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A IMPORTÂNCIA DA ARTE PARA O DESENVOLVIMENTO DA


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CRIANÇA
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Por: Elian Harsche da Costa

Orientadora
Profª. Maria Esther de Araújo Oliveira

Vitória
2006

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES


2

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”


PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DA ARTE PARA O DESENVOLVIMENTO DA


CRIANÇA

Apresentação de monografia à Universidade


Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Arteterapia em
Educação
Por: Elian Harsche da Costa

AGRADECIMENTOS
3

Agradeço primeiro a Deus por ter me


iluminado e a meu marido e meus
filhos pelo apoio concedido.

DEDICATÓRIA
4

Dedico este trabalho a meu esposo Vitor


pelo apoio em todos esses anos de
estudo. A minha filha Annie que está
seguindo os passos da mamãe. Ao meu
filho Andrews e a minha filha Isabelly que
veio para trazer alegria a nosso lar.
5

RESUMO

A presente pesquisa aborda o tema “A Importância da Arte para o


Desenvolvimento da Criança”.

A preocupação com a situação do ensino da Arte nas escolas, a


dificuldade que adolescentes e adultos encontram para se expressar por meio
de imagens e o distanciamento que as crianças têm da arte, foi o que motivou
e orientou este trabalho, cujo objetivo foi pesquisar para saber como
estudiosos como Vygotsky, Lowenfeld, Piaget, entre outros citados ao longo
deste, viram a importância que tem a Arte para o desenvolvimento cognitivo,
motor e afetivo das crianças.

Foram abordados temas sobre criatividade, desenho infantil e seus


diversos estágios, as diversas linguagens da Arte e o quanto cada uma delas
estimula e influencia o desenvolvimento infantil, o ensino da Arte através de
professores habilitados, e relatos de experiências em Arte.

Como se sabe, o ensino da Arte é fundamental para o


desenvolvimento infantil, pois Arte é conhecimento e envolve o pensamento, o
sentimento estético e a formação intelectual da criança. Influenciando assim de
forma positiva na formação da personalidade infantil.

METODOLOGIA
6

Foi utilizada neste estudo uma pesquisa bibliográfica através de livros


didáticos de arte, livros de psicologia, de psicopedagogia, de educação e
arteterapia; artigos de jornais, revistas e internet; depoimentos e relatos de
educadores que estão trabalhando com os alunos de forma inovadora em arte.

Após pesquisa bibliográfica foi observado que autores como Vygotsky,


Wallon e Lowenfeld desenvolveram teorias excepcionais em relação ao
desenvolvimento cognitivo e motor das crianças. Barbosa, Fontana e Ferraz e
Fusari, visam o lado pedagógico com base em estudos que mostram a
importância e o valor do aprendizado da arte na infância. Enfatizam o quanto a
arte pode contribuir para a sua integração social e, incentivar seu
desenvolvimento intelectual por meio da expressão criadora.
7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – A importância da arte para o desenvolvimento


das crianças 10

CAPÍTULO II – Motivar para criar 14

CAPÍTULO III – Desenho infantil 18

CAPÍTULO IV – As linguagens da arte 23

4.1 – Artes Visuais 24


4.2 – Dança 25
4.3 – Teatro 26
4.4 – Música 27

CAPÍTULO V – O ensino de arte 29

CAPÍTULO VI – Relatos de educadores 31

6.1 – Inspiração Infantil 32


6.2 – Ateliê de Pintores Mirins 36

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40

BIBLIOGRAFIA 41

ÍNDICE 44
FOLHA DE AVALIAÇÃO 45

INTRODUÇÃO
8

Esta pesquisa está voltada para a importância e o valor que o ensino


da Arte tem para o desenvolvimento cognitivo e motor da criança, pois através
deste aprendizado desde a infância a criança irá se tornar um ser humano
mais sensível, mais crítico e criativo.

Este trabalho visa o que os educadores de Arte podem fazer para


desenvolver e estimular a expressão artística desde a infância. Este tema é de
extrema importância, pois os professores de Arte sempre se deparam com
adolescentes e adultos dizendo que não sabem desenhar. Porque eles
apresentam esse bloqueio? Porque não conseguem se expressar por meio de
imagens visuais e figurativas? É natural as crianças ao começarem a ler e
escrever deixarem o desenho de lado para se envolverem com a novidade da
escrita. Com isso deixam de desenvolver o lado artístico e criativo e vão
permanecer sempre nesse estágio figurativo mesmo depois de adultos.

Então porque não começar a desenvolver a expressão artística na


infância?

As crianças apresentam grandes possibilidades de exercitar suas


potencialidades perceptivas, imaginativas e fantasiosas. Vygotsky propõe um
trabalho contínuo e planejado, pois quanto mais ver, ouvir e experimentar, mais
produtiva e criativa a criança será. Mais chances terá para desenvolver sua
percepção, sensibilidade e afetividade.

Portanto esta pesquisa tem como objetivos identificar as contribuições


que autores como Lowenfeld, Vygotsky, Fusari, Ostrower, entre outros citados
ao longo do trabalho, deram para o crescimento e o desenvolvimento cognitivo
e motor das crianças, esclarecendo ainda como solucionaram os problemas da
ausência da arte na vida delas e o benefício que o aprendizado em arte tem
para o desenvolvimento de sua personalidade, analisando relatos de
educadores de arte que foram de grande valia para o crescimento pessoal das
9

crianças, e buscar quais foram as alternativas que encontraram para confirmar,


esclarecer e aprofundar seu estudo sobre elas.

CAPÍTULO I
10

A IMPORTÂNCIA DA ARTE PARA O


DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS

Segundo Lowenfeld (1977), as manifestações artísticas, iniciadas nos


primeiros anos de vida, podem significar para nossos filhos a diferença que
existe entre indivíduos adaptados e felizes e outros que, apesar de toda a
capacidade, continuam às vezes, desequilibrados e encontram dificuldades em
suas relações com o próprio ambiente.

Como favorecer para que as crianças possam crescer e desenvolver


sua criatividade, sua sensibilidade, sua afetividade e sua capacidade de
adaptação a novas situações?

