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Economia de fundamentação para uma causa de tamanha

relevância e de complexidade acentuada.

O que se verifica da sentença proferida pela respeitável Juíza é que,


data vênia, houve total desconsideração da situação fática narrada e
uma inobservância completa do ordenamento jurídico trabalhista e das
normas constitucionais que visam a proteção do trabalhador. Vossas
Excelências, a sentença recorrida foi econômica em fundamentação e
não houve manifestação da respeitável Juíza sobre vários pontos
importantes levantados pelo reclamante. A sentença está em
dissonância com a jurisprudência deste respeitável Tribunal e
desalinhada com as decisões que foram tomadas em casos
semelhantes ao do reclamante, de modo que a sua reforma, além de
garantir justiça ao caso, trará maior segurança jurídica, pois será
garantido que seja alinhado, em todo o território nacional, o
entendimento sobre casos que compartilham das mesma
particularidades.

Conduta dentro das competências do cargo.

Excelência, é de notório conhecimento que as atividades


desempenhadas pelos obreiros que ocupam o cargo de fiscal de loja,
estão relacionadas à fiscalização e conservação. Em outras palavras,
vale dizer que o fiscal de prevenção de perda atua como vigia/vigilante,
realizando intervenções de prevenção e perdas de mercadorias e furtos
no estabelecimento.

Registre-se, Excelência, que, apesar de não se confundir com


atividades de segurança pessoal e patrimonial, não é crível que seja
desconhecido deste tribunal que abordagens e intervenções com o fito
de proteger o patrimônio da recorrida são exercidas por obreiros que
ocupam a função de fiscal de estabelecimentos. Assim, é notório que a
atitude de intervenção do recorrente encontrava-se dentro das
atividades concernentes ao cargo que ocupava na empresa ré, sendo
exatamente a conduta que esta pede e espera de seus funcionários
vigilantes, diante de cenários de risco de furtos de suas mercadorias.
Desta forma, não deve ser admitido que a ele seja imputada falta grave
por apenas cumprir a função para qual foi contratado.

Excelência, infelizmente, nossa legislação ainda não dispõe sobre


procedimento de apuração da ocorrência de faltas graves que permita o
contraditório e ampla defesa, de modo que o trabalhador fica à mercê
de decisões arbitrárias tomadas unilateralmente pelo empregador. Nas
palavras de Maurício Godinho Delgado:

Não prevê a legislação ordinária qualquer procedimento


especial para aferição de faltas e aplicação de penas no
contexto intraempresarial (excetuada a situação do estável,
conforme mencionado). Muito menos prevê mecanismos de
coparticipação (e corresponsabilização) no instante de
aplicação de penalidades no âmbito empregatício. Pelo padrão
normativo atual, o empregador avalia, unilateralmente, a
conduta obreira e atribui a pena ao trabalhador, sem
necessidade de observância de um mínimo procedimento que
assegure a defesa do apenado e sem necessidade de consulta
a um órgão coletivo obreiro interno à empresa (que, na
verdade, raramente existe no cotidiano empresarial do País).

Por ser dessa forma, em vistas de garantir ao trabalhador seus direitos


constitucionais e a proteção que faz jus frente a disparidade de armas
que possui ao bater de frente com seu empregador, que criou-se o
sistema constitucional extremamente eficaz, que é composto pela nova,
significativa e atuante tutela aos direitos individuais da personalidade do
trabalhador no ambiente laborativo, estruturado pela própria
Constituição.
Assim, a injustiça cometida em desfavor do recorrente só pode ser
desfeita por meio da presente ação que busca essa nova tutela
constitucional, a ser efetivada pelas instituições componentes do
sistema trabalhista brasileiro. Cabe à Vossa Excelência, o poder de
compelir a ré a se submeter a práticas mais democráticas de exercício
do poder empregatício, garantido ao recorrente seus direitos trabalhistas
que lhe foram retirados sem justificativa e de forma injusta.

Em total desrespeito aos princípios constitucionais que protegem o


trabalhador, a ré tomou sua decisão injustamente e se aproveitou da
situação para se esquivar de suas obrigações fiscais, ferindo de morte
os direitos do recorrente, que sempre foi empregado correto e que
jamais sofreu qualquer penalidade leve ou média, retirando deste 12
anos de trabalho digno, exercido com excelência.

