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CIÊNCIA CRIMINAL
ANO 28 ● N.º 3 ● setembro-dezembro 2018 ● DIRETOR: JORGE DE FIGUEIREDO DIAS
SEPARATA
I.D.P.E.E ANO 28
3
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
Pátio da Universidade | 3004-528 Coimbra | PORTUGAL
Tel.: +351 239 155 993 | Telem: 916 123 214 ISSN 0871-8563
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E-mail: idpee@fd.uc.pt Depósito Legal n.º 93 935/95
RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO DOS MEMBROS...
DE CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO (1)
Heloisa Estellita
Professora da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas
Pós-doutora pelas Universidades de Munique e Augsburg, na Alemanha
Doutora em Direito Penal pela Universidade de São Paulo
A. Introdução
(1)
Este artigo é um resumo de parte da pesquisa de pós-doutorado reali-
zada nas Universidades de Munique e de Augsburg, Alemanha, de 2014 a 2017,
financiada pela Fundação Alexander von Humboldt e CAPES. A íntegra da
pesquisa foi publicada no Brasil em 2017 (Heloisa Estellita, Responsabilidade
de dirigentes de empresas por omissão: estudo sobre a responsabilidade omissiva
imprópria de dirigentes de sociedades por ações, limitadas e encarregados de
cumprimento por crimes praticados por membros da empresa, Madri; Barcelo-
na; Buenos Aires; São Paulo: Marcial Pons, 2017). O estudo abrange também os
efeitos da departamentalização e da delegação de tarefas na cúpula das empresas,
a posição de garante dos encarregados de vigilância (compliance officers) e o
estudo da posição de garantidores nas sociedades limitadas, além de observações
quanto aos demais pressupostos da punibilidade omissiva imprópria. Em razão
dos limites de espaço, não pude reproduzir a integralidade da discussão e da fun-
damentação feitas naquela sede, à qual, portanto, remeto o leitor.
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(2)
Em várias línguas e com links para noticiários locais, cf. https://pt.wiki-
pedia.org/wiki/Rompimento_de_barragem_em_Mariana; https://en.wikipedia.org/
wiki/Bento_Rodrigues_dam_disaster; https://es.wikipedia.org/wiki/Cat%C3%A1s-
trofe_de_las_represas_de_Bento_Rodrigues; https://de.wikipedia.org/wiki/Damm-
bruch_von_Bento_Rodrigues. (Acesso em 18/07/2018).
(3)
Referências ao teor das acusações nos links da Wikipédia da nota anterior.
(4)
Cf. https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_Lava_Jato
(acesso em 18/07/2018), disponível em vários idiomas e com ulteriores referências.
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(5)
A responsabilidade penal de dirigentes por não impedirem a prática de
crimes por outros membros da empresa pode se referir a bens jurídicos da própria
pessoa jurídica, ou a bens jurídicos de terceiros, a ela externos. O foco deste arti-
go é justamente esta segunda hipótese, na qual são bens jurídicos de terceiros os
atingidos, como retratado nos dois exemplos que inauguram o texto.
(6)
Cf. emblemática a pioneira obra de Bernd Schünemann, Unterneh-
menskriminalität und Strafrecht, München: Carl Heymanns Verlag, 1979, passim,
escrita já em 1979. Para ilustrar a atualidade e a importância do tema, apenas
neste ano de 2018, já foram publicadas na Alemanha (pelo menos) duas mono-
grafias de particular relevância: Mathias Noll, Grenzen der Delegation von
Strafbarkeitsrisiken durch Compliance: Zugleich ein Beitrag zur strafrechtlichen
Geschäftsherrenhaftung, Tübingen: Mohr Siebeck, 2018; Tobias Dössinger,
Strafrechtliche Haftungsrisiken von Mitgliedern des Aufsichtsrats in Aktienge-
sellschaften bei Compliance-Pflichtverletzungen des Vorstands, Berlin: Duncker
& Humblot, 2018. Embora central à imputação omissiva imprópria, a posição de
garante é apenas um dos pressupostos do tipo objetivo, sendo os demais, segundo
a opinião majoritária, a situação típica (resultado), a omissão de conduta determi-
nada e exigida de evitação do resultado apesar da capacidade físico-real de fazê-
-lo, o nexo de causalidade e a imputação objetiva do resultado. Discuti algumas
particularidades desses pressupostos em Heloisa Estellita, op. cit., p. 235 ss.
(7)
O termo dirigente é empregado neste texto para abranger tanto os ad-
ministradores de fato, como os de direito, designando todos aqueles que têm uma
relação juridicamente fundada com a empresa caracterizadora de um poder sobre
sua organização, total ou parcial (cf. Ibid., p. 35-36).
(8)
Nada impede que empresas estruturadas sob outras formas societárias,
como as sociedades empresárias limitadas, também optem pela constituição de
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(11)
Este entendimento foi desenvolvido por Schünemann, podendo-se
conferi-lo já em seu Bernd Schünemann, op. cit., p. 62 ss.; ou em seu texto mais
recente, traduzido para o português Bernd Schünemann, “Sobre a posição de
garantidor nos delitos de omissão imprópria - possibilidades histórico-dogmáti-
cas, materiais e de direito comparado para escapar de um caos”, in: Luís Greco
(Org.), Estudos de direito penal, direito processual penal e filosofia do direito,
São Paulo: Marcial Pons, 2013, p. 169 ss.
