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Supremo Tribunal Federal

Decisão sobre Repercussão Geral

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 18

28/05/2015 PLENÁRIO

REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 881.502 RIO


GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. TEORI ZAVASCKI


RECTE.(S) : PEDRO DANILO DE OLIVEIRA
ADV.(A/S) : BRENNER PEREIRA FERRÃO E OUTRO(A/S)
RECDO.(A/S) : FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL FEDERAL
RECDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO. DEMORA
DO PODER PÚBLICO EM PROCEDER ÀS AVALIAÇÕES DOS
SERVIDORES. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
1. Possui natureza infraconstitucional a controvérsia relativa à
pretensão de indenização por danos materiais decorrentes da demora do
Poder Público em proceder à avaliação dos servidores em atividade, para
o fim de pagamento de gratificação de desempenho.
2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de
repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada
ou quando eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou
reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).
3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos
do art. 543-A do CPC.

Decisão: O Tribunal, por maioria, reconheceu a inexistência de


repercussão geral da questão, por não se tratar de matéria constitucional.
Não se manifestaram os Ministros Gilmar Mendes e Cármen Lúcia.

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RE 881502 RG / RS

Ministro TEORI ZAVASCKI


Relator

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REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 881.502 RIO


GRANDE DO SUL

Decisão: 1. Trata-se de recurso extraordinário


interposto em demanda visando à indenização por danos
materiais decorrentes da demora injustificada na
regulamentação das avaliações de desempenho, para o
fim de pagamento da Gratificação de Desempenho da
Carreira da Previdência, da Saúde e do Trabalho
(GDPST). Alega o autor que, após a regulamentação das
avaliações de desempenho e o término do primeiro ciclo
de avaliação, a Fundação Nacional da Saúde (FUNASA)
passou a conceder a GDPST em seu percentual máximo
(100 pontos), com pagamento retroativo a janeiro de
2011. Acrescenta que, por culpa exclusiva da FUNASA e
da União, houve demora de quase 3 (três) anos na
fixação dos critérios e das metas globais de avaliação
dos servidores, período durante o qual o autor
percebeu a gratificação no percentual de 80 pontos.
Pede, por isso, a condenação das demandadas a
indenizar os danos materiais sofridos, correspondentes
às diferenças dos valores relativos à GDPST entre
janeiro de 2009 e dezembro de 2010, no equivalente a
20 pontos mensais.
A sentença julgou improcedente o pedido, sob o
fundamento de que não há ilícito cometido, porque não
ficou caracterizada nenhuma ação ou omissão
legislativa que pudesse causar dano ao destinatário da
gratificação, à medida que está previsto na própria
lei o momento da efetivação dos efeitos financeiros da
GDPST (fl. 3, peça 19). A Turma Recursal manteve a
sentença pelos próprios fundamentos.
No recurso extraordinário, a parte recorrente
sustenta, preliminarmente, a existência de repercussão
geral da matéria, conforme estabelece o art. 543-A, §
2º, do CPC, porquanto possui notória relevância

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econômica, política e social. No mais, aponta ofensa


aos arts. 5º, V e XXXV, e 37, caput, da Constituição
Federal, pois (a) a Lei 11.355/06 não concedeu margem
de discricionariedade ao administrador público,
obrigando-o a analisar o desempenho dos servidores
públicos e a pagar a GDPST com base no resultado das
avaliações; (b) a demora injustificável de 33 meses
para proceder à tal avaliação causou prejuízo aos
servidores que se destacaram no cumprimento do dever
funcional. Pede a reforma do acórdão e a consequente
procedência da demanda.
Em contrarrazões, a parte recorrida sustenta que se
trata de questão infraconstitucional, o que leva ao
não conhecimento do recurso. No mérito, pede o
desprovimento do recurso.

2. O recurso extraordinário não pode ser conhecido


quanto à alegada ofensa ao art. 5º, XXXV, da CF/88.
Isso porque, não há, na fundamentação do apelo, a
indicação adequada da questão constitucional
controvertida, tendo a parte recorrente deixado de
informar de que modo a Constituição teria sido
violada. Incide, na espécie, o óbice da Súmula 284 do
STF: é inadmissível o recurso extraordinário, quando a
deficiência na sua fundamentação não permitir a exata
compreensão da controvérsia.

