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As Provas Operatórias À Construção de Estruturas Cognitivas M Estudo de Caso em Sicopedagogia
As Provas Operatórias À Construção de Estruturas Cognitivas M Estudo de Caso em Sicopedagogia
ESTUDO APA
CASO
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forma: “É mais provável que surja a noção de por si mesma e avançando cognitivamente. Esta
conservação se a criança for capaz de conceber atividade envolve a tomada de consciência de
a argila como um todo composto de pequenas uma sequência temporal (antes, agora, depois),
partes ou unidades que simplesmente mudam importante para o desenvolvimento do racio
de posição relativa quando o todo tem sua forma cínio transformacional; estimula a antecipação,
transformada”. favorece o conflito cognitivo e a abstração pseu-
Desta forma, nossa proposta de atividade doempírica.
para auxiliar o alcance da conservação parte da O jogo de quebra-cabeça, que exercita as re-
problematização da noção do “todo” e das “par- lações entre as partes e o todo, também pode ser
tes” ou atomismo. Sugerimos a leitura de Dolle & utilizado para auxiliar João. Os jogos, utilizados
Bellano7, que descrevem um trabalho realizado como ferramenta de trabalho psicopedagógico,
com uma criança de 6 anos, cujo objetivo “é “criam um contexto, em que se pode mostrar à
favorecer a construção da quantidade física e criança ou ela pode verificar por si mesma, a
numérica, pela constatação da invariância, tal contradição, o conflito e a não coerência entre
que: ‘o todo é igual à soma das partes’”. suas respostas”5. Tanto a atividade da caixa de
A criança deve deslocar uma caixa pesada, brinquedos quanto a utilização de quebra-cabe-
cheia de brinquedos. Próximo à criança, coloca- ças são atividades que auxiliam a descentração
-se outra caixa vazia, idêntica à primeira. Pede- do pensamento, a capacidade de reconhecer o
-se para que ela empurre a caixa cheia e após processo de transformação (raciocínio transfor-
algumas tentativas frustradas (muito peso para macional), a reversibilidade operatória e, con-
ela), sugere-se que ela manipule a caixa, retiran- sequentemente, a diminuição do egocentrismo,
do os brinquedos, sentindo o peso de cada um, todos pré-requisitos para o desenvolvimento das
comparando-os. Ela age sobre a caixa e percebe estruturas de conservação2.
que cada brinquedo por si só não é tão pesado;
é o conjunto das partes que torna o todo pesado B) Proposta para auxiliar a aquisição da
(noção continente, conteúdo). A criança deve- classificação lógica
rá segurar a caixa vazia, sentindo sua leveza e Piaget e Inhelder concluíram, após experi-
comparar com a caixa cheia de brinquedos. Isso mentos, a existência de três etapas no desenvol-
a auxiliará a reconhecer “que a quantidade total é vimento das operações de classificação12:
constituída de partes e, inversamente, que a soma 1. 2 ½ a 5 anos: Denominada Coleções
das partes é igual à quantidade e ao peso inicial”13. figurais, marca a fase em que a criança
O psicopedagogo provoca o desequilíbrio faz a classificação baseada não em se-
cognitivo por meio de situações estimuladoras, melhanças e diferenças (ou seja, numa
fazendo perguntas ou sugestões que conduzem lógica), mas numa configuração comple-
a atividade, sem dar as respostas, o que também xa, formando com o conjunto de objetos
acaba causando uma descentração no pensa- um trem ou uma casinha ou “apenas uma
mento da criança (por exemplo, Você sabe por configuração sem sentido”12;
que a caixa é tão pesada?; O que podemos fazer 2. 5 ½ a 7-8 anos: Coleções não figurais, fase
para deixá-la menos pesada?; Uma criança da marcada pela capacidade que a criança
sua idade disse que podemos retirar os brinque- conquista de formar grupos de objetos,
dos para diminuir o peso da caixa.; O que pesa é baseando-se em suas semelhanças.
a caixa, são os brinquedos ou tudo junto?, etc.)13. Torna-se capaz de subdividir uma classe
Esta interação entre a criança e o profissional em subclasses (classe B e suas subclasses
vai construindo a zona de desenvolvimento pro- A e A’, ou seja, B = A + A’), no entanto,
ximal, caminho em que a primeira, com o apoio ela ainda não domina a relação de in-
do psicopedagogo, vai atuando intelectualmente clusão entre elas, isto é, a capacidade de
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Outra atividade que podemos também utilizar é da prova com êxito, com estruturas novas, mas
o jogo de dominó, fora da proposta tradicional16. ainda imaturas para se alcançar esse êxito.
