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INTENSIVO MODULAR

Direito Civil
Nelson Rosenvald
27/06/2014
Aula 31
SUMÁRIO

1. DIREITOS REAIS
1.3 FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE

1.3 Função Social da Posse


Quando se fala em FUNÇÃO SOCIAL, devemos fazer uma bipartição entre ESTRUTURA e
FUNÇÃO, conforme ensinamento de Norberto Bobbio.

No que tange à estrutura, nos deparamos com o seguinte questionamento: o que é “tal coisa”
(ex.: posse)? Por outro turno, no que consiste à função, a indagação é: para que serve esse
instituto jurídico? Qual a sua razão (finalidade)?

Portanto, hoje, um direito só terá legitimidade (merecimento) no ordenamento se o instituto


tiver uma finalidade (função) que seja conforme os objetivos do ordenamento jurídico.

Assim, ao retornamos aos primeiros estudos sobre a posse, podemos afirmar que para
Savigny, a função da posse teria a finalidade de impedir o uso da violência (a proteção da
posse desencadeia paz social). Ao passo que, para Ihering, a função da posse é a proteção da
propriedade.

Contudo, tais teorias estão EQUIVOCADAS, pois procuram justificar a proteção da posse com
fundamentos exteriores à posse:
(i) crítica a Savigny: paz social é uma tutela de todo o direito.

(ii) crítica a Ihering: a posse vira um apêndice da propriedade, perdendo sua autonomia.

Portanto, hoje, deve-se trabalhar a função social da posse à luz das TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA
POSSE: procura-se criar uma AUTONOMIA entre a posse e a propriedade – ambas tem
fundamentos constitucionais de tutela diversos.

Por que se defende a posse? A propriedade é direito fundamental de caráter PATRIMONIAL e


INDIVIDUALISTA. Ocorre que, quando se cogita da proteção à posse, visa-se tutelar direitos
que qualquer ser humano tem de acesso a DIREITO FUNDAMENTAL DE MORADIA (bens
mínimos à existência). Portanto, percebemos a clara autonomia entre posse e propriedade.

Veja o Enunciado 492, CJF - a posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e
deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais,
econômicos e sociais merecedores de tutela.

Nesse sentido, podemos conceituar a posse nos seguintes dizeres:

Posse é o PODER FÁTICO de ingerência socioeconômica sobre determinado bem mediante a


sua concreta utilização.

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Quanto à função social da propriedade (item que iremos estudar), diz o art. 5º, XXIII, CF:

CF, art. 5º, XXIII - a propriedade atenderá a sua


função social;

Esse dispositivo estabelece que o proprietário será sancionado se for negligente, isto é, caso
não conceda função social ao bem.

Contudo, quando se fala em função social da posse, ela é um plus em relação à função social
da propriedade, porque na função social da posse, NÃO se está apenas diante de um
proprietário desidioso com relação ao seu bem abandonado, isso porque este bem
abandonado passa a ter função social concedido por um possuidor, ou seja, a função social da
posse já diz respeito à situação em que um bem recebe função social, mas quem a ostenta é o
possuidor.

Então, pergunta-se, qual o sentido de estudar FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE? Esse estudo
corresponde a uma situação de tensão entre dois direitos fundamentais (propriedade x
moradia), cuja solução será apresentada por meio da ponderação (razoabilidade) diante do
caso concreto, estabelecendo qual direito fundamental deve preponderar (essa tensão por
vezes será resolvida pela lei, em outras será resolvida pelo juiz).

Qual a função da posse na usucapião? Na usucapião urbana e rural, o prazo de usucapião é de


5 anos, pois nessas modalidades, além do sujeito possuir, tem que dar moradia e produzir no
imóvel (dar função social), respectivamente – a própria norma soluciona a tensão, premiando
o possuidor com prazo menor na usucapião.