3. No mais, não há matéria constitucional a ser


apreciada, uma vez que as instâncias ordinárias
decidiram a controvérsia - relativa à pretensão de
indenização por danos materiais decorrentes da demora
do Poder Público em proceder à avaliação de desempenho
dos servidores em atividade, para o fim de pagamento
de gratificação de desempenho -, tão somente a partir

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de interpretação e aplicação das normas


infraconstitucionais pertinentes (Leis 11.355/06 e
11.784/08, Decreto 7.133/10 e Portaria 3.627/10) e da
apreciação do conjunto fático-probatório dos autos. A
propósito, confiram-se as razões de decidir da
sentença, a qual foi mantida pelos próprios
fundamentos pela Turma Recursal:

A GDPST foi instituída pela Lei nº 11.784/2008, que


introduziu o artigo 5-B na Lei nº 11.355/2006:
Art. 5º-B. Fica instituída, a partir de 1º de março de
2008, a Gratificação de Desempenho da Carreira da
Previdência, da Saúde e do Trabalho - GDPST, devida
aos titulares dos cargos de provimento efetivo da
Carreira da Previdência, da Saúde e do Trabalho,
quando lotados e em exercício das atividades inerentes
às atribuições do respectivo cargo no Ministério da
Previdência Social, no Ministério da Saúde, no
Ministério do Trabalho e Emprego e na Fundação
Nacional de Saúde - FUNASA, em função do desempenho
individual do servidor e do alcance de metas de
desempenho institucional do respectivo órgão e da
entidade de lotação. (Incluído pela Lei nº 11,784, de
2008)
O Decreto nº 7.133, de 19.03.2010 aprovou os critérios
e procedimentos a serem observados para a realização
das avaliações de desempenho individual e
institucional de diversas gratificações, dentre elas a
GDPST.
A regulamentação específica foi feita pela Portaria n°
3.627, de 19.11.2010, que fixou o primeiro ciclo
avaliativo no período compreendido entre 01.01.2011 e
30.06.2011.
Nessa regulamentação foi estabelecida a retroação dos

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efeitos financeiros das avaliações à data da


publicação da própria Portaria (D.O.U., 22/11/2010 -
Seção 1):
Portaria 3.627, de 19.11.2010
I - DO PRIMEIRO CICLO DE AVALIAÇÃO
Art. 30. O primeiro ciclo de avaliação de desempenho
previsto nesta Portaria fica definido como sendo o
período compreendido entre 1º de janeiro de 2011 e 30
de junho de 2011.
Art. 36. O efeito financeiro da avaliação de
desempenho será:
I - (...)
II - para os servidores integrantes da Carreira da
Previdência, da Saúde e do Trabalho retroagirá à data
de publicação desta portaria, em conformidade com o §
6º do art. 10 do Decreto nº 7.133, de 2010, combinado
com o § 10 do art. 5º-B da Lei nº 11.355, de 19 de
outubro de 2006, devendo ser compensadas eventuais
diferenças pagas a mais ou a menos; e (...)' (D.O.U.,
22/11/2010 - Seção 1)
Todavia, a Lei nº 11.355/2006, na redação da Lei nº
11.784/2008, estabeleceu que:
Art. 5-B ( ...)
§ 5º Até que sejam efetivadas as avaliações que
considerem as condições específicas de exercício
profissional, a GDPST será paga em valor
correspondente a 80 (oitenta) pontos aos servidores
alcançados pelo caput deste artigo postos à disposição
dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios,
conforme disposto no art. 20 da Lei nº 8.270, de 17 de
dezembro de 1991. (Incluído pela Lei nº 11.784, de
2008.
A lei garantiu, pois, um patamar mínimo aos servidores
em atividade até que efetivadas as avaliações.

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Independentemente de qualquer avaliação, o servidor


