tipo o tratamento de crime comum. A adoção de uma concepção mais ampla do
tipo supracitado, tal como estabelecida na Lei n. 9.455/1997, encontra guarida na Con-
venção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degra-
dantes, que ao tratar do conceito de tortura estabeleceu –, em seu art. 1º, II –, que: o
presente artigo não será interpretado de maneira a restringir qualquer instrumento inter-
nacional ou legislação nacional que contenha ou possa conter dispositivos de alcance
mais amplo. Ressalta-se, porém, que a possibilidade de tipificar a conduta na forma
do art. 1º, II, da referida lei (tortura-castigo), ao contrário da tortura elencada no inciso
I, não pode ser perpetrada por qualquer pessoa, pois a circunstância de que a violên-
cia ocorra contra vítima submetida à guarda, poder ou autoridade, afasta a hipótese de
crime comum, firmando a conclusão de que o crime é próprio. Nítido, pois, que, no refe-
rido preceito, há um vínculo preexistente, de natureza pública, entre o agente ativo e o
agente passivo do crime. Logo, o delito até pode ser perpetrado por um particular, mas
ele deve ocupar posição de garante (obrigação de cuidado, proteção ou vigilância), seja
em virtude da lei ou de outra relação jurídica. STJ – REsp 1.738.264-DF, Rel. Min. Sebas-
tião Reis Júnior, por maioria, 6ª T., j. 23/08/2018. (Info 633)
NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA SENTENÇA PENAL QUE DETERMINE A PERDA
DO CARGO PÚBLICO. A determinação da perda de cargo público fundada na aplicação
de pena privativa de liberdade superior a 4 anos (art. 92, I, b, do CP) pressupõe funda-
mentação concreta que justifique o cabimento da medida. De fato, para que seja decla-
rada a perda do cargo público, na hipótese descrita no art. 92, I, b, do CP, são necessários
dois requisitos:
a) que o quantum da sanção penal privativa de liberdade seja superior a 4 anos; e
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MAPAS MENTAIS
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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (IBFC/CBM-BA/2019) A tortura é proibida pela Constituição de 1988, sendo essa proibi-
ção, inclusive, um direito fundamental. Sua prática é considerada como crime, sendo discipli-
nada pela Lei n. 9.455/1977. Sobre os crimes de tortura, assinale a alternativa incorreta.
a) Constitui crime de tortura constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental em razão de discriminação racial ou religiosa
b) Aquele que se omite em face da prática do crime de tortura, quando tinha o dever de evitá-
-las ou apurá-las, também pratica crime
c) O crime de tortura é afiançável e suscetível de graça e anistia
d) Constitui crime de tortura submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de
aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo
e) A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para
seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada
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a) A pena prevista para o crime de tortura é aumentada de um sexto até um terço se houver
resultado morte
b) Aplica-se a lei dos crimes de tortura mesmo que o delito tenha sido praticado fora do Brasil,
desde que a vítima seja brasileira.
c) Se da conduta resulta lesão de natureza grave, a pena será de reclusão, de dois a oito anos;
se resulta em lesão de natureza gravíssima, a pena será de reclusão de quatro a dez anos.
d) O crime de tortura é imprescritível, inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
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2. A pena para o crime de tortura, quando resulta morte, é de reclusão de oito a doze anos.
3. O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
4. O condenado por crime de tortura, quando resulta lesão corporal de natureza grave ou gra-
víssima, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.
a) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3.
b) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 4.
c) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4.
d) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4.
e) São corretas as afirmativas 1, 2, 3 e 4.
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Luciano confessar a prática dos atos que ensejaram sua prisão, o policial responsável por
seu interrogatório cobriu sua cabeça com um saco plástico e amarrou-o no seu pescoço,
asfixiando-o. Como Luciano não confessou, o policial deixou-o trancado na sala de interro-
gatório durante várias horas, pendurado de cabeça para baixo, no escuro, período em que lhe
dizia que, se ele não confessasse, seria morto. O delegado de polícia, ciente do que ocorria
na sala de interrogatório, manteve-se inerte. Em depoimento posterior, Luciano afirmou que a
conduta do policial lhe provocara intenso sofrimento físico e mental.
