Você está na página 1de 12

MoraesDE

ESTUDO APA
CASO

Das provas operatórias à


construção de estruturas cognitivas:
Um estudo de caso em Psicopedagogia
Ana Paula Aragão de Moraes

RESUMO - O artigo apresenta um estudo de caso com foco nas provas


operatórias de Jean Piaget utilizadas numa avaliação psicopedagógica com
uma criança de 9 anos. A análise das provas operatórias apontou que ela
apresentava um ritmo de desenvolvimento do raciocínio mais lento do que
a média. Apresentamos, então, propostas de intervenção psicopedagógica,
que tiveram por base as teorias de Jean Piaget e de Vygotsky, visando
contribuir no processo de desenvolvimento do pensamento lógico de
sujeitos que apresentam dificuldades para aprender, como é o caso do
sujeito avaliado.

UNITERMOS: Raciocínio. Operações Mentais. Provas Operatórias.


Prática Psicopedagógica.

Ana Paula Aragão de Moraes - Graduada em Peda­ Correspondência


gogia e pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Ana Paula Aragão de Moraes
Institucional, Faculdade Metodista Granbery, Juiz de Espírito Santo, 723/302 – Centro – Juiz de Fora, MG,
Fora, MG, Brasil. Brasil – CEP 36010-040
E-mail: anapaulaamoraes@gmail.com

Rev. Psicopedagogia 2018; 35(107): 242-53

242
Das provas operatórias à construção de estruturas cognitivas

INTRODUÇÃO próprio. Dentro da perspectiva piagetiana, ganha


O artigo refere-se ao estudo de caso de um um sentido muito preciso. Destaca-se que
menino com dificuldades na aprendizagem (...) o termo operação adquire conotações
escolar, submetido a uma avaliação psicopeda- variadas, dependendo da área de uso do
gógica no Núcleo de Prática Psicopedagógica conceito. Na matemática, a palavra ope-
da Faculdade Metodista Granbery (NPPFMG), ração tem um sentido preciso, referindo-
espaço reservado para realização de atividades -se às operações de adição, subtração,
práticas supervisionadas, dentro do curso de multiplicação e divisão dos números. No
pós-graduação em Psicopedagogia Clínica e Ins- âmbito da cognição refere-se às habili-
titucional. Foram utilizados vários instrumentos dades do raciocínio ou das operações
avaliativos, no entanto, neste estudo, vamos nos mentais.3
deter, mais especificamente, na aplicação das Podemos dizer, então, que operações mentais
provas operatórias piagetianas, momento em que são habilidades do raciocínio. Este, por sua vez,
a criança apresentou dificuldade nas habilidades representa “um mecanismo cognitivo que utili-
do raciocínio ou operações mentais. zamos para solucionar problemas (simples ou
O resultado da análise das provas operatórias complexos), em suas mais diferentes formas de
demonstrou que, apesar de estar com 9 anos conteúdos (verbal, numérico, espacial, abstrato
completos, a criança encontrava-se em proces- e mecânico)”4.
O raciocínio só alcança a lógica, permitindo-
so de transição do nível pré-operatório para o
-nos solucionar com sucesso diferentes pro-
operatório concreto, revelando que seu ritmo
blemas, após um lento e gradual processo de
de desenvolvimento do raciocínio estava mais
desenvolvimento cognitivo. Foi este, justamente,
lento, abaixo da média, pois a idade em que as
o foco da pesquisa de Piaget, que, por meio de
crianças passam por essa transição está entre os
situações experimentais com crianças e jovens,
6/7 anos1,2. As provas apontaram que ele ainda
investigou essa evolução pela qual passa o ra-
não havia desenvolvido estruturas cognitivas
ciocínio até o momento em que se torna capaz
que viabilizam operações de conservação, de
de realizar operações mentais, “forma mais de-
classificação, seriação complexa e operações es-
senvolvida de nossa inteligência”5.
paciais (medida de espaço uni e bidimensional).
O desenvolvimento da lógica segue um curso
Portanto, o objetivo deste artigo é refletir
que vai da ação à operação, passando inva-
sobre o papel que a análise das provas opera-
riavelmente por estágios, até atingir um nível
tórias tem na intervenção psicopedagógica que
superior, caracterizado pela presença das opera-
trata do desenvolvimento do raciocínio a partir
ções mentais, que são habilidades do raciocínio,
de experiências ativas, desenvolvidas dentro de nas quais a presença da lógica é efetiva como
propostas de atividades interventivas que visam instrumento do pensamento. Piaget define uma
ao avanço cognitivo de sujeitos com dificuldades operação como uma ação interiorizada, reversí-
no processo de desenvolvimento do pensamento vel, coordenada a outras ações, em estruturas
lógico. O referencial teórico fundamenta-se na operatórias de conjunto1,6.
teoria de Jean Piaget e nas contribuições de As provas operatórias são instrumentos “de
Vygotsky para o processo de intervenção. avaliação intelectual individual”7 que permitem
investigar se o sujeito já atingiu um estágio
SOBRE OPERAÇÕES MENTAIS E PROVAS cognitivo no qual é capaz de realizar operações
OPERATÓRIAS NA PRÁTICA PSICOPE- mentais. Elas dão um bom direcionamento do
DAGÓGICA nível de raciocínio lógico, indicando em qual
Operação é um termo de uso plurissêmico, dos estágios piagetianos o sujeito avaliado se
pois, conforme o contexto, ele adquire um sentido encontra.

