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SOCIEDADE
AUTORES: THIAGO BOTTINO, ANDRÉ PACHECO TEIXEIRA MENDES E FERNANDA PRATES FRAGA
COLABORADORES EM VERSÕES ANTERIORES DESSE MATERIAL:
PAULO RICARDO FIGUEIRA MENDES, PALOMA CANECA, ARTHUR LARDOSA, DAVID SCHECHTMAN
GRADUAÇÃO
2020.1
2019.1
Sumário
Crime e Sociedade
Apresentação do Curso.......................................................................................................................................3
AULA 10: FATO TÍPICO I. TEORIA DA CONDUTA. AÇÃO E OMISSÃO PENALMENTE RELEVANTE......................................................49
I. APRESENTAÇÃO DO CURSO
II. INTRODUÇÃO
Esse bloco se encerra com a investigação sobre quem pode ser respon-
sabilizado pela prática de um crime. Quem pratica o crime? Assim, to-
maremos como objeto de estudo as categorias da autoria e participação.
12
12 04/abr
Fato TípicoFato Típico
II. Tipo II. TipoDolo
Subjetivo. Subjetivo. Dolo e Culpa.
e Culpa.
13
13 09/abr 1ª PROVA
1ª PROVA
14
14 25/abr Antijuridicidade
Antijuridicidade I. Legítima I. Legítima defesa.
defesa.
15
15 30/abr Antijuridicidade
Antijuridicidade Estado de necessidade
II.necessidade
II. Estado de
Antijuridicidade
Antijuridicidade III. Estrito do
III. Estrito cumprimento cumprimento do deverregular
dever legal, Exercício legal, de
Exercício
direito.
16
16 02/mai
regular de direito.
Consentimento do ofendido. Consentimento do ofendido.
Culpabilidade
Culpabilidade I. Introdução. Introdução.Elementos.
I. Conceito. Conceito.Imputabilidade.
Elementos. Imputabilidade.
Maioridade e
17
17 07/mai Maioridade e Sanidade. Inimputabilidade. Emoção e paixão. Embriaguez
Sanidade. Inimputabilidade. Emoção e paixão. Embriaguez voluntária e involuntária.
voluntária e involuntária.
Culpabilidade II. Potencial Conhecimento da Ilicitude. Teoria do Erro. Erro de
18 Culpabilidade II. Potencial Conhecimento da Ilicitude. Teoria do Erro.
18 Proibição.
09/mai Erro de Tipo. Descriminantes Putativas.
Erro de Proibição. Erro de Tipo. Descriminantes Putativas.
Culpabilidade III. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas legais de exclusão:
19 coação moralCulpabilidade III. Exigibilidade
irresistível e obediência a ordemde nãoConduta Diversa. ilegal
manifestamente Causasde legais de
superior
exclusão: coação moral irresistível e obediência a ordem não manifestamente
19 14/mai Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas supralegais de exclusão.
hierárquico.
ilegal de superior hierárquico. Exigibilidade de Conduta Diversa. Causas
Tentativa esupralegais
consumação. de exclusão.
Iter criminis: etapas de realização do delito. Desistência
20 voluntária. Arrependimento eficaz. Arrependimento
Tentativa e consumação. Iter criminis:posterior.
etapas deCrime impossível.
realização do delito.
• HC 84.653, STF voluntária. Arrependimento eficaz. Arrependimento posterior.
Desistência
20 16/mai
21 Concurso de Crime impossível.
pessoas. Autoria e participação.
• HC 84.653, STF
22 Concurso de pessoas. Autoria e participação.
21 21/mai Concurso de pessoas. Autoria e participação.
BLOCO IV
22 Princípios do Direito Processual Penal I.e participação.
23/mai Concurso de pessoas. Autoria Introdução ao processo penal. Princípio
23
da Presunção de inocência. BLOCO IV
23 • ADC 43 e HC 126.292, ambos do STF Penal I. Introdução ao processo penal.
28/mai
Princípios do Direito Processual
Princípio da Presunção de inocência.
Princípios do Direito Processual Penal II. Princípio da vedação de autoincriminação.
24 • ADC 43 e HC 126.292, ambos do STF
• ADPF 395, STF
Princípios do Direito Processual Penal II. Princípio da vedação de
24 Princípios do Direito Processual Penal III. Princípio da vedação de provas ilícitas.
30/mai autoincriminação.
25
Reclamação 23.457,
• ADPF STF395, STF
Princípios Princípios
do DireitodoProcessual Análise
Penal IV.Penal
Direito Processual III. Econômica
Princípio dadovedação
Crime dee
26
25 Colaboração Premiada
04/jun provas ilícitas.
27 Reclamação
AULA EXTRA 23.457,–STFREPOSIÇÃO – AULA REVISÃO
28 Princípios do Direito Processual
2ª PROVA Penal IV. Análise Econômica do Crime
26 06/jun
e Colaboração Premiada
29 2ª CHAMADA
27 11/jun AULA EXTRA – REPOSIÇÃO – AULA REVISÃO
30 PROVA FINAL
28 13/jun 2ª PROVA
29 26/jun 2ª CHAMADA
30 03/jul PROVA FINAL
IV. METODOLOGIA
Ficha de Análise
V. BIBLIOGRAFIA
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. 1 — Parte Geral.