Propõe-se uma atividade em que as peças sejam Nossa proposta para auxiliá-lo na aquisição
reunidas, segundo um determinado critério (por da seriação lógica envolveu atividades de se-
exemplo, em peças pares e ímpares). A criança riação com vários tipos de material (objetos da
deve “descobrir e criar formas de organizar as sala de atendimento, pessoas, objetos escolares,
peças, buscando critérios de classificação cada brinquedos, livros, revistas, guloseimas, entre
vez mais abrangentes. O objetivo final é encon- outros), focando a capacidade de multiplicar re-
trar um critério que reúna todas as peças”16. lações, ou seja, de construção da noção de relação
direta e inversa entre os elementos de uma série
C) Proposta para auxiliar a aquisição da assimétrica. Para Piaget, a criança pré-operatória
seriação lógica ainda é incapaz de fazer essa relação, é incapaz
A seriação consiste numa operação em que de descentrar, o que justifica seus insucessos
há ordenação ou disposição dos elementos em em seriações lógicas. João ainda não dominava
ordem crescente ou decrescente, isto é, dispo- completamente essa capacidade de percepção
sição “numa série transitiva, assimétrica como, simultânea entre os elementos de uma série.
por exemplo, A<B<C<D<E etc”12. Segundo Inicialmente, a criança deverá observar e
Piaget17, a criança passa por algumas etapas comparar dois elementos (A e B), iniciando a
evolutivas até alcançar a seriação operatória. construção de uma série assimétrica. A seguir,
Quando deve seriar um conjunto de palitos de o psicopedagogo entrega um terceiro elemento
tamanhos diferentes, observamos que, em torno (C) e pede para ela compará-lo ao primeiro e,
dos 4/5 anos, ela não consegue seriar, fazendo depois, ao segundo elemento, de forma que João
pares ou trios, sem observar a linha de base. vá construindo a noção de que o elemento B
Com 5/6 anos, seria por tateios empíricos, isto deve ser maior do que A e menor que C para ser
é, por meio de tentativas de ensaio e erro “que inserido entre eles numa série crescente. Gra-
constituem regulações semirreversíveis, mas não dativamente, vamos aumentando o número de
ainda operatórias18. Ainda não consegue seriar elementos da série, que pode ir, mais ou menos,
com o anteparo. Finalmente, por volta dos 7/8 até o décimo elemento.
anos, torna-se capaz de seriar, utilizando a linha Isso deve ser feito devagar, durante algumas
de base, por meio de um método operatório, sessões, sempre variando o material. Depois,
como por comparação de dois a dois, do menor podemos pedir para que ela desenhe, pinte ou
para o maior, refletindo, assim, a reversibilidade modele elementos de uma série (por exemplo,
por reciprocidade. Agora, já é capaz de seriar três animais ou três pessoas), colocando-os em
atrás do anteparo. O ponto alto ou coroamento ordem crescente e decrescente de tamanho. A
da seriação lógica é a transitividade que “pos- modelagem pode ser feita em argila, massinha,
sibilita a compreensão de que se A=B e B=C, papel machê ou em biscuit. Estes três últimos
logo A=C”18. podem ser fabricados durante a sessão, o que
O resultado da prova de seriação aplicada em torna sua utilização ainda mais significativa
João revelou a fase de transição em que ele se para a criança.
encontra. Houve um momento em que utilizou Sugerimos também a utilização do jogo de
um método operatório, no entanto, ele oscilou e dominó para trabalhar a seriação, pois ele exige
não conseguiu dar continuidade à seriação. Tudo que o jogador estabeleça a relação direta e inver-
indica que ainda não há uma estrutura pronta sa entre as peças, de modo a construir a série. Os
de seriação, ela está se formando. Observamos jogos de tabuleiro, como a Trilha, também têm
uma atividade cognitiva em que há mistura de essa exigência e, são, portanto, bons instrumen-
estruturas anteriores, inadequadas à realização tos de trabalho na intervenção psicopedagógica.
