Você está na página 1de 71

Sandra Rodrigues Consultancy 1

Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

PROJECTO DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA


DISTRITO DA ILHA DE MOÇAMBIQUE

- Vertente Patrimonial e Arqueológica –

Fig. 1 – Fotografia Aérea da Ilha de Moçambique (Área Insular).

Setembro de 2012
Sandra Rodrigues Consultancy 2
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Índice

1. Introdução e Objectivos……………………………………………………….5

2. Metodologia…………………………………………………………………….6

3. Contextualização Geral………………………………………………………8

3.1. Breve Resenha Histórica da Ilha de Moçambique………………..13

4. Património Edificado e Arqueológico da Cidade da Ilha de


Moçambique…………………………………………………………………………..16

4.1 Avaliação de Impactos do Projecto na Cidade da IDM e


Recomendações de Mitigação de Impactos………………………………………45

5. Património Edificado e Arqueológico nos Cinco Bairros Continentais do


Distrito da Ilha de Moçambique…………………………………………………….47

5.1 Bairro Maringue………………………………………………………..…47

5.2 Bairro de Sanculo A……………………………………………………..48

5.2.1 Avaliação de Impactos do Projecto no Bairro de Sanculo A

5.3 Bairro de Sanculo B……………………………………………………..52

5.3.1 Avaliação de Impactos do Projecto no Bairro de


Sanculo B……………………………………………………………..53

5.4 Bairro da Vila do Lumbo……………………………………………...…55

5.4.1 Avaliação de Impactos do Projecto no Bairro do Lumbo e


Recomendações…………………………………………………..….60

5.5 Bairro de Tocolo……………………………………………………..…..61

5.5.1 Avaliação de Impactos do Projecto no Bairro de Tocolo e


Recomendações……………………………………………………..62
Sandra Rodrigues Consultancy 3
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

5.6 Bairro de 16 de Junho…………………………………………………...63

5.6.1 Avaliação de Impactos do Projecto no Bairro de 16 de


Junho………………………………………………………………..…66

6. Conclusões……………………………………………………………………68

7. Bibliografia…………………………………………………………………….69
Sandra Rodrigues Consultancy 4
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Siglas e Abreviaturas

Abreviatura Significado

a.C. antes de Cristo

d.C depois de Cristo

AID Área de Influência Directa

AII Área de Influência Indirecta

ADA Área Directamente Afectada

GACIM Gabinete de Conservação da Ilha de Moçambique

IDM Ilha de Moçambique

PGA Plano de Gestão Ambiental


Sandra Rodrigues Consultancy 5
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

1. Introdução e Objectivos

O presente relatório refere-se aos trabalhos de prospecção arqueológica e


levantamento patrimonial, no âmbito do Estudo Especializado de Arqueologia e
Património Cultural do Plano de Gestão Ambiental (PGA), relativo aos
trabalhos de construção e melhoramento de um sistema de abastecimento de
água para o distrito da Ilha de Moçambique (província de Nampula), mais
especificamente na cidade capital do distrito (área insular) e em cinco bairros
da área continental: Tocolo, Lumbo, 16 de Junho, Maringue, Sanculo A e B.

Saliente-se que se realizaram prospecções arqueológicas intensivas na


área de influência directa (AID) do Projecto e extensivas na área de influência
indirecta (AII) do mesmo, tendo em consideração também todo o conjunto de
património edificado em ambas as áreas.

O objectivo dos trabalhos foi, assim, o de detectar possíveis sítios de valor


arqueológico, etnográfico e patrimonial, existentes na zona abrangida pelo
Projecto evitando-se, através da sua localização e caracterização, uma
eventual destruição decorrente dos trabalhos de abertura de fossos para
passagem de condutas e ainda de construção de torres de abastecimento e
campo de furos, previstos para as áreas referidas supra.

Limitações ao estudo

Foram identificadas várias limitações ao estudo especializado de


Arqueologia e Património Cultural, estando estas descritas de seguida:

 Algumas estações arqueológicas descritas por outros investigadores


(Duarte, 1987) na área do Lumbo não foram identificadas in loco, devido
ao facto de tais investigadores se referirem a elas de forma vaga e sem
quaisquer indicações de coordenadas de posicionamento. Pelo que,
aquando da prospecção de campo exaustiva realizada nas áreas
apontadas, não lográmos localizá-las.
 Refira-se também que a escassez documental, principalmente no que se
refere a Cartas Arqueológicas de Moçambique, constituiu o maior óbice
Sandra Rodrigues Consultancy 6
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

a ultrapassar, pois, actualmente, existem apenas a Carta Arqueológica


Marítima da Província de Nampula e a Carta da Pré-história de
Moçambique, um documento de 1950 (Santos Júnior, 1950).
 Por outro lado, as referências bibliográficas relativas especificamente à
Ilha de Moçambique são parcas e encontram-se, na sua maioria na
Biblioteca Nacional de Lisboa, donde que o acesso a elas foi limitado.
 Finalmente, o tempo de que dispusemos para a execução da
investigação foi também escasso, devido à urgência que se impunha
para o início das obras projectadas.

2. Metodologia

Numa primeira fase, procedeu-se ao levantamento bibliográfico geral, a fim


de se traçar uma panorâmica sobre o estado da investigação arqueológica na
província de Nampula e, mais especificamente, no distrito da Ilha de
Moçambique. Assim, consultou-se a Biblioteca do Departamento de
Arqueologia e Antropologia da Universidade Eduardo Mondlane (Maputo),
efectuando-se pesquisa bibliográfica referente à zona de estudo, de modo a
conhecer o património histórico e arqueológico do distrito da IDM e,
necessariamente, da província de Nampula, onde está inserido.

Efectuaram-se ainda pesquisas arquivísticas no Arquivo do Património


Cultural – ARPAC (Maputo), no Arquivo Histórico de Moçambique (Maputo) e
na Biblioteca do Museu da Ilha de Moçambique, a fim de recolher toda a
bibliografia anterior à Independência.

Não lográmos efectuar pesquisa cartográfica, dado que as Cartas Militares


disponíveis sobre a Ilha estão já bastante desactualizadas e porque a área em
estudo é relativamente exígua. Por outro lado, boa parte dos bairros em estudo
na área continental são relativamente recentes, dado que as populações se
começaram a fixar aí durante a guerra civil, vindas de outras regiões mais
afectadas pelo conflito.
Sandra Rodrigues Consultancy 7
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Após a recolha bibliográfica, procedeu-se a um exaustivo estudo de


gabinete, para descrever o património cultural e os registos arqueológicos já
identificados no distrito onde se insere o Projecto, a fim de delinear um plano
de sondagens/prospecção de campo.

Realizou-se, posteriormente, a pesquisa de fontes orais, através da


auscultação das populações locais acerca de vestígios patrimoniais
conhecidos, referências a sítios associados a lendas e a crenças ou rituais
tradicionais de iniciação, uma vez que estes são geralmente efectuados em
locais considerados sagrados que estão, muitas vezes, associados a antigos
abrigos, cavernas ou sítios arqueológicos.

Na área continental, a prospecção realizou-se em todos os terrenos


agrícolas e baldios da área de implantação do Projecto, cercados e não
cercados, em zonas onde a visibilidade fosse superior a 0, e teve como método
a prospecção em linha, numa malha fina de 3/4m (distância entre
prospectores).

Dentro da malha urbana da zona insular do Projecto, efectuou-se a


descrição exaustiva de todo o património edificado, locais de culto, locais de
enterramento e outros elementos de valor etnográfico importantes, bem como
se assinalou a existência de novas infra-estruturas que se sobrepuseram a
antigos edifícios ou a sítios arqueológicos, nomeadamente a cemitérios ou
valas comuns.

Realizou-se ainda o registo fotográfico dos sítios/vestígios arqueológicos e


patrimoniais. Posteriormente, descreveram-se e contextualizaram-se os sítios
arqueológicos, tendo-se procedido à hierarquização dos mesmos segundo
critérios de significado e valor patrimonial.

Por último, estabeleceu-se uma Matriz de Impactos no que se refere à


avaliação da afectação do Projecto sobre os elementos patrimoniais e
propuseram-se Medidas de Mitigação.
Sandra Rodrigues Consultancy 8
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

3. Contextualização Geral

O distrito da Ilha de Moçambique integra-se na província de Nampula e tem


como municipalidade a cidade da Ilha de Moçambique, área insular de um
território composto também por 33 bairros ou povoados, localizando-se 8 dos
quais dentro da área insular e os restantes na área continental, por sua vez
organizados tradicionalmente em chefaturas representadas por régulos.
Destacam-se também, a nível insular, mais duas ilhas, de origem coralina,
designadas por Goa e Sena1. Porém, somente a Ilha de Goa conta com um
farol e um guarda permanente, sendo que a Ilha de Sena é desabitada e não
apresenta qualquer património edificado ou arqueológico. No que se refere a
estas ilhas adjacentes, importa referir um elemento patrimonial assaz
importante localizado na Ilha de Goa, mesmo em frente à IDM: o Farol. Trata-
se do farol mais antigo da costa moçambicana e foi aceso pela primeira vez em
1876, mantendo-se ainda em funcionamento (Rodrigues et Ali, s/d).

Fig. 2 – Farol de sinalização costeira da Ilha de Goa

Importa notar que, pela sua localização privilegiada entre o Canal do


Moçambique e a costa oriental africana, na antiga rota comercial que ligava a
Europa à India, a Ilha de Moçambique (seja a parte insular ou mesmo

1
A Ilha de Sena é também conhecida por Ilha das Cobras
Sandra Rodrigues Consultancy 9
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

continental) foi, durante séculos, palco de encontro de culturas e etnias, além


de ser um ponto estratégico para navegadores e comerciantes que ali
aportavam para comercializar os seus produtos, para evitar as monções
sazonais e/ou para abastecer-se de provisões para seguir viagem. Daí que,
também nas imediações da Ilha, exista um vasto conjunto de navios históricos
naufragados - elementos arqueológicos de valor histórico-patrimonial ímpar e
fundamentais para a construção do processo histórico mundial, já que tais
naufrágios são provenientes de várias nações europeias, norte africanas e
mesmo asiáticas, como adiante descreveremos em pormenor.

