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Intoxicações

Exógenas
Alice Crespo
Jady Emanuelle
Lara Cristina

Abril / 2023
Caso Clínico 01
M. J. A., 35 anos, deu entrada no pronto-socorro do hospital com histórico
de tentativa de abortamento com chá de espirradeira há 03 horas.
No momento, queixa-se de mal-estar e fraqueza.

Ao exame:
PA: 100/50 mmHg
FC: 40 bpm (à admissão) FC: 35 bpm (1h após a admissão)
FR: 22 irpm
SatO2: 94% em ar ambiente
Glasgow 15 sem déficit motor
Caso Clínico 01

Exames complementares:

Glicemia capilar: 102 Beta-HCG: negativo K: 5,1 mEq/L

Em discussão com o CIAtox, esclareceu-se que a espirradeira (Nerium


oleander) contém glicosídeos cardioativos

Conduta: suporte clínico + hidratação + atropina + administração do


anticorpo antidigoxina
Epidemiologia Principal causa de morte por causas externas,
superando acidentes automobilísticos

A maioria dos pacientes intoxicados atendidos


são adultos com overdose intencional por
drogas orais

Crianças têm maior risco para intoxicações

Gravidade varia de acordo com a exposição

Tipos de exposição: via oral, via cutânea,


inalatória, mucosa e intravenosa

Agravo de notificação compulsória semanal


SÍNDROMES TÓXICAS
Síndrome Sinais
simpaticomimética Taquicardia ou taquiarritmia
Hipertensão
Agitação
Taquipneia
Midríase
Hipertemia
Diaforese
Hiperreflexia

Estimulação direta do sistema nervoso simpático

Anfetaminas substituídas (MDMA), cocaína, cafeína,


adrenalina, levotiroxina, ritalina e teofilina
Sinais
Síndrome Midríase
anti-colinérgica Rubor cutâneo
Hipertermia
Mucosas secas
Taquicardia e hipertensão
Alterações visuais e alucinações
Taquipneia
Retenção urinária
Redução da peristalse
Convulsões

Bloqueio colinérgico causa aumento da atividade simpática

Escopolamina, atropina, tricíclicos, anti-parkinsonianos,


ciclobenzaprina, anti-histamínicos e carbamazepina
Sinais Muscarínicos
Síndrome Diaforese
colinérgica Miose
Lacrimejamento
Broncorreia
Sialorreia
Poliúria
Vômitos e diarreia
Bradicardia e hipotensão

Carbamatos, organofosforados, nicotina,


fisostigmina, cogumelos, pilocarpina, gás
sarin
Sinais Nicotínicos
Síndrome Midríase
colinérgica Taquicardia
Fraqueza
Tremores
Fasciculações
Convulsões
Sonolência

Carbamatos, organofosforados, nicotina,


fisostigmina, cogumelos, pilocarpina, gás
sarin
Sinais
Síndrome Hiperreflexia
serotoninérgica Diaforese
Trismo
Rigidez muscular
Diarreia
Confusão e agitação
Estado mental alterado
Midríase

Ocorre tipicamente em dias ou horas após a introdução


de um novo medicamento

Tramadol associado a ISRS ou duais, ISRS ou duais


isolados, tricíclicos e iMAO
Sinais
Síndrome Hipotonia
sedativo- Hiporreflexia
Sonolência e letargia
hipnótica Coma
Bradicardia
Bradipneia
Perda do reflexo de proteção de
vias aéreas

Geralmente não há alteração pupilar

Benzodiazepínicos, etanol, barbitúricos, relaxantes


musculares, zolpidem
Sinais
Síndrome Miose
opioide Torpor e coma
Hipotensão
Bradicardia
Bradipneia e até apneia
Hipotermia
Pele seca

Resposta ao naloxone - antagonista direto dos


receptores opioides

Fentanil, morfina, metadona e oxicodona


Opioides
Sinais
Síndrome Midríase
alucinogênica Taquicardia e taquipneia
Agitação
Nistagmo
Alucinações
Distorção da percepção e do
sensório

Novas drogas sintéticas

LSD, anfetaminas, N-metil D-aspartato


Síndromes tóxicas
TRATAMENTO
Princípios gerais do tratamento
Princípios gerais do tratamento

Contactar Centro de Informação e Assistência


Toxicológica

Minas Gerais (CIATox/MG): Hospital João XXIII


Telefones: (31) 3239-9308 / 3224-4000

Atendimento: 24 horas/dia
Atendimento inicial
Medidas de MOVE
suporte ABCDE
Medidas de descontaminação
Investigação e coleta de exames
Medidas para aumento da
eliminação do tóxico
Antídotos

Considerar reanimação prolongada

AESP/assistolia: pode ser indicado uso de


antídotos intra-PCR
A
Reflexo nauseoso
Medidas de Sialorreia
Odor característico (álcool, alho)
suporte B
Lesão por inalação
Broncoaspiração
C

Expansão volêmica se hipotensão


D
Avaliação das pupilas
Fasciculações e convulsões

E
Marcas de perfuração e automutilação
Lesões de pele por exposição cutânea
História clínica
Investigação O que ingeriu?
Qual a dose?
Há quanto tempo?
Por quanto tempo ficou exposto?
Qual foi o tempo entre a exposição e
o atendimento médico?
Faz uso de medicações?
Última vez em que foi visto
acordado?
Com quem convive?