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D) Proposta para auxiliar a construção de Para começar, sugerimos que a criança meça,
operações espaciais de mensuração utilizando o próprio corpo como elemento de
As provas operatórias apontaram que João medida (braços, dedos, mãos, pés), objetos pe-
ainda não havia atingido a mensuração opera- quenos, menores do que as partes de seu corpo
tória, ou seja, ele ainda não tinha consciência que serão utilizadas como instrumentos de men-
de que “um comprimento é composto de uni- suração. Ela deverá marcar, nas partes do corpo
dades de comprimento de tamanho arbitrário que usar, o tamanho do objeto que mediu (por
e pode ser medido por meio da aplicação de exemplo, marcar no dedo o tamanho de uma bala
uma destas unidades ao longo do comprimento ou de um potinho de tinta guache).
total”12. João limitou-se a “medir” por meio de Posteriormente, após exercitar o estágio
estimativas perceptuais somente, não utilizando, acima, vamos inserindo outros materiais como
em momento algum, o material disponível para instrumentos de medição, também maiores do
mensuração, recorrendo somente à apreciação que os objetos que serão medidos. Podemos
visual. utilizar bastões, tiras de papel, barbante, entre
De acordo com a teoria piagetiana, a conquis- outros. A criança deve seguir os mesmos passos
ta da medida operatória segue uma sequência da atividade com as partes do corpo. Num mo-
evolutiva que engloba três estágios8,12: Inicial- mento seguinte, introduzimos instrumentos de
mente, ocorrem apreciações exclusivamente medição menores do que o objeto a ser medido.
visuais e globais. Num segundo momento, a Perguntamos para ela, por exemplo: “Quantas
criança utiliza o próprio corpo como elemento mãos são necessárias para medir a largura desta
de medida, estágio “interessante porque pre- mesa?” ou “Quantos passos são suficientes para
nuncia a verdadeira mensuração”12. O terceiro chegar da mesa à janela?”.
estágio caracteriza-se pela utilização de ou- As opções de trabalho são muitas. Podemos
tros instrumentos de medida que não o corpo. pedir também que a criança construa torres
Apresenta dois momentos: o inicial, em que o com blocos lógicos que tenham a altura de dez
sujeito só utiliza instrumentos de mensuração dedos ou pedir que ela constate quantos palitos
exatamente do mesmo tamanho ou maior do de picolé são necessários para medir a altura do
que objeto a ser medido, pois, por enquanto, chão até o alto da mesa.
ainda não é capaz de aplicar repetidamente um Como estaremos trabalhando com a questão
instrumento de mensuração menor ao longo do da noção espacial, seria interessante a utilização
objeto medido, funcionando como uma unidade de jogos que auxiliam a construção das relações
de medida. Isso ocorre somente no segundo espaciais como o jogo de Damas, o jogo de xa-
momento, marcando o alcance da mensuração drez e a amarelinha.
operatória, geralmente, em torno dos 8 anos de
idade, aproximadamente8,18. CONSIDERAÇÕES FINAIS
João apresentava respostas que o incluí- De tudo o que foi exposto, surgem algumas
am no primeiro estágio, ou seja, no estágio de ilações. Uma delas é o fato da contribuição que
uma criança que se encontra no pré-operatório a ação psicopedagógica pode dar ao processo de
intuitivo global. Por isso, nossa proposta para desenvolvimento das habilidades do raciocínio,
ajudá-lo envolve atividades que percorrem os quando embasada na teoria epistemológica de
momentos seguintes: primeiramente, trabalhan- Jean Piaget. O psicopedagogo encontra nos
do o corpo durante a “medição” (característica dados piagetianos sobre o desenvolvimento da
do estágio pré-operatório intuitivo articulado) e, cognição valiosos instrumentos para sua práti-
posteriormente, utilizando outros instrumentos ca. A leitura de Piaget permitiu a compreensão
de mensuração até a conquista da mensuração do processo de construção do conhecimento,
operatória de dimensões (operatório concreto). da origem e desenvolvimento do raciocínio,
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fornecendo importante suporte teórico tanto de currículos e na prática em sala de aula, res-
para a avaliação quanto para a intervenção peitando o nível de desenvolvimento cognitivo
psicopedagógicas. dos aprendentes, não os sobrecarregando com
A teoria piagetiana nos permitiu também o co- conteúdos para os quais eles não tenham desen-
nhecimento e a utilização das provas operatórias volvido as estruturas cognitivas necessárias.
como importante recurso avaliativo do processo O profissional que estuda Piaget e Vygotsky
de desenvolvimento cognitivo do sujeito, uma sabe que, se o ensino está acima das capacida-
vez que possibilitam a identificação do estágio des cognitivas do aluno, a aprendizagem não
cognitivo no qual ele se encontra, revelando acontecerá. O caso de João é um bom exemplo.
a presença ou não de estruturas mentais que Na escola, exige-se dele, uma criança de 9 anos,
são consideradas fundamentais para a gênese ou seja, supostamente no estágio das operações
de determinadas habilidades do raciocínio. A concretas, que resolva problemas matemáticos
análise dos resultados obtidos com a aplicação sem o uso de material concreto.
