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Universitária
Avaliação no
Ensino Superior
Unidade 1
ADMINISTRAÇÃO DA
ENTIDADE MANTENEDORA (IAE)
CAMPUS VIRTUAL
PRODUÇÃO DO MATERIAL
DIDÁTICO-PEDAGÓGICO CAMPUS VIRTUAL
O
ato de avaliar está implícito nas atividades humanas nos
mais diferentes âmbitos da vida profissional e pessoal. Basta
pensarmos que um indivíduo, ao acordar, já começa a pôr em
prática decisões a partir de análises intuitivas ou fundamentadas sobre
questões tão corriqueiras, como a opção de começar o seu dia com
um exercício físico sistemático ou não, com um desjejum rico e bem
balanceado ou apenas café, pão branco e manteiga. Constantemente
estamos apreciando os dilemas do dia a dia e escolhendo as ações
que mais correspondem à nossa filosofia de vida. Dessa forma, cada
situação vivida reflete um complexo sistema de valores, crenças e
tomadas de posição que se harmonizam com nossa visão de mundo.
Princípios e pressupostos
O termo avaliar vem do latim avalere, que significa dar valor a algo. Essa atribuição
de valor implica num julgamento qualitativo pronunciando-se quanto à tomada de
decisões favoráveis ou desfavoráveis (DEPRESBITERES, 2004). Como diz Sobrinho
(2002), quem sabe o que quer e aonde quer chegar, escolhe certo o jeito de avaliar,
pois toda avaliação deve produzir mudanças. Entretanto, nem sempre os que nela se
envolvem estão preparados ou dispostos a aceitar mudanças e transformações. Dessa
forma, o significado da avaliação distancia-se da sua identidade real. Algumas marcas
na construção do seu conceito, ao longo do tempo, tornaram-se tão fortes a ponto de
substituir ou representar a própria “avaliação” como, por exemplo, os testes e as notas.
São estimativas de mérito colocadas sobre vários aspectos da experiência humana. Eles
não são coisas, mas um padrão de conduta, beleza e eficiência com o qual tentamos
viver. Valores podem ser entendidos como aspirações humanas numa expectativa de
crescimento cultural, individual ou grupal. Também podem ser entendidos como todos
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Princípios e pressupostos
os objetos de interesse sobre os quais se sustenta que alguns são mais úteis (belos ou
melhores) que outros. Tudo o que impulsiona o ser humano a viver melhor em qualquer
dimensão (moral, religiosa, psicológica, biológica) é um valor. Temos, por exemplo:
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Princípios e pressupostos
Posição Empirista
Já para a corrente empirista, o conhecimento é algo que existe fora do sujeito. A
realidade está fora do indivíduo, no ambiente, no meio. O papel do sujeito frente
ao conhecimento é o de
constatar e reconhecer o real
que preexiste. O ensino baseia-
se na transmissão e o aluno
é um receptor que devolverá,
nas provas, o conhecimento
acumulado da realidade exterior.
Planejam-se as mudanças esperadas
no comportamento dos indivíduos
e, por meio da transmissão e reforço,
espera-se que o aluno “absorva” esse
conhecimento. Dessa forma, caso não
se consiga chegar aos objetivos pré-
estabelecidos, corrigem-se apenas arranjos
do ambiente: materiais, conteúdo, ritmo,
atividades (ANDRE; PASSOS, 2001). Essa é
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Princípios e pressupostos
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Princípios e pressupostos
Já em posse das informações prévias trazidas pelos alunos, o professor deverá buscar
uma avaliação, ou melhor, um processo avaliativo, que, segundo Darsie (1996, p. 51),
contemple alguns importantes itens:
◊ Ser percebido pelo aluno como momento de ajuda, como mais um instrumento
de sua aprendizagem;
◊ Ter seu processo permanentemente avaliado pelos sujeitos nele e por ele
envolvidos e manter as características acima citadas.
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Princípios e pressupostos
Concepção de Avaliação
Entende-se por avaliação o acompanhamento do processo educacional que envolva
todas as faculdades do ser humano. Aqui o exemplo da concepção cristã de educação
se faz importante. Ela entende ser preciso trabalhar numa perspectiva de ensino ativo,
dinâmico e que envolva todas as dimensões do ser humano (físico, mente e espírito)
numa relação de extrema confiança e companheirismo entre os docentes e discentes.
Para que ocorra a avaliação formativa, é essencial existir um clima de extrema segurança
e confiança entre professor e aluno. Além da qualidade de relacionamento humano
estabelecido em sala de aula, a estrutura do edifício e as disposições das carteiras em
classe podem colaborar ou não para o desenvolvimento contínuo da aprendizagem. É
bem mais fácil ser “formativo” numa escola alegre, bem arrumada, que é “aquecida”
com pequenas coisas que fazem as pessoas terem vontade de ali estar.
