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Caro(a) aluno(a),
A ideia desse boletim é ilustrar o conteúdo da aula da semana com julgados recentes sobre
assuntos relevantes para o estudo da matéria, que veiculem entendimento majoritário
(consolidado ou não) ou tendência de entendimento no âmbito do TST1.
Especificamente em relação aos julgados dessa Aula 1, basta a leitura das ementas, sem maiores
preocupações com o conteúdo, pois ele será visto ao longo de todo o curso nos respectivos
pontos do conteúdo programático.
Abraço e bons estudos!
Ricardo Resende
[...] RECURSO DE REVISTA. LEI Nº 13.467/2017. JUSTA CAUSA. PRETENSÃO DE PAGAMENTO DAS
VERBAS RESCISÓRIAS POR DISPENSA IMOTIVADA. Cinge-se a controvérsia à dispensa por justa
de empregado que foi flagrado dormindo durante o expediente. A infração é grave quando se
quebra a relação de confiança que deve existir entre empregado e empregador, tornando
insuportável a manutenção do vínculo. A conduta se afigura atual quando é recente, não tendo
decorrido tempo bastante para que, em cada caso e sempre com o apoio no princípio da
razoabilidade, possa se inferir o perdão tácito. O caráter de imediatidade ou determinância é
constatado nos casos em que a falta e a ordem de dispensa correlacionam-se diretamente. No
caso em tela, extrai-se do acórdão do Regional que depois da análise das câmeras de
monitoramento e a constatação de que todos os empregados estavam dormindo, foi imputada
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O estudo de tendências de entendimento não tem por objetivo a resolução direta de questões objetivas,
mas tão somente o desenvolvimento de recursos de argumentação para melhor compreensão da matéria
e também para eventual resposta a questão discursiva. Sendo assim, os julgados que veiculem tendências
serão devidamente assinalados pelo professor.
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justa causa, apesar de afigurar-se em verdade uma atitude consentida, não violando a relação
de fidúcia entre as partes. A afirmação de ter o autor deixado aberta a porta da sua sala de
trabalho e que em razão dos dados sigilosos dos clientes existiam restrições de acesso ao local
não se reveste, por igual, de gravidade, uma vez que poderiam transitar por ali pessoas que não
estariam trabalhando naquele setor, a exemplo de vigilantes e pessoas autorizadas, inexistindo
norma regulamentar que impusesse o fechamento de portas. Recurso de revista conhecido e
provido" (RR-1000399-02.2020.5.02.0205, 6ª Turma, Redator Ministro Augusto César Leite de
Carvalho, DEJT 19/05/2023).
[...] JUSTA CAUSA. REVERSÃO. AUSÊNCIA DE GRADAÇÃO DA PENA. A jurisprudência desta Corte
Superior orienta-se no sentido de que, para ensejar a dispensa por justa causa do empregado,
é necessária, como regra, a reiteração de sua conduta funcional irregular, nos moldes elencados
no artigo 482 da CLT, salvo nas hipóteses em que a gravidade da falta cometida justifica a
cessação imediata da fidúcia imprescindível à manutenção do pacto laboral. Além disso, deve
ser observada a proporcionalidade entre falta e medida disciplinar, bem como o princípio da
gradação das penas. Na hipótese, a conduta que levou o reclamante a sofrer a penalidade da
justa causa, segundo consta do acórdão, foi o fato de ter "visualizado e exibido imagens com
conteúdo pornográfico em seu aparelho celular para outros colaboradores, dentro da escola". A
Corte Regional, com alicerce no conjunto fático-probatório dos autos, reformou a sentença e
afastou a justa causa, por considerar que, embora a atitude do reclamante tenha sido reprovável
e suscetível de penalidade, não houve a observância da gradação da pena. No tocante às duas
penalidades aplicadas ao reclamante em anos anteriores, o TRT entendeu que a primeira -
porte de arma branca - mostrou-se justificável, tendo em vista o trabalho como vigia,
consignando que após a advertência não houve mais notícia de reiteração da conduta. Quanto
à segunda - por "abandono do posto de trabalho para jogar pebolim com pais e alunos" -, a Corte
entendeu não ser grave a ponto de influenciar a aplicação da penalidade ora analisada. Quanto
à conduta ora examinada, o TRT registrou que não foi concedida ao recorrido qualquer
advertência (verbal ou escrita) ou suspensão prévia. Mesmo assim, a empresa optou por
aplicar-lhe a penalidade máxima, ignorando a necessária gradação das penas. Assim, entendeu
a Corte que a conduta culposa do trabalhador foi reprovável, porém não foi praticada de má-fé,
nem acarretou prejuízo à recorrente. Diante de todo esse contexto, tem-se que a aplicação da
pena de demissão por justa causa revelou-se de rigor excessivo, pelo que, não merece reparos
a decisão. Agravo não provido" (Ag-AIRR-329-88.2018.5.13.0003, 2ª Turma, Relatora Ministra
Maria Helena Mallmann, DEJT 12/05/2023).
