Você está na página 1de 15

Capítulo 5

Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.

O plano de aula
como documento do
cotidiano docente

Neste capítulo, apresentaremos os elementos de um plano de aula


e retomaremos sua importância para que se atinjam os objetivos de
aprendizagem definidos no plano da disciplina.

Como entendemos anteriormente, o plano de aula tem função orga-


nizacional, mas também de informação e colaboração, e deve ser volta-
do aos interesses e necessidades dos estudantes e da comunidade em
que estão inseridos e, posteriormente, atuarão.

61
Aqui, ilustraremos as diferentes formas de elaborar um plano de aula

Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.
que leve em consideração tais aspectos e que possa ser um aliado do
professor universitário em sua atividade docente não só para aulas indi-
viduais, mas para todo o curso.

Dessa forma, ocorre que se parte de um processo extremamente


ordenado que parte do PPI, PPP, PDI, plano de curso e plano de discipli-
na1 para, por fim, ser “desmontado” no plano de aula que comumente é
ignorado por docentes e subestimado por gestores.

A esse respeito afirma Menegolla (2014):

Seria desnecessário justificar a importância e a necessidade do


planejamento de ensino para a escola, professores e alunos. Mas
o que se quer ressaltar é que o primeiro e mais importante objetivo
do planejamento das disciplinas, para uma situação de ensino, ser-
ve para que os professores e alunos desenvolvam uma ação eficaz
de ensino e aprendizagem. Portanto, se o professor planejar o seu
ensino é para ele e para seus alunos, em primeiro lugar. E este pla-
no passa a ser um instrumento de uso pessoal entre professores
e alunos. E só em segundo lugar o plano poderá servir a outros
setores da escola, para cumprir certas obrigações e exigências ad-
ministrativas ou burocráticas. Mas o importante é que professores
e alunos façam o seu planejamento, a fim de que possam trabalhar
eficazmente na sala de aula.

O plano de aula deve ser um documento a ser pensado para o alu-


no. O professor deve incluir os objetivos de cada aula, considerando
as características específicas dos diferentes grupos para os quais le-
ciona, ou seja, ainda que se tenha de responder a uma demanda buro-
crática, o plano de aula deve ser individualizado para cada turma, de
outra forma deixa de fazer sentido e passa a ser somente mais um
documento inócuo.

1 Relembrando: PPI (Plano Pedagógico Institucional), PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional) e PPP
(Projeto Político Pedagógico).

62 Planejamento da aprendizagem
Assim, o docente, ao elaborar o plano de aula, deve levantar algumas
Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.

questões: o quê? Para quem? Para quê? Como? Por quanto tempo?

1 O conteúdo
O plano de aula precisa ser tratado como uma espécie de roteiro que
guiará o passo a passo da ação docente. O conteúdo do documento é
previamente definido no plano de curso e especificado no plano da disci-
plina, respeitando a bibliografia obrigatória e complementar da disciplina.

Ao planejar uma aula, o professor universitário, no entanto, não se li-


mitará a tais definições; deverá considerá-las e incluí-las, mas observará
as necessidades e interesses de seus alunos então responder às suas
demandas em cada aula.

NA PRÁTICA

Imagine um professor que preparou uma determinada aula, mas que não
conseguiu concluí-la, seja por questões de tempo ou interrupções, seja
por perguntas de seus alunos. Uma aula não deve ser concluída somente
porque se esgotaram os 45 ou 50 minutos. Assim, cada plano de aula
deve ser pensado individualmente em uma sequência. É claro que se sabe
que existe a necessidade de que, por vezes, se planeje para uma semana,
quinzena e até semestre. No entanto, o plano provavelmente deverá ser
revisto e adaptado a cada aula, pois não deve ter fim burocrático, mas
sim de “diálogo” com os estudantes e com o desenvolvimento do curso.
Muitas vezes, em observações de aulas pela coordenação e direção de
cursos, espera-se que as aulas lecionadas sigam um roteiro fechado e
imutável, como se o processo de ensino-aprendizagem pudesse ser de tal
forma previsível. O plano de aula servirá como “trilha” e ajudará o docente
a encontrar o melhor caminho para que se alcancem os objetivos daquela
aula, dentro de determinado curso. No entanto, uma trilha, um caminho,
podem conter desvios, percalços, obstáculos e o plano de aula ajudará
a torná-los mais leves, uma vez que terá sido o instrumento de reflexão
sobre as possibilidades e desafios a serem encontrados.

