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Disciplina ÉTICA II

2023/1
Prof. Dr. Paulo Hahn
Aluno: Umberto Maciel (00326075)
Aluno: Leandro Olegário (00266007)

Fundamentação da Metafísica dos Costumes

Na Fundamentação da Metafísica dos Costumes (FMC), Immanuel Kant busca


estabelecer os fundamentos racionais da moralidade, da ética, bem como a relação entre
liberdade e dever. Ao longo da obra, Kant aborda o tema da liberdade humana e como ela se
relaciona com o cumprimento do dever moral, apresentando uma visão da moralidade baseada
em princípios racionais. O objetivo é fornecer fundamentos sólidos e universais para a ação
moral.
Abaixo, segue o conteúdo da apresentação feita no dia 28/08/2023, ele está distribuído
e identificado por cada slide apresentado.

SLIDE 1

A natureza não é justa com todos, ela não está nem aí para você. Vejamos por exemplo
a beleza, por mais que minha mãe me ache lindo, se eu disputar um concurso de beleza com o
Henry Cavill (Superman, Enola Holmes), tirando a minha mãe (e acho que nem ela), ninguém
votaria em mim.
Então a natureza não é justa com todos, ela distribui recursos de forma desigual, seja a beleza,
a inteligência, a genética.
Mas então, podemos afirmar que a natureza determina o valor da pessoa? de maneira alguma,
uma pessoa virtuosa é aquela que busca fazer o bem sem distinção, sem esperar nada em troca
(parábola do bom samaritano, Lucas 10, 25-37).
Então, a pessoa para ser virtuosa não precisa ser rica, ser pobre, ser o Superman ou o Umberto...
o que importa é o que faz com aquilo que você tem, com seus próprios recursos, pois todo e
qualquer recurso pode ser usado para o bem ou para o mal.
Eu posso ser rico e usar meu dinheiro para ser um terrorista, assim como posso usar meu
dinheiro para tentar buscar a cura para alguma doença e beneficial pessoas que eu nunca

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conhecerei. Assim como a beleza, eu posso ser uma pessoa linda e usar a beleza para tirar
vantagem das pessoas, ou o contrário.
Com isso, podemos concluir que aquilo que a natureza nos provém, não possuem um valor
intrínseco, não possuem valor em si ... mas o que eu faço com aquilo que eu recebo da natureza,
isso sim demonstra valor, ética, virtude.
Então entramos em Kant. Não importa o que a natureza tenha te dado, o quão boa foi tua
genética, ou tua família, ou tua riqueza, o que realmente importa é a BOA VONTADE.
Kant destacou o papel da razão, sendo que é ela que distingue os seres humanos dos outros
seres da natureza.

SLIDE 2

Segunda seção: "O imperativo categórico é portanto só um único, que é este: Age apenas
segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal."
(KANT, 2007, p. 59)

SLIDE 3

- Valor moral dos dons naturais e dons da fortuna

"Não há nada em lugar algum no mundo e até mesmo fora dele que se possa pensar como
irrestritamente bom, a não ser tão somente uma boa vontade" (393, 5)

Kant afirma que os dons naturais e dons da fortuna, tais como talentos e circunstâncias
favoráveis, não possuem valor moral absoluto. Isso ocorre porque esses atributos podem ser
utilizados tanto de forma moral quanto imoral.
O valor moral desses dons está condicionado à boa vontade, que é o elemento central na
moralidade. Além disso, Kant ressalta que a felicidade também possui um valor limitado, uma
vez que pode ser corrompida e não é necessariamente um indicativo de bondade moral.
Mas Kant não está dizendo que um bem que seja intrinsicamente bom não tem valor, ele está
dizendo que um bem não é garantia de boa vontade, somente a boa vontade é que é "pura"
digamos assim.

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Kant diz que não é porque um homem que reúne diversos atributos naturais, que isso seja uma
espécie de "bilhete de garantia para a presunção de boa vontade", isso não é condição alguma
de boa vontade.