(12)
Na Alemanha, cf. Werner Beulke, “Der „Compliance Officer” als Auf-
sichtsgarant? Überlegungen zu einer neuen Erscheinungsform der Geschäftsherren-
haftung”, in: Claudis Geisler et al. (Ed.), FS Klaus Geppert, Berlin: Gruyter, 2011,
p. 23–42; no Brasil, Pierpaolo Cruz Bottini, Do tratamento penal da ingerência,
2015, Tese (Livre Docência) - Universidade de São Paulo, 2015, p. 158 ss.
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(13)
Este é o entendimento prevalente na doutrina alemã. Cf. Maxilimilian
Utz, Die personale Reichweite der strafrechtlichen Geschäftsherrenhaftung,
Berlin: Duncker & Humblot, 2016, p. 124 ss., com fartas referências bibliográ-
ficas especialmente na nota 591. Cf. também a última manifestação de Roxin
sobre o tema, Claus Roxin, “Geschäftsherrenhaftung für Personalgefahren”,
in: Cristian Fahl et al. (Ed.), FS Werner Beulke, Heidelberg: C. F. Müller, 2015,
p. 239–256. No Brasil, ilustrativamente, Renato de Mello Jorge Silveira, Di-
reito penal empresarial: a omissão do empresário como crime, Belo Horizonte:
D’Plácido, 2016, p. 205 ss.
(14)
Ademais, casos claros de responsabilidade omissiva imprópria, como
o famoso caso do spray de couro (Lederspray-Fall, Urteil des BGH v. 6.7.1990 —
2 StR 549/89, BGHSt. 37, 107), ficariam sem resposta satisfatória, posto que não
era possível afirmar uma conduta precedente ilícita, já que o produto foi comer-
cializado atendendo a todas as regras de segurança previstas na época. Cf. essa
discussão em Luís Greco; Augusto Assis, “O que significa a teoria do domínio
do fato para a criminalidade de empresa”, in: Luís Greco (Org.) et. al., Autoria
como domínio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de pessoas no
direito penal brasileiro, São Paulo: Marcial Pons, 2014, p. 111 ss.; e em Ronan
Rocha, A relação de causalidade no direito penal, Belo Horizonte: D’Plácido,
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2016, p. 140 ss., encontrará o leitor uma descrição detalhada do caso e da discus-
são sob o viés do nexo de causalidade.
(15)
Posição à qual me alinho em Heloisa Estellita, op. cit., p. 122-125;
discussão mais ampla e com ulteriores referências nas p. 108-125. Argumenta-se
que a autorresponsabilidade do subordinado seria um óbice geral à imputação
omissiva imprópria à cúpula por crimes por ele praticados. O argumento pode
ser superado como procuro demonstrar no trabalho apenas referido (p. 125-127)
e como também demonstram, ilustrativamente, Luís Greco, “Domínio da orga-
nização e o chamado princípio da autorresponsabilidade”, in: Luís Greco (Org.)
et. al., Autoria como domínio do fato: estudos introdutórios sobre o concurso de
pessoas no direito penal brasileiro, São Paulo: Marcial Pons, 2014, p. 203–214,
passim; Ricardo Robles Planas, Garantes y cómplices: la intervención por
omisión y en los delitos especiales, Barcelona: Atelier, 2007, p. 18, e, mais recen-
temente, Mathias Noll, op. cit., p. 34-47.
(16)
No mesmo sentido, Gerhard Dannecker, Ҥ 5 - Strafrechtliche
Verantwortung nach Delegation”, in: Thomas Rotsch (Org.), Criminal Compli-
ance, Baden-Baden: Nomos, 2015, p. 188; Harro Otto, “Die strafrechtliche
Verantwortung für die Verletzung von Sicherungspflichten in Unternehmen”,
in: Andreas Hoyer et. al. (Ed.), FS Schroeder, Heidelberg: C.F. Müller, 2006,
p. 344; Jens Bülte, Vorgesetztenverantwortlichkeit im Strafrecht, Baden-Baden:
Nomos, 2015, p. 232; Pierpaolo Cruz Bottini, op. cit., p. 253; Raquel Mon-
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D. Sociedades anônimas
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(20)
Matéria regulada, no Brasil, pelo art. 138 da Lei n. 6.404/1976, tam-
bém conhecida como Lei das Sociedades Anônimas (adiante, LSA): “Art. 138.
