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Problemas de aprendizagem

DISLEXIA

É um transtorno genético e hereditário da linguagem, de origem neurobiológica, que se


caracteriza pela dificuldade de decodificar o estímulo escrito ou o símbolo gráfico. A
dislexia compromete a capacidade de aprender a ler e escrever com correção e fluência
e de compreender um texto. Em diferentes graus, os portadores desse defeito congênito
não conseguem estabelecer a memória fonêmica, isto é, associar os fonemas às letras.

De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia, o transtorno acomete de 0,5% a


17% da população mundial, pode manifestar-se em pessoas com inteligência normal ou
mesmo superior e persistir na vida adulta.

A causa do distúrbio é uma alteração cromossômica hereditária, o que explica a


ocorrência em pessoas da mesma família. Pesquisas recentes mostram que a dislexia
pode estar relacionada com a produção excessiva de testosterona pela mãe durante a
gestação da criança.

Sintomas

Os sintomas variam de acordo com os diferentes graus de gravidade do distúrbio


e tornam-se mais evidentes durante a fase da alfabetização. Entre os mais comuns
encontram-se as seguintes dificuldades: 1) para ler, escrever e soletrar; 2) de
entendimento do texto escrito; 3) para de identificar fonemas, associá-los às letras
e reconhecer rimas e aliterações; 4) para decorar a tabuada, reconhecer símbolos e
conceitos matemáticos (discalculia); 5) ortográficas: troca de letras, inversão, omissão
ou acréscimo de letras e sílabas (disgrafia); 6) de organização temporal e espacial e
coordenação motora.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito por exclusão, em geral por equipe multidisciplinar (médico,


psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo, neurologista). Antes de afirmar que uma
pessoa é disléxica, é preciso descartar a ocorrência de deficiências visuais e auditivas,
déficit de atenção, escolarização inadequada, problemas emocionais, psicológicos e
socioeconômicos que possam interferir na aprendizagem.

É de extrema importância estabelecer o diagnóstico precoce para evitar que sejam


atribuídos aos portadores do transtorno rótulos depreciativos, com reflexos negativos
sobre sua auto-estima e projeto de vida.

Tratamento

Ainda não se conhece a cura para a dislexia. O tratamento exige a participação de


especialistas em várias áreas (pedagogia, fonoaudiologia, psicologia, etc.) para ajudar
o portador de dislexia a superar, na medida do possível, o comprometimento no
mecanismo da leitura, da expressão escrita ou da matemática.

Recomendações
* Algumas dificuldades que as crianças podem apresentar durante a alfabetização
só ocorrem porque são pequenas e imaturas e ainda não estão prontas para iniciar o
processo de leitura e escrita. Se as dificuldades persistirem, o ideal é encaminhar a
criança para avaliação por profissionais capacitados;

* O diagnóstico de dislexia não significa que a criança seja menos inteligente; significa
apenas que é portadora de um distúrbio que pode ser corrigido ou atenuado;

* O tratamento da dislexia pressupõe um processo longo que demanda persistência;

* Portadores de dislexia devem dar preferência a escolas preparadas para atender suas
necessidades específicas;

* Saber que a pessoa é portadora de dislexia e as características do distúrbio é o melhor


caminho para evitar prejuízos no desempenho escolar e social e os rótulos depreciativos
que levam à baixa-estima.

DISGRAFIA

Alteração da escrita que a afecta na forma ou no significado, sendo do tipo funcional.


Perturbação na componente motora do acto de escrever, provocando compressão e
cansaço muscular, que por sua vez são responsáveis por uma caligrafia deficiente, com
letras pouco diferenciadas, mal elaboradas e mal proporcionadas.

De forma geral, a criança com disgrafia apresenta uma série de sinais ou manifestações
secundárias motoras que acompanham a dificuldade no desenho das letras, e que por
sua vez a determinam. Entre estes sinais encontram-se uma postura incorrecta, forma
incorrecta de segurar o lápis ou a caneta, demasiada pressão ou pressão insuficiente no
papel, ritmo da escrita muito lento ou excessivamente rápido.

Sinais indicadores:

• Postura gráfica incorrecta.

• Forma incorrecta de segurar o instrumento com que se escreve.

• Deficiência da preensão e pressão.

• Ritmo de escrita muito lento ou excessivamente rápido.

• Letra excessivamente grande.