Para Kant, um homem reunir vários dons naturais, não é certeza nenhuma de que tais dons serão
utilizados para a boa vontade ... eu posso ser um negociador nato, mas posso usar meu "dom de
negociador" para o mal, para convencer as pessoas de fazerem o mal (olhem o Charles Manson)
... ou seja: eu posso até me tornar um Sofista!!! Para Kant, a boa vontade faz parte de um valor
intrínseco da pessoa.

"algumas propriedades são até favoráveis a essa boa vontade e podem facilitar muito sua
obra" (393, 25), mas não podemos afirmar que se uma pessoa não tem determinados atributos,
ela não pode ter boa vontade. Kant na verdade dizia que atributos/dons naturais podem facilitar,
mas que eles são indiferentes.

Tudo isso que falei, sobre dons naturais, é aplicado exatamente para os dons da fortuna (riqueza,
poder, saúde, etc)... o poder (Macht), que é um dom da fortuna, esse é um dos exemplos mais
claros, pois a pessoa com poder pode facilmente usar para o bem, ou para o mal

SLIDE 4

- A importância da boa vontade

A boa vontade é fundamental para a ação moral. Kant destaca que ter uma boa vontade não se
resume apenas a desejar o bem, mas implica também na mobilização de todos os meios
necessários e possíveis para alcançá-lo.
A qualidade moral de uma vontade não está ligada ao sucesso na realização das intenções, uma
vez que fatores externos e consequências não intencionais estão fora do controle do agente
moral.
Essa perspectiva nega o consequencialismo, que avalia a moralidade de uma ação com base em
suas consequências. Ou seja, para Kant, o valor de uma ação não está jamais nas
consequências dessa ação e sim nas razões pelas quais você agiu daquela forma (sem
motivação final) - para Kant, isto é que tem valor, esse agir de forma livre (sem inclinações),
com base nos teus talentos, com base naquilo que a natureza deu para ti.

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E por que a consequência não é tão importante quanto a ação? A consequência não é lógica, ela
não é determinada por fórmulas precisa e perfeitas (acho que agora eu entendo o que David
Hume queria dizer). Eu posso seguir sempre uma regra, mas posso ter resultados totalmente
diferentes.
Um exemplo é jogar pedra na água para ver ela quicar, eu posso jogar sempre da mesma forma,
com a intenção de que ela dê três saltos, mas uma hora o vento pode atrapalhar, outra hora a
água pode atrapalhar.

Assim, temos duas coisas distintas: DESEJO e VONTADE


Desejo: é a falta de algo, sempre que o meu agir é determinado pelo desejo de um objeto, o que
busco é o prazer que este objeto pode me proporcionar.
Vontade: é o resultado do uso da inteligência, o resultado sobre o que eu devo fazer. Eu posso
ter desejo de algo, mas minha vontade não permitir. Para Kant, a vontade é considerada a
capacidade de agir segundo princípios.

Então, citando Kant:


"Se a razão determina infalivelmente a vontade, as ações de um tal ser, que são conhecidas
como objetivamente necessárias, são também subjetivamente necessárias, isto é, a vontade
é a faculdade de escolher só aquilo que a razão, independentemente da inclinação,
reconhece como praticamente necessário" (KANT, 1974, p. 217).

Vamos imaginar o seguinte:


O prof. Paulo é um lutador de artes marciais e as mãos dele são como armas mortais. Então
ele está caminhando na rua e alguém, do nada, começa e ofender ele, chamar de tudo que é
coisa ... o prof. Paulo fica furioso e tem o desejo de usar suas "mãos assassinas" para punir
aquela pessoa e arrancar a cabeça dela. Ou seja, houve o desejo.
Mas a vontade de agir da forma correta não deixa o prof. Paulo arrancar a cabeça daquela
pessoa, ele para, pensa e sabe que se usar suas "mãos assassinas" agirá de forma totalmente
errada, causando um dano aquela pessoa por conta de sua habilidade.