12ª Ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: RT, 2013.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 15ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2013.
VI. AVALIAÇÃO
Essa avaliação pretende estimular que o aluno esteja preparado para parti-
cipar de todas as aulas e que contribua para o desenvolvimento das atividades.
Participações inoportunas ou deficientes não serão pontuadas positivamente.
LEITURA OBRIGATÓRIA
Delito: para o Direito penal o crime é uma conduta contra norma para a
qual existe uma punição. Crime é conduta típica, antijurídica e culpável. No
âmbito da Criminologia o crime é entendido como um fenômeno social.
Escola Positivista
LEITURA OBRIGATÓRIA
A teoria da anomia (strain theory) foi criada pelo sociólogo Robert King
Merton nos Anos 40, tendo como base teoria Emile Durkheim (1858/1917),
LEITURA OBRIGATÓRIA
LEITURA COMPLEMENTAR
LEITURA OBRIGATÓRIA
LEITURA COMPLEMENTAR
The punitive turn (David Garland): Condições históricas através das quais
instituições de controle social modernos se desenvolveram nos países ociden-
tais. Autor observa que três últimas décadas do século passado foram mar-
cados por muitas mudanças na política, económica e social. Relação entre
Estado Social/ Estado Penal: “a atrofia planejada do Estado Social […] e a
súbita hipertrofia do Estado Penal podem ser considerados dois movimentos
concomitantes e complementares” (L. Wacquant). Sinais de mudança - con-
trole penal contemporâneo - punitive turn : a) O tom emocional da política
criminal, b) Retorno da vitima, c)Punição pós-disciplinar.
a incolumidade pública, para citar alguns, vão formar o rol de valores, Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, p. 2.
interesses e direitos que, elevados à categoria de bens jurídico-penais, cons- 13
MAURACH/ZIPF apud ROXIN. Op.
tituirão o objeto de proteção do direito penal. Cit., p. 70.
Desde seu início, a denominada teoria do bem jurídico admite quer bens
jurídicos individuais, tais como a vida e liberdade, quer bens jurídicos uni-
versais14, tais como administração da justiça15, e, modernamente, ordem tri-
butária, administração pública, sistema financeiro, meio ambiente, relações
de consumo, saúde pública, dentre outros.
Não é difícil perceber, entretanto, que a função que o direito penal assu-
me encontra dificuldades no atual contexto brasileiro, fazendo pensar que
uma coisa é a função que lhe é atribuída (função declarada) e outra aquela
que realmente exerce no contexto social (função oculta).
A literatura relativa à principiologia penal é vasta.21 Nas próximas qua- Teoría del garantismo penal. Tradu-
ção: Perfecto Andrés Ibáñez, Alfonso
tro aulas, serão estudados os princípios – de forma não exaustiva – que Ruiz Miguel, Juan Carlos Bayón Mo-
hino, Juan Terradillos Basoco, Rocío
informam o Direito Penal, seu papel dentro do sistema jurídico-penal e Cantarero Bandrés. Madrid: Editorial
sua aplicação prática. Trotta, 1995, p. 209.
19
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito
Penal: parte geral. Curitiba: ICPC; Lu-
men Juris, 2006, p. 19.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 20
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón:
Teoría del garantismo penal, p. 33.
21
Para citar alguns: ZAFFARONI, Euge-
Um dos mais importantes princípios comuns a quase todas as áreas nio Raúl, ALAGIA, Alejandro & SLOKAR,
Alejandro. Derecho Penal: Parte Gene-
do Direito é o princípio da legalidade. Este, como outros princípios, ral. 2ª ed. Buenos Aires: Ediar, 2002, p.
107-142; TOLEDO, Francisco de Assis.
tem como uma de suas funções primordiais a limitação do poder estatal, Princípios básicos de direito penal. 5ª
ed. São Paulo: Saraiva, 1994; MIR PUIG,
podendo ser expresso de diversas formas. A primeira delas estabelece que Santiago. Direito penal: fundamentos
ao indivíduo cabe fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. Uma variante e teoria do delito. Tradução: Cláudia
Vianna Garcia e José Carlos Nobre Por-
direta dessa é a aplicação oposta ao governo: só é permitido ao Estado o ciúncula Neto. São Paulo: Editora Revis-
ta dos Tribunais, 2007; 82-107, CIRINO
que a lei expressamente permite. Contudo, o variente que mais importa DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal, op.
cit., p. 19-32; BARATTA, Alessandro.
no momento é a variante exposta pela seguinte frase em latim: nullum Principios de Derecho Penal Mínimo.
crimen, nulla poena sine lege. Esta formula foi eternalizada por Feuerbach, In: Criminología y Sistema Penal (Com-
pilación in memoriam)», Editorial B de
no começo do séc. XIX. F, Buenos Aires, Argentina, 2004.
Versão análoga a esta última pode ser encontrada no art. 5º, inciso XX-
XIX da Constituição Federal: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem prévia cominação legal”. Esta disposição também está prevista de
modo semelhante no art. 1º do Código Penal, e neste sentido, é o princípio
mais importante desta área do direito, pois a lei é a única fonte que pode ser
utilizada para proibir ou impor condutas sob ameaça de sanção. Em outras
palavras, é preciso uma lei que descreva uma conduta como proibida e asso-
cie uma pena para aqueles que realizarem a conduta proibida.