A administração da companhia competirá, conforme dispuser o estatuto, ao con-
selho de administração e à diretoria, ou somente à diretoria. § 1º O conselho de
administração é órgão de deliberação colegiada, sendo a representação da com-
panhia privativa dos diretores. § 2º As companhias abertas e as de capital auto-
rizado terão, obrigatoriamente, conselho de administração”. Para não cansar o
leitor, somente serão transcritos os artigos de lei essenciais à compreensão do
trabalho, uma vez que é fácil o acesso ao texto integral da lei neste sítio ele-
trônico oficial: http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/L6404compilada.htm
(acesso em 18/07/2018). Embora o estatuto possa criar outros órgãos técnicos
e consultivos, seus membros não são considerados administradores pela LSA,
como acontece, inclusive, com os membros do Conselho Fiscal (cf. Marcelo
Vieira von Adamek, Responsabilidade Civil dos Administradores de S.A e as
ações correlatas, São Paulo: Saraiva, 2010., p. 25-26). Por esta razão e porque
a regulamentação será feita nos documentos societários de cada sociedade, não
seria possível extrair elementos gerais que permitissem um exame tal qual o que
será feito adiante para a diretoria e o conselho de administração. A eventual po-
sição de garantidor de seus membros deverá, pois, ser deduzida dos pressupostos
gerais.
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I. Diretoria
(21)
LSA: “Art. 143. A Diretoria será composta por 2 (dois) ou mais dire-
tores, eleitos e destituíveis a qualquer tempo pelo conselho de administração, ou,
se inexistente, pela assembléia-geral, devendo o estatuto estabelecer: I - o número
de diretores, ou o máximo e o mínimo permitidos; II - o modo de sua substituição;
III - o prazo de gestão, que não será superior a 3 (três) anos, permitida a reeleição;
IV - as atribuições e poderes de cada diretor”; “Art. 144. No silêncio do estatuto
e inexistindo deliberação do conselho de administração (artigo 142, n. II e pa-
rágrafo único), competirão a qualquer diretor a representação da companhia e a
prática dos atos necessários ao seu funcionamento regular. Parágrafo único. Nos
limites de suas atribuições e poderes, é lícito aos diretores constituir mandatários
da companhia, devendo ser especificados no instrumento os atos ou operações
que poderão praticar e a duração do mandato, que, no caso de mandato judicial,
poderá ser por prazo indeterminado”.
(22)
Marcelo Vieira von Adamek, op. cit., p. 23.
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(23)
Marcelo Vieira von Adamek, op. cit., p. 18. Em língua inglesa, o sis-
tema é denominado “two-tier boards”, no qual há separação entre as funções de
“managing” e de “monitoring” entre os órgãos societários, como acontece no
Brasil e na Alemanha, em contraposição ao sistema de “one-tier” board no qual
essas funções estão concentradas nas mãos dos membros de uma só “board”,
como acontece nos Estados Unidos, Reino Unido e Japão, por exemplo (Reinier
Kraakman et al. (Org.), The Anatomy of Corporate Law: A Comparative and
Functional Approach, Third edit. Oxford: Oxford University Press, 2017, p. 2).
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(24)
LSA: “Art. 139. As atribuições e poderes conferidos por lei aos órgãos
de administração não podem ser outorgados a outro órgão, criado por lei ou pelo
estatuto”.
(25)
A relação é horizontal, sem hierarquia, cf. Andreas Ransiek, op.
cit., p. 625.
(26)
Ralph Schilha, Die Aufsichtsratstätigkeit in der Aktiengesellschaft im
Spiegel strafrechtlicher Verantwortung, Berlin: Duncker & Humblot, 2008, p. 153.
(27)
Gabriele Neudecker, op. cit., p. 87-88; e também Ralph Schil-
ha, loc. cit.
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1. Atribuições e poderes do CA
(28)
LSA: “Art. 140. O conselho de administração será composto por, no
mínimo, 3 (três) membros, eleitos pela assembléia-geral e por ela destituíveis a
qualquer tempo, devendo o estatuto estabelecer: (...) IV - as normas sobre convoca-
ção, instalação e funcionamento do conselho, que deliberará por maioria de votos,
podendo o estatuto estabelecer quorum qualificado para certas deliberações, desde
que especifique as matérias”.
(29)
Naquelas sociedades nas quais não tenha sido constituído o CA, essas
competências incumbirão à diretoria, a qual deverá deliberar de forma colegiada
sobre elas, cf. Modesto Carvalhosa, Comentários à Lei de Sociedades Anôni-
mas, 5. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 107.
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(30)
Ibid, p. 56; também Marcelo Vieira von Adamek, op. cit., p. 22.
(31)
Ibid., p. 12.
(32)
A exigência de decisões colegiadas tem também impacto relevante
quanto ao estabelecimento do nexo de causalidade, discussão que não pode ser
captada no limite deste texto, razão pela qual remeto o leitor ao que escrevi em
Heloisa Estellita, op. cit., p. 254 ss., com ulteriores referências bibliográficas.
(33)
Especificamente sobre o dever de diligência dos membros do conselho
de administração na jurisprudência do Conselho de Recursos do Sistema Financei-
ro Nacional (CRSFN), cf. Bruno Mayerhof Salama; Vicente Piccoli Braga,
“Dever de Diligência do Conselheiro de Administração: lições da jurisprudência
administrativa nas companhias abertas”, FGV Direito SP Research Paper Series,
v. 146, 2016, p. 1–17, passim.