SLIDE 5

- O argumento teleológico e a boa vontade ilimitada

Alan Wood e Schönecker organizam o argumento teleológico de Kant da seguinte forma:


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1) Seres vivos organizados possuem ferramentas que por sua vez têm seus fins próprios e
cumprem-nos da forma ideal
2) Seres vivos organizados não apenas estão alinhados aos fins das suas ferramentas (como
funções parciais do organismo completo), mas também ainda há um fim integral da sua
existência.
3) Há seres vivos organizados que possuem razão e uma vontade, quer dizer, razão como
faculdade prática.
4) A função de gerar felicidade não é realizada de forma ideal pela razão (o instinto, ao
contrário, realizaria esta função de forma ideal)
5) Portanto, a felicidade não é o fim integral da existência de um ser vivo organizado que possui
razão como faculdade prática
6) A função da razão como faculdade prática é antes a determinação da vontade boa em si.
(Woods, p. 54)

Kant utiliza um argumento teleológico para sustentar sua tese da boa vontade ilimitada. Ele
argumenta que, se a razão tivesse como finalidade produzir a felicidade como um fim em si
mesmo, não cumpriria adequadamente sua finalidade.
Portanto, a felicidade não é a tarefa da razão, mas sim a confirmação da vontade como algo
intrinsecamente bom.
No entanto, esse argumento apresenta algumas falhas e críticas. Segundo Wood as falhas nesse
argumento são óbvias, eles dizem que a premissa (1) pode ser posta em dúvida e é presumível
que seja simplesmente falsa em termos empíricos. Kant mesmo diz que temos de "supor" este
princípio.
Por exemplo, a premissa (2), assim como sua relação com a (1) é incompreensível.

SLIDE 6

O conceito de dever e respeito e as TRÊS proposições

Kant diferencia seres racionais perfeitos, que agem moralmente, dos seres racionais-sensíveis,
que possuem interesses e inclinações subjetivas. A lei moral é o dever para aqueles que possuem
interesses e inclinações, sendo uma ação por dever uma manifestação da boa vontade. A
primeira proposição para o dever afirma que uma ação por dever é uma ação realizada por
respeito à lei, enquanto a segunda proposição relaciona essa ação com a máxima oferecida pela

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lei moral. A terceira proposição associa esses dois momentos, estabelecendo que o dever é a
necessidade de agir por respeito à lei.

Mas aí temos um ponto que quem leu a Primeira Seção da FMC ficou bem intrigado. Kant
escreve claramente a "segunda proposição" e a "terceira proposição", mas onde diabos está a
"primeira proposição"?

Pra isso, ou tu és um especialista em Kant - que eu, por mais deseje, a vontade me avisa que
não sou -, ou tu precisa recorrer aos comentadores. No meu caso eu recorri ao
Schönecker/Wood, 2014, nas páginas 59/60/61 ele explica exatamente esta dúvida e aponta o
que seria a tal "primeira proposição" de Kant. Sei que existem outras alternativas, como a de
Timmermann e do Allison., mas optamos pela do Wood.

1. Primeira Proposição: "Uma ação por dever é uma ação por respeito à lei."
Nessa proposição, Kant descreve o aspecto subjetivo do conceito de dever. Ele
argumenta que uma ação realizada POR dever não é motivada PARA inclinações pessoais ou
interesses individuais, mas sim pelo respeito e obediência **à lei moral**.

2. Segunda Proposição: "Uma ação por dever segue-se de uma máxima ordenada pela lei moral
e, com isso, ela é uma ação ordenada como necessária através da lei moral objetiva."
Nessa proposição, Kant aborda o aspecto objetivo do conceito de dever. Ele destaca que
uma ação moralmente correta é aquela que segue uma máxima ou princípio que é consistente
com a lei moral objetiva. A ação deve ser coerente com as normas morais universais e não
apenas uma expressão arbitrária da vontade individual.

