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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

PAULA EDUARDA ALBERTON RIGONE

TENTATIVA DE HOMICÍDIO FUNCIONAL: A (IM)POSSIBILIDADE DE


CONFIGURAÇÃO DO CRIME PREVISTO NO ART. 121, §2°, VII DO CÓDIGO
PENAL BRASILEIRO QUANDO O SUSPEITO DISPARA ARMA DE FOGO
CONTRA O AGENTE POLICIAL DURANTE A FUGA

Tubarão
2020
PAULA EDUARDA ALBERTON RIGONE

TENTATIVA DE HOMICÍDIO FUNCIONAL: A (IM)POSSIBILIDADE DE


CONFIGURAÇÃO DO CRIME PREVISTO NO ART. 121, §2°, VII DO CÓDIGO
PENAL BRASILEIRO QUANDO O SUSPEITO DISPARA ARMA DE FOGO
CONTRA O AGENTE POLICIAL DURANTE A FUGA

Monografia apresentada ao Curso de


Direito da Universidade do Sul de Santa
Catarina como requisito parcial à obtenção
do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade

Orientador: Prof. Josias Machado Severino, Esp.

Tubarão
2020
PAULA EDUARDA ALBERTON RIGONE

TENTATIVA DE HOMICÍDIO FUNCIONAL:


A (IM)POSSIBILIDADE DE CONFIGURAÇÃO DO CRIME PREVISTO NO ART.
121, §2°, VII DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO QUANDO O SUSPEITO DISPARA
ARMA DE FOGO CONTRA O AGENTE POLICIAL DURANTE A FUGA

Esta Monografia foi julgada adequada à


obtenção do título de Bacharel em Direito
e aprovada em sua forma final pelo Curso
de Direito da Universidade do Sul de Santa
Catarina.
Dedico este trabalho aos meus pais, Nívea
e Elemar, por terem me concedido todo o
suporte necessário para concluí-lo, bem
como para dar sequência aos meus
sonhos pessoais.
“Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos
fiéis a nós mesmos.”.

Friedrich Nietzsche
RESUMO

OBJETIVO: O objetivo geral do presente trabalho é discorrer sobre a possibilidade de


configuração do crime de homicídio funcional tentado, no momento em que o suspeito
está em fuga e, para garanti-la, dispara arma de fogo contra o agente policial. Para
tanto, analisou-se a compatibilidade do crime de resistência com o concurso material
de crimes, bem como a compatibilidade dos institutos da tentativa e do dolo eventual.
MÉTODOS: Os métodos empregados na pesquisa foram os seguintes: qualitativo,
exploratório; e bibliográfico, com a coleta de dados documental e bibliográfica.
RESULTADOS: O resultado obtido foi o de que, jurisprudencialmente, não há um
único entendimento quanto a compatibilidade entre a tentativa e o dolo eventual. Uma
vertente entende pela possibilidade da coexistência dos institutos, tendo em vista
tratar-se de matéria de direito penal e não processual, alegando que a letra do artigo
18, I do Código Penal não faz distinção entre a vontade do agente no dolo direto e
eventual, sendo, portanto, equivalentes ao ver do direito material. A outra vertente,
por sua vez, entende não ser possível, visto que o artigo 14, II do Código Penal, que
trata da tentativa, dispõe sobre a necessidade de circunstância alheia a vontade do
agente que, no dolo eventual, não a possui. Por fim, entende-se que o crime de
resistência é compatível com o concurso material de crimes, tendo em vista a
disposição expressa do §2° do artigo 329 do Código Penal. CONCLUSÃO: Percebe-
se que, primeiramente, não há óbice para o crime de resistência coexistir com outro
de natureza violenta, em concurso material de crimes. Ademais, para o direito material
penal, é plenamente possível a configuração do crime de homicídio funcional, na
forma tentada, quando o suspeito efetua disparo de arma de fogo contra agente
policial, para garantia sua fuga. Salienta-se, por fim, que o crime de resistência não
poderá ser absorvido pela lesão corporal ou pelo homicídio, conforme o §2° do artigo
329, do Código Penal, tampouco poderá absorvê-los.

Palavras-chave: Direito Penal. Homicídio Funcional. Fuga.


ABSTRACT

OBJECTIVE: The main goal of this term paper is to feature the possibility of
constituting the crime of attempt homicide of a police officer, at the time the suspect is
escaping and to guarantee it, he shoots a fire gun at the police. Therefore, the
compatibility of the resistance crime and the material concurrence of crimes was
analyzed, as well as the compatibility of the institutes of attempt and eventual intent.
METHODS: The methods used in this research were three, which were: qualitative;
exploratory; and bibliographic, with the collection of documental and bibliographic data.
RESULTS: The result obtained was that, jurisprudentially, there are two
understandings regarding the compatibility between the attempt and eventual
intention. The first one understans the possibility of the coexistence of both institutes,
as it is a matter of criminal law and non-procedural law, alleging that the article 18, I of
the Criminal Code does not distinguish the will of the agent in direct and eventual intent,
therefore, both are equivalent to the criminal material law. The second, in turn, believes
that it is not possible, according to article 14, II of the Criminal Code, which deals with
the attempt, and determines the need for circumstances beyond the control and will of
the agent, and in the case of eventual intent there is no will. Finally, it is unsdertood
that the crime of resistance is compatible with the material concurrence of crimes,
according to article 329, §2° of the Criminal Code. CONCLUSION: It can be noticed
that, first, there is no obstacle for the crime of resistance to coexist with another one of
a violent nature, in a material crime contest. Furthermore, for material criminal law, it
is fully possible to configure the crime of attempt homicide of a police officer, at the
time the suspect is escaping and to guarantee it, he shoots a fire gun at the police.
Finally, it should be noted that the resistance crime cannot be absorbed by bodily injury
ou attemped homice, according to §2° of article 329, of the Criminal Code, nor can it
absorb them.

Keywords: Criminal Law. Homicide of a Police Office. Escape.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 7
1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ............................................................... 7
1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ............................................................................... 9
1.3 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS ..................................................... 9
1.4 JUSTIFICATIVA .......................................................................................................... 9
1.5 OBJETIVO GERAL .................................................................................................... 11
1.5.1 Objetivos Específicos .............................................................................................. 11
1.6 DELINEAMENTO DA PESQUISA ............................................................................ 11
1.7 ESTRUTURAÇÃO DA MONOGRAFIA .................................................................... 12
2 CRIME COMO FATO TÍPICO .................................................................................. 14
2.1 CONCEITO DE CRIME ............................................................................................. 14
2.2 CONCEITO ANALÍTICO ........................................................................................... 15
2.2.1 Fato Típico .............................................................................................................. 16
2.2.1.1 Conduta .................................................................................................................. 16
2.2.1.2 Resultado ............................................................................................................... 17
2.2.1.3 Nexo de Causalidade .............................................................................................. 17
2.2.1.4 Tipicidade .............................................................................................................. 18
2.2.1.4.1 Tipicidade Objetiva ........................................................................................... 18
2.2.1.4.2 Tipicidade Subjetiva .......................................................................................... 19
2.2.1.5 Erro de Tipo ........................................................................................................... 23
2.2.1.5.1 Erro de Tipo Essencial ..................................................................................... 23
2.2.1.5.2 Erro de Tipo Acidental ...................................................................................... 23
2.2.1.6 Crime Consumado e Crime Tentado ....................................................................... 24
2.2.1.7 Concurso de Crimes ............................................................................................... 25
2.2.2 Antijuridicidade ...................................................................................................... 26
2.2.2.1 Legítima Defesa ..................................................................................................... 27
2.2.2.2 Estado de Necessidade............................................................................................ 28
2.2.2.3 Estrito Cumprimento do Dever Legal ..................................................................... 28
2.2.2.4 Exercício Regular de Direito .................................................................................. 28
2.2.3 Culpabilidade .......................................................................................................... 29
2.2.3.1 Imputabilidade ....................................................................................................... 29
2.2.3.2 Embriaguez ............................................................................................................ 30
2.2.3.3 Emoção e Paixão .................................................................................................... 30
2.2.3.4 Potencial Consciência da Ilicitude .......................................................................... 30
2.2.3.5 Delito Putativo por Erro de Proibição ..................................................................... 31
2.2.3.6 Exigibilidade de Conduta Diversa........................................................................... 31
3 INSTITUTOS DA TENTATIVA E DO DOLO .......................................................... 32
3.1 TENTATIVA .............................................................................................................. 32
3.2 DOLO DIRETO E DOLO EVENTUAL ...................................................................... 35
4 CRIME DE HOMICÍDIO FUNCIONAL ................................................................... 38
4.1 CRIME DE HOMICÍDIO ............................................................................................ 38
4.2 CRIME DE HOMICÍDIO FUNCIONAL ..................................................................... 42
5 POSSIBILIDADE DE CONFIGURAÇÃO DE HOMICÍDIO FUNCIONAL
TENTADO QUANDO O SUSPEITO DISPARA ARMA DE FOGO EM DIREÇÃO AO
AGENTE POLICIAL DURANTE A FUGA..................................................................... 46
6 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 58
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 61
7

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico pretende abordar a possibilidade de


configuração do crime de homicídio funcional, na forma tentada, quando o suspeito
dispara arma de fogo em direção aos agentes policiais, para garantir sua fuga.
Frisa-se que toda a estrutura da presente pesquisa foi voltada para a análise
material da possibilidade, e não sua visão processual, razão pela qual não serão
tratados conteúdos processuais penais, tampouco seus conceitos e princípios.

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

No dia 23 de maio de 2019, a 3° Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do


Rio Grande do Sul, por unanimidade, julgou improcedente recurso em sentido estrito,
interposto contra decisão de 1° grau que excluiu a competência do Tribunal do Júri,
para o julgamento de uma possível tentativa de homicídio qualificado pelo inciso VII,
§2°do art. 121, do Código Penal. Tal decisão, por sua vez, despertou o interesse da
autora pelo tema. (RIO GRANDE DO SUL, 2019)
Primeiramente, cabe ressaltar quais os sujeitos passivos do crime do art. 121,
§2°, VII do Código Penal, nos moldes do art. 142 e 144 da Constituição Federal
(BRASIL, 1988):
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares,
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade
suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da
lei e da ordem.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de


todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

De acordo com o acórdão proferido pela 3° Câmara Criminal, in casu, os


disparos de arma de fogo foram efetuados com a intenção específica de evitar-se a
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prisão em flagrante, visto que em momento algum os suspeitos usaram a mira da arma
contra os policiais, restando afastado o “animus necandi” e tendo, por conseguinte,
excluída a competência do Tribunal do Júri, pela desclassificação da imputação (RIO
GRANDE DO SUL, 2019). No voto do referido acórdão, por fim, concluiu-se que
restava configurado apenas o crime de resistência.
Nesse sentido, a problemática levantada no presente trabalho baseia-se nos
critérios de direito material que levam o magistrado a entender pela configuração, ou
não, do crime de tentativa de homicídio funcional, em situações semelhantes ao
julgado. Esta pesquisa, assim, consiste em um ponto principal, qual seja a análise da
possibilidade de configuração de um crime cometido com dolo eventual, na forma
tentada.
Tendo em vista que não há um critério único e objetivo para a configuração
do crime, há de demonstrar-se quais os que, obrigatoriamente, devem ser
observados. Neste ponto, dá-se início a indagação acerca da possibilidade de
configuração do crime de tentativa de homicídio funcional, em concurso material com
a resistência, quando o suspeito atira na direção de um agente policial, para garantir
sua fuga.
Cabe ressaltar, ainda, que a análise do animus necandi, por sua natureza, é
subjetiva, visto que devem ser considerados todos os fatos e provas processuais para
apurar se houve o intuito, verdadeiro, de cometer o crime de homicídio. Assim, a
comprovação do dolo do agente, ou seja, da real intenção deste, só se dará dentro do
devido processo legal. Logo, processualmente, após esclarecida a intenção real do
suspeito, e demonstrado se tais disparos foram ou não direcionados aos agentes
policiais, a ocorrência poderia se enquadrar apenas no crime de resistência, do art.
329 do Código Penal (BRASIL, 1940), ou este em concurso com o homicídio funcional
tentado.
Porém, o presente possui o intuito de tratar somente das possibilidades
existentes dentro do direito material e suas perspectivas, não adentrando o direito
processual para responder quaisquer indagações.
9

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Configura-se a tentativa de homicídio funcional, quando o suspeito dispara


arma de fogo em direção aos agentes policiais, com o intuito voltado para obter
sucesso em sua fuga?

1.3 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS

Em conformidade com as palavras de Motta (2013, p. 143), “Este item consiste


em apresentar o significado que os termos do problema assumem na pesquisa”.
Portanto, tratar acerca da possibilidade de se configurar o crime tipificado no art. 121,
§2°, VII do Código Penal, em sua forma tentada, no momento da fuga do suspeito,
pode ser demasiadamente complexo, visto que a comprovação do animus do sujeito
é o ponto chave para vislumbrar se configura-se o crime de resistência, unicamente,
ou deste em concurso com o homicídio funcional tentado.
Para tanto, resolveu-se usar nessa pesquisa o termo “homicídio funcional”,
nome dado ao crime do art. 121, §2°, VII do Código Penal pela doutrina, visto que a
motivação para o crime é relacionada justamente com a função do agente.
Outrossim, o conceito operacional principal desta pesquisa é a possibilidade
de configuração da tentativa do crime descrito, cometido com dolo eventual, nas
situações em que o suspeito dispara arma de fogo contra agente policial para garantir
sua fuga.
O presente trabalho pretende descrever os critérios que possibilitariam a
configuração do referido crime, por analisar a compatibilidade do dolo eventual com a
tentativa, bem como por descrever, brevemente, a compatibilidade do crime de
resistência com o concurso material e a razão pela qual o referido crime não absorve
outros quando cometidos com violência.

1.4 JUSTIFICATIVA

A intenção principal, para a realização do presente trabalho, foi trazer a


discussão jurídica acerca da compatibilidade da tentativa com o dolo eventual, quando
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a questão é o crime apresentado no problema. Um dos pontos estudados, para iniciar


a realização desta pesquisa, foi o entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul que, no Recurso em Sentido Estrito de n° 70080364839 da 3° Câmara Criminal
(RIO GRANDE DO SUL, 2019), entendeu pela não caracterização do crime de
homicídio funcional tentado, no momento em que o suspeito disparou arma de fogo
na direção dos agentes policiais, para garantir sua fuga.
Salienta-se, por oportuno, que o presente trabalho não se baseia na análise
da jurisprudência citada, mas sim do conflito entre as modalidades de tentativa e dolo
eventual. A citação da jurisprudência apenas abre ares para a análise de sua
fundamentação, visto que foi ela quem despertou o interesse da autora pelo tema. Por
fim, ressalta-se que não se objetiva nesta pesquisa a análise processual dos referidos
crimes, tampouco seus procedimentos específicos, mas sim a observação da
aplicação das normas materiais penais.
Nesse sentido, serão consideradas os critérios que devem ser utilizados e
observados para solucionar o problema, apresentando-se duas vertentes de
entendimento.
Os resultados a serem obtidos com a presente pesquisa beneficiarão os
operadores do direito como um todo, tendo em vista que esclarecerão os possíveis
fundamentos a serem utilizados para defender as vertentes que concordam com a
compatibilidade entre o dolo eventual e a tentativa, bem como para rejeitá-las.
Importante destacar, também, a importância da presente pesquisa para a
sociedade em geral, pois obter-se-á informações mais íntegras acerca da aplicação
das normas penais materiais, indicando se há mais critérios que focam na força
combativa à pratica de atos violentos contra as forças de segurança, ou na política
“garantista” em benefício e defesa do suspeito.
Ressalta-se, ainda, que a maior reflexão feita, e consequente propósito para
esta pesquisa, foi acerca dos limites penais, quando da configuração do crime
analisado, bem como dos limites da proteção dada à segurança jurídica.
Dessa forma, a pesquisa auxiliará o meio acadêmico e profissional a identificar
quais critérios são utilizados para defender e rejeitar as teses de compatibilidade entre
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o dolo eventual e tentativa, sobretudo nos casos de disparo de arma de fogo contra
agente policial, no momento da fuga do suspeito.