Mas em alguns casos se faz uma DUPLA ponderação: a lei, em abstrato, cogita da função social
da posse, sendo esta posse concretizada pelo juiz, de acordo com cada julgamento. Pois bem.
A partir de agora estudaremos o fenômeno da DESAPRORIAÇÃO JUDICIAL INDIRETA. Vejamos:

Ex.: Imagine uma gleba pertencente a “x”, que deixa o imóvel abandonado por 8 anos. Durante
esse prazo, várias famílias invadiram o bem. Assim, ao retornar à propriedade, o proprietário
verifica que há uma coletividade instalada. Sem hesitar, promove uma ação reivindicatória. Em
tese esta ação seria procedente, pois “x” é proprietário. Contudo, o Tribunal de Justiça de SP
entende que o título que o proprietário detém não corresponde mais aos fatos (pelo título,
trata-se de uma gleba, mas o que se verifica é uma realidade social).

Esse exemplo está consubstanciado no REsp 75.659/SP – STJ (favela Pullman):

CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO REIVINDICATÓRIA. TERRENOS DE LOTEAMENTO SITUADOS EM


ÁREA FAVELIZADA. PERECIMENTO DO DIREITO DE PROPRIEDADE. ABANDONO. CC, ARTS. 524,
589, 77 E 78. MATÉRIA DE FATO. REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N. 7-STJ

Por que esse exemplo retrata uma desapropriação judicial indireta? Porque quando o juiz
julgou improcedente a reivindicatória, significa que “x” está sofrendo uma desapropriação com
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direito à indenização (diferentemente de uma usucapião, em que não há indenização). Ela é
indireta, porque primeiro há a ocupação, para só depois ocorrer a indenização. Por fim, é
judicial, pois quem desapropria é o poder judiciário, mediante o devido processo legal.

Quais são os requisitos para que ocorra a desapropriação judicial indireta? Eles estão no art.
1228, §4º, CC:

CC, art. 1228, §4º O proprietário também pode ser


privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir
em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-
fé, por mais de cinco anos, de considerável número
de pessoas, e estas nela houverem realizado, em
conjunto ou separadamente, obras e serviços
considerados pelo juiz de interesse social e
econômico relevante.

Esse artigo é uma SOMA DE CONCEITOS JURÍDICOS INDETERMINADOS, porque são normas
imprecisas, fluídas, vagas, que serão concretizadas pelo magistrado conforme as
peculiaridades do litígio (ex.: o que significa extensa área? o que se entende por considerável
número de pessoas? o que significa investimento no imóvel?).

ATENÇÃO: observe que o exposto acima comprova a DUPLA PONDERAÇÃO (legislador +


magistrado).

A desapropriação judicial indireta é uma nova espécie de desapropriação por interesse social,
porque o interesse social dessa desapropriação reside em privilegiar uma coletividade,
conferindo a esta comunidade segurança jurídica e, até mesmo, a condição de proprietários.

Pergunta: essa nova modalidade de desapropriação é CONSTITUCIONAL? Sim, conforme art.


5º, XXIV, CF:

CF, art. 5º, XXIV - a lei estabelecerá o


procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse
social, mediante justa e prévia indenização em
dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição;

Estabelece o Enunciado 82, CJF - é constitucional a modalidade aquisitiva de propriedade


imóvel prevista nos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do novo Código Civil.

Nessa mesma linha, aduz o Enunciado 236, CJF – considera-se possuidor, para todos os efeitos
legais, também a coletividade desprovida de personalidade jurídica.

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Outra questão relevante diz respeito ao requisito da “boa-fé” do art. 1228, §4º, CC, pois nesse
contexto, seu significado não será no sentido de que o possuidor desconhece o vício da posse
(vício: titularidade alheia), mas o entendimento será de POSSE JUSTA – posse que não foi
adquirida mediante violência, clandestinidade ou precariedade. No nosso exemplo NÃO houve
invasão, mas ocupação de imóvel abandonado.

Preconiza o Enunciado 309, CJF - o conceito de posse de boa-fé de que trata o art. 1.201 do
Código Civil não se aplica ao instituto previsto no § 4º do art. 1.228.

Agora imagine que, ao invés de “x” ajuizar reivindicatória, ajuíze ação possessória de força
velha com tutela antecipada (art. 273, CPC) para fins de recuperação da posse. Pergunta: os
ocupantes podem alegar em defesa o art. 1228, §4º, CC (desapropriação judicial indireta)? O
entendimento majoritário sustenta que quando o art. 1228,§4º disciplina que se pode alegar
desapropriação judicial indireta como defesa em reivindicatória, esta defesa também se
estende às POSSESSÓRIAS.

