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RESUMO
Conhecimento tácito é internalizado e varia de acordo com as experiências, sentimentos,
percepções e habilidades de cada um. A gestão do conhecimento busca ampliar o entendimento
desta dimensão estudada por Polanyi (1958). Grant (2007) identificou que Polanyi ainda é
referenciado na gestão do conhecimento, porém às vezes sendo utilizado de forma deturpada.
O objetivo geral foi analisar estudos nacionais publicados nas bases SciELO e SPELL sobre o
grau de referência do trabalho de Polanyi (1958; 1966) e evidências de leitura original desses
trabalhos, conforme proposto por Grant (2007) em “Tacit Knowledge Revisited–We Can Still
Learn from Polanyi”. Trata-se de uma pesquisa exploratória, qualitativa, bibliográfica,
limitando-se aos documentos em português e nacionais, publicados na SciELO e SPELL. A
pesquisa abrangeu 49 documentos e optou-se por não restringir o período, áreas e periódicos
em que foram apresentados. Como principais resultados, percebe-se que em: 29% dos estudos
o trabalho original de Polanyi foi lido; 18% abordam Polanyi de forma superficial, não sendo
possível afirmar a leitura original dos clássicos; 41% apontam que provavelmente os trabalhos
originais de Polanyi não foram lidos, pois distorcem os conceitos desenvolvidos; e 12% não
leram os trabalhos originais e referenciam Polanyi com base em outras obras.
1 INTRODUÇÃO
1
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2
2.2 MODELO UTILIZADO POR GRANT
Em 2007, Grant utilizou em sua pesquisa um modelo a fim de identificar nas leituras de
gestão do conhecimento a utilização de Polanyi. Pois segundo o autor, em alguns trabalhos,
Polanyi era citado, porém era reapresentado o trabalho de Nonaka, o que sugeria a não leitura
de Polanyi. Sendo assim, utilizou-se de um levantamento bibliográfico realizado por Serenko e
Bontis (2004, apud GRANT, 2007) em três periódicos sobre Gestão do Conhecimento e Capital
Intelectual a fim de examinar o “grau de referência ao trabalho de Polanyi” (GRANT, 2007, p.
174). Para tanto, Grant (2007, p. 176) considerou três níveis de referência ao trabalho de
Polanyi: “simples, algum uso do conceito e discussão mais significativa”. E após, quando
possível, de acordo com o conteúdo e o contexto de cada trabalho, buscou evidências para
classifica-los como:
Ao final do estudo, Grant (2007) observou que: cerca de um terço dos trabalhos tinham
evidências de ter lido claramente Polanyi; 42% provavelmente não o teriam lido; 23% pareciam
distorcer os trabalhos de Polanyi. O autor também critica os trabalhos que citam a autoridade,
Polanyi, sem ter lido as referências originais dele, que inclusive podem ser relacionadas a
plágio, ou apenas citadas de maneira incorreta, sem a utilização do “apud”.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
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Figura 1 - Fases do trabalho
Como o objetivo do artigo é analisar estudos nacionais publicados nas bases de dados
SciELO e SPELL sobre o grau de referência do trabalho de Polanyi (1958; 1966) e evidências
de leitura original desses trabalhos, conforme o modelo utilizado por Grant (2007) em “Tacit
Knowledge Revisited – We Can Still Learn from Polanyi”, após a seleção dos quarenta e nove
artigos, todos foram baixados e os dados foram tabulados em planilhas excel.
Identificou-se que o primeiro estudo que trata sobre conhecimento tácito na SciELO, foi
realizado em 2000, e na SPELL em 2002. Dos quatro artigos selecionados na SPELL, apenas
dois citam Polanyi; sendo que na SciELO, dos quarenta e cinco artigos selecionados, treze
artigos citam Polanyi, e dois o referenciam utilizando o “citado por”, ou, “apud”.