• Inclinação.

• Letras desligadas ou sobrepostas e ilegíveis.

• Traços exageradamente grossos ou demasiadamente suaves.

• Ligação entre as letras distorcida.

Problemas associados:
• Biológicos.

• Perturbação da lateralidade, do esquema corporal e das funções perceptivo-


motoras.

• Perturbação de eficiência psicomotora (motricidade débil; perturbações ligeiras


do equilíbrio e da organização cinético-tónica; instabilidade).

• Pedagógicas

o Orientação deficiente e inflexível,


o Orientação inadequada da mudança de letra de imprensa para letra
manuscrita,
o Ênfase excessiva na qualidade ou na rapidez da escrita,
o Prática da escrita como actividade isolada das exigências gráficas e das
restantes actividades discentes.

• Pessoais

o Imaturidade física,
o Motora,
o Inaptidão para a aprendizagem das destrezas motoras,
o Pouca habilidade para pegar no lápis,
o Adopção de posturas incorrectas,
o Défices em aspectos do esquema corporal e da lateralidade.

O que pode fazer:

• Encorajar a expressão através de diferentes materiais (plasticina, pinturas e


lápis). Todas as tarefas que impliquem o uso das mãos e dos dedos são positivas.

• Incitar a criança a recortar desenhos e figuras, a fazer colagens e picotar.

• Promover situações em que a criança utilize a escrita (ex.: escrever pequenos


recados, fazer convites e postais).

• Fazer actividades como contornar figuras, pintar dentro de limites, ligar pontos,
seguir um tracejado, etc.

• Deixar a criança expressar-se livremente no papel, sem corrigir nem julgar os


resultados.
DISCALCULIA

O termo discalculia deriva de acalculia, o qual descreve um transtorno adquirido da


habilidade para realizar operações matemáticas, depois de estas se terem desenvolvido e
consolidado.

Contrariamente à acalculia, a discalculia encontra-se sobretudo em crianças, é de


carácter evolutivo ou desenvolvimental, não resulta de uma lesão e associa-se sobretudo
a dificuldades de matemática.

É uma perturbação que se manifesta na dificuldade de aprendizagem do cálculo. Esta


dificuldade pode-se manifestar em vários níveis da aprendizagem. Assim, podemos
encontrar dificuldades ao nível da leitura, escrita e compreensão de números ou
símbolos, compreensão de conceitos e regras matemáticas, memorização de factos ou
conceitos ou no raciocínio abstracto. Podem ainda estar associadas dificuldades em
aprender a ver as horas ou lidar com o dinheiro.

Sinais indicadores:

• Dificuldades na identificação de números (visual e auditiva).

• Incapacidade para estabelecer uma correspondência recíproca (contar objectos e


associar um numeral a cada um).

• Escassa habilidade para contar.

• Dificuldade na compreensão de conjuntos.

• Dificuldade na compreensão de quantidade.

• Dificuldade em entender o valor segundo a habituação de um número.

• Dificuldades nos cálculos.

• Dificuldades na compreensão do conceito de medida.

• Dificuldade para aprender a dizer a hora.

• Dificuldade na compreensão do valor das moedas.

• Dificuldade de compreensão da linguagem matemática e dos símbolos.

• Dificuldade em resolver problemas orais.

Problemas associados:

• Deficiente organização visuo-espacial e integração não verbal: não conseguem


distinguir rapidamente as diferenças entre formas, tamanhos, quantidades e
comprimentos.
• Dificuldade em observar grupos de objectos e dizer qual deles contém uma
maior quantidade de elementos, em calcular distâncias e em fazer julgamentos
de organização visuo-espacial.

• Distúrbio ao nível da imagem corporal.

• Distúrbios de integração visuo-motora.

• Desorientação: dificuldade na distinção esquerda-direita.

• Dificuldades na percepção social e na realização de julgamentos: maturidade


social reduzida.

• Desempenhos em testes de inteligência, superiores nas funções verbais


comparativamente às funções não verbais.

O que pode fazer:

• Usar cartas de jogar em jogos de cartas simples como o "peixinho": mostrar


como se poderá atribuir valores às cartas pela contagem dos símbolos. Para
evitar confusões retirar as cartas de figuras, utilizando apenas as de 2 a 10.