É fundamental opinar sobre a importância da arte na infância. A


educação em Arte é extremamente importante para o desenvolvimento global
do ser humano, devendo ser trabalhada com liberdade desde cedo.

Fazer arte é das mais ricas formas de expressão dos sentimentos.


Auxilia na facilidade da expressão escrita, visto que requer muita imaginação,
também na capacidade de lidar com situações difíceis e de improvisar.

O mercado de trabalho hoje, exige cidadãos criativos e versáteis, que


sejam capazes de tomar decisões criativas e acertadas. Então porque não
estimular e incentivar essa capacidade de criação nas aulas de arte desde a
infância?

Para a criança a arte é a comunicação do seu pensamento. O mundo


visto sob seus olhos deixa entrever sonhos, dúvidas e sentimentos. Ao se
observar a produção artística de uma criança pode-se perceber ali uma série
11

de elementos que indicam seu desenvolvimento intelectual, perceptual, social


e emocional.

A arte enquanto processo criador é o elo que faz o ser humano ligar-se
à vida.

Quando a criança possui uma personalidade livre, desinibida, sua


expressão artística será como ela, livre, desinibida, flexível. Porém se a
expressão é tensa e limitada, por certo equivale as características de quem
executou o trabalho.

A arte pode constituir o equilíbrio necessário entre a razão e a


emoção. Para cada fase da infância, a criança apresenta uma fase diferente.
Uma criança aos três anos além do desenvolvimento diferente, também tem
necessidades diferentes de uma criança dez, onze anos.

Na primeira infância é de suma importância ajudar a desenvolver a


sensibilidade nas crianças para as coisas que vêem, ouvem, tocam ou sentem.
Estas qualidades devem ser cultivadas, desenvolvidas e utilizadas.

Fazer a criança ouvir e sentir o balançar das ondas no mar; mostrar a


beleza das flores, da natureza; ouvir o sussurro do vento nas folhas; tocar nos
objetos para sentir a maciez ou aspereza no tato; enfim, fazer o máximo para
estimular a criança no uso sensível de seus olhos, ouvidos e tato para
enriquecer seus conhecimentos e ajudar a desenvolver sua expressão
artística.

Segundo Vygotsky (2001), quanto mais veja, ouça e experimente,


quanto mais aprenda e assimile, quanto mais elemento da realidade disponha
em sua experiência, tanto mais considerável e produtiva será, como as outras
circunstâncias, a atividade de sua imaginação.
12

Afirmam os psicólogos que as maiores influências básicas sobre


nossas vidas, acontecem durante a primeira infância, período que se forma a
personalidade do indivíduo. As experiências da infância determinam se
seremos tímidos, inibidos, ou se levaremos uma vida livre, desinibida e bem
adaptada.

A criança emocionalmente livre identifica-se intimamente com sua obra


e sente-se segura diante de qualquer problema que surja. Usa sua liberdade
para explorar o mundo da arte, sente que a atividade artística lhe pertence de
fato.

A expressão infantil é, portanto, resultado de sensações, sentimentos


e percepções que a criança vivencia. Por isso, quando ela desenha, pinta,
canta e dança, o faz com vivacidade, alegria e muita emoção.

Se estiver sempre em contínuo contato com as pessoas e as coisas


certas, a criança aprimora seus pensamentos, suas descobertas e seu fazer
em arte. Ela percebe rapidamente o mundo com suas formas e significados
diversos os quais aprende a utilizar.

A percepção cognitiva tem grande importância tanto para a criação


como para qualquer atividade infantil. Entretanto, para que a criança aprenda a
desenvolver suas potencialidades é necessária a colaboração do outro: do
professor na escola, dos pais em casa.

Para Lowenfeld (1977), a arte não pode ser ensinada, pois a


expressividade infantil tem um correspondente com a evolução física,
psicológica e cognitiva. Considera o professor de arte e os pais apenas como
um estimulador, um guia que deve ajudar a criança a expressar-se. ... O
ambiente onde as crianças executam suas atividades artísticas deve ser
estimulante e desafiador, pois quanto maior a variedade de experiências, maior
13

será sua produção imaginativa e criadora e, maior será seu desenvolvimento


intelectual, físico e emocional.

Vários estudiosos, entre eles Vygotsky, Wallon, Piaget, Lowenfeld e


Fontana, afirmam que é imprescindível o contato e o aprendizado em arte
desde a infância. As pessoas mais próximas a elas devem estar sempre
atentas, incentivando e estimulando de forma correta para que a arte seja uma
presença constante em suas vidas. Com uma palavra, um toque ou um
simples gesto, estarão contribuindo para seu desenvolvimento perceptivo,
cognitivo, afetivo e motor.

Afirma Lowenfeld (1977) que, ficou comprovado, sem nenhuma


sombra de dúvida, que a arte exerce influência fundamental sobre o
desenvolvimento da personalidade infantil e, portanto, também sobre o futuro
das crianças. Não somente influi na capacidade de adaptação emocional da
criança, como também lhe fornece os meios para tornar sua vida mais rica e
bela. Sua sensibilidade para com as experiências perceptivas, adquiridas
através da observação, do ouvido, do tato, tanto como a descoberta da beleza
contribuirá muito para o enriquecimento de sua vida.

CAPÍTULO II
MOTIVAR PARA CRIAR
14

Ostrower (2005) diz, nas crianças a criatividade se manifesta em todo


seu fazer solto, difuso, espontâneo, imaginativo, no brincar, no sonhar, no
associar, no simbolizar, no fingir da realidade e que no fundo não é senão o
real. Criar é viver para a criança.

Todos nascem criativos.

Toda criança é criativa. Dê a ela papel e lápis e logo mostrará


orgulhosa um desenho seu. As crianças não possuem crítica interna, não
possuem idéias pré-concebidas das coisas e fatos que a rodeiam. Não se
importam com as cores utilizadas ou proporções, para elas não há o certo ou o
errado. Afinal, são só desenhos e não coisas.

Porém à medida que crescem, deixam para trás de si o artista, a


criatura criadora e original que são. Deixam de brincar, de inventar, de criar, e
vão se tornando críticos, principalmente de si mesmos, então a chama da
criatividade espontânea vai se apagando, diminuindo, até sumir. E, o que fazer
para desenvolver esse potencial criador antes que a chama se apague por
completo?