1.5 OBJETIVO GERAL

Analisar a possibilidade de configuração do crime tipificado no art. 121, §2°,


VII do Código Penal, quando o suspeito dispara arma de fogo contra agentes policiais,
a fim de obter sucesso em sua fuga.

1.5.1 Objetivos Específicos

Abordar o conceito de crime e suas principais divisões.


Analisar os preceitos doutrinários acerca dos institutos do dolo eventual e da
tentativa.
Identificar os critérios legais e doutrinários utilizados pelas correntes de
defendem compatibilidade entre os institutos do dolo eventual e da tentativa.
Identificar os aspectos materiais penais que levam aos entendimentos
favoráveis e desfavoráveis.
Identificar, por meio da internet, os julgados favoráveis e desfavoráveis à
configuração do crime de homicídio tentado, cometido com dolo eventual.
Identificar quais os fundamentos dos posicionamentos jurisprudenciais sobre
o tema.

1.6 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Primeiramente, a classificação desta pesquisa quanto à abordagem é


qualitativa, visto que não há uma quantificação, ou enumeração, mas sim um estudo
acerca da realidade e seus significados (MINAYO, 2007, p. 21 apud MARCOMIM;
LEONEL, 2015, p. 28).
Quanto ao método de abordagem, a presente pesquisa classifica-se como
dedutiva, visto que iniciará com premissas gerais, do direito brasileiro e seu
ordenamento jurídico e, ao final, chegará a uma resposta específica. Esse conceito é
12

esclarecido por Motta (2013, p. 86), “[...] o pesquisador estabelece seu raciocínio de
forma com que as primeiras considerações acerca do problema sejam consideradas
universais ou gerais para, em seguida, analisar o problema de forma específica ou
particular.”.
Em outro aspecto, qual seja o nível da pesquisa, essa se dará de forma
exploratória, abrangendo uma consideração acerca das leis e princípios, do direito
penal brasileiro, a respeito do tema escolhido. Tal nível se dá pela familiarização dos
leitores para com o assunto, que será apurado e ao final, ponderado. (MOTTA, 2013).
Quanto a coleta de dados, o procedimento a ser utilizado será o bibliográfico
e o documental, visto que será elaborada em material publicado e oficial, tendo sua
veracidade consultada (PRODANOV; FREITAS, 2013).
A técnica de pesquisa será a exposição e análise das bibliografias e
jurisprudências exemplificativas estudadas e, após, a consideração final do
entendimento acerca do tema abordado, tanto doutrinária, quanto
jurisprudencialmente.
Enfim, com o término da pesquisa, será possível fazer uma avaliação da
possibilidade de configuração do crime tentado do art. 121, §2°, VII do Código Penal,
quando o suspeito dispara arma de fogo em direção ao agente policial, para garantir
sua fuga.

1.7 ESTRUTURAÇÃO DA MONOGRAFIA

A presente monografia está estruturada em seis capítulos, sendo o primeiro a


presente introdução. No segundo capítulo, em que se iniciou a abordagem ao tema
em si, foi realizada uma apresentação dos conceitos de crime, com foco no conceito
analítico. No terceiro capítulo, por sua vez, foram abordados dois temas fundamentais,
que são o dolo e da tentativa, sendo estes os institutos penais presentes na hipótese
do caso apresentado. No quarto capítulo, assim, foi abordado o crime de homicídio
funcional, o qual faz parte do problema formulado. No quinto capítulo, então, foi
iniciada a abordagem do tema principal, analisando a possibilidade de configuração
do crime de tentativa de homicídio funcional, quando o suspeito dispara arma de fogo
13

em direção do agente policial, para garantir sua fuga. Por fim, o sexto capítulo foi o da
conclusão, em que se recapitulou o conteúdo tratado nos capítulos anteriores,
apresentando-se as possíveis respostas ao problema exposto.
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2 CRIME COMO FATO TÍPICO

Inicialmente, ressalta-se que o presente capítulo tratará, em suma, do


conceito analítico de crime, dos erros de tipo, bem como do conflito aparente de
normas. Porém, antes de iniciar a abordagem analítica, necessário se faz apresentar
os conceitos básicos de crime.

2.1 CONCEITO DE CRIME

O crime, em seu conceito geral, pode ser classificado como material ou formal.
Nesse sentido, conforme desenvolve Ricardo Andreucci (2019, p. 79), o “conceito
material de crime é a violação de um bem penalmente protegido.”, já o “conceito formal
de crime é a conduta proibida por lei, com ameaça de pena criminal.”.
Portanto, tem-se que a quanto a matéria, o crime é classificado como um
atentado a um bem jurídico tutelado pelo Estado, que contrarie os interesses sociais,
como por exemplo a ofensa à vida, à propriedade, etc. Por outro lado, quanto à sua
formalidade, o crime é caracterizado por ser uma ação ou omissão ilícita, defesa em
lei e punível penalmente.
A ação ou omissão punida, assim, será destinada a certo objetivo e, dessa
forma, poderá ser observado o objeto jurídico do crime. Tal objeto define qual o bem
jurídico tutelado pelo Estado que é ofendido em determinado crime, podendo este ser
a vida, a propriedade, a honra, a dignidade sexual, etc. (NUCCI, 2019).
Nesse mesmo sentido, conforme Guilherme Nucci (2019), poderá ser
observado o objeto material do crime, sendo este o alvo do agente no cometimento
de determinada conduta. Como exemplo, tem-se o crime de estupro de vulnerável,
disposto no art. 217-A, do Código Penal (BRASIL, 1940), em que o objeto material, ou
seja, a vítima do crime, é a criança e ou adolescente, menor de 14 anos.
Por outro lado, o artigo de lei descreverá quais os sujeitos passíveis do crime,
tanto o sujeito ativo quanto o passivo, ou seja, quem poderá cometê-lo e quem poderá
ser o alvo do crime. Logo, se o artigo não chegar a prever os sujeitos, estes serão
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considerados comuns, isto é, podem ser qualquer pessoa ou coisa, respectivamente.


(SOUZA; JUPIASSÚ, 2018)
O artigo de lei, que pune determinada conduta, assim, fará uma previsão
acerca da pena aplicável ao crime. Tal artigo poderá desenvolver limites diversos para
a pena, para um mesmo crime, em razão de circunstâncias que foram envolvidas no
cometimento da conduta. Chama-se o crime cometido sem circunstâncias que
aumentem sua gravidade e, consequentemente sua pena, de crime simples. Por outro
lado, quando da existência de circunstâncias que, previstas no artigo que tipifica a
conduta, aumentam o limite da pena aplicável, tem-se um tipo diverso de crime,
chamado de crime qualificado. (GRECO, 2019). Logo, um crime pode ser punido com
penas mínimas e máximas maiores do que no simples, quando envolve uma ou mais
qualificadoras (circunstâncias que tornam o crime mais grave).
Outrossim, crimes podem ser cometidos com circunstâncias que agravam sua
pena, e outras que atenuam a pena, sendo chamadas de agravantes e atenuantes.
(NUCCI, 2019). Porém, não é o objetivo do presente trabalho abordar as penas e suas
aplicações.
Dessa forma, passa-se à abordagem analítica do conceito de crime, uma vez
findada a apresentação do conceito material e a formal.

2.2 CONCEITO ANALÍTICO

Conforme Cezar Roberto Bitencourt (2019, p. 291), existem duas teorias


majoritárias relacionadas ao conceito analítico de crime, quais sejam a finalista
tripartida e a finalista bipartida. A teoria bipartida, sustenta que o crime é classificado
como fato típico e antijurídico, sendo que a culpabilidade seria um pressuposto para
a aplicação da pena, e não um requisito em si. A teoria finalista tripartida, por sua vez,
classifica o crime como sendo fato típico, antijurídico e culpável.
Para a teoria tripartida, cada um dos três aspectos possui elementos que os
compõe, os quais se abordaram nos subtópicos a seguir.
16

2.2.1 Fato Típico

De acordo com Andreucci (2019, p. 91), fato típico é composto por quatro
elementos, quais sejam a conduta humana, o resultado, o nexo de causalidade e a
tipicidade. Portanto, tem-se que para que esteja caracterizado o fato típico, há que se
observar se a conduta do agente gerou um resultado, direto ou indireto, e se tal
conduta é punível por uma norma penal específica.

2.2.1.1 Conduta

Salienta-se, inicialmente, que a “ação” abordada neste capítulo não se refere


a todas as ações de conduta humana, mas sim as que possuem relevância criminal e
que ferem de alguma forma a lei penal.
A conduta humana, para Raizman (2019, p. 159), pode se exteriorizar por uma
ação, sendo considerada um comportamento humano voluntário, ou uma omissão.
A ação, por sua vez, reconhece elementos subjetivos e objetivos. Os
elementos subjetivos, nos dizeres do referido autor (NUCCI, 2019), são internos e se
caracterizam pela ideia e/ou escolha dos meios para determinada finalidade, que
exteriorizarão a decisão. Já os elementos objetivos, são considerados os externos,
que preparam e executam a conduta. Ademais, para configurar-se o comportamento
objetivo, deve-se, também, analisar se o mesmo foi realizado conscientemente, o que
será abordado posteriormente.
Por outro lado, “A omissão é sempre de algo que devia ser feito e não foi
realizado, ou seja, exige sempre a referência à conduta esperada e que é
individualizada na lei penal, restando como proibida a realização de qualquer outra
conduta.” (RAIZMAN, p. 160). Logo, tem-se que a omissão é a falta de uma ação
esperada, que por si só já é a conduta tipificada pela lei penal.
Dessa forma, entende-se que a conduta humana, levada em conta para a lei
penal, pode dar-se por uma ação ou omissão, desde que estas estejam configuradas
e sejam legalmente puníveis.
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2.2.1.2 Resultado

Resultado, à luz das palavras de Nucci (2019), pode ser tido como a alteração
do mundo físico, ou como uma afronta às normas penais, sendo que estes conceitos
advêm dos critérios naturalístico e jurídico, respectivamente. Nesse sentido, o direito
penal brasileiro claramente aderiu ao primeiro conceito, haja vista fazer a
diferenciação entre crimes formais, materiais e de mera conduta. Assim, à força do
que diz o autor Gustavo Junqueira (2016, p. 77), os crimes materiais são os que
descrevem o resultado e o exigem para a consumação, já os crimes formais trazem a
descrição mas não o exigem e, por fim, os de mera conduta não trazem sequer a
descrição do resultado.
Dessa forma, tem-se que o legislador descreve o resultado (alteração do
mundo físico), requerido para a configuração de determinado crime, mas só o exige
nos crimes materiais.

2.2.1.3 Nexo de Causalidade

O nexo de causalidade, necessário para configuração dos crimes materiais, é


o liame entre causa e efeito, ou seja, a ligação entre a conduta e o resultado
(MACHADO, 2016, p. 95). Logo, para que o crime material esteja configurado,
necessária a existência do nexo causal, que nada mais é que um resultado decorrente
de uma conduta, sendo que sem um o outro não existirá.
O Código Penal brasileiro, no sentido de delimitar o nexo de causalidade,
adotou a teoria da equivalência do antecedentes, que, nas palavras de Junqueira
(2016, p. 78), é “tudo aquilo que contribui para a geração de um resultado”, salvo o
que o diploma chama de causa superveniente relativamente independente. Tal causa
é exceção à teoria adotada, sendo que, para sua caracterização, deve existir uma
concausa superveniente (posterior), que não é planejada pelo agente, mas concorre
com sua conduta para o resultado (GONÇALVES, 2019, p. 140). Isso não é dizer que
o agente responderá pelas duas causas (conduta e concausa), este só será
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responsabilizado pelos atos até então efetuados, justamente porque a concausa não
foi planejada ou desejada por ele.
Portanto, para que os crimes materiais possam se configurar, necessária a
existência de nexo causal entre a conduta do agente e o resultado decorrente desta.
Logo, todos os atos feitos pelo agente para que o resultado se tornasse possível serão
tomados como nexo de causalidade entre a conduta e o referido resultado. Porém, o
resultado advindo de uma concausa superveniente exclui o nexo causal entre a
conduta anterior e o resultado, fazendo com que o agente somente responda pelos
atos efetuados até o acontecimento da concausa.

2.2.1.4 Tipicidade

Primeiramente, vale ressaltar que a palavra tipo, para o direito criminal, refere-
se à descrição de uma conduta permitida (tipo justificador), ou criminosa (tipo
incriminador), por uma normal penal (MASSON, 2019, p. 225). Logo, um tipo penal
será sempre uma conduta disposta em lei, seja esta permitida ou proibida.
Consonantemente, destaca-se o que é a tipicidade no âmbito do direito penal.
Segundo Junqueira (2016, p. 81), tipicidade “é a perfeita adequação entre o fato
concreto e o tipo incriminador.”, ou seja, a conduta enquadrada na norma penal.
Portanto, para que ocorra a tipicidade, deve ser observado se a conduta do agente se
enquadra perfeitamente em uma ou mais norma(s) penal(is), seja(m) esta(s)
permissiva(s) ou punitiva(s).
Ademais, para que seja possível a análise da tipicidade, em um caso concreto,
necessária se faz sua divisão em tipicidade objetiva e subjetiva, o que será visto a
seguir.

2.2.1.4.1 Tipicidade Objetiva

A tipicidade objetiva, por si só, pode ser dividida em material e formal. A


primeira, refere-se à valoração do fato (significância da conduta e resultado),
relacionando-se ao conteúdo material do tipo proibitivo (JUNQUEIRA, 2016). Assim,
19

a tipicidade objetiva material tem por fim a análise da “importância” do fato, para que,
ao fim, a conduta seja considerada típica por si só, ou insignificante e materialmente
atípica.
Por outro lado, a tipicidade objetiva formal trata-se da letra da lei, ou seja, das
elementares e circunstâncias trazidas pelo tipo penal, que possibilita a análise da
adequação do fato ao tipo (GOMES, 2006).
Diante disso, tem-se que o uso dos conceitos referentes à tipicidade objetiva
tem por finalidade a análise do fato, e seu enquadramento no tipo, tanto por sua
significância penal, quanto pelos elementos do tipo que se encaixam na conduta e
resultado produzido pelo agente, atendo-se sempre aos aspectos exteriores ao
indivíduo.

2.2.1.4.2 Tipicidade Subjetiva

A tipicidade subjetiva está relacionada ao princípio da culpabilidade, sendo


este um preceito que diz que uma pena só será imposta a quem agiu dolosa ou
culposamente, cometendo um fato típico, antijurídico e culpável, após o devido
processo legal (JESUS, 2008).
Nesse sentido, a tipicidade subjetiva pode ser dividida em dolosa e culposa,
sendo que a primeira é regra e a segunda uma exceção, que serão vistas a seguir.