ativo passou a receber a GDPST no patamar de 80
(oitenta) pontos, quando o máximo atingível seria 100
(cem) pontos, ou seja, o legislador assegurou-lhe uma
vantagem imediata.
Verifica-se, pois, que a própria lei determinou como
marco inicial para a efetivação do recebimento da
GDPST, de forma vinculada à avaliação de desempenho
institucional e individual, a data da publicação da
portaria, atrelando os seus efeitos financeiros ao
respectivo ato emanado pelo agente administrativo.
O legislador deixou à discricionariedade do
administrador, o momento da publicação do ato,
tornando-o apenas marco divisor entre o pagamento da
gratificação, sem a devida vinculação à avaliação de
desempenho e o mesmo pagamento, vinculado à avaliação
em referência.
No que concerne à conduta omissiva da Administração
reclamada pela parte autora, é oportuno observar que
não cabe ao Poder Judiciário substituir os outros
Poderes no que diz respeito às suas atribuições
institucionais, sob pena de se macular o Princípio da
Separação dos Poderes, cláusula pétrea na atual ordem
constitucional.
Em que pese o decurso de tempo entre a instituição e a
regulamentação dos critérios e procedimentos
específicos de avaliação, há que se observar que a
própria lei não fixou um prazo determinado para a
edição dos atos regulamentadores. E não o fez por dois
motivos: o primeiro porque a gratificação em análise
integra a remuneração de uma carreira muito ampla
(Carreira da Previdência, da Saúde e do Trabalho); o
segundo porque, conforme já visto, foi assegurado um
patamar de (80 pontos) para que não houvesse prejuízo

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ao servidor enquanto se elaboravam os atos normativos.


Dessa forma, não vislumbro a existência de
ilegalidade, haja vista a administração estar
observando inteiramente os preceitos legais, ao
determinar o início dos efeitos financeiros do
resultado da avaliação, a partir de janeiro de 2011.
Também não há ilícito cometido, porque não ficou
caracterizada nenhuma ação ou omissão legislativa que
pudesse causar dano ao destinatário da gratificação, à
medida que está previsto na própria lei o momento da
efetivação dos efeitos financeiros da GDPST.
Portanto, não há como albergar a pretensão da parte
autora.

O Supremo Tribunal Federal já pacificou a orientação


de que é inviável a apreciação, em recurso
extraordinário, de alegada violação a dispositivo da
Constituição Federal, que, se houvesse, seria
meramente indireta ou reflexa, uma vez que é
imprescindível a análise de normas
infraconstitucionais e o reexame de fatos e provas.
Nesse sentido, em casos idênticos: RE 881.503, Rel.
Min. LUIZ FUX, DJe de 4/5/2015; RE 881.494, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, DJe de 4/5/2015; RE 881.487, Rel. Min.
ROSA WEBER, DJe de 28/4/2015.

4. É relevante destacar, por fim, que a matéria aqui


discutida não se identifica com a que teve a
repercussão geral reconhecida e julgada com
reafirmação de jurisprudência, no RE 631.880-RG (Rel.
Min. CEZAR PELUSO, DJe de 31/8/2011, Tema 409),
relativa à extensão, em relação aos servidores
inativos, dos critérios de cálculo da GDPST
estabelecidos para os servidores em atividade.

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5. O Plenário do Supremo Tribunal Federal firmou o


entendimento de que é cabível a atribuição dos efeitos
da declaração de ausência de repercussão geral quando
não há matéria constitucional a ser apreciada ou
quando eventual ofensa à Constituição Federal ocorra
de forma indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min.
ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009).

6. Diante do exposto, manifesto-me pela inexistência


de repercussão geral da questão suscitada.
Brasília, 8 de maio de 2015.

Ministro Teori Zavascki


Relator
Documento assinado digitalmente

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REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO 881.502 RIO


GRANDE DO SUL

PRONUNCIAMENTO

REPERCUSSÃO GERAL – RECURSO


EXTRAORDINÁRIO – AUSÊNCIA DE
MATÉRIA CONSTITUCIONAL –
INADEQUAÇÃO DO INSTITUTO.

1. A Assessoria prestou as seguintes informações:

Eis a síntese do que discutido no Recurso Extraordinário


nº 881.502/RS, da relatoria do ministro Teori Zavascki, inserido
no sistema eletrônico da repercussão geral em 8 de maio de
2015.
A Quinta Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais
do Rio Grande do Sul negou provimento ao recurso interposto
por servidor público federal, mantendo a sentença mediante a
qual se indeferiu o pleito indenizatório e se assentou que a
Gratificação de Desempenho da Carreira da Previdência, da
Saúde e do Trabalho – GDPST, enquanto não efetuada a
avaliação dos servidores ativos, tem caráter geral, sendo devida
a todos os servidores – ativos e inativos –, na mesma pontuação,
conforme o entendimento adotado pelo Supremo no
julgamento do Recurso Extraordinário nº 476.279/DF.
Considerou prequestionados todos os dispositivos
constitucionais citados no recurso, para fins de interposição de
extraordinário.
Não foram formalizados embargos de declaração.
No extraordinário, protocolado com base na alínea “a” do
permissivo constitucional, o recorrente argui desrespeito aos
artigos 5º, incisos V e XXXV, e 37, cabeça, da Carta da
República. Sustenta ter a União demorado trinta e três meses
para regulamentar a avaliação dos servidores prevista na Lei nº
11.355/06, período no qual recebeu a GDPST no percentual de
80%, tendo passado a receber, após as avaliações, no de 100%.
Segundo afirma, o mencionado prazo ultrapassou o limite da