Rev. Psicopedagogia 2018; 35(107): 242-53

243
Moraes APA

De forma bastante sucinta, cada um desses de mensuração em relação a dimensões (altura,


estágios pode ser assim descrito: a) Estágio largura e profundidade ou comprimento).
sensório-motor (0-2 anos). Comportamento O psicopedagogo encontra nas provas pia-
basicamente comandado pelos sentidos e pela getianas um importante instrumento avaliati-
ação motora. Ainda não há operações propria- vo do nível de desenvolvimento cognitivo do
mente ditas, nem pensamento lógico; b) Estágio aprendente, já que elas possibilitam constatar
Pré-operacional (2-7 anos). Aparecimento da o desenvolvimento ou não de uma gama imen-
capacidade representacional. As operações e sa de construções cognitivas, como a noção de
o raciocínio são pré-lógicos ou semilógicos; c) conservação, operações lógicas de classificação,
Estágio das operações concretas (7- 11 anos). de seriação, de compensação. Pode-se avaliar
As crianças desenvolvem os “primórdios de também se o sujeito já construiu os conceitos
uma lógica propriamente dita”1, já realizando de número, espaço, tempo, ordem e velocidade.
operações lógicas, mas somente sobre situações Dentro do pensamento formal, verificar se
reais e objetos manipuláveis (não abstratos) e já é capaz de operações mais complexas como
só raciocinam em cima de problemas concretos a lógica da probabilidade, a combinatória e a
com, somente, uma variável; d) Estágio das ope- indução de leis. As provas operatórias podem
rações formais (12-15 anos ou mais). O jovem indicar que o sujeito investigado encontra-se
passa a raciocinar tanto por hipóteses quanto num estágio de desenvolvimento cognitivo,
por objetos, aplicando as operações lógicas a segundo Piaget, abaixo do esperado para sua
qualquer classe de problemas, isto é, já consegue idade cronológica; fato que pode explicar muitos
raciocinar em cima de proposições de enuncia- fracassos escolares, posto que é cobrada desse
dos verbais, de simples hipóteses. aluno uma aprendizagem de conteúdos para a
As provas são numerosas, podendo ser con- qual ele ainda não está pronto cognitivamente.
tadas em várias centenas7, apropriadas a idades As provas piagetianas são importantes tam-
específicas e às problemáticas do sujeito; por isso, bém no processo interventivo psicopedagógico.
no presente artigo, vamos nos referir somente às
“As informações que colhemos com a aplicação
provas que utilizamos na avaliação psicopedagó-
das provas operatórias servem de base para
gica em questão. São provas que avaliam a cons-
a elaboração de um projeto de intervenção”7,
trução de operações mentais (lógico-matemáticas
pois contribuem para que o psicopedagogo
e infralógicas) de conservação, classificação,
com­preenda “onde estão as lacunas e pontos
seriação e de mensuração espacial.
falhos da atividade lógica. Em consequência,
As provas para verificação da construção
ele saberá que operações, que tipo de estrutu-
da estrutura de conservação avaliam se o su-
ras, que noções, deste ou daquele domínio de
jeito conserva uma dimensão do objeto ante
conhecimento, deverá construir com a criança”7.
alterações em outra dimensões5. As provas para
investigação da construção da estrutura de clas-
sificação avaliam se a criança já adquiriu a noção O CASO JOÃO
de classificação, possibilitando “ao sujeito reunir João (nome fictício) foi o participante do
simultaneamente objetos segundo suas seme- estudo de caso. Trata-se de uma criança que, na
lhanças ou diferenças, pelo que se torna capaz época da avaliação psicopedagógica, contava
de lidar com a composição aditiva de classes”5. 9 anos de idade e cursava o 4º ano de ensino
As provas que verificam a construção da fundamental em uma escola pública. A avalia-
estrutura de seriação avaliam a capacidade de ção foi realizada no ano de 2016, em 14 sessões.
colocar os elementos em série, ordem crescente Não citaremos todos os instrumentos avaliativos
ou decrescente de tamanho, peso ou volume. Já utilizados, limitando-nos, aqui, às provas opera-
as provas que objetivam a verificação da constru- tórias, uma vez que foi o ponto da avaliação que
ção da estrutura de espaço investigam condutas mais nos chamou a atenção.

Rev. Psicopedagogia 2018; 35(107): 242-53

244
Das provas operatórias à construção de estruturas cognitivas

Foram aplicadas 11 provas operatórias, a ponto, relacionando duas dimensões (altura