Buscar mais informações com acompanhantes


Exames laboratoriais
Investigação Hemograma
Eletrólitos
Função renal
Função hepática
EAS
Teste de gravidez
Exame toxicológico na urina
Gasometria arterial
Concentração sérica de álcool
Lactato sérico
Glicemia capilar
Exames toxicológicos
Investigação Sangue x urina
Quantitativo x qualitativo
Eletrocardiograma
Investigação Taquicardia/bradicardia
Agentes cardiotóxicos
Formas de descontaminação
Medidas de
Descontaminação cutânea
descontaminação Descontaminação ocular
Descontaminação respiratória
Descontaminação gástrica

A equipe deverá tomar precauções para se


proteger de uma possível exposição ao
agente tóxico
Medidas iniciais
Medidas de
Reduzir a exposição ao agente tóxico e sua
descontaminação ação

cutânea Abordagem pré-hospitalar:


Retirar as roupas contaminadas
Lavar com água corrente em
abundância

Profissional deve estar protegido


Medidas iniciais
Medidas de
Instilar 1-2 gotas de colírio anestésico +
descontaminação lavagem com SF 0,9%

ocular Lavar da região medial para a região


externa, com as pálpebras abertas por
pelo menos 5 min

Solicitar avaliação oftalmológica


Medidas iniciais
Medidas de
Remover a vítima do local da exposição
descontaminação
Administrar oxigênio umidificado
respiratória suplementar

Cianeto, CO, gás de cozinha


Medidas iniciais
Medidas de Indicação: substância + tempo decorrido +
descontaminação sintomas + potencial de gravidade

gástrica Avaliação criteriosa do nível de consciência

Maiores benefícios:

Ausência de fatores de risco para


complicações, como torpor e sonolência
Ingestão de quantidades potencialmente
tóxicas
Ingestões recentes (1-2h da exposição)

Mais comum: lavagem gástrica seguida de carvão ativado


Lavagem gástrica
Medidas de
Indicação: contaminação por VO em até 1h
descontaminação Obrigatório proteção de via aérea

gástrica Contraindicações:
Cáusticos e solventes
Sangramentos
Instabilidade hemodinâmica
Risco de perfuração intestinal
Via aérea não protegida
Presença de antídoto

Complicações: broncoaspiração, hipotermia, laringoespasmo,


lesão mecânica do TGI
Lavagem gástrica

Garantir via aérea Sonda naso ou Decúbito lateral Infusão de solução


Não se recomenda IOT apenas
orogástrica esquerdo fisiológica
para este fim Posição confirmada pelo Cabeça elevada a 20º Adultos: 250 ml (máx. 6L)
método auscultatório Crianças: 10ml/kg (máx. 4L*)
Carvão ativado
Medidas de Indicação: contaminação por VO em até 2h*
Administração seriada em alguns casos
descontaminação Em conjunto com a lavagem gástrica, via

gástrica sonda orogástrica (IOT) ou por VO

Contraindicações:
Substâncias não adsorvidas pelo carvão
Substâncias corrosivas
Risco de perfuração ou obstrução
intestinal
RN's e gestantes
RNC sem proteção de via aérea
Agitação psicomotora

Complicações: broncoaspiração, constipação ou obstrução


intestinal, redução da eficácia de andítodos orais
Carvão ativado
Múltiplas doses: substâncias que
reduzem o trânsito GI ou com alta
recirculação êntero-hepática
Lavagem intestinal
Medidas de
Indicação: substâncias não adsorvidas pelo
descontaminação carvão ativado
Lítio, ferro, chumbo
Body-packing

Contraindicações:
Perfuração ou obstrução intestinal
Vômitos não controlados
Via aérea não segura.

Complicações: broncoaspiração, náuseas e vômitos.

Administrado por VO ou sonda - até 2 L/h em adultos.