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razoabilidade, causando-lhe prejuízos. Aduz que, no caso dos


servidores da Carreira do Plano Geral de Pessoal do Executivo,
ante o estabelecido na Lei nº 11.357/06, o resultado do primeiro
ciclo de avaliação retroagiu até janeiro de 2009, o que não
aconteceu com a Carreira da Previdência, Saúde e Trabalho,
cujo resultado inicial foi observado a partir de dezembro de
2010. Diante desse fato, argui a ofensa ao princípio da isonomia.
Sob o ângulo da repercussão geral, enfatiza que a matéria
versada no recurso ultrapassa os limites subjetivos da lide,
mostrando-se relevante do ponto de vista econômico, jurídico e
social. Salienta a existência de milhares de ações com igual
objeto.
A Fundação Nacional de Saúde – FUNASA e a União, nas
contrarrazões, ressaltam preliminarmente, a falta de
prequestionamento dos dispositivos constitucionais tidos por
violados, a ausência de repercussão geral das questões
veiculadas no recurso e a impossibilidade de exame de matéria
fática e infraconstitucional. No mérito, apontam o acerto do ato
impugnado.
O extraordinário foi admitido na origem.
Eis o pronunciamento do ministro Teori Zavascki, no
sentido da ausência de repercussão geral:

Decisão: 1. Trata-se de recurso extraordinário


interposto em demanda visando à indenização por danos
materiais decorrentes da demora injustificada na
regulamentação das avaliações de desempenho, para o fim
de pagamento da Gratificação de Desempenho da Carreira
da Previdência, da Saúde e do Trabalho (GDPST). Alega o
autor que, após a regulamentação das avaliações de
desempenho e o término do primeiro ciclo de avaliação, a
Fundação Nacional da Saúde (FUNASA) passou a
conceder a GDPST em seu percentual máximo (100
pontos), com pagamento retroativo a janeiro de 2011.
Acrescenta que, por culpa exclusiva da FUNASA e da
União, houve demora de quase 3 (três) anos na fixação dos

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critérios e das metas globais de avaliação dos servidores,


período durante o qual o autor percebeu a gratificação no
percentual de 80 pontos. Pede, por isso, a condenação das
demandadas a indenizar os danos materiais sofridos,
correspondentes às diferenças dos valores relativos à
GDPST entre janeiro de 2009 e dezembro de 2010, no
equivalente a 20 pontos mensais.
A sentença julgou improcedente o pedido, sob o
fundamento de que não há ilícito cometido, porque não
ficou caracterizada nenhuma ação ou omissão legislativa
que pudesse causar dano ao destinatário da gratificação, à
medida que está previsto na própria lei o momento da
efetivação dos efeitos financeiros da GDPST (fl. 3, peça 19).
A Turma Recursal manteve a sentença pelos próprios
fundamentos.
No recurso extraordinário, a parte recorrente
sustenta, preliminarmente, a existência de repercussão
geral da matéria, conforme estabelece o art. 543-A, § 2º, do
CPC, porquanto possui notória relevância econômica,
política e social. No mais, aponta ofensa aos arts. 5º, V e
XXXV, e 37, caput, da Constituição Federal, pois (a) a Lei
11.355/06 não concedeu margem de discricionariedade ao
administrador público, obrigando-o a analisar o
desempenho dos servidores públicos e a pagar a GDPST
com base no resultado das avaliações; (b) a demora
injustificável de 33 meses para proceder à tal avaliação
causou prejuízo aos servidores que se destacaram no
cumprimento do dever funcional. Pede a reforma do
acórdão e a consequente procedência da demanda.
Em contrarrazões, a parte recorrida sustenta que se
trata de questão infraconstitucional, o que leva ao não
conhecimento do recurso. No mérito, pede o
desprovimento do recurso.
2. O recurso extraordinário não pode ser conhecido
quanto à alegada ofensa ao art. 5º, XXXV, da CF/88. Isso
porque, não há, na fundamentação do apelo, a indicação