O distrito da Ilha de Moçambique dista da capital do país, Maputo, em


cerca de 2,300kms, para Norte, e localiza-se à entrada da Baía de Mossuril.

A cidade da Ilha estende-se por 3.5km de comprimento por


aproximadamente 500m de largura e está organizada em duas partes distintas:
A Cidade de Pedra e Cal, construída ao estilo Europeu, com algumas analogias
arquitectónicas com o Algarve - região no extremo sul de Portugal, com a qual
partilha uma afinidade climática e de posicionamento geográfico litoral, o que
marca indelevelmente a expressão e o modus vivendi das gentes costeiras.

A outra parte da cidade denomina-se de Cidade Macuti, designação que


adquiriu pela tradicional tipologia das casas africanas, construídas em materiais
perecíveis, como o pau maticado e o macuti2. Importa notar que a Cidade
Macuti se localiza a cerca de 2m abaixo do nível das águas do mar, facto que
resultou de um longo processo histórico, cujas origens remontam ao início da
colonização. Isto é, quando os colonos portugueses encetaram a construção da
Fortaleza de São Sebastião, e da grande maioria dos edifícios de alvenaria da
Cidade de Pedra e Cal, retiraram a pedra para a construção, da zona sul da
Ilha. A cidade da IDM foi, durante séculos, capital de Moçambique, assumindo
hegemonia total sobre a restante área do país. Daí resulta, portanto, muita da
imponência visível ainda hoje em alguns edifícios da Ilha que sobreviveram à
força do tempo, em boa parte também graças aos esforços desenvolvidos pela
comunidade internacional, nomeadamente através de organizações como a
2
Material natural usado para a cobertura/telhado das casas.
Sandra Rodrigues Consultancy 10
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

UNESCO, que lhe atribuiu, em 1991, o estatuto de Património Cultural da


Humanidade.

Contudo, tal hegemonia perdeu-se aquando da transferência da capital


para a cidade de Lourenço Marques (actual Maputo), no final do século XIX
(1898). Este acontecimento contribuiu sobremaneira para a perda de
importância da cidade, facto que se agravou ainda mais quando, em 1935, a
capital provincial passou também para Nampula e até o porto foi deslocado
para a cidade de Nacala, em 1951, já que se tratava de um porto natural de
águas profundas, possuindo condições mais favoráveis ao desenvolvimento
económico a que se assistiu no século XX.

Todavia, pese embora o declínio tenha sido por demais evidente nas
décadas subsequentes, em 1966 construiu-se a ponte3 que ainda hoje liga a
cidade da Ilha ao continente, o que promoveu novamente um reflorescimento
da vitalidade urbana, e foi também consequência da guerra civil que originou
um enorme afluxo de refugiados e resultou no crescimento e fixação maciça da
população na Cidade Macuti.

Fig. 3 – Ponte de ligação da cidade da IDM ao continente

3
A ponte sofreu obras de reabilitação no ano de 2011.
Sandra Rodrigues Consultancy 11
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Na área continental do distrito, a fixação de populações foi relativamente


recente, tal como na cidade, e deveu-se principalmente ao fenómeno da guerra
civil. Pelo que, a grande maioria dos bairros, como é o caso de Sanculo A e B,
ou mesmo Maringue, se têm vindo a expandir notavelmente nos últimos anos.
Todavia, o bairro de Jembesse, por exemplo, já existia na época colonial,
embora o número de habitantes não fosse considerável. Daí que nos anos 50
do século passado ali tenham sido construídos três prédios, de cerca de 3
andares, que ainda se encontram em uso.

Fig. 4 – Prédio da época colonial em Jembesse

Note-se também que durante o século XX, o bairro ou Vila do Lumbo


assistiu a um florescimento extraordinário, decorrente principalmente da
excelente localização costeira a sul da baía de Mossuril, e da ligação ferroviária
que ligava esta Vila a Nacala e a Nampula, e que servia o porto que ali
funcionava e que do qual ainda hoje são visíveis as ruinas da ponte cais.
Sandra Rodrigues Consultancy 12
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Fig. 5 – Ruinas da antiga ponte cais do Lumbo (Coord.: S 15º 00. 505’ / E 040º 39.870’) .

A Vila do Lumbo terá sido também por isso um importante centro de


comércio e de turismo, como se pode constatar pela quantidade de edifícios de
feição arquitectónica modernista e estilo colonial típico do Estado Novo,
nomeadamente hotéis, a antiga Estação de Correios e Telégrafos, as casas
dos antigos Caminhos-de-Ferro e mesmo a escola primária que, de todos os
edifícios coloniais referidos, é a única que ainda se encontra em uso, já que os
restantes estão, maioritariamente, em ruinas.

Fig. 6 – Ruinas do antigo hotel do Lumbo.


Sandra Rodrigues Consultancy 13
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Fig. 7 – Ruinas da antiga Estação de Correios e Telégrafos do Lumbo (Coord.: S 15º 01. 240’ / E 040º
39.942’) .

3.1. Breve Resenha Histórica da Ilha de Moçambique

Fig. 8 – “Planta da Fortaleza e de Ilha de Mossambique” – 1843 (GEAEM/DIE, 1211-2A-24A-111).


Sandra Rodrigues Consultancy 14
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

A Ilha de Moçambique foi ocupada inicialmente pela população indígena


africana, mas apenas como local de exploração pesqueira, já que as
populações habitavam áreas nas imediações de cursos de água potável e com
solos prestáveis ao desenvolvimento agrícola.

Porém, a sua propícia localização geográfica cedo se tornou um dos


centros nevrálgicos de comércio praticado por povos oriundos de outras
regiões, como sejam Persas, Turcos, Indianos, Indonésios e principalmente
Árabes, que detinham o monopólio do transporte de mercadorias e cuja
influência e miscigenação com os povos locais de origem Bantu originou uma
civilização bem estruturada social e politicamente, que se fixou na costa
oriental africana e arquipélagos adjacentes: o povo Swahili.

Assim, surgiram sultanatos e xecados de origem Swahili tanto em Mossuril


(Ilha), como em Angoche, Quelimane (prov. da Zambézia) ou Sofala (prov. da
Beira). Por volta do século X, foi fundado o xecado da Ilha de Moçambique
(Mossuril) por Hassani e Mussa M’Biki (provável origem do topónimo
Moçambique) (IGESPAR, 2007), mas a população era simultaneamente
sedentária e flutuante, pois a IDM funcionava maioritariamente como feitoria
comercial.

Todavia, com o advento das grandes navegações ultramarinas europeias,


nomeadamente da portuguesa, encetou-se uma nova fase da história da Ilha.

Em 1498 ali aportou a frota de vasco da Gama, primeiro navegador


português a pisar solo moçambicano, aquando da viagem marítima que
inaugurou a ligação directa da África Austral à Índia e que se traduziu como o
início do fenómeno da globalização.
Sandra Rodrigues Consultancy 15
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Fig. 9 – Estátua de Vasco da Gama no Largo de São Paulo.

Deste modo, o século XVI representa o dealbar do domínio português


nas rotas comerciais do Índico, tendo a Ilha de Moçambique sido escolhida
como principal base, em 1507, pela decisiva importância do seu porto. Era
administrada por Goa (outra praça portuguesa) e servia como escala para
reabastecimento e reparação das naus portuguesas da Carreira das Índias
(Albuquerque, 1978), como local de comércio (onde navios indianos aí
trocavam têxteis e especiarias por ouro e marfim) e era, ainda, a base da
armada que protegia a extensa costa controlada por Portugal. Note-se que
nesta fase, os portugueses afastaram consideravelmente a presença árabe,
mas surgiram, então alguns dos primeiros conflitos com as populações, que
culminaram com a transferência do xecado para Sancul (Mossuril) e mais tarde
para Quitangonha, em 1515. Foi também nesta altura que se acentuou a
miscigenação entre mouros-brancos, indígenas negros e portugueses.
Sandra Rodrigues Consultancy 16
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

4. Património Edificado e Arqueológico da Cidade da Ilha de


Moçambique

A primeira fortificação de que há notícia na cidade da IDM é a designada


Torre Velha que terá sido construída no meio da Ilha, e já desaparecida,
seguida de um baluarte, no extremo norte, onde se construiu a capela de N.ª
Sr.ª do Baluarte, em 1522, e que é um exemplar único da arquitectura de Estilo
Manuelino - visível essencialmente na abóbada, sendo também a primeira
igreja católica edificada em Moçambique.

Fig. 10 – Capela de N.ª Sr.ª do Baluarte – interior da Fortaleza de São Sebastião.

Fig. 11 – Pormenor da abóbada Manuelina da capela de N.ª Sr.ª do Baluarte.


Sandra Rodrigues Consultancy 17
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

No entanto e por se tratar de um ponto estratégico, a Ilha era


constantemente alvo de ataques de vários outros povos, pelo que em 1558 e
por ordem do rei D. João III, se iniciou a construção da Fortaleza de São
Sebastião, desenhada pelo arquitecto Miguel de Arruda, e que possui uma
cisterna com capacidade de 2000 pipas de água. Porém, a guarnição da
Fortaleza só foi recebida em 1583. Esta Fortaleza passou a ser o maior bastião
de defesa, dominando o canal de acesso à baía de Mossuril e tornando-se
indispensável para conter as inúmeras tentativas de invasão subsequentes,
especialmente perpetradas por outros navegadores europeus como
holandeses e ingleses.

Fig. 12 – “Planta da Fortaleza de São Sebastião da Cidade de Mossambique”, 1821 (GEAEM/DIE, 1216-2A-24A-
111).

Fig. 13 – Fortaleza de São Sebastião – fachada principal.


Sandra Rodrigues Consultancy 18
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Fig. 14 – Fortaleza de São Sebastião – guarnição de canhões sobre o canal.