Lavagem intestinal

Administração de substância osmoticamente ativa (PEG)

Efeito catártico

Aumento do peristaltismo intestinal

Eliminação dos tóxicos nas fezes

Redução do tempo de exposição à mucosa intestinal


Métodos externos
Medidas de
Indicações:
eliminação da > 2h de exposição
Tempo de exposição incerto

toxina Contraindicação
descontaminação
às medidas de

Alguns compostos, se deixados para


eliminação por via urinária ou hepática, irão
causar prejuízos , por sua toxicidade

Métodos:
Alcalinização urinária
Métodos dialíticos
Emulsão intravenosa de lípides
Utilização de antídotos
Alcalinização urinária
Medidas de Favorece a conversão de ácidos fracos
eliminação da lipossolúveis para a forma de sal, impedindo
a sua reabsorção pelo túbulo renal

toxina Indicações
Salicilatos
Fenobarbital
ADTs
Clorpropamida

Contraindicações
Hipervolemia prévia
Insuficiência renal
Hipocalemia não corrigida

Complicações: hipervolemia, hipocalemia, alcalose


metabólica, hipocalcemia
Alcalinização urinária

Bicarbonato de Bicarbonato de Monitorizar


sódio 8,4% sódio + solução parâmetros
1,2 mEq/kg, em bolus glicosada 5% pH sérico e urinário;
bicarbonato e potássio
Infusão contínua de 150 mEq
em 1000 ml: 200-250 ml/h

pH urinário: > 7,5


pH sérico: 7,55 - 7,6
Métodos dialíticos
Medidas de Hemodiálise x hemoperfusão
eliminação da
Medidas de eliminação de tóxicos que
toxina não possuem antídoto e/ou possuem
depuração corpórea lenta.

Substâncias que produzem sérios agravos ao


organismo
Métodos dialíticos
Medidas de Emulsão intravenosa de lípides

eliminação da Método recente

Manejo do choque cardiogênico induzido por


toxina toxinas

Absorção de toxinas lipossolúveis pelos


lípides + aumento do metabolismo cardíaco
pela oferta de ácidos graxos livres

Anetésicos, BBs, BCC, ADTs, bupropiona e


cocaína

Complicações: hiperlipemia grave, pancreatite aguda e SDRA

Bolus de 1,5 mL/kg de solução lipídica a 20% por 2-3 min +


infusão de 0,25 mL/kg/min
Utilização de antídotos
Medidas de Substâncias que agem no organismo,
eliminação da atenuando ou neutralizando ações ou
efeitos de outras substâncias químicas
toxina Maioria das intoxicações: suporte clínico

Naloxona N-Acetilcisteína Atropina

BCC, BBs, opioides, paracetamol, digoxina


Antídotos
Tratamento Recomendações
Observação por pelo menos 6h
Medicações de liberação prolongada
Manifestações tardias

Acionar o Centro de Assistência


Toxicológico

Prevenção

Avaliação pela equipe de psiquiatria


Abordagem
Caso Clínico 02
Paciente encaminhada via vaga zero do municipio de Jaíba, sem
acompanhante. Refere ter ingerido agente corrosivo (soda cáustica) por
volta das 16h de ontem com quadro de sialorreia, náuseas, taquicardia,
crise hipertensiva e epigastralgia. Conta que, durante o transporte para
Montes Claros, começou a apresentar hematêmese (roupa com vestígios
de sangue).

Paciente portadora de HAS, faz uso de atensina 0,1 mg MID, atenolol 50 mg


MID. Alergia a dipirona. Nega cirurgias e internações anteriores.

Recebo paciente intranquila, com crise hipertensiva, eupneica em ar


ambiente, nauseante. Nega dor torácica e dispneia.
Caso Clínico 02
Paciente não consegue emitir sons, porém se comunica escrevendo em
folha de papel. Refere náusea, fome e astenia. Persiste com escarros
borráceos e vômitos.

Hipocorada (+/4), desidratada (+/4), eupneica em AA, edema e lesão em


mucosa oral, dificuldade em emitir sons.

PA: não foi possível aferir com exatidão - paciente obesa sem manguito
adequado FC: 98 bpm SatO2: 98%

ACV: RCR
AR: MVF sem RA
Caso Clínico 02
EDA:
Esôfago: calibre e elasticidade de parede preservado. Presença de mucosa
difusamente edemaciada, enantema intenso, apresentando áreas de
necrose com colocação acinzentada ou enegrecida, ulcerações rasas,
friável. Junção esofagogástrica coincidindo com o pinçamento
diafragmático.
Estômago: mucosa difusamente edemaciada, enantema intenso,
apresentando áreas de necrose com coloração enegrecida, ulcerações
profundas, friáveis, sangrante, em toda extensão do estômago. Incisura
angular anatômica. Piloro centrado, móvel e pérvio. Realizado passagem de
sonda nasoenterica, sob visão endoscópica.
Referências 1. Intoxicações agudas: guia prático para o
tratamento / organizadora Polianna Lemos
Moura Moreira Albuquerque. – Fortaleza:
Soneto Editora, 2017.
2. Manual de Toxicologia Clínica: Orientações
para assistência e vigilância das intoxicações
agudas / [Organizadores] Edna Maria Miello
Hernandez, Roberto Moacyr Ribeiro Rodrigues,
Themis Mizerkowski Torres. São Paulo:
Secretaria Municipal da Saúde, 2017. 465 p
3. Medicina de emergência: abordagem prática /
Irineu Tadeu Velasco [et al.] - 14 ed., rev., atual.
e ampl. -Barueri [SP]: Manole, 2020;
OBRIGADA!

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