O plano de aula como documento do cotidiano docente 63


Uma vez definido o conteúdo do plano de aula, o professor deve es-

Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.
tar atento ao desenvolvimento da aula. O conteúdo deve ser respeitado,
mas as necessidades e interesses dos estudantes devem ser o foco e
jamais ser ignorados. Se necessário, a apresentação dos conteúdos ou
o desenvolvimento das habilidades devem ser momentaneamente in-
terrompidos para que os interesses sejam atendidos. Para tanto, os es-
tudantes devem ter plena ciência dos objetivos da disciplina e de cada
aula, de forma a colaborar para que sejam cumpridos, na medida do
possível.

O conteúdo de cada aula deve ser apresentado aos alunos. No iní-


cio, pode parecer um pouco entediante, uma rotina desnecessária. No
entanto, com o tempo, o docente poderá observar que os próprios es-
tudantes cobrarão a exposição do plano de aula para que possam co-
laborar ativamente com seu andamento, se organizar e, até mesmo, se
preparar intelectualmente ou com os materiais que serão necessários
ao seu pleno aproveitamento.

A apresentação dos conteúdos ou das habilidades a serem desen-


volvidas numa determinada aula podem ser apresentados de maneiras
diversas – dispostos na lousa, apresentados no computador, compar-
tilhados em papéis –; professor e estudantes definirão a forma mais
adequada de tornar os objetivos da aula visíveis e claros a todos os
participantes, que, a partir de então, poderão acompanhar e “gerenciar”
o desenvolvimento da aula de forma ativa.

2 A justificativa
Quem não se lembra dos tempos de escola em que a única justificati-
va que era dada aos estudantes (e se dada) para uma determinada ação
educativa era a de que determinado tópico tinha de ser estudado porque
era importante e “ponto”! A resposta também podia ser “você vai desco-
brir no futuro...” E esse dia provavelmente ainda não chegou até agora.

64 Planejamento da aprendizagem
É muito comum ainda nos dias de hoje que uma aula (ou um conjun-
Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.

to de aulas) seja simplesmente transmitida, sem que haja justificativas.


A disciplina normalmente será dada porque é importante para o curso,
porque foi aplicada até agora – justificativas essas vazias e insuficien-
tes para que se compreenda a complexidade de cada aula para a disci-
plina, para o curso, para sua valiosa relação interdisciplinar com outros
cursos, etc.

Assim como os objetivos, as justificativas para que se aprenda ou


crie algo devem ser claras. Trata-se de uma questão de motivação.
Como posso aprender algo sem que saiba os seus porquês? De que
forma farei conexões com conhecimentos prévios se não souber para
que os conhecimentos novos servirão?

Do plano de aula, devem constar justificativas que estejam conecta-


das aos planos da disciplina e do curso, assim como à prática efetiva
das aprendizagens para a vida profissional, acadêmica ou sociocultural
dos estudantes.

Ao justificar uma disciplina, acaba-se por estabelecer uma conexão


com outros pontos do plano de aula, tais como conteúdo e metodolo-
gia, pois justificaremos o quê (conteúdo) e como será feito (metodolo-
gia). Porém, será dada uma abordagem leve, visto que haverá lugar para
aprofundamento desses elementos no plano de aula. Essa abordagem
deverá conter informações breves sobre o contexto em que está inseri-
da a disciplina, do seu desenvolvimento, dos seus objetivos e, principal-
mente, quais impactos práticos causará na sociedade.

Quadro 1 – Justificativa da disciplina

POR QUÊ PARA QUÊ COMO

Funções sociais e
Descrição breve dos
pedagógicas da educação Explicitar as metodologias
conteúdos
na sociedade

Fonte: adaptado de Oliveira (2014, p. 13).

O plano de aula como documento do cotidiano docente 65


Ao justificar a realização de uma aula, o professor precisa apresen-

Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.
tar os conteúdos ou habilidades que serão abordados, assim como a
forma como o processo se dará – tais definições, num cenário ideal, de-
vem ser feitas em parceria com os estudantes num processo de intensa
colaboração. Nessa etapa, ambos os elementos serão somente apre-
sentados e, posteriormente, detalhados em espaços específicos. Muito
comumente, aplica-se a justificativa a outras esferas do planejamento.
Porém, é de grande importância que cada aula tenha uma explicação e
uma compreensão de sua importância – para que os estudantes for-
mem conexões e para que o próprio docente reflita constantemente
sobre sua ação. A seguir, exemplo de justificativa de aula para curso de
ciências biológicas, na disciplina de botânica.

