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Torção Gástrica

De nição: rotação do estômago no seu eixo mesentérico é associada com distensão gástrica e
bem reconhecida em raças grandes e gigantes de cães.

Epidemiologia Recordar:
Idade, sexo e espécies: o risco aumenta com a idade,
raramente repostada em raças pequenas ou gatos.
• Estômago vazio ou parcialmente cheio assume a
forma da letra “C”,

Genética e predisposição rácica:


• Cárdia, é onde ocorre a união do esófago e do
- raças grandes e gigantes de cães
estômago, essa parte situa-se à direita do plano
- Weimaraner, Setter Gordon e Irlandês, Doberman, mediano do abdómen

Poodle, Pastor Alemão, São Bernardo, Rotweiler


são predispostos
• Piloro é a saída a qual prossegue em direção ao
duodeno, situa-se mais á esquerda. Ambas são
Fatores de risco:
controladas por esfíncteres.
- Stress

- cavidade torácica estreita e profunda

- temperamento medroso

- baixo peso

- nutricionais: uma refeição por dia, ingestão rápida de alimentos, consumo de grandes
quantidades de comida, alimentação de uma tigela elevada, exercício pós-prandial.

- espelnectomia prévia

- ligamentos hepatoduodenal e hepatogástrico frouxos

Disturbios associados:
- doença in amatória intestinal

- corpo estranho ou massa gastrica

- choque hipovolémico

- arritmias

Fisiopatologia
- frequentemente o piloro move-se ventralmente da direita para a esquerda. A rotação pode ser
de 90º-360º.

- Dilatação gástrica: secundária á incapacidade de eructação e á obstrução do uxo pilórico.


Pode ocorrer antes ou após a rotação gástrica.

- A distensão gástrica resulta numa compressão da veia cava caudal e da veia porta, levando a
uma diminuição do retorno venoso cardíaco.

leva a uma diminuição do output cardíaco, pressão arterial


e conduz a uma isquémia miocárdica (causa arritmias)

- No caso de torção: o aumento da pressão gástrica intraluminal, hipertensão portal e avulsão


das pequenas veias gástricas, compromete o uxo sanguíneo da parede gástrica. Pode
resultar em necrose e perfuração gástrica. A quebra da mucosa gastrointestinal permite a
translação bacteriana.

- a compressão/ hipertensão da veia porta impede o correcto uxo sanguíneo esplénico e


diminui a capacidade de eliminar endotoxinas gram -.

a endotoxémia potencializa ainda mais a hipotensão


e a diminuição do output cardíaco.

- A pressão no diafragma, diminuição da perfusão pulmonar e da compliance pulmonar causam


disfunção respiratória e agravam a hipoxia tecidular.

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Apresentação Clínica
História e Principais Queixas:
- distinção abdominal aguda

- dor abdominal

- inquietação

- depressão

- ptialismo

- vómito (não produtivo com torção)

- colapso agudo

Achados do exame físico


- distensão abdominal e timpanismo

‣ auscultação e percussão simultânea do abdómen podem revelar um som timpânico,


indicando um estômago tenso e cheio de gás.

- esplenomegália

- sinais de choque hipovolémico: pulso fraco, taquicárdia, mucosas pálidas, TRC aumentado,
dispneia.

Diagnóstico
Aspetos Gerais:

- suspeitar em animais de raças grandes ou gigantes que apresentem história aguda de


distensão abdominal ou dor com tentativas de vómito

- exame sicio revela á auscultação um abdomen com som timpânico e sinais de choque

- tratamento de choque iniciado antes de con rmação por radiogra a

Diferenciais:
- inchaço gástrico associado a excessos

- torção mesentérica

- torção esplénica

- hérnia diafragmática com herniado de estômago

Dados iniciais:

- Radiogra a abdominal ( gura 1)

‣ preferível DLLD e VD
‣ estômago distendido, piloro localizado cranial ou dorsalmente ao estômago, uma linha
de densidade tecidual dividindo o estômago preenchido por gás em compartimentos,
uma esplenomegália e um mau posicionamento esplênico. (sinal de C ou bolha dupla)

‣ ar livre na zona abdominal sugere perfuração gástrica.

- Testes de Avaliação rápida:

‣ hematócrito e proteínas totais:


frequentemente aumentadas devido á
hipovolémia
Recordar:
‣ ionograma e glicemia: +/- hipocalémia e
hipoglicemia
• Análise ácido base é feita pela avaliação do
‣ Per l bioquímico completo: ALT (lesão ionograma, sendo a sua con rmação pela
hepática), BUN e CREA (azotémia renal gasimetria.

ou pré-renal),

‣ Hemograma: leucograma de Stress, caso • Gasimetria: colheita se sangue arterial (existem


o estado de choque endotoxémico seja diferenças de valores comparativamente ao
avançado, pois há diminuição de sangue venoso). É enviado para laboratório onde
leucócitos polimorfonucleares (leucócitos é analisado o ph, CO2 e o bicarbonato.
e linfopénia)

‣ Análise ácido-base: ácidos metabólica


devido á ácidos láctica frequentemente presente

‣ Fatores de coagulação e Plaquetas: trombocitopenia, aumento do tempo de


protrombina/tempo de tromboplastina ativada/concentração de brinogénio e/ou
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concentração do produto de degradação da brina associado à coagulação
intravascular disseminada (CID)