saber: provas de conservação (número, ma- e largura). As respostas de João foram todas
téria, área, líquido e de comprimento); prova embasadas em apreciações exclusivamente
de seriação complexa; provas de classificação visuais, não utilizando os materiais disponíveis
(dicotomia, inclusão de classes e interseção de para medição.
classes) e provas de espaço (unidimensional e Para a aprendizagem dos conteúdos curricu-
bidimensional). Os modelos dessas provas, con- lares do 4º ano do Ensino Fundamental, é ne­
tendo todas as etapas da aplicação, encontram- cessário que o aluno tenha alcançado um nível
-se no livro de Sampaio8. de desenvolvimento cognitivo condizente com o
De acordo com os resultados encontrados, João estágio operatório concreto. O fato de João estar
apresentou dificuldade nas habilidades do racio- em processo de transição do nível pré-operatório
cínio. Dentre as 11 provas, somente em duas ele para o nível operatório concreto pode nos ajudar
demonstrou estar no estágio operatório concreto. a entender suas dificuldades de aprendizagem
Em quatro delas, apresentou respostas condizentes em leitura, escrita e cálculo. Um exemplo é o fato
com o pré-operatório, e em cinco provas, ou seja, de que ele ainda não é capaz de realizar ope-
na maioria, respostas referentes à transição do rações de interseção de classe devido à falta de
pré-operatório para o operatório concreto. recursos cognitivos, ou seja, ainda não trabalha
Nas provas de conservação, somente na de o multiplicativo; consequentemente, não con-
conservação de número João demonstrou que já segue solucionar problemas de multiplicação9.
havia atingido o estágio operacional concreto. De acordo com os resultados obtidos na apli-
Suas respostas, segundo a teoria de Piaget, fo- cação das provas operatórias, João apresentava,
ram cognitivas, ou seja, baseadas em raciocínio segundo a teoria de Piaget, um ritmo de desen-
lógico, demonstrando pensamento caracterizado volvimento do raciocínio mais lento do que a
pelo raciocínio transformacional, descentração, média, o que não é necessariamente indicador
reversibilidade e ausência de egocentrismo2. Nas de potencial abaixo da média2. Esses resultados
demais provas de conservação, permaneceu no apontaram a necessidade de um processo inter-
estágio pré-operatório, sendo que nas provas ventivo psicopedagógico, a fim de auxiliá-lo a
de conservação de superfície e comprimento, avançar cognitivamente.
as respostas de João apontaram sua transição
do pensamento pré-operatório para o primeiro PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO PSICO-
subestágio do operatório concreto, pois suas PEDAGÓGICA
respostas oscilavam, ora conservando, ora não. Nossa proposta interventiva visou mediar
Os resultados das provas de classificação a aquisição de estruturas lógicas de João que
apontaram que João atingiu o estágio operacio- ainda estão em processo de maturação. Para
nal concreto na prova de dicotomia, contudo, nas tanto, propusemos intervenções específicas por
provas de inclusão e de interseção de classes, ele meio das quais o sujeito explora ativamente o
apresentou respostas que condizem com as de meio, agindo sobre o real. E é desta forma, que,
uma criança em fase de transição entre a ação “efetivamente, colocando em ação os esquemas
e a operação. Na prova de seriação complexa, que ele possui nas situações-problema, é que
os resultados também apontam para a fase de chegará a encontrar outros, mais apropriados e
transição de João. de maior mobilidade e eficiência”7, construindo,
As provas de espaço investigam condutas assim, as estruturas que lhe faltam.
de medida em relação a dimensões. Na prova A ação do psicopedagogo, vista como me-
unidimensional, investigamos as condutas do diadora das aquisições operatórias de João, vai
sujeito em relação a uma dimensão (altura); na ao encontro do conceito de zona de desenvol-
bidimensional, a capacidade de localizar um vimento proximal (ZDP) definido por Vygotsky.

Rev. Psicopedagogia 2018; 35(107): 242-53

245
Moraes APA

De acordo com ele, a ZDP é a distância entre desabrochando ou descongelando, auxiliando


dois níveis do desenvolvimento do sujeito: o seu avanço cognitivo.
nível de desenvolvimento real (NDR) e o nível
de desenvolvimento potencial (NDP)10. A) Proposta para auxiliar o desenvolvimento
O NDR é a capacidade de o sujeito realizar, da noção de conservação
de forma independente, determinadas tarefas. “Uma operação é aquilo que transforma um
É aquilo que ele já conquistou através de es- estado A em um estado B, deixando, pelo me-
truturas operatórias já amadurecidas. O NDP é nos, uma propriedade invariante no decurso da
a capacidade de o sujeito desempenhar tarefas transformação”13. A esse invariante (que pode
com a assistência de outros sujeitos mais expe- ser o peso, a quantidade de massa, a área, o
rientes, mais capazes (mediação). Representa comprimento etc.) do sistema de transforma-
o que ele ainda não alcançou, porém está pró- ções, Piaget deu o nome de noção ou esquema
ximo de conseguir11. Vygotsky esclarece que de conservação. A noção de conservação é uma
a ZDP “define aquelas funções que ainda não estrutura operatória baseada num raciocínio
amadureceram, mas que estão em processo de dedutivo14, que começa a ser adquirida por volta
maturação, funções que amadurecerão, mas que dos 7 anos, próximo do término do estágio pré-
estão presentemente em estado embrionário”10. -operatório2.
O conceito de ZDP é aplicável no caso João, Há dois esquemas evolutivos que, de forma
uma vez que, estando em transição entre estágios conjunta, contribuem para a aquisição da con-
cognitivos, ele já adquiriu algumas estruturas servação12,14; são eles: a capacidade geral para
necessárias à construção do pensamento lógico, multiplicar relações e o atomismo. A primeira
mas necessita de ajuda para que outras estru- consiste num modelo de agrupamento cogni-
turas cognitivas, ainda segundo o pesquisador tivo que permite ao sujeito chegar à noção de
russo, em “brotos” desabrochem10. Vygotsky, de conservação através da capacidade de multi-
uma forma metafórica, compara processos cog- plicar relações, como no caso do experimento
nitivos em maturação com brotos, ou seja, com da conservação de líquido, quando o conteúdo
o processo de desabrochar. Já Flavell compara do recipiente A é transvasado no recipiente B,
tais processos da cognição com um descongelar, mais largo e mais baixo do que A. Para a crian-
destacando que este descongelamento dá-se ça que já adquiriu a capacidade de multiplicar
na transição do pensamento pré-operacional relações, será fácil perceber que B tem a mesma
para o operacional concreto12. Segundo ele, quantidade de líquido que A, pois apesar de ser
“as estruturas rígidas, estáticas e irreversíveis, mais baixo do que A, ele é mais largo. Isso é
que caracterizam a organização do pensamento uma forma de multiplicar relações: “mais largo”,
pré-operacional, começam, segundo palavras porém “mais baixo”, isto é, relacionar as duas
de Piaget, a ‘descongelar-se’ e tornam-se mais dimensões ao mesmo tempo e ser capaz de ra­
flexíveis, móveis e, acima de tudo, descentradas ciocinar que a alteração em uma delas compensa
e reversíveis em seu funcionamento”12. a alteração em outra.
Este processo de descongelamento das estru- Nestas propostas, centramo-nos no atomis-
turas pré-operatórias já estava em andamento mo, deixando a multiplicação de relações para
no caso de João, fato que favorece a construção o momento em que apresentarmos as propostas
de uma ZDP, através da mediação psicopeda- para a aquisição das classificações e seriações,
gógica. Assim, partindo do que João ainda não pois ela é um elemento lógico cujo domínio
alcançou, mas que está próximo de alcançar, exige a aquisição anterior dessas operações.
propusemos, através de atividades específicas, O atomismo consiste no fato de reconhecer o
experiências que possibilitassem a ativação de todo e suas partes. Flavell12 exemplifica a rela-
zonas de desenvolvimento intelectual que estão ção entre atomismo e conservação da seguinte