Por volta de 1570, os portugueses destruíram a povoação muçulmana,


que substituíram pela portuguesa que se organizou em torno da Torre Velha.
Assim, a comunidade muçulmana reassentou-se no sítio do Celeiro. Foi nesta
fase de convivência relativamente pacífica que a multiculturalidade da Ilha de
foi acentuando e tornando característica. Deste modo, a sociedade da cidade
da Ilha organizava-se de forma hierárquica, estando na posição cimeira os
europeus, seguidos dos cristãos de Goa e depois os indianos muçulmanos.

Por se tratar de um grande entreposto comercial, em 1593 criou-se, na


cidade, a Alfândega e, tal como no programa encetado em Portugal pela rainha
D.ª Leonor em 1525 – fundou-se a Santa Casa da Misericórdia (que serviu
também como Câmara Municipal até ao século XVIII).
Sandra Rodrigues Consultancy 19
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Fig. 15 – Alfândega e ponte cais – 1875 (foto: Ribeiro, M.F., 1877).

Fig. 16 – Ponte cais na actualidade.


Sandra Rodrigues Consultancy 20
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Fig. 17 – Igreja da Misericórdia – (junto à antiga St.ª Casa da Misericórdia).

Digna de nota, por se tratar de um elemento histórico de elevado valor


cultural, é a casa onde durante dois anos (1567-1569) viveu o poeta
renascentista português Luís Vaz de Camões, no século XVI. Trata-se de uma
casa cuja singularidade reside essencialmente na porta, que traduz um misto
de influência arabesca e indiana que lhe conferem uma beleza única.

Fig. 18 – Porta da Casa do poeta L. Camões Fig. 19 – Estátua do poeta Luís de Camões
Sandra Rodrigues Consultancy 21
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

De entre os edifícios de grande valor arquitectónico e histórico, na


Cidade de Pedra e Cal, salientam-se ainda o Museu de Arte Sacra (Junto à
Igreja da Misericórdia) e o Palácio de São Paulo, considerado dos edifícios
mais antigos e importantes da Ilha, cujas origens remontam a 1610, e que
alberga, hoje, o Museu de Artes Decorativas e o Museu da Marinha. Note-se
que este palácio acolheu inicialmente o primeiro centro de poder politico e
militar português – a Torre Velha ou Torre de São Gabriel. Posteriormente,
tornou-se um pólo religioso, tendo sido ocupado pela Companhia de Jesus
(Ordem Jesuíta), onde funcionou o convento, um colégio e uma capela, até à
data da expulsão da Ordem por Marquês do Pombal, em 1759 (Lobato, 1967).
Já em 1766, o então governador Pereira do Lago transformou o espaço em
Palácio residencial dos Governadores-Gerais de Moçambique até à data da
transferência da capital para a actual Maputo.

Fig. 20 – Palácio de São Paulo em cujo 2º piso alberga o Museu de Artes Decorativas

A capela de São Paulo, contígua ao Palácio, foi edificada também pelos


Jesuítas que aproveitaram as ruinas da torre secular de São Gabriel. Esta
igreja ostenta no seu interior alguns elementos decorativos notáveis de Estilo
Sandra Rodrigues Consultancy 22
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Barroco, nomeadamente o altar-mor e o púlpito. Todavia, o seu aspecto


exterior actual remonta às grandes obras concluídas em 1881 e, a
individualizá-la, tem a enorme torre sineira, colocada à direita e encimada por
uma grande pirâmide.

Fig. 21 – Igreja do Palácio de São Paulo

Fig. 22 – Museu de Arte Sacra – junto à Igreja da Misericórdia


Sandra Rodrigues Consultancy 23
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

O Museu de Arte Sacra foi inaugurado em 1969 e foi instalado numa das
salas da Misericórdia. Reúne peças valiosas de várias proveniências das
igrejas da Ilha e de doações particulares. Destacam-se algumas pinturas e
esculturas dos séculos XVII e XVIII, e também vários objectos litúrgicos em
ouro e prata, datando do mesmo período e todos de estilo indo-português.

Fig. 23 – Museu da Marinha (Palácio São Paulo) Fig. 24 – Porcelana chinesa (Museu da Marinha)

No Museu da Marinha pode ver-se um vasto conjunto de espólio


proveniente de naufrágios históricos da época dos Descobrimentos Marítimos e
séculos subsequentes. Tal espólio foi maioritariamente resgatado das várias
estações arqueológicas subaquáticas, ao redor da Ilha de Moçambique,
destacando-se a maior colecção de porcelana chinesa da Dinastia Ming, em
território africano. Todos os museus da Ilha foram recuperados através de
financiamentos e projectos de várias organizações de cooperação
internacional, sendo que o Museu da Marinha foi reabilitado com o apoio de um
consórcio de empresas que laboram na área da arqueologia subaquática, na
costa da província de Nampula, há vários anos, e foi reaberto ao público em
2009.

Na rua paralela à rua de São Paulo (Museu), encontram-se também


outros edifícios de interesse histórico, como é o caso do antigo convento de S.
Domingos e a Igreja contígua de N.ª Sr.ª do Rosário. Este convento foi
instituído aquando da chegada dos missionários à Ilha de Moçambique, por
volta de 1577, mas localizava-se próximo à Fortaleza, tendo apenas passado
Sandra Rodrigues Consultancy 24
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

para a actual localização já na segunda metade do século XVII. Este convento


teve diversos usos ao longo dos séculos e, em 1935, passou ali a funcionar o
Tribunal, mantendo essas funções até à data.

Fig. 25 – Antigo Convento de São Domingos e Igreja de N.ª Sr.ª do Rosário (actual Tribunal)

No âmbito dos templos católicos existentes na cidade da IDM, destaque


também para a Ermida de Santo António, localizada num dos pontos mais altos
da costa Leste da Ilha. Este templo já existia no final do século XVI, embora se
desconheça a data exacta da sua construção. Curiosamente, este era um local
de romaria e congregava não apenas cristãos, mas também hindus e
muçulmanos que consideravam este santo milagreiro. Toda aquela área
envolvente foi desabitada durante séculos, mas, com o tempo e devido à
importância que as entidades episcopais lhe atribuíam, acabou por ser
ampliada no século XIX e foi cercada por um forte que, entretanto, acabou por
desaparecer. Novas obras foram realizadas em 1969, quando se reconstruiu o
templo conforme a traça primitiva. A igreja é de nave única e Estilo Maneirista,
com uma grande capela-mor. A fachada tem um portal e ostenta uma grande
janela rectangular ao nível superior.
Sandra Rodrigues Consultancy 25
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Fig. 26 – Igreja de Santo António.

Importa referir que, no lado Sueste da igreja, junto ao cruzeiro, foram


depositadas ossadas trasladadas do antigo Cemitério da Saúde (que se situava
junto à igreja de N.ª Sr.ª da Saúde).

Fig. 27 – Cruzeiro junto à Igreja de Santo António.

No que se refere a templos católicos na cidade, é de referir ainda a


pequena Capela de São Francisco, construída em 1922 para assinalar a
Sandra Rodrigues Consultancy 26
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

presença daquele padre missionário jesuíta na Ilha de Moçambique, no


decurso da sua viagem para a India, em 1541-1542. Segundo a tradição oral,
aquele era o local escolhido por Francisco Xavier para fazer as suas preces.
Esta capela situa-se na actual rua São Francisco Xavier, junto ao cemitério
cristão, perto da ponte que liga a Ilha a terra firme. Trata-se de um pequeno
templo, com apenas um altar, a que foi acrescentado um alpendre em 1939. O
exterior apresenta um gradeamento.

Fig. 28 – Capela de São Francisco Xavier.

Finalmente e no que diz respeito a templos católicos, no limite entre a


Cidade de Pedra e Cal e a Cidade Macuti, encontra-se a Igreja de N.ª Sr.ª da
Saúde, construída numa parte elevada da Ilha, localizando-se junto ao actual
Hospital da cidade. O templo foi fundado pelos Frades Capuchos, nos anos de
1630, com os donativos de dois importantes moradores e com esmolas de
outros devotos (Rodrigues et Ali, s/d). Julga-se que foi erigida a partir de uma
ermida mais antiga. Após a saída dos Frades Capuchos da Ilha, o edifício ficou
votado ao abandono e mais tarde foi entregue aos Frades da Ordem de São
João, que geriam o hospital real, situado nas imediações e onde,
posteriormente, foi erigido o actual hospital.
Sandra Rodrigues Consultancy 27
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

A partir de 1819 deixou de estar aberta ao culto, mas passou a funcionar


também como casa mortuária dos falecidos no hospital real. Albergou, mais
tarde, também uma escola, catequese e algumas obras sociais. No seu interior
possui um valioso altar indo-português que é um dos mais imponentes da Ilha,
apesar do parco recheio que ostenta. Ao lado desta igreja localizava-se o
Cemitério da Saúde, onde eram enterrados os pobres da cidade. Mais tarde, o
cemitério foi levantado e as lápides da elite da Ilha foram trasladadas para a
Igreja da Misericórdia, sendo que as ossadas foram depositadas, como já
referimos, junto da Igreja de Santo António, num local assinalado com um
cruzeiro com um pedestal de pedra e uma cruz de ferro da qual resta apenas a
base.

Fig. 29 – Igreja de N.ª Sr.ª da Saúde.

É precisamente na Praça Central ou antigo Largo de São João, junto à


igreja acima descrita, que se localiza o Hospital da cidade, construído sobre o
antigo Convento de São João de Deus da Ordem dos Hospitaleiros, que eram
os responsáveis pelo antigo hospital real, que foi demolido em 1877 para dar
lugar ao novo edifício que ainda hoje serve esse propósito, pese embora o
avançado estado de degradação em que se encontra.
Sandra Rodrigues Consultancy 28
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

O conjunto de edifícios do hospital oitocentista é verdadeiramente


imponente, sobretudo se tivermos em conta as dimensões da Ilha. Nem os
maiores hospitais do império português conseguiam rivalizar com este. Este
hospital compõe-se de um edifício principal com três corpos, e de enfermarias
em edifícios isolados, localizados na parte traseira. Este era servido por 4
cisternas, uma das quais ainda em funcionamento.