1. Nullum crimen, nulla poena sine lege praevia — não há crime nem pena
sem lei prévia
Questão: Reforma do Código Penal prevê criminalização dos jogos de
azar e pena dobrada para explorador
— Vedação à retroatividade da lei mais grave (lex gravior)
A lei penal não retroage, salvo para beneficiar o réu (art.5°, XL, CR). A
irretroatividade da lei penal mais gravosa atinge tanto as tipificações legais
como as sanções penais que lhes correspondem. A proibição de retroativi-
dade ganha especial relevância quando do estudo da lei penal no tempo,
como será visto adiante.
2. Nullum crimen, nulla poena sine lege scripta — não há crime nem pena
sem lei escrita
— Vedação aos costumes como fonte de criminalização de condutas ou
punibilidade.
Em matéria penal, é vedada a utilização do costume como fonte da lei
penal, uma vez que a forma constitui garantia do cidadão e por isso deve
ser pública, geral e escrita.
3. Nullum crimen, nulla poena sine lege stricta — não há crime nem pena sem
lei estrita
— Vedação à analogia in malam partem.
Outra derivação que se extrai da legalidade é a vedação da analogia in
malam partem (em desfavor do réu). A analogia é a aplicação da lei a fatos
semelhantes sem expressa previsão legal. Na verdade, o que proíbe essa
derivação é que o juiz inove na interpretação da lei em prejuízo do réu. A
analogia in bonam partem não é vedada, embora seu reconhecimento exija
ampla fundamentação quanto a sua pertinência ao caso concreto.
4. Nullum crimen, nulla poena sine lege certa — não há crime nem pena sem lei certa
— Vedação à normas penais vagas, imprecisas, indeterminadas
A questão jurídica
Diante dos atos praticados pelos policiais, duas ações foram instauradas. A pri-
meira ação penal foi ajuizada na Justiça Estadual Militar, para apurar o crime de
lesão corporal praticado por militar (art. 209, do Código Penal Militar; Decreto-
-Lei Nº 1.001, de 21 de outubro de 1969): “Art. 209. Ofender a integridade
corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano”.
Uma segunda ação penal foi instaurada para apurar o mesmo fato, porém
perante a Justiça Estadual Comum, para apurar o crime de tortura contra
criança ou adolescente (art. 233, do Estatuto da Criança e do Adolescente;
Lei 8069/90): “Art. 233. Submeter criança ou adolescente sob sua autorida-
de, guarda ou vigilância a tortura: Pena - reclusão de um a cinco anos. § 1º
Se resultar lesão corporal grave: Pena - reclusão de dois a oito anos. § 2º Se
resultar lesão corporal gravíssima: Pena - reclusão de quatro a doze anos. § 3º
Se resultar morte: Pena - reclusão de quinze a trinta anos”22.
A defesa dos policiais alegou que ninguém pode ser processado nem punido
duas vezes pelo mesmo fato (princípio do ne bis in idem). Para solucionar qual
deveria ser a justiça competente, foi suscitado um conflito de competência pe-
rante o Superior Tribunal de Justiça, que julga questões infraconstitucionais.
O STJ, no entanto, determinou que ambas as ações teriam prosseguimento.
PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Diante dos fatos, a vítima pretendia “retirar a queixa e a fita foi devolvida,
contudo o acusado foi condenado a 8 meses de reclusão por uma conduta
que para muitos pode ser considerada como insignificante, ou seja, não causa
uma lesão a um bem jurídico protegido, qual seja o patrimônio, de forma a
ensejar a necessidade de que o direito penal seja aplicado.
LEITURA COMPLEMENTAR
PRINCÍPIO DA LESIVIDADE
O grande dilema é saber se a norma penal pode deixar de ser aplicada por
desuso, ou seja, se o reconhecimento do costume pode dar ensejo a uma des-
criminalização tácita. Na prática o que ocorre geralmente é que a própria per-
secução criminal, nesses casos, diminui e a punição de um caso isolado acaba
se tornando injusta diante do grau de irrelevância social da condenação.
Fato é que o princípio é pouco usado, uma vez que sua indeterminação
gerou novos critérios de aferição mais depurados e menos subjetivos quando
da sua aplicação pelo juiz. Geralmente se aplicam em casos de evidente ana-
cronismo da norma penal em questões morais, como o não reconhecimento
do adultério como crime mesmo antes da sua revogação em 2005.
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
MÍDIA
Entre os detidos, dois permanecem presos e um foi liberado após fiança. Ope-
ração do Ministério Público ocorreu em Copacabana e Ipanema.
Doze termas foram percorridas pela operação, desencadeada às 22h pelo Mi-
nistério Público, com o apoio de cem policiais de policias da 12ª DP (Copacaba-
na) e da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI).
no local, onde foram apreendidos R$ 290 mil, além de uma pequena quantidade
de euros e dólares. Na termas L’uomo, os policiais encontraram R$ 3 mil e um
gerente foi preso.
A decisão foi do juiz da 2.ª Vara Criminal de São Gonçalo, André Luiz Nicolitt.
“Se fosse seguir a letra fria do Código Penal, teríamos de fechar todos os motéis,
pois o mesmo dispositivo que incrimina as casas de prostituição também crimi-
naliza os motéis.”