Rev. Psicopedagogia 2018; 35(107): 242-53

246
Das provas operatórias à construção de estruturas cognitivas

forma: “É mais provável que surja a noção de por si mesma e avançando cognitivamente. Esta
conservação se a criança for capaz de conceber atividade envolve a tomada de consciência de
a argila como um todo composto de pequenas uma sequência temporal (antes, agora, depois),
partes ou unidades que simplesmente mudam importante para o desenvolvimento do racio­
de posição relativa quando o todo tem sua forma cínio transformacional; estimula a antecipação,
transformada”. favorece o conflito cognitivo e a abstração pseu-
Desta forma, nossa proposta de atividade doempírica.
para auxiliar o alcance da conservação parte da O jogo de quebra-cabeça, que exercita as re-
problematização da noção do “todo” e das “par- lações entre as partes e o todo, também pode ser
tes” ou atomismo. Sugerimos a leitura de Dolle & utilizado para auxiliar João. Os jogos, utilizados
Bellano7, que descrevem um trabalho rea­lizado como ferramenta de trabalho psicopedagógico,
com uma criança de 6 anos, cujo objetivo “é “criam um contexto, em que se pode mostrar à
favorecer a construção da quantidade física e criança ou ela pode verificar por si mesma, a
numérica, pela constatação da invariância, tal contradição, o conflito e a não coerência entre
que: ‘o todo é igual à soma das partes’”. suas respostas”5. Tanto a atividade da caixa de
A criança deve deslocar uma caixa pesada, brinquedos quanto a utilização de quebra-cabe-
cheia de brinquedos. Próximo à criança, coloca- ças são atividades que auxiliam a descentração
-se outra caixa vazia, idêntica à primeira. Pede- do pensamento, a capacidade de reconhecer o
-se para que ela empurre a caixa cheia e após processo de transformação (raciocínio transfor-
algumas tentativas frustradas (muito peso para macional), a reversibilidade operatória e, con-
ela), sugere-se que ela manipule a caixa, retiran- sequentemente, a diminuição do egocentrismo,
do os brinquedos, sentindo o peso de cada um, todos pré-requisitos para o desenvolvimento das
comparando-os. Ela age sobre a caixa e percebe estruturas de conservação2.
que cada brinquedo por si só não é tão pesado;
é o conjunto das partes que torna o todo pesado B) Proposta para auxiliar a aquisição da
(noção continente, conteúdo). A criança deve- classificação lógica
rá segurar a caixa vazia, sentindo sua leveza e Piaget e Inhelder concluíram, após experi-
comparar com a caixa cheia de brinquedos. Isso mentos, a existência de três etapas no desenvol-
a auxiliará a reconhecer “que a quantidade total é vimento das operações de classificação12:
constituída de partes e, inversamente, que a soma 1. 2 ½ a 5 anos: Denominada Coleções
das partes é igual à quantidade e ao peso inicial”13. figurais, marca a fase em que a criança
O psicopedagogo provoca o desequilíbrio faz a classificação baseada não em se-
cognitivo por meio de situações estimuladoras, melhanças e diferenças (ou seja, numa
fazendo perguntas ou sugestões que conduzem lógica), mas numa configuração comple-
a atividade, sem dar as respostas, o que também xa, formando com o conjunto de objetos
acaba causando uma descentração no pensa- um trem ou uma casinha ou “apenas uma
mento da criança (por exemplo, Você sabe por configuração sem sentido”12;
que a caixa é tão pesada?; O que podemos fazer 2. 5 ½ a 7-8 anos: Coleções não figurais, fase
para deixá-la menos pesada?; Uma criança da marcada pela capacidade que a criança
sua idade disse que podemos retirar os brinque- conquista de formar grupos de objetos,
dos para diminuir o peso da caixa.; O que pesa é baseando-se em suas semelhanças.
a caixa, são os brinquedos ou tudo junto?, etc.)13. Torna-se capaz de subdividir uma classe
Esta interação entre a criança e o profissional em subclasses (classe B e suas subclasses
vai construindo a zona de desenvolvimento pro- A e A’, ou seja, B = A + A’), no entanto,
ximal, caminho em que a primeira, com o apoio ela ainda não domina a relação de in-
do psicopedagogo, vai atuando intelectualmente clusão entre elas, isto é, a capacidade de