2.2.1.4.2.1 Tipicidade Subjetiva Dolosa

Existem várias teorias relacionadas ao dolo, sendo 03 (três) teorias principais,


quais sejam: da vontade; do assentimento; e da representação. A teoria da vontade,
nas palavras de Junqueira e Vanzolini (2020, p. 303), “esta teoria, ao contrário das
outras, exige, para a caracterização do dolo, a efetiva vontade dirigida à realização
dos elementos do tipo objetivo.”. A teoria do assentimento, por sua vez, diz respeito à
aceitação de um possível resultado, ou seja, assumir o risco de produzi-lo
(JUNQUEIRA; VANZOLINI, 2019). Por fim, a teoria da representação relaciona-se
20

com “a mera previsão da possibilidade de produção do resultado, sem a necessidade


de verificação de qualquer elemento volitivo, fundamenta o dolo, tendo em vista que
a existência da possibilidade já deveria ser o suficiente para fazer o sujeito desistir”.
(PACELLI; CALLEGARI, 2019).
Adotando as teorias do assentimento e da vontade, o Código Penal brasileiro
dispõe o seguinte: “Art. 18. Diz-se o crime: I – doloso, quando o agente quis o
resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.” (BRASIL, 1940). Portanto, a conduta
dolosa, de acordo com Masson (2019), é dada pela vontade de produzir um certo
resultado, ou o assentimento em produzir tal resultado após prever e estar ciente da
possibilidade do mesmo. Assim, tem-se que para que ocorra uma conduta dolosa,
deve-se haver consciência da possibilidade de produção de um certo resultado, bem
como a vontade de desenvolver a conduta típica.
Conforme Machado et. al. (2016, p. 99), para que esteja configurada a
tipicidade dolosa, devem ser observadas duas circunstâncias, quais sejam a
consciência e a vontade. Logo, para que haja certeza da existência do dolo por parte
do agente, deve obrigatoriamente existir consciência deste acerca das elementares
do crime e, também, vontade em produzir o resultado ou, ao menos, que este assuma
o risco de produzi-lo.
Ademais, a doutrina divide o dolo em duas classificações, quais sejam o dolo
direto e o dolo eventual, respectivamente relacionados às teorias adotadas pelo
Código. O dolo eventual é aquele em que a vontade do agente não é direcionada e
específica, ou seja, o agente apenas assume o risco de produzir determinado
resultado, que pode ou não acontecer. (BITENCOURT, 2019, p. 372). O dolo direto,
por sua vez, é aquele em que existe a certeza da ocorrência do resultado, e pode ser
classificado como de dolo de primeiro e de segundo grau. (NUCCI, 2019).
O dolo de primeiro grau, segundo Pacelli e Callegari (2019), é aquele em que
a vontade do agente é específica e direcionada para um objetivo certo, portanto, o
dolo (intuito) recai sobre o fim desejado e os meios escolhidos para a execução. Por
outro lado, o dolo de segundo grau recaí sobre as consequências do meio de
execução escolhido, ou seja, é um instituto acessório. (BITENCOURT, 2019).
21

Para melhor compreensão, toma-se como exemplo a hipótese em que o


agente joga uma bomba em um bar, com o intuito de causar a morte do proprietário,
porém, em decorrência do meio escolhido para execução do delito, o suspeito acaba
causando a morte de todos os clientes que estavam no estabelecimento, ciente de
que o meio que escolheu levaria a tal resultado. Dessa forma, diz-se que agiu o agente
com dolo direto de primeiro grau em relação ao dono do bar, e com dolo direto de
segundo grau em relação aos clientes que lá se encontravam. Portanto, tem-se o dolo
de primeiro grau em relação ao resultado pretendido, e o dolo de segundo grau em
relação ao efeito colateral, desde que o agente tenha certeza de que os dois
resultados ocorreriam ao utilizar o meio escolhido para a execução.
Salienta-se, ainda, que o dolo direto de segundo grau possui uma natureza
acessória, sendo uma conduta direcionada à uma consequência necessária para a
execução do crime, mesmo que não tendo sido pretendido previamente (JUNQUEIRA,
2016).
Portanto, o dolo eventual e o dolo direto de segundo grau diferenciam-se no
tocante ao intuito do agente e, principalmente, quanto a certeza de produção do (s)
resultado (os). No primeiro, não é certo que o resultado acessório não se concretizará.
No segundo, então, o agente está certo de que o resultado acessório se realizará e,
justamente por isso, o resultado principal também será consumado.
Consoante ao dito acima, considerando a vontade do agente, diz-se que este
agiu com dolo direto quando desejou o resultado diretamente e, com dolo eventual
quando, ao menos, previu e assumiu o risco de produzi-lo (JUNQUEIRA, 2016, p. 85).

2.2.1.4.2.2 Tipicidade Subjetiva Culposa

O Código Penal brasileiro, em seu artigo 18, inciso II, descreve a conduta
culposa como “quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência
ou imperícia.” (BRASIL, 1940).
Cumpre ressaltar que, para que seja punível criminalmente, a conduta culposa
deve ter previsão de sua modalidade dentro do tipo penal, especificamente. Logo, se
22

o tipo não prevê tal modalidade, a conduta é atípica. Além disso, salienta-se que a
conduta culposa só se configura com a consumação do resultado, sendo impossível
de se caracterizar na modalidade tentada. (NUCCI, 2019).
Ademais, para que seja configurada a conduta culposa, devem estar
presentes alguns elementos essenciais. O primeiro elemento principal, assim, é
chamado de previsibilidade objetiva que, conforme expõe Masson (2019), é a
possibilidade média, de uma pessoa comum, de prever o resultado de sua conduta e
as consequências de seu ato. O segundo, por sua vez, é chamado de violação do
dever de cuidado, e diz respeito aos cuidados que todos os indivíduos de uma
sociedade conhecem e devem tomar, não necessariamente determinados em lei
(JUNQUEIRA; VANZOLINI, 2019). Logo, dizer que existia uma previsibilidade objetiva
das consequências da conduta do indivíduo, significa que o resultado era previsível
para qualquer pessoa comum. Por outro lado, a violação do dever de cuidado,
portanto, se dá por um descuido inapropriado, e que causa danos a terceiro, sendo
que poderia ser evitado.
Outrossim, a culpa pode se dar em 03 (três) modalidades, quais sejam a de
imprudência, negligência e imperícia. A primeira sendo uma ação que não observa as
cautelas essenciais. A segunda, por sua vez, sendo uma omissão à conduta
esperada. A terceira, por fim, é chamada “culpa profissional”, porquanto embora o
agente esteja habilitado a realizar a conduta, não possui instrução que o capacite,
configurando a falha do próprio agente. (JUNQUEIRA, 2016).
Por fim, e não menos importante, a doutrina classifica a culpa em consciente
e inconsciente e, dessa forma, é possível diferenciar a culpa do dolo eventual, mais
claramente. A culpa consciente se dá à luz da previsão do resultado, mas com certa
confiança de que este não será produzido. Por outro lado, a culpa inconsciente se dá
sem a previsão do resultado, mesmo que possível fosse sua previsibilidade. (NUCCI,
2019). Logo, diferencia-se a culpa do dolo eventual, visto que em nenhuma hipótese
da primeira o sujeito aceita o resultado, já no segundo o agente aceita, ao menos, o
risco de produzi-lo.
23

2.2.1.4.2.3 Tipicidade Subjetiva – Crimes Preterdolosos

Além dos crimes praticados com dolo e culpa, o Código Penal brasileiro prevê
a possibilidade da configuração do tipo preterdoloso, ou seja, praticado um crime
dolosamente, com um resultado posterior culposo (BITENCOURT, 2019). A exemplo,
tem-se o crime de lesão corporal seguida de morte, previsto no artigo 129, §3° do
Código Penal (BRASIL, 1940).
No mais, salienta-se que, para que haja a possibilidade da configuração de tal
modalidade de crime, por evento culposo posterior ao doloso, há de existir a previsão
legal dentro do tipo penal, como no caso do crime citado acima.

2.2.1.5 Erro de Tipo

Erro de tipo, conforme descreve Guilherme Nucci (2019), ocorre quando o


sujeito possui uma percepção alterada, ou equivocada, da realidade, e comete um
crime sem tê-lo desejado. O Código Penal, em seu artigo 20 (BRASIL, 1940), traz a
possibilidade de punição do crime cometido por equívoco, na forma culposa, desde
que prevista, quando da ocorrência de um erro de tipo.
Ademais, a divisão doutrinária se dá em duas classificações, quais sejam o
erro de tipo essencial e o erro de tipo acidental.

2.2.1.5.1 Erro de Tipo Essencial

O erro de tipo essencial, em seu conceito, divide-se em duas classificações


majoritárias, quais sejam o escusável e o inescusável, sendo em que os dois sempre
excluem o dolo. (PACELLI; CALLEGARI, 2019). O primeiro, por sua vez, excluirá a
culpa justamente por ser um erro inevitável. O segundo, então, permite a punição pela
culpa, desde que prevista, por ser um erro evitável.

2.2.1.5.2 Erro de Tipo Acidental


24

No que diz respeito ao erro de tipo acidental, conforme Junqueira e Vanzolini


(2019), este divide-se em 05 (cinco) classificações, quais sejam erro sobre o objeto,
sobre a pessoa, na execução, sobre o resultado e sobre o nexo causal.
O erro sobre o objeto, à luz do que diz Junqueira (2016, p. 94), é chamado de
error in re, e não gera consequência alguma, visto que o equívoco se dá quanto a um
objeto material, ou coisa, mas o crime consuma-se da mesma maneira.
Quanto ao erro sobre a pessoa, ou error in persona, conforme Greco (2019),
ocorre quando o sujeito se equivoca ao identificar a vítima e atinge pessoa diversa,
sendo que, neste caso, responderá como se tivesse atingido a pessoa pretendida.
O erro na execução, ou aberratio ictus, por sua vez, se dá por um erro no
golpe dado e não na pessoa alvo, sendo que o sujeito responderá, em caso de
resultado único, como se tivesse atingido a pessoa pretendida e, em caso de resultado
misto, responderá em concurso formal de crimes. (NUCCI, 2019).
Quanto ao erro no resultado, ensina Bitencourt (2019) que ocorre quando o
agente pretende produzir um certo resultado, mas produz um diverso e, nesse sentido,
poderá responder de três formas, sendo responsabilizado na primeira apenas pelo
resultado produzido, se previsto na forma culposa; a segunda, em caso de não existir
previsão de punição por culpa, responderá apenas pelo resultado desejado; e a
terceira, em caso de resultado múltiplo, responderá pelo resultado desejado na forma
dolosa e o produzido erroneamente na forma culposa, em concurso formal.
Por último, o erro quanto ao nexo causal ocorre na hipótese em que o meio
que foi pensado para produzir o resultado não é seu verdadeiro causador, porém, o
resultado pretendido acaba acontecendo, sendo que neste caso o agente responderá,
conforme entendimento majoritário, pelo crime pretendido. (JUNQUEIRA, 2016).

2.2.1.6 Crime Consumado e Crime Tentado

Primeiramente, faz-se necessário a abordagem da classificação das fases do


crime que, nas palavras de Nucci (2019), costumeiramente são divididas em 04
(quatro): cogitação; atos preparatórios; execução; e consumação.
25

As duas fases iniciais, cogitação e atos preparatórios, são irrelevantes


penalmente, visto não ferirem nenhum bem jurídico, tampouco normas penais. A
cogitação, por sua vez, diz respeito ao plano feito mental e internamente, com a
escolha dos meios possíveis para alcançar o resultado pretendido. Os atos
preparatórios, que iniciam a fase externa e antecedem o início da execução, por si só
são penalmente tão irrelevantes quanto a cogitação. (JUNQUEIRA, 2016).
Por outro lado, as duas últimas fases do crime (terceira e quarta) são
plenamente relevantes e puníveis no direito penal. Na terceira, chamada de execução,
dá-se início à prática do crime em si, agredindo o bem jurídico pretendido. A quarta, e
última, é chamada de consumação e é nela em que tem-se o resultado propriamente
dito. (BITENCOURT, 2019).
Sabendo-se quais as fases de um crime, pode-se entender em qual hipótese
ocorrerá um crime tentado e um crime consumado. O primeiro, conforme dita o artigo
14, inciso II, do Código Penal (BRASIL, 1940), irá ocorrer quando o agente não atingir
a consumação do crime, por circunstâncias alheias a sua vontade, durante a
execução. Por outro lado, tem-se o crime consumado quando estão presentes todos
os elementos do tipo penal, ou seja, quando preenchidos e perfectibilizados todos os
critérios definidos no artigo, que prevê o determinado crime e dita a punição
correspondente. (JUNQUEIRA; VANZOLINI, 2020).
Importante salientar, ainda, que se o agente não alcança o resultado, após
iniciada a execução, justamente por não o querer, não há crime tentado e sim
desistência voluntária ou arrependimento eficaz, conforme extrai-se do artigo 15 do
Código Penal (BRASIL, 1940). Logo, para que haja um crime na forma tentada, o
resultado pretendido deve não ter sido consumado por alguma ocorrência alheia a
vontade do sujeito, e nunca por vontade própria.

2.2.1.7 Concurso de Crimes

Nos casos onde há mais de um crime, considera-se tal ocorrência um


concurso de crimes. Existem 03 (três) tipos de concurso de crimes existentes,
descritos em lei, sendo eles o material, o formal e o crime continuado. A divisão dos
26

concursos, no direito penal, tem o objetivo de cumular as penas dos crimes cometidos,
beneficiando o acusado em duas das modalidades. (JUNQUEIRA; VANZOLINI, 2019).
O concurso material, disposto no artigo 69 do Código Penal (BRASIL, 1940),
trata de crimes cometidos mediante duas ou mais condutas, com dois ou mais
resultados, podendo estes serem iguais ou diversos. Nesse caso, as penas finais
aplicadas são somadas, em sua integralidade, nos moldes do artigo acima citado.
No caso do concurso formal, elencado no artigo 70 do Código Penal (BRASIL,
1940), os crimes são cometidos mediante apenas uma conduta, gerando dois ou mais
resultados. Além disso, pode ser classificado em perfeito e imperfeito. No primeiro, o
agente age com dolo em apenas uma das condutas, sendo a(s) outra(s) com culpa,
respondendo, assim, somente pela pena mais alta, aumentada de um sexto até a
metade. No segundo, por sua vez, o agente age com dolo em todos os crimes e
responde pelas penas somadas em sua integralidade. (JUNQUEIRA, 2016).
Por fim, no caso de crime continuado, descrito no artigo 71 do Código Penal
(BRASIL, 1940), o agente age com duas ou mais condutas, originando-se dois ou mais
resultados, sendo eles da mesma espécie e, ao fim, responde apenas pelo crime com
pena maior, aumentada de um sexto até dois terços.
Nesse caso, segue-se o entendimento STJ (BRASIL, 2018), conforme colhe-
se do Recurso Especial 1.767.902/RJ, em que para caracterizar o crime continuado
devem os crimes preencherem os 05 (cinco) requisitos elencados no artigo
supracitado, quais sejam: pluralidade de condutas; meios de execução semelhantes;
semelhança entre os delitos, ou seja, crimes que violam o mesmo bem jurídico
tutelado; semelhança entre os lugares de cometimento, no máximo até cidades
próximas; limite do lapso temporal, de 30 (trinta) dias entre cada um dos crimes.

