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Como Voegelin Diagnosticou o Mal dos Neoconservadores

Eric Voegelin muitas vezes é reconhecido como principal figura no


pensamento conservador do século XX – um de seus conceitos inspiraram
um termo muito usado na direita por décadas, “não imanentize o escathon” –
ainda que tivesse rejeitado rótulos ideológicos. Em sua juventude, em Viena,
atendeu aos famosos seminários de Mises, onde desenvolveria amizades
duradouras com figuras que se tornariam importante no renascimento do
liberalismo clássico, como F.A Hayek, mas que posteriormente rejeitaria seu
libertarianismo como outra derivação equivocada do projeto Iluminista.
Voegelin tem sido às vezes comparado com o teórico político Michael
Oakeshott, o qual admirava grandemente seu trabalho, mas Voegelin
baseava sua teorização política em uma visão espiritual, de modo muito
alheio ao pensamento de Oakeshott. Voegelin certa vez escreveu, “Tenho
sido chamado de todo tipo de nome imaginável pelos partidários desta ou
aquela ideologia... um comunista, um fascista, um nacional socialista, um
liberal antigo, um liberal moderno, um judeu, um católico, um protestante, um
platonista, um neo-agostiniano, um tomista, e por fim um hegeliano.”

Quaisquer que sejam os seus paradoxos, Voegelin era, acima de tudo, um


apaixonado buscador da verdade. Ele nenhuma atenção prestava a que
partido suas descobertas agradariam ou desagradariam, e estava disposto a
abandonar grandes quantidades de manuscritos, material que poderia ter
impulsionado sua reputação como acadêmico, se o desenvolvimento de seu
pensamento o levasse a acreditar que precisasse buscar outra direção.
Como tal, suas ideias merecem a atenção de qualquer um que sinceramente
procura as origens da ordem política. E eles possuem uma relevância
marcante, dado as recentes incursões americanas voltadas a consertar os
problemas do mundo por meio de intervenções militares em regiões
distantes.

Voegelin nasceu em Colônia, Alemanha, em 1901. Sua família se mudou


para Viena quando tinha 9 anos, e de lá obteve doutorado em ciência política
em 1922, sob a supervisão de Hans Kelsen, o autor da constituição da nova
república austríaca, e do economista Othmar Spann. Ele subsequentemente
estudaria Direito em Berlim e Heidelberg, e passaria um verão na
Universidade de Oxford tendo aulas de Inglês (Ele comentava que seu inglês
era tão fraco, que quando chegou, se perguntava do por que de um pregador
de rua ser tão entusiasta dos benefícios dos queijos, antes de descobrir que
o homem estava na verdade pregando sobre Jesus) Ele então viajou para os
Estados Unidos, onde tomou cursos em Columbia com John Dewey, em
Harvard com Alfred North Whitehead, e em Wisconsin com John R.
Commons, onde ele dizia que descobria pela primeira vez “a América
autêntica e real”

Uma vez retornado à Áustria, ele voltou a atender o Seminário de Mises, e


publicou duas obras críticas da doutrina do racismo em ascensão. Isso o
tornou alvo dos nazistas, levando à sua demissão na Universidade de Viena
após o Anschluss. Assim como muitos outros intelectuais austríacos, a
investida nazista o fez deixar Viena (Ele e sua esposa planejaram obter seus
vistos e fugir para a Suíça no mesmo dia em que a Gestapo viera apreender
o seu passaporte em casa). Voegelin eventualmente estabeleceu-se na
Universidade do Estado da Louisiana, onde daria aulas por 16 anos, antes de
voltar atrás e retornar à Alemanha para promover a democracia constitucional
americana em sua terra natal. A hostilidade gerada por sua declaração de
que a culpa da ascensão do nazismo não poderia ser atribuída somente à
elite do Partido Nazista, mas deve ser compartilhada com o povo alemão em
geral, o levou a retornar aos Estados Unidos, onde morreria em 1985.

