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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Graduação em Psicologia / Noite

Laís Barbosa de Oliveira

Matheus Ferreira de Sousa

ESTÁGIO PROFISSIONALIZANTE - CLÍNICA SISTÊMICA II

Relato de caso clínico

Belo Horizonte

2017
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho trata-se do desenvolvimento de atividades profissionais


supervisionadas em Terapia Familiar sob uma abordagem sistêmica. Foram realizados 08
atendimentos clínicos com uma família monoparental feminina: Flávia, a mãe e seus três
filhos, sendo um casal de gêmeos de sete anos, Miguel e Sofia, e um menino de um ano,
Eduardo.
A família vive na casa da avó materna Cleide, que auxilia nos cuidados das crianças
no período de trabalho de Flávia. Realizamos o convite a Flávia para que comparecesse com
toda família às sessões, incluindo Cleide, porém a mesma se recusou e as sessões foram
conduzidas com Flávia e as crianças. Os dois primeiros atendimentos foram realizadas com
Flávia e Miguel, sendo que nas sessões seguintes houve a presença de Sofia e na sessão mais
recente do irmão mais novo, Eduardo.
Flávia procurou o atendimento psicológico devido ao comportamento agressivo de
Miguel perante a família e o meio escolar. A mãe relata que seu comportamento tem
atrapalhado sua aprendizagem e tem sido a causa de muito estresse na família. A avó, Cleide,
tem se queixado de muito estresse e cansaço à filha quanto aos cuidados dos netos, sendo, na
fala de Flávia, o atendimento clínico a esperança de mudar o comportamento de Miguel e
melhorar o convívio familiar.

METODOLOGIA:

Conduzindo o atendimento psicoterápico orientados a incentivar o diálogo e a


reflexão, buscamos realizar todas as intervenções pautando-as em perguntas terapêuticas ou
conversacionais. Tais perguntas “focalizam o que o cliente acha que é importante e dirigem-se
ao sentido do que está sendo dito e à compreensão da história contada pelo cliente”
(Vasconcellos, 2010). O uso de perguntas reflexivas, como caracteriza Vasconcellos (2010), é
uma importante ferramenta para implicar os clientes na condução do tratamento e mudança
das condições problemáticas, se constituindo como um recurso capaz de desencadear
mudanças sistêmicas. A autora conta que é possível ao terapeuta fazer o uso das perguntas
para desencadear mudanças no sistema. A nossa forma de nos relacionar com o meio, como
resolvemos nossos problemas e lidamos com diversas situações, está atravessada por nossas
premissas, ou seja, a forma acreditamos ser o melhor modo de resolver determinado assunto.
Refletir sobre essas premissas pode ser então a chave para que a mudança no sistema ocorra,
impedindo assim a manutenção do problema.
Também trabalhamos a técnica de atendimento com foco na solução, trazendo
alternativas para solução dos conflitos familiares contrários aos padrões já estabelecidos. Em
tal abordagem conforme aponta Nichols (2007), o cliente é convidado a ver que seus
problemas tem exceções, assim como a perceber que estas exceções são soluções que eles
ainda não dispõe em seu repertório, mas são passíveis de serem alcançadas.
No discurso do cliente, o problema tende a chegar em primeiro plano e a solução em
segundo. O terapeuta necessita ser capaz de fazer o oposto, expondo essa visão para o cliente,
dando a ele mecanismos para dispor da mesma. Na fala de Miguel, se o problema sumisse
magicamente... Se tudo se resolvesse… A família teria mais tempo para brincar uns com os
outros e seriam mais felizes. Flávia acredita que o ambiente familiar seria mais calmo, menos
estressante e desgastante, resultando em menor cansaço.
As primeiras sessões foram direcionados ao conhecimento aprofundado da queixa, da
família e da rotina familiar. Flávia nos apresentou o motivo pelo qual procurou atendimento: o
comportamento agressivo do filho Miguel, a queda do desempenho escolar e a dificuldade de
concentração e nos deveres de casa. A cliente também nos informou das providências
tomadas até o presente momento para sanar o problema: Miguel já fez acompanhamento
psicológico e atualmente faz tratamento psiquiátrico, sendo medicado com ritalina e
risperidona.
Realizamos intervenções com intuito de melhorar o comportamento de Miguel no
convívio familiar. Quanto à agressividade realizamos questionamentos com intuito de fazê-lo
refletir sobre seus atos e encontrar alternativas para lidar com a raiva. Sugerimos “brigas a
distância” como uma forma de evitar a agressão física entre os irmãos e também a seleção de
objetos onde as crianças pudessem expressar sua raiva sem causar lesões físicas uns aos
outros ou danos a própria residência.
Quanto ao problema de concentração, explicitamos para Miguel a importância de se
dedicar aos estudos. Buscamos mostrar que toda atividade tem uma hora propícia para fazê-la,
“tem hora de brincar e hora de estudar”. Miguel demonstrou compreender o que foi
apresentado e se propôs a obedecer às regras feitas pela mãe.
Também neste contexto foi realizada uma atividade lúdica com intuito de mostrar às
crianças e a Flávia que a agitação não é um problema quanto expressada na hora certa e de
maneira saudável. Tanto as crianças quanto a mãe se mostraram interessadas na dinâmica,
transformando um momento de descontração em um momento de união familiar.
No atendimento acima mencionado Flávia expôs sua satisfação com as mudanças
observadas no comportamento de Miguel e no seu próprio, relatando um melhor convívio da
família.