(34)
LSA: “Art. 158. O administrador não é pessoalmente responsável
pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regu-
lar de gestão; responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando
proceder: I - dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo; II - com
violação da lei ou do estatuto. § 1º O administrador não é responsável por atos
ilícitos de outros administradores, salvo se com eles for conivente, se negligenciar
em descobri-los ou se, deles tendo conhecimento, deixar de agir para impedir a
sua prática. Exime-se de responsabilidade o administrador dissidente que faça
consignar sua divergência em ata de reunião do órgão de administração ou, não
sendo possível, dela dê ciência imediata e por escrito ao órgão da administração,
no conselho fiscal, se em funcionamento, ou à assembléia-geral”.
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418 Heloisa Estellita
(35)
Quer porque ele se refere genericamente a “ilícitos”, não havendo
qualquer qualificação acerca de sua natureza; quer porque a omissão de impedir o
ilícito ali estabelecida prescinde da posição de garantidor, elemento este essencial
para a imputação omissiva imprópria; quer, ainda, porque o princípio da subsidia-
riedade do primeiro impede planificar a responsabilidade penal à civil. Assim, a
imputação do resultado típico não se faz porque o agente omitiu o cumprimento
de um dever extrapenal (societário, por exemplo), mas porque descumpriu um
dever penal especial atrelado à sua posição de garantidor, estabelecida exclusi-
vamente pelo direito penal. Neste sentido é que se pode falar que o art. 13, § 2.º,
CP brasileiro (“§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia
e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha
por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu
a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior,
criou o risco da ocorrência do resultado”), estabelece uma limitação para a aces-
soriedade ao vedar que o mero descumprimento de um dever de agir extrapenal
constitua uma posição de garantidor (cf. Heloisa Estellita, op. cit., p. 141-142).
Seu papel é residual: indiciário da posição de garante e delimitador do alcance e
do conteúdo do dever de agir para evitar o resultado (Ibid., p. 142-144).
(36)
Luiz Antonio Campos, “Deveres e Responsabilidades”, in: Alfredo
Lamy Filho; José Luiz Bulhões Pedreira (Orgs.), Direito das companhias - v. I,
Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 1212-1213.
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(37)
Em sentido similar, embora tratando em geral dos pressupostos da
delegação de competências, cf. Jesús-María Silva Sánchez; Raquel Montaner
Fernández; Nuria Pastor Muñoz, “La responsabilidad penal de los administra-
dores”, in: Guillermo Guerra Martín (Coord.), La responsabilidad de los adminis-
tradores de sociedades de capital, Madrid: La Ley Digital, 2011, p. 21.
(38)
Cf. Fábio Konder Comparato, O poder de controle na sociedade
anônima, 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 80 ss. Em Reinier Kraakman
et. al. (Org.), The anatomy of corporate law: a comparative and functional ap-
proach, 3rd. ed. Oxford: Oxford University Press, 2017, p. 80 ss., encontra-se
estudo comparativo que coloca lado a lado as regulações brasileira e a alemã e que
dá suporte às afirmações aqui feitas quanto às semelhanças entre os dois ordena-
mentos jurídicos nos pontos que entendemos relevantes para a responsabilidade
penal. Outro estudo comparativo envolvendo a legislação alemã em Marco Ven-
toruzzo et al, Comparative corporate Law, St. Paul: West Academic, 2015, p.
249 ss. Sobre sua composição, especialmente marcada pela presença de membros
indicados pelos empregados, e sobre as razões históricas desta opção legislativa,
uma reação a práticas estabelecidas durante a Segunda Guerra Mundial, cf. Mar-
tin Gelter, “Taming or Protecting the Modern Corporation? Shareholder-Stake-
holder Debates in a Comparative Light”, Social Science Research Network Work-
ing Paper Series, 2010, p. 40 ss.
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ações alemã (Aktiengesetz ou AktG (39)), é o § 111 que cuida das atri-
buições do Aufsichtsrat, órgão que se assemelha ao nosso conselho
de administração (40). Sua função principal é a de supervisionar a ad-
ministração da companhia exercida pela diretoria (Vorstand). Tem
ele o poder de examinar os livros e documentos da companhia, bem
como relatórios relativos a seus bens, seu caixa etc. Também decide
por maioria e tem o poder de convocar a assembleia-geral (Haup-
versammlung). Ao Aufsichtsrat não podem ser delegadas ou transfe-
ridas as atividades de gestão da companhia (Geschäftsführung), mas
o estatuto pode determinar que certos negócios dependam de sua
autorização prévia. Se o órgão recusar seu consentimento, a direto-
ria pode recorrer à assembleia-geral para obter autorização. As atri-
buições do conselho não podem ser desempenhadas por outras pes-
soas ou órgãos. Segundo o § 84, ao Aufsichtsrat compete a eleição
e a destituição dos membros da diretoria, neste último caso, quando
houver fundamento relevante, assim considerada, por exemplo, uma
violação grave de seus deveres (41). A competência para a destituição
(39)
Também com relação à AktG, somente transcreveremos e traduzi-
remos livremente os dispositivos essenciais. O texto legal pode ser consultado
nestes sítios eletrônicos: em alemão, https://www.gesetze-im-internet.de/aktg/; e
em inglês, http://www.nortonrosefulbright.com/knowledge/publications/147034/
german-stock-corporation-act-aktiengesetz (acesso em 18/07/2018).