Durante sua busca pelas origens da ordem social, que durou toda sua vida,
Voegelin veio a compreender a política não como uma esfera autônoma de
atividade, independente da cultura de uma nação, mas como uma articulação
pública de como uma sociedade imagina a relação adequada entre seus
membros e com o mundo cósmico. Somente quando as instituições políticas
de uma sociedade são produto orgânico de uma concepção amplamente
compartilhada, e existencialmente viável sobre o lugar da humanidade no
universo, é que se conseguirá obter uma vida social bem ordenada. Como
colorário de seu entendimento de vida política, Voegelin rejeitava a fé
contemporânea e racionalista no poder dos modelos de constituições bem
escritas para assegurar a continuidade da existência de uma organização
política saudável. Ele argumentava que “se um governo nada mais é do que
uma representação em seu sentido constitucional, um chefe representativo
[verdadeiro] irá, logo ou mais tarde, dar fim à ele... Quando um representante
não cumpre sua tarefa existencial, nenhuma legalidade constitucional de seu
cargo o salvará.”

Para Voegelin, um governo verdadeiramente “representativo” garante, mais


do que o argumento relativamente superficial de que os cidadãos possuam
alguma voz em seu governo, que sejam também atendidas de forma eficaz
as necessidades básicas de “assegurar a paz doméstica, a defesa do
território, a administração da justiça, e cuidar do bem-estar da população”.
Segundo ponto, uma ordem política deve representar a compreensão dos
seus membros quanto ao seu papel no mundo cósmico. Podemos melhor
entender o sentido dos conceitos de Voegelin ao se pensar no mundo
islâmico, onde tentativas de se criar democracias constitucionais e liberais
terminariam por levar às teocracias islâmicas: o primeiro tipo de governo é
“representativo”, no sentido estrito e constitucional, enquanto o segundo
representa o real entendimento destas sociedades quanto ao seu papel no
mundo.

Voegelin fez uso de uma extensa análise histórica para defender sua visão
do caráter representativo de políticas sadias, análises que apareceram
sobretudo em sua grande obra de vários volumes História das Ideias Políticas
– no qual não foi publicada em sua maioria, ao longo da vida de Voegelin,
devido ao aprofundamento dos estudos mudar o foco de sua pesquisa – e
Ordem e História. Esse trabalho foi mais do que apenas uma exposição de
suas ideias, uma vez que ele entendia a representação política em si mesma
não como uma construção estática e atemporal, mas como um processo
histórico em aberto, de modo que uma representação política adequada em
uma época e lugar falhará em ser representativa para um período diferente
ou povo diferente.

Os tipos de representação mais antigos descritos por Voegelin eram os


antigos “impérios cosmológicos”, tais como os do Egito e do Oriente Próximo.
Seus governos imperiais foram bem sucedidos em organizar sociedades por
milênios, pois estiveram fundamentados em mitologias cósmicas que,
enquanto continham fenômenos cíclicos, como o dia, noite e estações,
representava a sequência de tais ciclos como eterna e imutável. Eles
“simbolizavam a sociedade politicamente organizada como um análogo
cósmico... permitindo períodos vegetativos e revoluções celestiais
funcionarem como modelos para o ordenamento estrutural e processual da
sociedade.”

A atitude mais sensata para os membros de uma sociedade com tal auto-
entendimento era reconciliar-se com os papéis fixos no funcionamento deste
implacável universo, e inspirador de temor. O imperador ou faraó era um ser
divino, o representante da sociedade da chefia divina e da ordem cósmica, e
tão inaproximável como os deuses. A derrubada dos impérios cosmológicos
no mundo mediterrâneo vieram com as conquistas de Alexandre, o Grande.
Após a divisão de seu império entre os generais, depois de sua morte, os
novos monarcas não poderiam reivindicar de maneira plausível o mandato
divino que os chefes nativos haviam estabelecido como base de suas
autoridade, uma vez que sua ascensão estava tão claramente baseada na
conquista militar, e não em uma lei antiga de um deus buscando prover aos
povos recém-conquistados um guia divino.

A base da polis grega era o panteão helênico. Quando a fé naquele panteão


foi abalado pelas obras dos filósofos, a pólis deixou de ser uma forma viável
de organização política, tal como os que resistiam à sua decadência
reconheceram, quando condenaram Sócrates à morte por não acreditar nos
deuses cívicos. Os romanos, um povo não muito propenso à especulação
teórica, trataram de manter seu modelo político de cidade-estado republicana
por mais tempo do que os gregos, mas os desgastes gerados pelos custos
de possuir um vasto império e as exigências de governá-lo – bem como a
crescente influência do pensamento filosófico grego em Roma – mostraram-
se fatais para a república.