Autor do projeto, o ex-deputado federal Fernando Gabeira disse que a lei favorece
a corrupção. “A propina para manter aberto o estabelecimento é fonte de renda
para o mau policial. A legalização pode acabar com isso.»A fundadora da ONG
Davida, que defende os direitos das profissionais do sexo, Camila Leite, afirmou
que vai propor a reapresentação no Congresso do projeto.
TRECHO DA SENTENÇA
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC;
Lumen Juris, 2006, pgs. 47-55.
BIBLIOGRAFIA AVANÇADA:
A exceção é a lei penal mais benéfica (art.5°, XL, da CR e art. 2°, parágrafo
único, do CP) que alcançará tanto fatos pretéritos a vigência da lei, ainda que
alcançados por sentença condenatória transitada em julgado, quanto fatos
posteriores a sua revogação (princípio da extra-atividade). O fundamental é
reconhecer qual a lei mais favorável ao infrator e estabelecer uma compara-
ção: a) quando a lei revogadora é mais benéfica, será retroativa; b) quando a
lei revogada é mais benéfica, ela terá ultra-atividade, aplicando-se aos fatos
cometidos durante sua vigência (nesses termos, ver: BITENCOURT, Cezar
Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. Vol. 1. 13ª Ed. São Paulo:
Saraiva, 2008, p.163).
HIPÓTESES DE CONFLITO
CONTROVÉRSIAS
Combinação de leis
Leis processuais
Outra discussão que tem gerado grande debate é o alcance das regras de
aplicação da lei penal no tempo, se atingiriam somente as leis penais mate-
riais, ou também determinadas normas processuais. Primeira maneira segura
é identificar se a questão objeto de disputa está prevista ou não no código
penal. Dessa forma, além da incriminação e da pena, também se incluem,
ainda que de caráter processual, situações que envolvam a ação penal, regime
de cumprimento de pena, causas extintivas de punibilidade e prescrição.
JURISPRUDÊNCIA
O acusado foi processado por crime de atentado violento ao pudor, que consiste
em constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir
que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal (crime hoje não
mais previsto no Código Penal, pois agora está englobado no crime de estupro).
1) Quando uma norma ingressa no “mundo jurídico”? Ela pode ser revoga-
da, antes de entrar em vigor?
2) É possível a revogação implícita da lei penal? É possível a revogação implí-
cita da lei penal gerando piora na situação jurídico-penal do réu?
3) Há retroatividade in malan partem no caso concreto? Houve violação ao
Princípio da Irretroatividade?
4) O Poder Judiciário pode violar o princípio da Irretroatividade em nome
da “coerência legislativa”? e da Justiça?
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, pgs. 135-145, Capítulo 20 (não abrange o tema da
classificação dos crimes).
INTRODUÇÃO
Crime e Contravenção
De dano e de perigo
No crime formal, embora preveja resultado, basta a ação para que o crime
se consume (ou seja, para que a conduta possa ser juridicamente considerada
crime, se torne definitivo), como no caso da ameaça. Já os de mera conduta
são aqueles que o legislador prevê somente a ação, como no caso da violação
do domicílio e da desobediência.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, pgs. 147-154, Capítulo 21.
BIBLIOGRAFIA AVANÇADA
TEORIA DA CONDUTA
Foi Welzel quem, opondo-se a essa teoria, criou o conceito final de ação,
segundo o qual ação é exercício de atividade final. Assim, o plano do agente
(a intenção) tornou-se fundamental para caracterizar a ação, como vontade
que dirige o acontecimento causal. Nas palavras de Welzel, “a finalidade é
vidente, a causalidade é cega”. Assim, a ação ganha uma dimensão de finali-
dade: previsão do resultado, escolha dos meios de execução e ação concreta
no sentido de realizar esse fim.
Mas por que se dedicar a especulação filosófica do que seria a ação? Os pe-
nalistas queriam com isso unificar em uma definição todas as condutas penal-
mente relevantes, englobando ação e omissão (hipótese em que o direito penal
pune um não fazer do sujeito). Pretendiam também fundamentar o delito a
partir de um elemento básico que pudesse conectar o conceito de crime com
um dado real, a ação humana. Planejavam, ainda, delimitar a ação humana,
excluindo determinados fatos que não poderiam ser atribuídos a pessoa.
Os sujeitos da ação
Ausência de conduta
de socorro), que cria uma imposição normativa genérica (todos aqueles que
omitirem socorro são puníveis, bastando a mera abstenção) e que somente
pode ser cometido por omissão (o próprio tipo contém a palavra “omissão”
ou forma equivalente como “deixar de”). Já a omissão imprópria (dever es-
pecial de agir), também chamada de crime comissivo por omissão, é uma
maneira de cometer o crime (que poderia ser cometido por meio de uma ação
positiva, por exemplo, “matar alguém”) não evitando o resultado que podia
ou devia evitar segundo uma obrigação (posição de garantidor, ex. bombeiro
salva-vidas) que pode surgir de uma situação concreta (afogamento de ba-
nhista) prevista em qualquer tipo penal que descreva um crime de resultado.
Relação de Causalidade.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, pgs. 213-226, Capítulos 25 — Relação de causalidade.