Conduta isolada. Ação iniciada por outro funcionário. O recorrente


apenas apartou a briga e imobilizou o cliente, exercendo sua
função com a competência esperada e exigida pela recorrida.

Ato contínuo, Vossa Excelência, em sendo reconhecido que as funções


exercidas pelo recorrente incluíam atividades de intervenção e
prevenção de furtos no estabelecimento da recorrida, cabe neste
momento analisar a ocorrência de excessos e de condutas que vão em
desacordo com o que se esperava do obreiro ao tempo do ocorrido.

Conforme narrado inicialmente, o recorrente estava em serviço quando


a equipe de fiscais do estabelecimento da recorrida identificaram um
possível suspeito que adentrou o supermercado. Os fiscais estavam em
posse de imagens do suspeito e, por um descuido, confundiram-o com
um cliente que entrou na loja. Após a comunicação da ameaça aos
fiscais em serviço, um colega de trabalho do recorrente aproximou-se
do cliente e começou a agredi-lo, antes mesmo de abordá-lo de forma
adequada. Vossa Excelência, é nítido nas imagens que o recorrente
chega até o local após o início da abordagem equivocada realizada por
seu colega e encontra o cliente e outro fiscal em vias de fato, momento
em que aparta a briga e imobiliza o cliente, que naquele momento era
suspeito. Não há possibilidade de outra interpretação dos fatos, Vossa
Excelência. O recorrente apenas exerceu a função que lhe competia e
diante de uma suposta ameaça de furto interviu e imobilizou o cliente
que estava em vias de fato com o seu colega de trabalho.

As imagens deixam claro que, em momento algum, o recorrente agiu


com excesso contra o cliente e que sua ação limitou-se à imobilização
de um possível suspeito que estava agredindo seu colega de trabalho.
Sendo sua função zelar e proteger o patrimônio da recorrida, não pode
esta afirmar e sustentar, diante deste respeitável Tribunal, que a atitude
do recorrente configurou incontinência de conduta ou mau
procedimento, bem como ato lesivo da honra ou da boa fama praticado
no serviço.

Vossa Excelência, os critérios para apuração da suposta falta grave


cometida pelo recorrente não foram observados pela recorrida. A
decisão de aplicar penalidade gravosa como esta ao obreiro, demanda
uma análise pormenorizada da conduta, bem como um enquadramento
desta em todo o contesto que circula a relação de empregado
empregador, que durou 12 longos anos. Explica Maurício Godinho,
quais são estes critérios:

De todo modo, há, obviamente, limites à aplicação de


penalidades pelo empregador, à luz do atual Direito do
Trabalho do País. Esses limites consubstanciam um certo
critério de fixação de penalidades trabalhistas no contexto
empresarial. O critério de fixação de penalidades no âmbito
empregatício impõe a observância de três grupos de
requisitos, a serem examinados conjuntamente em cada caso
concreto: requisitos objetivos, subjetivos e circunstanciais.
Objetivos são os requisitos que concernem à caracterização da
conduta obreira que se pretende censurar; subjetivos, os que
concernem ao envolvimento (ou não) do trabalhador na
respectiva conduta; circunstanciais, os requisitos que dizem
respeito à atuação disciplinar do empregador em face da falta
e do obreiro envolvidos. De maneira geral, a doutrina arrola
apenas dois grupos de requisitos: objetivos e subjetivos.
Contudo, parece-nos relevante distinguir um terceiro grupo,
que envolve as circunstâncias de aferição da conduta faltosa
do obreiro e de aplicação da correspondente penalidade
(requisitos denominados circunstanciais).