Assim, a civilização mediterrânea entrou em um período de crise,


caracterizado pelo governo imperial e cínico dos imperadores romanos, bem
como por uma busca urgente por um novo princípio de ordenação da
existência social entre seus membros, o qual produziria uma infinidade de
cultos e credos, que proliferaria durante os séculos imperiais. A crise foi
finalmente resolvida quando o Cristianismo, institucionalizado pela Igreja
Católica, triunfou como uma nova base para a organização da sociedade
ocidental, enquanto a Igreja Ortodoxa, centrada em Constantinopla, cumpriu
papel similar no Oriente.

Voegelin considera que a ordem medieval cristã entrou em ruptura devido à


desespiritualização da Igreja, resultante de sua crescente atenção ao poder
sobre as questões seculares. Sendo bem sucedida em restaurar a ordem civil
na Europa Ocidental durante os vários séculos que se seguiram à queda de
Roma, a Igreja poderia ter feito melhor, segundo Voegelin, se tivesse abrido
mão voluntariamente de sua posição material como a maior força econômica,
o que poderia ser justificada nos tempos anteriores como parte do processo
civilizatório.” Além disso, as novas teorias da filosofia natural produzidas pela
nascente “civilização secular, independente... requeriam uma rendição
voluntária do lado da Igreja daqueles elementos civilizacionais antigos que
se mostravam incompatíveis com a nova civilização ocidental... [porém] mais
uma vez a Igreja se mostrou hesitante em se ajustar adequadamente e no
momento certo.”

A crise causada pelo fracasso da Igreja em ajustar sua situação às novas


realidades vieram à tona com a divisão da Cristandade Ocidental durante a
Reforma Protestante e a ascensão da autoridade do estado-nação sobre a da
Igreja.

Os recém dominantes estados-nação tentaram energicamente e


repetidamente criar novos mitos que poderiam legitimar o domínio sobre seus
súditos. Mas estes foram compostos daquilo que Voegelin chamava de
“hieróglifos”, evocações superficiais de um conceito pré-concebido que
falhava em expressar sua essência, uma vez que aqueles que o invocavam
não haviam ainda refletido sobre realidade por trás do conceito original. Mas
como eram empregados fora do contexto do qual sua validade original surgiu,
nenhum desses esforços criaram uma base genuína para uma ordem estável
e humana.

A percepção de superficialidade dos novos arranjos sociais tornaram-se a


motivação e o alvo de uma série de utopias modernas e ideologias
revolucionárias, culminando no fascismo e comunismo. Esses movimentos
evocavam aquilo que haviam sido símbolos vivos para a Europa Medieval –
tais como a “salvação”, o “fim dos tempos”, e a “comunhão dos santos”– mas
como os revolucionários haviam perdido o fundamento espiritual daqueles
símbolos, eles o perverteram em slogans políticos, tais como a “emancipação
do proletariado”, a “utopia comunista”, e a “vanguarda revolucionária”.

Essa análise é a fonte da expressão “imanentize o escathon”: como


entendido por Voegelin, esses movimentos revolucionários haviam
confundido um símbolo espiritual, o reino dos céus triunfante (o escathon),
com uma possível meta na política do mundo, e eles tentavam criar o paraíso
terrestre (a imanentização) através da ação revolucionária. Ele descrevia
algumas vezes essa necessidade de criar o paraíso na terra pelos meios
políticos como “Gnóstica”, especialmente em sua obra mais popular, A Nova
Ciência da Política (Voegelin mais tarde viria a questionar a precisão histórica
de sua escolha terminológica)

Mas o comunismo e fascismo não foram os únicos exemplos disponíveis


quando Voegelin escrevia, as democracias liberais constitucionais,
especialmente aquelas do Mundo Anglo-Saxão, resistiram aos movimentos
revolucionários. Enquanto Voegelin não era um liberal moderno, sua atitude
em relação a estes regimes era consideravelmente mais favorável do que em
relação ao comunismo e fascismo. Ele via certas tendências nas
democracias ocidentais, tais como a reverência pelo bem-estar material e as
tentativas de limitar as convicções religiosas à esfera puramente privada,
como sintomas da crise espiritual em desdobramento no Ocidente. Por outro
lado, ele acreditava que em lugares como a Inglaterra e os Estados Unidos
houveram menor destruição dos fundamentos culturais clássicos e cristãos
do Ocidente, de modo que as democracias liberais haviam mantido mais
recursos culturais para o combate à crescente desordem do que em qualquer
outro lugar da Europa no presente.