Rev. Psicopedagogia 2018; 35(107): 242-53

247
Moraes APA

reconhecer que uma classe B é maior do Inicialmente, apresentamos à criança objetos


que uma de suas subclasses e a inclui, o diversos (diferentes tamanhos, cores, texturas,
que pode ser resumido pelas equações cheiros, gostos, formas). Sugerimos: revistas, li-
lógicas A’= B – A e A= B – A’. vros, jornais; tecidos e papéis de texturas e cores
3. Por volta dos 8 anos: Fase da Classifica- diferentes; objetos de madeira, plástico, metal,
ção operatória, na qual a criança passa papel; jogos, brinquedos e brincadeiras (pode-
dominar a relação de inclusão; por isso, mos usar os blocos Lógicos, Material Dourado
é denominada também de classe-inclusão e Barrinhas de Cuisenaire); plantas diversas;
ou inclusão de classes. Para Piaget, o peças de vestuário; utensílios de cozinha, de ba-
domínio da relação de inclusão “é a nho; figuras de pessoas e animais; cds de estilos
condição sine qua non de uma cognição musicais diferentes; alimentos (doces, salgados,
operacional concreta da classificação azedos e ácidos); instrumentos musicais, etc.
lógica”12. Esse material deve ser observado, utilizando-
As respostas de João nas provas operatórias -se todos os sentidos que os objetos permitem
de classificação indicaram que ele, apesar de (observação visual, auditiva, olfativa, gustativa e
ainda não dominar a relação de inclusão, mos- tátil) e, posteriormente, comparados. A observa-
trou-se em vias de fazê-lo, estando em transição ção e a comparação são capacidades cognitivas
para a conquista de uma estrutura operacional consideradas fundamentais para o alcance da
concreta de classificações. Fato que reflete uma capacidade de classificar logicamente15.
atividade cognitiva marcada pela “mistura de es- Partindo, então, da observação e da compara-
truturas anteriores organizadas, mas impróprias, ção dos objetos, através de perguntas e sugestões,
e o uso hesitante e esporádico de novas estru- vamos auxiliando a criança a perceber as caracte-
turas ainda incompletamente organizadas”12. rísticas deles, bem como distinguir as semelhan-
Para Piaget12, o alcance da capacidade de ças e diferenças entre eles; a partir daí, perguntar
relação de inclusão exige que a criança coordene quais são as qualidades que permitem colocá-los
duas propriedades de classe que devem estar num mesmo grupo; desta forma, a criança estará
em estreita correspondência: a amplitude e o estabelecendo os critérios de classificação que
tamanho. A amplitude de classe corresponde determinarão quais objetos integrarão um grupo
às qualidades comuns aplicadas aos elementos (amplitude de classe). É importante que a própria
que compõem uma classe13; o tamanho de classe criança estabeleça esses critérios de classificação
refere-se ao número total de elementos que de modo a organizá-los em diferentes grupos.
possuem as qualidades necessárias, isto é, que Para trabalhar o tamanho de classe, devemos
obedecem ao critério exigido para sua inclusão problematizar os quantificadores intensivos
numa classe lógica. “nenhum”, “alguns”, “todos”, proporcionando
Em vista da importância dessas duas proprie- experiências que possibilitam a construção
dades no processo de aquisição da relação de permanente de estruturas de extensão (ou ta-
inclusão e, consequentemente, da classificação manho) de classes12,13. Inicialmente, a criança
operatória, nossa proposta interventiva para deve construir o conceito “do todo e das partes”,
auxiliar João volta-se para o processo de cons- para só depois utilizar as noções numéricas de
trução da amplitude e da extensão de classe, “nenhum”, “todo” e “alguns”, em atividades que
através da experiência ativa, da manipulação trabalham a inclusão7. A consolidação desses
de material concreto, baseando-se em práticas conceitos abre caminho para a relação entre a
cognitivas importantes, como a observação e amplitude e o tamanho de classe, permitindo
a comparação. Propusemos uma atividade na que a criança domine a inclusão.
qual ações físicas e mentais contribuem para a Essa atividade deve ser repetida durante
reorganização cognitiva. algumas sessões, sempre variando o material.