Assim, Excelência, antes de adentrar à excludente da “ilicitude da


conduta do recorrente”, cabe analisar que o critério objeto e
circunstancial não foi observado pela recorrida ao aplicar a penalidade
de falta grave, com consequente demissão do recorrente por justa
causa. A conduta a ser censurada, data vênia, seria a do colega de
trabalho do autor que iniciou a abordagem de forma equivocada e que
entrou em vias de fato com o cliente e não do autor que apenas apartou
a briga e exerceu sua função de zelar pelo patrimônio da requerida.
Excelência, de que maneira poderia atuar no recorrente senão desta?
Como deveria proceder ao encontrar seu colega de fiscalização em vias
de fato com um suspeito? É muita inocência, para não dizer má-fé da
recorrida, ao afirmar que o recorrente deveria ter tido acuidade e
cuidado na abordagem. Não teria outra saída senão interromper a
conduta errônea do colega de trabalho que iniciou a ação e, em
momento posterior, apurar os fatos e buscar informações sobre o
suspeito apontado nas câmeras. Não pode Vossa Excelência, validar a
penalidade imposta pela ré que não observou as circunstâncias que
claramente revelam como correta a atitude do recorrente no
desempenho de suas funções de fiscalização.
Por todo o exposto, resta incontroverso, Vossa Excelência, que não foi
cometida falta grave pelo recorrente, sendo a decisão da recorrida
arbitrária, incorreta e em com total inobservância dos preceitos
constitucionais que regem a relação de emprego em nosso país. Assim,
pede-se que Vossa excelência reverta a justa causa imputada ao
recorrente e lhe permita desfrutar das verbas que lhe são devidas pelos
longos anos de trabalho eficaz exercido.

A “legítima defesa, própria ou de outrem”, elide a justa causa


(alínea “j”, in fi ne, do art. 482 da CLT; grifos acrescidos).

Nobres Julgadores, ainda que seja ultrapassada esta questão e que


seja, o que não acredita o recorrente, reconhecida por este respeitável
Tribunal a incontinência de conduta ou mau procedimento, bem como
ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço pelo recorrente,
há de ser aplicada ao presente caso a excludente da ilicitude da
conduta em razão da legítima defesa de outrem. Conforme se verifica
da conduta perpetrada pelo recorrente, seu objetivo era apenas livrar o
colega de uma suposta agressão injusta praticada pelo cliente. Diga,
neste ponto, suposta agressão injusta, pois até o momento em que
interveio na conduta do colega de trabalho, acreditava o recorrente e
toda a equipe que o cliente agredido era o suspeito de furto que teria
retornado ao estabelecimento para concluir suas ameaças. Assim, resta
claro que a atitude do recorrente objetivava a defesa de seu colega de
trabalho da agressão, até então injusta, que estava sofrendo no
momento. Como pode, Nobres Julgadores, que a recorrida exija que o
autor, diante da situação de vias de fato, descobrisse, sem auxílio, que
não se tratava de um suspeito e que se esquivasse de sua função de
proteção do estabelecimento e de seus demais colegas? A situação
toda conduziu o recorrente para que tomasse a atitude de defesa de
seu colega, agindo em consonância com suas funções e atingindo as
expectativas de seu empregador.

Nobres Julgadores, sabe-se que a defesa somente preserva sua


legitimidade esterilizadora do ilícito quando forem utilizados meios
moderados de revide, em contexto de ofensa ou agressão atual ou
iminente. Conforme amplamente narrado e comprovado pelo recorrente
por meio do vídeo acostado e da prova testemunhal produzida, estas
foram exatamente as circunstâncias que envolveram sua conduta do,
não tendo outra conclusão possível, senão o reconhecimento da
excludente da ilicitude de sua conduta que poderia justificar a imputação
de falta grave.

Dessa forma, Vossa Excelência, restou cabalmente comprovado que o


reclamante NÃO agiu com excesso. Cumpre destacar que a recorrida
sequer considerou a possibilidade de o empregado ter agido em
legítima defesa, utilizando a situação para obter vantagem patrimonial
indevida.

Conclui-se, assim, que o reclamante apenas exerceu suas funções,


dentro dos limites da razoabilidade, e atuou em legítima defesa de
outrem, apenas impedindo que as agressões físicas sofridas pelo seu
colega de trabalho continuassem.

Vale ressaltar, Nobres Julgadores, que este foi o posicionamento


adotado por este Tribunal em casos semelhantes, não sendo justificável
que no caso do recorrente seja adotada outra decisão. Caso seja este o
caminho adotado por Vossas Excelências o que, repita-se, não acredita
o reclamante, estaríamos diante de evidente insegurança jurídica. O que
pede o autor é que apenas seja aplicado ao seu caso a jurisprudência
deste respeitável Tribunal e que seja revertida a justa causa que lhe foi
injustificadamente imputada pela recorrida. Destaca-se que o presente
pedido encontra correspondência na jurisprudência deste Tribunal e
merece ser acolhido por Vossas Excelências conforme realizado nas
decisões que se seguem:

PROCESSO nº 0011882-37.2016.5.03.0018 (RO)