• Jogos de tabuleiro são excelentes para aprender os números, solicitando a


contagem dos espaços a mover em cada volta. Podem ser introduzidas algumas
referências à adição ou à subtracção no decorrer do jogo.

• Utilizar ou inventar "cantigas e lengalengas com números". Muitas crianças


podem aprender conceitos matemáticos mais rápidamente (e recordarem por
mais tempo) quando a música, rima e ritmo são utilizados para os ensinar.

• Encorajar a criança a utilizar os números diariamente:

o Contar os produtos no supermercado.


o Contar por ordem decrescente.
o "Quantas rodas tem o teu carrinho de brincar?"; "Quantas rodas tem a tua
bicicleta?"; "Qual dos dois tem mais rodas?"
o "Que idade tens?"; "Que idade tem o teu irmão ou irmã?"; "qual é o mais
velho?"; "Qual é a diferença de idade entre os dois?"
o"Quantos amigos vais convidar para a tua festa de
aniversário?"; "Quantas fatias de bolo devem ser cortadas?"; "E se cada
menino ficar com duas fatias?"
DISLALIA

A dislalia é um distúrbio da fala caracterizado pela dificuldade em articular as palavras.


Basicamente consiste na má pronúncia das palavras, seja omitindo, acrescentando,
trocando ou ainda distorcendo os fonemas.

Causa

Crianças que usam chupeta por muito tempo, que mamam na mamadeira por tempo
prolongado, chupam dedo ou mesmo aquelas que mamam pouco tempo no peito. Estas
crianças podem apresentar um quadro de dislalia. Embora não se possa dizer que haja
uma relação direta, é inegável que tais crianças acabem apresentando flacidez muscular
e postura de língua indevida, o que pode ocasionar a dislalia. Sendo assim, a dislalia
pode ser prevenida por mães bem orientadas durante a amamentação e o pré-natal.
Outras crianças apresentam línguas hipotônicas (flácidas), o que as vezes chega a
ocasionar alterações na arcada dentária. Ou ainda, mostram falhas na pronúncia de
certos fonemas devido a postura e respiração deficiente.

Terapia

Para cada criança, tem-se um procedimento diferente de terapia para dislalia, mas,
em geral, o fonoaudiólogo atua, na terapia, sobre a falha e a dificuldade, usando, de
preferência meios lúdicos para ampliar a possibilidade de utilização dos sons.
Até os quatro anos os erros na linguagem são normais, mas depois dessa fase a criança
pode ter problemas se continuar falando errado. A Dislalia, Troca de Fonemas (sons
das letras), pode afetar também a escrita. Um caso clássico característico portador de
dislalia é o personagem Cebolinha.

Daí a importância de um trabalho preventivo antes da alfabetização evitando-se assim


maiores dificuldades escolares.
DISORTOGRAFIA

A disortografia pode ser definida como o conjunto de erros da escrita que afectam
a palavra mas não o seu traçado ou grafia. A disortografia é a incapacidade de
estruturar gramaticalmente a linguagem, podendo manifestar-se no desconhecimento
ou negligência das regras gramaticais, confusão nos artículos e pequenas palavras, e
em formas mais banais na troca de plurais, falta de acentos ou erros de ortografia em
palavras correntes ou na correspondência incorrecta entre o som e o símbolo escrito,
(omissões, adições, substituições, etc.).

Sinais indicadores:

• Substituição de letras semelhantes.

• Omissões e adições, inversões e rotações.

• Uniões e separações.

• Omissão - adição de “h“.

• Escrita de “n“ em vez de “m“ antes de “p“ ou “b“.

• Substituição de “r“ por “rr“.

Problemas associados:

Perceptivos:

• Deficiência na percepção e na memória visual auditiva

• Deficiência a nível espácio-temporal (correcta orientação das letras),


discriminação de grafemas com traços semelhantes e adequado
acompanhamento da sequencia e ritmo da cadeia falada.
Linguístico:

• Problemas de linguagem – dificuldades na articulação

• Deficiente conhecimento e utilização do vocabulário


Afectivo-emocional:
• Baixo nível de motivação
Pedagógicas:
• Método de ensino não adequado, (utiliza frequentemente o ditado, não se ajusta
à necessidades diferenciais e individuais dos alunos, não respeitando o ritmo de
aprendizagem do sujeito).
O que pode fazer:

• Encorajar as tentativas de escrita da criança, mostrar interesse pelos trabalhos


escritos e elogiá-la.