Como resultado, ele apoiava firmemente as democracias liberais nos seus


esforços para resistir ao comunismo e fascismo, e seu retorno à Alemanha no
pós-guerra foi acompanhada pela esperança de promover um sistema
político inspirado nos Estados Unidos em sua terra natal. Podemos melhor
compreender a atitude de Voegelin em relação à democracia liberal como
sendo, “Bem, é o melhor que podemos fazer na situação presente.”

Ele via o pêndulo da ordem e decadência como sempre em movimento, e


estava convencido de que um dia uma nova cosmologia poderia surgir,
constituindo a base para uma nova ordem civilizacional. Por enquanto, as
democracias ocidentais têm pelo menos conseguido lidar com pessoas com
entendimentos profundamente divergentes de seu lugar no mundo cósmico,
vivendo vidas decentemente ordenadas e em relativa paz. Sempre um
realista, Voegelin não era daqueles de torcer o nariz para qualquer ordem
que seja possível para alcançar em nossas circunstâncias reais.

Entretanto, as democracias liberais estão sujeitas a cair como vítimas de sua


própria forma de “imanentização do escathon”, se elas tomarem a ordem
genuína, e embora limitada, que eles puderam alcançar com a meta universal
de toda a história e de toda a humanidade. Esse erro, sugiro, está por trás
das aventuras utópicas da recente política externa americana, tanto nas
formas neoconservadoras como liberais wilsonianas. A análise de Voegelin
do “Gnosticismo” pode nos ajudar a compreender melhor a natureza de tal
tendência na política externa ocidental (podemos utilizar o termo “gnóstico”
mesmo reconhecendo que sua conexão histórica com o antigo gnosticismo é
questionável).

Voegelin de nenhuma forma era pacifista – tanto que comprometeu-se com a


ideia de que o Ocidente tinha a responsabilidade de resistir militarmente ao
barbarismo expansionista da União Soviética. Ainda que seja pouco provável
que ele teria tido alguma paciência com o triunfalismo utópico ocidental
muitas vezes exibido pelos neoconservadores e wilsonianos.

A “personalidade gnóstica”, denominada por Voegelin, possui grande


dificuldade de aceitar que a inconstância da existência temporal é inerente à
natureza da existência. Assim, segundo ele, o gnóstico busca congelar a
“história em um reino de definitiva eternidade neste mundo.” A visão comum
de que qualquer nação que não abrace alguma forma de democracia
constitucional e liberal necessite ser re-educada à maneira ocidental, pela
força se necessário, e da consequente obstinação em instalar tais regimes
sempre que possível, demonstra a crença de que nós no Ocidente temos
alcançado o ápice dos arranjos sociais e que devemos “congelar a história”.

Um dos principais vícios que Voegelin atribui ao gnosticismo é a vontade de


viver em um mundo de sonhos e a relutância em aceitar que a realidade
perturbe esse sonho. Durante os vários anos de violência caótica que se
seguiu à “vitória” americana no Iraque, a dificuldade de evadir continuamente
dos fatos que apareciam levavam a alguns que apoiavam a guerra a admitir
que as coisas não correram como o esperado, em suas fantasias anteriores à
guerra. Mesmo assim, pouco desses realistas relutantes são propensos a
aceitar que dar início à guerra foi um equívoco. Uma esquiva popular que
eles recorrem é perguntar aos críticos, “Então, você preferiria que Hussein
ainda estivesse no poder e ainda oprimisse o povo iraquiano?”.

Essa resposta assume que se a meta é louvável, enquanto avaliada em uma


folha em branco no qual todos os argumentos contrários foram eliminados,
então a sua busca é completamente justificável. Infelizmente, como
demonstrado nos anos pós-invasão do Iraque, foi bem possível depor
Hussein e criar ao mesmo tempo maiores infortúnios para os iraquianos. A
tradição moral ocidental, vinda primariamente dos filósofos gregos e teólogos
cristãos, negavam que um apelo a boas intenções era uma defesa suficiente
da moralidade de uma ação. Esta tradição concebia que toda pessoa
preocupada em buscar o bem era obrigada a ir mais além, dando o máximo
de considerações prudentes dos prováveis desdobramentos de uma escolha
que as circunstâncias permitiam.