A avaliação não deve se resumir na verificação de acertos e erros, e sim na busca dos
porquês, planejando ações de verdadeiro impacto no progresso das aprendizagens,
ampliando o espaço de autonomia do estudante como sujeito da aprendizagem. As
dúvidas e erros são etapas naturais do processo educativo e sua constatação não
representa um fim em si mesma, assim como o processo de avaliação não se encerra
na correção das atividades.
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Princípios e pressupostos
O ensino deve perseguir objetivos, mas não de maneira mecânica e obsessiva. Diversos
instrumentos de avaliação podem ser sugeridos no sentido de se alcançarem as metas
estabelecidas:
◊ Leituras;
◊ Pesquisas;
◊ Mapas Conceituais;
◊ Testes;
◊ Simulações;
◊ Maquetas.
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Princípios e pressupostos
O mais importante com relação aos instrumentos e ao “uso” que se faz deles é que
sejam uma fonte de informações para estudos, debates e reorientações coletivas e
individuais das aprendizagens. Numa perspectiva formativa em avaliação, muitas
vezes, os conhecimentos são construídos num período mais longo, com mais retornos,
explicações, grupos de estudos, diálogo e diferentes estratégias de envolvimento e
comprometimento do aluno.
Avaliação e Inclusão
Nos caminhos pedagógicos redefinidos a partir da década de 1980, após o arrefecimento
da ditadura, o pensamento progressista se estruturou com força maior no cenário brasileiro.
Isso acabou por gerar um profícuo debate ancorado em projetos históricos diversos. Eles
tinham em comum algum horizonte de luta pela transformação da sociedade e da escola e
não a mera otimização do status com argumentos conformistas daqueles que dizem fazer
“o possível” polarizando os discursos em campos neutros e instrumentais, e não críticos,
sociais e conceituais. Mas as aparentes mudanças desse período não se consolidaram
e a educação foi assumindo uma posição neotecnicista e social ficando cada vez mais
conformista. A visão é a de permanecer na escola sem indagar para quê. Bastava, assim,
treinar e capacitar professores, providenciar livros didáticos, criar parâmetros curriculares,
eliminar os tempos fixos com os ciclos e ampliar os mecanismos de avaliação externa com
uma avalanche de processos e credenciamentos regidos pelo controle como arma para
fabricar competência e qualidade (FREITAS, 2004).
O que aconteceu, no entanto, foi que as novas formas de exclusão no interior da escola
mantiveram intocadas as questões das finalidades da educação e do objetivo de educar
crianças na escola para a emancipação ou subordinação. A inclusão formal de quase 97%
dos estudantes desencadeou um sentimento de inclusão e ofuscou o debate das formas
escolares de subordinação que continuaram a ser praticadas no interior das salas de aula
(FREITAS, 2004). O aluno permaneceu na instituição mesmo que não aprendesse e que não
se oferecessem condições adequadas ao desenvolvimento do estudante e a superação de
seus obstáculos. E que condições alternativas poderiam ser providenciadas pela escola no
enfrentamento da diversidade e da inclusão no contexto educacional?
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Princípios e pressupostos
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Princípios e pressupostos
Quando percebi que o objetivo não era alcançado, voltava e retomava com ela
o exercício ou a atividade até superar a dificuldade. Partíamos, muitas vezes,
para um jogo ou uma atividade diferente […] usávamos material concreto tipo
bolinhas, lápis, borrachas […] Assim foram os 4 bimestres dessa menina com
síndrome de Prader Willy, que veio para a 1ª série do Ensino Fundamental […]
e foi obtido sucesso ao final do ano (Professora 1).
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Princípios e pressupostos
Fazer uso dos recursos disponíveis para apoiar a aprendizagem. Enfatizar melhor
o uso dos recursos, especialmente os humanos para fomentar contextos de aula
mais acolhedores e de apoio, sendo a cooperação entre estudantes, docentes
e pais o recurso mais poderoso. A avaliação formativa também fomenta a
cooperação num movimento de problematização e ressignificação na direção
de transformações qualitativas e sociais (CAPPELLETTI, 2002, p. 33).
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Princípios e pressupostos
Do ponto de vista educacional, uma escola inclusiva é aquela que leva em conta
o ensino e a aprendizagem, as realizações, as atitudes e o bem estar de todos os
estudantes. É uma escola que reflete seus valores e atitudes com vontade de oferecer
novas oportunidades aos alunos que experimentam dificuldades prévias por uma
incapacidade física ou mental, por desajustes sociais e de comportamento, pela
pobreza, pela cor de sua pele, pela religião que professa.