• Incitar a criança a elaborar os seus próprios postais e convites, a escrever o seu


diário no final do dia como rotina.

• Chamar a atenção da criança para as situações diárias em que é necessária a


utilização da escrita.

• Incite a criança a ajudá-la na elaboração de uma carta.

• Não valorize demasiado os erros ortográficos da criança uma vez que estes já
são motivo de repreensão e frustração demasiadas vezes.

• Não corrija simplesmente os seus erros mas tente antes procurar a solução com a
criança (ex.: "qual a outra letra que podemos usar para fazer esse som?").

• Recorra a livros de actividades que existem no mercado que permitem à criança


trabalhar os vários casos de ortografia.

• Não sobrecarregue, contudo, a criança com trabalhos e fichas que a cansem


demasiado e a levem a ver as actividades académicas como desagradáveis.
Também é preciso brincar.
TDAH (TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE)

TDAH (transtorno do déficit de atenção/hiperatividade) é um distúrbio neurobiológico


crônico que se caracteriza por desatenção, desassossego e impulsividade. Esses sinais
devem obrigatoriamente manifestar-se na infância, mas podem perdurar por toda a vida,
se não forem devidamente reconhecidos e tratados.

O distúrbio afeta de 3% a 5% das crianças em idade escolar e sua prevalência é


maior entre os meninos. A dificuldade para manter o foco nas atividades propostas e
a agitação motora que caracterizam a síndrome podem prejudicar o aproveitamento
escolar e ser responsável por rótulos depreciativos que não correspondem ao potencial
psicopedagógico dessas crianças.

TDAH não é uma doença nova. Já foi descrita em meados do século 19 e sua frequência
é igual em todo o mundo. De acordo com o DSM.IV, o manual de classificação
das doenças mentais, a síndrome pode ser classificada em três tipos:1) TDAH com
predomínio de sintomas de desatenção; 2) TDAH com predomínio de sintomas de
hiperatividade/impulsividade e 3) TDAH combinado.

Em todas as faixas etárias, portadores do transtorno estão sujeitos a desenvolver


comorbidades, isto é, a desenvolver simultaneamente distúrbios psiquiátricos, como
ansiedade e depressão. Na adolescência, o risco maior está no uso abusivo do álcool e
de outras drogas.

Causas

Estudos apontam a predisposição genética e a ocorrência de alterações nos


neurotransmissores (dopamina e noradrenalina) que estabelecem as conexões entre
os neurônios na região frontal do cérebro como as principais causas do transtorno do
déficit de atenção. Algumas pesquisas indicam que fatores ambientais e neurológicos
podem estar envolvidos, mas ainda não há consenso sobre o assunto.