2.2.2 Antijuridicidade

A antijuridicidade, ou ilicitude, nada mais é que a contrariedade entre uma


conduta e uma norma, podendo, ainda, ser classificada como uma conduta que
lesiona um bem jurídico tutelado. (GRECO, 2009). Portanto, diz-se que o fato típico,
27

que em regra também é antijurídico, faz um juízo de proibição de uma determinada


conduta e, quando inexistente tal proibição, não há antijuridicidade alguma.
Nesse sentido, o Código Penal brasileiro e a jurisprudência definiram algumas
causas que permitem a prática de condutas antijurídicas, ou seja, excluem sua
ilicitude. Assim, as causas legais de exclusão da antijuridicidade são 04 (quatro) e são
descritas pelo artigo 23 do Código Penal (BRASIL, 1940): legítima defesa; estado de
necessidade; estrito cumprimento do dever legal; exercício regular de direito.
Evidencia-se que as duas primeiras são as únicas expressamente previstas com seu
devido conceito em lei, sendo as duas últimas previstas, mas não detalhadas. No
mais, as causas supralegais, que também excluem a ilicitude da conduta, são
definidas pela jurisprudência em cada caso concreto, como por exemplo com o
consentimento do ofendido. (JUNQUEIRA, 2016).
Por fim, ressalta-se que o excesso, quando por dolo ou culpa, em quaisquer
das modalidades de excludente de ilicitude, serão punidos dentro de suas intenções
e particularidades, de acordo com o parágrafo único do artigo supracitado.

2.2.2.1 Legítima Defesa

O artigo 25 do Código Penal (BRASIL, 1940) define o que é a excludente de


ilicitude por legítima defesa:
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu
ou de outrem.
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo,
considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que
repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a
prática de crimes.

Aqui um adendo, conforme Junqueira (2016, p. 117), a agressão injusta


“significa contrária ao ordenamento jurídico.”. Portanto, para caracterizar-se a legítima
defesa, deve o agente estar reagindo a injusta agressão, utilizando meios necessários
e moderados, ou seja, meios menos lesivos, suficientes apenas para cessar a
agressão.
28

2.2.2.2 Estado de Necessidade

O estado de necessidade, também uma excludente de ilicitude prevista, está


disposto no artigo 24 do Código Penal (BRASIL, 1940):

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para


salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro
modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não
era razoável exigir-se
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de
enfrentar o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena
poderá ser reduzida de um a dois terços.

Logo, age em estado de necessidade o agente que, em situação de perigo


atual e não provocada por si, sacrifica bem jurídico menor para resguardar outro de
igual ou maior valor, desde que o referido sacrifício seja compreensível e inelutável.

2.2.2.3 Estrito Cumprimento do Dever Legal

O estrito cumprimento do dever legal, previsto no inciso III, do artigo 23, do


Código Penal (BRASIL, 1940), tem relação com um dever ou obrigação legal,
geralmente executado por um agente público. (NUCCI, 2019). Logo, se seu dever
advém de uma previsão legal e atende os requisitos e limites impostos por esta, não
há como estar agindo de forma ilícita.

2.2.2.4 Exercício Regular de Direito

O exercício regular de direito, previsto na segunda parte do inciso III, do artigo


23 do Código Penal (BRASIL, 1940), é a prática de condutas regulamentas pelo direito
ou, ainda, permitidas por este. (NUCCI, 2019). Em vista disso, não há como agir
ilicitamente, se a conduta praticada é permitida ou determinada em lei.
29

2.2.3 Culpabilidade

A culpabilidade está diretamente relacionada à reprovabilidade de uma


conduta do agente que, podendo agir de forma correta, assim não o fez. Porém, se
de alguma forma o sujeito não continha liberdade, seja total ou parcial, para fazer a
opção entre a conduta lícita e a ilícita, deve este ser reprovado na medida de sua
culpabilidade. (GRECO, 2019).

2.2.3.1 Imputabilidade

Para o direito material penal, imputar significa responsabilizar, ou seja, a


imputabilidade do sujeito é a capacidade deste em ser responsabilizado criminalmente
por suas condutas.
No Brasil, em regra, todos os maiores de 18 (dezoito) anos são imputáveis,
por possuírem desenvolvimento mental completo presumido, conforme dita o artigo
27 do Código Penal (BRASIL, 1940). Então, para que alguém seja considerado
inimputável, deve haver causa e consequência, respeitando o disposto no artigo 26
do Código Penal (BRASIL, 1940).
Nesse sentido, será considerado inimputável quem possui algum retardo
mental e, ao tempo do fato, era incapaz de compreender o caráter de sua conduta.
Portanto, a inimputabilidade afasta a culpabilidade, justamente por não estar
presente, ao tempo da ação, a liberdade do sujeito. Assim, conforme Greco (2009), a
consequência da inimputabilidade, no Brasil, é a não condenação do sujeito, mas sim
a aplicação de medida de segurança, que não possui natureza punitiva.
Ressalta-se que, se a causa (doença mental, desenvolvimento mental
incompleto ou retardamento) não abranger amplamente a liberdade de escolha do
sujeito, este será punido nos limites de sua culpabilidade, nos moldes do parágrafo
único do artigo 26 do Código Penal (BRASIL, 1940).
30

2.2.3.2 Embriaguez

A embriaguez, para o direito penal, é considerada o efeito da ingestão de


álcool, e qualquer substância que possua efeitos semelhantes e possa provocar
alterações ou perda de consciência.
De acordo com Gustavo Junqueira (2016), existem 04 (quatro) tipos de
embriaguez, com consequências penais diversas, sendo elas: a preordenada; a
voluntária; a acidental; e a patológica. A primeira trata-se de modalidade proposital,
onde o sujeito busca coragem para cometer determinado crime, sendo considerada
circunstância agravante pelo artigo 61, II, L do Código Penal (BRASIL, 1940). A
segunda, por sua vez, não influencia na culpabilidade, sendo uma modalidade onde o
sujeito atua unicamente para embebedar-se ou drogar-se, continuando a ser
considerado presumidamente livre e culpável (NUCCI, 2019). Na terceira, a
embriaguez é gerada por caso fortuito ou força maior, onde o sujeito é forçado a ingerir
determinada substância e, se completa, afasta a culpabilidade ou, se incompleta,
reduz a pena, à luz do artigo 28, inciso II e §2° do Código Penal (BRASIL, 1940). Por
último, a quarta é considerada uma doença mental, chamada de alcoolismo ou doença
congênere, e pode gerar a inimputabilidade nos termos do tópico 2.2.3.1, e do artigo
26 do Código Penal. (JUNQUEIRA; VANZOLINI, 2020).

2.2.3.3 Emoção e Paixão

A emoção e a paixão, conforme Cezar Bitencourt (2019), ocorrem quando o


sujeito age unicamente sob influência destas, não influenciando a culpabilidade, salvo
nos casos em que são previstas expressamente pelo tipo penal, nos moldes do artigo
65, III, c, do Código Penal (BRASIL, 1940).

2.2.3.4 Potencial Consciência da Ilicitude

Inicialmente, é válido considerar que o desconhecimento da lei é inescusável.


Dessa forma, na intenção de observar a liberdade do sujeito, o direito penal analisa a
chamada potencial consciência da ilicitude, que determina se ele poderia, ou não,
31

conhecer da ilicitude de sua conduta. Por tal razão, classifica-se o erro de proibição
cometido pelo sujeito em evitável e inevitável, sendo que o primeiro diminui a pena, e
o segundo exclui a culpabilidade. (JUNQUEIRA; VANZOLINI, 2019).

2.2.3.5 Delito Putativo por Erro de Proibição

No entender de Guilherme Nucci (2009), o delito putativo por erro de proibição


nada mais é que um delito imaginário, em que o sujeito pensa que a conduta praticada
é proibida e punível, mas no ordenamento jurídico não é.
Portanto, o sujeito, nessa modalidade de excludente de ilicitude, incorre em
erro sobre a proibição de uma conduta, ou seja, pratica algo pensando ser proibido,
sendo que a conduta é lícita.

2.2.3.6 Exigibilidade de Conduta Diversa

A exigibilidade de conduta diversa trata-se de um instituto que afasta a


culpabilidade, baseada na teoria da normalidade das circunstâncias. Dessa forma, se
as circunstâncias tornam a conduta diversa da esperada inexigível, não há
culpabilidade.
A legislação, por sua vez, descreve duas hipóteses de inexigibilidade de
conduta diversa, no artigo 22 do Código Penal (BRASIL, 1940), quais sejam a coação
moral irresistível e a obediência hierárquica. A primeira refere-se à violência física
sofrida pelo agente que, ameaçado e sem liberdade para tomar uma decisão, pratica
determinada conduta criminosa. A segunda, por sua vez, trata-se de hipótese em que
é dada uma ordem que não manifesta ilegalidade ao agente, por um superior
hierárquico, com vínculo público e, sem titubear, aquele a obedece. (GRECO, 2019).
32

3 INSTITUTOS DA TENTATIVA E DO DOLO

Neste capítulo, serão tratados os institutos da tentativa e do dolo, seus


conceitos, naturezas e teorias relacionadas. Para tanto, necessária se faz uma breve
recapitulação ao assunto tratado nos itens 2.2.1.4.2.1 e 2.2.1.6, explicando-os mais a
fundo.

3.1 TENTATIVA

O instituto da tentativa, que tem sua definição dada pelo artigo 14, II do
Código Penal (BRASIL, 1940), diz o seguinte:
Art. 14 - Diz-se o crime:
Crime consumado
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição
legal;
Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.
Pena de tentativa
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a
pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
(grifei)

O artigo supracitado, que descreve o instituto da tentativa, tem natureza de


uma norma de extensão, que nos dizeres de Guilherme Nucci (2019), é um instituto
não autônomo. Logo, necessário um tipo penal, ou seja, uma conduta criminosa
tipificada, para completar o instituto da tentativa.
Por outro lado, necessário apresentar-se as teorias que envolvem a natureza
punibilidade da tentativa, sendo 03 (três): objetiva; subjetiva; e sintomática.
A primeira teoria (objetiva), diz que, para punir-se a tentativa, deve haver
perigo a um bem jurídico tutelado pelo Estado e, ainda, sua punição deve ser
proporcional a esse perigo. (NUCCI, 2019). Essa proporção foi adotada pelo Código
Penal, ao dispor sobre a pena correspondente à tentativa, no artigo 14, paragrafo
único (BRASIL, 1940).
A segunda teoria (subjetiva), está relacionada com os crimes em que a própria
tentativa é o núcleo do tipo penal, sendo esta o crime propriamente dito. (GRECO,
33

2019). Essa teoria foi adotada expressamente pelo Código Penal brasileiro, nos
crimes de empreendimento e de atentado, por exemplo.
Por fim, a terceira teoria (sintomática), amplia a abrangência do instituto ao
entender que os atos preparatórios geram perigo aos bens jurídicos tutelados pelo
Estado e, portanto, podem e devem ser punidos. (NUCCI, 2009).
Além disso, importante evidenciar que, para possibilitar a configuração de um
crime na forma tentada, deve ser possível fracionar o iter criminis (fases do crime), no
caso concreto. (ANDREUCCI, 2018). Portanto, se em determinado crime é possível
observar-se o início e o final, tanto da cogitação quanto dos atos preparatórios, da
execução e da consumação, tem-se, então, a possibilidade de configurá-lo como
tentado, na medida dos requisitos impostos no tipo.
Nesse sentido, alguns crimes deixam de ser punidos na forma tentada, haja
vista não poderem ser cometidos em 04 (quatro) fases divisíveis ou, ainda, possuírem
previsão legal de impossibilidade de cometimento, ou inexistência de punição, em
suas tentativas.
Conforme Masson (2019), são 12 (doze) tipos criminais que não são passíveis
de punição na forma tentada, são eles:
I- Crimes culposos, uma vez que se faz necessária a presença do dolo
para que a conduta seja punida na forma tentada;
II- Crimes preterdolosos, visto que se tratam de crimes cometidos
inicialmente com dolo e posteriormente com culpa e, sempre impossível a punição de
crime culposo tentado, não admitem, também, o instituto da tentativa;
III- Crimes unissubsistentes, ou seja, cometidos em apenas um ato, sendo
impossível o fracionamento de seu iter ciminis;
IV- Crimes omissivos próprios, visto que que, pela lógica, não se pode tentar
não fazer algo;
V- Crimes de perigo abstrato, onde apenas a consumação gera o referido
perigo;
VI- Contravenções penais, por expressa previsão da Lei de Contravenções
Penais;
34

VII- Crimes condicionados, em que se exige um resultado para sua


consumação;
VIII- Crimes subordinados a condição objetiva de punibilidade, pois até para
a consumação, estes estão condicionados a determinada circunstância;
IX- Crimes de atentado, já que nestes delitos a própria tentativa é o núcleo
do tipo.
X- Crimes com tipo penal composto de condutas amplamente abrangentes,
pois o verbo nuclear do tipo dispõe “qualquer modo”, ou condições semelhantes;
XI- Crimes habituais, devido a sua natureza jurídica, não existindo,
logicamente, a possibilidade de o sujeito tentar cometer um crime com habitualidade;
XII- Crimes-obstáculo, visto que punem os atos preparatórios, não sendo
logicamente compatíveis com a tentativa;
Ademais, parte da doutrina entende que crimes cometidos com dolo eventual
também não são passíveis de punição em sua forma tentada. Ressalta-se que esse
tema será tratado posteriormente.
Dessa forma, sabendo-se quais os crimes permitem ou não a aplicação do
instituto da tentativa, vale ressaltar as classificações deste, quais sejam: tentativa
perfeita e imperfeita.
A tentativa imperfeita, assim, ocorre nos casos em que, iniciada a execução,
a consumação não ocorre por circunstâncias alheias a vontade do agente. Como
exemplo, tem-se a hipótese em que o agente dispara uma arma de fogo contra seu
desafeto, mas é surpreendido pela polícia, que empurra a vítima e esta acaba não se
ferindo. (GRECO, 2009).
Por outro lado, tem-se a tentativa perfeita quando o agente finaliza a
execução, pensando ter atingido a consumação, mas esta não ocorre por
circunstâncias alheias a sua vontade. (NUCCI, 2019). A exemplo, tem-se a situação
em que o agente atira várias vezes contra seu desafeto e, ao final, deixa o local
pensando ter consumado o crime de homicídio, porém, a vítima é socorrida e
sobrevive.
Outrossim, o instituto da tentativa pode ser classificado pelo resultado,
existindo duas espécies, sendo elas a cruenta e a incruenta.
35

A tentativa cruenta, também chamada de tentativa vermelha, trata-se dos


casos em que a vítima alvo lesiona-se com o ato agressivo do agente. (MASSON,
2019). Nesse sentido, exemplifica-se a situação com a hipótese em que o agente
dispara arma de fogo contra seu desafeto, não o matando por ter errado a direção do
disparo, gerando apenas lesões corporais à vítima.
A tentativa incruenta, chamada também de tentativa branca, ocorre quando
os atos agressivos do agente não chegam a atingir a vítima, sendo que esta acaba
por não sofrer qualquer lesão. (ANDREUCCI, 2019). A exemplo, tem-se a hipótese
em que o agente dispara arma de fogo contra seu desafeto, mas este desvia e acaba
não se ferindo.