Nesse sentido, veja o Enunciado 310, CJF - interpreta-se extensivamente a expressão "imóvel
reivindicado" (art. 1.228, § 4º), abrangendo pretensões tanto no juízo petitório quanto no
possessório.

Agora imagine que os ocupantes, mesmo preenchendo todos os requisitos do art. 1228, §4º,
venham a cientificar que o terreno abandonado pertence ao poder público. Aplicar-se-ia a
desapropriação judicial indireta nesse caso? Sim. Em que pese o bem seja público, como ele
não recebe função social de bem público, prevalece a função social dada pelos ocupantes.

Veja o que estabelece o Enunciado 304, CJF - são aplicáveis as disposições dos §§ 4º e 5º do
art. 1.228 do Código Civil às ações reivindicatórias relativas a bens públicos dominicais,
mantido, parcialmente, o Enunciado 83 da I Jornada de Direito Civil, no que concerne às demais
classificações dos bens públicos.

Imagine que uma comunidade invade um bem público da União. Diz a Lei 11.977/09 (Lei
“minha casa, minha vida”), que poderá o poder público, mesmo sendo imóvel público, efetuar
uma REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DE INTERESSE SOCIAL no imóvel.

Essa regularização se divide em três etapas:


1ª etapa: a União realiza a demarcação urbana (para individualizar o que é público do não
público).

2ª etapa: faz legitimação de posse (a legitimação confere um título, acarretando segurança


jurídica).

3ª etapa: se após a legitimação da posse, os ocupantes permanecerem no imóvel por mais 5


anos, desde que preenchendo os requisitos do art. 183, CF (usucapião urbana), ao final dos 5
anos, essa posse pode ser convertida em propriedade pela usucapião chamada USUCAPIÃO
ADMINISTRATIVA.
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Diz o art. 60, Lei 11.977/09:

Art. 60. Sem prejuízo dos direitos decorrentes da


posse exercida anteriormente, o detentor do título
de legitimação de posse, após 5 (cinco) anos de
seu registro, poderá requerer ao oficial de registro
de imóveis a conversão desse título em registro de
propriedade, tendo em vista sua aquisição por
usucapião, nos termos do art. 183 da Constituição
Federal.

Pergunta: o que essa usucapião tem de diferente de todas as demais que foram estudadas?
a) é uma usucapião obtida por via de processo administrativo (e não por sentença) perante o
oficial de registro de imóveis.

b) trata-se de usucapião cuja natureza do imóvel inicialmente ao tempo da posse era público
(é usucapião que na origem se deu por uma posse de bem público).

Pergunta-se: quem indenizará o proprietário do terreno ocupado? Diz o art. 1228, §5º, CC:

§5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz


fixará a justa indenização devida ao proprietário;
pago o preço, valerá a sentença como título para o
registro do imóvel em nome dos possuidores.

Perceba que o artigo não diz quem indenizará o proprietário. Resposta: depende dos
parâmetros objetivos no caso concreto. No exemplo da ocupação (ex.: favela pullman), coube
ao Estado indenizar, por três razões: (i) a comunidade é composta por integrantes pobres; (ii)
quem expropria é o Estado; (iii) os ocupantes realizaram obras com dispêndio financeiro.

Assim, como o Estado deve pagar, ele deve participar dessa lide. Então, toda vez que alguém
propor ação reivindicatória ou possessória, e em defesa a coletividade sustenta que tem
requisitos para ocorrer a desapropriação judicial indireta, o juiz deve convocar o órgão público
(Estado) como litisconsorte necessário, para que ele seja condenado e realize o pagamento da
indenização.

Imagine um terreno rural desocupado por “x” pelo prazo de 8 anos. Ingressam no imóvel 30
pessoas, que montam nele uma cooperativa rural. Os ocupantes passam a trabalhar com soja
por mais de 5 anos. Quando “x” toma conhecimento, ajuíza ação reivindicatória. Os ocupantes
alegam em defesa que ostentam os requisitos do art. 1228, §4º, CC (defesa de mérito indireta
– defesa substancial). O juiz dá razão aos ocupantes e julga improcedente a ação
reivindicatória. Quem indenizará “x”? Serão os ocupantes (possuidores), porque não são
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possuidores de baixa renda, exercem finalidade econômica no bem e o imóvel não está
relacionado a algo de política pública do Estado.