BIBLIOGRAFIA AVANÇADA
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
Esse juízo hipotético por si só, porém, não oferece resposta definitiva,
uma vez que se pensarmos nas quantidades de condições que determinam
um crime, o regresso seria infinito. Seria responsável por um homicí-
dio cometido por meio de arma de fogo não só o agente, mas quem lhe
vendeu a arma, produziu o revólver... Portanto, esse juízo deve levar em
conta o elemento subjetivo, a vontade do agente, ou seja, a possibilidade
de previsão do resultado e um agir ao menos com culpa.
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC;
Lumen Juris, 2006, (Dolo) pgs. 131-148, Capítulo 8, III. Tipo subjeti-
vo; (Culpa) 165-196, Capítulo 9.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, pgs. 183-212, Capítulos 23 e 34.
BIBLIOGRAFIA AVANÇADA:
FATO TÍPICO
Mas o que é o tipo penal? Tipo penal é a descrição que a lei faz da
conduta proibida, indicando quais fatos devem ser considerados crimes.
TIPO OBJETIVO
O tipo penal pode ser divido em tipo objetivo e tipo subjetivo. O tipo ob-
jetivo é aquele que descreve a conduta, da qual pode se inferir o autor (quem
pode praticar o crime), a ação ou omissão (o que praticou), o resultado (a
consequência dessa prática) e a relação de causalidade (o nexo entre a ação e
o resultado dessa prática). O núcleo do tipo é o verbo que expressa a conduta
proibida (ex. “matar”).
Além da conduta principal prevista no caput dos tipos penais (ex. “matar al-
guém”, art. 121 do CP), existem circunstâncias, motivos e modos de execução
que podem se somar a conduta principal do agente. O essencial é o crime previsto
na sua forma básica (ex. homicídio simples, art.121, caput, do CP), que por si só
já configura o crime. As circunstâncias que se somam ao tipo básico são acessórias,
pois não excluem a responsabilidade penal, podendo somente mudar a escala da
pena (tipo qualificado — ex. homicídio qualificado — art.121, §2°, do CP —
que muda a escala penal de 6 a 20 anos para 12 a 30 anos) ou prever causas de au-
mento ou diminuição de pena (que adicionam ou diminuem determinada fração
a pena prevista no tipo base, ex. diminuição de 1/3 a 1/6 em caso de homicídio
cometido por relevante valor social ou moral — art.121, §1°, do CP).
TIPO SUBJETIVO
DOLO
tipo objetivo, que implica um saber atual ao momento da prática do crime que
abrange todos os elementos essenciais do tipo (como a vítima, o meio empre-
gado e a previsão do resultado). É a representação mental desses elementos.
Existem alguns tipos penais que além da vontade geral (dolo) que caracte-
riza todo tipo penal, exigem elementos subjetivos especiais, distintos do dolo,
que exigem um especial fim de agir para que o tipo penal seja caracterizado.
Por exemplo, não basta a subtração de coisa alheira móvel para caracterizar o
furto, mas também uma intenção de apropriação do bem.
Espécies de dolo
CULPA
Elementos da culpa
Espécies de culpa
A culpa pode ser ainda imprópria, quando o agente prevê e quer o re-
sultado, mas age em excesso ou em erro de tipo evitável na justificação da
conduta, ou seja, quando, por exemplo, em legítima defesa de furto espanca
o ladrão (excesso) ou quando pensa erroneamente que uma pessoa que passa
ao seu lado irá lhe roubar por alguma atitude que achou suspeita (erro de tipo
evitável). O excesso nas causas de justificação e o erro de tipo serão vistos em
seguida, na antijuridicidade e culpabilidade, respectivamente.
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC;
Lumen Juris, 2006, pgs. 217-238, Capítulo 11, I e II (a).
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, Capítulo 32, pgs. 307-313 (itens 1-6) e pgs. 332-
360 (item 8).
BIBLIOGRAFIA AVANÇADA:
ANTIJURIDICIDADE
Um didático método adotado por Juarez Cirino dos Santos e que serve de
base para analisar a seguir as justificações é a diferenciação entre: a) situação
justificante e b) ação justificada. A seguir será feita a análise pormenorizada
das causas de justificação, com a descrição dos elementos que a caracterizam
(e diferenciam) e o alcance dessas hipóteses.
LEGÍTIMA DEFESA
Essa agressão injusta, no entanto, deve ser atual (em curso) ou iminen-
te (prestes a acontecer). Quando postergada não configura legítima defesa,
mas vingança passível de punição. Não há possibilidade de legítima defesa
da honra (ex. pai que mata pessoa que estuprou a filha), situação que pode
apenas atenuar a culpabilidade do agente.
Os meios devem ser aqueles necessários para repelir a agressão e devem ser
usados moderadamente, podendo a escolha do meio (ex. arma de fogo) ou
o uso imoderado (ex. violência física) constituir excesso. Também se exige o
ânimo de defesa, que seria o elemento subjetivo da legítima defesa: conheci-
mento da agressão injusta e o propósito de se defender.
ESTADO DE NECESSIDADE.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, pgs. 314-330 (item 7), Capítulo 32.