Algumas considerações de ordem prática têm sido importantes para avaliar um aluno
portador de necessidades educacionais especiais e permitir o seu avanço na aprendizagem:
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Princípios e pressupostos
Registram-se discussões sobre promoção automática já em 1950 devido aos elevados índices
de retenção na escola primária brasileira. Nas décadas de 1960 e 1970, há experiências de
implementação de ciclos em diferentes estados. Nos anos 80, vários governos estaduais
aplicaram ciclos de alfabetização. E, nas propostas radicais dos anos 90, ampliam-se os
ciclos de formação abrangendo todo o ensino fundamental (BARRETTO; SOUSA, 2004). Os
estudos indicam que os ciclos ainda constituem uma opção minoritária nas organizações
escolares embora haja um aumento expressivo na década de 1990.
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Princípios e pressupostos
Sabe quem não tem dificuldade com a questão da progressão por ciclos? O professor
de educação infantil. Porque o professor desse nível não trabalha com seriação e não
trabalhava. Trabalhava por estágio ou por termo. Ele não tem essas dificuldades. Ele vê
que o aluno, por exemplo, com quatro anos de idade, tem alguma dificuldade. Como vai
seguindo a educação infantil, essa criança, que não conseguia desenvolver algumas
coisas quando tinha quatro anos, aos cinco desenvolve. Ela não precisava ser vitimada
dentro desse processo. Nós, professores do Ensino Fundamental, do Ensino Médio e
do Ensino Superior, temos dificuldades com isso (CORTELLA, 2005, p. 52).
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Princípios e pressupostos
Mas, como diz Perrenoud (2000), não se pode sonhar com mudanças imediatas. É preciso
projetar o futuro com muito estudo, comprometimento e desejo de fazer diferença, pois
seria um absurdo querer ensinar as mesmas coisas, com os mesmos métodos e no decorrer
do mesmo tempo a alunos muito diferentes. Assim, é necessária muita energia para mudar
a forma de avaliação, para reorganizar o trabalho em classe, mais ainda para implantar
ciclos de aprendizagem ou para desenvolver verdadeiras competências na escola.
Avaliação e Profissionalização
De acordo com Rosales (1992), na medida em que consideramos o professor como
um profissional responsável e autônomo capaz de participar ativa e intensamente da
avaliação da sua própria função docente e do conjunto de componentes e funções do
processo didático, projetamos, de maneira imediata, a conveniência de estimular nele,
desde sua formação na graduação, a capacidade de avaliação. Longe de pensarmos
que essa capacidade pode ser adquirida por meio de uma receita pronta ou de uma
técnica específica a ser treinada, isso é um processo de desenvolvimento de uma
capacidade geral crítica e reflexiva sobre o ensino (HADJI, 2001).
Schon (1997) destaca que a reflexão sobre a ação determina uma postura indispensável
para que se possa reagir e crescer perante situações problemáticas e contextos diferentes
de experiências. É um processo de reflexão na ação. A reflexão é hoje um dos conceitos
mais difundidos pelos investigadores em geral para se referirem às novas tendências de
formação de professores. Na concepção de Novoa (1997), a valorização de espaços de
reflexão sobre a prática determina uma perspectiva e concepção reflexiva da profissão
docente, definindo a práxis como o lugar de produção da consciência crítica e da ação
qualificada. É um processo de conceituar e teorizar o próprio saber.
A palavra reflexão vem do verbo latino reflectere, que significa “voltar atrás”. E importante
repensar, retornar sempre que possível por caminhos já percorridos, reavaliando a prática
pedagógica de forma crítica e consciente em busca de constante significado. Sendo
assim, cabe perguntar se a reflexão seria capaz de desencadear o desenvolvimento de
competências ante uma abordagem formativa de avaliação na escola.
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Princípios e pressupostos
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Princípios e pressupostos
Um dos focos que criam obstáculos a uma avaliação com intenção formativa, são as
representações inibidoras dos professores que se transformam em concepções e
ações que podem impedir a construção de conceitos científicos. Os usos sociais da
avaliação, numa perspectiva burocrático-administrativa, com a exigência de certificação
e seleção, refletem e reforçam concepções classificatórias em avaliação (HADJI, 2001).
Hadji (2001, p. 22-23) justifica: “Assim, a representação segundo a qual a avaliação é uma
medida contínua viva […] na mente dos avaliadores escolares”. Da mesma forma Albrecht
(1994) verificou dificuldades de tipo teórico para um real encaminhamento formativo em
avaliação. E um dos problemas mais destacados seria a ausência de um quadro teórico
devidamente elaborado e integrado que desse suporte a uma teoria da aprendizagem voltada
aos múltiplos aspectos do ser. Sordi (2001, p. 242) reconhece: “Isso requer base teórica,
para evitar que se resuma a questão a um simples movimento de modernizar as técnicas
avaliativas”. Uma nova cultura de formação de professores coloca-os como protagonistas
ativos nas diversas fases do processo dessa cultura: concepção, acompanhamento, numa
perspectiva de trabalho coletivo (NOVOA, 1997). É um constante desafio a produção de
respostas inéditas e tomadas de decisão não prescritas anteriormente.
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