Rev. Psicopedagogia 2018; 35(107): 242-53

248
Das provas operatórias à construção de estruturas cognitivas

Outra atividade que podemos também utilizar é da prova com êxito, com estruturas novas, mas
o jogo de dominó, fora da proposta tradicional16. ainda imaturas para se alcançar esse êxito.
Propõe-se uma atividade em que as peças sejam Nossa proposta para auxiliá-lo na aquisição
reunidas, segundo um determinado critério (por da seriação lógica envolveu atividades de se-
exemplo, em peças pares e ímpares). A criança riação com vários tipos de material (objetos da
deve “descobrir e criar formas de organizar as sala de atendimento, pessoas, objetos escolares,
peças, buscando critérios de classificação cada brinquedos, livros, revistas, guloseimas, entre
vez mais abrangentes. O objetivo final é encon- outros), focando a capacidade de multiplicar re-
trar um critério que reúna todas as peças”16. lações, ou seja, de construção da noção de relação
direta e inversa entre os elementos de uma série
C) Proposta para auxiliar a aquisição da assimétrica. Para Piaget, a criança pré-operatória
seriação lógica ainda é incapaz de fazer essa relação, é incapaz
A seriação consiste numa operação em que de descentrar, o que justifica seus insucessos
há ordenação ou disposição dos elementos em em seriações lógicas. João ainda não dominava
ordem crescente ou decrescente, isto é, dispo- completamente essa capacidade de percepção
sição “numa série transitiva, assimétrica como, simultânea entre os elementos de uma série.
por exemplo, A<B<C<D<E etc”12. Segundo Inicialmente, a criança deverá observar e
Piaget17, a criança passa por algumas etapas comparar dois elementos (A e B), iniciando a
evolutivas até alcançar a seriação operatória. construção de uma série assimétrica. A seguir,
Quando deve seriar um conjunto de palitos de o psicopedagogo entrega um terceiro elemento
tamanhos diferentes, observamos que, em torno (C) e pede para ela compará-lo ao primeiro e,
dos 4/5 anos, ela não consegue seriar, fazendo depois, ao segundo elemento, de forma que João
pares ou trios, sem observar a linha de base. vá construindo a noção de que o elemento B
Com 5/6 anos, seria por tateios empíricos, isto deve ser maior do que A e menor que C para ser
é, por meio de tentativas de ensaio e erro “que inserido entre eles numa série crescente. Gra-
constituem regulações semirreversíveis, mas não dativamente, vamos aumentando o número de
ainda operatórias18. Ainda não consegue seriar elementos da série, que pode ir, mais ou menos,
com o anteparo. Finalmente, por volta dos 7/8 até o décimo elemento.
anos, torna-se capaz de seriar, utilizando a linha Isso deve ser feito devagar, durante algumas
de base, por meio de um método operatório, sessões, sempre variando o material. Depois,
como por comparação de dois a dois, do menor podemos pedir para que ela desenhe, pinte ou
para o maior, refletindo, assim, a reversibilidade modele elementos de uma série (por exemplo,
por reciprocidade. Agora, já é capaz de seriar três animais ou três pessoas), colocando-os em
atrás do anteparo. O ponto alto ou coroamento ordem crescente e decrescente de tamanho. A
da seriação lógica é a transitividade que “pos- modelagem pode ser feita em argila, massinha,
sibilita a compreensão de que se A=B e B=C, papel machê ou em biscuit. Estes três últimos
logo A=C”18. podem ser fabricados durante a sessão, o que
O resultado da prova de seriação aplicada em torna sua utilização ainda mais significativa
João revelou a fase de transição em que ele se para a criança.
encontra. Houve um momento em que utilizou Sugerimos também a utilização do jogo de
um método operatório, no entanto, ele oscilou e dominó para trabalhar a seriação, pois ele exige
não conseguiu dar continuidade à seriação. Tudo que o jogador estabeleça a relação direta e inver-
indica que ainda não há uma estrutura pronta sa entre as peças, de modo a construir a série. Os
de seriação, ela está se formando. Observamos jogos de tabuleiro, como a Trilha, também têm
uma atividade cognitiva em que há mistura de essa exigência e, são, portanto, bons instrumen-
estruturas anteriores, inadequadas à realização tos de trabalho na intervenção psicopedagógica.

Rev. Psicopedagogia 2018; 35(107): 242-53

249
Moraes APA

D) Proposta para auxiliar a construção de Para começar, sugerimos que a criança meça,
operações espaciais de mensuração utilizando o próprio corpo como elemento de
As provas operatórias apontaram que João medida (braços, dedos, mãos, pés), objetos pe-
ainda não havia atingido a mensuração opera- quenos, menores do que as partes de seu corpo
tória, ou seja, ele ainda não tinha consciência que serão utilizadas como instrumentos de men-
de que “um comprimento é composto de uni- suração. Ela deverá marcar, nas partes do corpo
dades de comprimento de tamanho arbitrário que usar, o tamanho do objeto que mediu (por
e pode ser medido por meio da aplicação de exemplo, marcar no dedo o tamanho de uma bala
uma destas unidades ao longo do comprimento ou de um potinho de tinta guache).
total”12. João limitou-se a “medir” por meio de Posteriormente, após exercitar o estágio
estimativas perceptuais somente, não utilizando, acima, vamos inserindo outros materiais como
em momento algum, o material disponível para instrumentos de medição, também maiores do
mensuração, recorrendo somente à apreciação que os objetos que serão medidos. Podemos
visual. utilizar bastões, tiras de papel, barbante, entre
De acordo com a teoria piagetiana, a conquis- outros. A criança deve seguir os mesmos passos
ta da medida operatória segue uma sequência da atividade com as partes do corpo. Num mo-
evolutiva que engloba três estágios8,12: Inicial- mento seguinte, introduzimos instrumentos de
mente, ocorrem apreciações exclusivamente medição menores do que o objeto a ser medido.
visuais e globais. Num segundo momento, a Perguntamos para ela, por exemplo: “Quantas
criança utiliza o próprio corpo como elemento mãos são necessárias para medir a largura desta
de medida, estágio “interessante porque pre- mesa?” ou “Quantos passos são suficientes para
nuncia a verdadeira mensuração”12. O terceiro chegar da mesa à janela?”.
estágio caracteriza-se pela utilização de ou- As opções de trabalho são muitas. Podemos
tros instrumentos de medida que não o corpo. pedir também que a criança construa torres
Apresenta dois momentos: o inicial, em que o com blocos lógicos que tenham a altura de dez
sujeito só utiliza instrumentos de mensuração dedos ou pedir que ela constate quantos palitos
exatamente do mesmo tamanho ou maior do de picolé são necessários para medir a altura do
que objeto a ser medido, pois, por enquanto, chão até o alto da mesa.
ainda não é capaz de aplicar repetidamente um Como estaremos trabalhando com a questão
instrumento de mensuração menor ao longo do da noção espacial, seria interessante a utilização
objeto medido, funcionando como uma unidade de jogos que auxiliam a construção das relações
de medida. Isso ocorre somente no segundo espaciais como o jogo de Damas, o jogo de xa-
momento, marcando o alcance da mensuração drez e a amarelinha.
operatória, geralmente, em torno dos 8 anos de
idade, aproximadamente8,18. CONSIDERAÇÕES FINAIS
João apresentava respostas que o incluí- De tudo o que foi exposto, surgem algumas
am no primeiro estágio, ou seja, no estágio de ilações. Uma delas é o fato da contribuição que
uma criança que se encontra no pré-operatório a ação psicopedagógica pode dar ao processo de
intuitivo global. Por isso, nossa proposta para desenvolvimento das habilidades do raciocínio,
ajudá-lo envolve atividades que percorrem os quando embasada na teoria epistemológica de
momentos seguintes: primeiramente, trabalhan- Jean Piaget. O psicopedagogo encontra nos
do o corpo durante a “medição” (característica dados piagetianos sobre o desenvolvimento da
do estágio pré-operatório intuitivo articulado) e, cognição valiosos instrumentos para sua práti-
posteriormente, utilizando outros instrumentos ca. A leitura de Piaget permitiu a compreensão
de mensuração até a conquista da mensuração do processo de construção do conhecimento,
operatória de dimensões (operatório concreto). da origem e desenvolvimento do raciocínio,

