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FINALIDADE
INTRODUÇÃO
Hemostasia é o processo fisiológico encarregado de parar o sangramento e pode ser dividido em primária e
secundária. A primeira corresponde ao tampão plaquetário, responsável por estancar o sangramento, e a
segunda à rede de fibrina estabilizadora do tampão e responsável por evitar novos sangramentos. É
importante salientar que ambos os processos ocorrem a mesmo tempo, sendo esta divisão sobretudo didática
e não temporal.
As plaquetas são as responsáveis pela hemostasia primária, que pode ser dividida em três fases: adesão,
ativação, e agregação plaquetários. Na primeira fase de adesão ocorre exposição da matriz subendotelial
(colágeno) seguida da adesão de glicoproteínas transmembrana da superfície das plaquetas (glicoproteínas
VI e Ia/IIa) e então ancoragem a esta matriz. A ancoragem é realizada pela glicoproteína Ib, também
chamada de receptor do fator de Von Willebrand. Na segunda fase, de ativação plaquetária, ocorre ativação
da rede proteica contrátil, aumentando a superfície de contato, e secreção de seus grânulos. Estes contêm
proteínas responsáveis pela retroalimentação positiva da hemostasia primária (COX 1 e ADP, sobre os quais
agem a aspirina e o clopidogrel, respectivamente) e fatores de coagulação que também ativam a hemostasia
secundária. Na última fase, a de agregação, acontece a ligação entre as plaquetas, sendo os principais
coadjuvantes o fibrinogênio e a glicoproteína IIb/IIIa (inibida pelos seus antagonistas, sendo o Tirofiban o
mais conhecido).
A hemostasia secundária é mais conhecida pela cascata de coagulação, na qual ocorre ativação das proteínas
inativas (zimogênios) em fatores ativados, com a finalidade de produzir uma rede de fibrina, responsável
pela estabilização do trombo. Seu início se dá principalmente na superfície paquetária, ocorrendo também na
matriz endotelial exposta. É chamada de cascata pelo efeito de retroalimentação positiva, no qual a ativação
de apenas alguns zimogênios leva a ampliação de seu efeito, culminando na formação de múltiplas
moléculas de fibrina, uma vez que cada fator ativa proporcionalmente outros dez fatores. Todas estas
proteínas são produzidas no fígado, sendo algumas delas dependentes de vitamina K: II, VII, IX e X;
principais responsáveis então pela coagulopatia nos pacientes cirróticos, naqueles com obstrução das vias
biliares (colestase) e nos que estão em uso cumarínicos (Marevan).
A hemostasia secundaria pode ser dividida didaticamente (in vitro) em duas vias, a intrínseca e a extrínseca,
que convergem para a formação do fator X ativado. In vivo ocorre uma via em comum, ainda não totalmente
elucidada.
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AVALIAÇÃO PRÉ-CIRÚRGICA DO PACIENTE
Os pacientes a serem submetidos a procedimentos cirúrgicos de risco habitual são submetidos a seguinte
avaliação:
o História clínica
Resposta hemostática a traumas/cirurgias prévias (como extrações dentárias,
operações otorrinolaringologicas, biópsias de pele, pequenos ferimentos, hematomas
desproporcionais ao trauma, necessidade de transfusão sanguínea prévia, sangramento
aumentado no parto ou durante o período menstrual e etc.)
Sangramento espontâneo (hematomas sem traumas significativos)
Uso de medicamentos
História familiar
o Exame físico
o Estudos laboratoriais
Como testes de triagem são desnecessários
Clinicamente o sangramento plaquetário geralmente se manifesta em pele e mucosas (gengivorragia,
epistaxe, petéquias e equimoses) e tende a persistir por tempo prolongado, cessando com tampão. Os
pacientes extremamente plaquetopênicos agem também como se tivessem distúrbio da coagulação, uma vez
que não têm superfície para ativação da hemostasia secundária.
Já o sangramento por coagulopatia geralmente se manifesta em órgãos e tecidos internos (hemartrose,
hematomas profundos/musculares/órgãos internos) e tende a cessar de imediato e recidivar em grande monta
dentro de algumas horas
AVALIAÇÃO PRÉ-CIRÚRGICA DO PACIENTE EM RADIOLOGIA INTERVENCIONISTA
Na radiologia intervencionista, em contraste com a rotina da cirurgia aberta, devemos solicitar exames
laboratoriais para avaliação da hemostasia dos pacientes. Essa prática se deve ao manejo difícil de um
sangramento aumentado durante um procedimento minimamente invasivo, uma vez que não é possível o
acesso direto ao sítio do sangramento, impossibilitando técnicas cirúrgicas diretas de hemostasia como a
compressão, a oclusão de vasos e o uso do cautério.
