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2 Inclusão escolar e o ensino de biologia

Durante milênios as pessoas com deficiência foram excluídas da


sociedade, considerados incapazes de trabalhar, estudar e participar de outras
atividades sociais. Na antiguidade (4000 a.C.), as pessoas com deficiência eram
vistas como amaldiçoadas pelos deuses, razão pela qual eram sacrificadas como
forma de purificar a comunidade, conforme relata Silva (1987, p. 215)

[...] na Roma Antiga, tanto os nobres, como os plebeus tinham permissão


para sacrificar os filhos que nasciam com algum tipo de deficiência. Da
mesma forma, em Esparta, os bebês e as pessoas queadquiriam alguma
deficiência eram lançados ao mar ou em precipícios. Já em Atenas,
influenciados por Aristóteles, que definiu a premissa jurídica até hoje aceita
de que “tratar os desiguais de maneira igual constitui-se em injustiça” os
deficientes eram amparados e protegidospela sociedade.

A idade média foi marcada pelos saberes teocêntricos, o poder da igreja


dominava hábitos e costumes, superando até mesmo os poderes do Estado. Os
conhecimentos acumulados eram guardados em monastérios e utilizados para
domínio da população, muitos fenômenos naturais eram atribuídos a vontade divina.
Neste período histórico as pessoas com deficiência eram consideradas sub-
humanos, sujeitos ao julgamento dos representantes daigreja (FERNANDES, 2010).

Com a Revolução Francesa, em 1792, é declarado o primeiro documento


de direitos inalienáveis, a Carta dos Direitos do Homem, que faz menção ao
conhecimento como direito de todo ser humano. No século XX, em 1948 é assinado
a Declaração dos Direitos Humanos Universais, que garantiu vários direitos que
subsidiam a dignidade humana, entre eles, o direito ao acessoà educação para as
pessoas com deficiência, ressaltando que “as escolas têm que encontrar a maneira
de educar com êxito todas as crianças, inclusive as que têm deficiências graves”
(p.27, confirmar o autor – tirou do documento – Direitos Humanos Universais? ) o Brasil foi
um dos países signatários do documento, o que contribui para fomentar o
atendimento aos alunos com deficiência nas instituições de ensino, iniciado na
década de 1950. Importa destacar que o atendimento disponibilizado a estes
sujeitos ocorria em manicômios e tinha um caráter médico-terapêutico, para
tratamento das patologias. O aspecto
pedagógico era pouco valorizado, devido ao estigma de que a pessoa com
deficiência não conseguia aprender (CARVALHO, 1997).

No Brasil, primeiras ‘instituições de ensino com predominância pedagógica


foram fundadas no final da década de 1950, por meio do decreto imperial nº 1.428.
Em 1954 foi inaugurado o Instituto dos Meninos Cegos, o atual Instituto Benjamin
Constant – IBC e em 1957 o Instituto dos Surdos Mudos, hojedenominado Instituto
Nacional da Educação dos Surdos - INES, ambos na localizados no Rio de Janeiro.
Nesta época, o ensino destinado às pessoas comdeficiência era realizado de forma
segregada, em instituições separadas da escola comum. Este tipo de educação
perdurou até a década de 1970, quando foram instituídas as primeiras salas
especiais dentro das escolas comuns, conhecido como período integrador. Na
integração, o aluno precisava se adaptaraos padrões estabelecidos pela escola para
ter o direito de estudar em sala de aula regular, juntamente com os alunos sem
deficiência ( colocar o autor,verificarse foi Mendes, 2010?????)

Na década de 1990, o Brasil inicia o processo de reformulação da inclusão


sob influênciade documentos internacionais, entre eles a Declaração de Salamanca
(UNESCO, 1994), que prima pela adequação da escola para atender as
necessidades do aluno com deficiência. Em 1996 o país apresenta mais um avanço
com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que para
além de outras diretrizes da educação, vem a garantir a matrícula do aluno com
deficiência no ensino regular, com visto no Capítulo V, sobre Educação Especial,
Art. 58 daLei nº 9394/96: “Entende-se por educação especial, para os efeitos desta
Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular
de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.”

Um pouco mais a frente no ano de 2013 esse mesmo Art. sofre uma alteração
por meio de uma redação dada pela Lei nº 12.796, que o reformula da seguinte
forma:
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular
de ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola
regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos
alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino
regular.