das provas piagetianas também contribui para o Atitude que denota o desconhecimento do
trabalho interventivo, na medida em que aponta fato de que algumas crianças da idade do su-
o que ainda precisa ser construído com o sujeito jeito desta pesquisa nem sempre apresentam o
dentro do domínio lógico, a fim de promover o desenvolvimento necessário para a compreen-
avanço cognitivo. são e construção de conteúdos exigidos no ano
Outra conclusão que surge é sobre a impor- escolar que frequentam e que necessitam da
tância da contribuição da teoria de Vygotsky no mediação do professor e da sua compreensão
processo interventivo psicopedagógico. Piaget sobre o uso de materiais manipuláveis para au-
explicou como o conhecimento se desenvolve xiliar na aprendizagem dos conteúdos que lhe
e não como desenvolver o conhecimento no estão sendo apresentados.
processo educativo. E é aí que entra a contri- A falta de recursos cognitivos não as permi-
buição de Vygotsky, que explicou como atuar te resolver operações fundamentais de adição,
no desenvolvimento por meio da mediação de subtração, multiplicação e divisão sem o auxílio
outro indivíduo mais experiente. Por meio desta do concreto. Para João, que se encontrava em
mediação, ocorrerá a ativação de zonas de de- transição para o pensamento concreto, as conse-
senvolvimento cognitivo que estão em processo quências que foram possíveis observar durante
de maturação, ou seja, das zonas de desenvolvi- o processo avaliativo referiam-se ao fracasso nas
mento proximal (ZDP). provas, ao desinteresse pelas atividades escola-
Uma terceira conclusão emerge do fato de res e à sua baixa autoestima.
que, muitas vezes, os problemas de aprendiza- Em suma, é preciso reconhecer o valor da
gem que as crianças apresentam e que as levam leitura de Piaget e de Vygotsky, tanto para o
aos consultórios psicopedagógicos podem ser profissional da Psicopedagogia quanto para o da
consequência de métodos pedagógicos inade- Pedagogia, pois auxiliam estes profissionais no
quados que desconsideram ou mesmo desco- conhecimento do processo de desenvolvimento e
nhecem uma prática baseada numa abordagem aprendizagem do ser humano. Esperamos contri-
desenvolvimentista. buir com este artigo para a ação psicopedagógica,
Piaget não elaborou uma teoria sobre educa- tanto para o processo avaliativo quanto para o in-
ção, no entanto, os resultados de suas pesquisas terventivo. Este estudo foi construído basicamente
oferecem uma contribuição inquestionável para a com a leitura da teoria piagetiana, que muito nos
prática educacional. Descortinam conhecimentos ajudou a entender o caso de João, possibilitando
que promovem a compreensão da forma e do um caminho teórico seguro à nossa prática, indo
tempo de aprendizagem de crianças e jovens, das provas operatórias às possibilidades de de
instrumentalizando os profissionais na elaboração senvolvimento das habilidades do raciocínio.
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SUMMARY
From operational tests to the cognitive structures construction:
A case study in Psychopedagogy
This paper presents a case study focused in the operational tests of Jean
Piaget used in a psychopedagogical evaluation of a 9-years-old child. The
analysis of the operational tests showed that the young boy exhibited a
slower reasoning rhythm compared to the average. Therefore, we presented
psychopedagogical intervention proposals, which were based on Jean Piaget
and Vygotsky theories, aiming to contribute to the development process of
the reasoning logical of individuals who exhibit learning disabilities, as
occurs to the person evaluated in this study.
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Das provas operatórias à construção de estruturas cognitivas
16. Macedo L, Petty ALS, Passos NC. Quatro [acesso 2016 Set 28]. Disponível em: https://
cores, senha e dominó: oficinas de jogos em www.youtube.com/watch?v=FWYjDvh3bWI
uma perspectiva construtivista e psicopeda- 18. Goulart IB. Piaget: experiências básicas para
gógica. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1997. utilização pelo professor. 2ª ed. Petrópolis:
17. Piaget J. Piaget por Piaget. 1977. [vídeo] Vozes; 1984.
Este artigo é uma parte do trabalho de conclusão de curso Artigo recebido: 08/02/2018
da autora, apresentado ao curso de especialização em Aprovado: 10/05/2018
Psicopedagogia Clínica e Institucional da Faculdade
Metodista Granbery, de Juiz de Fora/MG. Recebeu
orientação, em ambos, da Dra. Léa Stahlschmidt Pinto
Silva, a quem muito agradece.
Trabalho realizado na Faculdade Metodista Granbery,
Juiz de Fora, MG, Brasil.
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