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adequada da questão constitucional controvertida, tendo a


parte recorrente deixado de informar de que modo a
Constituição teria sido violada. Incide, na espécie, o óbice
da Súmula 284 do STF: é inadmissível o recurso
extraordinário, quando a deficiência na sua
fundamentação não permitir a exata compreensão da
controvérsia.
3. No mais, não há matéria constitucional a ser
apreciada, uma vez que as instâncias ordinárias decidiram
a controvérsia - relativa à pretensão de indenização por
danos materiais decorrentes da demora do Poder Público
em proceder à avaliação de desempenho dos servidores
em atividade, para o fim de pagamento de gratificação de
desempenho -, tão somente a partir de interpretação e
aplicação das normas infraconstitucionais pertinentes
(Leis 11.355/06 e 11.784/08, Decreto 7.133/10 e Portaria
3.627/10) e da apreciação do conjunto fático-probatório
dos autos. A propósito, confiram-se as razões de decidir
da sentença, a qual foi mantida pelos próprios
fundamentos pela Turma Recursal:

A GDPST foi instituída pela Lei nº 11.784/2008,


que introduziu o artigo 5-B na Lei nº 11.355/2006:

Art. 5º-B. Fica instituída, a partir de 1º de


março de 2008, a Gratificação de Desempenho
da Carreira da Previdência, da Saúde e do
Trabalho - GDPST, devida aos titulares dos
cargos de provimento efetivo da Carreira da
Previdência, da Saúde e do Trabalho, quando
lotados e em exercício das atividades inerentes
às atribuições do respectivo cargo no Ministério
da Previdência Social, no Ministério da Saúde,
no Ministério do Trabalho e Emprego e na
Fundação Nacional de Saúde - FUNASA, em
função do desempenho individual do servidor

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e do alcance de metas de desempenho


institucional do respectivo órgão e da entidade
de lotação. (Incluído pela Lei nº 11,784, de 2008)

O Decreto nº 7.133, de 19.03.2010 aprovou os


critérios e procedimentos a serem observados para a
realização das avaliações de desempenho individual
e institucional de diversas gratificações, dentre elas a
GDPST.
A regulamentação específica foi feita pela
Portaria n° 3.627, de 19.11.2010, que fixou o primeiro
ciclo avaliativo no período compreendido entre
01.01.2011 e 30.06.2011.
Nessa regulamentação foi estabelecida a
retroação dos efeitos financeiros das avaliações à
data da publicação da própria Portaria (D.O.U.,
22/11/2010 - Seção 1):

Portaria 3.627, de 19.11.2010


I - DO PRIMEIRO CICLO DE
AVALIAÇÃO
Art. 30. O primeiro ciclo de avaliação de
desempenho previsto nesta Portaria fica
definido como sendo o período compreendido
entre 1º de janeiro de 2011 e 30 de junho de
2011.
Art. 36. O efeito financeiro da avaliação de
desempenho será:
I - (...)
II - para os servidores integrantes da
Carreira da Previdência, da Saúde e do
Trabalho retroagirá à data de publicação desta
portaria, em conformidade com o § 6º do art. 10
do Decreto nº 7.133, de 2010, combinado com o
§ 10 do art. 5º-B da Lei nº 11.355, de 19 de
outubro de 2006, devendo ser compensadas

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eventuais diferenças pagas a mais ou a menos; e


(...)' (D.O.U., 22/11/2010 - Seção 1)

Todavia, a Lei nº 11.355/2006, na redação da Lei


nº 11.784/2008, estabeleceu que:

Art. 5-B (...)


§ 5º Até que sejam efetivadas as avaliações
que considerem as condições específicas de
exercício profissional, a GDPST será paga em
valor correspondente a 80 (oitenta) pontos aos
servidores alcançados pelo caput deste artigo
postos à disposição dos Estados, do Distrito
Federal ou dos Municípios, conforme disposto
no art. 20 da Lei nº 8.270, de 17 de dezembro de
1991. (Incluído pela Lei nº 11.784, de 2008.