BIBLIOGRAFIA AVANÇADA
ESTADO DE NECESSIDADE
Além dos requisitos positivos gerais, a lei penal trás como condição
pessoal negativa a ausência de dever legal de enfrentar o perigo (art.24
§1°, do CP). Esse dispositivo afasta a possibilidade daqueles que tem o
dever de enfrentar o perigo (ex. bombeiro em caso de incêndio, salva-
-vidas em caso de afogamento) de alegarem estado de necessidade. Essa
exclusão, no entanto, só alcança o enfrentamento de perigo inerente ao
exercício dessas atividades, em condições normais. Um bombeiro salva-
-vidas não pode alegar risco de afogamento para não salvar um banhista.
Diferente seria se, tentando salvá-la, não conseguisse, por força de cor-
renteza muito forte que lhe impõe optar entre morrer tentando resgatar
ou desistir para salvar-se. (para uma visão abrangente sobre as posições
especiais de dever, ver: CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal:
parte geral. Curitiba: ICPC; Lumen Juris, 2010, pgs. 245-250).
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC;
Lumen Juris, 2006, pgs. 255-269, Capítulo 11, itens C, D e E.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, pgs. 360-369 (itens 9, 10 e 11), Capítulo 32.
BIBLIOGRAFIA AVANÇADA
CONSENTIMENTO DO OFENDIDO
MÍDIA
CASO
“(...)
De acordo com as alegações das partes e as provas dos autos, entendo que
merece ser acolhida a pretensão punitiva Estatal, vez que foi formada a con-
vicção deste juízo sobre a veracidade dos fatos alegados pela acusação.
[...].
O próprio acusado não desmente que manteve conjunção carnal por várias
vezes com a vítima, defendendo-se apenas dizendo que não conseguiu se con-
trolar, pois começou a gostar muito da menor, demonstrando plena consci-
ência quanto a idade da vitima e do caráter delituoso de sua conduta. (...)”
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC;
Lumen Juris, 2006, pgs. 273-283, Capítulo 12.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, pgs. 371-384, Capítulo 33.
BIBLIOGRAFIA AVANÇADA
CULPABILIDADE
Se a ação ou omissão típica e ilícita realizada pelo indivíduo puder lhe ser
reprovada, aí ela será também culpável, podendo, bem assim, ser constatada
a existência da prática de um crime. E quando o injusto será reprovável?
Quando um autor será culpável?
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, pgs. 384-395, Capítulo 33, item 5, elementos da cul-
pabilidade na concepção finalista.
BIBLIOGRAFIA AVANÇADA
IMPUTABILIDADE
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC;
Lumen Juris, 2006, pgs. 296-321, Capítulo 12, item 2, Conhecimento do
injusto e erro de proibição; e pgs. 150-161, Capítulo 8, item 2, Erro de Tipo.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, pgs. 396-402, Capítulo 33, item 5.2, Potencial consci-
ência sobre a ilicitude do fato; e pgs. 293-305, Capítulo 31, Erro de Tipo.
BIBLIOGRAFIA AVANÇADA
Assim, não será culpável o indivíduo que, ao tempo do fato, não podia
conhecer a proibição e, nesse sentido, agir de outro modo, atuar conforme o
direito, por ausente o potencial conhecimento da ilicitude.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, pgs. 403-412, Capítulo 33, item 5.3, Exigibilidade
de Conduta Diversa.
BIBLIOGRAFIA AVANÇADA
MÍDIA
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC;
Lumen Juris, 2006, pgs. 377-401, Capítulo 15, Tentativa e Consumação.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, pgs. 245-263, Capítulo 26, Consumação e Tentativa; e
pgs. 265-288, Capítulo 27, 28 e 29.
BIBLIOGRAFIA AVANÇADA
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito Penal: parte geral. Curitiba: ICPC;
Lumen Juris, 2006, pgs. 347-376, Capítulo 14, Autoria e Participação.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Vol. I. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2011, pgs. 415-450, Capítulo 34, Concurso de pessoas.
AUTORIA E PARTICIPAÇÃO
Não está dito no texto constitucional que todo homem se presumirá inocen-
te, até que seja condenado, mas sim que ninguém será considerado culpado até
o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Em vista disso, não se
estaria consagrando propriamente o princípio da presunção da inocência, mas
sim o da desconsideração prévia da culpabilidade de aplicação mais restrita.
A mera alegação do réu de que agiu, por exemplo, sob uma excludente de
antijuridicidade, não o exime de produzir prova de sua alegação. A solução
pro reo só existe se o juiz não chegar a um juízo de certeza contra o réu, ou
seja, se ele ficar realmente em dúvida quanto à ocorrência ou não da situação
que justificaria sua conduta, em vista da prova produzida. Diz-se assim que
o in dubio pro reo é uma regra de julgamento que se extrai do princípio da
presunção de inocência.
A primeira mudança importante que este dispositivo trouxe foi a clara não
recepção da antiga redação do art. 186 do CPP, que instituia que o silêncio
do acusado poderia ser interpretado em prejuizo do mesmo. Deste modo,
uma primeira expansão é a proibição da interpretação do silêncio a desfavor
do réu, isto já foi completamente incorporado pelo CPP em diversos dispo-
sitivos (exemplo: art.198, CPP).
Além desta expansão, várias outras foram feitas: o acusado poderá mentir,
se negar a colaborar e até tentar fraudar os testes que possam produzir alguma
evidência contra o acusado. Um exemplo prático disto é que, com a adoção
da lei seca, a percentagem de álcool no sangue passou a ser requisito para ca-
racterizar a embriaguez, deste modo, com o princípio em questão, não mais é
possível caracterizar a embriaguez sem violar um direito do acusado.