NA PRÁTICA

Compreender a estrutura (interna e externa) das plantas é fundamental


para que se compreenda o funcionamento do organismo e as diferen-
tes funções de cada parte. Para tanto, faremos leituras de textos bási-
cos sobre o tema, mostrando o desenvolvimento teórico, sua evolução,
e também realizaremos a análise laboratorial de diferentes espécies de
modo a observar suas especificidades. Os estudantes de um curso que
supostamente tiveram tal conteúdo a ser apresentado conhecerão as jus-
tificativas da disciplina em termos de aplicação e em termos científicos,
de pesquisa, ou práticos. De modo semelhante, o professor também poderá
aplicar conhecimentos de sua prática profissional na disciplina. Um biólogo
pode ser contratado por um centro botânico e talvez até para ser selecionado
tenha que fazer uma prova que mensure estes conhecimentos. Também pode
ser chamado a tratar dessas espécies e precise, portanto, conhecê-las.

Como pode-se observar, inicia-se com o motivo para que a aula se


dê, para que seja identificada sua importância para a disciplina e para o
curso em geral. Posteriormente, indica-se o objetivo da aula, concluindo
com a exposição da forma como a aula será realizada; tudo de forma
breve, sucinta.

66 Planejamento da aprendizagem
É importante salientar que a justificativa de uma aula não deve ser
Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.

encarada como um elemento burocrático – pelo contrário –, seu conte-


údo deve ser apresentado, discutido com os estudantes e, se necessá-
rio, modificado. É de extrema importância que os motivos sejam claros
e debatidos, visto que a aula não é o fim, mas sua posterior aplicação
em termos práticos ou científicos.

3 A metodologia de ensino
No capítulo anterior, apresentamos a Taxonomia de Bloom e sua
aplicabilidade para que os conteúdos e habilidades de determinada dis-
ciplina de um curso superior façam sentido, respeitando o status cog-
nitivo e de conhecimento dos estudantes no momento da aula, assim
como suas caraterísticas sociais e emocionais.

Ao definir a metodologia a ser aplicada em cada aula, o professor


deve considerar três elementos básicos, conforme segue:

•• conteúdos ou habilidades a serem desenvolvidos;

•• status dos estudantes;

•• materiais disponíveis.

A metodologia a ser aplicada numa aula só pode ser feita após uma
análise das condições dos estudantes em termos cognitivos, sociais e
emocionais. É preciso que se saiba quais são as necessidades da tur-
ma, qual seu nível de conhecimento sobre o tema a ser desenvolvido e,
finalmente, quais as possibilidades de trabalho serão possíveis naquele
determinado momento. Obviamente, num início de curso, numa turma
de primeiro semestre, tal análise só se tornará possível após algumas
aulas. Recomenda-se, no entanto, a aproximação com os estudantes
logo no início.

Mas como se dá tal aproximação, frequentemente com estudantes


até então desconhecidos?

O plano de aula como documento do cotidiano docente 67


Uma boa conversa sobre o curso e a disciplina em geral pode ser re-

Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.
veladora para que se comece a delinear as abordagens metodológicas
necessárias à turma.

Figura 1 – Taxonomia de Bloom e metodologia no plano de aula

Pensamento de Ordem Superior


Metodologia 1
Criar
Metodologia 2
Avaliar
Metodologia 3
Analisar
Metodologia 4
Aplicar
Metodologia 5
Compreender
Metodologia 6
Recordar

Não é imprescindível que se utilizem metodologias diferentes para


cada nível da Taxonomia de Bloom (caso seja essa a abordagem ado-
tada pela instituição de ensino em que o docente atuará), ou seja, uma
mesma metodologia ou prática pedagógica pode ser aplicada a diferen-
tes esferas de acordo com os objetivos e contextos. Independentemente
da abordagem, o que se sugere aqui é que o docente esteja atento ao
constante desenvolvimento de seus estudantes ao longo do processo
de ensino-aprendizagem e que, assim, determine quais metodologias
serão mais adequadas a cada momento, a cada conteúdo e de acordo
com os materiais ou tecnologias que estarão à sua disposição no mo-
mento de cada aula.

Uma mesma metodologia poderá ser repetida em diferentes situa-


ções, pois tanto o conteúdo quanto o status do aluno vão variar; portan-
to uma mesma metodologia trará resultados diferentes em momentos
diferentes.