3. Terceira Proposição: "Dever é uma necessidade de uma ação por respeito à lei."
Nessa proposição, Kant estabelece a relação entre os dois aspectos mencionados
anteriormente. Ele argumenta que o dever moral é uma necessidade intrínseca de agir em
conformidade com a lei moral, por respeito e obediência a ela. O dever não é meramente uma
escolha ou preferência individual, mas uma obrigação moral que deriva da racionalidade e
autonomia da vontade humana.

Essas três proposições são fundamentais para o entendimento da ética kantiana e da concepção
kantiana de moralidade baseada no Imperativo Categórico. Elas estabelecem a ligação entre a

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intenção moralmente correta, a obediência à lei moral e a necessidade intrínseca de agir por
dever, independentemente das inclinações pessoais ou interesses individuais.

Outras formulações do que seria a **primeira proposição** são empregados por: Timmermann,
2007, p. 26. “Uma ação que coincide com o dever moral tem valor moral se, e apenas se, sua
máxima é produzida por necessidade”. Allison, 2011, p. 125. “Uma boa vontade sob condições
humanas é uma vontade cuja máxima tem conteúdo moral”.

NOTA)

Segundo Darley Fernandes, na tese de doutorado dele da Faculdade de Goiânia, 2019 ele diz:
Na verdade, o conceito de dever é introduzido na FMC para explicar o conceito de “boa
vontade”. Kant supôs oferecer três proposições do dever, quando na verdade partiu diretamente
da segunda proposição.
A ausência da primeira proposição faz com que os intérpretes levantem hipóteses diversas a
respeito de seu possível conteúdo e adotem diferentes perspectivas de investigação para
formulá-la. Kant oferece uma preciosa pista ao concluir que a terceira proposição é uma
implicação das “duas” anteriores.
A primeira proposição seria uma junção das duas últimas, envolvendo o aspecto objetivo e o
aspecto subjetivo da determinação moral. Considerando que a segunda proposição ressalta a
necessidade do fundamento objetivo na constituição do princípio do querer e que a terceira é
uma junção das duas primeiras e traz um fundamento subjetivo, o respeito – “dever é a
necessidade de uma ação por respeito a lei” - , a primeira proposição estaria relacionada ao
respeito tomado como fundamento subjetivo.

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- Ação por dever, por respeito, contrárias ao dever, e ação por inclinação mediata

Primeira Proposição: "Uma ação por dever é uma ação por respeito à lei."
Kant destaca a diferença entre uma ação por dever e uma ação por inclinação mediata. Uma
ação por dever é realizada sem qualquer inclinação, unicamente por respeito à lei moral, mas
objetivamente elas precisam ser determinadas pela própria lei. A ação por dever não é
determinada por inclinações, e exemplos são fornecidos por Kant para ilustrar essa distinção (o
do comerciante).
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Embora Kant não se preocupe em estabelecer uma teoria de motivação concordante, fica claro
que uma ação por dever não pode ser simultaneamente determinada por inclinações.
Kant explica que a primeira coisa que deve ser excluída são as “ações contrárias ao dever”,
então apenas as ações “conforme o dever” devem ser consideradas, além destas, Kant exclui
imediatamente as ações que têm origem em uma inclinação mediata/um interesse particular
(como no exemplo do comerciante).

Dito por Wood:


Temos, nesse caso, uma ação conforme ao dever, porém, não por dever.
O exemplo, oferecido por Kant, do comerciante que por receio de perder seus clientes, trata-os
com honestidade sem fazer distinções entre um freguês e outro. Vê-se, nesse exemplo, na ação
do comerciante que, muito embora conforme ao dever – ser honesto – não foi uma ação
praticada também por dever.

“É-se, pois servido honradamente; mas isso não é bastante para acreditar que o
comerciante tenha assim procedido por dever e princípios de honradez; o seu interesse
assim o exigia”. (KANT, 2007, p. 112).