Todo ser humano possui um potencial criativo, basta saber


desenvolvê-lo. E é na infância o momento ideal para que a criatividade seja
motivada, quando a criança ainda não recebeu influências em seu potencial
criador.

Criatividade é a capacidade de resolver problemas e encontrar novas


soluções. E só se consegue desenvolvê-la praticando, fazendo, inventando e
criando algo novo todos os dias. A curiosidade e a persistência são
fundamentais para estimular e desenvolver o potencial criador. As atitudes
criativas levam à autoconfiança, pelo estímulo ao desenvolvimento de aptidões
e conhecimento das características e limitações pessoais.
15

Segundo Ostrower (2005), criar é poder dar formas a algo novo. O ato
criador abrange a capacidade de compreender, e esta por sua vez relacionar,
ordenar, configurar, significar. O homem cria, não apenas porque quer, ou
porque gosta, e sim porque precisa; ele só pode crescer, enquanto ser
humano, coerentemente, ordenando, dando forma, criando.

A criança precisa receber uma motivação correta para exercitar seu


lado criador, precisa ser estimulada a todo o momento para que aprenda a
desenvolver sua sensibilidade, percepção. Esse estímulo, não deve acontecer
somente na escola, mas também em sua casa, pois, encorajada desde cedo, a
usar seus olhos, seus dedos, seus sentidos de tato e audição, e também seus
sentimentos, a criança reagirá sensitivamente. Uma boa motivação é sempre
deixar ao critério da criança o que ela quer expressar e como deseja fazê-lo.

As crianças necessitam de meios e materiais adequados para


poderem se expressar, é necessário que disponham, em quantidade suficiente
das várias espécies de materiais capazes de estimular sua criatividade e
expressão artística. Para cada estágio do desenvolvimento de uma criança, ela
necessita de diferentes tipos de materiais artísticos.

A criança deve dispor em casa de um espaço seu onde possa se sentir


livre para poder criar, com os materiais a sua disposição, tanto para desenhar
quanto para pintar, modelar, esculpir ou criar algo novo com sucatas.

Muito importante para estimular a criatividade nas crianças são as


estórias, músicas, teatros e danças infantis, onde elas participam de forma
ativa, mesmo as mais inibidas devem ser estimuladas a participar.

Para Vygotsky o caminho do objeto até a criança e deste até o objeto


passa através de outra pessoa, portanto, a participação dos pais nas
atividades criadoras dos filhos tem um importante sentido, pois na arte criativa
se manifestam mais espontaneamente as reações das crianças, muitas
16

realidades se revelam durante o processo criador. Pois enquanto cria a criança


se concentra no que produz, integrando-se no que está fazendo, e essa
concentração produz uma atmosfera espontânea, na qual as crianças se
revelam sem as habituais restrições e controles. Falam a respeito de coisas
que jamais teriam sido capaz de revelar, de livre vontade, sem aquele
estímulo. Lowenfeld (1977).

No universo escolar, é fundamental o exercício da criatividade como


elemento de propulsão no processo educativo. O educador deve ter sua ação
voltada para experiências criativas, principalmente aquela que está ligada à
educação infantil. A criatividade existe na relação do indivíduo com seu meio,
portanto, as experiências estimuladoras da criatividade pressupõem o
desenvolvimento das relações e das descobertas pessoais.

O sentido básico da criatividade na educação infantil é o de atividade


mediadora e não atividade fim. A criatividade não é um conteúdo específico,
mas um meio para trabalhar os conteúdos específicos. O educador deve estar
ciente da importância que a criatividade tem no processo do desenvolvimento
da criança, bem como estar preparado para promover o desenvolvimento da
criatividade junto às crianças.

Para Ostrower (2005), o ser humano é por natureza um ser criativo. No


ato de perceber, ele tenta interpretar e, nesse interpretar, já começa a criar.
Não existe um momento de compreensão que não seja ao mesmo tempo
criação. Isto se traduz na linguagem artística de maneira extraordinariamente
simples.
17

CAPÍTULO III
O DESENHO INFANTIL

Em nossa cultura ocidental a maioria dos adultos não progride em


aptidão artística muito além do estágio atingido aos noves ou dez anos de
idade. Praticamente em todas as atividades físicas ou mentais, as aptidões de
um indivíduo mudam e desenvolve-se à medida que ele atinge a idade adulta.
Porém para o desenho, a aptidão parece deter-se inexplicavelmente em idade
tenra na maioria das pessoas. A maioria dos adultos também desenha como
18

criança, qualquer que seja o nível de desenvolvimento que atinjam em outras


atividades.

Muitas crianças abandonam o desenho porque pessoas irrefletidas às


vezes fazem observações sarcásticas e pejorativas a respeito dos desenhos
infantis. Essa pessoa pode ser uma professora, um pai, outra criança, ou
alguém que a criança admire. Muitas vezes a criança se sente ridicularizada e,
consequentemente, para se protegerem de outras críticas semelhantes, elas
reagem defensivamente e, raramente tentam desenhar de novo.

Aparentemente é o início da adolescência que marca o fim do


desenvolvimento artístico. A maioria das crianças entre nove e onze anos de
idade demonstra paixão pelo desenho realista. Porém, quando não conseguem
atingir o realismo perfeito, sentem-se fracassadas.

Segundo Edwards (1984), descontente com as suas próprias


realizações e extremamente desejoso de agradar aos outros com sua arte, ele
tende a desistir da criação original e da expressão pessoal... O
desenvolvimento ulterior de seu poder de visualização e até mesmo sua
capacidade de pensamento original e de relacionar-se com o seu ambiente
através de seus sentimentos pessoais podem ser bloqueados nessa época.
Trata-se de um estágio crucial, que muitos adultos não chegam a ultrapassar.

O desenho desempenha importante papel no desenvolvimento infantil.


Desenhar constitui para a criança uma atividade integradora, que coloca em
jogo as inter-relações do ver, pensar, do fazer, e dá unidade aos domínios
perceptivo, cognitivo, afetivo e motor.