‣ Electrocardiograma: arritmias ventriculares são comuns

- Testes avançados ou de con rmação de Diagnóstico:

‣ diagnóstico de nitivo: cirurgia

‣ concentração de lactato no plasma: pode ajudar a prever o prognóstico

em cães, um cuto de 7.4 nmol/L na admissão, prediz


correctamente a presença ou ausência de necrose gástrica

Figura 1- Radiogra a abdominal lateral de um cão com


dilatação/ torção gástrica. Visível a septação característica
(setas) da sombra gástrica. Um antro deslocado cheio de gás
é cranial às setas (à esquerda nesta imagem), enquanto um
fundo cheio de gás é caudal (as setas estão dentro dele).
Podem ser vistos um esófago cheio de gás e a evidência de
íleo na forma de intestino delgado distendido e cheio de gás.

Tratamento
Aspetos Gerais:
- primeiro objectivo é controlar a hipovolémia com uidos IV e descompressão do estômago
para restabelecer a perfusão sistémica e gástrica

- Tratamento de nitivo: cirurgia para corrigir a posição do estômago, remover tecido necrosado
e realização de gastropéxia para prevenir recidivas.

Agudo:

- colocar cateteres de grande calibre nas duas veias cefálicas (ou cefálica e jugular) e iniciar a
infusão de cristalóides isotónicos numa dose inicial de 20 ml/kg o mais rápido possível. Doses
adicionais podem ser administradas se necessário.

‣ Coloides podem ser administrados em combinação com os cristalóides (5-20 ml/Kg


durante 15-30 min).

‣ Em caso de choques severos, soluções hipertónicas podem ser administradas (4 ml/


Kg durante 15-20 min), seguida de cristalóides.

- Administrar antibióticos IV (ex:

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- Descomprimir o estômago por intubação orogástrica.

- Trocarização percutânea (caso a intubação ororgástrica não for possível e o paciente tiver
visivelmente distinção abdominal com torção gástrica con rmada por radiogra a):

‣ Proceder á tricotomia e preparar uma área asséptica no abdómen dorsolateral, logo


caudal e central à última costela sobre a região de distensão mais óbvia.

‣ Com uma agulha ou cateter (16 ou 14 gauge) direcionado ventralmente e levemente


cranialmente, penetrar todas as camadas da parede corporal e do estômago. Quando
bem-sucedido, é libertado através da agulha um som sibilante associado à liberação
de gás com cheiro fétido.

- Cirurgia para desviar o estômago e colocá-lo na posição normal:

‣ avaliar estômago e baço para comprometimento vascular e necrose;

‣ realizar esplenectomia parcial ou completa se houver necrose, enfarte ou torção


esplénica. Resseção das áreas necrosadas do estômago.

‣ realizar gastropéxia do antro pilórico na parede direita do corpo.

- O tratamento médico isolado (intubação repetida, trocarização) tem sido uniformemente


ine caz e não é recomendado.

Crónico:

- Suplementação pós operatória de potássio se houver hipocalémia (não exceder 0,5 mEq/Kg/h
IV);

- Se arritmias ventriculares no ECG

FC > 160 bpm ou pulso fraco


Há hipocalémia?
Anemia, hipóxia ou acidose?
apesar das anormalidades
sistémicas corrigidas?

‣ se sim, instituir ‣ muitas arritmias


reposição imediata de ventriculares resolvem-se ‣ se sim, considerar
potássio,
espontaneamente se as tratamento com lidocaína,

‣ as arritmias ventriculares anormalidades sistémicas ‣ caso a arritmia ou


são refratárias ao forem corrigidas. taquicardia persistir, por
tratamento com dias tratar com sotalol oral
lidocaína, procainamida (0,5-2 mg/Kg BID)
e outros antiarritmicos
quando há hipocalémia,

‣ ! a hipomagnesiémia
também pode predispor
a arritmias ventriculares.

- Caso ocorra perfuração gástrica, tratar a peritonite,

- Tratar a ulceração gástrica: iniciadores da bomba de protões (omeprazole ou pantoprazole)


associado ou não a antagonistas dos receptores de H2 (famotidina ou ranitidine) e sucralfato;

- Utilizar fármacos que diminuam a motilidade gástrica (metoclopramida) caso ocorra inchaço
recorrente após gastropéxia sem evidÊncia de obstrução do uxo gástrico

- O controlo da dor é importante (fentanil) mas AINES são contra-indicados.

Nutrição/Dieta

- A alimentação oral pode começar no dia seguinte à cirurgia se o paciente não estiver a vomitar;

- Recomendações para prevenir o inchaço gástrico após a alta ou para prevenir GDV em cães
que não tiveram gastropexia:

‣ Dividir a alimentação em várias refeições em cada dia;

‣ Não dar ração seca;

‣ Evitar o stress durante a alimentação;

‣ Evitar atividades pesadas imediatamente após comer ou beber;

‣ Não elevar o comedouro durante a refeição;

‣ Atividade moderada regular ao ar livre pode diminuir o risco;


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