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ESTÁGIO 4

1 - Abalos situacionais

Dentre os abalos situacionais, ocupam lugar de destaque as perdas, que podem ser classifica-
das como a seguir:

a) Quanto ao que foi perdido:

Pessoas Para familiares e amigos

Animais Para crianças

Proventos
Trabalho (demissão / aposentadoria)
Saúde
Status
Juventude
Recursos de apoio Amputações
Lar
Ilusões e fantasias
Beleza
Casa
Rotina (promoção, casamento, fortuna)
Pessoas
Bens
Materiais ou concretas Status
Saúde
Independência
Crenças

Espirituais ou interiores Confiança
Sonhos
Otimismo

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b) Quanto ao que causa a perda:

• Morte
• Doença (física / mental)
• Separação
• Casamento
• Trabalho
• Suicídio
• Serviço militar
• Estudo: jovem obrigado a sair da casa dos pais
• Formatura: perda dos colegas e ambiente da turma
• Mudança de cidade, estado, pais, escola, faculdade, casa, trabalho, status.
• Relacionamento Intrapessoal e Interpessoal: atitudes, comportamentos, desavenças, confli-
tos, temperamentos, divergências de valores e de ideais, interesses, etc.
As consequências e a maneira de reagir à perda são próprias de cada pessoa. Às vezes, a per-
da provoca mudanças de funções na vida, como no caso de uma pessoa que perde o cônjuge e
passa, assim, a exercer o papel de única provedora e responsável da família.
Além disso, são criados estigmas associados a essas perdas. Por exemplo: uma pessoa que
teve um membro do corpo amputado torna-se alvo de compaixão para outros, e, assim, passa a
ser estigmatizado. Desta maneira, pode ser que isso gere sentimentos de revolta, não aceitação da
perda, e desrespeito por si, o que potencializa um sentimento defensivo voltado a sua pessoa. Por
consequência, isso também poderá criar insegurança nas pessoas próximas para se aproximar
dela, com receio de feri-la ao tocar no assunto.
No geral, o sofrimento diante a perda está atrelado ao fato de sentir que se perdeu uma parte
de si. Por vezes, na dualidade do ter e do ser, acaba-se por acreditar que se é os bens adquiridos
e conquistados. O que reforça a importância do ter, a se confundir com o ser. A percepção de que
somos nossas capacidades de adquirir, construir e utilizar nossos bens se confunde com o sermos
nossos bens.

c) Os principais fatores que determinam como o indivíduo reagirá perante essa situação
de perda são:

Tipo de relacionamento com o que foi perdido:


• Se for de dependência, as reações poderão ser complicadas.
• Se foi num momento de raiva e o indivíduo desejou a perda, a reação poderá ser de culpa.
Busca de defesas contra o sofrimento:
• Geralmente, aqueles que mantêm autocontrole rígido diante da perda sofrem muito nos meses
que se seguem.
Tipo de reação diante da perda:
• É mais sério, com aumento do risco, aos que se isolam ou são isolados. Sem apoio, sentirão
que nada mais na vida interessa.
• Excesso de proteção dos mais próximos também é prejudicial, especialmente caso se prolon-
gue além do necessário.

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d) Sentimentos decorrentes da perda
Motivações Sentimento Sentimento Interfaces
Pavor, Pânico, Temor,
Medo
Insegurança, Fobia
Repugnância, Rejeição,
Aversão
Evitar a perda Intolerância
Apreensão, Insatisfação,
Ansiedade Tensão, Impaciência,
Preocupação
Reparar a perda Ira, Fúria, Indignação,
Punir o responsável Raiva
Revolta, Melindre
Tentativa de reparar uma determinada perda
ou de punir a quem julgamos ser responsável
Inveja Cobiça, Rivalidade, Ambição
por ela
Desgosto, Decepção, Aborrecimento,
Melancolia, Desapontamento, Infelici-
Tristeza
dade, Desalento, Desânimo, Pessimis-
Incapacidade de obter prazer e alegria mo
Decorrente de uma determinada perda Autodepreciação,
Culpa
Autoacusação, Autopunição
Saudade Nostalgia
Vergonha Inibição
Carência, Vazio, Privação,
Solidão
Necessidade, Desamparo
Aflição, Agonia,
Ausência de perspectivas - prazer e ale- Angústia
Estreiteza, Opressão
gria
Somatória de perdas não resolvidas Autopiedade, Inaptidão,
Inferioridade
Incapacidade
Desilusão, Decepção,
Desespero
Desengano, Desesperança
Presunção, Euforia, Posse, Grandeza,
Trasitórios - Ameaça de perda Prazer e Alegria Audácia, Orgulho, Ansiedade, Ciúme,
Vaidade, Medo
Atração, Curiosidade,
Interesse
Admiração, Coragem.
Apreço, Aceitação, Atração, Estima,
Afeição Compaixão,
Consideração
Sentimentos de abertura - Prazer Bem Estar, Satisfação
Postura confiante Otimismo, Entusiasmo, Bom Humor,
Alegria Animação,
Contentamento, Confiança