Mas de quais metodologias o professor dispõe para que sua aula se


dê e como indicá-las no plano de aula?

68 Planejamento da aprendizagem
O professor precisa descrever a metodologia a ser empregada e jus-
Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.

tificar sua aplicação, salientando mais uma vez para o estudante quais
são os motivos de sua escolha metodológica. Hoje, o professor dispõe
de diversas metodologias e práticas educativas a seu dispor, mas deverá
observar quais são as orientações e a filosofia da instituição de ensino
em que atua, de modo a respeitar o que é proposto por ela. Obviamente,
uma abordagem crítica a ser apresentada à instituição possivelmente
será bem-vinda, mas com justificativas sólidas para que se acatem pro-
váveis mudanças.

Haverá, provavelmente, casos em que o estudante irá interferir nes-


sas escolhas – o que é positivo apesar de historicamente não estar-
mos habituados a tanto. Se o estudante e seu desenvolvimento é o foco
da aula, sua participação, suas sugestões devem ser consideradas.
Obviamente o professor fará uso de seu conhecimento e de sua experi-
ência para mediar a participação do estudante, mas deve estar aberto
ao formato colaborativo, que tem muito a acrescentar à aula, à discipli-
na e ao curso.

Ao contrário do que ocorria há alguns anos, hoje o professor univer-


sitário pode fazer uso de diversas estratégias metodológicas em sala
de aula.

A escolha por metodologias ativas2 não elimina a possibilidade e a


validade de aulas expositivas – o ato de ouvir também é algo extrema-
mente importante para um processo de ensino-aprendizagem.

Metodologias colaborativas, no entanto, tiram o estudante de sua po-


sição passiva, que Paulo Freire (1996) chamou de “educação bancária”,
aquela em que o aluno é somente um repositório de informações a serem

2 “Desde o final do século XIX, postulava-se uma posição que contrariasse uma longa tradição pedagógica:
tratava-se de ressaltar e privilegiar a atividade do aluno, compreendida como mola propulsora da
aprendizagem. O protagonismo do professor seria destronado, pois tratava-se de conferir protagonismo
ao aluno; em outros termos, o aprendente seria o carro-chefe em detrimento do ensinante ou, ainda, o
puerocentrismo substituiria ao magistrocentrismo” (ARAUJO, 2015, p. 2).

O plano de aula como documento do cotidiano docente 69


depositadas pelo professor, detentor único e exclusivo do conhecimento.

Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.
Um dos precursores da aprendizagem ativa, Freire sempre defendeu a au-
tonomia do estudante, em termos cognitivos, sociais e políticos. Estudos
da área de psicologia e de neurolinguística também indicaram a impor-
tância da participação do aluno a partir de outra perspectiva. Estudiosos
como Ausubel e Novak (1980) defenderam o que chamaram de apren-
dizagem significativa, aquela que ligará a experiência prévia do aluno ao
conhecimento novo a ser incluído em suas experiências acadêmicas.

Figura 2 – Aprendizagem significativa

Produções
criativas

Deve conduzir a
1. Estrutura de conhecimento
bem-organizada.
Conhecimento
Requer 2. Empenho emocional para
significativo integrar o conhecimento
novo com o já existente.

Um continuum

1. Conhecimento pequeno
ou não relevante.
Aprendizado 2. Falta de motivação
Resulta de
mecânico emocional para relacionar
conhecimento novo
com conhecimento
relevante existente.

Fonte: adaptada de Ausubel e Novak (1980).

De acordo com Ausubel e Novak (1980), uma experiência de apren-


dizagem que não considere o conhecimento prévio do aluno produzirá
aprendizagem mecânica que somente reproduzirá conteúdos, enquan-
to uma aprendizagem significativa, que propiciará produções criativas,
só será possível se houver conexão emocional, consideração dos co-
nhecimentos prévios e uma estrutura de ensino bem-organizada.

70 Planejamento da aprendizagem
Assim, podemos observar que metodologias que coloquem o estu-
Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.

dante numa posição de protagonista de seu próprio processo de en-


sino-aprendizagem produzirão efeitos interessantes para o desenvolvi-
mento da aula e do curso em geral.

Há uma gama imensa de metodologias ativas hoje à disposição do


professor, que deve pesquisar, trocar com seus pares, criar e assim tor-
nar possíveis situações de aprendizagem efetivas.