3.2 DOLO DIRETO E DOLO EVENTUAL

O dolo, conforme visto anteriormente, é um instituto diretamente relacionado


com a vontade do agente, para cometer determinado delito.
Para o direito penal, assim, existem 04 (quatro) principais teorias acerca do
dolo, sendo elas a da vontade, da representação, do assentimento e da probabilidade.
A primeira, chamada de teoria da vontade, de acordo com Guilherme Nucci
(2019), diz que para que haja dolo, deve haver consciência e vontade por parte do
agente, que precisa prever e desejar que o resultado se consume.
Na segunda, chamada de teoria da representação, para que exista o dolo e
este seja punível, o agente não necessariamente precisa querer o resultado, basta
que o preveja. (JUNQUEIRA; VANZOLINI, 2019).
A terceira teoria, relacionada ao assentimento, diz que a existência do dolo no
cometimento de determinado crime, depende apenas do consentimento do agente
que, ao prever o resultado, aceita a possibilidade de produzi-lo e ignora essa previsão.
Importante salientar que, nessa teoria, o agente não precisa querer produzir o
resultado, apenas assentir com chance de produzi-lo. (GRECO, 2019).
Por último, a quarta teoria, chamada de teoria da probabilidade, relaciona o
dolo com a situação em que o agente considera que a produção do resultado é
provável. (MASSON, 2019). Logo, para que exista o dolo, o agente apenas precisa ter
36

considerado a probabilidade de produzir certo resultado criminoso, não


necessariamente precisa tê-lo desejado.
O conceito geral de dolo no direito penal brasileiro, que adota as teorias da
vontade e do assentimento, está disposto no artigo 18, inciso I do Código Penal
(BRASIL, 1940), com a seguinte descrição:
Art. 18 - Diz-se o crime:
Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo;
Crime culposo
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência,
negligência ou imperícia.
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido
por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. (grifei).

Doutrinária e jurisprudencialmente, conforme corrente majoritária, o inciso


acima grifado por ser dividido em dois, sendo a primeira parte referente ao dolo direito,
e a segunda, por sua vez, referente ao dolo eventual. Porém, importante ressaltar que
a divisão se deu por entendimentos extensivos, relacionando o dispositivo às teorias
do dolo, visto que a lei penal colocou os dois institutos lado a lado, conceituando-os
igualmente como modalidades de “crimes dolosos”, conforme depreende-se do
próprio artigo supracitado.
Sabendo-se que o dolo está relacionado com a vontade do agente e,
interpretando-se a primeira parte do inciso, diz-se que o crime cometido com dolo
direto é aquele em que o agente possui vontade direta de produzir o resultado.
Nesse sentido, a primeira parte do inciso está relacionada apenas com a
teoria da vontade, onde o que vale para identificar o dolo do agente são os elementos
cognitivo e volitivo. O primeiro trata-se da consciência do agente acerca do delito e
suas consequências, está condicionado à culpabilidade do sujeito. O segundo, por
sua vez, relaciona-se com a vontade, ou desejo, do agente de produzir o resultado
criminoso, ou seja, está associado ao livre arbítrio do sujeito. (ANDREUCCI, 2019).
O conceito trazido pela segunda parte do inciso, por sua vez, está vinculado
ao dolo eventual, que ocorre quando o agente não possui o intuito de produzir o
resultado, porém, aceita o risco de sua produção. Tal modalidade de dolo advém da
37

teoria do assentimento e, por mais que não seja o resultado obtido não fosse fruto
exatamente da vontade do agente, esta ainda se faz presente. (ANDREUCCI, 2019).
A vontade do agente, no dolo eventual, se faz presente no momento da
execução. (NUCCI, 2019). Assim, ao entrar na terceira fase do iter criminis, o agente
tem a vontade de iniciar a execução e não se importa com o resultado que será obtido,
mesmo após prevê-lo e consentir com a probabilidade de produzi-lo.
Com efeito, nota-se que o instituto do dolo eventual se diferencia do instituto
da culpa consciente, abordado no item 2.2.1.4.2.2, visto que, no segundo, o agente
não assume o risco de produzir o resultado após prevê-lo, mas internaliza uma certeza
de que conseguirá evitá-lo. A previsão do resultado está presente nas duas
modalidades e esta é a única semelhança existente entre elas.
A diferença encontra-se estritamente na vontade do agente, sendo que no
dolo eventual esta existe, mesmo que de forma mais tênue que no dolo direto, e na
culpa consciente esta não é observada em momento algum. (NUCCI, 2019). A teor
disso, pode-se dizer que no dolo eventual o agente age com desprezo pelo resultado
danoso, ignorando as consequências de seus atos. E, assim, a frágil linha que auxilia
na distinção entre dolo eventual e culpa consciente pode acabar por se desfazer, visto
que muitas vezes a vontade do agente acaba não sendo observada com clareza.
Portanto, deve-se fazer um juízo de valor ao analisar-se casos em que a
vontade do agente pode definir se o crime foi cometido dolosa (dolo eventual) ou
culposamente. Para tanto, tem-se que um dos critérios que devem ser observados,
primariamente, é a capacidade do homem médio de entender até onde seus atos
executórios se estenderiam e quais os resultados mais prováveis de acontecerem,
independente da possibilidade de evitá-los por alguma habilidade pessoal
(JUNQUEIRA, 2016). Ademais, o perigo causado pelos atos do agente deve ser
levado em conta para distinguir a vontade deste, visto que a extensão de sua vontade
poderá ser medida pelos instrumentos utilizados e os danos que sua conduta causou.
(JUNQUEIRA; VANZOLINI, 2019). Utilizando-se da análise da capacidade de
entendimento do homem médio, bem como observando-se a extensão do perigo
gerado pelos atos do agente, possível será uma abordagem mais justa ao caso,
evitando a impunidade, bem como o excesso de punição.
38

4 CRIME DE HOMICÍDIO FUNCIONAL

Este capítulo, tratará acerca do crime de homicídio funcional e suas


características particulares. Porém, antes de adentrar-se ao tema principal,
necessária se faz uma abordagem ao conceito geral do crime de homicídio, suas
características e peculiaridades penais.

4.1 CRIME DE HOMICÍDIO

Conforme visto anteriormente, atos criminosos são aqueles que ferem algum
bem jurídico tutelado pelo Estado, ou seja, crimes cometidos contra à vida, à
integridade física, à honra, etc. Ademais, para que sejam puníveis, devem os crimes
estarem previstos na lei penal, descrevendo a conduta necessária para sua
configuração, bem como a pena aplicável.
O crime de homicídio, assim, está disposto na parte geral da lei penal,
estritamente no artigo 121 do Código Penal (BRASIL, 1940), veja-se:
Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social
ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II - por motivo fútil;
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança
Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão
dessa condição:
VIII - (VETADO):
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
39

§ 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o


crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena - detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime
resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o
agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo
doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta)
anos.
§ 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a
pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma
tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.
§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio.
§ 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o
crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos,
com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem
condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental;
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima;
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos
incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006.

As classificações do crime de homicídio, observadas quando da leitura do


artigo supracitado, podem ser divididas em objeto jurídico, objeto material e sujeitos
do crime. Assim, de acordo com o caput, homicídio é o crime em que o agente age
com a conduta de matar alguém. Logo, o bem jurídico ofendido pela conduta do
agente é a vida. O objeto material do crime, ou seja, o alvo da conduta, é a pessoa
vítima do homicídio, pessoa sobre a qual recai a ação do agente. O sujeito ativo, por
sua vez, é comum por não possuir outra determinação no tipo penal, assim, pode o
crime de homicídio ser cometido por qualquer pessoa. Por fim, o sujeito passivo do
crime é, também, comum, podendo a vítima do homicídio ser qualquer pessoa, haja
vista não haver outra circunstância limitadora no tipo. (NUCCI, 2019).
Lembra-se, ainda, que o caput trata do crime simples, sem quaisquer
circunstâncias que o façam ser considerado mais grave, sendo o tipo mais básico do
crime de homicídio. (NUCCI, 2019). Em seguida, o artigo trata de uma causa de
40

diminuição da pena, que a doutrina chama de homicídio privilegiado, situação em que,


se configurada a causa, a pena poderá ser diminuída no percentual disposto no §1°.
Os tipos com limites de pena diversos do homicídio simples, previstos no §2°
em diante, são chamados de qualificados, visto que possuem condições especiais
para sua configuração. Portanto, nos moldes do ensinamento de Andreucci (2019), os
tipos qualificados possuem penas mínimas e máximas diversas do homicídio simples,
uma vez que são cometidos com circunstâncias que os tornam mais graves e
reprováveis.
Ainda quanto as qualificadoras, a doutrina subdividem-nas em objetivas e
subjetivas. As qualificadoras com caráter objetivo dizem respeito ao meio de execução
escolhido pelo agente, para produzir um resultado delitivo. Por outro lado, as
qualificadoras subjetivas relacionam-se com a motivação para o cometimento do
crime. (GALVÃO, 2013, p. 25). Logo, as qualificadoras objetivas são as dispostas nos
incisos III e IV, do §2°, pois tratam dos meios utilizados para executar o delito, e as
subjetivas são as descritas pelos incisos I, II, V, VI, VII, haja vista tratarem de motivos
ensejadores da prática delitiva.
No §3°, por sua vez, o artigo apresenta o tipo culposo, prevendo a
possibilidade de punição do crime de homicídio pela culpa. Lembra-se, neste ponto,
que um crime só será punido na forma culposa quando o próprio tipo penal trouxer a
possibilidade, justamente o que fez o legislador no artigo supracitado.
No parágrafo §5°, ainda, o artigo traz o chamado “perdão judicial” que,
conforme Andreucci (2019, p. 254), prevê a possibilidade de não aplicação de pena
para o crime, na modalidade culposa, desde que preenchidos os requisitos nele
impostos.
Nos parágrafos restantes (§§4°, 6° e 7°), por fim, o artigo menciona as causas
de aumento da pena no crime de homicídio, com critérios para sua aplicação, descritos
detalhadamente para cada caso. (NUCCI, 2019).
Quanto aos procedimentos processuais referentes aos crimes de homicídio,
cometidos dolosamente, serão estes processados e julgados por rito especial, haja
vista se tratarem de crimes contra à vida. Assim, a competência para o processamento
41

é do Tribunal do Júri, conforme dispõe o artigo 5°, inciso XXXVIII, da Constituição


Federal (BRASIL, 1988).
Na mesma linha de raciocínio, por força do artigo 78, I do Código de Processo
Penal (BRASIL, 1941), quando forem cometidos um ou mais crimes, em conjunto com
o crime doloso contra à vida, desde que conexos, o Tribunal do Júri será competente
para julgar todos estes. (GALVÃO, 2013). Logo, se cometido o homicídio em sua
forma culposa, em conexão com crimes que ofenderam outros bens jurídicos tutelados
que não a vida, o Júri não terá competência para julgar o processo, tendo em vista
que é necessário o dolo do agente no cometimento do crime contra à vida.
Dessa forma, o cometimento de um homicídio será considerado doloso, nos
casos em que ficar comprovada a vontade específica do agente de matar alguém ou,
ao menos, a assunção do risco de produzir o resultado morte. Portanto, o dolo do
agente, nesses casos, poderá ser considerado tanto direto de primeiro e segundo
grau, como também eventual, a depende de cada caso.
Nos casos em que ficar evidente que o agente concorreu para o cometimento
do crime, porém, não chegou a assumir o risco de produzi-lo, este poderá ser
considerado culposo e será punido com a pena prevista no parágrafo 3° do artigo já
mencionado. (NUCCI, 2019).
Nesse sentido, a doutrina e a jurisprudência divergem demasiadamente
acerca da aplicação da culpa consciente e do dolo eventual, nos casos concretos de
homicídio. Tal divergência se dá em razão da linha tênue que divide os dois institutos
e os diferencia.
Como já abordado nos itens 2.2.1.4.2.1 e 2.2.1.4.2.2, tanto na culpa
consciente quanto no dolo eventual, o agente prevê o resultado. Porém, na culpa
consciente o sujeito acredita veemente que será capaz de evitar o resultado. De outro
lado, no dolo eventual, o agente ignora a possibilidade de produzir o resultado e age,
independe do resultado que sua conduta gerará. Logo, a vontade do agente não se
encontra presente na culpa consciente, mas é observada no dolo eventual, mesmo
que de forma mais leve.
Pode-se dizer, assim, que a vontade do agente no dolo eventual concentra-
se no agir e, mesmo que conduza a certo resultado, não está estritamente ligada a
42

este. A vontade, então, deixa de ser certa e determinada, para existir de uma forma
geral e não concentrada.

4.2 CRIME DE HOMICÍDIO FUNCIONAL

Conforme visto no subtópico anterior, o crime de homicídio prevê várias


hipóteses de cometimento qualificado, sendo uma delas o homicídio funcional. Logo,
o referido crime é uma derivação qualificada do crime de homicídio simples, sendo
que aquele diverge deste em algumas classificações, bem como em quais os limites
da pena aplicável.
O crime de homicídio funcional, adicionado pela Lei n° 1.142/15 (BRASIL,
2015), está disposto no art. 121, §2°, inciso VII do Código Penal (BRASIL, 1940), o
qual descreve os elementos necessários para sua configuração, veja-se:
Art. 121. Matar alguém:
§ 2° Se o homicídio é cometido:
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional
de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela,
ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. (grifei).

O inciso grifado acima, ao dispor acerca dos requisitos necessários para que
o crime de homicídio seja considerado funcional, possibilita a diferenciação deste em
relação ao homicídio simples.
Nesse sentido, o inciso evidencia a característica pela qual o referido crime é
considerado “funcional”, qual seja o seu sujeito passivo. Assim, conforme dita o
dispositivo, será considerado funcional o crime de homicídio cometido contra qualquer
autoridade, no que tange às autoridades estatais, ou agentes descritos pela
Constituição Federal, que integrem a Força Nacional de Segurança Pública, incluindo
o sistema prisional.
Ao dispor acerca dos agentes, o inciso indica os artigos constitucionais que
os elenca, quais sejam os artigos 142 e 144 da Constituição Federal (BRASIL, 1988):
CAPÍTULO II
DAS FORÇAS ARMADAS
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e
pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares,
43

organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade


suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da
lei e da ordem.

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de


todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares;
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (grifei).

Portanto, ao seguir a descrição do artigo, se um crime de homicídio é cometido


contra quaisquer autoridades estatais, membros da Força Nacional de Segurança
Pública e das Forças Armadas, ou do sistema prisional, durante o exercício da função
do agente, o crime será considerado funcional.
Não obstante, para que se configure o crime, este não necessariamente tem
de ser cometido durante o exercício da função do agente. O dispositivo traz outra
hipótese de configuração, sendo esta o cometimento do crime tão somente em razão
da função do agente. Portanto, o crime de homicídio funcional pode ser cometido
contra as referidas autoridades, em qualquer momento, desde que o motivo seja a
própria função que o sujeito passivo exerce.
Por último, o inciso dispõe acerca da possibilidade de configuração do crime
nos casos em que o sujeito passivo é o cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo ate terceiro grau, dos agentes descritos, desde que a razão para o
cometimento tenha sido a relação da vítima com o próprio agente público.
Dessa forma, pode-se concluir que se o crime de homicídio é cometido contra
os agentes descritos nos artigos supracitados, ou contra seus parentes até terceiro
grau, nas condições impostas pelo artigo 121, §2°, VII do Código Penal, este é
considerado qualificado pela função do sujeito passivo (funcional) e, logo, terá sua
pena mínima e pena máxima aumentadas de 6 a 20, para 12 a 30 anos.
Além disso, de acordo com o abordado, o homicídio funcional é considerado
uma qualificadora do homicídio simples, com caráter subjetivo, visto estar relacionada
com o motivo ensejador para o cometimento do delito. (ANDREUCCI, 2019).
44

Nesse ponto, a jurisprudência diverge acerca da possibilidade de existência


do crime de homicídio qualificado (subjetivamente) privilegiado. A discordância, assim,
decorre da (in)compatibilidade entre o homicídio privilegiado e homicídio qualificado
por circunstância subjetiva.
O Supremo Tribunal Federal (BRASIL, 2010), que adotou a teoria majoritária,
posiciona-se favorável à compatibilidade entre os dois institutos, desde que a
qualificadora possua caráter objetivo, veja-se:
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido da
possibilidade de homicídio privilegiado-qualificado, desde que não haja
incompatibilidade entre as circunstâncias do caso. Noutro dizer,
tratando-se de qualificadora de caráter objetivo (meios e modos de
execução do crime), é possível o reconhecimento do privilégio (sempre
de natureza subjetiva).