Como nesse caso são os possuidores que indenizam, o nome do modelo jurídico é AQUISIÇÃO
COMPULSÓRIA ONEROSA (e não desapropriação judicial indireta). Isso porque no momento
em que os réus sustentam exceção substancial (requisitos do art. 1228, §4º), eles obrigam o
proprietário a uma alienação, isto é, o proprietário, em virtude de sentença,
compulsoriamente terá que transferir a propriedade do imóvel para os ocupantes. Em razão
da transferência, deve-se pagar uma indenização ao proprietário.

Obs.: somente se houver a indenização ao proprietário, converterá os possuidores em


proprietários (há uma sub-rogação real, pois o proprietário perde o bem e este é substituído
por uma indenização).

Estabelece o Enunciado 308, CJF - a justa indenização devida ao proprietário em caso de


desapropriação judicial (art. 1.228, § 5º) somente deverá ser suportada pela Administração
Pública no contexto das políticas públicas de reforma urbana ou agrária, em se tratando de
possuidores de baixa renda e desde que tenha havido intervenção daquela nos termos da lei
processual. Não sendo os possuidores de baixa renda, aplica-se a orientação do Enunciado 84
da I Jornada de Direito Civil.

Nessa linha, consolida o Enunciado 84, CJF, que trata da aquisição compulsória onerosa - a
defesa fundada no direito de aquisição com base no interesse social (art. 1.228, §§ 4º e 5º, do
novo Código Civil) deve ser argüida pelos réus da ação reivindicatória, eles próprios
responsáveis pelo pagamento da indenização.

Ao contrário dos estudos romanos, em que se preconizava que o acessório segue o principal,
perceba que atualmente aplica-se a chamada ACESSÃO SOCIAL INVERSA, que faz com que
quem construiu, quem deu função social fique com a propriedade e a acessão, desde que
pague pelo valor do terreno.

CC, art. 1255, parágrafo único. Se a construção ou


a plantação exceder consideravelmente o valor do
terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou
edificou, adquirirá a propriedade do solo,
mediante pagamento da indenização fixada
judicialmente, se não houver acordo.

Como se materializa, sob o ponto de vista processual, o aspecto da exceção substancial e da


natureza dúplice (art. 1228, §4º, CC)? É pelo pedido contraposto (“contra-ataque nos próprios
autos”).

Mas agora imagine que, além de “x” abandonar o imóvel, não ajuíze ação reivindicatória.
Nesse caso, embora o CC silencie, nada impede que os ocupantes ajuízem AÇÃO DE
AQUISIÇÃO COMPULSÓRIA ONEROSA.

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Diz o Enunciado 496, CJF - o conteúdo do art. 1.228, §§ 4º e 5º, pode ser objeto de ação
autônoma, não se restringindo à defesa em pretensões reivindicatórias.

Pergunta: o MP pode ajuizar ACP (ação civil pública) nos casos de desapropriação judicial
indireta? Sim. O MP tem legitimidade ativa para ajuizar ACP como substituto processual
(legitimado extraordinário), pois há interesses individuais homogêneos e, sobretudo, se tais
interesses indicarem ser de relevante interesse social (direito fundamental social de moradia).

Pergunta: e como se paga a indenização ao proprietário na desapropriação judicial indireta?


Esse pagamento, forçosamente, será feito em DINHEIRO, conforme art. 1228, §5º. Portanto, o
Estado não pode pagar por meio de títulos da dívida pública. Isso porque, as hipóteses de
pagamento com títulos da dívida pública são aquelas expressas e restritas ao texto
constitucional, decorrentes da desapropriação sanção.

Ademais, o art. 1228, §5º estabelece que esse pagamento em dinheiro tem que ser uma “justa
indenização” – justa indenização não é sinônimo de valor de mercado do imóvel, sob pena de
enriquecimento sem causa. Portanto, justa indenização significa abater da indenização paga ao
proprietário daquilo que não foi gasto por ele.

