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De início vale ressaltar a premissa básica para a caracterização da psicose, a qual se define
por meio de uma ausência de vínculo com a realidade concreta. Essa realidade, por sua
vez consiste em uma série de cadeias relacionais que não são percebidas pelos indivíduos,
mas que existem puramente por uma “fé perceptiva”, ou seja, a crença de que existe um
mundo tal como ele se apresenta a nós. É por meio da análise da psicose, que não
consegue enquadrar o próprio indivíduo nessas relações que formam a realidade q se pode
explicar como que aquilo que entendemos e percebemos como mundo na verdade são
preconceitos despercebidos que possuímos sobre seus componentes, que unidos e em
relação são capazes de formar o todo que chamamos de realidade.
A percepção delirante se encontra fixada no campo dos signos e não dos significantes,
uma vez que estes encontram-se invariavelmente conectados em uma cadeia, os signos
são elementos soltos e, portanto, não competem a uma cadeia. Entretanto, não podem ser
entendidos por si só e, por isso é que o indivíduo busca achar significado para eles,
produzindo uma nova cadeia de interpretação, totalmente desconexa com aquela
estabelecida anteriormente (o delírio é a tentativa de reencadear o signo para que este
produza significado).
Semiologia da alucinação
Contudo, não se pode acreditar que o indivíduo, por estar em delírio é incapaz de
diferenciar a realidade normal da realidade delirante, pelo contrário, ele apresenta plena
consciência de que está em um delírio, embora entenda como real tudo aquilo que chega
a ele nesse estado. Além disso, não se pode entender como alucinação qualquer
experiência provocada intencionalmente pelo indivíduo, pelo contrário, o indivíduo que
está alucinando não tinha qualquer intenção de se encontrar naquele estado, o delírio
apenas o invadiu e provocou a alucinação.
Lacan entende esse processo subtrativo como a extração do objeto a, uma vez que é por
meio da sua ausência que o indivíduo passa a construir sua realidade, ou seja, é por meio
da extração do objeto não identificável que a pulsão não consegue encontrar um
correspondente a ele na realidade e, assim, passa a se direcionar ao outro na busca de
encontrar nele (representações do objeto) aquele que fora perdido, processo que, por sua
vez, produzirá as relações do indivíduo com o ambiente.
A partir disso, é possível entender os casos em que o objeto a não é extraído e a psicose
se instala. Diversas são as possíveis consequências da não extração do objeto, entre elas
a alucinação, processo pelo qual o corpo não é subtraído da percepção e, dessa forma,
passa a fazer parte desta, de modo que a percepção da realidade fica completamente
comprometida no indivíduo que se encontra nessa condição. A pulsão nesse caso não se
direciona ao outro (busca pelo objeto a), mas mantém esse objeto de desejo preso no
próprio corpo, impossibilitando o enquadramento na realidade.