Essa é, também, a posição adotada por Sanches (2017, p. 355), quando diz
que “não se pode imaginar a possibilidade de que alguém mate um agente de
segurança pública no exercício da função ou em decorrência dela [...] e o faça por
motivo de relevante valor social ou moral.”.
De outro lado, o Superior Tribunal de Justiça (BRASIL, 1992, p. 01) posiciona-
se favorável à compatibilidade, em se tratando de qualificadoras tanto subjetivas
quanto objetivas, pois “não constitui empeço a que incida a qualificadora da
surpresa.”.
Sendo assim, tem-se que é possível a existência da figura do homicídio
privilegiado qualificado, principalmente nos casos em que a qualificadora possui
caráter objetivo. Logo, para que seja possível a aplicação do privilégio do §1°, em
casos de homicídio funcional, deve-se tender para o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça.
Salienta-se, ainda, que o crime de homicídio funcional se encontra listado na
Lei n° 8.072/90, chamada de Lei de Crimes de Hediondos (BRASIL, 1990), em seu
artigo 1°, inciso I, veja-se:
Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
consumados ou tentados:

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de


extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado
(art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII);
45

A listagem segue o determinado pela Constituição Federal (BRASIL, 1988),


em seu artigo 5°, inciso XLIII, que dispõe acerca da inafiançabilidade, e não
suscetibilidade de graça e anistia, em casos de crimes hediondos.
A Lei dos Crimes Hediondos (BRASIL, 1990), por sua vez, adicionou algumas
circunstâncias que recaem sobre os referidos crimes, sendo elas a impossibilidade de
concessão de fiança, bem como o início do cumprimento da pena em regime fechado,
entre outras que não perfazem o núcleo da presente monografia.
Diante do exposto, pode-se chegar a uma conclusão clara, dentro do direito
penal, ou seja, que o legislador não poupou esforços para fortalecer e conceder
proteção aos agentes ligados à Segurança Pública.
Ao incluir o homicídio funcional como qualificadora do delito previsto no artigo
121, houve um grande e notável progresso quanto a proteção dada à figura dos
agentes que se empenham em garantir a preservação da ordem pública. Ademais,
com a adição do crime de homicídio funcional à Lei de Crimes Hediondos, a política
criminal avançou, no que diz respeito ao seu caráter assegurativo.
46

5 POSSIBILIDADE DE CONFIGURAÇÃO DE HOMICÍDIO FUNCIONAL


TENTADO QUANDO O SUSPEITO DISPARA ARMA DE FOGO EM DIREÇÃO
AO AGENTE POLICIAL DURANTE A FUGA

O presente capítulo tratará da possibilidade de configuração do crime de


homicídio funcional, quando o suspeito dispara arma de fogo em direção ao agente
policial, durante a fuga. Porém, para melhor entendimento, faz-se necessária uma
explicação mais afundo acerca da situação problema.
Evidencia-se, primeiramente, que o problema da questão não está
relacionado na admissão, ou não, da qualificadora do crime de homicídio, no caso do
agente que dispara de arma de fogo contra policiais, para garantir sua fuga. Para a
hipótese tratada, não há dúvidas quanto a aplicação da qualificadora. Tem-se,
portanto, que, se houver a tentativa de homicídio, esta será considerada qualificada
pela função do agente.
Na situação apresentada, imagina-se que o agente tenha cometido algum
delito, de qualquer natureza, e, ao tentar se furtar do local, os agentes policiais o
flagram e iniciam sua abordagem. Em seguida, o sujeito cogita escapar dos policiais,
checa se ainda está na posse de sua arma de fogo e, assim, começa a correr e tentar
se dispersar. Ato contínuo, os policiais iniciam a perseguição, no intuito de impedir a
fuga do suspeito. Ao perceber que talvez seja pego, o agente saca sua arma e, ciente
dos possíveis resultados de sua conduta, inicia disparos em direção aos policiais, sem
pausar sua fuga. Por certo reflexo, os agentes policiais conseguem se esquivar e
acabam não sendo atingidos.
Dessa forma, a fuga e os atos realizados pelo agente configuram o crime de
resistência, disposto no artigo 329 do Código Penal:
Resistência
Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça
a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja
prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das
correspondentes à violência. (grifei).
47

O crime de resistência, de acordo com o parágrafo segundo do artigo


supracitado, admite o concurso de crimes com aqueles configurados pela violência
produzida pelo agente. Consequentemente, o presente trabalho busca tratar acerca
da possibilidade de configuração do crime de tentativa de homicídio funcional, na
situação descrita acima.
Com a certeza da existência da violência nos atos do agente, e pelo teor do
§2° do artigo 329 do Código Penal, tem-se possível o concurso formal do crime de
resistência com o crime de homicídio funcional tentado.
Nesse ponto, cabe novamente um adendo. Não será objeto da presente
monografia a análise do conflito aparente de normas, possível no caso hipotético
formulado. Dessa forma, não será abordada a possibilidade de configuração de outros
crimes, senão o homicídio funcional, em concurso com a resistência.
Conforme visto anteriormente, para que seja admitida a qualificadora do
homicídio, disposta no art. 121, §2°, VII do Código Penal, basta o agente agir com a
conduta de matar alguém, sendo este alguém um agente estatal descrito nos artigos
142 e 144 da Constituição Federal.
O artigo 144, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), por sua vez, lista os
policiais que possuem sua proteção constitucional:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de
todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares;
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (grifei).

Portanto, desde que o agente policial que tenha sofrido a ofensa seja membro
de uma das seis instituições listadas pelo artigo supracitado, este estará dentro da
proteção do artigo 121, §2°, VII do Código Penal.
Assim, a problemática se dá na hipótese de uma tentativa incruenta de
homicídio funcional, conduta posterior ao cometimento de determinado delito, somada
à resistência com o empreendimento de fuga.
48

Porém, para entender-se acerca da possibilidade de configuração do crime de


homicídio funcional, nesse caso, necessária se faz uma análise de algumas condições
materiais, relacionadas a conduta do agente.
Nesse sentido, o ponto principal, para o deslinde da questão, é a análise do
dolo do agente, ou seja, qual seu intuito ao disparar a arma de fogo naquele momento.
Serão analisadas as possibilidades de configuração do crime de homicídio funcional,
em sua forma tentada, com dolo direto de primeiro grau, dolo direto de segundo grau
e dolo eventual.
Adianta-se, nesse ponto, que a maior parte da jurisprudência entende que,
estritamente na hipótese estudada, resta evidente o dolo eventual do agente. Cumpre
ressaltar, ainda, que não serão abordados os critérios processuais, necessários para
comprovar o dolo do agente, mas sim a compatibilidade dos dois institutos, tentativa
e dolo eventual, para, ao fim, responder ao problema formulado.
Serão apresentadas, nesse momento, três situações fáticas diversas, em que
o resultado pretendido pelo agente não se consuma, para possibilitar a análise prática
da compatibilidade entre os institutos da tentativa e do dolo. Após a exposição da
situação, será identificado o tipo de dolo com o qual o agente agiu, explicando-o
brevemente. Por fim, será demonstrada a compatibilidade dos institutos, em cada
situação.
Primeiramente, imagine-se o dolo do agente, no momento do disparo, como
sendo direto de primeiro grau. Assim, após iniciar sua fuga, o agente cogita matar o
policial que o persegue, saca sua arma, mira e dispara contra a vítima. No exemplo,
o agente possuía o intuito claro de matar o policial. Porém, o policial não é atingido
por ter efetivamente se esquivado.
Nessa situação, o dolo do agente classifica-se como sendo dolo direto de
primeiro grau que, como visto anteriormente, é aquele em que o sujeito age com a
vontade clara de realizar uma certa conduta, com o fim de produzir determinado
resultado. Pode-se dizer que, nesse caso, o suspeito atirou em direção ao agente
policial com sua vontade direcionada ao resultado morte. Dessa forma, caracterizado
o dolo direto de primeiro grau do agente, no momento do disparo da arma de fogo,
com o fim de obter-se o resultado do crime de homicídio funcional.
49

Nesse ponto, resta evidente a possibilidade de punir o crime de homicídio


funcional, em sua forma tentada, tendo em vista que o agente desejava claramente o
resultado e, apenas por circunstâncias alheias à sua vontade, não consumou o delito.
Este é, por assim dizer, o dolo mais compatível com o instituto da tentativa, visto que
a vontade do agente é clara.
Em uma segunda hipótese, tenha-se o dolo do agente como sendo direto de
segundo grau. Assim, o sujeito sabe do poder letal de sua “arma” e, ainda, está ciente
de que o meio escolhido possui 100% de chance de atingir o alvo, além do que está
atrás e ao redor. Ao observar o policial que o persegue, após iniciar sua fuga, o
suspeito visualiza uma criança atrás do agente, em meio a uma multidão, momento
em que, com a certeza de que a granada que está portando atingirá o menor e todos
ao redor, ele toma este resultado como consequência necessária para a consumação
do delito desejado e, assim, decide pelo lançamento como meio de execução para o
homicídio. Porém, ao visualizar a granada na mão do suspeito, o policial consegue se
esgueirar e não ser atingido pela explosão.
Sabendo-se que o dolo direto de segundo grau é acessório, e recai sobre o
meio de execução escolhido pelo agente, tem-se que, nessa situação, o sujeito agiu
com dolo direto de primeiro grau em relação ao policial, e dolo direto de segundo grau
quanto à criança e as demais pessoas da multidão. Veja-se, assim, que não há
assunção de risco, visto que o agente possui certeza de que o meio de execução
escolhido gerará mais do que só o resultado previamente desejado. O resultado
acessório, no dolo direto de segundo grau, é tido como uma consequência necessária
para a obtenção do resultado almejado. A vontade do agente, quando se fala em dolo
acessório, portanto, está direcionada ao modo escolhido para executar a conduta.
Assim sendo, é nítida a compatibilidade da tentativa com o dolo direto de
segundo grau, isso pois, mesmo que não objetivamente direcionada ao resultado
acessório, a vontade do agente existe. A consumação dos resultados, tanto do
principal quanto do acessório, mesmo que desejados e previstos, não se consumam
por circunstâncias alheias à vontade do sujeito.
Por último, imagine-se a situação problema que deu causa ao presente
trabalho, ou seja, o dolo do agente como sendo eventual. Na hipótese, o sujeito inicia
50

sua fuga e, com seu intuito única e exclusivamente voltado para garanti-la, ele saca
sua arma, se vira rapidamente e, sem parar para mirar, dispara na direção do policial
que, por ocasião, esquiva-se do projétil. Nesse ponto, a possibilidade de configuração
da tentativa acaba por não ser inegável. Assim, tem-se a problemática principal, que
diz respeito à compatibilidade dos institutos da tentativa e do dolo eventual.
Nesse sentido, sabe-se que o dolo eventual é característico da conduta do
agente que, sem desejar o resultado, assume o risco de produzi-lo ao realizar
determinada ação ou omissão. Logo, ao disparar sua arma, na terceira situação, o
suspeito assume, ao menos, o risco de causar a morte do policial, agindo com dolo
eventual.
Na situação, frisa-se que o intuito inicial do agente é unicamente garantir sua
fuga. Porém, existe a assunção do risco de causar a morte do agente policial, ao
escolher disparar arma de fogo em direção deste, mesmo sem a vontade específica
de matar, tampouco a certeza de que o atingirá. Logo, não há como dizer que o sujeito
agiu com dolo direto ao disparar a arma em direção ao agente, tendo em vista que
sua vontade estava direcionada a conseguir furtar-se do local. Evidente, dessa forma,
que o sujeito agiu com o dolo eventual, tanto pelo meio escolhido para executar a
ação, quanto pela própria execução.
Tem-se, aqui, o direcionamento da vontade do agente para o meio de
execução, que põe em risco o policial. É esse risco assumido, portanto, que
caracteriza o dolo eventual, e distancia a conduta da culpa consciente.
Sabendo-se com qual dolo o agente agiu no momento do disparo da arma e,
ainda, que não houve consumação do resultado previsto, passa-se à análise de
questão primordial à resolução do problema. É possível a coexistência dos institutos
da tentativa e dolo eventual, na situação apresentada? Assim sendo, necessária se
faz uma reabordagem ao conceito de dolo trazido pelo Código Penal.
Conforme visto anteriormente, o Brasil adotou duas teorias relacionados ao
dolo, a da vontade e a do consentimento/assentimento e, dessa forma, foram
positivadas no artigo 18, I do Código Penal (BRASIL, 1940). Portanto, para o direito
material penal, tem-se que o dolo se dá pelo querer e/ou pela assunção do risco.
51

A problemática inicia-se quando se analisa a letra dos artigos que conceituam


a tentativa e o dolo eventual.
O instituto da tentativa, consagrado pelo artigo 14, II do Código Penal
(BRASIL, 1940), diz o seguinte: “tentado, quando, iniciada a execução, não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.”. Assim, a tentativa é
possível quando há vontade. Porém, a questão chave é entender qual a definição da
vontade descrita pelo inciso, se está relacionada ao dolo como um todo, seja ele direto
ou eventual, ou à própria teoria da vontade.
Portanto, caso o instituto da tentativa indique a vontade do agente como sendo
o dolo deste, em um sentido geral, é possível existir uma certa compatibilidade entre
o dolo eventual e a tentativa.
Nesse ponto, existem duas correntes doutrinárias e jurisprudenciais que
divergem acerca da compatibilidade entre os dois referidos institutos. A primeira
corrente defende serem compatíveis e é, majoritariamente, seguida pela doutrina e
pela jurisprudência. A segunda, por sua vez, é contrária à compatibilidade e possui
mais adeptos jurisprudenciais, sendo pouco observada na doutrina.
Inicialmente, será analisada a corrente defensora da compatibilidade, que
segue, em princípio, o entendimento de um dos mais importantes penalistas
brasileiros, Dr. Nelson Hungria Guimarães Hoffbauer, o principal redacionista do
Código Penal de 1940.
Para compreender-se o fundamento da corrente, é essencial analisar-se o
instituto do dolo, preceituado pelo artigo 18, I do Código Penal (BRASIL, 1940), em
que se diz o crime “doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo.”.
Como abordado, o direito penal brasileiro adotou duas teorias acerca do dolo,
sendo elas a da vontade e do assentimento. O legislador, então, positivou-as no
mesmo inciso, utilizando-as como conceito de crime doloso.
Nas palavras de Nélson Hungria e Heleno Fragoso, que se posicionam pela
corrente majoritária (1958, p. 122):
Assumir o risco é alguma coisa mais que ter consciência de correr o
risco: é consentir previamente no resultado, caso venha este, realmente
a ocorrer. Pela leitura da Exposição de motivos, não padece dúvida que o
52

Código adotou a teoria do consentimento. Diz o ministro Campos: ´Segundo


o preceito do art. 15, nº I, o dolo (que é a mais grave forma de culpabilidade)
existe não só quando o agente quer diretamente o resultado (effectus
sceleris) como quando assume o risco de produzi-lo. O dolo eventual é,
assim, plenamente equiparado ao dolo direto. É inegável que arriscar-se
conscientemente a produzir um evento vale tanto quanto querê-lo: ainda que
sem interesse nele, o agente o ratifica ex ante, presta anuência ao seu
advento. (grifei).