Considerando a situação hipotética acima e o disposto na Lei Federal n. 9.455/1997, julgue o
item subsequente.
O delegado não pode ser considerado coautor ou partícipe da conduta do policial, pois o crime
de tortura somente pode ser praticado de forma comissiva.
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GABARITO
1. c
2. c
3. d
4. c
5. b
6. c
7. b
8. a
9. e
10. e
11. e
12. E
13. E
14. a
15. a
16. C
17. e
18. d
19. C
20. d
21. c
22. b
23. a
24. d
25. e
26. C
27. e
28. b
29. d
30. C
31. C
32. d
33. d
34. E
35. C
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GABARITO COMENTADO
001. (IBFC/CBM-BA/2019) A tortura é proibida pela Constituição de 1988, sendo essa proibi-
ção, inclusive, um direito fundamental. Sua prática é considerada como crime, sendo discipli-
nada pela Lei n. 9.455/1977. Sobre os crimes de tortura, assinale a alternativa incorreta.
a) Constitui crime de tortura constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
causando-lhe sofrimento físico ou mental em razão de discriminação racial ou religiosa
b) Aquele que se omite em face da prática do crime de tortura, quando tinha o dever de evitá-
-las ou apurá-las, também pratica crime
c) O crime de tortura é afiançável e suscetível de graça e anistia
d) Constitui crime de tortura submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de
aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo
e) A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para
seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada
a) Certa. Trata-se da tortura discriminação, prevista no art. 1º, I, “c” da Lei n. 9.455/1997.
b) Certa. Aquele que se omite em face da prática do crime de tortura, quando tinha o dever de
evitá-las ou apurá-las, incorrerá no crime de “tortura-omissão”, previsto no art. 1º, § 2º da Lei
n. 9.455/1997.
c) Errada. O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça e anistia (art. 1º, § 6º da
Lei n. 9.455/1997).
d) Certa. Trata-se da hipótese da “tortura-castigo”, prevista no art. 1º, II da Lei de 9.455/1997.
e) Certa. Trata-se da previsão contida no art. 1º, § 5º da Lei n. 9.455/1997, o qual estabelece
que “A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição
para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.”
Letra c.
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a) Errada. “O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia”. (art. 1º, § 6º).
b) Errada. “O condenado por crime previsto nesta lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cum-
primento da pena em regime fechado”. (art. 1º, § 7º).
c) Certa. “O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em
território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdi-
ção brasileira”. (art. 2º).
d) Errada. A pena é aumentada de um sexto até um terço nas hipóteses trazidas pelo art. 1º, § 4º:
I – se o crime é cometido por agente público;
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou
maior de 60 (sessenta) anos;
III – se o crime é cometido mediante sequestro.
e) Errada. O crime de tortura pode ser praticado na forma omissiva na hipótese descrita no art.
1º, § 2º: “Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou
apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos”.
Letra c.
a) Errada. O crime de tortura é inafiançável, como prevê o art. 5º, XLIII da CF.
b) Errada. O crime de tortura é insuscetíveis de graça ou anistia, como prevê o art. 5º, XLIII da CF.
c) Errada. O art. 1º, § 5º da Lei n. 9.455/1997 estabelece que “A condenação acarretará a per-
da do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo
da pena aplicada.” (grifamos).
d) Certa. A alternativa se refere ao art. 1º, II da Lei n. 9.455/1997.
e) Errada. O crime de tortura é insuscetíveis de graça ou anistia, como prevê o art. 5º, XLIII da CF.
Letra d.