A criança começa por volta de um ano a um ano e meio de idade a


fazer rabiscos num papel, é o primeiro estágio do desenho infantil. Do papel
passa para as paredes, livros... Com a descoberta de que é capaz de deixar
marcas, a criança rabisca com prazer em qualquer superfície disponível.
19

No início os rabiscos são hesitantes, indecisos, mas logo passam a ter


formas definidas. O primeiro movimento definido é o circular, por ser o mais
natural.

Aroeira (1996) diz que a arte não começa com o primeiro rabisco que a
criança faz. Na realidade, tem início mais cedo, quando a criança reage às
experiências sensoriais estabelecendo o contato com o mundo. Essa é de fato
a base essencial para a produção de formas artísticas.

Lowenfeld mostrou três estágios da garatuja de uma criança, e a


importância que cada um deles tem para o desenvolvimento artístico, cognitivo
e motor delas: a garatuja desordenada, a garatuja controlada e a garatuja à
qual a criança atribui um nome.

O primeiro estágio, a garatuja desordenada, os traços são linhas que


seguem ao acaso em todas as direções; no segundo estágio, na garatuja
controlada, a criança descobre que existe ligação entre seus movimentos e os
traços que faz no papel; por fim, no terceiro estágio, a criança começa a falar
sobre o desenho e passa a dar nome à garatuja, mesmo a figura sendo
irreconhecível. Essa fase ocorre por volta dos três anos de idade.

É muito importante que as pessoas próximas às crianças a motivem a


desenhar, que saibam reconhecer o desenvolvimento pelo qual ela está
passando e estimulá-la de acordo com o nível que já atingiu. Porém não deve
acelerar a evolução natural da criança. Ela própria é que deve estabelecer seu
ritmo, “os adultos devem apenas remover os obstáculos que posam surgir no
seu caminho”, (Lowenfeld, 1977, p. 101).

Vygotsky (2001), afirma que a representação simbólica primária deve


ser atribuída à fala e considera que o próprio desenho torna-se simbólico pela
utilização da linguagem oral. O desenho transforma-se efetivamente em
20

representação simbólica quando a nomeação passa a se dar no início do ato


de desenhar e a criança torna-se capaz de decidir antecipadamente o que vai
desenhar. Para ele, o desenvolvimento no desenho das crianças não tem
explicação em si mesmo, e também não é mecânico. Há um momento crítico
na passagem do rabisco para os sinais que representam algo, é quando a
criança descobre que seus traços têm significados.

Conforme vai crescendo, entre quatro e cinco anos, a criança já não se


satisfaz com seus traços simples e passa a estabelecer uma relação
verdadeira com seus desenhos. Suas relações com o ambiente modificam, se
torna mais sensível e alerta. A princípio tudo o que é importante para a criança,
toma vida no papel, em seus desenhos, porém os objetos e as coisas são
desenhados sem uma seqüência, à medida que se apresentam em sua mente.
Um pouco mais tarde é que a criança vai estabelecer relações espaciais em
suas pinturas aí sim, seus desenhos não serão mais dispersos e terão sentido
no papel.

Lowenfeld (1977) diz, a criança desenvolverá as suas relações


sensitivas unicamente por meio da própria experimentação, ...nossas
motivações devem então consistir em tornar a criança mais sensível, por meio
de experiências capaz de atingi-la. Criando assim maior facilidade para
exprimir-se. Esta flexibilidade de expressão impõe uma influência decisiva
sobre seu desenvolvimento emocional e sua personalidade total.

Entre os sete e nove anos, a criança descobre a ordem definida nas


relações espaciais. Consegue dominar o espaço do suporte utilizado e toma
posse dele. Cria uma linha base onde coloca suas figuras, desenha em raios-
X, quando quer mostrar o que se passa do outro lado da parede.

Nesta fase o desenho é muito pessoal, retratando as experiências que


são relevantes para a criança.
21

A próxima fase geralmente coincide com o período em que a criança


está chegando à adolescência. A criança já tem um espírito bem mais crítico e
uma percepção mais nítida suas próprias dificuldades. Com medo de errar,
muitos deixam de tentar a desenhar.

Esta fase se caracteriza pela riqueza de detalhes e a preocupação em


representar as coisas de forma realista. Representam o espaço, criam planos.
A criança procura novas formas, passa a observar com mais atenção coisas
que já viu inúmeras vezes e que agora adquire um novo sentido para ela. Os
meninos passam a desenhar mais coisas mecânicas, como carros, foguetes,
super-heróis, enquanto as meninas desenham mais animais, paisagens,
figuras humanas.

Nesta última fase do desenvolvimento do desenho, a idade


normalmente identificada pelas teorias de vários autores como aquela que se
chega ao realismo visual, coincide com o momento em que o jovem começa a
demonstrar desinteresse pelo desenho.

Poucas são as crianças que atingem esse último estágio do


desenvolvimento do desenho. Vygotsky aponta que a partir de determinada
idade, a criança já não se contenta com seu desenho. Seja por não conseguir
corresponder aos padrões socialmente valorizados, seja por não ser suficiente
para atender às necessidades expressivas da criança, o desenho acaba por
ser abandonado.

Muitos adultos quando se vêem obrigados a desenhar produzem algo


semelhante ao desenho de uma criança de oito ou nove anos, idade em que
começou a deixar os desenhos de lado. Então ficam inibidos, chegam a se
sentirem ridicularizados ao ter que expor seus desenhos em público.

Fontana (1997) ressalta que, a partir de certo momento, torna-se


fundamental a aprendizagem de técnicas, pois é apenas quando a criança ou o
22

adolescente passam a conhecer as diferentes técnicas e os diversos padrões


estéticos constituídos culturalmente que sua própria habilidade poderá
continuar a se desenvolver, ajudando-a a expressar sua visão de mundo.

CAPÍTULO IV
AS LINGUAGENS DA ARTE

São as linguagens da Arte que permitem vivenciar na sala de aula a


emoção, a sensibilidade, o pensamento, a criação, através da própria
produção e através das obras dos mais diversos autores e artistas.