E, ainda, na página 126 da Exposição de Motivos do Código Penal (BRASIL,


1940), o Min. Francisco Campos diz o seguinte: “se diz ‘tentado quando iniciada a
execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente’. O projeto
repele em princípio a ideia de tentativa de crime culposo, pois a vontade não é dirigida
ao evento, nem o agente assume o risco [...]”. Ao dizer do referido Ministro, não há
tentativa culposa por não existir vontade, tampouco assunção de risco, em tal
modalidade. Logo, pode-se concluir que, para o Min. Francisco Campos, somente a
culpa não seria compatível com o crime tentado e, assim, seria possível a existência
da tentativa combinada com o assentimento.
Para Cezar Roberto Bitencourt (2019, p. 122), os dolos direto e eventual foram
equiparadas pelo Código e, portanto, resta impedida a sua diferenciação. Nesse
contexto, toma o mesmo posicionamento o autor Guilherme de Souza Nucci (2019, p.
580), ao dizer que “A dificuldade de prova não pode influir na conceituação da
tentativa. [...] Se, por isso, para a consumação é suficiente o dolo eventual, então
também é suficiente para a tentativa. [...] Na tentativa, o dolo pode assumir qualquer
uma de suas formas.”.
No trecho acima, ao citar vários outros autores que defendem a
compatibilidade, Nucci entende que se na ocorrência da consumação do delito pode-
se configurar o dolo eventual, então, por óbvio, tem-se a possibilidade de configurá-lo
na ocorrência da tentativa.
Dámasio de Jesus (2013, p. 378), entende que o dolo do agente é o mesmo
na consumação e na tentativa, sendo que não há um dolo próprio para o instituto e,
portanto, não há interferência na possibilidade de configuração de um crime tentado
cometido com dolo eventual.
53

De acordo com a corrente doutrinária apresentada, estão a maior parte dos


posicionamentos jurisprudenciais, que seguem o entendimento do Superior Tribunal
de Justiça.
Nesse sentido, colhe-se do julgamento do Recurso Ordinário em Habeas
Corpus n° 6797/RJ, no Superior Tribunal de Justiça (BRASIL, 1997, p. 01), o
entendimento de que os dolos direto e eventual são equiparados pelo Código, sendo
que o risco, conscientemente assumido, possui o mesmo peso que a própria vontade
direta do agente.
Logo, se a tentativa possui compatibilidade com o dolo direto, bem como se o
Código equiparou este ao dolo eventual, por lógica que a segunda modalidade
também possuiria a mesma compatibilidade. Assim, vê-se que o STJ se posiciona
pela equiparação do dolo direito ao eventual e, nesse ponto, ditando compatível os
institutos da tentativa e do dolo eventual.
O Min. Teori Zavascki do Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o Habeas
Corpus 114.223/SP no ano de 2015, apresentou a divergência doutrinária e, por fim,
estabeleceu que inicialmente não há incompatibilidade entre os institutos, à luz do
entendimento do STJ. (BRASIL, 2015, p. 11).
Analogamente, vários Tribunais Estaduais decidiram pela compatibilidade dos
institutos, à luz do posicionamento da Corte Superior. Assim, tem-se os exemplos dos
Tribunais de Justiça de Santa Catarina (SANTA CATARINA, 2019, p. 01), Minas
Gerais (MINAS GERAIS, 2020, p. 01), e Pernambuco (PERNAMBUCO, 2019, p. 01),
que entenderam que a tentativa é possível no caso de comprovar-se que o agente
agiu com dolo, seja ele direto ou eventual, e que não houve consumação do delito por
circunstâncias alheias à sua vontade. Portanto, nas hipóteses de dolo eventual, os
Tribunais que aderiram posicionamento do STJ entendem pela compatibilidade dos
institutos, desde que fique comprovada a previsão do resultado pelo agente, bem
como seu devido consentimento.
Dessa forma, a corrente jurisprudencial e doutrinária que defende a
compatibilidade dos dois institutos (tentativa e dolo eventual) baseia-se na
equiparação das modalidades de dolo. Justifica-se, portanto, a possibilidade de
54

configuração de delitos tentados cometidos com dolo eventual, tendo em vista que o
Código teria adotado as duas teorias do dolo, equiparando-as.
Ademais, o instituto da tentativa não possuiria um dolo próprio e específico,
sendo que se houver comprovação de qualquer modalidade de dolo no cometimento
de um delito, bem como se preenchidos os requisitos da tentativa, esta poderá
configurar-se. Logo, a única incompatibilidade do instituto tentativa relaciona-se com
o delito culposo, sendo que nada impede que um delito cometido por dolo eventual
seja punido na forma tentada.
Por outro lado, há quem posicione-se contra a compatibilidade e, para tanto,
baseiam-se na interpretação do artigo 14, II do Código Penal (BRASIL, 1940), que
descreve o instituto da tentativa.
O principal fundamento para aqueles que seguem a corrente ligada à
incompatibilidade, portanto, seria de que o legislador adotou apenas a teoria da
vontade, no inciso que trata do conceito dos crimes tentados. Releia-se o dispositivo
do Código Penal: “Art. 14 - Diz-se o crime: II - tentado, quando, iniciada a execução,
não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. (BRASIL, 1940).
Para Rogério Greco (2009), a tentativa é admissível apenas nas hipóteses em
que o agente direciona sua vontade à produção do resultado, não sendo compatível,
portanto, com os casos em que há somente a assunção do risco de produzi-lo.
É o que diz Júlio Fabbrini Mirabete (2002, p. 157): “Com fundamento no
elemento subjetivo que se distingue a tentativa de homicídio, que exibe ato inequívoco
de matar, do crime de lesões corporais. Diz-se que não é possível a tentativa com
dolo eventual, já que neste não existe o querer o resultado.”.
De outro lado, mas não destoante, Fernando de Almeida Pedroso entende
que o dolo eventual só é punível acompanhado de um resultado consumado, tendo
em vista que não existe verdadeiramente a vontade do agente, nos casos em que o
este assume determinado risco.
Nos dizeres do legislador, para aqueles que adotaram o posicionamento
contrário à compatibilidade, ao especificar as circunstâncias como sendo alheias à
vontade do agente, a tentativa só poderia ser punida caso estivesse ligada ao próprio
desejo, este último especificamente direcionado a um resultado. Assim, estaria o
55

inciso supracitado estabelecendo que o instituto da tentativa apenas aplica-se aos


casos que se enquadram na teoria da vontade (dolo direto), excluindo-se a teoria do
assentimento (dolo eventual).
Ao notar a dificuldade de coexistência dos institutos, principalmente no que
toca os casos de tentativa branca, a dedução a que chega o professor Ivan Martins
Motta (2016, p. 14) é que “tanta é a dissintonia que existe entre o crime tentado e o
dolo eventual que, mesmo aqueles que defendem a hipótese da compatibilidade do
dolo eventual com o crime tentado, [...] reconhecem que será muito difícil harmonizar
o os referidos institutos”.
Pela dificuldade de extrair-se uma resposta exata do inciso II do artigo 14 do
Código Penal, de encontro ao entendimento do STJ, alguns Tribunais Estaduais
posicionam-se contra a compatibilidade entre a tentativa e o dolo eventual.
Conforme o dizer do Tribunal de Justiça de São Paulo (SÃO PAULO, 2013, p.
07): “Não há, portanto, a real vontade de produzir o resultado, o que o torna
incompatível com o conceito de tentativa insculpido no Código Penal. [...] não há
nenhuma lógica em tentar fazer algo que não se quer com consciência e vontade.”.
Concomitantemente, o Tribunal de Justiça de São Paulo adotou o seguinte
entendimento no Recurso em Sentido Estrito n° 9000007-10.2007.8.26.0286:
[...] Ocorre que, este tipo de dolo (dolo eventual), configurado no
presente caso, é incompatível com a ocorrência da tentativa. Isto porque,
em se tratando de dolo eventual, o agente assumiu, conscientemente, o
risco de produzir um resultado, porém, se este não é consumado, não
há que se punir pela tentativa, pois o autor não agiu de forma
direcionada, objetiva, a produzir um determinado resultado que apenas não
foi alcançado por circunstancias alheias a sua vontade. Em outras palavras,
o dolo eventual permite dizer que o agente assume o risco de produzir
um resultado, e não a tentativa deste, devendo, assim, ser punido pelo
resultado obtido, podendo este ser o mais grave, como a morte, ou o
menos grave, como a periclitação da vida e da saúde de outrem. (SÃO
PAULO, 2013, p. 08).

Conforme os entendimentos supracitados, para as Câmaras Criminais do


TJSP, que defendem a incompatibilidade dos institutos, isso se dá por não ser
possível, em casos concretos, comprovar que o agente tentou assumir um risco. Logo,
somente pune-se um crime praticado com dolo eventual caso este venha a consumar-
se.
56

Outrossim, o Tribunal de Justiça com o posicionamento mais firme em sentido


de serem incompatíveis a tentativa e dolo eventual é do Estado do Rio Grande do Sul.
A grande maioria das jurisprudências do referido estado firmaram entendimento
contrário à punição da tentativa, em crimes cometidos com dolo eventual.
Inclusive, colhe-se da jurisprudência referenciada (RIO GRANDE DO SUL,
2009, 2013), a concepção de que a tentativa exige o dolo direto para sua configuração
e, assim, com a ausência de animus por parte do agente, quando age com dolo
eventual, impossível seria a ocorrência do instituto da tentativa.
Os principais fundamentos constantes nos julgados, baseiam-se na ideia de
que não há como punir o agente que, no momento da execução de determinado delito,
sem manifestar vontade direta à produção de um resultado certo (dolo eventual),
acaba sendo acometido por circunstâncias alheias que não permitem a consumação
do crime. Não se deve, portanto, punir o agente que, assumindo o risco de produzir
determinado resultado, acaba não o consumando.
No crime de homicídio, seja ele simples ou qualificado, as divergências
jurisprudenciais são menores, predominando o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça, de que os o referido crime, quando cometido por dolo eventual, é punível em
sua forma tentada.
A corrente jurisprudencial minoritária entende que o homicídio cometido com
dolo eventual só poderá ser punido em caso de consumação do delito. Como exemplo,
tem-se o Recurso em Sentido Estrito julgado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande
do Sul (RIO GRANDE DO SUL, 2016, p. 01), em que o relator diz não haver como
punir o agente pela tentativa de matar, quando este apenas assume o risco de produzir
o referido resultado.
Nesse sentido, O Tribunal de Justiça do Distrito Federal adotou o
entendimento majoritário, ao julgar a Apelação Criminal n. 20030310149764
(BRASÍLIA, 2009, p. 01), ditando que “É também possível a tentativa quando,
comprovado o dolo de matar, ainda que eventual, o resultado só não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.”.
Assim sendo, tem-se que a problemática acerca da impossibilidade de
configuração do crime de homicídio funcional tentado, quando o suspeito dispara arma
57

de fogo na direção do agente policial, para garantir sua fuga, está na (in)
compatibilidade dos institutos da tentativa e do dolo eventual.
A corrente que abraça a teoria da compatibilidade entre os institutos,
defendendo a ideia de que o Código Penal equiparou o dolo direto ao eventual, no
dispositivo que conceitua os crimes dolosos, baseia-se no posicionamento de Nelson
Húngria, que participou da redação da referida legislação. A posição entende que não
o Código adotou as teorias da vontade e do assentimento, porém, não com a intenção
de induzir um tratamento diferenciado para cada uma das modalidades. Logo, para a
configuração da tentativa, apenas exige-se a existência do dolo, seja ele direto ou
eventual.
Por outro lado, a corrente contrária à compatibilidade, preceitua que o instituto
da tentativa adotou apenas a teoria do assentimento no que tange ao conceito dos
crimes tentados. Assim, não há como punir o agente por um delito em que este não
depositou qualquer vontade. As “circunstâncias alheias à vontade do agente”,
conforme dita o art. 14, II do Código Penal (BRASIL, 1940), só se configuram quando
há expresso e inequívoco desejo do sujeito, voltado à produção do resultado
específico. Logo, impossível punir o agente pela tentativa de um crime que sequer
desejou.
Por existirem duas correntes doutrinárias e jurisprudenciais divergentes, uma
compactuando com a tese e a outra rejeitando-a, bem como pela ausência de uma
decisão vinculante a respeito, abriu-se um espaço para que os Tribunais Estaduais
julguem os casos conforme suas convicções, podendo estes escolherem
particularmente qual posição irão aderir.
58

