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CURSO DE DIREITO DO TRABALHO P/ AFT


PROF. RICARDO RESENDE

BOLETIM DE JURISPRUDÊNCIA – JULGADOS SELECIONADOS PELO PROFESSOR:

Caro(a) aluno(a),
A ideia desse boletim é ilustrar o conteúdo da aula da semana com julgados recentes sobre
assuntos relevantes para o estudo da matéria, que veiculem entendimento majoritário
(consolidado ou não) ou tendência de entendimento no âmbito do TST1.
Especificamente em relação aos julgados dessa Aula 1, basta a leitura das ementas, sem maiores
preocupações com o conteúdo, pois ele será visto ao longo de todo o curso nos respectivos
pontos do conteúdo programático.
Abraço e bons estudos!
Ricardo Resende

Boletim de jurisprudência da Aula 1


Tempo de leitura: 15min

"RECURSO DE REVISTA - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - REVISTA DE BOLSAS E PERTENCES.


1. Ressalvado meu entendimento pessoal, curvo-me à jurisprudência pacífica desta Corte no
sentido de que a revista em bolsas e sacolas dos empregados da empresa, realizada de modo
impessoal, geral e sem contato físico, sem expor a sua intimidade, não submete o trabalhador
a situação vexatória e não abala o princípio da presunção da boa-fé que rege as relações de
trabalho. 2. No caso dos autos, o Tribunal Regional entendeu que a revista dos pertences dos
empregados que estão acondicionados em bolsas e sacolas acarreta dano moral ao reclamante
e lhe confere o direito ao percebimento da indenização correspondente. 3. Tal entendimento,
no entanto, não se compatibiliza com a jurisprudência pacífica desta Corte Superior, que
somente reconhece a ofensa nos casos de abuso de direito, o que não ocorreu no caso dos
autos. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido" (RR-1083-27.2016.5.05.0131, 2ª
Turma, Relatora Desembargadora Convocada Margareth Rodrigues Costa, DEJT 02/06/2023).

[...] RECURSO DE REVISTA. LEI Nº 13.467/2017. JUSTA CAUSA. PRETENSÃO DE PAGAMENTO DAS
VERBAS RESCISÓRIAS POR DISPENSA IMOTIVADA. Cinge-se a controvérsia à dispensa por justa
de empregado que foi flagrado dormindo durante o expediente. A infração é grave quando se
quebra a relação de confiança que deve existir entre empregado e empregador, tornando
insuportável a manutenção do vínculo. A conduta se afigura atual quando é recente, não tendo
decorrido tempo bastante para que, em cada caso e sempre com o apoio no princípio da
razoabilidade, possa se inferir o perdão tácito. O caráter de imediatidade ou determinância é
constatado nos casos em que a falta e a ordem de dispensa correlacionam-se diretamente. No
caso em tela, extrai-se do acórdão do Regional que depois da análise das câmeras de
monitoramento e a constatação de que todos os empregados estavam dormindo, foi imputada

1
O estudo de tendências de entendimento não tem por objetivo a resolução direta de questões objetivas,
mas tão somente o desenvolvimento de recursos de argumentação para melhor compreensão da matéria
e também para eventual resposta a questão discursiva. Sendo assim, os julgados que veiculem tendências
serão devidamente assinalados pelo professor.
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justa causa, apesar de afigurar-se em verdade uma atitude consentida, não violando a relação
de fidúcia entre as partes. A afirmação de ter o autor deixado aberta a porta da sua sala de
trabalho e que em razão dos dados sigilosos dos clientes existiam restrições de acesso ao local
não se reveste, por igual, de gravidade, uma vez que poderiam transitar por ali pessoas que não
estariam trabalhando naquele setor, a exemplo de vigilantes e pessoas autorizadas, inexistindo
norma regulamentar que impusesse o fechamento de portas. Recurso de revista conhecido e
provido" (RR-1000399-02.2020.5.02.0205, 6ª Turma, Redator Ministro Augusto César Leite de
Carvalho, DEJT 19/05/2023).