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a) Errada. O art. 1º, § 4º, II da Lei n. 9.455/1997 estabelece que “Aumenta-se a pena de um
sexto até um terço: se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência,
adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos”. (grifamos).
b) Errada. O art. 1º, § 4º, I da Lei n. 9.455/1997 estabelece que “Aumenta-se a pena de um
sexto até um terço: III – se o crime é cometido mediante sequestro.” (grifamos)
c) Certa. O art. 1º, § 4º, I da Lei n. 9.455/1997 estabelece que “Aumenta-se a pena de um sexto
até um terço: se o crime é cometido por agente público”.
d) Errada. O art. 1º, § 4º, I da Lei n. 9.455/1997 estabelece que “Aumenta-se a pena de um
sexto até um terço: III – se o crime é cometido mediante sequestro.” (grifamos)
e) Errada. O art. 1º, § 4º não prevê a violência ou grave ameaça como hipótese de aumento de
pena dos crimes de tortura.
Letra c.
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b) Errada. O art. 1º, § 1º da Lei n. 9.455/1997 estabelece que “Na mesma pena incorre quem
submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por in-
termédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.” (grifamos).
c) Errada. Trata-se da causa de aumento de pena prevista no art. 1º, § 4º, I.
d) Errada. Trata-se da causa de aumento de pena prevista no art. 1º, § 4º, II.
Letra b.
a) Errada. O art. 1º, I, “a” da Lei n. 9.455/1997 estabelece que constitui crime de tortura, puní-
vel com reclusão de dois a oito anos, constranger alguém com emprego de violência ou grave
ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental para provocar ação ou omissão de natu-
reza criminosa. (grifamos).
b) Errada. Responde por crime de tortura, punível com reclusão de dois a oito anos, “quem
submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por
intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal”, conforme
estabelece o art. 1º, § 1º da Lei n. 9.455/1997.
c) Certa. A alternativa trata do crime de tortura previsto no art. 1º, II da Lei n. 9.455/1997.
d) Errada. O crime de tortura é inafiançável, comoestabelece o art. 5º, XLIII da CF.
Letra c.
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a) A pena prevista para o crime de tortura é aumentada de um sexto até um terço se houver
resultado morte
b) Aplica-se a lei dos crimes de tortura mesmo que o delito tenha sido praticado fora do Brasil,
desde que a vítima seja brasileira.
c) Se da conduta resulta lesão de natureza grave, a pena será de reclusão, de dois a oito anos;
se resulta em lesão de natureza gravíssima, a pena será de reclusão de quatro a dez anos.
d) O crime de tortura é imprescritível, inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
a) Errada. O art. 1º, § 3º da Lei n. 9.455/1997, ao prevê o crime de tortura, estabelece que “Se
resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez
anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos”.
b) Certa. O art. 2º da Lei n. 9.455/1997 estabelece que “O disposto nesta Lei aplica-se ainda
quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou
encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.”
c) Errada. O art. 1º, § 3º da Lei n. 9.455/1997, ao prevê o crime de tortura, estabelece que “Se
resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez
anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos”. (grifamos).
d) Errada. O crime de tortura não é imprescritível. A CF estabelece, como imprescritíveis, o ra-
cimo e a ação de grupos armados civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático (art. 5º, incisos XLII e XLIV);
Letra b.
a) Certa. A alternativa não constitui causa de aumento de pena do crime de tortura, e sim cri-
me equiparado previsto no art. 1º, § 1º da Lei n. 9.455/1997.
b) Errada. O fato de o crime de tortura ser cometido por agente público constitui causa de
aumento de pena previsto no art. 1º, § 4º da Lei n. 9.455/1997.