Pergunta: pode o proprietário exigir, além da indenização, juros compensatórios pelo tempo
em que ficou privado da posse? O entendimento minoritário apregoa que o proprietário não
faz jus a juros compensatórios, porque juros compensatórios equivalem àquele valor que o
proprietário foi privado do uso da coisa (crítica: como foi privado de algo, se o imóvel estava
em suas mãos de forma improdutiva e o abandonou pelo prazo de 5 anos?).

Em que pese seja entendimento minoritário, ele é acompanhado pelo Enunciado 240, CJF - a
justa indenização a que alude o § 5º do art. 1.228 não tem como critério valorativo,
necessariamente, a avaliação técnica lastreada no mercado imobiliário, sendo indevidos os
juros compensatórios.

Contudo, não obstante seja acompanhado por Enunciado do CJF, este entendimento é
minoritário, pois não é o que sustenta o STJ. Para este Tribunal, mesmo quando a
desapropriação se dá por imóvel improdutivo, o proprietário faz jus a juros compensatórios.

Agora suponha que na aquisição compulsória onerosa os possuidores demorem a pagar o


proprietário. Como fica a situação nesse prazo? Enquanto o proprietário não é indenizado,
este continua sendo dono, mas ele não poderá ser reintegrado na posse nesse período,
justamente porque os possuidores ostentam uma sentença judicial (garantia) – a posse se
estabiliza (o proprietário nesse prazo, torna-se “proprietário sem posse”, pois os atributos
econômicos [usar e fruir] se encontram com os possuidores, mesmo antes do pagamento).

Aduz o Enunciado 241, CJF - o registro da sentença em ação reivindicatória, que opera a
transferência da propriedade para o nome dos possuidores, com fundamento no interesse
social (art. 1.228, § 5º), é condicionada ao pagamento da respectiva indenização, cujo prazo
será fixado pelo juiz.

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Esse enunciado aplica-se nas hipóteses de desapropriação judicial indireta, bem como nas
situações de aquisição compulsória onerosa.

Pergunta: mas e se o Estado não paga ou os particulares não pagam, e o proprietário nada faz
para receber a indenização? Ocorrerá a prescrição da pretensão indenizatória.

Nesse diapasão, vejamos o diz o Enunciado 311, CJF - caso não seja pago o preço fixado para a
desapropriação judicial, e ultrapassado o prazo prescricional para se exigir o crédito
correspondente, estará autorizada a expedição de mandado para registro da propriedade em
favor dos possuidores.

Qual é esse prazo? Esse prazo é de 10 anos.

ATENÇÃO: os possuidores somente recorrerão à desapropriação judicial indireta ou à aquisição


compulsória onerosa, caso não preencham os requisitos da usucapião, porque pela usucapião
não há nenhuma indenização.

Pergunta: quais são as diferenças entre desapropriação judicial indireta ou aquisição


compulsória onerosa (disciplinadas no art. 1228, §4º, CC) e usucapião coletiva urbana
(disciplinada no art. 10, Estatuto da Cidade)?

Aspectos comuns: são modalidades de posse em favor de uma coletividade de pessoas, bem
como modalidades de posse que geram propriedade em prazos exíguos (5 anos).

Aspectos distintos:
a) a usucapião coletiva urbana só se aplica a imóvel urbano. Enquanto que, para a
desapropriação judicial indireta ou aquisição compulsória onerosa independe da localidade.

b) a usucapião coletiva urbana exige que cada um dos possuidores tenha uma posse que não
ultrapasse 250m². Enquanto que, para a desapropriação judicial indireta ou aquisição
compulsória onerosa independe da metragem.

c) a usucapião coletiva urbana se dirige às pessoas que não são proprietárias de outro imóvel
no Brasil. Enquanto que, para a desapropriação judicial indireta ou aquisição compulsória
onerosa independe se os possuidores detêm outros imóveis.

d) a usucapião coletiva urbana é para uma coletividade de baixa renda. Enquanto que, para a
desapropriação judicial indireta ou aquisição compulsória onerosa independe da condição
econômica dos possuidores.

e) a usucapião coletiva urbana só se aplica se a coletividade usou o imóvel para fins


residenciais (moradia). Enquanto que, para a desapropriação judicial indireta ou aquisição
compulsória onerosa independe da finalidade.