Feito isso, basta que o professor indique, no plano de aula, a metodo-


logia que será aplicada de acordo com o conteúdo daquela aula e com
as condições dos estudantes. Com o passar do tempo, o estudante es-
tará habituado às metodologias utilizadas, o que tornará o trabalho em
sala de aula mais dinâmico e confortável. Por exemplo, o estudante se
habituará à prática da discussão teórica numa aula de filosofia e com a
prática de laboratório numa aula do curso de medicina.

4 Organizar as atividades no tempo da aula


A questão do tempo é um dos pontos mais controversos para o pla-
nejamento de uma aula. É muito comum ouvir os professores dizerem
que não faz sentido planejar uma aula em detalhes, visto que “tudo”
pode acontecer, o que vai fazer com que todo o planejamento vá “por
água abaixo”.

Em certa medida, essa visão faz sentido. Quem é ou já atuou como


docente sabe que diversos imprevistos (que não são raros) podem alte-
rar o plano de aula no que diz respeito ao tempo: interrupções externas,
curiosidade e perguntas, problemas tecnológicos, faltas de alunos, en-
tre outros fatores.

Quando um professor planeja uma aula, o faz para aquele determi-


nado número de estudantes, considerando o cenário formalmente apre-
sentado. Como tratamos no capítulo 1 deste curso, o planejamento da

O plano de aula como documento do cotidiano docente 71


aprendizagem não exclui a existência de imprevisto, mas é essencial

Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.
para que se compreenda e se execute o processo de ensino-aprendiza-
gem apesar de eventuais imprevistos.

No entanto, o ato de planejar, como apontamos anteriormente, serve


justamente para que se possa alcançar os objetivos da aula ainda que
haja situações adversas. O docente e o discente devem saber aonde
querem chegar e como. Somente com o plano de aula e seu comparti-
lhamento, estudantes e professor estarão aptos a agir para que as me-
tas sejam atingidas ainda que as condições não sejam ideais.

Para tanto, precisa-se tratar da questão do tempo. Ao se pensar nes-


sa questão no plano de aula, deve-se identificar as diferentes fases da
aula. Sabe-se que haverá dias em que elas serão eliminadas por fatores
diversos como os que já apontamos, mas é preciso considerar que o ato
de lecionar deve ser refletido, preparado e, como tal, será preciso agir de
diversas formas nos diferentes momentos da aula.

As fases do tempo na sala de aula são:

•• Aproximação: momento de criar uma conexão de conteúdo, de


empatia, com os estudantes.

•• Introdução: apresentar o tema da aula, por meio de textos, vídeos,


discussões, pesquisas, experiência, etc.

•• Desenvolvimento: propor atividades e/ou discussões práticas so-


bre os temas abordados na aula.

•• Conclusão: retomada de tudo o que foi desenvolvido desde o iní-


cio da aula, com o intuito de contribuir para a formação de senti-
do, dentro da disciplina e do curso.

•• Feedback: momento de checar os conhecimentos e dúvidas


desenvolvidos pelos estudantes para que se considerem e pla-
nejem os próximos passos. Cabe considerar que, em alguns ca-
sos, o professor pode julgar mais adequado o início de uma aula

72 Planejamento da aprendizagem
seguinte pelo feedback (até como forma de reativar as competên-
Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.

cias anteriormente desenvolvidas).

O docente precisa compartilhar o seu cálculo de previsão de tempo


utilizado para cada fase da aula com seus alunos, que o ajudarão a ad-
ministrar o tempo de acordo com os objetivos a serem atingidos.

Mas quanto tempo utilizar para cada fase? Essa é uma questão difícil
de ser respondida, pois dependerá de diversos fatores, tais como meto-
dologia, conteúdo, tecnologias, materiais, condições de conhecimento
dos alunos, mas pode-se dizer que a maior parte do tempo deverá ser
dedicado ao desenvolvimento da aula, que será o momento de debates,
exposições, etc.

NA PRÁTICA

Na prática, imagine que o professor possa dedicar cinco minutos da aula


para “quebrar o gelo” e receber os estudantes, realizando uma aproxima-
ção emocional com eles (fundamental para que a aprendizagem ocor-
ra). Depois, faz-se uma introdução que não durará mais de dez ou quinze
minutos para trazer o estudante ao tema que será trabalhado, para que
acrescentem também suas experiências de vida, de leitura ou profissio-
nais para a aula. Feito isso, inicia-se o desenvolvimento da aula, que pode
durar de 20 a 25 minutos aproximadamente, dependendo do número de
aulas planejado, que pode também ser um bloco de aulas.
Este será o momento em que textos, vídeos, ideias, debates, etc. serão
apresentados e é o cerne da aula. Conclui-se a aula com uma conversa
sobre a importância do assunto para a vida profissional, social, acadê-
mica do estudante e da comunidade da qual faz parte. E, por fim, como
tratamos anteriormente, virá o feedback, que de forma bastante breve,
mas relevante, trará à tona as percepções subjetivas dos estudantes so-
bre o tema e a aula e sobre sua própria atuação discente.