Em frente, encontra-se uma área ajardinada e decorada com duas fontes


com repuxos, agora completamente obsoletas e abandonadas.

Fig. 30 – Hospital da Cidade da Ilha de Moçambique no princípio do séc. XX (foto: Rufino, J. S, 1929).

Fig. 31 – Hospital da Cidade da Ilha de Moçambique no princípio do séc. XXI.


Sandra Rodrigues Consultancy 29
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Outro edifício digno de nota pelo se valor patrimonial e histórico e por ainda
se encontrar em uso é a antiga Câmara Municipal – actual Casa do Município.

Figs. 32 / 33 – Câmara Municipal da Cidade da Ilha de Moçambique e pormenor de estátua de ferro na escadaria

No reinado do Rei D. José I, por decreto real, a Ilha de Moçambique foi


elevada à categoria de Vila e dotada de Câmara. Porém, só em 1763 foi
executado esse decreto. Esta é, pois, a data que marca o início da instituição
municipal da Ilha. Essas funções tiveram, então, como albergue algumas casas
doadas pela coroa para o efeito.

No entanto, foi apenas na década de 1780 (já no reinado da Rainha D.ª


Maria I) que foi erigido o actual imóvel da Câmara. Trata-se de um edifício de 2
pisos, com uma elegante fachada, mais tarde destruída para fazer
remodelações. Porém, a porta lateral, à esquerda do edifício (junto à cadeia),
dá acesso a um largo pátio e a uma escadaria, onde ainda hoje são visíveis
elementos e esculturas do período da arquitectura do ferro.

As sucessivas obras de reabilitação alteraram substancialmente o seu


aspecto inicial que, chegou a ser considerado o mais interessante edifício
camarário colonial português, com excepção do de Macau.
Sandra Rodrigues Consultancy 30
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

No âmbito das construções notáveis e de elevado valor histórico em uso


ainda na actualidade, destaque para a Capitânia e o Arsenal. O edifício onde
foi instalada a capitania dos portos foi aquele onde residiam os governadores,
antes de se mudarem para o Palácio de São Paulo (Rodrigues et ali, s/d).
Contiguamente, foi criado o Arsenal, em meados do século XVIII, para albergar
oficinas de carpintaria, serralharia, etc. e era o lugar onde se construíam os
navios. Mas, na sequência de um incêndio, as oficinas foram destruídas e
reedificadas no século XIX. O edifício da capitania dos portos é um dos mais
imponentes da Ilha, compondo-se por 2 pisos e ostenta ainda na sua fachada
principal o brasão da coroa portuguesa.

Fig. 34 – Portal de Entrada do Arsenal da Capitania dos Portos da IDM

Importa também destacar o Forte de S. Lourenço, situado a Sul da Ilha,


num pequeno ilhéu, cujo acesso se faz de barco ou a pé, quando a maré está
baixa. Inicialmente, esta fortificação denominava-se de forte de Santo António,
como aparece registada na antiga documentação (Fonseca, 1973).
Sandra Rodrigues Consultancy 31
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Foi construído com o objectivo de defender a Ilha de ataques


perpetrados por turcos e terá sido edificado entre 1587 e 1589. Mais tarde foi
parcialmente demolido e reedificado em 1695 com o objectivo de defender a
Ilha do expansionismo dos Omanitas que, a partir da Arábia, controlavam parte
da costa oriental africana. Todavia, o seu aspecto actual data de 1830 e
apresenta uma forma triangular, rematada por dois pequenos baluartes
situados nas pontas viradas para dentro. As paredes são grossas e baixas. No
interior, encontram-se os quartéis com tectos em abóbada. O centro é ocupado
por uma pequena praça onde cabiam 22 canhões. Em frente do forte existem a
cisterna e outras dependências, como a casa da guarda. Até meados do século
XX, as populações ainda ali acediam para buscar água.

De acordo com os preceitos das tácticas militares da época, o forte de S.


Lourenço cruzava fogo com a Fortaleza de São sebastião.

Fig. 35 – Forte de S. Lourenço localizado no ilhéu homónimo.

Outro elemento assaz importante para a história da cidade, já que para


ali convergiam as populações para adquirir produtos alimentares e outros, é o
Mercado Central da cidade. Trata-se de um espaço construído em finais do
século XIX, mas inaugurado em 1905 e que contribuiu para a dignificação da
actividade comercial das gentes da cidade em tempos idos, sendo que ainda
Sandra Rodrigues Consultancy 32
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

hoje se mantém em funcionamento, embora da traça original mantenha apenas


a entrada e o gradeamento. Partilha afinidades arquitectónicas com outros
mercados das antigas colonias portuguesas.

Fig. 36 – Entrada do Mercado Central da Cidade de IDM

Praticamente toda a Cidade de Pedra e Cal é pautada pela existência de


edifícios históricos notáveis e carregados de história e valor patrimonial, onde
cada rua parece ter uma história para contar. Salienta-se a Casa Girassol
(onde funcionam o GACIM e o gabinete da UNESCO, entre outras instituições).
Destaque também para a edificação de estilo Revivalista onde funciona o
actual banco de Moçambique; a Rua dos Arcos, em cujos edifícios existiam a
maioria das principais casas comerciais, tendo sido em tempos a rua nobre da
cidade, entre outras construções.

Atendendo ao facto da Ilha de moçambique ter sido um dos principais


entrepostos comerciais do oceano Índico, onde, naturalmente, se
transaccionavam produtos como ouro, óleo de palma, marfim, especiarias
vindas da India, têxteis, etc.. A Ilha é sobejamente conhecida também por ter
sido palco de um florescente comércio de escravos que, vindos de outras
regiões do interior do país, eram ali vendidos para serem, posteriormente,
levados para as novas colónias do Índico e do Atlântico, principalmente por
mercadores oriundos das várias nações europeias que participaram da epopeia
Sandra Rodrigues Consultancy 33
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

marítima seiscentista e subsequente. Note-se, pois, que na segunda metade de


Setecentos, a exportação de escravos tornou-se o principal ramo de actividade
comercial da IDM. Deste modo é de realçar que um dos sítios de grande
interesse cultural e histórico é o monumento dedicado à memória dos escravos
- o Jardim da Memória - cuja construção se insere no programa Estelas,
Memória e Escravatura nas Ilhas e Países do Oceano Índico, executado pela
Associação Historun, da Ilha de Reunião, em 2007.

Fig. 37 – Jardim da Memória (Monumento aos Escravos)

Fig. 38 – Rostos da Diáspora (Jardim da Memória)


Sandra Rodrigues Consultancy 34
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Tomando em consideração que a IDM acolheu povos de diferentes


etnias e credos religiosos ao longo de séculos, importa referir a existência de
outros templos religiosos consideravelmente importantes, nomeadamente
testemunhos da presença hindu e islâmica na cidade.

Assim, realçamos o Templo Hindu, inserido num vasto jardim, que é o


testemunho dos tempos em que os mercadores hindus, provenientes sobretudo
de Diu e de origem baneane, tinham uma marcante presença na Ilha.
Desconhece-se, porém, quando lhes terá sido dada autorização para
estabelecer o seu templo, localizado no limite da Cidade de Pedra, junto ao
Mercado Central. No entanto, desde 1801, eles mantinham um cemitério perto
da praia de Santo António, onde faziam a cremação dos seus defuntos.

Fig. 39 – Templo Hindu

Contudo, após a tomada das praças portuguesa de Damão, Goa e Diu,


em 1961, pela União Indiana, os indianos foram alvo de práticas
discriminatórias na Ilha de Moçambique, tendo-se afastado para outras regiões.
A comunidade hindu não voltou a refazer-se e, actualmente, existe apenas um
Sandra Rodrigues Consultancy 35
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

sacerdote hindu na Ilha que cuida do templo e permite a entrada de turistas


para o visitarem.

No que respeita aos Templos Islâmicos e tendo em conta a presença


secular de comunidades islâmicas na Ilha, sendo que cerca de 95% da
população é muçulmana, é visível um grande número destes locais de culto,
espalhados um pouco por toda a cidade.

A maioria dos muçulmanos da Ilha segue a corrente sunita, regendo-se


pela escola jurídica Chafita. Apesar de uma presença plurissecular, foi só em
finais do século XIX que surgiram as primeiras formas de organização religiosa
islâmica na Ilha – as confrarias (Medeiros, 1999).

O registo histórico acerca das primeiras mesquitas erguidas na IDM


remete para o tempo em que a Ilha era um importante centro politico e
comercial Swahili. Assim, é difícil estabelecer as datas precisas do surgimento
dos primeiros templos islâmicos na Ilha, tal como a sua localização. Todavia,
há notícia de que a 1ª mesquita existente na cidade foi destruída por religiosos
portugueses ainda no século XVI. Actualmente, existem 7 mesquitas na cidade
da IDM. A principal é a Mesquita Grande, construída na década de 20 do
século passado, em Estilo Árabo-islâmico, e foi inaugurada em 1922. Esta
mesquita é administrada pelo Conselho Islâmico de Moçambique - maior
organização islâmica do país.
Sandra Rodrigues Consultancy 36
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Fig. 40 – Mesquita Grande ou Principal

Este templo caracteriza-se pela sua grandiosidade arquitectónica e pela


beleza do seu minarete. Numa das salas anexas funciona também uma
madrassa (escola islâmica para rapazes).

Fig. 41 – Mesquita Grande ou Principal – pormenor do minarete


Sandra Rodrigues Consultancy 37
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Existem ainda na cidade mais seis mesquitas: a Mesquita da Ponta da


Ilha; a Mesquita Mussanga, na qual, tal como na Mesquita Principal,
prepondera a corrente Sunita;

Fig. 42 – Mesquita Mussanga

A Mesquita Santo António – na zona da baía dos pescadores e que


curiosamente é conhecida por um nome católico, dada a proximidade a que se
encontra da Igreja de Santo António, no bairro homónimo. Esta mesquita está
ligada à confraria Xadulia Intifaqui.

