Você está na página 1de 23

Psicologia da Leitura de Narrativas Infantis

e Juvenis
Perspectivas disciplinares da leitura de narrativas infantis e
juvenis

● Perspectiva Psicológica
● Perspectiva Literária
● Perspectiva Social/Sociológica
● Perspectiva da Didática da Literatura
● Recepção Leitora
● Perspectivas Interdisciplinares

(COLOMER, 2003)
Perspectivas psicológicas da leitura de narrativas

Psicanalíticas

Cognitivas
− Psicolinguísticas
− Sociocognitivas

Neurocientíficas
Perspectiva psicanalítica – Brainstorming

● Vida interna (natureza humana)


● Vivências
● Emoções (angústia)
● Inconsciente
● Existencial (busca pelo significado da vida; significados mais profundos)
● Necessidades (conflitos internos profundos)
● Devaneio - imaginário (ordenação)
● Herança cultural (humanidade; moral)
● Desenvolvimento saudável (simbólico; crescimento interior)
● Superação (dão esperança; imagens de heróis que partem para o mundo sozinhos – mas são
capazes de alcançar relações significativas e compensadoras.
(BETTELHEIM, 2021)
Perspectiva psicanalítica

● Propósitos:
− Divertir; entreter; despertar interesse; estimular a imaginação;
− desenvolver recursos internos; despertar a curiosidade;
− sugerir soluções; ideias para problemas íntimos;

● Características textuais:
− Temáticas: problemas humanos universais; o mal é tão onipresente quanto a virtude;
são personificados; o mal é derrotado;
− Estilísticas/estruturais: sutil; implícito; personagens tipificadas; personagens
esboçadas claramente; trajetória do herói definida.

(BETELLHEIM, 2021)
Perspectivas cognitivas

● Piaget – Epistemologia Genética (1950):


− Foco = inteligência e construção do conhecimento;
− a capacidade do conhecimento humano e
o seu desenvolvimento (teoria do desenvolvimento intelectual);
− Propósito = responder como os homens, sozinhos ou em conjunto, constroem
conhecimentos e por quais processos e por que etapas eles conseguem fazer isso;
− Direcionamento das pesquisas e observações = a construção e aquisição de
conhecimento pelos homens na idade infantil e na adolescência;
− Embasamento = psicologia empírica e da teoria do conhecimento;
− Questão norteadora: "De que modo se desenvolvem, não obstante a sua relativa
estabilidade, as estruturas do pensamento e do conhecimento humano?"
(PÁDUA, 2009, p.01)
Perspectivas cognitivas

● Bartlett – Teoria dos Esquemas (1932):


− Foco = processamento de histórias;
− Os esquemas têm papel determinante no modo como recordamos
as histórias;
− Esquemas = pacotes bem-integrados de conhecimentos sobre o mundo,
eventos, pessoas e ações (memória de longo prazo);
− A memória é afetada tanto pela história como pelo armazenamento do leitor de
conhecimento esquemático relevante prévio;
− A compreensão (e a memória) do discurso depende de processos top-down,
desencadeados pelos esquemas – os esquemas podem influenciar os processos de
compreensão;
− Três tipos de erro de recordação = racionalização; nivelamento; burilamento;
− Questão norteadora: "Como recordamos as histórias?"

− (EYSENCK, 2017)
Perspectivas cognitivas

● Kintsch – Modelo de Construção-Integração (1998):

− Modelo mais influente na pesquisa psicolinguística atual:


● Os leitores transformam as frases em proposições (construção - bottom-up);
● As proposições são armazenadas brevemente com proposições relacionadas de forma
associativa (inferência);
● Essas proposições são integradas às informações contextuais (integração – top-down).

− Em decorrência desse processo são construídos três níveis de representação do texto: superfície;
proposicional; situação.

− (EYSENCK, 2017)
Proposta de
taxonomia
da compreensão leitora

Fonte: Català et al. (2001) in Viana et al. (2017).