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c) Errada. O art. 1º, § 4º, II da Lei n. 9.455/1997 estabelece que “Aumenta-se a pena de um
sexto até um terço: se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência,
adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos”. (grifamos).
d) Errada. O art. 1º, § 4º, I da Lei n. 9.455/1997 estabelece que “Aumenta-se a pena de um
sexto até um terço: III – se o crime é cometido mediante sequestro.” (grifamos)
Letra a.
a) Errada. O art. 1º, I da Lei n. 9.455/1997 estabelece que “Constitui crime de tortura:
I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimen-
to físico ou mental.” (grifamos).
b) Errada. As condutas descritas no art. 1º, I e II exigem dolo específico (especial finalidade no
agir). Porém, esta exigência não se aplica a todas as espécies de tortura. O crime previsto no
art. 1º, § 1º, por exemplo, exige apenas o dolo genérico.
c) Errada. Trata-se da previsão do art. 1º, § 2º da Lei n. 9.455/1997.
d) Errada. Nos crimes de tortura a perda do cargo é efeito automático da sentença penal
condenatória.
e) Certa. O fato de o sujeito ativo ser agente público constitui causa de aumento de pena dos
crimes de tortura (art. 1º, § 4º, I da Lei n. 9.455/1997), e não exigência elementar para sua
configuração.
Letra e.
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a) Errada. Embora este a tortura exija, em regra, a presença do dolo específico, não se faz ne-
cessário que este dolo (finalidade) se concretiza para que haja a ocorrência do fato criminoso.
Logo, o crime de tortura é consumado com a prática do ato de “constranger alguém com em-
prego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental”.
b) Errada. Em regra, a tortura é um crime comum, em que não se exige uma qualidade especial
do agente (salvo nos casos da “tortura-castigo, prevista no art. 1º, II e da “tortura-omissão”,
previsto no art. 1º, § 2º).
c) Errada. O caso em tela narra a hipótese de crime de maus tratos, previsto no art. 136 do
CP com a seguinte redação: “Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a
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O agente em questão responderá pelo crime de maus tratos, previsto no art. 136 do CP com a
seguinte redação: “Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimen-
tação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado,
quer abusando de meios de correção ou disciplina”. (grifo nosso)
Importante lembrar que o crime de tortura-castigo (art. 1º, II) exige que o sofrimento da víti-
ma seja intenso, e só poderá se consumar se houver dolo do sujeito ativo, não sendo possível
falar em crime de tortura em sua modalidade culposa.
Errado.
O art. 1º, § 5º, seguindo a mesma trilha do art. 92, I, “a” do CP, prevê que a condenação pelo
crime de tortura “acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para
seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada”. Esta perda será automática.
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Neste sentido, o STJ entende que esta perda, por ser efeito automático da condenação, não
exige fundamentação específica na decisão. (STJ – REsp 1762112/MT, Rel. Min. LAURITA
VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 17/9/2019).
Errado.
I – Errada. Embora o art. 1º, I da Lei n. 9.455 estabeleça, como crime de tortura, a conduta de
“constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento
físico ou mental”, Lembre-se de que, para a ocorrência deste crime, faz-se necessária a pre-
sença de um dolo específico (finalidade), previsto nas alíneas do mesmo artigo. Logo, o ato
de causar sofrimento não gera a ocorrência do crime de tortura se não houver a presença da
finalidade pretendida pelo agente, ainda que tal finalidade não se concretize.
II – Certa. Trata-se da hipótese da tortura-castigo, prevista no art. 1º, II da Lei n. 9.455/1997.
III – Certa. Trata-se da tortura perpetrada contra pessoas encarceradas ou sujeitas à medida
de segurança. Esta hipótese encontra-se prevista no art. 1º, § 1º da Lei n. 9.455/1997.
IV – Errada. Neste caso, aquele que tem o dever legal de evitar ou apurar o crime responderá
pela “tortura-omissão”, prevista no art. 1º, § 2º da Lei n. 9.455/1997.
As alternativas II e III são verdadeiras.
Letra a.
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Lei n. 9.455/1997 – Crimes de Tortura
Fábio Roque e Flávia Araújo
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-lhe sofrimento físico ou mental: com o fim de obter informação, declaração ou confissão da
vítima ou de terceira pessoa” (art. 1º, I, “a” da Lei n. 9.455/1997)
Letra e.
