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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

FACULDADE DE ECONOMIA

LUANDA

DISCIPLINAS:

CONTABILIDADE BANCÁRIA
E
CONTABILIDADE DAS
INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO

DOCENTES: ARMANDA DE FÁTIMA JESUS FORTES


TERESA SEABRA

Com o apoio do Dr. Jorge Leão Peres (Apontamentos da


disciplina de Contabilidade Bancária na Universidade Lusíada de
Angola) e do Instituto de Formação Bancária de Angola (Manual
do IFBA)

ANO LECTIVO 2018

1. A ACTIVIDADE BANCÁRIA E A DE OUTRAS INSTITUIÇÕES DE


CRÉDITO (IC) E AS SUAS FUNÇÕES

Vamos aqui ver alguns aspectos do sistema, importantes para uma melhor
compreensão da Contabilidade Bancária e da Contabilidade de Outras
1
Instituições de Crédito (IC).

1.1.Posicionamento económico

1.1.1. Intervenção dos Sistemas Bancário e de Crédito na


concretização dos objectivos de Política Económica e Financeira

Diariamente sabemos de notícias sobre bancos e outras IC, isto significa


que a Banca tem uma intervenção activa na política económica e
financeira do país.

Para atingir os seus objectivos macroeconómicos, o governo define


políticas de actuação:
• Orçamental;
• Monetária;
• Rendimento e Preços;
• Fiscal;
• Cambial;

As que mais nos interessam são:


• Política Monetária (Linhas de orientação sobre a evolução da massa
monetária)
• Política de Rendimento e Preços.

Para concretizar estas políticas o governo desenvolve determinadas


acções de controlo em diferentes âmbitos:
- Controlo do crédito;
- Controlo da liquidez dos bancos;
- Controlo das taxas de juro.

É aqui que intervêm os sistemas bancário e de crédito para a


concretização dos objectivos de política económica e financeira do país.

Na seguinte situação “ Aos primeiros sinais de alta dos preços (inflação),


as entidades governamentais de um estado implementaram diversas
medidas no sentido dos objectivos económicos fixados não serem
desvirtuados.

Estas medidas foram:


• Estabeleceram limites à expansão do crédito;
• Determinaram aumentos das reservas de caixa dos bancos, numa
tentativa de diminuir a moeda em circulação;
• Aumentaram as taxas de juro, através do Banco Central (Banco
Emissor);

2
• Estimularam a poupança dos cidadãos, criando esquemas atraentes
de depósitos.”

O objectivo destas medidas é a contenção do consumo dos cidadãos. O


governo ao conter esse consumo, controla a alta de preços. Tais medidas
só seriam possíveis de concretizar através do sistema bancário. Então os
bancos funcionam implicitamente como instrumentos de concretização
da política económica e financeira do governo.
1.1.2. Decomposição do Sector Interno da Economia

Sabemos que dois grandes sectores dominam a economia: o sector


financeiro e o sector não financeiro.

Repare no seguinte quadro.

Quadro 1. O Sistema Financeiro no quadro da Sectorização da Economia

Ministério das
Finanças
Autoridades
3º Monetárias
Sector BNA Banco Central
Monetário Instituições
2º de Crédito
1º Sector
Sector Interno Financeiro Sector não Sociedades e Outras
Entidades
Monetário Financeiras não Bancárias
Administração Central
Economia Sector não Sector Público Administração Local
Financeiro Segurança Social
Sector Produtivo Empresas Públicas (Não
Financeiras)
Outras Empresas (Não
Financeiras)
Particular/Famílias

Sector Externo

Fonte: Instituto de Formação Bancária (2005) Contabilidade Bancária

1.1.3. Sistema Financeiro de Angola. O papel do Ministério das


Finanças e do BNA

Dentro do sistema financeiro angolano, podemos diferenciar três grandes


níveis, que são: as autoridades político-decisoras; as autoridades de carácter
executivo, de controlo, de supervisão e também de carácter consultivo; e o

3
conjunto das instituições financeiras.