São inúmeros os exames laboratoriais para avaliar a hemostasia, porém os mais utilizados são:
Contagem e índices plaquetários
o >100.000 – sem risco de sangramento anormal
o 50.000 a 100.000 – eventual sangramento aumentado após trauma grave
o 20.000 a 50.000 – sangramento acima do normal após trauma ou cirurgia
o <20.000 – sangramento espontâneo é comum
o VPM: volume plaquetário médio (seu aumento sugere destruição periférica que estimula
maior produção com plaquetas maiores)
o PDW: índice de anisocitose plaquetário (pouco utilizado na prática médica diária)
Tempo de tromboplastina parcial ativado (PTTa)
o Realizado pela adição de cefalina sem fator tecidual (tromboplastina parcial)
o Interpretado em relação ao tempo controle
o Alargado quando há deficiência moderada ou grave das vias intrínseca ou comum:
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Heparina não fracionada
Hemofilia A (def. fator VIII)
Hemofilia B (def. fator IX)
CIVD
Outros
Tempo de protrombina (TP ou TAP)
o Realizado pela adição de cefalina com fator tecidual (tromboplastina completa)
o Grande variabilidade de kits/lotes à fator de correção (RNI)
o Alterado nas coagulopatias das vias extrínseca e comum:
Cumarínicos
Deficiência de vitamina K
Insuficiência hepática
Deficiência de fatores VII ou X
A tabela abaixo cita os valores de referencia normais para os exames supracitados.
PROTOCOLO PROPOSTO
São inúmeros os protocolos e estudos na literatura visando ditar valores de referência para os múltiplos
procedimentos invasivos. Este protocolo visa estabelecer valores para aqueles mais realizados em nossa
prática diária no CDT e devem ser assim classificados e triados rotineiramente:
RESUMO DO PROTOCOLO
Todos os pacientes que vão ser submetidos a procedimentos minimamente invasivos devem ser avaliados
por uma anamnese e exames físico e imaginológico pré-operatório bem feitos.
Aqueles com suspeita de hepatopatia devem ser avaliados hematologicamente (solicitar RNI) para todos os
tipos de procedimento, incluindo paracentese.
Todos os pacientes que serão submetidos a exames com risco moderado/alto de sangramento devem ser
integralmente avaliados do ponto de vista hematológico, sendo os valores de referência para correção:
RNI 1,30
PTTa 1,5x o valor de referencia (pacientes em uso de heparina não fracionada)
Plaquetas 80.000
Hg 7,0 (Obs: pacientes com doença renal crônica o limite é 6,0)
As correções de hemoglobina e plaquetas devem ser realizadas pelo médico assistente no andar, antes da
realização dos procedimentos.
Os pacientes com necessidade de transfusão de plasma deverão recebe-la no setor de radiologia, antes,
durante e após a realização do procedimento. Para tal o médico assistente deverá realizar reserva e tipagem
sanguíneas prévios.
ANEXO I - HEMOTRANSFUSÃO
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Concentrado de hemácias (CH)
o 300 ml / bolsa
o 1 bolsa eleva 1 Hg (transfundir 600 ml rotineiramente)
Plasma fresco congelado (PFC)
o 200 ml / bolsa
o 15 a 20 ml por Kg (transfundir 600 ml rotineiramente)
Plaquetas
o Unidades de plaqueta
o 1 unidade eleva 5 a 10 mil
o 1 UI / 10 kg (transfundir 6/8 UI rotineiramente)
Criopreciptado
o Usado em CIVD à paciente grave em CTI
o 1 UI / 10kg
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Consensus Guidelines for Coagulation Status and Hemostasis Risk; Patel et al; J Vasc Interv Radiol 2012;
23:727–736.
CT- and MR-Guided Interventions in Radiology; Andreas H. Mahnken · Jens Ricke (Eds.); © Springer-
Verlag Berlin Heidelberg 2009
Guidelines for radiologically guided lung biopsy; Manhire, Charig, Clelland, et al; Thorax 2003;58:920–936
Image-Guided Interventions; Terry Peters • Kevin Cleary; © 2008 Springer Science+Business Media, LLC