6 CONCLUSÃO

O problema retratado na presente monografia, decorrente da possibilidade


de configuração do crime de homicídio funcional tentado, quando o suspeito dispara
arma de fogo em direção ao agente policial, com o intuito de garantir sua fuga, possui
a problemática voltada à compatibilidade entre os institutos da tentativa e do dolo
eventual.
Para dirigir as dúvidas iniciais, buscou-se apresentar o conceito analítico
de crime, com a tipicidade subjetiva e o princípio da culpabilidade, com o fim de abrir
o tema do dolo e suas modalidades e teorias. Assim, foram apresentadas as teorias
adotadas pelo Código Penal, em seu art. 18, inciso I, sendo elas a teoria da vontade
e a do assentimento.
Em seguida, foram abordados os institutos do dolo direito e eventual, bem
como da tentativa, separadamente, aprofundando um pouco mais o assunto para
melhor entendimento acerca das divergências versadas no capítulo principal.
Ao tratar-se da tentativa, foram expostos os delitos que não a permitem,
seja por expressa previsão legal, ou pela simples incompatibilidade. Ademais,
observou-se que para que a tentativa seja possível, deve-se poder fracionar o iter
criminis, ou seja, poder visualizar todas as fases de cometimento do crime.
De outro lado, quando expostas as modalidades de dolo, explicou-se as
teorias que as envolvem. Para tanto, foi observado que o Código Penal adotou tanto
a teoria da vontade quanto a teoria do assentimento, no mesmo dispositivo legal, em
que foram conceituados os crimes dolosos. A primeira fica evidente, visto que o artigo
dispõe “quando o agente quis o resultado” e, assim, tem-se o conceito de dolo direto,
em que o agente deseja um resultado específico e empenha forças para sua
consumação. A segunda, por sua vez, é claramente visível na última parte do inciso,
tendo em vista que o legislador introduziu o dolo eventual com a expressão “assumiu
o risco de produzi-lo”, ou seja, assentiu com um resultado que anteriormente não havia
desejado.
Após, tratou-se do crime de homicídio funcional, assim chamado pela
doutrina por possui um sujeito passivo com uma função específica, sendo esta a
59

função pública. Além disso, foi feita uma análise breve acerca do avanço legal, quanto
à proteção aos agentes que exercem papéis importantes na segurança pública do
país, ao incluir o referido delito no rol dos crimes hediondos.
A seguir, foi aberto o tema principal, abordando as problemáticas acerca
da hipótese fática em que o suspeito dispara arma de fogo contra o agente policial,
para garantir sua fuga. Assim, após indicar que jurisprudencialmente o entendimento
é de que o agente age com dolo eventual ao cometer tal conduta, apontou-se o ponto
chave para solucionar o problema formulado, sendo este a análise da compatibilidade
dos institutos da tentativa e do dolo eventual.
A compatibilidade dos institutos é defendida pela corrente jurisprudencial e
doutrinária majoritária e, para justificá-la, os autores e Tribunais entendem que o
Código Penal equiparou as modalidades de dolo, ou seja, seria o dolo direito igual ao
eventual, perante a lei material penal. Portanto, querer um resultado possuiria o
mesmo valor que tomar o risco de produzi-lo. Porém, nada impediria que o juízo
entenda por considerar a eventualidade do dolo quando da dosimetria da pena.
A incompatibilidade, por sua vez, é defendida pela corrente minoritária com
o argumento de que o dispositivo que conceitua a tentativa adotou, expressamente,
apenas a teoria da vontade, em que o agente deseja diretamente o resultado. Logo,
não seria possível configurar um crime tentado quando cometido com dolo eventual,
pois neste não há vontade específica em produzir um resultado.
Cumpre ressaltar que o posicionamento da autora se modificou ao decorrer
da presente monografia. No início, compactuava com a corrente que argumenta a
compatibilidade entre os institutos, com um ideal intrínseco de defesa à política
criminal. Porém, ao aprofundar-se no assunto, não viu como continuar com a opinião
anterior, por perceber a incongruência entre os dispositivos que conceituam a tentativa
e o dolo eventual, em seus próprios incisos.
Pois bem, nos casos em que o suspeito dispara arma de fogo contra agente
policial, com o fim de garantir sua fuga, para configurar-se o crime de homicídio
funcional tentado, após verificado o dolo eventual do agente, deve-se inclinar ao
posicionamento de Nelson Húngria. O referido professor é autor do argumento mais
utilizado pela corrente majoritária e, ao ditar que na tentativa tem-se o mesmo dolo
60

que se teria na consumação, bem como que as modalidades de dolo são equiparadas
pelo Código Penal, não haveria empecilho algum para a configuração de um delito
tentado cometido com dolo eventual.
Ademais, para a corrente majoritária a vontade do agente existe, ao agir
com dolo eventual, porém, é direcionada ao meio executório e não ao resultado
propriamente dito e, portanto, seria suficientemente compatível com o instituto da
tentativa. Portanto, resta claro que a corrente é voltada à uma postura defensiva, que
preza pelas políticas criminais e tende a amparar o aspecto punitivo do Estado.
Por outro lado, caso tome-se a posição da corrente minoritária, não há
como configurar-se o crime de homicídio funcional tentado, quando cometido com dolo
eventual, justamente por não haver vontade do agente ao assumir o risco de produzir
o resultado morte.
Particularmente, a autora posiciona-se pela incompatibilidade dos
institutos, pela lógica interpretativa do dispositivo que conceitua a tentativa. Ao ditar
“circunstâncias alheias à vontade do agente”, o Código visivelmente limitou a
aplicação do instituto aos casos em que o agente possui manifesta vontade. Assim,
não há como punir pela tentativa o agente que assume o risco de produzir certo
resultado, visto que não as circunstâncias que impediram a consumação do delito
nada interferiram na vontade do agente, que nunca existiu.
61

REFERÊNCIAS

ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. 13. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2019.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 25. Ed. São
Paulo: Saraiva Educação, 2019.

BRASIL. Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988. Brasília, DF:


1988. Disponível em:
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2020.

BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília,


DF: Presidência da República, 1940. Disponível em:
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2020.

BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Exposição de Motivos


do Código Penal. Brasília, DF: Presidência da República, 1940. Disponível em:
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BRASIL. Decreto-Lei Nº 3.689, De 3 De Outubro De 1941. Código de Processo


Penal. Brasília, DF: Presidência da República, 1941. Disponível em:
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10 jun 2020.

BRASIL. Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos,


nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1990. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8072.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%208.
072%2C%20DE%2025%20DE%20JULHO%20DE%201990.&text=Disp%C3%B5e%
20sobre%20os%20crimes%20hediondos,Federal%2C%20e%20determina%20outra
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BRASIL. Lei n. 13.142, de 6 de julho de 2015. Altera os arts. 121 e 129 do Decreto-
Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e o art. 1º da Lei nº 8.072,
de 25 de julho de 1990 (Lei de Crimes Hediondos). Brasília, DF: Presidência da
República, 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2015/Lei/L13142.htm. Acesso em: 10 jan 2020.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). Agravo Regimental nos


Embargos de Declaração no Recurso Especial n. 1.810.607 do Estado do Rio
Grande do Sul. Processo penal. Agravo regimental no recurso especial. Homicídio
qualificado tentado. Afastamento de qualificadora. Não demonstrada a absoluta
62

improcedência. Qualificadora restabelecida. Precedentes. Súmula n. 568/stj.


Incidência mantida. Compatibilidade do dolo eventual e tentativa. Decisão
monocrática mantida. Relator: Min. Leopoldo De Arruda Raposo. Brasília, 21 de
outubro de 2019. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201901247519&dt_
publicacao=21/10/2019. Acesso em: 10 maio 2020.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6. Turma). Recurso Especial n. 1.767.902 do


Estado do Rio de Janeiro. Recurso especial. Penal. Estupro de vulnerável e
estupro. Arts. 217-a e 213, ambos c/c o 226, II, todos do CP. Continuidade delitiva.
Crimes da mesma espécie. Requisitos objetivos e subjetivos. Lapso temporal.
Período superior a 2 anos. Relator: Ministro Sebastião Reis Júnior, Brasília, 13 de
dezembro de 2018. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/672694301/recurso-especial-resp-1767902-
rj-2018-0246710-2/inteiro-teor-672694350. Acesso em: 09 maio 2020.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (6. Turma). Recurso Especial n. 4.408 do


Estado do Rio de Janeiro. Penal. Homicídio privilegiado-qualificado. Admite-se a
figura do homicídio privilegiado-qualificado, sendo fundamental, no particular, a
natureza das circunstancias. Não ha incompatibilidade entre circunstancias
subjetivas e objetivas, pelo que o motivo de relevante valor moral não constitui
empeço a que incida a qualificadora da surpresa. Recurso conhecido, pela letra "c"
do permissivo constitucional, e improvido. Relator: Min. Costa Leite. Brasília, DF: 25
de maio de 1992. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/586199/recurso-especial-resp-4408. Acesso
em: 19 abr 2020.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (5. Turma). Recurso Ordinário em Habeas


Corpus n. 6797 do Estado do Rio de Janeiro. Penal. Processual. Inépcia da
denuncia. Ausência de suporte probatorio para a ação penal. Crime cometido com
dolo eventual. Possibilidade da forma tentada. "habeas corpus". Recurso. Relator:
Min. Edson Vidigal. Brasília, 16 de fevereiro de 1998. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/ita/listarAcordaos?classe=&num_processo=&num_reg
istro=199700651576&dt_publicacao=16/02/1998. Acesso em: 05 maio 2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n. 114.223 do Estado de São


Paulo. Processual penal. Homicídio consumado e tentado. Trancamento da ação
penal. Alegação de inépcia da inicial acusatória. Imputação alternativa. Falta de
descrição das circunstâncias do art. 14, ii, do código penal. Incompatibilidade entre
dolo eventual e tentativa. Inocorrência. Habeas corpus denegado. Relator: Min. Teori
Zavascki. Brasília, 27 de outubro de 2015. Disponível em:
http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=9772340.
Acesso em: 02 fev 2020.
63

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n. 97.034 do Estado de Minas


Gerais. Habeas corpus. Crime de furto qualificado. Incidência do privilégio da
primariedade e do pequeno valor da coisa subtraída. Possibilidade. Ordem
concedida. Relator Min. Ayres Britto. Brasília: DF, 06 de abril de 2010. Disponível
em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=1797898.
Acesso em: 24 maio 2020.

BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos


Territórios (2. Turma Criminal). Apelação Criminal n. 20030310149764. Júri.
Tentativa de homicídio qualificado. Preliminar de nulidade do julgamento. Rejeição.
Dolo eventual. Qualificadora do motivo fútil. Tentativa. Compatibilidade. Decisão
amparada na prova dos autos. (Acórdão 349425, 20030310149764APR, Relator:
Getulio Pinheiro. Brasília, DF: 12 de maio de 2009. Disponível em:
https://www.tjdft.jus.br/consultas/jurisprudencia/informativos/2008/informativo-de-
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MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (3. Câmara


Criminal). Recurso em Sentido Estrito 1.0685.16.001832-9/001. Recurso em
sentido estrito - homicídio simples na forma tentada - desclassificação para o delito
de lesão corporal - ausência de animus necandi não demonstrada de forma
induvidosa - matéria de competência do júri popular - dolo eventual e tentativa -
compatibilidade. Relator: Des. Octavio Augusto de Nigris Boccalini. Belo Horizonte,
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Palhoça: UnisulVirtual, 2013.

MOTTA, Ivan Martins. Incompatilidade entre tentativa e dolo eventual, contendo o


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Poder punitivo do estado e efetivando direitos fundamentais: Caso do ciclista


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MOTTA, Ivan Martins. VILLAS BOAS, Regina Vera. Manual de direito penal: parte
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NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: arts. 121 a 212 do Código
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NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral: arts. 1º a 120 do
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NUCCI, Guilherme de Souza. Direito Penal: parte geral: arts. 1° ao 120 do Código
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PASCHOAL, Janaina Conceição. Direito Penal: parte geral. 2. ed. atual. e ampl.

PERNAMBUCO. Tribunal de Justiça do Estado do Pernambuco (3. Câmara


Criminal). Recurso em Sentido Estrito n. 5.158.318. Penal. Processual penal.
Recurso em sentido estrito. Homicídios qualificados consumados e tentados na
direção de veículo automotor. Pronúncia. Desclassificação para homicídio culposo
no trânsito. Impossibilidade. Análise da existência do elemento subjetivo do tipo.
Aferição da existência de culpa consciente ou dolo eventual. Circunstãncias
concretas do evento.indícios da existência de dolo eventual. Dúvida razoável.
Competência do tribunal do júri. Prevalência do princípio in dubio pro societate.
Compatibilidade entre dolo eventual e tentativa. Decisão de pronúncia em harmonia
com a jurisprudência do superior tribunal de justiça. Recurso não provido de forma
uníssona. Relator: Cláudio Jean Nogueira Virgínio. Recife, 12 de junho de 2019.
Disponível em: https://tj-pe.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/720662009/recurso-em-
sentido-estrito-rse-5158318-pe?ref=serp. Acesso em: 10 mar 2020.

PRODANOV, Cleber Cristiano; DE FREITAS, Ernani Cesar. Metodologia do


trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed.
Novo Hamburgo: Feevale, 2013. Ebook. Disponível em:
<http://www.feevale.br/Comum/midias/8807f05a-14d0-4d5b-b1ad-1538f3aef538/E-
book%20Metodologia%20do%20Trabalho%20Cientifico.pdf>. Acesso em: 12 mar
2020.
66

RAIZMAN, Daniel. Manual de Direito Penal: parte geral. São Paulo: Saraiva
Educação, 2019.

SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina (2. Câmara


Criminal). Recurso em Sentido Estrito n. 0003120-40.2017.8.24.0025. Recurso em
sentido estrito. Homicídio simples consumado (cp, art. 121, caput) e homicídio
simples tentado (cp, art. 121, caput, c/c o 14, ii). Decisão de pronúncia. Recurso do
acusado. 1. Desclassificação. Homicídio culposo na direção de veículo automotor
(ctb, art. 302, caput). Dolo eventual. Ebriedade e manobras perigosas. Declarações
da vítima e de testemunha ocular. 2. Dolo eventual. Tentativa. Recurso conhecido e
desprovido. Relator: Des. Sérgio Rizelo. Florianópolis, 26 de março de 2019.
Disponível em:
http://busca.tjsc.jus.br/jurisprudencia/html.do?q=compatibilidade%20dolo%20eventu
al%20tentativa&only_ementa=&frase=&id=AABAg7AAFAAJKKBAAH&categoria=aco
rdao_5. Acesso em: 10 fev 2020.

SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (5. Câmara de Direito
Penal). Recurso em Sentido Estrito n. º 9000007-10.2007.8.26.0286. RESE.
Tentativa de homicídio. Dolo eventual. Pronúncia. Recurso da Defesa. Preliminares.
Não acolhidas. Impossibilidade de Absolvição Sumária. Indícios de autoria e
materialidade do fato. Desclassificação. Possibilidade. Incompatibilidade entre dolo
eventual e tentativa. Pedido parcialmente concedido. Relator: Des. Aguinaldo de
Freitas Filho. São Paulo, 31 de janeiro de 2013. Disponível em: https://tj-
sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/113713118/recurso-em-sentido-estrito-rse-
90000071020078260286-sp-9000007-1020078260286/inteiro-teor-113713128.
Acesso em: 08 mar 2020.

SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (12. Câmara de Direito
Penal). Recurso em Sentido Estrito n. 0832268-64.2013.8.26.0052. Relator: Des.
Breno Guimarães. São Paulo, 21 de agosto de 2013. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/dl/dolo-eventual-tentativa-homicidio.pdf. Acesso em: 07
mar 2020.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (1.
Câmara Criminal). Recurso em Sentido Estrito n. 70031620529. Recurso em
sentido estrito. Tentativa de homicídio praticada na direção de veículo automotor.
Decisão de pronúncia. Fundamentação de possibilidade de incidência de dolo
eventual. Recurso defensivo visando a desclassificação do fato. Alegação de
incompatibilidade entre o instituto da tentativa e o dolo eventual. Acolhimento.
Relator: Marco Antônio Ribeiro de Oliveira. Porto Alegre, 09 de setembro de 2009.
Disponível em: : https://www.tjrs.jus.br/site/busca-solr/index.html?aba=jurisprudencia
Acesso em: 15 jun 2020.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (1.
Câmara Criminal). Recurso em Sentido Estrito n. 70052819752. Tribunal do júri.
Tentativa. Homicídio. Dolo eventual. Incompatibilidade. O dolo eventual, em linhas
67

gerais definido como a aceitação, pelo agente, da produção do resultado mais grave,
mas que conscientemente não pretende obter, é incompatível com o instituto da
tentativa, que exige o dolo direto. Provimento do recurso em sentido estrito
defensivo. Relator: Newton Brasil de Leão. Porto Alegre, 07 de agosto de 2013.
Disponível em: https://www.tjrs.jus.br/site/busca-solr/index.html?aba=jurisprudencia
Acesso em: 05 maio 2020.

RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (2.
Câmara Criminal). Recurso em Sentido Estrito n. 70068856947. Rse. Júri.
Tentativa de homicídio. Desclassificação. Possibilidade. Incompatibilidade entre dolo
eventual e tentativa. Relator: Luiz Mello Guimarães. Porto Alegre, 28 de abril de
2016. Disponível em: https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/348546588/recurso-
em-sentido-estrito-rse-70068856947-rs. Acesso em: 13 jun 2020.

SOUZA, Artur de Brito Gueiros; JAPIASSÚ Carlos Eduardo Adriano. Direito penal:
volume único. São Paulo: Atlas, 2018.

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