A educação em Arte propicia o desenvolvimento do pensamento


artístico, que caracteriza um modo particular de dar sentido às experiências
das pessoas, por meio dele, a criança amplia a sensibilidade, percepção, a
reflexão e a imaginação. Aprender a arte não envolve basicamente, fazer
trabalhos artísticos, apreciar e refletir sobre eles. Envolve também, conhecer
apreciar e refletir sobre as formas da natureza e sobre as produções artísticas
individuais e coletivas de distintas culturas e épocas. (PCN: arte, 2001)

Através das artes visuais, dança, música e teatro, as crianças estarão


sendo preparadas exercitando continuamente a imaginação, o
desenvolvimento do pensamento artístico e a percepção estética, o que
23

caracteriza um modo próprio de ordenar e dar sentido a experiência humana. A


criança desenvolverá sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao
realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas
produzidas por eles e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas.

Para Martins (1998) a arte é importante na escola, principalmente


porque é importante fora dela. Por ser um conhecimento construído pelo
homem através dos tempos, a arte é um patrimônio cultural da humanidade e
todo ser humano tem direito ao acesso a esse saber.

A aprendizagem em arte só é significativa quando o objeto de


conhecimento é a própria arte. Através de diferentes recursos, técnicas e
instrumentos a criança deve ser levada a conhecer as especificidades de cada
uma das linguagens artísticas.

Ainda Martins (1998) diz, ao desenvolver-se na linguagem da arte, o


aprendiz apropria-se lendo/produzindo do modo de pensamento da própria
arte. Essa apropriação converte-se em competências simbólicas porque instiga
esse aprendiz a desvelar seu modo singular de
perceber/sentir/pensar/imaginar/expressar e ampliar sua possibilidade de
produção e leitura do mundo da natureza e da cultura, ampliando também seus
modos de atuação sobre eles.

Assim quanto mais oportunidades a criança tiver de expressar através


das linguagens da arte, maior será a sua percepção sensível e imaginação
criadora. Tendo então maior consciência de si mesmo e do mundo.

4.1 – Artes visuais

Quando a criança pinta, desenha ou manipula qualquer outro tipo de


material que permitem um trabalho livre e criativo, não devemos esperar uma
24

obra de arte, mas que esta atividade a possa tornar feliz e contribuir para a sua
integração social, pois essa atividade não pretende formar atividades.

As atividades artísticas dão às crianças oportunidades de desenvolver


suas aptidões, atendendo-as individualmente em suas necessidades, e ainda,
por funcionarem como uma válvula canalizadora de tensões, angústias e
ansiedades, contribuem para a formação equilibrada e harmoniosa da
personalidade das crianças.

A criança na pré-escola se encontra numa fase de pensamentos


concretos e faz largo uso de seus sentidos para enriquecer suas experiências.
Nesta fase, as atividades de artes fornecerão ricas oportunidades para o
desenvolvimento das crianças, uma vez, que põem ao seu alcance os mais
diversos tipos de materiais para manipulação.

Segundo o PCN: arte (2001), às artes visuais, além das formas


tradicionais (pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, artefato,
desenho industrial), inclui outras modalidades que resultam dos avanços
tecnológicos e transformações estéticas a partir da modernidade (fotografia,
artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performance).

A criança deve passar por um amplo conjunto de experiências de


aprender e criar, integrando percepção, imaginação, sensibilidade e
conhecimento. Transformando assim conhecimento em arte.

4.2 – Dança

Toda a ação humana envolve a atividade corporal. A criança é um ser


em constante mobilidade e se utiliza dela para buscar conhecimento de si
mesmo e daquilo que a rodeia, relacionando com objetos e pessoas. A ação
25

física é necessária para que a criança harmonize de maneira integradora as


potencialidades motoras, afetivas e cognitivas. (PCN: arte, 2001).

A criança se movimenta o tempo inteiro. Pular, correr, dançar, girar


e subir nos objetos são algumas das atividades dinâmicas que estão ligadas à
sua necessidade de experimentar o corpo não só para seu domínio, mas na
construção de sua autonomia. A ação física é a primeira forma de
aprendizagem da criança, estando a motricidade ligada à atividade mental. Ela
se movimenta pelo prazer do exercício, para explorar o meio ambiente, adquirir
melhor mobilidade e se expressar com liberdade. Nesta etapa da vida a
criança possui um vocabulário gestual fluente e expressivo.

A dança na pré-escola deverá estar presente no cotidiano da criança


de maneira atual, aproveitando o que ela já vivencia em seu cotidiano.

O educador deve criar um clima de atenção e concentração. Para a


criança a dança deve ser vivenciada com alegria. A atividade da dança pode
desenvolver na criança a compreensão de sua capacidade de movimento,
mediante um maior entendimento de como seu corpo funciona. Assim, poderá
usá-lo expressivamente com maior inteligência, autonomia, responsabilidade e
sensibilidade.

Para Martins (1998) o acesso a espetáculos de dança clássica,


moderna ou folclórica permitirá à criança uma experiência estética, além de
proporcionar-lhe a apreciação significativa da arte do movimento.

4.3 – Teatro

O teatro, no processo de formação da criança, cumpre não só função


integradora, mas dá oportunidade para que ela se aproprie crítica e
construtivamente dos conteúdos sociais e culturais de sua comunidade
26

mediante troca com seus grupos. No dinamismo da experimentação, da


fluência criativa propiciada pela liberdade e segurança, a criança pode transitar
livremente por todas as emergências internas integrando imaginação,
percepção, emoção, intuição, memória e raciocínio. PCN: arte (2001).

É necessário que os educadores vejam o teatro não como um lazer


abstrato e inconseqüente, mas como alguma coisa mais importante, como
projetar criaturas conscientes, sem inibições, para a atividade social em
qualquer idade ou nível escolar.

Cada professor deve estar ciente de sua missão no sentido de revelar


e projetar o trabalho das emoções em benefício de seus semelhantes: todos
são personagens do teatro do mundo, do dia-a-dia, de um mundo que não
dialoga e que precisa aprender a fazê-lo.

Para a criança, dramatizar é vital. Desde cedo a criança se revela um


ator nato. Embora suas primeiras manifestações sejam imitações de seu
ambiente, ela é capaz de criticar e acrescentar algo de si aos fatos
observados.

Portanto, a dramatização é uma forma de auto-expressão.

A criança gosta de ouvir uma boa história, porém quando tem


oportunidade de se transportar e viver a peça junto com os bonecos que a
apresentam, ela encontra neles a materialização de seu mundo de sonhos.