(40)
Adamek traduz Aufsichtsrat como “conselho de supervisão” (Marcelo
Vieira von Adamek, op. cit., p. 84). O sistema alemão também é dual e, por isso,
parece equivocado afirmar que a administração efetiva da sociedade seja incum-
bência do Aufsichtsrat como faz Raquel Montaner Fernández, op. cit., p. 175.
(41)
As normas do Deutscher Corporate Governance Kodex complemen-
tam a regulação legal das relações entre a assembleia-geral, o conselho de ad-
ministração (Aufsichtsrat) e a diretoria. Há versão na língua inglesa em https://
www.dcgk.de/en/code//foreword.html (acesso em 18/07/2018). Sobre a impor-
tância dessa regulamentação no direito penal econômico, cf. Markus Wagner,
Die Akzessorietät des Wirtschaftsstrafrechts Zugleich ein Beitrag zu Begriff und
Wesen des Wirtschaftsstrafrechts, Heidelberg: C. F. Müller, 2016, p. 303 ss. A
BM&FBovespa brasileira também estabeleceu seu próprio sistema de níveis ou
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RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO DOS MEMBROS... 421
segmentos de governança para classificação das companhias abertas que nela ope-
ram. São cinco segmentos com exigências crescentes nos níveis de transparência
e de garantias aos acionistas. Cf. em <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/lis-
tagem/acoes/segmentos-de-listagem/sobre-segmentos-de-listagem/> (acesso em
18/07/2018). Finalmente, a reforma de 2001 na LSA deu poderes à Comissão de
Valores Mobiliários para classificar as companhias abertas em categorias e espe-
cificar as respectivas normas (cf. Marcelo Vieira von Adamek, op. cit., p. 117).
(42)
No mesmo sentido da disciplina brasileira, os ordenamentos britânico,
francês, italiano e japonês, cf. Reinier Kraakman et. al. (Org.), op. cit., p. 55.
(43)
Em pesquisa empírica realizada com empresas listadas na bolsa bra-
sileira em 2005, constatou-se que a independência do conselho de administração
é debilitada em empresas abertas controladas por famílias ou grupos, Bernard
S. Black; Antonio Gledson de Carvalho; Érica Gorga, The Corporate Gov-
ernance of Privately Controlled Brazilian Firms (December 1, 2009). U of Texas
Law, Law and Econ Research Paper No. 109; as published in Revista Brasileira
de Finanças, Vol. 7, 2009; U of Texas Law, Law and Econ Research Paper No.
109; Cornell Legal Studies Research Paper No. 08-014; ECGI - Finance Working
Paper No. 206/2008 (disponível em SSRN: https://ssrn.com/abstract=1003059.
Acesso em 14/08/2018). A estrutura real pode romper o sistema dual, como re-
gistram Reinier Kraakman et. al. (Org.), op. cit., p. 51: “board practices can
blur the distinction between the two structures. Informal leadership coalitions can
short-circuit the legal separation between management and supervisory boards”.
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(44)
Recente diagnóstico acerca do posicionamento da doutrina na Alema-
nha caracteriza-o como “incerto”, Max Schwerdtfeger, Strafrechtliche Pflicht
der Mitglieder des Aufsichtsrats einer Aktiengesellschaft zur Verhinderung von
Vorstandsstraftaten, Berlin: Duncker & Humblot, 2016, p. 46.
(45)
LSA, art. 142, III; AktG, § 111, Abs. 1 (“Der Aufsichtsrat hat die Ge-
schäftsführung zu überwachen”; em tradução livre: “O Aufsichtsrat tem de vigiar
a direção da empresa”).
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(46)
Mais recente: Tobias Dössinger, op. cit., especialmente, p. 437 ss.
(47)
Werner Beulke, op. cit., p. 37, nota 57. Também Daniel Krause,
“Ist der Aufsichtsrat Garant (§ 13 StGB) für die Verhinderung von Straftaten des
Vorstandes? Zur Reichweite der strafrechtlichen Organhaftung”, in: Heiko Ahl-
brecht et. al. (Ed.), FS Wessing, München: C. H. Beck, 2015, p. 241–251, p.
248-249.
(48)
Maxilimilian Utz, op cit., p. 230-231.
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424 Heloisa Estellita
(49)
Max Schwerdtfeger, op. cit., p. 189-192.
(50)
Peter Cramer, “Rechtspflicht des Aufsichtsrats zur Verhinderung
unternehmensbezogener strafbarer Handlungen und Ordnungswidrigkeiten”, in:
Wilfried Küper, Jürgen Welp (Eds.), Beiträge zur Rechtswissenschaft: FS Stree
und Wessels, Heidelberg: C. F. Müller, 1993, p. 584.
(51)
Werner Beulke, op. cit., p. 37, nota 57; Daniel Krause, op. cit., p.
246 ss.
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426 Heloisa Estellita
(56)
Maxilimilian Utz, op. cit., p. 231-232.
