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PSICOLOGIA, ORGANIZAÇÃO E

TRABALHO
A lenda de Sísifo

Na Mitologia Grega, como castigo por tentar dar conhecimento divino aos
humanos, Sísifo foi condenado por Zeus a realizar eternamente
trabalhos infrutíferos. Sua punição mais conhecida, conforme se narra na
Odisséia, é a que foi forçado a rolar eternamente, ladeira acima, uma
enorme pedra até o topo de uma montanha. Assim que a pedra chega ao topo,
ela é rolada novamente até a base da montanha. Assim ele está condenado a
repetir esta tarefa inútil por toda a eternidade.

Representação do trabalho inútil e da desesperança.


A lenda de Sísifo

Albert Camus (2000) propõe uma instigante interpretação para esse mito.
Para Camus, o auge do desespero de Sísifo não está na subida: o
imenso esforço despendido não deixa lugar para outros pensamentos.

A descida, ao contrário, não exigindo esforço, é o momento em que


Sísifo é confrontado com o seu destino: o aspecto trágico é conferido pela
consciência que tem da sua condição.
O termo Trabalho

 Tripalium, termos latinos associados à tortura, estão na origem da


palavra trabalho.

 Tripalium era um instrumento feito de três paus aguçados, com pontas


de ferro, no qual os antigos agricultores batiam os cereais para processá-
los.

 Os dicionários, porém, registram tripalium apenas como instrumento


de tortura, o que teria sido originalmente ou se tornado depois de seu
uso na agricultura.
O termo Trabalho

 Associa-se, também, à palavra trabalho o verbo do latim vulgar


tripallare, que significa justamente torturar.

Mas trabalho deve ser necessariamente associado ao


sofrimento?
O Trabalho
Perspectiva oposta:

 Atividade essencialmente humana por excelência;

 É a resposta do homem aos desafios da natureza, na luta pela


sobrevivência.

 Provê os recursos necessários para o sustento do trabalhador e de sua


família.

 Desenvolve habilidades.

 Enriquece a afetividade como resultado do relacionamento humano.


O Trabalho
Ditado popular

Primeiro o trabalho, depois o prazer.

 Essa frase, ao mesmo tempo em que exalta a importância do


trabalho, tomando-o como uma prioridade de vida, supõe-
no oposto ao prazer, como se este existisse apenas fora do
trabalho.
O Trabalho

Sofrimento X prazer

 Uns sonham com um mundo no qual não precisem trabalhar, outros


aposentam-se e reinventam um trabalho para si mesmos, porque não
conseguem viver sem trabalho.

Trabalho é objeto de múltipla e ambígua atribuição de


significados e/ou sentidos.
Psicologia Organizacional e do Trabalho:
Construtos

 Motivação para o trabalho,


 Comprometimento no trabalho,
 Envolvimento no trabalho,
 Aprendizagem no trabalho,
 Socialização no trabalho,
 Satisfação no trabalho,
 Treinamento em trabalho,
 Aconselhamento no trabalho,
 Estresse no trabalho,
 Qualidade de vida no trabalho.
 ...
Psicologia Organizacional e do Trabalho:
Dimensões:

 Dimensão concreta, que se refere à tecnologia com a qual se pode


contar para realizar o trabalho, e às condições materiais e/ou
ambientais em que se realiza, incluindo segurança física e
conforto.

 Dimensão gerencial, que se refere ao modo pelo qual o trabalho é


gerido.

 Dimensão socioeconômica, que abrange a articulação entre o modo


de realizar o trabalho e as estruturas sociais, econômicas e
políticas.
Psicologia Organizacional e do Trabalho:
Dimensões:

 Dimensão ideológica, que consiste no discurso elaborado e


articulado sobre o trabalho, no nível coletivo, justificando o
entrelaçamento das demais dimensões e, especialmente, as relações de
poder na sociedade.

 Dimensão simbólica, que abrange os aspectos subjetivos da


relação de cada indivíduo com o trabalho.
A construção da Ideologia da Glorificação do trabalho:

 O cidadão, para Platão, devia ser poupado do trabalho.

 Aristóteles valorizava a atividade política e referia-se ao trabalho como


atividade inferior que impedia as pessoas de possuírem virtude:

“Todo cidadão devia abster-se de profissões mecânicas e da especulação


mercantil: a primeira limita intelectualmente e a segunda degrada
eticamente.”
A construção da Ideologia da Glorificação do trabalho:

 Na filosofia clássica caracterizava o trabalho como degradante, inferior e


desgastante. Competia aos escravos. E a política, atividade superior e dos
cidadãos, não era considerada trabalho.

“Há uma ciência do senhor e uma ciência do escravo”


A construção da Ideologia da Glorificação do trabalho:

 Na Idade Média os trabalhadores passaram a ser os servos que, por


não deterem a propriedade da terra, estabeleciam uma relação servil de
trabalho, produzindo para si e também para todos os habitantes do
feudo.

 O comércio e o artesanato fortaleceram-se, a pecuária intensificou-se e


as cidades novamente floresceram, gerando novas demandas de
trabalho e formação de riquezas.
A construção da Ideologia da Glorificação do trabalho:

 O trabalho artesanal não era apenas uma atividade útil; além disso,
trazia em si uma profunda satisfação, pois, em sua realização, os
artífices aperfeiçoavam suas potencialidades e destrezas.
A construção da Ideologia da Glorificação do trabalho:

 A unidade industrial típica do final da Idade Média era uma pequena


oficina, tendo um mestre como empregador em pequena escala,
trabalhando lado a lado com seus ajudantes.

 O trabalho consistia em produzir os artigos e em comercializá-los.


A construção da Ideologia da Glorificação do trabalho:

 A Revolução Industrial faria a mais profunda mutação.

 Passa-se do trabalho manual para a máquina-ferramenta; do ateliê ou


manufatura para a fábrica.
Trabalho e Mudanças:

 O controle capitalista sobre o trabalho acentuou-se com a reunião dos


trabalhadores em um mesmo local – a fábrica.

 O fabricante e o negociante tornaram-se distintos e a manufatura,


transformou-se em uma fábrica que empregava trabalhadores
assalariados.
Trabalho e Mudanças:

 A manufatura gerou a proliferação da divisão técnica do trabalho e a


ampliação da sua divisão social.

 O desejo de riqueza e de sucesso material tornou-se prioridade.


Em suma:

 Mostramos que com o surgimento do capitalismo


engendrou-se uma concepção do trabalho que o exalta como
central na vida das pessoas, como o único meio digno de
ganhar a vida, independente do seu conteúdo.
Reflexão:

“Como Sísifo, é preciso desafiar os deuses e assumir o


controle do seu destino... Compete a cada um de nós refletir
sobre todas essas tendências e se posicionar. Queremos
contribuir para a construção de que mundo do
trabalho?”
Referência:

ZANELLI, José Carlos (org). Psicologia, organizações e trabalho no


Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

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