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RESENHA DO LIVRO:

“O LOCAL DA CULTURA”

AUTOR: HOMI BABHA (1998)

Homi Babha (1998) traz a ideia de cultura em ambientes modernos, focado na


relações pós-coloniais, na formação de cultura, inspeciona a Europa uma
cultura hegemônica a partir do eixo europeu – também é o caso dos Estados
Unidos da América se pensarmos em outras formas de ser fazer cultura, de se
fazer referências, de se pensar, de se criar os mais amplos parâmetros, as
mais complexas formas de fazer que a humanidade produz nas outras regiões
-, isso vamos ter: no ambiente das artes, da filosofia, dos estudos do idioma, na
sociologia, na antropologia, no desporto e todas estas formas de saber, tem
poder nas relações políticas que as estão permeando.

Se pensarmos a Europa como império, ao longo dos últimos séculos, com sua
superioridade, colonizou a América e teve todo um modelo imperial em cima da
África e da Ásia. Nestas relações temos um predomínio da Europa, formando
relações binárias de poder, temos: a relação entre o branco e o negro; a
relação entre bárbaros e civilizados; a relação de cristão e herege. Destarte
que nestas relações você vai ter múltiplas formas de poder sendo exercidas, o
homem que domina a mulher, o branco que escraviza o negro, o cristão que
tenta catequizar os hereges, o civilizado que tenta trazer o bárbaro para a
civilização, impondo seus valores, suas leis, seus sistemas de pensamento,
seus sistemas jurídicos – sua cultura; seus desportos???

Então, nessas relações de poder exercidas ao longo dos séculos,


observamos/constatamos esse predomínio Europeu, dado em certa medida em
uma relação binária e não rígida/dura, pelo contrário se estabelece em suas
interações em momentos históricos em uma dualidade entre o elemento
dominante e o elemento dominado – o europeu que chega na África, na Ásia e
Índia, nestas relações vão ser criados espaços de interações, denominados de
espaços de hibridização cultural, da formação de algo novo (daquilo que não
existia) nos aspectos culturais.
Homi Babha (1998) traz o seguinte exemplo: quando fala dos católicos,
tentando catequisar os indianos, destaca que a bíblia não foi traduzida para os
povos indianos, os pregadores precisavam se valer de mitos locais, de folclores
locais, para fazer com que seu pensamento cristão fosse compreendido.

Da mesma forma quando um indiano recebia a catequização, ele interpretava a


sua maneira, misturava isso a sua cultura individual/própria, com formas de se
pensar previamente existente, com todo o aparato cultural que já estava
estabelecido nele.

Nesta linha de pensamento, esses dois elementos, o que catequiza e o que é


catequizado, acabam sendo influenciados, e nessa relação de poder surge
uma relação híbrida, que não é rígida, não é necessariamente uma relação
rígida, de imposição de um elemento forte em cima de um elemento mais fraco.

Aqui cabe colocar em posição de destaque “o desporto” por ser tema de nossa
pesquisa. Quando discutimos o desporto, temos uma ideia do que seja, e
traçamos um perfil de atleta, atleta de rendimento, suas modalidades, seus
espaços, suas regras, suas estéticas, as relações desenvolvidas em seus
múltiplos contextos de prática, suas competições. Podemos considerar que o
desporto que inicialmente não foi uma manifestação cultural dos povos criada
para Pessoas com deficiência, foi na medida em que elas foram
interagindo/participando desses ambientes desportivos, dessa cultura do
desporto, surgiram novos olhares culturais - aqui exemplificado no desporto de
alto rendimento praticado por Pessoas com deficiência. Se olharmos de modo
atento para este cenário, perceberemos que essas formas de hibridização
cultural que alcançaram o desporto desenvolveram nos mais variados
ambientes sociais, criando cultura, cultura desportiva, vista no desporto
paralímpico.

Quando discutimos cultura na modernidade, a um foco nas culturas pós-


coloniais e como elas influenciam nos dias atuais, lembrando que há indícios
que os paradigmas atuais estão relacionados com a cultura Europeia que
alcançam o cinema, as artes, a literatura, a política, os sistemas políticos, a
democracia, o sistema jurídico que foram estabelecidos pelos europeus.
Nós estamos no Brasil que foi um país de índio e falamos português que é um
idioma europeu; negros foram trazidos e escravizados no Brasil, eles perderam
suas religiões nativas, elas existem hoje de uma forma um tanto como
marginalizadas – candomblé; umbanda –, não são ritos tão públicos como os
ritos europeus.