Fig. 43 – Mesquita de Santo António


Sandra Rodrigues Consultancy 38
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Ainda digna de grande interesse histórico e etnográfico é a Mesquita


Bagdade (também conhecida por Mesquita Velha), no centro da Cidade de
Pedra – próximo do Largo de São Paulo na rua que conduz à Fortaleza, e que
reclama ser a mais antiga de todo o território moçambicano, ostentando na
fachada a datação do século XIII.

Fig. 44 – Mesquita Bagdade ou Mesquita Velha

Finalmente, existem ainda duas mesquitas de mulheres – no bairro


Litine, que não lográmos fotografar, já que os fiéis que ali se encontravam não
o permitiram, exigindo um conjunto de formalidades para o efeito, que não
conseguimos efectuar devido à escassez temporal para a execução deste
relatório.
Sandra Rodrigues Consultancy 39
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Por último e ainda no tocante à cidade da IDM, resta destacar os


cemitérios e/ou áreas de enterramentos.

Tendo em linha de conta o facto de a cidade da Ilha ter sido, ao longo


dos séculos, cenário de inúmeras mudanças, construções, demolições e
reconstruções, bem como pelo facto de nela se ter assistido a numerosos
conflitos armados entre povos de várias etnias e nacionalidades, é quase certo
que, em muitas áreas existam sepulturas e valas comuns não assinaladas
presentemente. Assim, deve dar-se especial atenção a toda e qualquer obra
que implique a abertura de fossos, já que é possível que estas possam vir a
revelar alguns destes sítios arqueológicos não identificados. Refira-se, a título
de exemplo, que tal situação ocorreu no ano transacto (2011), aquando da
abertura de uma vala para instalação de um pára-raios, no Largo da Alfândega
– junto à Igreja de São Paulo. Durante estas obras e a um nível estratigráfico
pouco profundo, foi detectado um vasto conjunto de ossadas (presumivelmente
um ossário), e algumas foram inclusive destruídas. Tratava-se de uma área
praticamente insuspeita a nível arqueológico, mas onde se verificou o contrário,
daí os cuidados impreteríveis de que tais obras devem ser alvo.

Fig. 45 – Ossário identificado, em 2011, no Largo da Alfândega


Sandra Rodrigues Consultancy 40
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

No entanto, durante séculos, os moradores cristãos da Ilha foram


sepultados no interior das várias igrejas, como a de S. Domingos, a da
Misericórdia, a da N.ª Sr.ª da Saúde e até dentro da Fortaleza de S. Sebastião.
Porém, e dada a grande quantidade de pessoas ali sepultadas, quando se
perdia a memória dos primeiros ali enterrados, os ossos eram exumados e
depositados em valas comuns ou em ossários - geralmente nos adros das
igrejas, para assim dar lugar a novas inumações. Apenas a elite da Ilha
mantinha no interior dos templos os seus restos mortais.

Fig. 46 – Lápide Funerária no interior da Igreja da Misericórdia

Quanto aos muçulmanos, eram geralmente enterrados nos cemitérios


existentes no continente. Já os escravos, qualquer que fosse a sua religião,
eram lançados na praia, até à proibição progressiva desta prática, sendo que a
partir de 1790 os cadáveres passaram a ser enterrados no areal da
Marangonha e mesmo no continente.

A actual localização dos cemitérios na Ponta sul da Ilha remonta já ao


século XIX, resultado, em boa parte, da proibição dos enterramentos nas
igrejas, em 1844, por decreto do então ministro do Reino - António Bernardo da
Costa Cabral. Daí que, se iniciou a construção de cemitérios, nomeadamente a
Sueste da igreja de Santo António (como acima referimos). Entretanto, por se
Sandra Rodrigues Consultancy 41
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

tratar de uma zona com um terreno demasiado rochoso, este cemitério foi
abandonado quando, em 1879, foi edificado um novo cemitério na Ponta da
Ilha, a sul. Neste cemitério ainda hoje são sepultados os cristãos da cidade.

Fig. 47 – Cemitério Cristão do Século XIX

Fig. 48 – Cemitério Cristão – pormenor de sepulturas


Sandra Rodrigues Consultancy 42
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

O mesmo sucedeu com o cemitério baneane (hindu), inicialmente


localizado junto à praia de Santo António, que foi transferido, em 1852 para o
mesmo extremo sul da Ilha.

Fig. 49 – Cemitério Baneane Hindu

Fig. 50 – Crematório do Cemitério Baneane Hindu


Sandra Rodrigues Consultancy 43
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Nas imediações do bairro de Santo António localiza-se também o


cemitério islâmico, aí estabelecido em 1845, para sepultar os muçulmanos que
não tinham casas no continente. Este cemitério possui uma extensão
considerável, mas já não dispõe de mais espaços livres, pelo que,
presentemente, os defuntos muçulmanos são sepultados, geralmente, no
cemitério principal do bairro 16 de Junho, no continente.

Fig. 51 – Cemitério Islâmico da cidade

Por último, refira-se o cemitério que se encontra no interior da Fortaleza


de São Sebastião e que serviu não apenas para sepultar as vítimas de
doenças ou batalhas, mas também para enterramento de prisioneiros que ali
eram frequentemente fuzilados.
Sandra Rodrigues Consultancy 44
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Fig. 52 – Cemitério da Fortaleza de São Sebastião

No Largo do Obelisco edificado aos Heróis da Grande Guerra, fronteiro à


Fortaleza, existe ainda um outro monumento – o Padrão das Almas, que foi
erigido em memória dos mortos sepultados no primeiro cemitério dos
portugueses, sendo que atrás deste padrão se localizam os túmulos do 1º
capitão do Fortim de São Lourenço – Pêro de Sousa Camelo, e de sua esposa.

Fig. 53 – Padrão da Almas e Túmulo do 1º capitão do Fortim de São Lourenço.


Sandra Rodrigues Consultancy 45
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Por último, em relação aos elementos de valor etnográfico, importa


referir as danças tradicionais da Ilha, como sejam o Tufo ou o Nzope,
realizadas por mulheres; o ancestral Mercado do Artesanato, conhecido por
Feira do Pau, onde se podem adquirir as mais variadas peças de artesanato
tipicamente africano; e, finalmente, o ressurgimento de um meio de transporte
típico da Ilha durante séculos (de influência indiana), mas que fora extinto no
período da guerra civil, tendo sido retomado em 2011: o riquexó - agora puxado
por bicicletas.

Fig. 54 – Riquexó actual impulsionado por bicicleta

4.1 Avaliação de Impactos do Projecto na Cidade da IDM e


Recomendações de Mitigação de Impactos

Considerando que toda a cidade da Ilha é, por si só, um marco de avultado


potencial turístico e de grande importância patrimonial, facto que lhe conferiu,
como referimos supra, o estatuto de Património Cultural da Humanidade, pela
UNESCO, é imperioso que toda a e qualquer obra realizada se revista de
cuidados especiais, a fim de proteger e conservar o património existente,
Sandra Rodrigues Consultancy 46
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

pois só assim se poderão evitar situações como aquela descrita anteriormente


– a destruição do ossário no Largo da Alfândega.

Os impactos resultantes destas obras de beneficiação hidráulica serão


certamente mais positivos do que negativos, se se tomarem as devidas
precauções para a salvaguarda de tal património.

Por outro lado e tendo em consideração que o Projecto prevê apenas a


reabilitação das condutas na parte da Cidade de Pedra e Cal, cremos que
não se verificarão impactos negativos de vulto no património edificado,
excepção para o inevitável pó que se acumulará em alguns edifícios, mas que
facilmente se removerá, até pela acção dos ventos fortes, tão frequentes na
cidade. Todavia, e tendo em conta os antecedentes históricos da cidade da
IDM, é aconselhável que a abertura das valas, onde actualmente se
encontram as condutas desta parte da Ilha, seja acompanhada por
elementos do GACIM ou, preferencialmente, por um arqueólogo
devidamente credenciado.

Já no que respeita à área da Cidade Macuti, o nível de impactos


decorrentes das obras poderá ser muito maior, uma vez que se prevê a
implantação de novas condutas e respectivos ramais de abastecimento
de água. Assim, importa ressalvar, por exemplo, a situação da Rua da Unidade
(na área que se estende para sul da Igreja de Santo António até às cercanias
do cemitério cristão), uma vez que ali existiu um extenso cemitério, antes de
ser trasladado para a sua actual localização, aquando da abertura daquela via,
na década de 60 do século XX.

Figs. 55 / 56 – Rua da Unidade – área do antigo cemitério.


Sandra Rodrigues Consultancy 47
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Portanto, para esta área da cidade, o acompanhamento das obras


por um arqueólogo é de carácter imprescindível, para que, caso sejam
identificados enterramentos ou estruturas, estes possam ser devidamente
assinalados e registados.

Assim e por se tratar de uma cidade com um número invulgar de


património e de valor inestimável, não apresentamos nenhuma matriz de
impactos, mas deixamos simplesmente as recomendações acima
especificadas, ressalvando e reforçando o carácter imprescindível da
presença permanente de um arqueólogo para a acompanhar as obras na
cidade, isto é, na área insular do distrito da Ilha de Moçambique onde se
efectuarão as obras.

5. Património Edificado e Arqueológico nos Cinco Bairros


Continentais do Distrito da Ilha de Moçambique

Os bairros da área continental afectados pela execução das obras de


beneficiação hidráulica do distrito da Ilha de Moçambique são, como já
aludimos, cinco: Maringue, Sanculo A e B, Lumbo, Tocolo e 16 de Junho.

Abaixo apresenta-se a descrição de cada um deles, isoladamente, seguida


da Avaliação dos Impactos e respectivas Matrizes com as Medidas de
Mitigação.

5.1 Bairro Maringue

O bairro Maringue localiza-se na zona litoral, a norte do bairro Jembesse


e da EN 105, logo imediatamente a seguir á ponte que liga à cidade da IDM.