O teatro permite um melhor conhecimento da criança, pois ela se deixa


conhecer intimamente. Quando escolhe a personagem que mais lhe agrada,
constitui poderoso fator educativo usado até para a educação dos
excepcionais e dos deficientes, auxilia na recuperação da criança problema
(tímida e inibida), pois nesse tipo de dramatização ela deixa de se expor ao
27

público sentindo-se perfeitamente à vontade, ao viver personagens


personificados pelos bonecos.

4.4 – Música

A música na educação infantil deve ser utilizada de forma ampla e em


sua verdadeira função. O professor também deve ser sensível à expressão
musical. Não precisa ser um especialista em música, ou saber tocar algum
instrumento, porém deve estar consciente de que em contato com a música a
criança poderá manter a harmonia entre o pensar e o sentir.

Segundo Borges, (1994), música é arte e, como tal deve ligar-se


primordialmente às emoções. Seu papel na educação infantil é o de
proporcionar um momento de prazer ao ouvir, cantar, tocar e inventar sons e
ritmos. Por este caminho, envolve o sujeito como um todo, influindo,
beneficamente, nos diferentes aspectos de sua personalidade: suscitando
várias emoções, liberando tensões, inspirando idéias e imagens, estimulando
percepções, acionando movimentos corporais e favorecendo as relações
interindividuais.

Para que a aprendizagem em música possa ser fundamental na


formação das crianças é necessário que todos tenham a oportunidade de
participar ativamente como ouvintes, intérpretes, compositores e
improvisadores, dentro e fora da sala de aula. PCN: arte (2001).

A música é um dos primeiros contatos sonoros que a criança tem com


o mundo. A voz da mãe soa como música aos ouvidos de um bebê. As
canções de ninar a embalam de forma prazerosa, gostosa. Antes mesmo de
começar a falar, a criança emite sons musicais. Esta será uma forma de
expressão que fará parte de sua sempre, pois onde estiver sempre terá um
som musical a sua volta. Por isso, é que a música deve fazer parte de sua
28

educação, para que ela aprenda a apreciar os sons, os ritmos e as melodias.


Para que sua vida afetiva e suas emoções possam ser trabalhadas com
seriedade desde a infância.

CAPÍTULO V
ENSINO DE ARTE

Ensinar a arte é viver a arte.

Segundo Lowenfeld (1977), ensinar arte às crianças obriga a ter


maiores conhecimentos e compreensão psicológica das necessidades infantis,
do que habilidades profissionais e técnicas... O melhor professor de arte seria
um artista que tivesse, ao mesmo tempo, profunda compreensão dos
problemas humanos e grande desejo de ajudar as crianças e os jovens em seu
crescimento e desenvolvimento.

Os professores que ensinam arte devem estar situados no contexto


sócio-cultural onde seus alunos estão inseridos. Esses educadores devem
tanto saber arte quanto saber educação escolar em arte.

O educador deve direcionar seus alunos explorando sua criatividade, a


pluralidade de temas, o fazer artístico, as potencialidades, bem como a
sensibilidade, a imaginação, as curiosidades e as flexibilidades dos alunos.

A proposta para o ensino de arte deve ser aberta, flexível, para que
cada professor possa ensinar de acordo com o ambiente escolar e sócio
cultural disponível.
29

É muito importante estimular a reflexão das crianças na construção


dos conhecimentos artísticos, desenvolverem nelas a capacidade de fruir a
arte na sua totalidade, fazendo-as perceber que, além do desenho e da
pintura, existem inúmeras outras formas de manifestação artística como a
música, a escultura, a dança, o teatro.

Os educadores de arte devem estar se reciclando e atualizando seus


conceitos constantemente para organizarem uma educação escolar de boa
qualidade. Precisam estudar, participar de cursos, buscar informações, discutir,
aprofundar reflexões e práticas com os colegas docentes.

Para Fusari (1993), preparando-se continuadamente, e tendo um


domínio presente de sua área, cabe a ele detectar os conteúdos fundamentais
de arte que, de fato, contribuíam para a formação de seus alunos. Os
conteúdos escolares serão selecionados, portanto, a partir do conhecimento de
arte, em seus aspectos universais, e das necessidades e direitos que todos os
cidadãos têm de acesso, pelo menos ao que é básico dessas noções.

À medida que se defronta com situações reais de ensino e


aprendizagem, a formação do professor se intensifica. O professor precisa de
tempo e recursos para pesquisa. Ele precisa sair da sala de aula e interagir
com os espaços culturais, museus e biblioteca, precisa buscar conhecimento
junto com seus alunos.

Barbosa (2003) afirma, é preciso que o trabalho do professor de arte


não fique isolado entre as paredes da escola. A escola precisa com urgência
abrir suas portas e acolher a produção cultural de sua comunidade e de outros
lugares e épocas. A comunidade precisa também apoiar a escola, facilitando a
construção e circulação de conhecimentos ali produzidos.
30

As crianças têm o direito de contar com professores que estudem e


saibam arte vinculada à vida pessoal, regional, nacional e internacional. E que
sejam profissionais com formação em Arte, pois ele vai contribuir para que
seus alunos elaborem uma cultura estética e artística que expresse com
clareza a sua vida na sociedade.

CAPÍTULO VI
RELATO DE EXPERIÊNCIAS

A formação do professor de arte influencia muito nas escolhas dos


rumos educativos nas aulas. O educador deve organizar junto às crianças um
interessante programa de curso e selecionar com adequação os métodos de
ensino e aprendizagem. Trabalhando com seus alunos todas as linguagens
artísticas.

Alguns educadores trabalham a aula de arte dando desenhos


mimeografados e estereotipados a seus alunos; desenhos de datas
comemorativas e desenhos livres. Esquecendo que a arte é uma disciplina
principalmente na educação infantil, com igual ou até mais peso que as outras
e que tem conteúdo próprio.

Outros educadores já levam os alunos a vivenciar todas as linguagens


da arte, incentivando-os e motivando-os no desenvolvimento artístico e
cultural. Enriquecendo assim seu repertório de vivencia com o mundo.