Bondade, Ternura, Perdão, Respeito,


Amor
Esperança, Resignação, Abnegação
2 - Crianças

Apesar de não serem frequentes, recebemos também chamadas de crianças. Na sua totalidade,
as que nos procuram possuem problemas no ambiente doméstico. Esses problemas são senti-
dos como perdas de amor dos pais, da segurança, etc. Assim como ocorre com idosos, também
elas dificilmente são ouvidas pelos demais. Normalmente seus problemas não são considerados
importantes. O sofrimento pela perda de animais de estimação, por exemplo, é bastante intenso
nessa idade.
Podemos e devemos falar de maneira natural com as crianças, assim como fazemos com os
demais: sem complicações e sem o linguajar maternal que tenta imitar o infantil. O voluntário deve
exercitar também sua confiança na capacidade que elas possuem de realizar o ciclo da vida.

3 - Adolescentes

Geralmente, eles relatam seus sofrimentos em meio a risadas, o que deve ser tomado como
uma maneira de mascarar a timidez, visto que, para os adolescentes, é muito difícil comunicar
sentimentos e preocupações. Os problemas mais comuns relatados são: achar que os pais não os
entendem; medo de contar aos pais que deixaram de frequentar a escola para ir a outros lugares;
brigas familiares constantes ou iminente separação dos pais; pressão causada pelo fato de os
pais estarem esperando (exigindo) que eles se saiam bem em tudo, o que gera nos adolescentes
o medo de falhar e de magoar os pais.
O mundo do adolescente é muito complexo. Além das mudanças físicas, ele também enfrenta
as dos sentimentos. Por isso, é comum relatar problemas e preocupações típicas de adultos, mis-
turadas a outras aparentemente infantis.
Tudo isso deve ser levado a sério pelo voluntário, porque, por trás de uma simples briga com um
colega de escola, pode se ocultar um grande problema. O fato de o indivíduo ter chamado indica
que algo não está bem e não há qualquer razão para não se acreditar nisso. O adolescente exige o
máximo de confidência em relação aos seus problemas. Assim, se o voluntário fizer com que ele se
sinta confiante, será capaz de expor seus sentimentos e encontrar condições para resolver sozinho
aquilo que o está perturbando.

4 - Pessoas idosas

O índice de suicídio entre pessoas idosas é bastante elevado. Os motivos que levam essas
pessoas a ligarem para o CVV não são muito diferentes dos já citados, mas podemos destacar
principalmente:
• Perda de saúde (limitações causadas por doenças)
• Perda de pessoas (solidão)
• Outros recursos de apoio (trabalho, aposentadoria, proventos)
• Perda de autonomia (agressividade, violência doméstica), ser lesado ou usado financeira e
materialmente
A comunicação, por exemplo, pode estar prejudicada pela perda total ou parcial da audição,
pela vagarosidade da dicção, por confusões e perda de memória, etc. Embora possa acontecer
em qualquer etapa da vida, a solidão é comum entre as pessoas mais velhas, e a maior incidência
se dá entre aquelas que vivem em instituições para idosos. Geralmente são os indivíduos de per-
sonalidade mais difícil que acabam em tais instituições. Eles muito comumente não se relacionam
bem com seus companheiros, o que piora muito a situação.

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