Trata-se de um bairro relativamente recente, cujo crescimento se tem


vindo a acentuar, principalmente desde o final da década de 90 do século
passado. Deste modo, acaba por ser considerado como uma extensão do
Sandra Rodrigues Consultancy 48
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

bairro Jembesse (segundo informação da vereação urbanística do município da


IDM). Assim, os seus moradores praticam os cultos religiosos e enterramentos
no bairro de Sanculo A. Pelo que aquando da prospecção de campo ali
efectuada, não lográmos, pois, identificar quaisquer vestígios arqueológicos.

5.2 Bairro de Sanculo A

Como referimos no capítulo da Contextualização Geral, neste bairro


existem 3 prédios que datam da época colonial, concretamente do século XX.
Trata-se também de um bairro em franca expansão e crescimento, verificado
essencialmente durante o período da guerra civil.

Nesta povoação existem duas mesquitas e uma igreja católica (em


construção de alvenaria). As mesquitas são construídas em materiais
perecíveis.

Fig. 57 – Mesquita no Quarteirão dos prédios (Coord.: S 15º 02.772’ / E 040º 41.628’)
Sandra Rodrigues Consultancy 49
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Fig. 58 – Mesquita localizada a cerca de 20m a Este da estrada (Coord.: S 15º 03.170’ / E 040º 41.509’)

Fig. 59 – Igreja Católica em construção (Coord.: S 15º 03. 069’ / E 040º 41.512’)

Além destes três locais de culto, destacam-se três cemitérios, sendo que
de, norte para sul, se estendem junto da estrada por onde se prevê a abertura
das valas para instalação das condutas de abastecimento de água. Os dois
primeiros localizam-se do lado esquerdo da via (no flanco litoral), e o último
situa-se no ala direita da mesma. Atribuímos, pois, a numeração de I a III a
cada um deles, dado que não têm nomes específicos para ser distinguidos
entre si.

Assim, seguindo a ordem de localização referida supra e a numeração, o


primeiro cemitério (I) encontra-se apenas a 2 metros da via.
Sandra Rodrigues Consultancy 50
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Figs. 60 / 61 – Cemitério I, no sentido norte-sul (Coord.: S 15º 02. 863’ / E 040º 41.554’)

O segundo cemitério (II) de Sanculo A dista do 1º em cerca de 250


metros, para sul, mas encontra-se igualmente do lado esquerdo da estrada,
embora as sepulturas se distanciem da via em aproximadamente 30 metros.
Trata-se do maior cemitério da povoação e também um dos mais antigos.

Figs. 62 / 63 – Cemitério II, sentido norte-sul (Coord.: S 15º 03. 226’ / E 040º 41.521’)

Finalmente, a terceira necrópole (III) da localidade situa-se a cerca de


500 metros de distância do anterior, também no sentido norte-sul, mas
encontra-se do lado direito da estrada onde deverá passar a conduta, a cerca
de 40 metros da via. Como ponto de referência deste local fúnebre existe um
embondeiro secular e uma placa de indicação do projecto “Vilas do Milénio” –
inaugurado em 2007. Pela tipologia das sepulturas e segundo informação dos
locais, estas campas pertencem a antigos régulos e seus familiares.
Sandra Rodrigues Consultancy 51
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Fig. 64 – Cemitério III, sentido norte-sul – flanco drt.º da via (Coord.: S 15º 03. 297’ / E 040º 41.548’)

A partir deste ponto e deixando a via principal de Sanculo A - em


direcção a Sanculo B - estende-se uma via ao longo de cerca de 7 km, via esta
onde está prevista a instalação de uma conduta de distribuição de água. Assim,
ao longo deste itinerário, sensivelmente a meio, encontra-se uma mesquita em
alvenaria, do lado direito da estrada - no sentido Oeste, que se localiza a cerca
de 3 metros do caminho.

Fig. 65 – Mesquita a Oeste de Sanculo A - flanco drt.º da via (Coord.: S 15º 03. 598’ / E 040º 41.364’)
Sandra Rodrigues Consultancy 52
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

5.2.1 Avaliação de Impactos do Projecto no Bairro de Sanculo A

No que se refere aos templos descritos na povoação, cremos que não


sofrerão impactos significativos ou irreversíveis decorrentes das obras, já que
partindo do principio que se usará de sinalética própria para assinalar os
trabalhos e se farão acções de sensibilização às populações para adverti-las
acerca dos ruídos e poeiras que temporariamente se farão sentir, nenhum
deste património sofrerá danos permanentes.

Quanto aos locais de enterramento, a situação é distinta, na medida em


que está programada a abertura de valas para instalação de condutas em
áreas muito próximas muitas dos cemitérios, sendo que muitas sepulturas
poderão vir a ser afectadas permanente e irreversivelmente caso não se
tomem as medidas abaixo descritas:

Tabela 5.2 - 1 Avaliação do impacto da perda e/ou afectação de recursos arqueológicos


(cemitérios I, II e III no bairro de Sanculo A)

Abrang Intensid Duraç Conseq Probab Significâ Natur Con


ência ade ão uência ilidade ncia eza fian
ça

Sem Local Elevada Longo Alta Definiti Elevada -va Alta


mitigação 1 3 Prazo 7 va

Medidas de mitigação imprescindíveis:

 Construção de uma vedação divisória dos cemitérios I, II e III em


relação à estrada, guardando, no caso dos cemitérios II e III uma
distância de cerca de 10 metros do caminho. Esta vedação impedirá a
destruição efectiva dos sítios, que deverão ser marcados com sinalética
indicativa própria.
 Tendo em conta que, no caso específico do cemitério I, a distância das
sepulturas em relação à estrada é apenas de cerca de 2 metros,
sugerimos que se altere o percurso de passagem da conduta para, pelo
menos, 20 metros a Oeste da via actual, isto é, que seja aberta a vala
Sandra Rodrigues Consultancy 53
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

por detrás das casas que se encontram à beira da estrada, a Oeste


desta, dado que o número de sepulturas ali implantadas e a
antiguidade das mesmas inviabiliza a sua trasladação.
Com Local Média Curto Baixa Improv Reduzida -va Alta
mitigação 1 2 Prazo 2 ável

5.3 Bairro de Sanculo B

A designação de bairro de Sanculo B é meramente conceptual e


proposta neste relatório apenas como indicação de uma nova área de
expansão do bairro de Sanculo, já que para as populações locais não existe
esta nomenclatura. Assim, trata-se também de uma área com assentamentos
relativamente recentes e que deve o seu crescimento, em boa parte devido ao
facto de aí se terem construído uma Escola e um Centro de Saúde.

Nesta povoação encontra-se uma mesquita em alvenaria e um cemitério


bastante antigo que lhe é contíguo, ambos do lado esquerdo da estrada (onde
passará a conduta de água), no sentido Oeste, situando-se aproximadamente a
cerca de 2 metros da via.

Figs. 66 / 67 – Mesquita de Sanculo B e Cemitério contíguo (Coord.: S 15º 03. 560’ / E 040º 40.379’)
Sandra Rodrigues Consultancy 54
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

5.3.1 Avaliação de Impactos do Projecto no Bairro de Sanculo B

Relativamente ao único templo e cemitério identificados nesta localidade


e por se localizarem somente a cerca de 2 metros da via onde se prevê a
abertura do fosso para instalação das condutas, cremos ser imprescindível que
se faça um desvio da instalação da conduta para uma área que diste dali em,
pelo menos, 20 metros, possivelmente para uma zona mais a norte, evitando
assim a afectação daquele património edificado e arqueológico.

Tabela 5.3 - 2 Avaliação do impacto da perda e/ou afectação de recursos edificados e


arqueológicos (mesquita e cemitério no bairro de Sanculo B)

Abrang Intensid Duraç Conseq Probab Significâ Natur Con


ência ade ão uência ilidade ncia eza fian
ça

Sem Local Elevada Longo Alta Definiti Elevada -va Alta


mitigação 1 3 Prazo 7 va

Medidas de mitigação imprescindíveis:

 Construção de uma vedação divisória da mesquita e do cemitério em


relação à estrada. Esta vedação impedirá a destruição efectiva dos
sítios, que deverão ser marcados com sinalética indicativa própria.
 Tendo em conta que, no caso específico do cemitério, a distância das
sepulturas em relação à estrada é apenas de aproximadamente 2
metros, sugerimos que se altere o percurso de passagem da conduta
para, pelo menos 20 metros a Norte da via actual. Isto é, que a vala
seja aberta do lado oposto da estrada, no flanco norte desta, dado que,
o facto de as sepulturas estarem implantadas junto da mesquita
(edifício antigo em alvenaria), e serem também bastante antigas
inviabiliza a sua trasladação.
Com Local Média Curto Baixa Improv Reduzida -va Alta
mitigação 1 2 Prazo 2 ável

1
Sandra Rodrigues Consultancy 55
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

5.4 Bairro da Vila do Lumbo

Como referimos no capítulo da Contextualização Geral, a Vila de Lumbo


conheceu grande expansão no final do século XIX e nas primeiras décadas do
século XX.

É um bairro relativamente grande, que se estende tanto a norte como a


sul da EN 105 que liga a Ilha a Monapo. Encetámos esta descrição pela área
situada a Sul da Estrada Nacional, onde se localiza a Estação Meteorológica
do Lumbo e o respectivo Aeródromo. O edifício da Estação Meteorológica data
da época colonial e apresenta uma tipologia de construção típica do Estado
Novo, mantendo-se ainda em funcionamento.

Fig. 69 – Estação Meteorológica do Lumbo

Nas imediações deste edifício, encontra-se uma pequena mesquita, feita


em alvenaria, com a tradicional cobertura macuti, e que serve apenas aquela
área do bairro.
Sandra Rodrigues Consultancy 56
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Fig. 70 – Mesquita da zona sul do Lumbo (Coord.: S 15º 01. 593’ / E 040º 39.902’)

Importa notar que imediatamente a Este desta mesquita, do outro lado


da via, está prevista, no âmbito do Projecto, a construção dos reservatórios
com as electrobombas, onde é agora visível o aterro para o início das obras. O
aterro encontra-se junto ao limite da área da pista do aeródromo, separado
deste por um gradeamento em arame.

O edifício do aeródromo do Lumbo é também uma construção da época


colonial e ainda se encontra em uso, embora só pontualmente receba aviões
fretados e de pequeno porte.