HIPÓTESE SISTÊMICA:

No desenvolvimento do atendimento clínico identificamos que a mãe também


utilizava da agressividade como meio de educar os filhos, sendo este comportamento
replicado pelas crianças. Foi perguntado a Flávia se ela identificava alguma relação na
agressividade de Miguel com a forma agressiva com a qual a mesma o educa. A cliente
respondeu positivamente, reconhecendo seu comportamento como um exemplo para os filhos.
A partir desta intervenção Miguel relata nas demais sessões diversas ocasiões onde a mãe se
contém para não agredi-lo. Através das intervenções, conseguimos que a família identificasse
o comportamento agressivo como problema e não Miguel em si. Durante uma sessão posterior
Flávia reconheceu uma melhora no comportamento de Miguel, assim como em seu próprio
comportamento, expressando que sua relação com as crianças melhorou e trouxe satisfação.
Flávia nos conta ainda como o atendimento modificou seu relacionamento e sua forma
de agir com as crianças e como isso se torna visível quando comparado ao relacionamento de
Cleide com os mesmos, pelo fato de ela não se interessar em comparecer aos atendimentos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Entendendo a origem de um problema na forma como as pessoas se relacionam e não


como uma característica de uma pessoa específica percebemos como a solução de uma queixa
se apresenta mais claramente ao envolvidos. Flávia, nos trouxe um feedback que ilustra tal
afirmação. Em sua fala nos conta como percebe a diferença em seu relacionamento com os
filhos após os atendimentos clínicos enquanto sua mãe, Cleide, permanece em conflito com as
crianças devido não ter comparecido aos mesmo.
Também se fez perceptível a mudança na fisionomia de Flávia, que ao se apresentar na
primeira sessão estava com semblante extremamente abatido e exausto. Sendo que nas últimas
sessões a mesma havia recobrando a vitalidade e a energia, se mostrando satisfeita com os
resultados e animada em dar continuidade às mudanças em seu relacionamento com os filhos.
Já as crianças se envolveram de tal maneira com as práticas de intervenção que as executaram
em casa sem maiores dificuldades.
Portanto, aprendemos com a prática como padrões estabelecidos no convívio familiar
podem ser transformados através do conhecimento e/ou compreensão dos comportamentos
que os reforçam. Problemas relacionais não são estáveis, porém estes dependem do
movimento do próprio sistema para serem solucionados.
REFERÊNCIAS

NICHOLS, Michael. Terapia focada na solução. In: Terapia familiar. Conceitos e métodos.
Editora Artmed. 2007. pg 319 - 332.

Vasconcellos, Maria. Desenvolvendo a própria habilidade de usar as perguntas para


desencadear mudanças no sistema. In Atendimento sistêmico de famílias e redes sociais,
Vol III. Arte & Prosa 2010. Pg. 210-227.

Vasconcellos, Maria. O uso de perguntas como recurso para desencadear mudanças


sistêmicas: Articulando os múltiplos rótulos utilizados para diferentes formas de
perguntar. In Atendimento sistêmico de famílias e redes sociais, Vol III. Arte & Prosa 2010.
Pg. 186-209.

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