Mas no mundo dos sonhos gnóstico, perguntar quais são os supostos ganhos
e perdas que os beneficiários de uma cruzada virtuosamente motivada
podem conseguir é repudiado como uma falta de compromisso com a
realidade. O que importa ao revolucionário gnóstico é que seu esquema
tenha a pretensão de um resultado nobre; só isso justifica o seu
comprometimento. Tal desprezo em considerar as confusas e complexas
circunstâncias do mundo real é exemplificada pela prestação de contas da
política externa de George W. Bush que um de seus assessores forneceu a
um jornalista perplexo, Ron Suskind, que descrevia seu encontro na Revista
da New York Times:

O assessor disse que pessoas como eu estavam ‘na chamada sociedade


real’, no qual ele definia como pessoas que ‘acreditavam que as soluções
partiam de estudos sensatos de realidades observáveis`. Eu anotei e
murmurei algo sobre os princípios iluministas e o empirismo. Ele me cortou.
‘Não é assim que o mundo realmente funciona mais,’ ele continuou ‘Somos
um império agora, e quando agimos, criamos nossa própria realidade. E
enquanto você está estudando tal realidade – sensata, como queira –
agiremos novamente, criando outras novas realidades, na qual você pode
estudar também, e é assim como as coisas serão resolvidas. Somos os
agentes da história...e a vocês, todos vocês, restarão apenas estudar o que
fazemos.’
Como foi ficando claro que sua aventura no Iraque não correspondia às suas
promessas de produzir de maneira rápida e sem custos um regime pró-
ocidental, democrático e estável no meio do mundo Árabe, apoiadores da
guerra sentiram aversão em conceber a possibilidade de que seu fracasso
deveu-se ao seu entendimento irrealista da situação. Ao invés disso, eles
muitas vezes buscaram pôr a culpa nas deficiências daqueles no qual
tentaram nobremente resgatar, o povo do Iraque. Voegelin notou esta
tendência gnóstica algumas décadas mais cedo: “O abismo entre o efeito real
e intencionado será imputado não na imoralidade gnóstica de ignorar a
estrutura da realidade, mas à imoralidade de algumas outras pessoas ou
sociedade que não se comportam como deveriam, conforme a concepção
dos sonhos de causa e efeito.”

Muito mais poderia ser dito sobre a relevância da filosofia política de Voegelin
na nossa política externa, mas os rápidos pontos apresentados acima devem
ser suficientes para persuadir aqueles abertos a tais análises realistas a ler A
Nova Ciência da Política, e tirar suas próprias conclusões. Enquanto é
verdade que Voegelin resistia a ser rotulado por qualquer classificação
ideológica, existem importantes aspectos de seu pensamento que são
conservadores em sua natureza. Ele rejeitava a noção, algumas vezes
presentes no conservadorismo romântico, de que a solução para nossos
problemas presentes está no restabelecimento do estado de coisas do
passado: ele era muito bem consciente para cair na armadilha do chamado
“utopismo nostálgico”, reconhecendo que a história sempre se move para
frente, e o passado irremediavelmente para trás. Mesmo assim,
reconhecemos que nossas tradições devem ser estudadas mais de perto e
compreendidas adequadamente, dado que, enquanto não faz sentido tentar
repetir o passado, ainda é apenas pelo entendimento de descobertas
alcançadas por nosso antecessores que podemos avançar com alguma
esperança de um resultado feliz.

Enquanto as circunstâncias históricas nunca se repetem, Voegelin entendia a


natureza humana e sua relação com o eterno como uma tentativa de criar um
denominador comum em todos os tempos e lugares, um entendimento que
com certeza é o ponto central de qualquer conservadorismo genuíno. Assim,
é nossa tarefa criar novamente, em nossas próprias mentes, os avanços
brilhantes na compreensão da condição humana que foram alcançados por
tais figuras como Platão, Aristóteles, Agostinho e Aquino. Esses avanços
servem como fundamento dos nossos esforços de responder
adequadamente às novas condições de nosso tempo. A mensagem de
Voegelin é aquela que qualquer conservador sensato deve tentar prestar
atenção.

Gene Callahan ensina economia em SUNY Purchase e é o autor de


“Oakeshott sobre Roma e América.”
(http://www.theimaginativeconservative.org/author/genecallahan)
Mais artigos sobre o
autor(http://www.theimaginativeconservative.org/author/genecallahan)

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