O art. 1º, § 5º da Lei de Tortura estabelece que “A condenação acarretará a perda do cargo,
função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena
aplicada”. (grifo nosso).
Assim, se o agente foi condenado a 12 anos de reclusão sofrerá a perda automática do cargo
(sem necessidade de fundamentação em sentença) e a interdição para o exercício público
pelo prazo de 24 anos.
Letra d.
Esta questão exige um maior cuidado e atenção. Não podemos falar na aplicação do cri-
me de “totura-omissão” aos três policiais. Perceba que, nestes casos, estes agentes não se
omitiram, eles não faltaram com o dever de evitar o resultado, eles contribuíram para a sua
ocorrência a partir do momento em que deram cobertura para que os outros dois agentes
praticassem as condutas de imobilização, espancamento e ameaça da vítima.
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Deste modo, os cinco agentes serão punidos pelo crime de tortura nos termos do art. 1º, II da
Lei n. 9.455/1997, havendo hipótese de aumento de pena de um sexto a um terço, nos termos
do art. 1º, § 4º, I.
Certo.
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1) Certa. O art. 1º, § 4º, III prevê, como hipótese de aumento de pena, o crime cometido me-
diante sequestro. Neste caso, esta pena poderá ser aumentada de um sexto até a metade.
2) Errada. O art. 1º, § 3º prevê as hipóteses qualificadoras do crime de tortura. De acordo com
sua previsão, se o crime resultar em morte da vítima será punido com a pena de reclusão, de
08 (oito) a 16 (dezesseis) anos.
3) Certa. Seguindo a orientação constitucional, o art. 1º, § 6º da Lei n. 9.455/1997 estabelece
que “O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia”.
4) Certa. O art. 1º, § 7º estabelece que, salvo nos casos de “tortura-omissão” (que são puni-
dos com a pena de detenção), “O condenado por crime de tortura iniciará o cumprimento da
pena em regime fechado”. Lembre-se de que o STF declarou, incidentalmente, a inconstitu-
cionalidade desta obrigatoriedade (aplicada aos crimes hediondos e equiparados a hedion-
dos), porém, ainda não houve decisão erga omnes acerca do tema.
As alternativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
Letra c.
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d) O objeto jurídico tutelado pela norma penal no crime de tortura é apenas a integridade cor-
poral e a saúde física.
e) O dolo específico não constitui elementar fundamental para a configuração das modalida-
des do crime de tortura previstas no art. 1º da Lei n. 9.455/1997
a) Errada. O crime de tortura é consumado pela prática de violência (física ou mental). O mero
aborrecimento não se aplica às hipóteses previstas na Lei n. 9.455/1997.
b) Certa. A tortura castigo, prevista no art. 1º, II, exige uma qualidade especial do agente (tra-
ta-se de crime próprio). Este agente deverá ter uma relação de guarda, poder ou autoridade
para com a vítima.
c) Errada. No crime de maus tratos (art. 136 do CP), o agente atua, dolosamente, extrapolando
o seu jus corrigendi ou jus discipliandi (direito de corrigir ou disciplinar). Já na tortura-castigo
(art. 1º, II da Lei n. 9.455/90), o agente atua com dolo de dano, desejando causar sofrimento
a vítima, com a intenção de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo sem a
presença de qualquer intenção corretiva ou educativa.
d) Errada. O objeto jurídico tutelado pela norma penal no crime de tortura é liberdade pessoal
e a integridade física e moral.
e) Errada. As hipóteses de tortura previstas no art. 1º da Lei n. 9.455/1997 exigem a presença
de uma finalidade (dolo específico) pretendida pelo agente. Porém, esta finalidade não precisa
ser atingida para que o crime se consume.
Letra b.