[...] JUSTA CAUSA. REVERSÃO. AUSÊNCIA DE GRADAÇÃO DA PENA. A jurisprudência desta Corte
Superior orienta-se no sentido de que, para ensejar a dispensa por justa causa do empregado,
é necessária, como regra, a reiteração de sua conduta funcional irregular, nos moldes elencados
no artigo 482 da CLT, salvo nas hipóteses em que a gravidade da falta cometida justifica a
cessação imediata da fidúcia imprescindível à manutenção do pacto laboral. Além disso, deve
ser observada a proporcionalidade entre falta e medida disciplinar, bem como o princípio da
gradação das penas. Na hipótese, a conduta que levou o reclamante a sofrer a penalidade da
justa causa, segundo consta do acórdão, foi o fato de ter "visualizado e exibido imagens com
conteúdo pornográfico em seu aparelho celular para outros colaboradores, dentro da escola". A
Corte Regional, com alicerce no conjunto fático-probatório dos autos, reformou a sentença e
afastou a justa causa, por considerar que, embora a atitude do reclamante tenha sido reprovável
e suscetível de penalidade, não houve a observância da gradação da pena. No tocante às duas
penalidades aplicadas ao reclamante em anos anteriores, o TRT entendeu que a primeira -
porte de arma branca - mostrou-se justificável, tendo em vista o trabalho como vigia,
consignando que após a advertência não houve mais notícia de reiteração da conduta. Quanto
à segunda - por "abandono do posto de trabalho para jogar pebolim com pais e alunos" -, a Corte
entendeu não ser grave a ponto de influenciar a aplicação da penalidade ora analisada. Quanto
à conduta ora examinada, o TRT registrou que não foi concedida ao recorrido qualquer
advertência (verbal ou escrita) ou suspensão prévia. Mesmo assim, a empresa optou por
aplicar-lhe a penalidade máxima, ignorando a necessária gradação das penas. Assim, entendeu
a Corte que a conduta culposa do trabalhador foi reprovável, porém não foi praticada de má-fé,
nem acarretou prejuízo à recorrente. Diante de todo esse contexto, tem-se que a aplicação da
pena de demissão por justa causa revelou-se de rigor excessivo, pelo que, não merece reparos
a decisão. Agravo não provido" (Ag-AIRR-329-88.2018.5.13.0003, 2ª Turma, Relatora Ministra
Maria Helena Mallmann, DEJT 12/05/2023).

[...] B) RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A ÉGIDE DAS LEIS 13.015/2014 E 13.467/2017.
LIMITAÇÃO AO USO DE BANHEIRO. INFLUÊNCIA NO CÁLCULO DO PIV. INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. A conquista e a afirmação da dignidade da pessoa humana não mais podem se
restringir à sua liberdade e intangibilidade física e psíquica, envolvendo, naturalmente,
também a conquista e afirmação de sua individualidade no meio econômico e social, com
repercussões positivas conexas no plano cultural - o que se faz, de maneira geral, considerado o
conjunto mais amplo e diversificado das pessoas, mediante o trabalho e, particularmente, o
emprego. O direito à indenização por dano moral encontra amparo no art. 5º, V e X, da
Constituição da República, e no art. 186 do CCB/2002, bem como nos princípios basilares da
nova ordem constitucional, mormente naqueles que dizem respeito à proteção da dignidade
humana, da inviolabilidade (física e psíquica) do direito à vida, do bem-estar individual (e
social), da segurança física e psíquica do indivíduo, além da valorização do trabalho humano.
O patrimônio moral da pessoa humana envolve todos esses bens imateriais, consubstanciados,
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pela Constituição, em princípios fundamentais. Afrontado esse patrimônio moral, em seu


conjunto ou em parte relevante, cabe a indenização por dano moral, deflagrada pela
Constituição de 1988. Não se olvide, a propósito, que o exercício do poder empregatício deve
se amoldar aos princípios e regras constitucionais que estabelecem o respeito à dignidade da
pessoa humana, ao bem-estar individual e social e à subordinação da propriedade à sua função
socioambiental. No caso concreto , diante do contexto fático delineado pela Corte de origem,
extrai-se que as pausas do trabalhador para ida ao banheiro influenciavam no valor do cálculo
do seu PIV (Prêmio de Incentivo Variável), bem como impactavam no valor do PIV a ser
recebido pelo seu supervisor, restando evidenciada a vinculação das idas ao banheiro à
remuneração do empregado. Com efeito, a referida vinculação configura um controle indireto
do uso do banheiro, conduta que ofende a dignidade do trabalhador e viola o disposto na NR-
17, anexo II, item 5.7, do Ministério do Trabalho e Emprego, configurando abuso do poder
diretivo do empregador passível de indenização por danos morais. Assim, constata-se que a
situação vivenciada pelo Reclamante ensejou a restrição no uso do banheiro durante a jornada
de trabalho, atentando contra a sua dignidade, a sua integridade psíquica e o seu bem-estar
individual - bens imateriais que compõem seu patrimônio moral protegido pela Constituição -,
ensejando a reparação moral, conforme autorizam os incisos V e X do art. 5º da Constituição
Federal e os arts. 186 e 927, caput , do CCB/2002. Recurso de revista conhecido e provido" (RRAg-
1235-67.2020.5.09.0020, 3ª Turma, Relator Ministro Mauricio Godinho Delgado, DEJT
23/06/2023).