A lei requer ainda a adaptação da escola como um todo, voltada as demandas


dos alunos com deficiência. Tal adaptação tem como objetivo tornar a inclusão real,
propondo que os currículos venham a atender as necessidades desses alunos,
tornando assim mais eficiente a inclusão deles no ensino regular (FERREIRA, 2004).
Partindo do respaldo que tanto a Carta de Salamanca, quanto a LDB e suas
posteriores redações garantiram aos alunos com deficiência, a inclusão no âmbito
social e principalmente educacional ganharam força, levando aos pais a segurança
em matricular seus filhos no ensino regular (BLANCO, 2002). Porém, mesmo diante
dos avanços conquistados, professores e escolas apresentaram dificuldades com
relação as adaptações, levando assim a continuidade da situação de segregação
desses alunos mesmo dentro de salas regulares. Para que a inclusão obtenha
sucesso, é necessário incluir como objetivos específicos e fundamentais para o
trabalho com a diversidade: Sensibilização de professores, coordenadores, direção e
demais funcionários; Conhecimento das diversidades, dos portadores de
necessidades educativas especiais/comportamentos/possibilidades; Sensibilização
com os pais e alunos da escola; Adaptações, recursos, sala de apoio (SANT’ANA,
2005).
De acordo com Ferreira (2004), as atitudes do professor são fatores
determinantes para a relação dos alunos dentro do âmbito escolar, assim como em
seu desenvolvimento em sala de aula. Sendo assim, uma atitude mais igualitária e
positiva reforçará a aprendizagem da criança, bem como sua interação com os demais
colegas, o distanciando de discriminações, isolamento e baixo desempenho
educacional.
Outra condição para prática inclusiva é a elaboração de currículos que
possuam flexibilidade, não considerando somente o desenvolvimento de capacidades
cognitivas e conteúdos teóricos, mas que também priorizem questões de
desenvolvimento social, afetivo e emocional, tomando a diversidade presente em sala
de aula como base para tomar decisões, uma vez que para melhora da qualidade do
ensino, é necessário o rompimento de barreiras, buscando novos caminhos que
incluam a pluralidade presente na sala de aula (MITTLER, 2000).

Como forma de respaudar, assegurar e promover maior igualdade para


pessoas com deficiência em 06 de julho de 2015 foi editada a Lei Brasileira de
Inclusão – LBI, também conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência,
composta por um conjunto de normas que possuem como objetivo a execução dos
direitos e liberdades fundamentais da pessoa com deficiência, com a finalidade de
maior inclusão social e cidadania (BRASIL, 2015).

Essa lei foi criada com o objetivo de efetivar à Convenção Internacional da ONU
a cerca dos Direitos das Pessoas com Deficiência, uma vez que seu Protocolo
Facultativo contou com a assinatura do Brasil, em 30 de março de 2007, em Nova
York (CUNHA & VERDUM, 2018). Sua principal inovação foi a alteração na
concepção juridica de “deficiência”, deixando de ser considarada uma condição
biológica do individuo, para ser abordada como decorrência da interação com os
obstáculos impostos pelo meio, de acordo com o disposto no Art. 2º:

Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem


impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas.

Para além do conceito de deficiência, a LBI vem a ampliar diversas ferramentas


que podem garantir o respeito aos direitos da pessoa com deficiência, os defendendo
da exclusão e discriminação em diversos âmbitos, incluindo também a educação,
assegurando às pessoas com deficiência a oferta de sistema educacional inclusivo
em todos os níveis e modalidades, de acordo com suas características, interesses e
necessidades de aprendizagem. Como visto no Art. 27 do Capítulo IV, que trata do
Direito à Educação:

“Constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados


sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado
ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo
desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas,
sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características,
interesses e necessidades de aprendizagem.”

A LBI institui ainda que é dever do poder público estabelecer projetos


pedagógicos que oficialize o atendimento educacional especializado, bem como
esbelecer os demais serviços e adaptações necessárias, com a finalidade de atender
as demandas dos estudantes com deficiência, garantindo assim seu íntegro acesso
ao currículo de forma igualitária, levando ao execício pleno de sua autonomia
(SEVERINO, 2018).

BLANCO, Rosa. Implicações Educativas do Aprendizado na Diversidade. Revista


Gestão em Rede, ago. 2002.
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
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DA CUNHA, F; L; VERDUM, C; PIÁ. A EXPERIÊNCIA DO INCLUIR NA UFRGS:


UMA ANÁLISE SOBRE AS DEMANDAS DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA. Anais do XVI Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço
Social, v. 1, n. 1, 2018.

FERREIRA, Windyz. Da Exclusão à Inclusão: formando professor para responder à


diversidade na sala de aula. 2004.

KRASILCHIK, M. Reformas e realidade: o caso do ensino de ciências. São Pauloem


perspectiva, São Paulo, v. 1, n. 14, p.

MACHADO, Maria Helena; MEIRELLES, Rosane Moreira Silva. Da “LDB” dos anos
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MITTLER, Peter. Educação Inclusiva – Contextos sociais. Porto Alegre: Artmed,


2000.

SANT'ANA, I.; M. Educação inclusiva: concepções de professores e


diretores. Psicologia em estudo, v. 10, p. 227-234, 2005.

SEVERINO, M.; P.; S.; A educação superior e o Programa Incluir: o contexto de


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