Ou seja, um comerciante tende a atender de forma honesta por interesse de não perder seus
clientes, como dito por Kant: o comerciante não pode subir os preços para um comprador
inexperiente, e quando o movimento é grande, ele não pode simplesmente subir os preços, um
comerciante esperto não faz isso, ele mantém os preços iguais, mesmo que para uma criança.
Para Kant, o Imperativo Categórico é a bússola que guia as ações, Kant diz "sabe muito bem
o que fazer em todos os casos que se lhe deparem para distinguir o que é bom, o que é
mau, conforme ao deve ou a ele contrário" (404,2)
Temos que destacar aqui que para Kant, uma ação por dever tem estes dois componentes, não
podemos reduzi-la a um componente subjetivo. Ou seja, não adianta apenas eu acreditar que
estou agindo por dever, eu também preciso respeitar a lei moral e agir conforme ela.

"A condição fundamental que uma ação por dever tem que cumprir é a seguinte: ela tem
que ser conforme o dever." (Woods, p.63)

Ou seja, o que é fundamental para uma ação ser por dever? ela não pode ter nenhuma inclinação
pessoal, isso não significa que o indivíduo não possa sentir nenhum prazer no que está fazendo,
isso é até louvável, mas a ação por deve obrigatoriamente tem que ocorrer sem esta inclinação.
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O prazer que o indivíduo sente por ter agido por dever, tem que ser após a ação e não pode
motivar a ação. (na minha opinião algo bem difícil, pois isso poderia limitar as ações a apenas
uma única vez, pois se eu sei que determinada ação me dará prazer, eu já agirei por inclinação,
então como resolver isso? a solução é que para Kant o prazer não é algo ruim, pelo contrário,
ele é louvável, o que não pode ocorrer é fazer uma ação PARA o puro prazer, a motivação não
pode ser o prazer e sim a boa vontade)

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- O respeito como sentimento e valor objetivo

No exemplo do comerciante:

"pois é fácil distinguir aí se a ação conforme ao dever ocorreu por dever ou por intenção
egoísta. Muito mais difícil é notar essa diferença quando a ação é conforme ao dever e o
sujeito tem, além disso, uma inclinação imediata para ela" (397, 17)

Ou seja, o comerciante pode ser ético e agir por dever, mas como ele tem uma motivação, fica
difícil de notar essa diferença, se ele está agindo de por deve, ou de forma egoísta e apenas
fingindo para obter o resultado desejado. No caso do comerciante, ele age com honestidade,
mas em proveito próprio.

para Kant, a ação do comerciante : "a ação não acontecerá nem por dever, nem por
inclinação imediata, mas visando apenas o proveito próprio" (397, 31)

Na filantropia, Kant diz que ele age "sem outro motivo de vaidade ou proveito próprio" (398,9),
mas ele tem que agir por dever, sem existir alguma outra motivação, seja por querer se destacar
na sociedade, aparecer no jornal, etc.. mesmo sendo uma ação que terá um resultado louvável,
ela ocorrerá por inclinação e egoísmo.
O respeito é apresentado como um sentimento que reflete um valor objetivo. Assim como as
inclinações, o respeito pode motivar a ação. No entanto, o respeito é um sentimento autogerado
e não depende da natureza contingente do agente, mas sim da liberdade de sua razão.
Esse sentimento está relacionado à atividade da vontade autônoma na formulação de leis
morais, representando algo objetivamente valioso. A ética de Kant difere do consequencialismo
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- que afirma que o valor moral de um ato é determinado exclusivamente por suas consequências
- ao considerar a representação de valor de maneira distinta.

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A segunda proposição sobre o dever: a lei objetiva

"A segunda proposição é: uma ação por dever tem seu valor moral não por propósito a
ser alcançado através dela, mas sim na máxima segundo a qual é decidida, logo não
depende da realidade efetiva do objeto da ação, mas meramente do princípio do querer,
segundo o qual a ação ocorreu, abstração feita de todos os objetos da faculdade apetitiva."
(399,35) - faculdade de desejar.