Uma questão cada dia mais tormentosa que toca nesse debate diz respei-
to à busca de provas no corpo do indivíduo que está sendo investigado. A
obtenção compulsória de tecido humano violaria o direito de não se auto-
-incriminar? Criada pela Constituição de 1988 e consolidada pelo Supremo
Tribunal Federal ao longo de sucessivos julgamentos, a vedação de auto-
-incriminação já está incorporada à cultura jurídica nacional. São exemplos
do exercício dessa garantia: (1) o direito de não responder perguntas e outras
formas de inatividade (recusar-se a participar de reconstituição simulada da
cena do crime, deixar de fornecer material gráfico ou padrões vocais para
Pode parecer que uma amostra de sangue, saliva ou cabelo constitui uma
intervenção mínima no indivíduo e que, portanto, deveria ceder ante o inte-
resse na busca da verdade. Ocorre que esse é o primeiro passo para a criação
de bancos de DNA de suspeitos e, posteriormente, de todo e qualquer cida-
dão. E, ao contrário de fotos e impressões digitais, o DNA humano reúne
uma quantidade enorme de informações extremamente íntimas que não de-
vem estar à disposição de governos e, quiçá, de particulares. A ideia que ani-
ma o direito de não produzir prova contra si e de preservar a intangibilidade
do corpo humano é impedir que o Estado sucumba à tentação autoritária de
buscar a prova do crime por meio do (ou no) sujeito acusado no processo,
o que acabaria por reduzir o indivíduo à condição de objeto dos processos e
ações estatais, ferindo-lhe a autonomia moral e a dignidade humana.
Os advogados dos presos alegam que esses métodos são ilegais e consti-
tuem tortura e, portanto, em nenhuma circunstância poderiam ser admiti-
dos, ainda que vidas humanas estivessem em perigo. Quaisquer provas, indí-
cios ou depoimentos são provas ilícitas e o Estado não poderia se valer delas.
Para o governo de Israel, tais métodos não constituem tortura, pois não
causam dor ou sofrimento. Mesmo se isso ocorresse, a prática estaria permiti-
da porque os agentes do GSS as utilizavam para proteger a vida e a segurança
de inocentes.
• Professor Emergix
• Professor Demorradicalix
Esse caso concreto deve ser definido com base na lei. Se a lei proíbe a
tortura, não podemos praticá-la, nem mesmo em crimes graves, já que a lei
não faz essa exceção. Nem a Comissão Landau, nem o Ministro da Justiça,
nem o chefe do GSS têm legitimidade para decidir em que casos pode existir
tortura. Somente o povo, por meio de seus representantes democraticamente
eleitos pode tomar essa decisão.
• Professor Natuliberalix
Reconheço que muitas situações vividas pelos agentes do GSS são graves e
que eles buscam salvar vidas. Porém, sabemos que muitos “suspeitos” foram
torturados e depois nenhuma acusação foi formulada contra eles. Não posso
admitir, em hipótese nenhuma, nem mesmo diante de crimes graves, que
um inocente seja brutalizado dessa forma. Nenhum ganho social justifica tal
risco individual. Ainda que 99% dos suspeitos sejam de fato criminosos, não
há como justificar que o direito deixe desprotegidos os 1% restantes.
• Professor Garantilix
Vejo que os colegas que falaram antes de mim estão conduzidos pela emo-
ção, mais do que pela razão. Em primeiro lugar, interessa saber se a tortura é
um meio eficiente de obtenção de informação.
Eu considero que não é. O medo de ser torturado fará com que pessoas
fracas façam declarações falsas que apenas atrapalharão as investigações. Por
outro lado, pessoas fortes nada falarão, mesmo se torturadas até a morte.
Nesse caso, o que fará o investigador do GSS? Passará a torturar a esposa do
terrorista para que ele fale? Trará para a sala de torturas a filha de quatro anos
do terrorista e começará a espancá-la?
Por trás do desejo de torturar não está a busca pela informação, mas sim a
vontade de determinados homens, que no momento são mais fortes que ou-
tros, de usar essa força para subjugar, ofender, humilhar, machucar e matar
seus semelhantes mais fracos.
Penso que se a tortura for legalizada pelo congresso, como propõe o pro-
fessor Demorradicalix, isso incentivará sua prática. Com o tempo, será tão
fácil conseguir um mandado para tortura como ocorre hoje com a busca e
apreensão ou a prisão. Será instituída a “tortura para averiguações”.
Além disso, será que o suspeito tem obrigação de confessar o crime? Será
razoável exigir que alguém forneça as provas para sua própria condenação?
Ao admitirmos a tortura, estamos supervalorizando a confissão como meio
de prova. Logo, ele voltará a ser a “rainha das provas” exatamente como ocor-
ria durante a Inquisição, quando muitas pessoas foram mortas por causa de
perseguições religiosas.