Fig. 71 – Aeródromo do Lumbo

No que se refere a cemitérios na Vila do Lumbo, importa apenas aludir


ao Cemitério Britânico, também conhecido por Cemitério dos Ingleses,
Sandra Rodrigues Consultancy 57
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

localizado a sensivelmente 4km da EN 105, no lado norte da Vila de Lumbo.


Trata-se de um cemitério construído após 1ª Grande Guerra Mundial para
acolher corpos dos militares, dos países da Commonwealth, mortos em
combate e que se encontravam sepultados inicialmente nos cemitérios
europeus de Lumbo, Chinde, Quelimane e na Vila de Bocafe. Também neste
cemitério existe um Memorial de homenagem aos militares abatidos em
combates em África ou na Índia e cujos cadáveres estão sepultados em parte
incerta. Os seus nomes encontram-se gravados em lápides murais.

Figs. 72 / 73 – Memorial aos militares da Commonwealth, mortos na 1ª grande Guerra Mundial e sinalética

Fig. 74 – Cemitério dos Ingleses, no Lumbo (Coord.: S 15º 00. 980’ / E 040º 40.145’)

Presentemente, os defuntos do bairro do Lumbo são maioritariamente


sepultados no cemitério central do bairro 16 de Junho (que descreveremos
Sandra Rodrigues Consultancy 58
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

adiante), pelo que não localizámos mais nenhum outro sítio de inumações
naquele bairro.

No que se refere a locais de culto Islâmico, no lado norte do bairro,


existem duas mesquitas, sendo que a principal, em alvenaria, apresenta um
tanque e torneiras para lavagens de purificação que se localizam no exterior
desta, e o tanque é aprovisionado pela empresa de abastecimento de água.

Figs. 75 / 76 – Mesquita Principal do Lumbo e área de Lavagens (Coord.: S 15º 01. 431’ / E 040º 39.944’)

A segunda mesquita da zona a norte do bairro do Lumbo, mas próximo à


EN105 e a cerca de 30 metros do limite com o bairro de Tocolo, caracteriza-se
por ser em alvenaria, por apresentar dimensões reduzidas e por ter um
pequeno cemitério contíguo, onde, segundo informações dos locais, já não se
fazem enterramentos.

Figs. 77 / 78 – Pequena Mesquita do Lumbo e antigo Cemitério (junto à EN 105 – lado drt.º no sentido Este-
Oeste) (Coord.: S 15º 01. 730’ / E 040º 38.948’).
Sandra Rodrigues Consultancy 59
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

O único templo cristão do bairro é uma Igreja Católica situada em frente


ao mar, também na zona norte, na rua dos antigos Caminhos-de-ferro. Trata-se
de um templo que data de meados do século XX e ainda se mantém em uso.

Fig. 79 – Igreja Católica do Lumbo (Coord.: S 15º 00. 505’ / E 040º 39.870’)

Por último, nesta localidade, destaca-se um conjunto de casas de feição


colonial, situadas na rua da marginal (em frente ao mar), que, apesar da beleza
dos seus traços arquitectónicos, infelizmente se encontram em elevado estado
de degradação, embora algumas continuem habitadas.

Fig. 80 – Casas de feição Colonial na rua dos antigos Caminhos-de-ferro.


Sandra Rodrigues Consultancy 60
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Para concluir e meramente a título de nota, salientam-se nesta povoação


alguns edifícios de finais do século XIX e princípios do século XX, como sejam
a antiga Estação de Correios e Telégrafos, a antiga Ponte Cais do Lumbo ou o
Grande Hotel, elementos já mencionados no capítulo da Contextualização
Geral, com indicação das respectivas coordenadas sob as fotografias
ilustrativas ali apresentadas.

5.4.1 Avaliação de Impactos do Projecto no Bairro do Lumbo e


Recomendações

No que se refere aos templos descritos na Vila do Lumbo, cremos que


não sofrerão impactos significativos ou irreversíveis decorrentes das obras, já
que partindo do principio que se usará de sinalética própria para assinalar os
trabalhos e se farão acções de sensibilização às populações para adverti-las
acerca dos ruídos e poeiras que temporariamente se farão sentir, nenhum
deste património sofrerá danos permanentes.

Todavia, julgamos necessário que, em sinergia com as autoridades


locais, se estabeleçam protocolos que comtemplem a limpeza de alguns
elementos patrimoniais, após a execução das obras, nomeadamente no caso
da Estação Meteorológica, da Igreja Católica, da Mesquita Principal e do
Cemitério dos Ingleses, dado que as poeiras decorrentes da abertura das valas
poderão contribuir para a danificação do aspecto exterior daqueles elementos.
De entre estes, destacamos de forma mais veemente o caso do edifício da
Estação Meteorológica, uma vez que se localiza numa área muito próxima do
local onde serão construídos os reservatórios e, consequentemente, a
movimentação de terras será mais acentuada do que nos casos das aberturas
dos fossos para instalação das condutas.

Recomendamos ainda a colocação de sinalética apropriada, aquando do


processo de remoção de terras tanto na área norte como na área sul do bairro,
sobretudo por se tratar de uma zona com bastante circulação de veículos e
pessoas.
Sandra Rodrigues Consultancy 61
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Quanto aos locais de enterramento, nomeadamente o cemitério, junto à


pequena mesquita (no lado norte da EN 105 – sentido Este-Oeste, próximo do
limite do bairro de Tocolo), não apresentamos medidas de mitigação de
impactos, uma vez que a instalação da conduta de água está programada para
o lado sul da EN 105 e a uma distância considerável do local.

5.5 Bairro de Tocolo

Nesta localidade lográmos identificar uma mesquita em alvenaria, a


cerca de 5 metros da EN 105, do lado drt.º - no sentido Este-Oeste, ou seja no
lado oposto daquele onde se prevê a passagem da conduta de abastecimento
de água. Porém, há notícia da existência de uma segunda mesquita na
povoação, mas consideravelmente fora da área residencial, pelo que não
lográmos identifica-la.

Fig. 81 – Mesquita Principal do Bairro de Tocolo.

Ainda no bairro de Tocolo, mas a aproximadamente 150 metros da EN


105, do lado esquerdo desta para o interior, no sentido Este-Oeste, junto da
actual Escola Primária Completa, localizámos um conjunto de ruinas de uma
Sandra Rodrigues Consultancy 62
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

antiga base militar da época colonial que foi posteriormente ocupada pelas
forças da FRELIMO, durante a guerra civil. Trata-se de um local com algum
interesse histórico, mas cujo elevado estado de degradação inviabiliza qualquer
análise arquitectónica/arqueológica mais profunda. Porém, de todo o conjunto
de estruturas, salienta-se, em melhores condições, um antigo paiol
subterrâneo. Assim, e atendendo às grandes dimensões do espaço, é provável
que nas suas imediações haja valas comuns de enterramento. Todavia e dado
que estas ruinas distam consideravelmente da área de passagem das condutas
de abastecimento de água, julgamos que o sítio não será afectado, pelo que
não representa um óbice à execução das obras.

Figs. 82 / 83 – Ruinas do Paiol e Base Militar da Frelimo - Tocolo (Coord.: S 15º 01. 613’ / E 040º 38.013’)

5.5.1 Avaliação de Impactos do Projecto no Bairro de Tocolo e


Recomendações

No que se refere ao templo descrito na localidade de Tocolo, julgamos


que não sofrerá quaisquer impactos significativos ou irreversíveis decorrentes
das obras, já que partindo do principio que se usará de sinalética própria para
assinalar os trabalhos e se farão acções de sensibilização às populações para
adverti-las acerca dos ruídos e poeiras que temporariamente se farão sentir,
nenhum deste património sofrerá danos permanentes.

Recomendamos ainda a colocação de sinalética apropriada, aquando do


processo de abertura de valas, sobretudo por se tratar de uma zona com
Sandra Rodrigues Consultancy 63
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

bastante circulação de veículos e pessoas e atendendo ao facto de que a


conduta passará muito próximo da EN 105.

Caso esteja previsto um ramal de ligação de uma conduta à Escola


Primária Completa de Tocolo, sugerimos que se contacte um elemento do
GACIM da cidade da IDM, a fim de seguir o processo de abertura da vala, já
que, o facto de existir ali um antigo aquartelamento militar torna possível o
aparecimento de vestígios de novas estruturas ou mesmo de sepulturas. Esta
é, contudo, uma recomendação de carácter facultativo.

5.6 Bairro de 16 de Junho

O bairro de 16 de Junho, tal como a maioria daqueles já descritos,


assistiu a um grande crescimento durante o período da guerra civil e, por
razões estratégicas, desenvolveu-se bastante ao longo da EN 105.

No que se refere a locais de culto, identificámos nesta povoação uma


mesquita – Mesquita Central, e uma igreja de culto cristão – a Igreja Adventista
do 7º Dia.

A mesquita situa-se a aproximadamente 5 metros da EN 105 e é uma


construção em alvenaria, marcada por alguma imponência quando comparada
com as mesquitas descritas nos restantes bairros, à excepção daquelas da
cidade da IDM. Apresenta-se rodeada de muros e um pequeno largo fronteiro,
o que traduz a grande afluência de fiéis àquele templo.
Sandra Rodrigues Consultancy 64
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Figs. 84 / 85 – Mesquita Central do Bairro de 16 de Junho (Coord.: S 15º 02. 372’ / E 040º 40.892’)

A Igreja Adventista do 7º Dia encontra-se edificada em alvenaria e situa-


se já no interior do bairro, no flanco esquerdo da EN 105, para interior e em
sentido Este-Oeste. Caracteriza-se por um elemento típico deste tipo de
templo, encimada com uma espécie de pináculo, o que a torna visível a alguma
distância. Não apresenta grandes dimensões, o que traduz a existência de uma
pequena comunidade de fiéis. Porém, a sua localização junto de um dos
ramais por onde se prevê a passagem das condutas, implica necessariamente
algumas medidas, para que se conserve do aspecto cuidado que agora
apresenta.