Portanto, temos uma hegemonia europeia, entretanto podemos dizer que essa
hegemonia, acaba tendo que lidar com esses grupos que eram dominados, que
eram marginalizados, que eram escravizados, cada vez mais vindo à tona.

Por exemplo: na década de 60, com os movimentos negros que começaram a


se tornar mais fortes, perceberemos a presença da figura do negro aparecendo
na sociedade, trazendo sua cultura e influenciando de uma nova forma outros
grupos culturais. Podemos pensar nos Estados Unidos com a cultura do rap e
do hip hop que surgiu na década de 80. Esse era um grupo que era silenciado
e que agora começa a aparecer, começa a mostrar a sua face, a sua cultura e
isso acaba tendo formas de hibridização. Nessa linha de interpretação, vamos
ter um cantor branco que divulga uma cultura originariamente negra e vai
desenvolver seu trabalho em cima dela. Da mesma forma nós vamos ter um
cantor negro que vem da cultura do hip hop, que acaba absorvendo elementos
que vem de outra realidade cultural e trazendo elementos dessa cultura e
gerando algo novo.

Podemos pensar na migração da Europa de asiáticos e de africanos, então


temos pessoas do norte da África indo para França, a migração de turcos para
Alemanha, esses fluxos acabam levando formas novas de se pensar e isso
acaba gerando relações de hibridização. Então se se pensava que as relações
eram simplesmente binárias – homem mulher; branco negro; bárbaro civilizado.
Essas relações não são mais pensadas apenas como binarismo – é algo bem
mais complexo.

Se olharmos e pensarmos na ascensão do movimento LGBTQIA+ 1 nos tempos


atuais, esse binarismo home mulher acaba se tornando algo diferente, Se
1
Movimento político e social que defende a diversidade sexual suas siglas significam: L =
Lésbicas; G = Gays; B = Bissexuais; T = Transgênero; Q = Queer; I = Intersexo; A =
Assexual e; +, o “mais” significa que as estas siglas podem ser acrescentadas outras
identidades de gêneros e orientações sexuais.
pensarmos miscigenação de raças, uma relação branco e negro se torna algo
diferente, se pensarmos nas misturas culturais complexas que o mundo
globalizado gera, se falarmos de civilizados e bárbaros e algo que se perde,
existe muito mais relações culturais existentes, que que aquelas que o
binarismo pode gerar. E isso é uma forma bastante interessante que Homi
Babha (1998) nos coloca de enxergamos os dias atuais, que são híbridos,
sistemas culturais em que elementos diversos aparecem e interagem neles,
onde formas mais tradicionais acabam se mesclando com outras formas,
gerando novas maneiras de se falar em cultura. O local da cultura nos tempos
atuais, é um local hibridização, e um local de novos fazeres, que muitas vez a
própria sociedade, as próprias pessoas não estão preparadas para lidar com
esta realidade.

Trecho da tese

Ao discutir o desporto, temos uma ideia do que ele seja, traçando um


perfil do atleta de rendimento do desporto com suas modalidades, suas regras,
suas estéticas, suas competições, nas relações desenvolvidas em seus
múltiplos contextos de prática. Podemos considerar o desporto que não foi
inicialmente uma manifestação cultural dos povos, criada para Pessoas com
deficiência. Até porque estes indivíduos com deficiência interagiram nos
ambientes desportivos, com essa cultura, com o surgimento de novos olhares
culturais – exemplificado na manifestação do desporto de alto rendimento
praticado por Pessoas com deficiência. Se olharmos de modo atento para este
cenário, percebemos essas formas de “hibridização cultural”2 que alcançam o
desporto se desenvolver nos mais variados ambientes sociais e culturais,
criando cultura desportiva, observada no desporto em sua matriz paralímpica.

Tese Branco, 2023.

2
Bhabha, H. K. (1998). O local da cultural. Belo Horizonte, Editora UFMG.

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