Já existem inúmeros estudos em todo o mundo - inclusive no Brasil - demonstrando


que a prevalência do TDAH é semelhante em diferentes regiões, o que indica que o
transtorno não é secundário a fatores culturais (as práticas de determinada sociedade,
etc.), o modo como os pais educam os filhos ou resultado de conflitos psicológicos.
Estudos científicos mostram que portadores de TDAH têm alterações na região
frontal e as suas conexões com o resto do cérebro. A região frontal orbital é uma das
mais desenvolvidas no ser humano em comparação com outras espécies animais e é
responsável pela inibição do comportamento (isto é, controlar ou inibir comportamentos
inadequados), pela capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização
e planejamento. O que parece estar alterado nesta região cerebral é o funcionamento
de um sistema de substâncias químicas chamadas neurotransmissores (principalmente
dopamina e noradrenalina), que passam informação entre as células nervosas
(neurônios).Existem causas que foram investigadas para estas alterações nos
neurotransmissores da região frontal e suas conexões.
A) Hereditariedade: Os genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si,
mas por uma predisposição ao TDAH. A participação de genes foi suspeitada,
inicialmente, a partir de observações de que nas famílias de portadores de TDAH a
presença de parentes também afetados com TDAH era mais freqüente do que nas
famílias que não tinham crianças com TDAH. A prevalência da doença entre os
parentes das crianças afetadas é cerca de 2 a 10 vezes mais do que na população em
geral (isto é chamado de recorrência familial). Porém, como em qualquer transtorno do
comportamento, a maior ocorrência dentro da família pode ser devido a influências
ambientais, como se a criança aprendesse a se comportar de um modo "desatento"
ou "hiperativo" simplesmente por ver seus pais se comportando desta maneira, o que
excluiria o papel de genes. Foi preciso, então, comprovar que a recorrência familial era
de fato devida a uma predisposição genética, e não somente ao ambiente. Outros tipos
de estudos genéticos foram fundamentais para se ter certeza da participação de genes:
os estudos com gêmeos e com adotados. Nos estudos com adotados comparam-se pais
biológicos e pais adotivos de crianças afetadas, verificando se há diferença na presença
do TDAH entre os dois grupos de pais. Eles mostraram que os pais biológicos têm 3
vezes mais TDAH que os pais adotivos. Os estudos com gêmeos comparam gêmeos
univitelinos e gêmeos fraternos (bivitelinos), quanto a diferentes aspectos do TDAH
(presença ou não, tipo, gravidade etc...). Sabendo-se que os gêmeos univitelinos têm
100% de semelhança genética, ao contrário dos fraternos (50% de semelhança
genética), se os univitelinos se parecem mais nos sintomas de TDAH do que os
fraternos, a única explicação é a participação de componentes genéticos (os pais são
iguais, o ambiente é o mesmo, a dieta, etc.). Quanto mais parecidos, ou seja, quanto
mais concordam em relação àquelas características, maior é a influência genética para a
doença. Realmente, os estudos de gêmeos com TDAH mostraram que os univitelinos
são muito mais parecidos (também se diz "concordantes") do que os fraternos,
chegando a ter 70% de concordância, o que evidencia uma importante participação de
genes na origem do TDAH. A partir dos dados destes estudos, o próximo passo na
pesquisa genética do TDAH foi começar a procurar que genes poderiam ser estes. É
importante salientar que no TDAH, como na maioria dos transtornos do
comportamento, em geral multifatoriais, nunca devemos falar em determinação
genética, mas sim em predisposição ou influência genética. O que acontece nestes
transtornos é que a predisposição genética envolve vários genes, e não um único gene
(como é a regra para várias de nossas características físicas, também). Provavelmente
não existe, ou não se acredita que exista, um único "gene do TDAH". Além disto, genes
podem ter diferentes níveis de atividade, alguns podem estar agindo em alguns
pacientes de um modo diferente que em outros; eles interagem entre si, somando-se
ainda as influências ambientais. Também existe maior incidência de depressão,
transtorno bipolar (antigamente denominado Psicose Maníaco-Depressiva) e abuso de
álcool e drogas nos familiares de portadores de TDAH.
B) Substâncias ingeridas na gravidez: Tem-se observado que a nicotina e o álcool
quando ingeridos durante a gravidez podem causar alterações em algumas partes
do cérebro do bebê, incluindo-se aí a região frontal orbital. Pesquisas indicam que
mães alcoolistas têm mais chance de terem filhos com problemas de hiperatividade e
desatenção. É importante lembrar que muitos destes estudos somente nos mostram uma
associação entre estes fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.
C) Sofrimento fetal: Alguns estudos mostram que mulheres que tiveram problemas
no parto que acabaram causando sofrimento fetal tinham mais chance de terem filhos
com TDAH. A relação de causa não é clara. Talvez mães com TDAH sejam mais
descuidadas e assim possam estar mais predispostas a problemas na gravidez e no
parto. Ou seja, a carga genética que ela própria tem (e que passa ao filho) é que estaria
influenciando a maior presença de problemas no parto.
D) Exposição a chumbo: Crianças pequenas que sofreram intoxicação por chumbo
podem apresentar sintomas semelhantes aos do TDAH. Entretanto, não há nenhuma
necessidade de se realizar qualquer exame de sangue para medir o chumbo numa
criança com TDAH, já que isto é raro e pode ser facilmente identificado pela história
clínica.
E) Problemas Familiares: Algumas teorias sugeriam que problemas familiares (alto
grau de discórdia conjugal, baixa instrução da mãe, famílias com apenas um dos pais,
funcionamento familiar caótico e famílias com nível socioeconômico mais baixo)
poderiam ser a causa do TDAH nas crianças. Estudos recentes têm refutado esta idéia.
As dificuldades familiares podem ser mais conseqüência do que causa do TDAH (na
criança e mesmo nos pais). Problemas familiares podem agravar um quadro de TDAH,
mas não causá-lo.
F) Outras Causas Outros fatores já foram aventados e posteriormente abandonados
como causa de TDAH: 1. corante amarelo2. aspartame3. luz artificial4. deficiência
hormonal (principalmente da tireóide)5. deficiências vitamínicas na dieta. Todas estas
possíveis causas foram investigadas cientificamente e foram desacreditadas.

