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2⁰ Trabalho Técnicas de Elaboração de Contratos

Valor: 20 pontos

Ronald César Rodrigues

Da (IM) penhorabilidade do bem de família do fiador:

Confrontando as disposições das Leis 8009/90 e 8245/91 passamos a perguntar:

a) O locatário, membro componente de um contrato principal, está protegido pela


impenhorabilidade do bem de família. E o fiador, membro componente de um contrato
acessório, goza da mesma proteção?

b) O princípio isonômico entre fiador e locatário se faz presente frente a essa matéria?

Consulte os RE 352940/SP e 407688 a fim de dissertar sobre a (im)penhorabilidade do


bem de família do fiador.

Para melhor esclarecimento aos argumentos acima, as respostas e argumentos


serão apresentados no decorrer da dissertação a seguir.

Posto isso, podemos iniciar no presente trabalho dizendo que a


impenhorabilidade do bem de família, está previsto na Lei nº 8.009, de 29 de março de
1990, que menciona que o imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar,
é impenhorável, assim não respondendo por dívida de qualquer natureza, que têm sido
contraída pelo cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e neles
residam, ressalvados as hipóteses elencadas do inciso II, III, IV, V, VI e VII do artigo 3º
da referida legislação.

Sendo que entre as hipóteses de ressalva, foi incluído pela Lei nº 8.245 de
1991, o inciso VII, que disponham que pode ser objeto de penhora o bem de família
decorrente da obrigação contraída na fiança do contrato de locação.

Dessa forma, podemos dizer que estaria o locatário, membro de um contrato


principal de locação, guarnecido, protegido pelo instituto da impenhorabilidade do bem
família, situação que não poderia ser valer o fiador, tendo como base previsão legal do
inciso VII do artigo 3º da 8.009 de 1990, incluído pela lei 8.245 de 1991.
Nessa linha, de admitir a penhorabilidade único bem de família do fiador no
contrato de locação, o Supremo Tribunal Federal, formou maioria de votos nos autos
do Recurso Extraordinário 407688, de relatoria do Ministro Cezar Peluso, mas o tema
é objeto de controvérsia no próprio Tribunal, haja vista, que a casa já proferiu decisões
em sentido oposto, como verifica-se no Recurso Extraordinário de nº 352940:

"CONSTITUCIONAL. CIVIL. FIADOR: BEM DE FAMÍLIA:


IMÓVEL RESIDENCIAL DO CASAL OU DE ENTIDADE FAMILIAR:
IMPENHORABILIDADE. Lei nº 8.009/90, arts. 1º e 3º. Lei 8.245, de
1991, que acrescentou o inciso VII, ao art. 3º, ressalvando a
penhora "por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato
de locação": sua não-recepção pelo art. 6º, C.F., com a redação da
EC 26/2000. Aplicabilidade do princípio isonômico e do princípio de
hermenêutica: ubi eadem ratio, ibi eadem legis dispositio: onde
existe a mesma razão fundamental, prevalece a mesma regra de
Direito. Recurso extraordinário conhecido e provido".

Dessa forma, podemos observar que a exceção do artigo 3º, inciso VII, se
demonstra totalmente em desconsonância com ordenamento jurídico, uma vez que o
instituto do bem de família tem por objetivo resguardar o lar e a residência da família,
que o cerne da sociedade, e tal dispositivo afronta o diretamente o princípio da
isonomia, que preconiza que todos os cidadãos tèm o direito de tratamento idêntico
pela lei.
Além da modificação trazida pela Lei nº 8.245 de 1991, viola o princípio da
dignidade da pessoa humana, uma vez que o direito à moradia é um direito social por
excelência, que deriva de uma norma constitucional autoaplicável, de eficácia plena,
imediata e direta.
Por fim, o que podemos concluir é que a possibilidade da penhora do bem de
família do fiador deve ser considerada inconstitucional, por ferir o princípio base da
Constituição Federal, que é o princípio da dignidade da pessoa humana.

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