Nessa proposição, Kant aborda o aspecto objetivo do conceito de dever - a lei moral. Ele
destaca que uma ação moralmente correta é aquela que segue uma máxima ou princípio que é
consistente com a lei moral objetiva. A ação deve ser coerente com as normas morais universais
e não apenas uma expressão arbitrária da vontade individual.
Essa proposição parece se basear na subjetividade, no princípio subjetivo, mas não é isso. O
que Kant diz é que apesar desta proposição ser subjetiva, sua ação é orientada pela lei moral,
ou seja, mesmo ela sendo subjetiva, ela necessariamente tem que seguir a lei moral.

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- A terceira proposição sobre o dever

Terceira Proposição: "Dever é uma necessidade de uma ação por respeito à lei."
"o valor do caráter, que é (um valor) moral e sem qualquer comparação mais alto, a saber,
que ele faça o bem, não por inclinação, mas por dever" (398,37)

Nessa proposição, Kant estabelece a relação entre os dois aspectos mencionados anteriormente,
ela é basicamente uma conclusão das duas anteriores.
Ele argumenta que o dever moral é uma necessidade intrínseca de agir em conformidade com
a lei moral, por respeito e obediência à ela. O dever não é meramente uma escolha ou

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preferência individual, mas uma obrigação moral que deriva da racionalidade e autonomia da
vontade humana.

Wood comenta sobre a palavra "respeito" que Kant introduz nessa terceira proposição: "por
respeito" e "por dever" tem o mesmo significado (Wood, p. 77)

Kant destaca a importância de agir por respeito à lei moral como um princípio universal e
objetivo, que se aplica a todos os seres racionais. Ele argumenta que a verdadeira moralidade
consiste em agir de acordo com esse princípio, reconhecendo a importância do dever e da
obrigação moral. A ação motivada pelo respeito à lei moral é considerada moralmente valiosa,
pois demonstra a capacidade de uma pessoa de se submeter às exigências universais da razão
prática.
Essa proposição ressalta a centralidade do dever na ética kantiana e a importância de agir por
respeito à lei moral como um princípio fundamental. Ela destaca que a moralidade verdadeira
não se baseia em sentimentos ou inclinações pessoais, mas sim na obediência à lei moral
objetiva.
Ao fazer o bem por dever, o indivíduo manifesta sua autonomia e sua capacidade de agir de
acordo com princípios morais universais, transcendendo os interesses individuais e as
influências externas.

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- A derivação do Imperativo Categórico

Imperativo Categórico é o dever de toda pessoa agir conforme princípios dos quais considera
que seriam benéficos, caso fossem seguidos por todos os seres humanos.

"Assim espera ela sair das dificuldades que lhe causam pretensões opostas, e fugir ao
perigo de perder todos os puros princípios morais em virtude dos equívocos em que
facilmente cai. Assim se desenvolve insensivelmente na razão prática vulgar, quando se
cultiva, uma dialéctica que a obriga a buscar ajuda na filosofia, como lhe acontece no uso
teórico; e tanto a primeira como a segunda não poderão achar repouso em parte alguma
a não ser numa crítica completa da nossa razão." (KANT, 2007, p.38)

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SLIDE 12

O que é a tal lei moral que Kant fala o tempo todo na primeira seção? ele prepara todo terreno
para responder isso na segunda seção.

Segunda seção: "O imperativo categórico é portanto só um único, que é este: Age apenas
segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei
universal." (KANT, 2007, p. 59)

Então Kant segue para o Imperativo Categórico que faz parte da segunda seção, mas é
basicamente o seguinte:

- Lei Universal do Imperativo Categórico


“Age como se a máxima da tua ação fosse transformada, através da tua Vontade, em uma
lei universal da natureza”.

- Fim em Si mesmo
"Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de
qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio"

- Legislador universal no Imperativo Categórico


“Aja de tal forma que a máxima de sua Vontade possa ser um princípio da legislação
universal”.

Na conclusão da primeira seção, Kant afirma que a moralidade é baseada na autonomia da


vontade. A autonomia da vontade é a capacidade de agir de acordo com a razão, mesmo quando
isso é contrário aos nossos desejos ou apetites. A moralidade só é possível se tivermos a
liberdade de escolher agir de acordo com a razão.