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ra. Outra parcela doutrinária, entretanto, afirma pela possibilidade de sua concessão. Vamos
aguardar a decisão jurisprudencial sobre o tema.
III – Certa. A hipótese de tortura omissiva está prevista no art. 1º, § 2º da Lei n. 9.455/1997,
que possui a seguinte redação: “Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha
o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos”.
Estão corretas as alternativas I e III.
Letra d.
a) Errada. O crime de tortura é prescritível. O art. 5º, XLIII da CF/1988, bem como o art. 1º, § 6º
da Lei n. 9.455/1997, estabelece que o crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça
ou anistia.
b) Errada. A assertiva narra o crime de “tortura-omissão”, previsto no art. 1º, § 2º da Lei n.
9.455/1997. O erro da assertiva está na pena cominada, já que este crime será punido com a
pena de detenção de 01 (um) a 04 (quatro) anos.
c) Errada. De acordo com o art. 1º, § 3º da Lei n. 9.455/1997, se o crime de tortura resultar em
“lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos”
d) Errada. Se o crime de tortura é cometido mediante sequestro, aumenta-se a pena de um
sexto até um terço, conforme prevê o art. 1º, § 4º da Lei n. 9.455/1997.
e) Certa. De acordo com o art. 1º, § 5º “A condenação acarretará a perda do cargo, da função
ou do emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada”.
Letra e.
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O art. 1º, § 6º da Lei n. 9.455/1997 estabelece que “O crime de tortura é inafiançável e insus-
cetível de graça ou anistia”.
Já o art. 1º, § 7º da mesma norma, prevê que “O condenado por crime previsto nesta lei, salvo
a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado”. Esta exigência foi
declarada inconstitucional pelo STF, em sede de controle difuso de constitucionalidade.
Certo.
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a) I.
b) II.
c) I e III.
d) II e IV.
e) I, II, III e IV.
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I – Errada. “O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia”. (art. 1º, § 6º).
II – Errada. a Lei de Tortura poderá ser aplicada fora do território nacional, conforme prevê o
art. 2º da Lei n. 9.455/1997: “O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha
sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente
em local sob jurisdição brasileira”.
III – Certa. Constitui causas de aumento de pena de um sexto até um terço o crime praticado
contra adolescente (art. 1º, § 4º, II) e o crime praticado mediante sequestro (art. 1º, § 4º, III).
IV – Certa. Trata-se da previsão contida no art. 1º, § 5º: “A condenação acarretará a perda do
cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da
pena aplicada”.
V – Certa. Trata-se da tortura-castigo, prevista no art. 1º, II da Lei n. 9.455/1997. Lembrando
que esta modalidade configura crime próprio (que exige uma qualidade especial do agente)
São verdadeiras as afirmativas III, IV e V.
Letra d.
As hipóteses de tortura que exigem uma finalidade do agente (dolo especial) estão previstas
no art. 1º, I e II da Lei n. 9.455/1997. No caso em tela, a conduta praticada contra a pessoa
presa ou sujeita a medida de segurança (art. 1º, § 1º) não exige a presença deste elemento
subjetivo específico, bastando que haja o dolo genérico de praticar a conduta prevista no
tipo penal.
Certo.
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O art. 1º, § 5º da Lei n. 9.455/1997 estabelece que “A condenação acarretará a perda do car-
go, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena
aplicada.” Esta perda é automática e, de acordo com os tribunais superiores, sua ocorrência
prescinde de fundamentação específica na sentença.