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f) a usucapião coletiva urbana é desprovida de indenização ao proprietário. Enquanto que,
para a desapropriação judicial indireta ou aquisição compulsória onerosa deve haver
indenização.

g) a usucapião coletiva urbana é modo de aquisição originária, assim como a desapropriação


judicial indireta (é aquisição de título originário). Contudo, a aquisição compulsória onerosa é
aquisição por modo derivado.

JURISPRUDÊNCIA
AgRg no REsp 1441387 / BA
Relator (a) Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES
Órgão Julgador - T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento - 20/05/2014

Ementa
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282/STF E 211/STJ.
VALOR DA INDENIZAÇÃO. CONTEMPORÂNEO À DATA DA AVALIAÇÃO. IMÓVEL IMPRODUTIVO
E TDA. INCIDÊNCIA DE JUROS COMPENSATÓRIOS. POSSIBILIDADE. JUROS COMPENSATÓRIOS E
MORATÓRIOS. ANATOCISMO. SÚMULA 102/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.
DESCUMPRIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS.
1. A Corte de origem não analisou, ainda que implicitamente, a tese sobre a não incidência dos
juros compensatórios sobre os 20% que ficam disponíveis ao expropriado após o trânsito em
julgado. Assim, incide ao caso o enunciado das Súmulas 282/STF e 211/STJ.
2. A decisão da instância de origem quanto ao momento da avaliação do imóvel está
consentânea com a orientação jurisprudencial desta Corte, que entende que o valor da
indenização será contemporâneo à data da avaliação, não sendo relevante a data em que
ocorreu a imissão na posse, tampouco a data em que se deu a vistoria do expropriante.
3. No REsp 1.116.364/PI, julgado sob o rito dos recursos repetitivos, sedimentou-se o
entendimento de que eventual improdutividade do imóvel não afastaria o direito aos juros
compensatórios, pois esses juros compensam não só o que o expropriado deixou de ganhar
com a perda antecipada, mas também o óbice do uso e gozo econômico do bem.
4."A incidência dos juros moratórios sobre os compensatórios, nas ações expropriatórias, não
constitui anatocismo vedado em lei" (Súmula 102/STJ).
5. Inadmissível o recurso especial que se fundamenta na existência de divergência
jurisprudencial, mas se limita, para a demonstração da similitude fático-jurídica, à mera
transcrição de ementas e de trechos de votos, assim como tampouco indica qual preceito legal
fora interpretado de modo divergente.
6. Agravo regimental não provido.

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QUESTÃO
TRF - 4ª REGIÃO - 2012 - TRF - 4ª REGIÃO - Juiz Federal

Dadas as assertivas abaixo, assinale a alternativa correta.

I. Além da desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, poderá


ocorrer a desapropriação judicial da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área e
estiver na posse ininterrupta, por mais de cinco anos e de boa-fé, de considerável número de
pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços
considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante.

II. Segundo a orientação do Superior Tribunal de Justiça, a usucapião é modo de aquisição


originária da propriedade imóvel, tendo a sentença judicial que a reconhece natureza
constitutiva do domínio.

III. A cláusula que autoriza o proprietário fiduciário a ficar com a coisa alienada em garantia, se
a dívida não for paga no vencimento, é nula, mas o devedor pode, com a anuência do credor,
dar seu direito eventual à coisa em pagamento da dívida, após o vencimento desta.

IV. O direito real de aquisição do promitente comprador teve o seu âmbito de incidência
aumentado pelo Código Civil vigente, pois passou a abarcar, além dos compromissos de
compra e venda de imóveis loteados e de unidades de edifícios de incorporação, todos os
contratos de promessa de compra e venda, mesmo os não registrados.

V. O Código Civil vigente proibiu a constituição de aforamentos, subordinando os existentes,


até sua extinção, às disposições do Código Civil anterior, Lei nº 3.071/1916, e leis posteriores,
dispondo, ainda, que o aforamento de terrenos de marinha e acrescidos regula-se por lei
especial.
a) Estão corretas apenas as assertivas I e II.

b) Estão corretas apenas as assertivas II e IV.

c) Estão corretas apenas as assertivas I, III e V.

d) Estão corretas apenas as assertivas III, IV e V.

e) Estão corretas todas as assertivas.

Resposta: alternativa “c”


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