[...] RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RECLAMANTE. PROFESSOR. DISPENSA IMOTIVADA


NO INÍCIO DO ANO LETIVO. DANO MORAL CARACTERIZADO. TEORIA DA PERDA DE UMA
CHANCE. FIXAÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO EM R$ 10.000,00. Trata-se a demanda de pedido
de indenização por danos morais decorrentes da perda de uma chance, consubstanciada na
demissão da obreira após o início do semestre letivo e, em decorrência dessa circunstância, a
autora ter perdido a chance de procurar outra vaga de professora. Com efeito, o artigo 5º,
inciso X, da Constituição Federal, ao dispor que "são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação", proporciona a garantia de proteção à dignidade da pessoa
humana, pois, antes de ser um princípio, é fundamento do Estado Democrático de Direito,
visto que se configura num valor supremo do ser humano. Desse modo, são invioláveis, na
qualidade de bens tutelados juridicamente, além da honra, a dignidade e a integridade física e
psíquica da pessoa, garantias que têm destacada importância também no contexto do contrato
de trabalho, fonte de dignidade do trabalhador. Daí por que a violação de qualquer desses bens
jurídicos, no âmbito do contrato de trabalho, ensejará ao violador a obrigação de reparar os
danos dela decorrentes. De outro lado, sabe-se que o dano moral de ordem íntima prescinde de
prova da sua ocorrência em virtude de ele consistir em ofensa a valores humanos, bastando a
demonstração do ato ilícito ou antijurídico em função do qual a parte afirma tê-lo sofrido. Nesse
contexto, o dano, nos casos em que uma recontratação não é efetivada, gerando expectativa no
empregado de manter-se no emprego em virtude das promessas realizadas pela empregadora -
, é in re ipsa, ou seja, decorre do próprio evento danoso, não havendo falar em demonstração
do dano, pois, nesse caso, ele se situa no psicológico do lesado, em que é impossível se extrair
uma prova material. Nessa senda, aplica-se ao caso dos autos o artigo 422 do Código Civil,
segundo o qual "os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato,
como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé". Como se vê, restou demonstrado
o uso abusivo do exercício do direito de rescisão contratual por parte da reclamada. Com
efeito, a dispensa da reclamante no início do ano letivo, ou seja, quando já possuía a expectativa
justa e real de continuar como professora da instituição de ensino reclamada, evidencia o abuso
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do poder diretivo do empregador de dispensa, notadamente pela dificuldade que a reclamante


teria em lograr vaga em outra instituição de ensino, tendo em vista o início das aulas. Tem-se,
assim, que a reclamada não agiu com a devida lealdade e boa fé em relação à manutenção da
função da obreira, não obstante a legalidade do ato. Nessas condições, configurou-se a conduta
ilícita da ré e, por consequência, o alegado dano moral sofrido a justificar a reparação pretendida
pela reclamante. Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido. [...] (RRAg-11786-
50.2016.5.18.0003, 3ª Turma, Relator Ministro Jose Roberto Freire Pimenta, DEJT 23/06/2023).

"EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA - OPOSIÇÃO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.467/2017 -


ADICIONAL DE PERICULOSIDADE - BASE DE CÁLCULO - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. A
jurisprudência desta Corte Superior orienta-se no sentido da invalidade da redução da base
de cálculo do adicional de periculosidade, antes pago sobre a totalidade dos vencimentos da
empregada, promovida pela Universidade de São Paulo - USP, em atenção aos princípios da
irredutibilidade e da inalterabilidade contratual lesiva. Hipótese de condição mais benéfica
incorporada ao contrato de trabalho. Precedentes de 7 Turmas envolvendo a mesma Reclamada.
Embargos conhecidos e providos" (E-ARR-10821-53.2016.5.15.0004, Subseção I Especializada
em Dissídios Individuais, Relatora Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, DEJT 05/05/2023).

"AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA


LEI 13.467/2017. AÇÃO ANULATÓRIA DE AUTO DE INFRAÇÃO. INADIMPLEMENTO DE VERBAS DE
NATUREZA SALARIAL. ART. 459, § 1º, DA CLT . Esta Corte já firmou entendimento no sentido de
ser válido o auto de infração lavrado contra a empresa que observa a garantia prevista no artigo
459, § 1º, da CLT apenas em relação ao pagamento do "salário", sem que sejam totalmente
quitadas as verbas de natureza salarial. O citado artigo em análise não traz distinção entre as
parcelas salariais que devem ser adimplidas no prazo estipulado, fazendo referência apenas ao
termo "salário", o qual, em homenagem ao princípio do in dubio pro operario, deve ser
interpretado de forma abrangente. Precedentes. Agravo a que se nega provimento" (Ag-AIRR-
10257-42.2019.5.03.0024, 3ª Turma, Relator Ministro Alberto Bastos Balazeiro, DEJT
01/07/2022).
Nota do professor: além de ilustrar de forma interessante a aplicação do princípio do in dubio pro
misero, mencionado em aula, separei este julgado a título de curiosidade, por tratar de matéria
relativa à inspeção do trabalho. No caso, o AFT lavrou auto de infração por atraso de salário
(infração ao disposto no art. 459, §1º, da CLT) diante de situação fática consistente no não
pagamento de parcelas devidas ao trabalhador (reflexo das horas extras, adicional noturno e
gratificações pagas com habitualidade sobre o RSR reflexo das horas extras, adicional noturno e
gratificações pagas com habitualidade sobre o RSR), embora o salário base tenha sido pago no
prazo legal. Essa é uma situação corriqueira no cotidiano da fiscalização.

[TENDÊNCIA DE ENTENDIMENTO] “[...] III - RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELA RÉ SOB A


VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467/2017. RECONHECIMENTO DO VÍNCULO DE EMPREGO. UNICIDADE
CONTRATUAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FIRMADO.
ELEVADO GRAU DE INSTRUÇÃO DA PARTE CONTRATANTE. OBSERVÂNCIA AO PRINCÍPIO DA BOA
FÉ-OBJETIVA. TRANSCENDÊNCIA ECONÔMICA RECONHECIDA. 1. O regramento insculpido na
Consolidação das Leis do Trabalho é destinado à proteção do hipossuficiente e economicamente
dependente, situação concreta que faz presumir uma contaminação na manifestação da vontade
do trabalhador, justificando a incidência do princípio da primazia da realidade sobre a forma. 2.
Afastadas as premissas de hipossuficiência, porém, não faz sentido fazer valer as regras
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protetivas que diferenciam o vínculo de emprego de outras modalidades contratuais previstas


na legislação comum. 3. Nessas situações específicas, quando o pressuposto basilar do Direito
do Trabalho não se faz presente, a incidência da norma trabalhista pode provocar grave
desiquilíbrio na relação jurídica contratual, beneficiando aquele que, na teoria, precisaria de
proteção especial, mas na realidade tem ampla condição negocial e faz opções consentâneas
com seus interesses. 4. Quando a autonomia da vontade é manifesta e está afastada a
possibilidade de se reconhecer a contaminação da capacidade negocial, há que prevalecer o
princípio da boa-fé objetiva, disciplinada na parte geral do Código Civil, mas que se constitui em
verdadeira norma de sobredireito quando ancorada no art. 5º da Lei de Introdução às normas
do Direito Brasileiro, verbis: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se
dirige e às exigências do bem comum”. 5. As circunstâncias fáticas retratadas no acórdão regional
permitem concluir que o autor detinha autonomia de vontade, suficiência econômica e
intelectual para escolher a modalidade contratual que lhe seria mais conveniente e, nesse
sentido, nem mesmo se pode cogitar de fraude, considerando que a relação de emprego é forma
contratual estabelecida em lei para a proteção do trabalhador que não detém capacidade
negocial plena e precisa da intervenção protetiva do Estado. 6. Os altos valores percebidos
(quase cinquenta mil reais mensais em 2016) deixam evidente que o autor teve grande vantagem
(inclusive fiscal) ao aderir à nova modalidade contratual, não se verificando qualquer fraude
contra seus direitos. Recurso de revista conhecido e provido.” (RRAg373-67.2017.5.17.0121, 1ª
Turma, rel. Min. Amaury Rodrigues Pinto Junior, julgado em 8/2/2023) Informativo 267.
Nota do professor: este julgado ilustra o que foi mencionado, de passagem, durante a aula, no
sentido da relativização do princípio da proteção naqueles casos em que o empregado não é, em
princípio, economicamente vulnerável, a exemplo do quanto promovido pela Reforma Trabalhista
em relação aos trabalhadores que tenham curso superior e que recebam salários superiores a
duas vezes o teto dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Como
mencionado em aula, o princípio da boa-fé rege ambos os contratantes (empregador e
empregado), e não só a conduta do empregador. Observe-se ainda que tal julgado foi publicado
no Informativo do TST, o que, em tese, aumenta as chances de cobrança do tema, direta ou
indiretamente, em prova.

