Você está na página 1de 6

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DE

FAMÍLIA DA CIRCUNSCRIÇÃO ESPECIAL JUDICIÁRIA DE BRASÍLIA-DF

MARCOS PETER LIMA PEREIRA, brasileiro, casado, editor de vídeo,


portador do RG nº 2088690 SSP-DF, e do CPF n° 995.714.041.87, residente na SQN 104 Bloco K
apt. 104, CEP 70733-110, vem por intermédio do seu advogado, Dr. Thiago Feran Freitas
Araújo, OAB-DF n° 32482, com domicílio profissional na SQNW 309, Bloco K, apt. 129, CEP
70687-155 e Dra. Leisa Danisse Berdet Carvalho, brasileira, solteira, advogada, OAB-DF n°
39.953, com mesmo domicílio, conforme instrumento de mandato anexo – doc. 1, com fulcro nos
art. 3º, II; 4º, II, 682, II; 1.767, I e II; 1.768, 1775, §1º, todos do Código Civil Brasileiro; com base
no procedimento especial capitulado no art. 1.777 e ss. do CPC, vem, perante Vossa Excelência,
propor

AÇÃO DE INTERDIÇÃO COM PEDIDO LIMINAR DE ANTECIPAÇÃO DOS


EFEITOS DA CURATELA

em face de FELINTO AMORIM PEREIRA FILHO, brasileiro, casado, portador da cédula de


identidade OAB-PA n° 850 – doc. 2, residente na SQN 315, bloco D, apt. 502, CEP 70774-040, que
faz pelos motivos de fato e de direito que expõe, para ao final requerer o que se segue.

PRELIMINARMENTE - DA LEGITIMIDADE E DAS CUSTAS INICIAIS

Assim determina o art. 747, II, § único do CPC/2015:

Art. 747. A interdição pode ser promovida:

[...]

II - pelos parentes ou tutores;


[...]

Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que


acompanhe a petição inicial.
O Autor da presente ação é o único filho do Interditando, conforme comprova a
sua Carteira Nacional de Habilitação – doc. 3. Como filho, o artigo acima o legitima para propor a
presente demanda.
Ademais, as custas iniciais também já foram pagas, conforme comprovante
anexo – doc. 4.

DOS FATOS

I – DA DOENÇA DO INTERDITANDO

O interditando, pessoa idosa com oitenta e seis anos, encontra-se acometido por
demência associada à doença de Alzheimer (CID10: G30.1), há cerca de quatro anos, conforme
comprova o laudo médico anexo – doc. 5. Desafortunadamente, a doença já se encontra em estágio
avançado, como está atestado abaixo:

Ou seja, a Dra. Liliane A. Oliveira (CRM-DF 15974) atesta que o Interditando


não consegue mais ser independente, pois precisa de cuidados de terceiros e não consegue mais
responsabilizar-se por seus próprios atos.
Na sequência, é apresentado relatório médico de 20 de maio de 2019 – doc. 06,
assinado pela mesma médica, no qual é possível perceber claramente que a situação do Interditando
deteriorou muito daquele dia até os momentos atuais.
Além dos relatórios médicos, em tópico posterior serão relatadas situações, de
maneira sucinta, que foram ocasionadas pelo Mal de Alzheimer e que mostram a real necessidade da
interdição.

II – DA CONDIÇÃO CLÍNICA DA CÔNJUGE DO INTERDITANDO E


DA ESCOLHA DO AUTOR COMO CURADOR

O Interditando possui, hoje, somente dois herdeiros em caso de falecimento, o


próprio Autor desta demanda e o seu cônjuge – certidão de casamento anexa - doc. 7.
Infelizmente, o seu cônjuge também não possui uma boa situação de saúde. Na
verdade, possui uma condição bem delicada, inclusive estando hoje em internação domiciliar
constante (home care) - doc. 08 – conforme imagem abaixo:

Inclusive, recentemente o seu cônjuge passou mais de um mês internado na


UTI do hospital Santa Lúcia Norte, por uma infecção pulmonar gravíssima, que ocasionou sequelas
graves, que o impossibilitam de ser a curadora do Interditando.
Ademais, o Curador deve ser aquele que melhor representa as condições para
tomar as decisões mais importantes e se responsabilizar pelas obrigações do Interditando, desta
forma, tal encargo deve recair perante o Autor da presente ação, até mesmo porque ele já o vem
exercendo, dentro do possível, este papel.
Em 04/11/2019, foi feita uma procuração pública com amplos poderes, do
Interditando – doc. 09 - para o Autor desta ação e para o seu cônjuge. Como o seu cônjuge piorou
muito a sua saúde desde então, tendo ficado mais de um mês na UTI, em janeiro e fevereiro deste
ano, e em internação domiciliar desde que saiu do hospital, a procuração na prática só pode ser usada
pelo Autor.
Contudo, pode-se questionar se somente a procuração já existente não
resolveria o problema, de forma que a interdição seria uma medida drástica demais e desnecessária.
Infortunadamente, este não é o caso, pelos relatos que serão descritos abaixo, pois o Interditando tem
causado problemas graves para si e para o Autor, pelos atos oriundos da sua grave moléstia.