A estrutura do sistema financeiro angolano, que aparece graficamente


representada no quadro abaixo, e que analisaremos superficialmente, está
basicamente determinada pela normativa seguinte:
˙ Decreto Presidencial 299/2014, de 04 de Novembro, que aprova o
Estatuto Orgânico do Ministério das Finanças;
˙ Lei 16/2010, de 15 de Julho, Lei do Banco Nacional de Angola;
˙ Lei 12/15, Lei de Bases das Instituições Financeiras;
˙ Lei 1/00, de 8 de Fevereiro, Lei Geral da Actividade Seguradora;
˙ Decreto 25/98, de 7 de Agosto, que cria os Fundos de Pensões e aprova
o regulamento dos mesmos;
˙ Aviso 8/95, de 8 de Agosto, do BNA, sobre a actividade das Casas de
Câmbio;

• Órgãos Político-Decisores

As autoridades político-decisoras são o Governo, o Ministério das Finanças


(MF) e os Ministérios do Planeamento e Economia, o de Administração
Pública, Emprego e Segurança Social (MAPESS).
O Ministério das Finanças, tem como atribuições no domínio da política
financeira, entre outras, as seguintes:
a) Participar na fixação dos objectivos macro e micro económicos do
Estado;
b) Coordenar e acompanhar a política de redimensionamento y
privatizações do Sector Empresarial do Estado;
c) Apresentar propostas relativas à definição de políticas financeiras, de
acordo com os objectivos macroeconómicos fixados pelo Governo;
d) Propor e controlar a política de preços;
e) Propor a política nacional de seguros e resseguros e fiscalizar a sua
execução;
f) Participar na elaboração da política monetária e de crédito do país;
g) Registar e exercer o controlo financeiro sobre todas as doações e
ajudas internacionais;
h) Contrair, registar, gerir e controlar a dívida externa, em colaboração
com o BNA;
No domínio da política cambial, o Ministério de Finanças tem, entre outras,
as seguintes atribuições:
a) Participar na elaboração da política cambial do Governo e
acompanhar a sua execução;
b) Participar, em colaboração com o BNA, no estabelecimento dos
princípios reguladores da gestão cambial do país;
c) Participar na formulação da estratégia do endividamento externo do

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país;
d) Elaborar, em colaboração com o BNA, um programa de recurso ao
financiamento externo do Estado;
e) Participar, em colaboração com o BNA, na negociação da dívida
externa do país e no estabelecimento do respectivo serviço.

Do Ministério de Administração Pública, Emprego e Segurança Social


(MAPESS) dependem as Instituições de Previdência Social e os Fundos de
Pensões. Estes últimos, também estão subordinados ao Ministério das
Finanças.

• Órgãos de Supervisão

A autoridade monetária máxima dentro do Sistema Financeiro Angolano é


o Ministério das Finanças o qual exerce as suas funções através do órgão
executivo mais importante que é o Banco Nacional de Angola que, por sua
vez realiza as funções de carácter consultivo, de controlo e supervisão.

Os Órgãos Executivos de Controlo e Supervisão são, além do BNA, que pela


sua grande importância, dedicaremos o capítulo seguinte, existem a ARSEG
( Agência Angolana de Regulação e Supervisão de Seguros) antes, Instituto
de Supervisão de Seguros e o Organismo de Supervisão do Mercado de
Valores Mobiliários.

As instituições financeiras bancárias e as instituições financeiras não


bancárias ligadas à moeda e ao crédito estão sujeitas à jurisdição do BNA.
Estas entidades, são: as casas de câmbio; as sociedades cooperativas de
crédito; as sociedades de cessão financeira (factoring); as sociedades de
locação financeira (leasing); as sociedades mediadoras do mercado
monetário ou de câmbios; as sociedades de micro crédito; as sociedades de
prestação de serviços de pagamentos; e as sociedades operadoras de
sistema de pagamentos, compensação ou câmara de compensação.