Foram pesquisados vários relatos de experiência de professores que


trabalham arte com seus alunos.
31

Foram selecionados dois. O primeiro relato envolve três linguagens da


arte: as artes plásticas, a música e o teatro. No segundo relato a professora
trabalha mais as artes visuais, dando ênfase à leitura de imagens, porém leva
as crianças para visitar museu e assistir peças de teatro, espetáculos musicais
e de dança.

6.1 – Inspiração infantil – Arte expressão lúdica

Neste texto, Laura S. R. Cascais, estudante do sétimo período do curso


de Pedagogia – Educação Infantil, relata uma experiência que vivenciou numa
escolinha de arte. Este texto mostra bem como uma aula de arte deve ser
ministrada, envolvendo as várias linguagens da arte e principalmente levando a
criança a vivenciar no seu cotidiano uma atmosfera de paz e tranqüilidade onde
a arte está muito presente.

“Dialogar com a infância requer aproximar-se da lógica da


expressão infantil, repleta de especificidades. Eu estava aberta para fazer
o diálogo, quando decidi visitar uma escolinha de artes, na busca-procura
de conhecer uma realidade educativa diferenciada e vivenciar de perto o
fazer criador infantil.

Eu estava certa de que havia muitas questões a serem


desvendadas e pretendo relatar aqui um pouco da minha visita à
escolinha, que atende crianças de quatro a treze anos e desenvolve
trabalhos específicos com três linguagens: artes plásticas, musicalização
e teatro.

Uma questão em especial me acompanhou durante a visita.


Desejava saber-se:
32

- Argila, instrumentos musicais, figurino de teatro eram objetos que


proporcionariam criações estéticas a partir de expressões lúdicas...

Descobri então, que a obra estética infantil veicula uma


mensagem própria, do universo de suas representações do mundo, da
vida. Esta mensagem materializa-se a partir do processo criativo que a
projeta e inicia com o impulso lúdico que se traduz através da expressão
lúdica. Segundo Sans, a expressão lúdica não pode ser medida,
“participa em diferentes estágios da atividade criadora, conforme a
ocasião, a necessidade interior”. (Sans, 1994, p.76)

Assim sendo, nas obras estéticas das crianças transparecem a


fantasia, a imaginação, o despertar do espírito lúdico. Tal como pode ser
evidenciado nos trechos abaixo:

Nas aulas de cerâmica, sob a inspiração infantil, as crianças


modelam na argila e criam: pão francês, pão de trigo, pássaros – o que a
imaginação pode inventar. O universo lúdico se expressa na linguagem
de uma das crianças que ao modelar o pão de queijo, olha para o lado e
brincando, oferece um pedaço ao colega.

Quando conversei com a professora que estava dando aula de


cerâmica (modelagem), ela me disse: “Se as crianças estão aqui elas
estão criando e não estão escravas da televisão”. A fala da professora
nos dá indícios de que um ambiente como a Escolinha de Artes é uma
alternativa que oferece repertórios de experiências, diferentes daqueles
que colocam as crianças na posição de meras espectadoras da cultura de
massa, presas facilmente manipuladas pelos meios de comunicação.

Nas aulas de música, várias atividades são realizadas. Dentre


elas, observei algumas.
33

Nesta aula, as crianças criam e executam uma música a partir de


imagens visuais, desenhadas pelo professor. Assim sendo, a imaginação
infantil tece representações mentais dos sons, evocando-os em
consonância com a expressão plástica.

Depois de cantar e gesticular algumas canções, dessa vez, as


crianças faziam a interpretação da música através de desenhos, isto é, de
imagens visuais. Nesse sentido, várias linguagens uniam-se, em
articulação significativa: linguagem auditiva, visual, musical, cênica,
plástica, entre outras.

A interação com a criação do som era eminentemente lúdica, as


crianças produziam sons compondo divertidamente, numa atitude
criadora e prazerosa. Na Escolinha, amplia-se o repertório musical das
crianças e possibilita-se o contato com obras estéticas diferentes
daquelas expostas no mercado dos produtos culturais.

Hoje, a cultura do consumismo expõe a música enquanto produto


cultural, escravizado a parâmetros comerciais de vendagem e
empobrece o seu caráter estético. Ao compreender as limitações dessas
obras é que as experiências com as aulas de música na Escolinha de
Artes, manifestam sussurros de resistência a esta cultura consumista,
abrindo canais para a expressão infantil na composição, execução,
interpretação e apreciação musical.

Ao observar as aulas de Teatro, vivenciei momentos da hora do


conto. A professora conta histórias e acende nas crianças as turbinas da
imaginação. As crianças atentas à história, vão tecendo representações
mentais, imaginando simbolicamente uma realidade ausente, fictícia.
34

Depois se inicia o processo criativo coletivo, na construção do jogo


dramático a partir da história. A seleção dos objetos para o cenário, a
criação das falas, constituem um laboratório de experimentos, de
ludicidade.
Nesse sentido, tanto o processo de criação quanto o resultado final,
que culmina na apresentação do jogo dramático, reporta-se à brincadeira
do faz de conta, imprevistos, expectativas, tentativas, em que as crianças
assumem papéis, referenciadas pela história contada (Kishimoto, 1998).

Assim sendo, nessa dinâmica interativa, pude observar uma criança


no papel de raposa, que entala sua boca no prato de sopa, fazendo rir a
platéia. Observei que existe uma fruição lúdica, uma satisfação de ver
uma obra compartilhada socialmente, que pode ser percebida, através da
alegria, do prazer, emblemados nas crianças.

Com esta pesquisa, com relação específica ao fazer criador


infantil, desvendei muitas questões. E percebi que a arte também é
expressão lúdica. Nesta perspectiva, a escolinha nos revela
possibilidades de uma intervenção educativa que valoriza as múltiplas
linguagens. Neste sentido, não seria relevante para as instituições de
educação infantil ampliar o seu olhar sobre o espaço da arte e
especialmente da expressão lúdica, a partir da experiência da escolinha?”

Texto final produzido pela acadêmica: Laura S. R. Cascais


(7ª fase - Curso de Pedagogia - Educação Infantil - 1º semestre de 2001).