III – DAS SITUAÇÕES QUE TORNAM A INTERDIÇÃO NECESSÁRIA

O Interditando infelizmente, não reconhece mais o seu cônjuge. Como já


mencionado, ela se encontra em internação domiciliar por tempo indeterminado e ele não a reconhece
no quarto que foi deles por décadas. Tem momentos em que ele pensa que é viúvo, em outros ele já
acha que a sua mulher é outra, mas não sabe onde ela se encontra.
Na maior parte das vezes, ele pensa que não está em Brasília e começa a
arrumar uma mala para ir embora e voltar para a sua “casa”. A linha do tempo na sua mente está
totalmente desconexa. Como exemplo, basta mencionar que ele constantemente quer ligar para a sua
mãe, que faleceu tem mais de trinta anos.
Ele já foi na agência do Banco do Brasil onde está a sua conta corrente, pois ela
fica muito próxima da sua residência, para cancelar uma consulta médica que ele havia pago
legitimamente, porque ele não reconheceu este gasto no seu extrato bancário. O Autor teve que sair
correndo do seu trabalho e ir à Agência para explicar que o gasto era legítimo. Caso contrário,
haveria o cancelamento do cartão de crédito e iria se criar uma dívida com a clínica médica, o que
poderia ocasionar problemas judiciais.
Ademais, hoje nas ligações de telemarketing, ele aceita todas as propostas, pois
não sabe mais diferencia o que é bom ou ruim, o que ele precisa ou não, ou ainda quanto dinheiro ele
tem, se está faltando ou se está sobrando dinheiro. Tudo isso gera grandes transtornos para aqueles
que cuidam dele, em especial, ao Autor, que tem que solucionar todos esses problemas que o
Interditando cria sem ter consciência.
Hoje ele não consegue mais realizar nenhum pagamento, tudo é o Autor que
faz para ele. Contudo, muitas vezes, ele quer cancelar coisas que são devidas, como o caso já
relatado, ou ainda agendamento de parcelas do IPTU/IPVA, porque simplesmente não consegue mais
relacionar aquele futuro pagamento com a respectiva dívida. E não raro, alguma coisa que ele cancela
não é percebido, o que ocasiona problemas.
Em resumo, o Interditando encontra-se em estado que o impossibilita a ter a
plena capacidade de compreensão da vida e do cotidiano, em decorrência de uma patologia
permanente e progressiva.
Enfim, não resta alternativa à interdição, nos termos do art. 1767, I e V do
Código Civil/2002:

Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:

I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua von-
tade;

[...]

V - os pródigos.

IV – DO INTERROGATÓRIO NO DOMICÍLIO DO INTERDITANDO

Caso Vossa Excelência entenda pela necessidade de se interrogar o


Interditando, solicita-se que este seja realizado em sua residência, no endereço expresso na
qualificação, tendo em vista a confusão mental gerada por seu transtorno, sendo de extrema
dificuldade a realização do seu deslocamento.

V - DO PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DA


CURATELA

Assim dispõe o art. 300, § 2°, do Código de Processo Civil:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que eviden-
ciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do pro-
cesso.

[...]

§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.

A probabilidade do direito da interdição é inequívoca, com os laudos já


apresentados – doc. 05 e 06 – junto a esta peça inicial., que detalham o estágio avançado do Mal de
Alzheimer do interditando, inclusive a sua necessidade de cuidado por terceiros e a
impossibilidade de se responsabilizar por seus próprios atos.

No tocante ao risco de dano, restou fartamente demonstrado, a partir das


alegações e documentos acostados que o interditando se encontra em situação frágil, em face da
debilidade crescente a que é acometida, podendo causar danos financeiros e jurídicos a si próprio ou
terceiros.
Desta forma, mister a concessão de medida liminar de antecipação de tutela, de
modo a nomear curadora provisória ao interditando, na pessoa de seu filho e Autor da presente
demanda, a Sr. MARCOS PETER LIMA PEREIRA, sendo a pessoa mais indicada a assumir tal
munus, por tudo já exposto.

DOS PEDIDOS

Ex positis, requer-se:

1. A concessão de tutela provisória de urgência com a nomeação de MARCOS


PETER LIMA PEREIRA como curador provisório de FELINTO AMORIM
PEREIRA FILHO, para que o Autor represente seu genitor nos atos da vida
civil, prestando para tanto, o compromisso legal com os devidos limites de atu-
ação e demais providências, nos termos do Art. 759, Código de Processo Civil;

2. A citação de praxe do Interditando, nos termos do Art. 751 do Código de


Processo Civil;

3. Que, havendo necessidade de interrogatório da Interditando, que este se dê


pessoalmente, através da condução de representantes do Judiciário até a
sua re- sidência, tendo em vista sua dificuldade de locomoção e confusão mental
gerada quando de mudanças de sua rotina;

4. Ao final, decretada a interdição, que seja o Autor MARCOS PETER


LIMA PEREIRA nomeado CURADOR de seu genitor, transformando-se,
portanto, de provisório para definitivo;

5. A intervenção do digno Senhor Promotor de Justiça - representante do Mi-


mistério Público - sobre este pedido.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos,


especialmente a documental, a pericial e a testemunhal.

Dá-se à presente o valor de R$ 1000,00 para efeitos meramente fiscais.

São nestes termos em que pede e espera o integral deferimento.

Brasília, 28 de abril de 2020.

THIAGO FERAN FREITAS ARAÚJO LEISA DANISSE BERDET CARVALHO


OAB-DF n° 32.482 OAB-DF 39.953

Você também pode gostar