[ENTENDIMENTO PECULIAR]2 [...] RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA. APELO INTERPOSTO


NA VIGÊNCIA DA LEI 13.467/2017 E DA IN 40 DO TST. CPTM. ANUÊNIO. BASE DE CÁLCULO DAS
HORAS EXTRAS E DO ADICIONAL NOTURNO. BASE DE CÁLCULO DIVERSA EM NORMA COLETIVA.
REQUISITOS DO ARTIGO 896, § 1º-A, DA CLT, ATENDIDOS. Esta Corte posiciona-se pela validade
da norma coletiva firmada pela CPTM, em que foi pactuada a incidência da gratificação por
tempo de serviço (anuênio) apenas sobre o salário nominal do empregado, não obstante o seu
caráter salarial, em observância ao princípio do conglobamento e da norma mais benéfica,
porquanto o mesmo acordo coletivo estabeleceu adicional de horas extras no montante de
100% e acréscimo de 50% para o adicional noturno, valores superiores aos legalmente
exigidos. Tem-se entendido igualmente que a referida negociação coletiva não fere preceito de
norma pública de proteção à saúde, segurança e higiene do trabalhador, devendo ser
prestigiada, em atendimento à regra contida no art. 7º, XXVI, da Constituição Federal. Nesse
contexto, não se vislumbra contrariedade à Súmula 203 do TST , como entendeu a Turma,
especialmente porque não contempla o verbete as peculiaridades da presente controvérsia, na

2
Em regra, vou selecionar para o boletim de jurisprudência apenas julgados que veiculem entendimentos
dominantes ou que sejam tendência no âmbito do TST, como comentado anteriormente. Entretanto,
excepcionalmente incluirei algum entendimento peculiar, como esse aqui, que pode servir para fixar
alguma lição sobre o tema, ainda que como contraponto.
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qual há norma coletiva dispondo que o anuênio incide apenas sobre o salário nominal do
empregado, fixando, em contrapartida, condições mais favoráveis ao empregado do que aquelas
estipuladas em texto de lei. Recurso de revista conhecido e provido. [...] (RR-1170-
51.2015.5.02.0373, 6ª Turma, Relator Ministro Augusto Cesar Leite de Carvalho, DEJT
25/11/2022).
Nota do professor: trata-se de curioso julgado que estabeleceu a prevalência da norma coletiva
sobre a lei com fundamento no princípio da norma mais favorável (denominado “mais benéfica”,
o que não recomendo para que não se estabeleça confusão com o princípio da condição mais
benéfica), observado o critério do conglobamento. Tecnicamente a redação da ementa não é boa,
pois a teoria do conglobamento constitui critério para aplicação da norma mais favorável, e não
princípio, mas o conteúdo é interessante para fins de reflexão.

Com efeito, no eventual conflito entre dispositivo de lei e cláusula de norma coletiva que tratem
de matéria mencionada no art. 611-A da CLT (matérias passíveis de flexibilização, como
mencionado em aula), parece-me que sempre prevalecerá a norma coletiva, independentemente
de ser mais favorável (conforme caput do art. 611-A da CLT), bem como independentemente da
concessão, no mesmo instrumento coletivo de trabalho, de vantagem compensatória (conforme
tese fixada pelo STF no Tema 1.046 de Repercussão Geral, também mencionado em aula).

Ao contrário, se o caso fosse de matéria não sujeita à negociação coletiva, seja por estar prevista
no art. 611-B da CLT, seja por se tratar de matéria de ordem pública, deveria prevalecer a lei em
qualquer caso.

Fique tranquilo(a) em relação ao tema, entretanto, pois voltaremos a ele inúmeras vezes ao longo
do curso.

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