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6º Ano A IMPORTÂNCIA DO OLHAR DO OUTRO E DO OLHAR PARA O OUTRO

A filosofia cuidou durante muitos séculos de descrever um


método do conhecimento. O homem punha-se diante do objeto
e procurava conhecê-lo, já que isto se daria através do
conhecimento das causas da geração do objeto. Então conhecer
o objeto significava poder descrevê-lo. Descarte criou o seu
método. Um caminho para obter o conhecimento sobre algo, e
com isto influenciou a humanidade toda na forma de
pensamento, porque todo o pensamento ocidental ficou
contaminado com uma forma de conhecer que foi concebida em
relação ao objeto. A questão é que a humanidade incorporou na
educação e na formação das pessoas este método, ao mesmo
tempo que não criou um método específico para conhecer o
OUTRO, e influenciados pela força do pensamento de Descartes,
acabamos tomando este método como forma de conhecimento
do outro. Quando isto ocorre, como diz Sartre, nada mais
fazemos que "objetivar" o OUTRO já que não temos um método
para conhecer o outro enquanto sujeito do seu próprio Eu.

Eu Olho o outro e o Outro me Olha. O tornar-me SER existe


apenas em mim. Ou seja, toda a filosofia do SER baseou-se
sempre em encontrar o ser em nós mesmos, como uma forma
egoísta e acabamos esquecendo que dentro do OUTRO há algo
que ele chama de EU ( o seu SER). Assim cada vez que olho para
o OUTRO eu o objeto e vice-versa, porque não sei do Eu do
Outro e este não conhece o meu Eu.O Ser nunca é. Está sempre
em transformação e no processo de interiorização. Percorrendo
o processo do devir (busca eterna pelo Ser) e criando suas
imagens e seus mundos através de seus atos de escolha.
Poisbem, quando eu conheço o objeto eu utilizo o método,
indução, dedução, síntese etc. mas, qual é o método para
conhecer o outro? E qual é o método que o outro utiliza ao
(tentar) me conhecer?É preciso relacionar-me com ele e tentar
expressar com o desconto da distância que jamais deixará de
existir[1]. Quanto mais distante eu olho o outro, mais o outro é
objeto. Explico: quando vou ao banco e olho o gerente do Banco,
que nunca conheço, eu tento eliminar a "distância" que existe
entre eu e este outro que é o Gerente do Banco. Já a pessoa que
está à minha frente, na fila, eu aumento a minha distância entre
ele e eu, e com istovou transformá-lo em objeto cada vez mais.
Ou seja, com o Gerente do Banco, (que é um "outro") vou
relacionar-me com ele tentando dar o maior desconto possível
da distância, enquanto com o homem da fila não darei desconto
algum, porque o meu interesse é diferente, como explicaremos
mais adiante.

A preocupação com o conhecimento do "outro" passa pelo olhar.


No momento que olho, eu objeto o meu alvo de conhecer e o
descrevo a partir do olhar e somente este momento será
essencial para eu descrevê-lo caso eu não escolher conviver e
amenizar a distância que separa o meu eu daquele eu. Vejam o
exemplo do Gerente do Banco e o Homem da Fila.

A coisa ficaria bem mais resolvida se compreendêssemos que o


OUTRO, será sempre alguém que tem dentro de si algo que ele
chama de EU. Ele tem no seu pensamento algo que ele chama de
SER e tem um caminho que chama de DEVIR. Ou seja, sempre
que eu considerasse que o Outro é um EU ( nunca um alguém)
eu procuraria conhecê-lo, e o meu olhar não seria apenas um
momento e sim um começo.
Para Sartre, quando eu olho o "outro" minha apreensão significa
o "outro' como objeto sem sair dos limites da probabilidade e
por causa desta probabilidade mesmo, remete por essência.
Então quando eu faço isto, há uma captação fundamental do
outro, na qual este já não irá revelar-se a mim mais como objeto
e sim como presença em pessoa[2]. É necessário melhorar esta
percepção banal do outro e ir de encontro do seu eu. Veja
quando eu melhoro esta percepção banal do "outro" eu
desconto a distância e olho para dentro do seu Eu, fugindo do
método e interajo, reajo, intercedo, ouço, falo, compreendo, não
rotulo.

Tzetevan Todorov, conta em sua epopéia da "descoberta da


América[3]" que Cristovão Colombo quando aportou em terras
Americanas ignorou o "outro" americano tomando-o como índio
(não encurtando a distância). A passagem mais intrigante se dá
quando ele escreve uma carta para a rainha contando que
enquanto ele discursava na areia da praia os índios festejavam e
se alegravam com suas palavras. Na realidade, como Colombo
ignorou o outro, não quis saber de sua língua e de sua cultura,
enquanto ele falava, na realidade os índios cantavam os cânticos
litúrgicos do canibalismo que antecedia o ataque canibal à nau
de Colombo. É um dos melhores exemplos da Literatura em que
Colombo simplesmente tomou o outro como objeto, e o seu
Olhar ao outro ( o índio) capturou-o como de maneira
fundamental, sem encurtar a distância sem imaginar que em
cada qual daqueles índios havia algo que cada qual chama de EU.

O Fundamental seria compreender o que somos e conceber o


outro, não apenas pelo olhar, mas, "a partir do olhar" e que o
outro está em nós para o outro e o outro no outro para nós, e
que o conhecimento de ambos se dará apenas com o
conhecimento e do contrário o que haverá é traição, rotulação e
objetivação, porque o olhar é apenas o momento e não a
captação do devir. Porque enquanto o outro é para mim, um
objeto provável, também só posso descobrir-me no processo de
me tornar objeto provável para um sujeito certo.

O "Ser-visto-pelo-outro" é a verdade do "ver-o-outro". Todo


olhar endereçado a mim, manifesta-se em conexão com a
aparição de uma forma sensível em nosso campo perceptivo,
mas, ao contrário do que se possa crer, não está vinculado a
qualquer forma determinada[4]. O que é preciso olhar é o Ser e
não a imagem do Ser. E se ainda formos mais adeptos de
Sartre,precisamos captar o Devir, aquele caminho de
interiorização o qual é percorrido pelo sujeito, na tentativa do
SER. O olhar capta a imagem e não a essência da imagem, o
olhar, capta tudo o que está na tela, mas, jamais o que é a tela.
Uma tela não é nada mais que um apanhado de materiais, tintas
e outros elementos. Uma tela não é o artista é a representação
daquilo. O meu Ser tem que ser o meu ser e não a imagem do
meu ser, não se pode interpretar o outro na e pela liberdade do
olhar.

Cada olhar, cada compreender, deve pressupor o desconto da


distância que há entre Eu e o Outro que olhar. Entre o outro que
olha e Eu que sou olhado. A palavra talvez seja, "tornar-se" na
relação, etornar o outro um "Ser na Relação" e nunca um objeto.

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