A Agência Angolana de Regulação e Supeervisão de Seguros (ARSEG), é uma


entidade de direito público, dotado de personalidade e capacidade jurídica e
de autonomia administrativa e financeira, à qual compete o controlo da
actividade de seguros, resseguros, fundos de pensões e mediação de
seguros.

O Organismo de Supervisão do Mercado de Valores Mobiliários é o órgão a


quem compete supervisionar a actividade das instituições financeiras não
bancárias seguintes: sociedades corretoras de valores mobiliários;
sociedades de capital de risco; sociedades distribuidoras de valores
mobiliários; sociedades gestoras de participações sociais; sociedades de
5
investimento; sociedades gestoras de patrimónios; sociedades gestoras de
fundos de investimento; sociedades gestoras de fundos de titularização;
sociedades de gestão e investimento imobiliário; e sociedades operadoras
de sistema de câmara de liquidação e compensação de valores mobiliários.

O governo criou a Comissão do Mercado de Capitais que é um órgão de


supervisão de capitais, dotado de personalidade jurídica e autonomia
administrativa, financeira e patrimonial que se rege pela Lei de Valores
Mobiliários e por um estatuto interno.

Estes órgãos são tutelados pelo Ministério das Finanças.

Os mesmos terão a organização, as atribuições e o funcionamento que


constarem dos respectivos estatutos orgânicos, a serem aprovados pelo
Conselho de Ministros ou pelos órgãos que tenham esta competência, nos
términos da legislação em vigor.

• Intermediários

A Lei 12, de 17 de Junho de 2015, Lei de Bases das Instituições Financeiras


refere-se à parte mais importante do conjunto do sistema financeiro
angolano: os estabelecimentos de crédito. Esta nova Lei revoga a Lei 13, de
30 de Setembro de 2005, das Instituições Financeiras; Esta Lei de 2005
revogava a Lei 1 de 23 de Abril de 1999. As Leis 1/99 e 13/2005 já consideram
instituições financeiras as Casas de Câmbio, o que a Lei 5/91 não tinha em
conta.

O Decreto Presidencial 299/2014, de 4 de Novembro, aprova o Estatuto


Orgãnico do Ministério das Finanças e revoga o Decreto Presidencial 93/10,
de 07 de Junho de 2010 e toda a legislação contrária a esse Decreto
Presidencial.

Este quadro tem em conta: a actividade seguradora em Angola que


está basicamente determinada pelo Decreto 17/78, de 1 de Fevereiro, que
cria a Empresa Nacional de Seguros e Resseguros de Angola - Unidade
Económica Estatal (ENSA-UEE) e a Lei 1/00, de 8 de Fevereiro, Lei Geral da
Actividade Seguradora; os Fundos de Pensões, basicamente o Decreto 25/98,
de 7 de Agosto, que cria os ditos Fundos e aprova o regulamento dos
mesmos; a actividade das Casas de Câmbio, especialmente o Aviso 8/95, de 8
de Agosto, do BNA; as Instituições de Previdência Social, em que se destaca
o Montepio Geral de Angola; e também, alguns Fundos, entre os quais, três
tutelados pelo Ministério das Finanças: o Fundo de Apoio ao Empresariado
Nacional (FAEN), o Fundo Nacional de Desenvolvimento (FND) e o Fundo de
Fomento Empresarial (FFE).
6
Quadro 2. Estrutura Actual do Sistema Financeiro de Angola

GOVERNO
Órgãos
Político-
Decisores
MINISTÉRIO MINISTERIO
DAS DE A. P., E. e

Órgãos
Executivos, de Controlo e
BANCO AGÊNCIA A. ÖRGÃO DE S. Supervisão
NACIONAL DE R. E S. DE DO M. DE (o BNA é
SEG. VALORES
DE também
MOBILIARIOS
um
órgão
consultivo)

Intermediários

Financeiros

INSTITUIÇÕ SOCIEDADES OUTRAS


ES DE FINANCEIRAS ENTIDADES
NÃO FINANCEIRA

Fonte: elaboração própria.