Rev. Psicopedagogia 2018; 35(107): 242-53

250
Das provas operatórias à construção de estruturas cognitivas

fornecendo importante suporte teórico tanto de currículos e na prática em sala de aula, res-
para a avaliação quanto para a intervenção peitando o nível de desenvolvimento cognitivo
psicopedagógicas. dos aprendentes, não os sobrecarregando com
A teoria piagetiana nos permitiu também o co- con­teúdos para os quais eles não tenham desen-
nhecimento e a utilização das provas operatórias volvido as estruturas cognitivas necessárias.
como importante recurso avaliativo do processo O profissional que estuda Piaget e Vygotsky
de desenvolvimento cognitivo do sujeito, uma sabe que, se o ensino está acima das capacida-
vez que possibilitam a identificação do estágio des cognitivas do aluno, a aprendizagem não
cognitivo no qual ele se encontra, revelando acontecerá. O caso de João é um bom exemplo.
a presença ou não de estruturas mentais que Na escola, exige-se dele, uma criança de 9 anos,
são consideradas fundamentais para a gênese ou seja, supostamente no estágio das operações
de determinadas habilidades do raciocínio. A concretas, que resolva problemas matemáticos
análise dos resultados obtidos com a aplicação sem o uso de material concreto.
das provas piagetianas também contribui para o Atitude que denota o desconhecimento do
trabalho interventivo, na medida em que aponta fato de que algumas crianças da idade do su-
o que ainda precisa ser construído com o sujeito jeito desta pesquisa nem sempre apresentam o
dentro do domínio lógico, a fim de promover o desenvolvimento necessário para a compreen-
avanço cognitivo. são e construção de conteúdos exigidos no ano
Outra conclusão que surge é sobre a impor- escolar que frequentam e que necessitam da
tância da contribuição da teoria de Vygotsky no mediação do professor e da sua compreensão
processo interventivo psicopedagógico. Piaget sobre o uso de materiais manipuláveis para au-
explicou como o conhecimento se desenvolve xiliar na aprendizagem dos conteúdos que lhe
e não como desenvolver o conhecimento no estão sendo apresentados.
processo educativo. E é aí que entra a contri- A falta de recursos cognitivos não as permi-
buição de Vygotsky, que explicou como atuar te resolver operações fundamentais de adição,
no desenvolvimento por meio da mediação de subtração, multiplicação e divisão sem o auxílio
outro indivíduo mais experiente. Por meio desta do concreto. Para João, que se encontrava em
mediação, ocorrerá a ativação de zonas de de- transição para o pensamento concreto, as conse-
senvolvimento cognitivo que estão em processo quências que foram possíveis observar durante
de maturação, ou seja, das zonas de desenvolvi- o processo avaliativo referiam-se ao fracasso nas
mento proximal (ZDP). provas, ao desinteresse pelas atividades escola-
Uma terceira conclusão emerge do fato de res e à sua baixa autoestima.
que, muitas vezes, os problemas de aprendiza- Em suma, é preciso reconhecer o valor da
gem que as crianças apresentam e que as levam leitura de Piaget e de Vygotsky, tanto para o
aos consultórios psicopedagógicos podem ser profissional da Psicopedagogia quanto para o da
consequência de métodos pedagógicos inade- Pedagogia, pois auxiliam estes profissionais no
quados que desconsideram ou mesmo desco- conhecimento do processo de desenvolvimento e
nhecem uma prática baseada numa abordagem aprendizagem do ser humano. Esperamos contri-
desenvolvimentista. buir com este artigo para a ação psicopedagógica,
Piaget não elaborou uma teoria sobre educa- tanto para o processo avaliativo quanto para o in-
ção, no entanto, os resultados de suas pesquisas terventivo. Este estudo foi construído basicamente
oferecem uma contribuição inquestionável para a com a leitura da teoria piagetiana, que muito nos
prática educacional. Descortinam conhecimentos ajudou a entender o caso de João, possibilitando
que promovem a compreensão da forma e do um caminho teórico seguro à nossa prática, indo
tempo de aprendizagem de crianças e jovens, das provas operatórias às possibilidades de de­
instrumentalizando os profissionais na elaboração senvolvimento das habilidades do raciocínio.