A lei garantiu, pois, um patamar mínimo aos


servidores em atividade até que efetivadas as
avaliações. Independentemente de qualquer
avaliação, o servidor ativo passou a receber a GDPST
no patamar de 80 (oitenta) pontos, quando o máximo
atingível seria 100 (cem) pontos, ou seja, o legislador
assegurou-lhe uma vantagem imediata.
Verifica-se, pois, que a própria lei determinou
como marco inicial para a efetivação do recebimento
da GDPST, de forma vinculada à avaliação de
desempenho institucional e individual, a data da
publicação da portaria, atrelando os seus efeitos
financeiros ao respectivo ato emanado pelo agente
administrativo.
O legislador deixou à discricionariedade do
administrador, o momento da publicação do ato,
tornando-o apenas marco divisor entre o pagamento
da gratificação, sem a devida vinculação à avaliação
de desempenho e o mesmo pagamento, vinculado à

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avaliação em referência.
No que concerne à conduta omissiva da
Administração reclamada pela parte autora, é
oportuno observar que não cabe ao Poder Judiciário
substituir os outros Poderes no que diz respeito às
suas atribuições institucionais, sob pena de se
macular o Princípio da Separação dos Poderes,
cláusula pétrea na atual ordem constitucional.
Em que pese o decurso de tempo entre a
instituição e a regulamentação dos critérios e
procedimentos específicos de avaliação, há que se
observar que a própria lei não fixou um prazo
determinado para a edição dos atos
regulamentadores. E não o fez por dois motivos: o
primeiro porque a gratificação em análise integra a
remuneração de uma carreira muito ampla (Carreira
da Previdência, da Saúde e do Trabalho); o segundo
porque, conforme já visto, foi assegurado um
patamar de (80 pontos) para que não houvesse
prejuízo ao servidor enquanto se elaboravam os atos
normativos.
Dessa forma, não vislumbro a existência de
ilegalidade, haja vista a administração estar
observando inteiramente os preceitos legais, ao
determinar o início dos efeitos financeiros do
resultado da avaliação, a partir de janeiro de 2011.
Também não há ilícito cometido, porque não
ficou caracterizada nenhuma ação ou omissão
legislativa que pudesse causar dano ao destinatário
da gratificação, à medida que está previsto na
própria lei o momento da efetivação dos efeitos
financeiros da GDPST.
Portanto, não há como albergar a pretensão da
parte autora.

O Supremo Tribunal Federal já pacificou a orientação

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de que é inviável a apreciação, em recurso extraordinário,


de alegada violação a dispositivo da Constituição Federal,
que, se houvesse, seria meramente indireta ou reflexa,
uma vez que é imprescindível a análise de normas
infraconstitucionais e o reexame de fatos e provas. Nesse
sentido, em casos idênticos: RE 881.503, Rel. Min. LUIZ
FUX, DJe de 4/5/2015; RE 881.494, Rel. Min. CELSO DE
MELLO, DJe de 4/5/2015; RE 881.487, Rel. Min. ROSA
WEBER, DJe de 28/4/2015.
4. É relevante destacar, por fim, que a matéria aqui
discutida não se identifica com a que teve a repercussão
geral reconhecida e julgada com reafirmação de
jurisprudência, no RE 631.880-RG (Rel. Min. CEZAR
PELUSO, DJe de 31/8/2011, Tema 409), relativa à extensão,
em relação aos servidores inativos, dos critérios de cálculo
da GDPST estabelecidos para os servidores em atividade.
5. O Plenário do Supremo Tribunal Federal firmou o
entendimento de que é cabível a atribuição dos efeitos da
declaração de ausência de repercussão geral quando não
há matéria constitucional a ser apreciada ou quando
eventual ofensa à Constituição Federal ocorra de forma
indireta ou reflexa (RE 584.608 RG, Min. ELLEN GRACIE,
DJe de 13/3/2009).
6. Diante do exposto, manifesto-me pela inexistência
de repercussão geral da questão suscitada.

2. Repetem-se as situações jurídicas. O relator consigna a ausência de


matéria constitucional e, mesmo assim, determina a inserção do processo
no Plenário Virtual. Relembrem a premissa do instituto da repercussão
geral – o envolvimento de controvérsia constitucional. A partir do
momento em que não se veicula tema de envergadura maior, descabe
inserir o recurso extraordinário, presente a manifesta inadequação do
instituto da repercussão geral, no Plenário Virtual. Fico a imaginar o
objetivo buscado. Ante o sistema, não consigo concebê-lo.

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3. Pronuncio-me pela inadequação do instituto da repercussão geral.

4. À Assessoria, para acompanhar a tramitação do incidente.

5. Publiquem.

Brasília, 19 de maio de 2015.

Ministro MARCO AURÉLIO

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