Sintomas

Desatenção, hiperatividade e comportamento impulsivo são sintomas do TDAH com


reflexos negativos no convívio social e familiar, assim como no desempenho escolar
ou profissional dos portadores do transtorno. Esses sintomas podem manifestar-se em
diferentes graus de comprometimento e intensidade.

Quando predomina a desatenção, os pacientes apresentam dificuldade maior de


concentração, de organizar atividades, de seguir instruções, e podem saltar de uma
tarefa inacabada para outra, sem nunca terminar aquilo que começaram. São pessoas
que se distraem com facilidade e frequentemente esquecem o que tinham para fazer ou
onde colocaram seus pertences. Não conseguem também prestar atenção em detalhes,
demoram para iniciar as tarefas e cometem erros por absoluto descuido e distração, o
que pode prejudicar o processo de aprendizagem e a atuação profissional.

Nos casos em que prevalece a hiperatividade, os portadores do distúrbio são


inquietos, agitados e falam muito. Dificilmente conseguem participar de atividades
sedentárias e manter silêncio durante as brincadeiras ou realização dos trabalhos. Se
é a impulsividade que se destaca os sinais mais marcantes são a impaciência, o agir
sem pensar, a dificuldade para ouvir as perguntas até o fim, a precipitação para falar e
a,intromissão nos assuntos, conversas e atividades alheias

Na adolescência e na vida adulta, os sintomas de hiperatividade costumam ser menos


evidentes, mas as outras dificuldades permanecem inalteradas e os prejuízos se
acumulam no dia a dia com reflexos negativos sobre a autoestima.

Diagnóstico

Para efeito de diagnóstico, que é sempre clínico, os sintomas devem manifestar-se na


infância, antes dos sete anos, pelo menos em dois ambientes diferentes (casa, escola,
lazer, trabalhos), durante seis meses, no mínimo. Devem também ser responsáveis
por desajustes e alterações comportamentais que dificultam o relacionamento e a
performance dos portadores nas mais diversas situações.

Via de regra, o problema fica claro nos primeiros anos de escola, apesar de estar
presente desde o nascimento, e o diagnóstico deve ser feito por especialistas com base
nos critérios estabelecidos pelo DSM.IV. Avaliações precipitadas podem dar origem a
falsos positivos que demandam a indicação desnecessária de medicamentos.

Tratamento

O tratamento varia de acordo a existência, ou não, de comorbidades ou de outras


doenças associadas. Basicamente, consiste em psicoterapia e na prescrição de
metilfenidato (ritalina), um medicamento psicoestimulante, e de antidepressivos.
Crianças podem exigir os cuidados de equipe multidisciplinar, em função dos desajustes
pedagógicos e comportamentais associados ao TDAH.

Em geral, os efeitos benéficos da medicação aparecem em poucas semanas e as reações


adversas – insônia, falta de apetite, dores abdominais e cefaleia – são leves e ocorrem
no início do tratamento, enquanto o organismo não desenvolveu tolerância a essas
drogas.

Recomendações

É importante admitir que:

* as falhas de atenção e a hiperatividade de algumas crianças podem não ser


características do temperamento e personalidade, nem de má educação, mas sintomas de
uma doença que pode ser controlada;

* não é má vontade, mas os portadores do transtorno realmente têm enorme dificuldade


para organizar as atividades do dia a dia, manter horários e planejar o futuro;

* a necessidade de desenvolver algumas técnicas para compensar as dificuldades


próprias da TDAH (uso de agenda, lugar fixo para guardar os objetos, lembretes
colocados em posições estratégicas e em quadros de avisos, lista de tarefas e dos
compromissos diários e semanais) exige muito esforço e disciplina;

* pais e professores devem manter-se informados sobre as características da doença e


intervenções que podem ajudar os pacientes a superar suas limitações;

*a psicoterapia pode representar um caminho eficaz para a recuperação da autoestima,


quase sempre comprometida pelos sentimentos de fracasso e frustração provenientes das
dificuldades de lidar com situações rotineiras.

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