Rev. Psicopedagogia 2018; 35(107): 242-53

251
Moraes APA

SUMMARY
From operational tests to the cognitive structures construction:
A case study in Psychopedagogy

This paper presents a case study focused in the operational tests of Jean
Piaget used in a psychopedagogical evaluation of a 9-years-old child. The
analysis of the operational tests showed that the young boy exhibited a
slower reasoning rhythm compared to the average. Therefore, we presented
psychopedagogical intervention proposals, which were based on Jean Piaget
and Vygotsky theories, aiming to contribute to the development process of
the reasoning logical of individuals who exhibit learning disabilities, as
occurs to the person evaluated in this study.

KEYWORDS: Reasoning. Mental Operations. Operational Tests. Psycho­


pedagogical Practice.

REFERÊNCIAS 9. Weiss MLL. Psicopedagogia Clínica: Uma


1. Piaget J. Seis Estudos de Psicologia. Tradu- visão diagnóstica dos problemas de aprendi-
ção: Maria Alice Magalhães D’Amorim e zagem escolar. 12ª ed. Rio de Janeiro: Lam-
Paulo Sérgio Lima Silva. 5ª ed. Rio de Janei- parina; 2007. 105 p.
ro: Forense Universitária; 1972. 10. Vygotsky LS. A Formação Social da Mente:
2. Wadsworth BJ. Inteligência e Afetividade da O Desenvolvimento dos Processos Psicológi-
Criança na Teoria de Piaget. Tradução: Es- cos Superiores. Tradução: José Cipolla Neto,
méria Rovai. 2ª ed. São Paulo: Pioneira;1993. Luís Silveira Menma Barreto, Solange Cas-
3. Beyer HO. O Fazer Psicopedagógico: a abor- tro Afeche. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes;
dagem de Reuven Feuerstein a partir de 1998.
Vygotsky e Piaget. Porto Alegre: Mediação; 11. Oliveira MK. Vygotsky: Aprendizado e de-
1996. p. 195-6. senvolvimento: um processo sócio-histórico.
4. Andriola WB. Avaliação do raciocínio verbal São Paulo: Scipione; 1993.
em estudantes do 2º grau. Est Psicol. 1997; 12. Flavell JH. A Psicologia do Desenvolvimento
2(2):277-85. [acesso 2017 Jan 11] Disponí- de Jean Piaget. Tradução: Maria Helena Sou-
vel em: http://www.scielo.br/pdf/%0D/epsic/ za Patto. 4ª ed. São Paulo: Pioneira; 1992.
v2n2/a04v02n2.pdf 13. Dolle JM. Para compreender Jean Piaget
5. Macedo L. Ensaios construtivistas. São Pau- – Uma Iniciação à Psicologia Genética Pia-
lo: Casa do Psicólogo; 1994. getiana. Tradução: Maria José JG Almeida.
6. de La Taille Y. Jean Piaget: coleção grandes 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara; 1987.
mestres. [vídeo]. 57:22, cor. [acesso 2016 Dez p. 124, 146.
10]. Disponível em: https://www.youtube. 14. Macedo L. Aquisição da noção de conserva-
com/watch?v=PBVNYRQP7Sk ção por intermédio de um procedimento con-
7. Dolle JM, Bellano B. Essas crianças que não forme o modelo [Dissertação de mestrado].
aprendem: diagnósticos e terapias cogniti- São Paulo: Instituto de Psicologia da USP;
vas. Tradução: Cláudio João Paulo Saltini. 1973.
Petrópolis: Vozes; 1995. p. 101-23. 15. Raths LE, Jonas A, Rothstein AM, Wasser-
8. Sampaio S. Manual prático do diagnóstico mann S. Ensinar a Pensar: Teoria e Aplica-
psicopedagógico clínico. 5ª ed. Rio de Janei- ção. Tradução: Dante Moreira Leite. 2ª ed.
ro: Wak; 2014. p. 50-93. São Paulo: EPU; 1977.

Rev. Psicopedagogia 2018; 35(107): 242-53

252
Das provas operatórias à construção de estruturas cognitivas

16. Macedo L, Petty ALS, Passos NC. Quatro [acesso 2016 Set 28]. Disponível em: https://
cores, senha e dominó: oficinas de jogos em www.youtube.com/watch?v=FWYjDvh3bWI
uma perspectiva construtivista e psicopeda- 18. Goulart IB. Piaget: experiências básicas para
gógica. São Paulo: Casa do Psicólogo; 1997. utilização pelo professor. 2ª ed. Petrópolis:
17. Piaget J. Piaget por Piaget. 1977. [vídeo] Vozes; 1984.

Este artigo é uma parte do trabalho de conclusão de curso Artigo recebido: 08/02/2018
da autora, apresentado ao curso de especialização em Aprovado: 10/05/2018
Psicopedagogia Clínica e Institucional da Faculdade
Metodista Granbery, de Juiz de Fora/MG. Recebeu
orientação, em ambos, da Dra. Léa Stahlschmidt Pinto
Silva, a quem muito agradece.
Trabalho realizado na Faculdade Metodista Granbery,
Juiz de Fora, MG, Brasil.

Rev. Psicopedagogia 2018; 35(107): 242-53

253

Você também pode gostar