No quadro 2, visualizam-se os periódicos que possuem o maior número de publicações
sobre conhecimento tácito nas bases estudadas. Sendo que outros periódicos não listados no
quadro, apresentaram apenas uma publicação.
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Dos dezessete artigos que citam Polanyi, percebe-se, da mesma forma que no estudo de
Grant (2007), que alguns autores provavelmente não leram a obra clássica original. Desta
forma, distorcendo os conceitos desenvolvidos por Polanyi. Sendo assim, o estudo aponta que:
a) em 29% dos artigos os autores leram claramente os trabalhos originais de Polanyi;
b) em 18% dos artigos, não podemos identificar se realmente leram os trabalhos originais
de Polanyi, pois tratam os conceitos de maneira genérica e superficial, mas de maneira
correta;
c) 43% dos artigos indicam ser improvável a leitura, pois ocorrem problemas de má
interpretação dos trabalhos originais de Polanyi; e
d) 12% dos artigos demonstram que os trabalhos originais de Polanyi não foram lidos, pois
mencionam que foi “citado por”. Dentre esses dois trabalhos, um referencia os trabalhos
de Polanyi de maneira correta e o outro de maneira equivocada.
As principais distorções relacionadas ao trabalho original de Polanyi, da mesma forma
que no estudo realizado por Grant (2007), contemplam: tratar que existem dois tipos de
conhecimento, ao passo que Polanyi classifica como dimensões; descrever que Polanyi
conceitua o conhecimento tácito no contexto organizacional, empresarial e territorial; deturpar
a citação clássica utilizada por Polanyi (1966, p.4) dispensando o “podemos” ou o “can”,
afirmando que sabemos muito mais em relação ao que podemos expressar; afirmar que Polanyi
referencia a conversão entre conhecimento tácito e explícito.
Sobre o grau de referência, apenas dois estudos realizam uma discussão mais
significativa do trabalho de Polanyi, três utilizam conceitos simples e quatro fazem algum uso
do conceito. Oito trabalhos, embora utilizem conceitos simples, ou façam algum uso do
conceito, o utilizam de forma equivocada, comprometendo as interpretações do trabalho de
Polanyi na gestão do conhecimento.
No decorrer da pesquisa também foi possível verificar que as obras mais citadas para
tratar de conhecimento tácito são respectivamente: Nonaka e Takeuchi (A Criação de
Conhecimento na Empresa) em dezoito artigos; Polanyi (The tacit dimension) em treze artigos;
e Davenport e Prusak (Conhecimento empresarial: como as organizações gerenciam o seu
capital intelectual) em oito artigos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Polanyi, pois as descrições realizadas não condizem com seu trabalho. Dois estudos utilizaram-
se de trabalhos de outros autores para referenciar a obra de Polanyi.
Assim como no estudo realizado por Grant (2007), percebe-se uma possível “fraude
intelectual”, podendo comprometer a interpretação do trabalho original de Polanyi, bem como
a difusão de suas ideias de maneira incorreta. Salienta-se também a relevância dos trabalhos de
Polanyi para a gestão do conhecimento, sendo identificada na intenção dos autores ao
referenciar seus trabalhos.
Aponta-se como uma limitação da pesquisa a utilização apenas de títulos na seleção das
publicações na base de dados SPELL, sendo percebida apenas no momento das análises dos
dados. Outra limitação foi a tabulação dos dados ser realizada de forma manual em planilhas
excel, sem uso sofisticado de ferramentas de análise, o que poderia possibilitar análise
diferenciadas.
Para estudos futuros, sugere-se realizar uma nova busca com outros filtros na base de
dados SPELL, não se restringindo aos títulos. Sugere-se também aplicar este modelo de
pesquisa em outras áreas do conhecimento, especialmente utilizando-se de obras e autores
clássicos, mas ainda explorados. Uma evolução do estudo seria
discutir as principais características e relações apresentadas entre o
pensamento de Polanyi e o contexto (teórico-conceitual) no qual ele é
citado.
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