Neste relato, Laura Cascais não participou como aplicadora do projeto, e


sim como expectadora, porém mesmo sem ser uma educadora da área de arte,
conseguiu transmitir a sua experiência de forma bem clara e concisa.
35

As crianças, pelo relato, nessa escolinha de arte estão sendo


estimuladas, incentivadas e tendo a oportunidade de vivenciar a arte de forma
ampla. Estão sendo exercitadas suas potencialidades perceptivas, imaginativas
e fantasiosas. A arte que estão aprendendo na infância irá exercer influência
fundamental sobre o desenvolvimento de sua personalidade e também sobre o
futuro delas.
6.2 – Ateliê de pintores mirins

Este relato é de um projeto envolvendo arte. Ele foi relatado por Juliana
Motta, professora da Escola Municipal de Educação Infantil Professora Inês dos
Ramos. Apesar de ser um projeto em fase de conclusão, o que já foi executado
é de vital importância para o desenvolvimento da arte na educação infantil. As
crianças sendo estimuladas a manifestar seus sentimentos sem bloqueios, suas
emoções, sua criatividade, sua concentração e aprimorando seus
conhecimentos e suas experiências vividas em arte.

“Os 180 alunos da Escola Municipal de Educação Infantil


Professora Inês dos Ramos, em São Caetano do Sul (SP) estão,
literalmente, fazendo arte. Há oito meses, as crianças, que têm de dois a
seis anos, participam de um programa especial criado pela pedagoga e
coordenadora de Educação Artística da escola, Cibele Mendes. Ele se
chama Projeto Arte e contou com a participação de todos os professores
da escola. A garotada foi incentivada a criar histórias e a fazer trabalhos
de arte usando vários materiais.

O resultado vem sendo melhor do que o esperado, de acordo


com os organizadores. Estimuladas a pensar, inventar e manifestar sem
bloqueios seus sentimentos, as crianças aprimoraram sua linguagem e
capacidade de concentração.
36

O programa foi dividido em três etapas. Na primeira delas, os


professores mostraram à turma trabalhos de alguns artistas. O objetivo
era despertar o interesse dos alunos pela atividade de fazer arte. Eles
conheceram títulos da literatura infantil e também obras de mestres das
artes plásticas, como Pablo Picasso, Tarsila do Amaral e Cândido
Portinari.

Na segunda etapa, os professores incentivaram a garotada a


criar pinturas, desenhos e trabalhos em massa de modelar, a partir das
obras que as crianças tinham conhecido na primeira fase.

Mas o que fez mais sucesso entre os alunos foi a terceira parte. A
escola organizou uma série de visitas de cantores, escritores e pintores.
Entre os visitantes estavam os artistas plásticos Wilmar Gomes, Fabrizio
Dell’Arno e Vera Cavalcante; o grafiteiro Job Leocádio; o músico Júlio
Malc; e as escritoras Eva Furnari e Regina Drummond. Todos
conversaram com a turma e mostraram como trabalham. Os escritores,
por exemplo, contaram histórias. E os artistas plásticos pintaram algumas
telas ao vivo, em plena sala de aula.

Fora dos muros da Emei, as crianças também tiveram contato


com literatura, música, dança, teatro e artes plásticas. Elas visitaram o
Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. E foram várias vezes à
Fundação das Artes de São Caetano do Sul
para assistir a espetáculos musicais, de dança e peças de teatro.
37

O projeto será concluído no final deste mês. “Vamos fazer uma


grande mostra de todas as atividades realizadas durante o ano e
lançaremos um livro contando essas experiências”, informa a pedagoga
Cibele Mendes. “Nosso objetivo é duplo”, comenta ela. “Queremos que a
criança aprenda a apreciar a arte, mas que ela também se sinta capaz de
criar”, define. Os pequenos artistas de São Caetano estão cumprindo
ambas as expectativas”.

Texto produzido por Juliana Motta.

Este relato mostra como as crianças estão sendo estimuladas a


pensar, criar, mostrar seus sentimentos. É um trabalho onde as crianças
aprimoram sua linguagem artística e aumentam sua capacidade de
concentração. Mais do que aprender a apreciar a arte, ela está sendo levada a
perceber que é capaz de criar também.
38

CONCLUSÃO

A Arte pode contribuir imensamente para o desenvolvimento da


criança, tanto nos primeiros anos de vida quanto na vida escolar.

Se receber uma educação através da arte, vai crescer tendo uma


sensibilidade maior para o mundo que a rodeia, pois arte é conhecimento e
envolve o pensamento, o sentimento estético e a formação intelectual da
criança.

O importante é que educadores estejam abertos às mudanças, no


sentido de aprofundarem mais seus conhecimentos na psicologia do
desenvolvimento infantil e se permitirem ensinar arte às crianças através da
Arte.

Neste trabalho, visamos identificar e explicar várias teorias e


abordagens disponíveis sobre a importância que a arte tem para o
desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor das crianças. Com isso, tentamos
propiciar uma visão geral e abrangente dos aspectos positivos, negativos, o
quanto cada estudioso no assunto influencia e como as opiniões de cada um
levam à mesma conclusão de que a arte desempenha um papel
potencialmente vital na educação das crianças.

Portanto a criança que tiver a felicidade de desde seus primeiros anos


de vida estar em contato com este mundo fantástico e envolvente que é a arte,
crescerá sendo um indivíduo mais sensível, crítico e criativo. Será um ser
39

humano mais equilibrado, adaptado e feliz, e terá mais facilidade de se


relacionar com o mundo que o rodeia.

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43

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – A importância da arte para o desenvolvimento


das crianças 10

CAPÍTULO II – Motivar para criar 14

CAPÍTULO III – Desenho infantil 18

CAPÍTULO IV – As linguagens da arte 23

4.1 – Artes Visuais 24


4.2 – Dança 25
4.3 – Teatro 26
4.4 – Música 27

CAPÍTULO V – O ensino de arte 29

CAPÍTULO VI – Relatos de educadores 31

6.1 – Inspiração Infantil 32


6.2 – Ateliê de Pintores Mirins 36

CONCLUSÃO 39
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40
BIBLIOGRAFIA 41
ÍNDICE 45
44

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Título da Monografia: A IMPORTÂNCIA DA ARTE PARA O


DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

Autor: ELIAN HARSCHE DA COSTA

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito:

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