(57)
Ibid., p. 233, e também Leenert Klattenberg, Die straf- und zivil-
rechtliche Verantwortlichkeit für die Nichverhinderung deliktischen Verhaltens
Dritter in Kapitalgesellschaften: zugleich ein Beitrag zur sogennanten “stra-
frechtlichen Geschäftsherrenhaftung”, Hamburg: Verlag Dr. Kovac, 2017, p.
314-315.
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RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO DOS MEMBROS... 427
elas mantêm contato, para evitar que seu mau uso ou sua manipu-
lação inadequada possa causar tais danos (58).
c) Os membros do CA têm posição de garantidores de vigilân-
cia sobre a diretoria ou outros membros da companhia
Finalmente, há aqueles que reconhecem, total ou parcial-
mente, a posição de garantidores de vigilância dos membros do
CA e que desenvolvem seus argumentos a partir, essencialmente,
das três competências antes mencionadas: supervisão da gestão
da companhia; aprovação antecipada de certas operações e no-
meação e destituição de diretores. Dentre eles está Tiedemann,
por exemplo, quem afirma uma ampla posição de garantidores de
vigilância dos conselheiros relativamente à evitação de crimes
praticados por outros órgãos sociais ou membros da empresa em
prejuízo de terceiros e saca a fundamentação diretamente da tarefa
de supervisão da gestão da empresa que lhes é atribuída pelo §
111 da AktG (59). Contra tal argumento, pondera-se, com razão, que,
ainda que a norma seja um forte indicador das tarefas atribuídas ao
conselho como um todo, ela ainda não fundamenta a posição de
garantidores de seus membros, porque a competência de vigilância
sobre os atos da diretoria não traz consigo uma competência para
tomar decisões que sejam a eles oponíveis, daí que uma posição
de garantidor não possa derivar exclusivamente desta competência,
mas tenha de ser complementada com outras que impliquem poder
de decisão, mesmo que parcial, sobre a organização da companhia
(controle sobre a fonte de perigo empresa) e, ainda, a possibilidade
(58)
Thomas Weigend, “§ 13”, in: Heinrich Wilhelm Laufhütte, Ruth
Rissing-vanSaan, Klaus Tiedemann (Eds.), LK StGB, 12., neu b. Berlin: De Gruy-
ter Recht, 2007, nm. 56.
(59)
Klaus Tiedemann, Wirtschaftsstrafrecht, 5. ed. [s.l.]: Vahlen, 2017,
nm. 359.
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428 Heloisa Estellita
jurídica de agir para evitar o resultado (60). Por isso, é preciso consi-
derar as atribuições, poderes e deveres do conselho para identificar
os fatores indiciários de uma posição de controle e gestão da fonte
de perigo, seu conteúdo e seus limites.
É isso que fazem autores como Schilha e Ransiek, por exemplo,
que afirmam uma posição de garantidor dos dirigentes por crimes
praticados por integrantes da empresa contra terceiros sempre que
alguém, a par do controle fático sobre uma fonte de perigo, também
está em posição de, no caso concreto, executar sua intenção de re-
pelir o perigo por meio de competências de intervenção jurídicas
efetivas (61). Para os membros do CA, portanto, deve-se avaliar seu
âmbito de responsabilidade tanto dentro do sistema dual de admi-
nistração da sociedade por ações, como seu limitado âmbito de in-
fluência sobre a gestão da fonte de perigo. A vigilância sobre os
objetos perigosos dentro da empresa se legitima como contraponto
da liberdade de organização e da competência exclusiva que tem o
proprietário sobre a coisa (62). A vigilância sobre pessoas como fon-
tes de perigo, por seu turno, se legitima em função do poder diretivo
fundado em normas jurídicas trabalhistas, ou, em outras palavras,
em uma relação de subordinação legalmente fundada (63), que de-
corre de atribuição concedida legalmente de tomar decisões sobre o
comportamento humano de terceiros, um domínio normativo sobre
as fontes de perigo dentro da empresa. Uma tal relação trabalhista
de subordinação não existe entre membros do CA e da diretoria,
o que obriga a buscar no direito societário outra possível fonte de
legitimação da posição de garantidor de vigilância dos conselheiros
(60)
Andreas Ransiek, op. cit., p. 624.
(61)
Ralph Schilha, op. cit., p. 123; Andreas Ransiek, loc. cit.
(62)
Ralph Schilha, op. cit., p. 162.
(63)
Com o que fica claro que Schilha segue uma concepção próxima da de
Schünemann (Ibid., p. 167-168). Ransiek funda essa posição no domínio, total ou
parcial, sobre a organização da empresa (Andreas Ransiek, op. cit., p. 617-618).
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RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO DOS MEMBROS... 429
(64)
Ralph Schilha, op. cit., p. 169.
(65)
Ibid., p. 170.
(66)
Da competência de aconselhamento e opinião, não se poderia extrair
tal poder, já que apenas indicativa, mas não vinculante para a diretoria. Da com-
petência para emitir ordens de estruturação e atribuições da diretoria, prevista
como competência excepcional do conselho (§ 77 Abs. 2 AktG) e de inegável im-
portância como meio de influir na estrutura organizativa da companhia, também
não adviria um tal poder, visto que dela não derivaria um poder de dar ordens aos
diretores, o mesmo podendo ser dito da competência para convocar a assembleia-
-geral (Ibid., p. 170).