Fig. 86 – Igreja Adventista do 7º Dia, Bairro de 16 de Junho (Coord.: S 15º 02. 725’ / E 040º 41.074’)

Quanto a locais de enterramento, nesta povoação destacam-se dois


grandes cemitérios.
Sandra Rodrigues Consultancy 65
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

O primeiro – Cemitério Local - está situado junto à estrada vicinal que da


EN 105 se dirige para o interior, no flanco esquerdo, em sentido Este-Oeste.
Esta necrópole apresenta dimensões consideráveis, estendendo-se ao longo
de uma área de aproximadamente 100mx100m e onde ainda hoje se sepultam
exclusivamente os defuntos do bairro. Porém, como no caso dos cemitérios do
bairro de Sanculo A, as sepulturas desta necrópole localizam-se muito perto da
estrada vicinal (onde está prevista a passagem da conduta de água), a uma
distância que varia entre os 2 e os 10 metros.

Figs. 87 / 88 – Cemitério Local do Bairro de 16 de Junho (Coord.: S 15º 02. 440’ / E 040º 40.707’)

O segundo cemitério, e principal, também designado por Cemitério


Central do bairro 16 de Junho, situa-se também nesta povoação, na fronteira
entre este bairro e o de Sanculo A, mas recebe os defuntos do bairro do
Lumbo, Maringue, Jembesse, alguns de Sanculo e ainda os da cidade da Ilha
de Moçambique.

Trata-se um cemitério de grandes dimensões, numa área de


aproximadamente 200m x 250m, possuindo ainda terreno para poder expandir-
se mais para o interior. Localiza-se a cerca de 30 metros da estrada vicinal por
onde está programada a passagem da conduta de abastecimento de água.
Sandra Rodrigues Consultancy 66
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Fig. 89 – Cemitério Central do Bairro de 16 de Junho (Coord.: S 15º 02. 952’ / E 040º 40.739’)

Fig. 90 – Cemitério Central do Bairro de 16 de Junho – pormenor (Coord.: S 15º 02. 952’ / E 040º 40.739’)

No que se refere a património arqueológico, edificado ou etnográfico,


não detectámos mais nenhuns elementos dignos de nota em nenhum dos
bairros onde foram efectuadas pesquisas e prospecção de campo.
Sandra Rodrigues Consultancy 67
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

5.6.1 Avaliação de Impactos do Projecto no Bairro de 16 de Junho

No que se refere aos locais de culto religioso descritos no bairro, cremos


que não sofrerão impactos significativos ou irreversíveis provocados pelas
obras, uma vez que que partindo do principio que se usará de sinalética própria
para assinalar os trabalhos e se farão acções de sensibilização às populações
para as acautelar acerca dos ruídos e poeiras que temporariamente se farão
sentir, nenhum deste património sofrerá danos permanentes.

No entanto, sugerimos um cuidado especial no caso do templo cristão


(Igreja Adventista do 7º Dia), uma vez que a passagem da conduta se fará
muito próximo deste. Assim, recomendamos, facultativamente, o contacto com
o líder religioso local, a fim de se encontrarem soluções que prevejam a
limpeza do imóvel após as obras, caso tal se afigure necessário.

Quanto aos locais de enterramento, a situação é bastante mais delicada,


na medida em que está programada a abertura de fossos para instalação de
condutas em áreas muito próximas dos cemitérios, designadamente nas
estradas que lhes passam adjacentes, sendo que muitas sepulturas poderão vir
a ser afectadas permanente e irreversivelmente caso não se tomem as
medidas abaixo descritas. Por outro lado, sendo que o Cemitério Central deste
bairro é, actualmente, o maior desta área do distrito, servindo a maioria os
bairros vizinhos e mesmo da cidade, a sua salvaguarda é um imperativo.

Tabela 5.6 –3 Avaliação do impacto da perda e/ou afectação de recursos arqueológicos


(Cemitério Central e Cemitério Local – ambos no bairro 16 de Junho)

Abrang Intensid Duraç Conseq Probab Significâ Natur Con


ência ade ão uência ilidade ncia eza fian
ça

Sem Local Elevada Longo Alta Definiti Elevada -va Alta


mitigação 1 3 Prazo 7 va

Medidas de mitigação imprescindíveis:


Sandra Rodrigues Consultancy 68
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

 Construção de uma vedação divisória dos Cemitérios Central e Local


em relação à estrada, guardando, no caso do Cemitério Central uma
distância de cerca de 20 metros do caminho. Esta vedação impedirá a
afectação das necrópoles, que deverão ser marcadas com sinalética
indicativa própria.
 Tendo em conta que, no caso específico do Cemitério Local, a distância
das sepulturas em relação à estrada varia entre os 2 e os 10 metros,
sugerimos que se altere o percurso de passagem da conduta para, pelo
menos, 20/30 metros a Sul da via actual, contornando eventualmente
as casas que ali se encontram, passando as condutas por detrás
destas, dado que o grande número de sepulturas ali implantadas e a
antiguidade das mesmas inviabiliza a sua trasladação.
Com Local Baixa Curto Baixa Improv Reduzida -va Alta
mitigação 1 1 Prazo 2 ável

6. Conclusões

Em jeito de conclusão, importa ressalvar o facto de que a maioria dos


recursos patrimoniais e arqueológicos descritos, nomeadamente na cidade da
Ilha de Moçambique, estão sobejamente estudados e possuem,
inclusivamente, o estatuto de Património Cultural da Humanidade, facto que
confere a esta região do país um elevado potencial, sobretudo a nível turístico.

Por outro lado, constatámos, ao longo deste estudo de pormenor, que o


Projecto em causa não afectará de forma permanente, incisiva ou irreversível o
património histórico edificado ou arqueológico nas áreas de influência directa
ou indirecta do projecto.

Porém, há que ter em consideração que alguns dos bairros da área de


influência directa do Projecto carecem ainda de infra-estruturas capazes de os
tornar igualmente pólos de atracção para a fixação das populações. Deste
modo, um Projecto como este representa, por certo, uma mais-valia para o
Sandra Rodrigues Consultancy 69
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

desenvolvimento local e também poderá ser um factor decisivo para atrair a


população excessiva que habita na área insular, conduzindo-a à fixação
naqueles bairros, o que por consequência, contribuirá não apenas para a
melhoria da qualidade de vida na cidade, mas também para a criação de novas
actividades e geração de emprego fora da área urbana.

Cumpre-nos, de resto, uma vez mais, reiterar as recomendações propostas


acima, a fim de que toda e qualquer obra que venha afectar essas áreas, seja
devidamente acompanhada por peritos, de modo a evitar-se danos colaterais e
irreversíveis tanto para o património em causa como para as populações que
dele dependem. Referimo-nos principalmente à cidade da IDM, onde o
acompanhamento das obras por um arqueólogo deverá ser condição sine
qua non.

7. Bibliografia

AAVV, 2000. História Geral de Moçambique - parte I – Primeiras Sociedades


Sedentárias e Impacto dos Mercadores, 200/300-1885, Vol. I, Direcção de
Carlos Serra, Livraria Universitária, Maputo.

Albuquerque, Luís de, 1978. Escalas da Carreira da Índia, Junta de


Investigações Científicas do Ultramar, Série Separatas, Lisboa.

ARPAC, s/d. Comissão dos Monumentos e Relíquias Históricas da Província


de Moçambique.

Duarte, R.T., 1987. Moçambique e o Índico – Evidências arqueológicas do


passado de Moçambique na sua relação com a História dos contactos
comerciais entre os diversos povos do Oceano Índico, Trabalhos de
Arqueologia e Antropologia, DAA/UEM, 3, pp. 4-20, Maputo.

Fonseca, Pedro Quirino da, 1972. Algumas Descobertas de Interesse


Histórico- Arqueológico na Ilha de Moçambique, in Monumenta, Boletim da
Comissão dos Monumentos Nacionais de Moçambique, nº8, Moçambique.
Sandra Rodrigues Consultancy 70
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Henriksen, T.H., 1978. Mozambique – a History, Rex Collings, London.

IGESPAR, 2007. Ilha de Moçambique, Boletins Informativos, Lisboa.

Lobato, Alexandre, 1967. A Ilha de Moçambique – Panorama Histórico,


Agência Geral do Ultramar, Lisboa.

Medeiros, Eduardo, 1999. Irmandades Muçulmanas do Norte de Moçambique,


in ANGIUS, Matteo e ZAMPONI, Mário, Ilha de Moçambique. Convergência de
Povos e Culturas, AIEP editore, San Marino.

Pereira, Alberto F. M., 1966. A Arte em Moçambique, parte 1, Instituto


Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, Lisboa.

Rodrigues, Eugénia et ali, s/d., Ilha de Moçambique, Alcance Editores,


Moçambique.

Santos Júnior, J.R. dos, 1950. Carta da Pré-história de Moçambique,


Congresso Luso-Espanhol para o progresso da Ciências, 4ª Secç.
CiênciasNaturais, t.-5:647-656, Lisboa.

Cartas e Plantas

 Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar/Direcção de


Infra-Estruturas do Exercito: “Planta da Fortaleza de São Sebastião da
Cidade de Mossambique”, por Xavier S. von Belliken, 1821, GEAM/DIE,
1216-2A-24A-111.

 “Planta da Fortaleza e Ilha de Mossambique”, por V. Alvares da Silva,


1843, GEAEM/DIE, 1211-2A-24A- 111.

Fotografias Antigas
Sandra Rodrigues Consultancy 71
Plano de Gestão Ambiental do Distrito da Ilha de Moçambique

Ribeiro, Manuel Ferreira, 1877. A província de S. Tomé e Príncipe e


suas dependências ou a salubridade e insalubridade relativa das províncias do
Brazil, das Colónias de Portugal e de outras nações da Europa, Imprensa
Nacional, Lisboa.

Rufino, José dos Santos, 1929. Álbuns fotográficos e descritivos da


colónia de Moçambique, Hamburgo.

Arqueóloga Sandra Rodrigues

(Coordenação)

Carlito Orlando e Luigi Graglia

(Assistentes de Campo)

Você também pode gostar