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Durante sua busca pelas origens da ordem social, que durou toda sua vida,
Voegelin veio a compreender a política não como uma esfera autônoma de
atividade, independente da cultura de uma nação, mas como uma articulação
pública de como uma sociedade imagina a relação adequada entre seus
membros e com o mundo cósmico. Somente quando as instituições políticas
de uma sociedade são produto orgânico de uma concepção amplamente
compartilhada, e existencialmente viável sobre o lugar da humanidade no
universo, é que se conseguirá obter uma vida social bem ordenada. Como
colorário de seu entendimento de vida política, Voegelin rejeitava a fé
contemporânea e racionalista no poder dos modelos de constituições bem
escritas para assegurar a continuidade da existência de uma organização
política saudável. Ele argumentava que “se um governo nada mais é do que
uma representação em seu sentido constitucional, um chefe representativo
[verdadeiro] irá, logo ou mais tarde, dar fim à ele... Quando um representante
não cumpre sua tarefa existencial, nenhuma legalidade constitucional de seu
cargo o salvará.”
Voegelin fez uso de uma extensa análise histórica para defender sua visão
do caráter representativo de políticas sadias, análises que apareceram
sobretudo em sua grande obra de vários volumes História das Ideias Políticas
– no qual não foi publicada em sua maioria, ao longo da vida de Voegelin,
devido ao aprofundamento dos estudos mudar o foco de sua pesquisa – e
Ordem e História. Esse trabalho foi mais do que apenas uma exposição de
suas ideias, uma vez que ele entendia a representação política em si mesma
não como uma construção estática e atemporal, mas como um processo
histórico em aberto, de modo que uma representação política adequada em
uma época e lugar falhará em ser representativa para um período diferente
ou povo diferente.
A atitude mais sensata para os membros de uma sociedade com tal auto-
entendimento era reconciliar-se com os papéis fixos no funcionamento deste
implacável universo, e inspirador de temor. O imperador ou faraó era um ser
divino, o representante da sociedade da chefia divina e da ordem cósmica, e
tão inaproximável como os deuses. A derrubada dos impérios cosmológicos
no mundo mediterrâneo vieram com as conquistas de Alexandre, o Grande.
Após a divisão de seu império entre os generais, depois de sua morte, os
novos monarcas não poderiam reivindicar de maneira plausível o mandato
divino que os chefes nativos haviam estabelecido como base de suas
autoridade, uma vez que sua ascensão estava tão claramente baseada na
conquista militar, e não em uma lei antiga de um deus buscando prover aos
povos recém-conquistados um guia divino.
Mas no mundo dos sonhos gnóstico, perguntar quais são os supostos ganhos
e perdas que os beneficiários de uma cruzada virtuosamente motivada
podem conseguir é repudiado como uma falta de compromisso com a
realidade. O que importa ao revolucionário gnóstico é que seu esquema
tenha a pretensão de um resultado nobre; só isso justifica o seu
comprometimento. Tal desprezo em considerar as confusas e complexas
circunstâncias do mundo real é exemplificada pela prestação de contas da
política externa de George W. Bush que um de seus assessores forneceu a
um jornalista perplexo, Ron Suskind, que descrevia seu encontro na Revista
da New York Times:
Muito mais poderia ser dito sobre a relevância da filosofia política de Voegelin
na nossa política externa, mas os rápidos pontos apresentados acima devem
ser suficientes para persuadir aqueles abertos a tais análises realistas a ler A
Nova Ciência da Política, e tirar suas próprias conclusões. Enquanto é
verdade que Voegelin resistia a ser rotulado por qualquer classificação
ideológica, existem importantes aspectos de seu pensamento que são
conservadores em sua natureza. Ele rejeitava a noção, algumas vezes
presentes no conservadorismo romântico, de que a solução para nossos
problemas presentes está no restabelecimento do estado de coisas do
passado: ele era muito bem consciente para cair na armadilha do chamado
“utopismo nostálgico”, reconhecendo que a história sempre se move para
frente, e o passado irremediavelmente para trás. Mesmo assim,
reconhecemos que nossas tradições devem ser estudadas mais de perto e
compreendidas adequadamente, dado que, enquanto não faz sentido tentar
repetir o passado, ainda é apenas pelo entendimento de descobertas
alcançadas por nosso antecessores que podemos avançar com alguma
esperança de um resultado feliz.