Proposta de
tipos de
inferências

Fonte: Marcuschi- UNESP


Análise de
formulação de
perguntas

Fonte: Marcuschi-UNESP Fonte: Marcuschi, 2010


Exemplo de estudo
psicolinguístico

Baretta (2017)
Estratégias de leitura – antes de ler

● Estabelecer o objetivo da leitura – o objetivo direciona o leitor frente


ao texto lido.
● Ativar os conhecimentos prévios sobre o texto. Ex.: O que eu sei
sobre o tema? E o autor? E sobre o gênero?
● Fazer previsões. Ex.: De que tratará este texto? O que vou encontrar
nesse texto?

(SOLÉ, 1988)
Estratégias de leitura – durante a leitura

● Formular perguntas ou hipóteses sobre o que se está lendo.


● Procurar estabelecer relações entre as diferentes partes do texto.
● Acionar o conhecimento de mundo.
● Esclarecer possíveis dúvidas (sentido de palavras, expressões, fatos
desconhecidos).
● Recapitular as ideias do texto.
(SOLÉ, 1988)
Estratégias de leitura – após a leitura

● Avaliar se foi possível fazer inferências a partir de diferentes


informações do texto e de conhecimentos e experiências prévias;
● Verificar se as hipóteses foram confirmadas;
● Verificar se compreendeu o tema e a ideia central;
● Fazer um resumo com as ideias principais.

(SOLÉ, 1988)
Perspectiva cognitivo-social – Brainstorming

● Simulação social
● Aprendizagem socioemocional
● Empatia e Teoria da Mente
● Diferentes pontos de vista
● Comportamentos solidários e pró-sociais
● Aceitação
● Identificação

● Dinâmicas sociais (aprendizagem social – observação – modelagem)


Evidências

● O prazer da leitura é mais importante para o sucesso educacional das crianças do que as condições
socioeconômicas de suas famílias;
● O envolvimento do leitor é um forte indicador de pontuações em testes de alfabetização;
● A motivação intrínseca prediz tanto a amplitude quanto a compreensão da leitura (KUCIRKOVA;
LITTLETON; CREMIN, 2017);
● As emoções são centrais em toda a experiência leitora – antes, durante e após o ato de ler (MIALL,
2011).
Evidências – antes da leitura

● Antes da leitura, afeto e humor influenciam a escolha do livro, segundo o objetivo do leitor de querer
mudar ou manter o seu estado emocional. Na etapa da decisão, estão relacionados o estado emocional
ou humor atual, a avaliação prévia de quais emoções resultarão da leitura e os objetivos pessoais com
respeito à emoção.

● Obs: Não é possível predizer que um leitor feliz e de bom humor procurará por livros que não interfiram
nesse estado emocional ou que o ajudem a promovê-lo; nem que leitores infelizes deverão selecionar
um livro que reverta esse estado.
Evidências – antes da leitura

● As previsões de gerenciamento de humor podem ser um pouco mais complexas que essa proposição
inicial e muito mais interativas;
● Os leitores podem gostar de textos de tragédia, terror ou suspense, porque a ansiedade induzida
permite aumentar a sensação de alívio com a resolução do conflito narrativo, gerando maior satisfação;
● Existe a possibilidade de busca e gosto por mídias narrativas que possam evocar ou manter emoções
negativas;
● Objetivos de nível mais alto, que informam mais a cognição que a emoção, como a busca por um
significado, também podem interagir com a afetividade nesse processo de escolha;
● As emoções e os sentimentos do leitor oferecem uma pré-estruturação do significado do texto como um
todo, direcionando a leitura (MIALL, 2011).
Evidências – durante a leitura