[...] B) RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DAS LEIS 13.015/2014 E 13.467/2017.
LIMITAÇÃO AO USO DE BANHEIRO. INFLUÊNCIA NO CÁLCULO DO PIV. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. A conquista e a afirmação da dignidade da pessoa humana não mais podem se
restringir à sua liberdade e intangibilidade física e psíquica, envolvendo, naturalmente,
também a conquista e afirmação de sua individualidade no meio econômico e social, com
repercussões positivas conexas no plano cultural - o que se faz, de maneira geral, considerado o
conjunto mais amplo e diversificado das pessoas, mediante o trabalho e, particularmente, o
emprego. O direito à indenização por dano moral encontra amparo no art. 5º, V e X, da
Constituição da República, e no art. 186 do CCB/2002, bem como nos princípios basilares da
nova ordem constitucional, mormente naqueles que dizem respeito à proteção da dignidade
humana, da inviolabilidade (física e psíquica) do direito à vida, do bem-estar individual (e
social), da segurança física e psíquica do indivíduo, além da valorização do trabalho humano.
O patrimônio moral da pessoa humana envolve todos esses bens imateriais, consubstanciados,
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Em regra, vou selecionar para o boletim de jurisprudência apenas julgados que veiculem entendimentos
dominantes ou que sejam tendência no âmbito do TST, como comentado anteriormente. Entretanto,
excepcionalmente incluirei algum entendimento peculiar, como esse aqui, que pode servir para fixar
alguma lição sobre o tema, ainda que como contraponto.
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qual há norma coletiva dispondo que o anuênio incide apenas sobre o salário nominal do
empregado, fixando, em contrapartida, condições mais favoráveis ao empregado do que aquelas
estipuladas em texto de lei. Recurso de revista conhecido e provido. [...] (RR-1170-
51.2015.5.02.0373, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto Cesar Leite de Carvalho, DEJT
25/11/2022).
Nota do professor: trata-se de curioso julgado que estabeleceu a prevalência da norma coletiva
sobre a lei com fundamento no princípio da norma mais favorável (denominado “mais benéfica”,
o que não recomendo para que não se estabeleça confusão com o princípio da condição mais
benéfica), observado o critério do conglobamento. Tecnicamente a redação da ementa não é boa,
pois a teoria do conglobamento constitui critério para aplicação da norma mais favorável, e não
princípio, mas o conteúdo é interessante para fins de reflexão.
Com efeito, no eventual conflito entre dispositivo de lei e cláusula de norma coletiva que tratem
de matéria mencionada no art. 611-A da CLT (matérias passíveis de flexibilização, como
mencionado em aula), parece-me que sempre prevalecerá a norma coletiva, independentemente
de ser mais favorável (conforme caput do art. 611-A da CLT), bem como independentemente da
concessão, no mesmo instrumento coletivo de trabalho, de vantagem compensatória (conforme
tese fixada pelo STF no Tema 1.046 de Repercussão Geral, também mencionado em aula).
Ao contrário, se o caso fosse de matéria não sujeita à negociação coletiva, seja por estar prevista
no art. 611-B da CLT, seja por se tratar de matéria de ordem pública, deveria prevalecer a lei em
qualquer caso.
Fique tranquilo(a) em relação ao tema, entretanto, pois voltaremos a ele inúmeras vezes ao longo
do curso.
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