Embora Becker (1968, p.170) tenha colocado que “[...] ‘crime’ is an eco-
nomically important activity or ‘industry’, notwithstanding the almost total
neglect by economists”, atualmente alguns economistas e demais profissio-
nais ligados ao tema da economia do crime têm demonstrado interesse por
este problema, posto que o aumento da criminalidade pode arrefecer o nível
de atividade econômica de uma região à medida que desestimula novos in-
vestimentos, os preços dos produtos são majorados com a incorporação dos
custos com a segurança, entre outros. Isto sem considerar que parcela dos
recursos e agentes produtivos atuantes no crime poderia estar sendo alocado
no setor produtivo lícito da economia, gerando benefícios para a sociedade
como um todo.
Mas, o que vem a ser crime econômico ou lucrativo? Os crimes são agru-
pados de acordo com o bem jurídico que pretendem proteger, sejam eles
individuais ou coletivos. Há crimes que atentam contra a vida, o patrimônio,
a honra, a administração pública, a administração da justiça, a fé pública, o
meio ambiente, o sistema financeiro, a ordem tributária, a ordem econômica
e a segurança pública, dentre vários outros. No sentido econômico, o crime
(...)
riqueza e à manutenção de um alto padrão de vida (aqueles que não alcançam Embora até hoje seja comum asso-
30
Outro dado importante que merece ser considerado é o custo das penas,
sendo preferível a aplicação de penas que gerem a mesma eficiência com
menor custo, o qual é mais reduzido nas penas pecuniárias e extremamente
elevado nas penas de prisão31, muito embora o grau de intimidação destas 31
“Não é à toa assinalava Bentham que
últimas seja maior que o das primeiras. ‘a pena mais econômica será aquela
que não cause nem uma partícula de
mal que não seja convertido em pro-
veito; as penas pecuniárias têm esta
Assim como outra atividade econômica qualquer, os ganhos na atividade qualidade em grau acentuado, pois
empresarial do crime são incertos e dependem da probabilidade de sucesso de todo mal que sente o sujeito que a paga
converte-se em proveito para o sujeito
suas operações. Não existem dados que estimem a probabilidade de detenção que a recebe’” (apud SANCHEZ, 2004).
de um indivíduo no Brasil, mas supõe-se ser menor que verificada nos Es-
tados Unidos, que é de apenas 5%. Isto implicaria dizer que no Brasil a
probabilidade de sucesso no setor do crime pode ser maior do que 95%
(FERNANDEZ, 1998). Para Adorno (2002, p.50), “não são poucos os estu-
dos que reconhecem a incapacidade do sistema de justiça criminal, no Brasil
– agências policiais, ministério público, tribunais de justiça e sistema peni-
tenciário –, em conter o crime e a violência respeitados os marcos do Estado
democrático de Direito.”
A economia do crime assume que uma pessoa age racionalmente com base
nos custos e benefícios inerentes às oportunidades legais e ilegais. Grande parte
dessa idéia advém do modelo de escolha ocupacional de trabalho. Na realida-
de, essa teoria do comportamento criminal baseia-se na suposição de escolha
racional proposta por Beccaria e Bentham (EIDE, 1999; MARIANO, 2010).
Retorno
líquido
médio do
crime
Thiago Bottino
Graduado em Direito pela Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (1999), Mestre (2004) e Doutor (2008) em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro. Pós-Doutor (Visiting Scholar)
na Columbia Law School (2014). Professor visitante (International
Visiting Professor) na Columbia Law School (2018). Professor Adjunto
da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas e
Coordenador do Curso de Graduação em Direito. Leciona as disciplinas
Crime e Sociedade, Direito Penal Econômico e Direito Processual Penal
na Graduação e na Pós-Graduação lato sensu. É membro do corpo
docente permanente do mestrado em Direito e Regulação, lecionando
a disciplina Reflexos Penais da Regulação Econômica. Coordenou
projeto de pesquisa sobre as medidas cautelares no Processo Penal
em parceria com o Ministério da Justiça e com financiamento do
PNUD (base para o PL nº 2902/2011, em tramitação na Câmara dos
Deputados). Coordenou projeto de pesquisa sobre Habeas Corpus na
condição de Pesquisador-Visitante do IPEA (2013-2015). Membro
efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) onde integra
a Comissão Permanente de Direito Penal e a Comissão de Direitos
Humanos. Integrou a Comissão de Exame de Ordem da OAB/RJ, a
Comissão de Estudos Penais da OAB/RJ e a Comissão de Direitos
Humanos da OAB/RJ, tendo recebido a Medalha Chico Mendes
oferecida pelo Grupo Tortura Nunca Mais/RJ por sua atuação nesse
período, e a Comissão de Direito Constitucional do Conselho Federal da
OAB (2015-2016). Atualmente integra o Observatório Jurídico da OAB/
RJ para a Intervenção Federal. Associado ao IBCCRIM, tendo exercido
as funções de Vice-Presidente (2017-2018), Diretor do Departamento
de Amicus Curiae (2013-2014) e Diretor de Projetos Legislativos
(2019-2020), além de ter integrado a Comissão Organizadora do
Seminário Internacional (2015-2016, 2017-2018, 2019-2020) e o
Departamento de Amicus Curiae (2012-2020). Autor de livros e artigos
sobre Direito Penal e Processual Penal, tendo proferido palestras no
Brasil e no exterior (Alemanha, França, Estados Unidos, Costa Rica,
Espanha e Índia). Link para o currículo Lattes: http://lattes.cnpq.
br/3134056986747443
FICHA TÉCNICA