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O imperativo categórico é uma diretriz moral que deve ser seguida independentemente das
circunstâncias individuais ou dos desejos pessoais. Ele expressa a ideia de agir de acordo com
uma máxima que possa ser universalizada, ou seja, uma regra pela qual todos poderiam agir
sem conflitos morais.

Princípios-Chave:

Universalidade: Princípios morais devem ser aplicáveis a todos sem conflitos.

Autonomia: Ação guiada pela razão e vontade autônoma, não pelos desejos individuais.

Respeito à humanidade: Reconhecimento da dignidade inerente de todas as pessoas.

Base sólida para determinar o que é moralmente correto, independente das consequências.

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- Exemplo do Imperativo Categórico de Immanuel Kant

1. Universalidade:
Exemplo: Se todos mentissem sempre que fosse conveniente, a confiança mútua desapareceria,
tornando a comunicação impossível.

2. Autonomia:
Exemplo: Uma pessoa escolhe não fumar porque reconhece os riscos à saúde e toma essa
decisão com base na própria compreensão dos fatos, em vez de ceder a pressões sociais.

Para entender melhor esse exemplo, considere a situação em que uma pessoa está pensando em
mentir para obter algum benefício pessoal. Ao aplicar o imperativo categórico, ela deve se
questionar se a máxima dessa ação, que seria "mentir sempre que isso me beneficiar", pode ser
universalizada, ou seja, se todos os seres racionais pudessem agir dessa forma em todas as
situações.

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Ao refletir sobre isso, a pessoa percebe que, se a mentira se tornasse uma regra universal, a
confiança nas relações humanas seria prejudicada e a comunicação se tornaria caótica. Portanto,
ela conclui que a máxima de mentir não pode ser universalizada, pois entraria em conflito com
a ideia de confiança e a estabilidade das relações interpessoais.
Assim, o imperativo categórico orienta essa pessoa a agir de acordo com o dever moral de dizer
a verdade, mesmo que isso possa trazer consequências desfavoráveis para si mesma. O princípio
ético é baseado na ideia de que a verdade é um valor universalmente válido e que as ações
devem ser guiadas pela obediência a essa lei moral objetiva, independentemente de interesses
pessoais ou circunstanciais.

Esse exemplo ilustra como o imperativo categórico de Kant busca estabelecer princípios morais
universais e racionais, que são aplicáveis a todas as pessoas em todas as situações. Com isso,
Kant nos desafia a considerar a universalidade das nossas ações e a agir de acordo com a
moralidade objetiva, em vez de seguir meramente nossas inclinações ou interesses particulares.

Pensamento: "Estou atrasado, devo dirigir em alta velocidade?"


Para Kant, a resposta para esse pensamento se fundamenta em outra questão:
"Quero que todas as pessoas que estiverem atrasadas dirijam em alta velocidade?" ou melhor,
"Dirigir em alta velocidade deve se tornar uma lei universal para quem esteja atrasado?"

Imperativo Hipotético é basicamente o "Se .... Então..." - “devo fazer algo porque quero
alguma outra coisa”
Os imperativos são hipotéticos porque ordenam uma ação, que se deve executar quando, e
somente quando, se persegue efetivamente o objetivo que deve ser alcançado com isso:
“devo fazer algo porque quero alguma outra coisa” (441,10; cf. 444,11). O imperativo
hipotético é, portanto, hipotético desde que uma condição lhe seja subjacente: “o imperativo é
condicional, a saber: se ou porque a gente quer este objeto, então a gente deve agir dessa
ou daquela maneira” (444,3). (SCHÖNECKER, p. 103-104)

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3. Respeito à Humanidade:
Exemplo: Tratar um colega de trabalho com consideração, ouvindo suas opiniões e respeitando
sua contribuição, em vez de explorá-lo para obter vantagens pessoais.