(…) 3. Nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, uma vez reconhecida a prática
do crime de tortura, de acordo com a legislação especial aplicável a este delito, a perda do cargo
público é efeito automático e obrigatório da condenação. 4. Embora fosse dispensável na hipótese,
o Juízo de origem fundamentou concreta e pormenorizadamente a necessidade da imposição da
sanção de perda do cargo público em razão da violação dos deveres do funcionário estatal (policial
militar) para com a Administração Pública. (STJ, REsp n. 1.762.112/MT – 2018/0218898-8)
Certo.
a) Errada. A condenação por crime de tortura “acarretará a perda do cargo, função ou emprego
público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada”. (art. 1º, § 5º).
b) Errada. “O condenado por crime previsto nesta lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cum-
primento da pena em regime fechado”. (art. 1º, § 7º).
c) Errada. Constitui crime de tortura o ato de “submeter alguém, sob sua guarda, poder ou au-
toridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental,
como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo”. (art. 1º, II).
d) Certa. A condenação por crime de tortura “acarretará a perda do cargo, função ou emprego
público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada”. (art. 1º, § 5º).
e) Errada. A condenação por crime de tortura gera a perda, e não a suspensão do exercício de
emprego público.
Letra d.
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a) Certa. De acordo com o art. 1º, § 2º: “Aquele que se omite em face dessas condutas, quan-
do tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.”
b) Certa. O art. 1º, § 3º traz as hipóteses qualificadoras do crime de tortura: “Se resulta lesão
corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se re-
sulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos”.
c) Certa. Trata-se do art. 1º, § 5º: “A condenação acarretará a perda do cargo, função ou em-
prego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada”.
d) Errada. O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia (art. 1º, § 6º).
e) Errada. O art. 2º da Lei n. 9.455/1997 estabelece a extraterritorialidade incondicionada
do crime de tortura ao prever que “O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não
tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o
agente em local sob jurisdição brasileira”.
Letra d.
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gatório durante várias horas, pendurado de cabeça para baixo, no escuro, período em que lhe
dizia que, se ele não confessasse, seria morto. O delegado de polícia, ciente do que ocorria
na sala de interrogatório, manteve-se inerte. Em depoimento posterior, Luciano afirmou que a
conduta do policial lhe provocara intenso sofrimento físico e mental.
Considerando a situação hipotética acima e o disposto na Lei Federal n. 9.455/1997, julgue o
item subsequente.
O delegado não pode ser considerado coautor ou partícipe da conduta do policial, pois o crime
de tortura somente pode ser praticado de forma comissiva.
O delegado, que se manteve inerte, faltou com seu dever legal de agir para evitar a prática da
conduta. Logo, responderá pelo crime de tortura-omissão, previsto no art. 1º, § 2º da Lei n.
9.455/1997, que assim estabelece: “Aquele que se omite em face dessas condutas, quando
tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos”.
Errado.
A assertiva traz a hipótese prevista no art. 1º, I, “a” da Lei n. 9.455/1997, chamada de tortu-
ra-confissão ou tortura persecutória, tortura prova, tortura probatória, tortura institucional ou
tortura inquisitorial.
Certo.
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REFERÊNCIAS
ALENCAR, Rosmar Rodrigues; ARAÚJO, Fábio Roque; TÁVORA, Nestor; Legislação Penal para
Concursos. [S.l.]: Editora JusPODIVM, 2021.
BRASIL. Decreto n. 4/1989. Aprova o texto da Convenção das Nações Unidas contra a Tortura
e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, aprovada por Consenso
na XXXIX Sessão (1984) da Assembleia Geral das Nações Unidas e assinada em 23 de se-
tembro de 1985, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. Disponível em: https://www2.
camara.leg.br/legin/fed/decleg/1989/decretolegislativo-4-23-maio-1989-352859-publica-
caooriginal-1-pl.html#:~:text=Aprova%20º%20texto%20da%20Conven%C3%A7%C3%A3º,-
Na%C3%A7%C3%B5es%20Unidas%2C%20em%20Nova%20Iorque.
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BRASIL. Lei n. 8.072/1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso
XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8072.htm
Flávia Araújo
Professora de cursos para concurso. Advogada. Professora. Mestre em Políticas Sociais e Cidadania
(UCSAL).
Fábio Roque
Juiz federal. Doutor e mestre em Direito Público pela UFBA. Professor. Autor.
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