O feedback é uma fase extremamente importante do plano de aula,


mas ainda muito pouco utilizado na prática. Geralmente, confunde-se o

O plano de aula como documento do cotidiano docente 73


resultado de avaliações somativas com feedback. No entanto, dar um

Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.
feedback deve ser um ato bastante elaborado e com muito critério, ou
seja, deve-se definir quais os elementos a serem observados, seus objeti-
vos e contextos que interferem no desenvolvimento do processo.

Existem diversas formas de se dar um feedback. Existem também


diversos estudos sobre seu desenvolvimento. O professor deve dispor
de bibliografia adequada para selecionar o tipo de feedback mais opor-
tuno àquela aula.

Assim, podemos perceber que o plano de aulas envolve diversos ele-


mentos, muita análise e critério e deve ter uma finalidade muito clara a
todos os envolvidos, de forma a ser eficiente em termos práticos, e não
mais um documento a ser arquivado.

Considerações finais
Neste capítulo, procuramos mostrar a importância da elaboração do
plano de aula para além da ideia do cumprimento de uma demanda bu-
rocrática. Tentamos apontar sua relevância para o estudante e seu pa-
pel de norteador das atividades no processo de ensino-aprendizagem.

O plano de aula, com seus elementos, é um documento que ajudará


o docente de ensino superior a buscar mais efetividade de conteúdo, ha-
bilidades, tanto metodológica quanto de administração de seu tempo na
sala de aula.

O plano de aula deve ter seu foco não somente naquela aula especí-
fica, mas em todo o processo de ensino-aprendizagem e mesmo para
além dele. Seu foco estará na aplicabilidade teórica e/ou prática dos
conceitos ou habilidades desenvolvidas naquela aula no contexto em
que o estudante estará inserido ao concluir suas atividades universitá-
rias no ensino superior. Portanto, o plano de aula refere-se à aula, mas
tem sua base na realidade.

74 Planejamento da aprendizagem
Este documento não promete a realização impecável de todas as
Material para uso exclusivo de aluno matriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o compartilhamento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo.

atividades previstas numa determinada situação de aprendizagem, mas


garante a reflexão sobre cada passo a ser dado em busca do objetivo da
aula e de acordo com as características e necessidades dos estudan-
tes, respeitando as condições do meio e, assim, tornando o professor
e os alunos aptos a buscarem soluções adequadas a imprevistos que
possam vir a impedir que se alcance os objetivos da aula.

Referências
ARAUJO, J. C. S. Fundamentos da metodologia de ensino ativa. 37ª Reunião
Nacional da ANPEd – 4 a 8 de outubro de 2015, UFSC, Florianópolis. Disponível
em: <http://www.anped.org.br/sites/default/files/trabalho-gt02-4216.pdf>.
Acesso em: 26 jun. 2018.

AUSUBEL, D.; NOVAK, J. D. Psicologia educacional. Rio de Janeiro: Interamerica,


1980.

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,


1996.

MENEGOLLA, M.; SANT’ANNA, I. Por que planejar? Como planejar? Currículo,


área, aula. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

MOTTA, J. F. Aprendizagem baseada em times. Devaneios Motta, Bem Paraná,


2018. Disponível em: <https://www.bemparana.com.br/blog/motta/post/
aprendizagem-baseada-em-times-tbl>. Acesso em: 26 jun. 2018.

OLIVEIRA, Z. V. Preparação de atividades didáticas: plano da escola, plano de en-


sino e plano de aula. FEUSP – Faculdade de Educação da USP, 2014. Disponível
em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2029955/mod_resource/con-
tent/2/Plano%20de%20Aula.pdf>. Acesso em: 8 jun. 2018.

SVINICK, M.; WILBERT, J. M. Dicas de ensino – estratégias, pesquisa e teoria para


professores universitários. São Paulo: Cengage Learning, 2012.

O plano de aula como documento do cotidiano docente 75

Você também pode gostar