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4. Base Sólida para Determinar o que é Moralmente Correto:
Exemplo: Decidir não trapacear em um exame, mesmo que haja uma alta probabilidade de não
ser pego, porque a ação vai contra o princípio da honestidade e do respeito às regras
estabelecidas.

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Imperativo Categórico

O Imperativo Categórico é uma diretriz moral que deve ser seguida independentemente das
circunstâncias individuais ou dos desejos pessoais. Ele expressa a ideia de agir de acordo com
uma máxima que possa ser universalizada, ou seja, uma regra pela qual todos poderiam agir
sem conflitos morais.

SLIDE 17

Na segunda seção da FMC, Kant oferece uma análise aprofundada do conceito de Dever por
Dever. A boa vontade, a lei moral e o respeito são elementos essenciais para a ação moralmente
correta. O dever, como manifestação da boa vontade, é uma necessidade de agir em
conformidade com a lei moral, desvinculado de inclinações e interesses subjetivos.
Compreender o conceito de Dever por Dever nos permite refletir sobre a natureza da moralidade
e a importância da razão na tomada de decisões éticas.

Conforme dito por ALTMANN (p. 129) em uma comparação com situações extremas
exemplificadas por Wittgenstein, onde ele dá dois exemplos: um deles é o de uma pessoa que
está segurando errado uma raquete e simplesmente não tem o desejo de mudar a forma como
segura, pois não tem a pretensão de ser um profissional e dizemos que “tudo bem, tu é que
sabes”. O outro exemplo dado por Wittgenstein é de uma pessoa que trata mal seus pais ou que
estivesse fazendo experimentos dolorosos com crianças, neste caso não podemos apenas dizer
que “está tudo bem”:

[...] A diferença de reação diante dos dois casos chama atenção para o caráter _incondicional_
que atribuímos ao dever moral. Isto é, o dever moral não é, em última análise, um _dever para_
– como dever segurar de certo modo a raquete _para_ jogar melhor –, mas um dever “ponto” –

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não se trata de não se dever torturar crianças _para_, digamos, não ser preso, mas simplesmente
porque não se deve fazer e “ponto final”.

Para Kant, a moralidade é a submissão da vontade humana a um dever. E o dever é a


necessidade de cumprir uma ação em respeito à lei moral.

Então, Kant define o dever de duas formas: dever por dever e o dever conforme o dever.
Somente o primeiro tem valor moral (dever por dever), pois ele é livre de qualquer interesse,
exceto o de cumprir a lei moral do Imperativo Categórico. Já o dever conforme o dever é algo
feito visando um retorno.
Por exemplo: defender a própria vida é agir conforme o dever, mas mantê-la mesmo diante de
sofrimentos é um dever pelo dever

REFERÊNCIAS:

ALTMANN, Silvia. WOLF, Eduardo (organizadores). Lições de História da Filosofia. Porto


Alegre: Editora da Cidade: Instituto Estadual do Livro, 2010
FERNANDES, Darley. A Letra e o Espírito da Lei. Goiânia, Universidade Federal de Goiás,
2019
HUME, David. Tratado da Natureza Humana. Tradução de Déborah Danowski. São Paulo:
Editora UNESP e Imprensa Oficial do Estado, 2001.
KANT, I. Crítica da Razão Prática. Tradução Valério Rohden. São Paulo: Martins Fontes, 2016.
KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes; Tradução Inês A. Lohnbauer. São
Paulo: Martin Claret, 2018.
KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes; Tradução Paulo Quintela. Lisboa:
Edições 70, 2007.
SCHÖNECKER, Dieter/WOOD, Allen. A “Fundamentação da Metafísica dos Costumes” de
Kant: um comentário introdutório. Trad. Robinson dos Santos e Gerson Neumann. – São Paulo:
Edições Loyola, 2014.
Imagem 1: Obtida do site: “https://filosofianaescola.com/moral/agir-por-dever-e-em-
conformidadecom-o-dever/” em 25/06/2023 às 14:25:30;

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