RECORRENTES: CARLA RESENDE GANDRA,
DMA DISTRIBUIDORA S/A
RECORRIDAS: DMA DISTRIBUIDORA S/A, CARLA
RESENDE GANDRA
RELATORA: PAULA OLIVEIRA CANTELLI
0010741-57.2022.5.03.0087 - RORSum

RECORRENTE: DROGARIA ARAÚJO S/A


RECORRIDO: VALDEMIR HENRIQUE SOUSA
RODRIGUES
CERTIDÃO

Cumpre destacar excelência que outros respeitáveis tribunais também


adotaram este posicionamento, conforme verifica-se das decisões a
seguir:

PROCESSO nº 1001187-57.2020.5.02.0062 (RO) - 1ª


TURMA.
RECORRENTES: COMPANHIA BRASILEIRA DE
DISTRIBUIÇÃO e V. S..
RECORRIDOS: OS MESMOS.
RELATORA: GERTI BALDOMERA DE CATALINA
PEREZ GRECO.
VARA DE ORIGEM: 62ª VARA DO TRABALHO DE SÃO
PAULO.
JUIZ PROLATOR DA SENTENÇA: RENATO SABINO
CARVALHO FILHO.
PROCESSO TRT/SP nº 1000585-58.2019.5.02.0076
PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO
RECURSO ORDINÁRIO DA 76ª VT DE SÃO PAULO
RECORRENTES: 1. COMPANHIA BRASILEIRA DE
DISTRIBUIÇÃO - CBD
2. A. B.
RECORRIDOS: OS MESMOS
RELATORA: DÂMIA AVOLI
JUIZ PROLATOR DA SENTENÇA: HELCIO LUIZ
ADORNO JUNIOR
PROCESSO nº 1000689-14.2023.5.02.0463

RECURSO ORDINÁRIO EM RITO SUMARÍSSIMO

RECORRENTE: J. A. F. S.
ADVOGADA: CRISTIANE SILVA OLIVEIRA

RECORRIDO: SUPERMERCADOS IRMÃOS LOPES S/A


ADVOGADA: RAQUEL NASSIF MACHADO PANEQUE

VARA DE ORIGEM: 3ª VARA DO TRABALHO DE SÃO


BERNARDO DO
CAMPO

JUÍZA PROLATORA DA SENTENÇA: CAROLINE


ORSOMARZO

RELATOR: WILLY SANTILLI


Por todo exposto, é imperioso, para que se faça justiça por este que vos
clama, que Vossas Excelências reconheçam a excludente de ilicitude da
conduta do recorrente e a inexistência de prática de falta grave, com a
consequente reversão da justa causa injustamente aplicada e
condenação da recorrida ao pagamento das verbas que o reclamante
tem direito.

12 anos de empresa sem notificação de faltas

Nesse ponto, acredito que você deve falar sobre a ausência de


faltas anteriores e sobre o desempenho impecável do seu pai no
desempenho de suas funções por 12 anos.

Desproporcionalidade da penalidade imposta

A respeito da conduta da recorrida, registre-se que restou evidente, por


toda a argumentação aqui exposta, que a penalidade aplicada ao
reclamante foi inadequada, haja vista a desproporcionalidade entre a
suposta falta e a punição aplicada. Para que se tenha efetivo respeito
às normas constitucionais e infraconstitucionais, exige-se que haja
harmônica conformidade entre a dimensão e extensão da falta
cometida e a dimensão e extensão da punição perpetrada. Os dois
critérios completam-se, devendo ser analisados em conjunto, o que não
observou a requerida que aplicou a penalidade mais gravosa prevista
em nosso ordenamento jurídico trabalhista, a um trabalhador que
NUNCA teve outras faltas e que apenas agiu em conformidade com
suas funções.
Assim, a desproporcionalidade da punição, frente a conduta lícita do
reclamante, é outra justificativa para a reversão da demissão por justa
causa.

Vantajoso para a empresa a demissão de funcionário com justa


causa, eximindo-se de suas obrigações fiscais e indenizatórias.

Fundamentar de forma direta aqui e sucinta. Aponta os valores que


ela economizou e fala sobre a irrelevância frente ao patrimônio da
recorrida e sobre a importância pro trabalhador. ( Eu tenho pouco
conhecimento de normas trabalhistas)

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