(67)
Ibid., p. 171-172.
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430 Heloisa Estellita
(68)
AktG, § 111, Abs. 4, Satz 1: “4) Maßnahmen der Geschäftsführung
können dem Aufsichtsrat nicht übertragen werden” (tradução livre: “As medidas
da direção da empresa não podem ser transferidas para o Aufsichtsrat”).
(69)
Ralph Schilha, op. cit., p. 172-175.
(70)
Schilha se esforça, então, para justificar que a iminência da prática de
um crime por diretores seria uma hipótese de grave violação dos deveres sociais
dos diretores autorizadora da destituição do diretor pelo conselho. Isso é assim
porque o § 84 Abs. 3 Satz 1 AktG exige, como visto, um “fundamento relevante”
para o exercício da competência de destituição. Para Ransiek, o fato de haver um
risco de ser perpetrado um crime já é fundamento suficiente (Andreas Ransiek,
op. cit., p. 625-626). Para aqueles que entendem que há um dever geral de des-
tituição ou, então, para sistemas jurídicos como o brasileiro, que não fazem essa
exigência, não há necessidade de fundamentar a destituição (Ralph Schilha, op.
cit., p. 180, especialmente nota 452).
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(71)
Ibid., p. 177-181; no mesmo sentido, Andreas Ransiek, op. cit., p.
625-626.
(72)
Ralph Schilha, op. cit., p. 181-182.
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432 Heloisa Estellita
3. Tomada de posição
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RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO DOS MEMBROS... 433
(78)
A recente Lei 13.303, de 30.06.2016, alterou as competências dos CAs
das empresas públicas, sociedades de economia mista e de suas subsidiárias no
âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (cf. espe-
cialmente art. 18), o que certamente terá impactos no âmbito da responsabilidade
penal individual de seus membros. Digno de nota o disposto em seu artigo 9o,
determinando que a gestão de riscos deve ser alocada no âmbito da Diretoria (es-
tatutária) com eventual reporte direto ao CA quando “suspeite do envolvimento
do diretor-presidente em irregularidades ou quando este se furtar à obrigação de
adotar medidas necessárias em relação à situação a ele reportada” (§ 4.º), o que
reflete justamente a dinâmica que entendemos ser mais adequada no âmbito das
sociedades anônimas quanto à gestão de risco incumbir à diretoria e a participa-
ção do CA estar limitada às suas atribuições, no caso, a atuação sobre a diretoria.
A recente Resolução Bacen n. 4.595, de 28.08.2017, porém, impõe ao CA o dever
de “garantir que medidas corretivas sejam tomadas quando falhas de conformi-
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434 Heloisa Estellita
dade forem identificadas” (art. 9.º, II), o que poderá demandar ajustes nos instru-
mentos societários que cuidam das atribuições desse órgão.
(79)
Destacando essa linha de divisão entre as tarefas do Aufsichtsrat e da
Vorstand, cf. Peter Cramer, op. cit., p. 569.
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RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO DOS MEMBROS... 435
(80)
Discussão e crítica da proposta de uma abordagem top-down em Hel-
oisa Estellita, op. cit., p. 52 ss.
(81)
No mesmo sentido, embora de forma mais genérica, cf. Jesús-María
Silva Sánchez; Raquel Montaner Fernández; Nuria Pastor Muñoz, op. cit.,
p. 28.
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(82)
No mesmo sentido, Max Schwerdtfeger, op. cit., p. 123 e 155; tam-
bém Ralph Schilha, op. cit., p. 378.
(83)
Lei 7.492/1986: “Art. 6º Induzir ou manter em erro, sócio, investidor
ou repartição pública competente, relativamente a operação ou situação financei-
ra, sonegando-lhe informação ou prestando-a falsamente: Pena - Reclusão, de 2
(dois) a 6 (seis) anos, e multa”.
(84)
Nesse sentido, Ralph Schilha, op. cit., p. 372-373.
(85)
Previsto no art. 158, § 1.º, parte final, LSA.
(86)
É questionável se o dever de agir para evitar o resultado abarca tam-
bém a exigência de comunicação do fato a autoridades externas encarregadas da
persecução penal, seja pela ausência de disposição expressa nesse sentido em
nosso direito positivo, seja à luz do dever de lealdade dos administradores para
com a companhia aberta (art. 155, § 1.º, LSA). No mesmo sentido, Ralph Schil-
ha, op. cit., p. 376-377. Contra, Jesús-María Silva Sánchez; Raquel Montan-
er Fernández; Nuria Pastor Muñoz, op. cit., p. 32. No ordenamento jurídico
alemão, a situação é diferente, pois o § 138 do StGB pune a não comunicação de
um rol determinado de crimes desde que em andamento ou cujo resultado ainda
possa ser evitado. Diante desse tipo penal omissivo puro, pode-se investigar hi-
pótese de colisão de deveres, causa de justificação peculiar dos crimes omissivos.