● Durante a leitura: o próprio texto atua para evocar e transformar emoções, tanto diretamente, por meio
dos eventos retratados, quanto por meio da evocação de memórias emocionalmente significativas. E,
uma vez evocadas, tais emoções podem influenciar a própria experiência da leitura (OATLEY et al.,
2011).
● As emoções podem surgir de duas maneiras, não necessariamente excludentes, externas ou internas a
uma narrativa, que, uma vez combinadas, podem se modificar mutuamente, promovendo a sensação
de satisfação literária: pela entrada do leitor no universo narrativo e a partir de uma experiência mais
externa à narrativa, no encontro com uma obra de arte, em que o leitor mantém uma relação mais
distanciada pela avaliação subjetiva das propriedades estéticas e estilísticas do texto.
● Emoções estéticas – admiração e apreciação (MIALL; KUIKEN, 2002);
● Emoções narrativas – emoções que surgem ao entrar em um mundo narrativo: simpatia por uma
personagem; identificação ou desejo de ser como o protagonista; experimentação de emoções
semelhantes pela empatia; emoções revividas a partir da experiência pessoal; lembradas a partir de
experiências culturais com outras narrativas (OATLEY et al., 2011). Esses cinco tipos de emoções
evocadas ao ler uma narrativa são, muitas vezes, experimentadas simultaneamente e estão
imbricadas.
Evidências – após a leitura

● Após a leitura, as emoções evocadas também podem promover alterações no processamento


cognitivo.
● A simulação profunda da experiência emocional que acompanha nosso envolvimento durante a leitura
de narrativas literárias pode predizer importantes efeitos da emoção evocada, alterando não apenas a
maneira como pensamos, como também promovendo a transformação pessoal;
● Pode mudar, até mesmo, a maneira como o leitor se vê (o autoconceito do leitor), o que terá
implicações tanto para a compreensão leitora quanto para a formação do gosto pela leitura (OATLEY et
al., 2011);
● O processo de compreensão desses textos não pode ser explicado por modelos puramente cognitivos,
já que a compreensão leitora é fortemente controlada pelo afeto, que direciona a criação dos esquemas
ou modelos de situação mais adequados ao texto (MIALL, 2011).
Modelo alternativo

● Modelo alternativo de processamento textual baseado no afeto:


− os leitores instanciam esquemas para interpretar uma história, mas a própria história
“desfamiliariza” os esquemas, exigindo a criação de um novo esquema, mais
adequado ao conteúdo apresentado;
− quando um esquema familiar ou usual que teria sido aplicado automaticamente se
torna questionável, sua adequação pode se tornar um foco de interesse narrativo;
− isso implica uma nova caracterização do papel do leitor, que é definido a partir de
uma visão mais construtiva;
− o trabalho primário do leitor é, portanto, interpretar as sentenças que se desdobram
na história em busca de pistas para um esquema mais adequado, e a resposta afetiva
do leitor orienta esse processo (MIALL,1989; 2011).
Referências
● BARETTA,D. Compreensão leitora e consciência textual na predição leitora. Um estudo com alunos do 6º ano do ensino
fundamental a partir da leitura de uma fábula. DISSERTAÇÃO. Mestrado em Letras. Porto Alegre, PUCRS, 2017.

● BETTELHEIM, B. A Psicanálise dos Contos de Fadas. 41. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2021.

● COLOMER, T. A formação do leitor literário. São Paulo: Global, 2003.

● MARCUSCHI, L. Compreensão textual como trabalho criativo. Disponível em:


https://acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/40358/3/01d17t07.pdf. Acesso em: 04 abr. 2022.

● MAR, Raymond; OATLEY, Keith; DJIKIC, Maja; MULLIN, Justin. Emotion and narrative fiction: Interactive influences before, during,
and after reading. Cognition and emotion. n. 25, v. 5, 2011, p. 818-833.

● MIALL, David. Emotions and the Structuring of Narrative Responses. Poetics Today, n. 32, v. 2, 2011.

● MIALL, David S.; KUIKEN, Don. A Feeling for Fiction: Becoming What We Behold. Poetics, n.30, 2002, p. 221-241.

● SOLÉ, I. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto Alegre: ArtMed, 1988.

● VIANA, F. L.; CADIME, I; SANTOS, S.; BRANDÃO, S.; RIBEIRO, I. O ensino explícito da compreensão da leitura. Análise do
impacto de um programa de intervenção. Revista Brasileira de Educação, v. 22 n. 71, 2017. Disponível em
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v22n71/1809-449X-rbedu-22-71-e227172.pdf. Acesso em 15/01/2018.

Você também pode gostar