Trata-se daqueles casos nos quais há dois deveres de agir onerando o agente si-
multaneamente sendo que apenas um deles pode ser atendido, devendo o outro
ser descumprido. Haveria que se investigar a equivalência entre bem jurídico sa-
RPCC 28 (2018)
RESPONSABILIDADE POR OMISSÃO DOS MEMBROS... 437
crificado e bem jurídico salvo, que dependeria dos bens jurídicos em jogo no caso
concreto (cf. Claus Roxin, Strafrecht: allgemeiner Teil - Band II - Besondere
Erscheinungsformen der Straftat, München: C. H. Beck, 2003, § 31, nm. 204
ss.; Kristian Kühl, Strafrecht: Allgemeiner Teil, 8. München: Vahlen, 2017.,
§ 18, nm. 134 ss.). Especificamente sobre a questão no âmbito do direito penal
econômico e, particularmente no que diz respeito ao whistleblower, cf. Florian
Jochen Späth, Rechtfertigungsgründe im Wirtschaftsstrafrecht, Berlin: Duncker
& Humblot, 2016, p. 384 ss. Certamente há a possibilidade de que a companhia,
por seus administradores, decida voluntariamente colaborar com autoridades pú-
blicas na apuração de crimes e infrações, conduta, aliás, cada dia mais frequente
e legalmente premiadas, como no Brasil, de forma mais eloquente, no art. 7.o,
VII, da Lei 12.846/2013. Para que o administrador não corra o risco de incidir em
responsabilidade perante a sociedade, a decisão tem, porém, de ser tomada pelo
órgão competente e implicar medidas que tragam benefícios à companhia, ou
não lhe tragam prejuízos (arts. 154, caput, e 155, II, LSA). Naqueles países que
a preveem, o ato poderia configurar administração desleal, como na Alemanha,
a teor do disposto no § 266 StGB (Untreue), e na Espanha, a teor do disposto no
art. 252 do CP espanhol, com a redação dada pela LO 1/2015. Sobre o primei-
ro, cf. Bernd Schünemann, “§266”, in: Heinrich Wihelm Laufhütte (Ed.) et.
al., Leipziger Kommentar StGB Band 9/1, 12, neu b. Berlin: De Gruyter, 2012,
p. 653–880, passim, sobre o segundo, Ivo Coca Vila; Nuria Pastor Muñoz, El
delito de administración desleal: claves para una interpretación del nuevo art.
252 del Código penal, Barcelona: Atelier, 2016, passim. Especificamente sobre
a prática da Untreue pelo Aufsichtsrat, Max Schwerdtfeger, op. cit., p. 54 ss.
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438 Heloisa Estellita
omissão da diretoria, uma vez que o conselho não pode tomar ini-
ciativas de gestão da companhia. Em caso de omissão penalmente
relevante do diretor, a medida adequada é sua destituição. Parece-
-nos, assim, que também dessa competência resulta um controle,
embora limitado, sobre cursos causais perigosos para bens jurídi-
cos externos que também fundamenta a posição de garantidor dos
membros do CA (87) (88).
(87)
Mesmo em caso de aprovação, quando estaríamos diante de um ato
comissivo, seria de ponderar, como fazem Silva Sánchez, Montaner Fernán-
dez e Pastor Muñoz, que poderia se tratar de mero ato preparatório de parti-
cipação, já que a execução ulterior do negócio está a cargo da diretoria, não se
podendo falar em autoria para os conselheiros. Ocorre que a participação — neste
caso, na forma de instigação ou determinação, ou até mesmo auxílio — é impu-
nível por si só se o crime não chega ao menos a ser tentado pela diretoria (art. 31,
CP brasileiro) (cf. Jesús-María Silva Sánchez; Raquel Montaner Fernández;
Nuria Pastor Muñoz, op. cit., p. 29), algo que, embora pouco provável, não é
impensável.
(88)
As normas societárias concretas da companhia podem atribuir compe-
tências de organização e mesmo de gestão ainda maiores ao Conselho, ou lhe re-
servar as competências mínimas vedando-lhe, por exemplo, delimitar atribuições
dos diretores. Nestes casos, essa regulação terá consequências quanto aos âmbitos
de vigilância dos conselheiros, bem como quanto ao conteúdo concreto de seus
deveres. Uma dessas possibilidades é, inclusive, a criação de comitês dentro do
próprio CA, incumbidos de tarefas específicas e especializadas de supervisão,
como, por exemplo, riscos ambientais de alguma atividade ou planta industrial
da companhia, riscos ligados à participação em licitações e contratos, para as
companhias que atuam intensamente em setores que envolvam contratação com
o poder público. Isso não altera a qualidade da possibilidade jurídica de atuar dos
conselheiros, que se mantém limitada, há, porém, impacto na intensidade dos
deveres de vigilância dos próprios conselheiros eventualmente designados para
presidir ou coordenar tais comitês individualmente, com a intensificação para os
designados e parcial desoneração para os não designados. No mesmo sentido,
Ralph Schilha, op. cit., p. 379-381.
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E. Conclusão
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