7
• Situação Actual

Actualmente o Sistema Financeiro de Angola está formado por:


▪ Banco Nacional de Angola (Banco Central);
▪ Entidades Financeiras Bancárias;
▪ Entidades Financeiras não Bancárias;
▪ Outras Entidades Financeiras.

Como Entidades Financeiras Bancárias encontram-se:


˙ Trinta Bancos (Banco de Poupança e Crédito; Banco de Comércio e
Indústria; Banco Comercial Angolano; Banco Africano de
Investimentos; Banco Sol; Banco Regional do Keve; Banco de
Fomento Angola; Banco Millennium Angola; Banco Totta de Angola;
Banco Espírito Santo Angola; O Novo Banco; Banco Internacional de
Crédito; Banco de Desenvolvimento de Angola; Banco Privado
Atlântico; Banco de Negócios Internacional; Banco Angolano de
Negócios e Comércio; Vneshtorgbank África e outros);
˙ As Agências de Representação de três bancos: Banque Paribas,
Equator Bank y Citibank;

Em relação às Entidades Financeiras não Bancárias existem:


˙ Onze Casas de Câmbio a funcionar (Açorango, Alvalade, Cambila,
Carmorais, Falankachange em Cabinda, Futur Exchange, Jardim do
Éden, Luanda, Lusocâmbios, Moneta, e Nev);
˙ Quatorze Companhias de Seguros (Empresa Nacional de Seguros e
Resseguros de Angola; Angola, Agora, Amanhã, Seguros & Pensões;
A Mundial Seguros; Nossa Seguros; Global Alliance – Angola
Seguros e outras);
˙ Duas Entidades Gestoras de Fundos de Pensões; (Angola, Agora,
Amanhã Seguros & Pensões; Fénix – Sociedade Gestora de Fundos
de Pensões);
˙ A Sociedade Operadora de Sistema de Pagamentos de Angola;
˙ Duas Sociedades Gestoras de Participações Sociais (Sociedade de
Gestão e Participações Financeiras SARL – holding GEFI, SARL e
Leadergroup, SA);

Em relação a Outras Entidades Financeiras existem:


˙ Treze Fundos de Desenvolvimento (Fundo de Apoio ao
Desenvolvimento Agrário; Fundo de Desenvolvimento dos
Desportos; Fundo de Fretes; Fundo de Desenvolvimento do Cinema;
Fundo de Desemprego; Fundo de Desenvolvimento do Café de
Angola; Fundo de Apoio e Desenvolvimento das Pescas; Fundo de

8
Apoio Social; Fundo de Desenvolvimento Rodoviário; Fundo de
Apoio ao Empresariado Nacional; Fundo Nacional de
Desenvolvimento, o Fundo de Fomento Empresarial e o Fundo de
Capital de Risco; o Fundo de Desenvolvimento Económico e Social
foi extinto em 2006);
˙ Dez Instituições de Previdência Social (Montepio Geral de Angola;
Caixa de Aposentações dos Funcionários do Comissariado
Provincial de Luanda, antes Caixa de Aposentações dos
Funcionários da Câmara Municipal de Luanda; Caixa de Auxílios
dos Correios e Telégrafos de Angola, antes Caixa de Auxílios dos
Empregados dos Correios, Telégrafos e Telefones de Angola; Caixa
de Pensões e Aposentações do Pessoal das Alfândegas de Angola;
Caixa de Previdência dos Caminhos de Ferro de Benguela, antes
Caixa de Reformas, Pensões e Sociedade do Pessoal do Caminho de
Ferro de Benguela; Cofre de Previdência dos Funcionários Públicos
de Angola; Cofre de Previdência do Pessoal do Ministério do
Interior, antes Caixa de Previdência do Pessoal da Polícia de
Segurança Pública de Angola; Caixa de Previdência das FAA;
Montepio Ferroviário de Angola e a Caixa de Crédito dos
Funcionários de Apoio à Presidência).

1.1.3.1. O Banco Nacional de Angola (BNA)

▪ Órgãos de Governo e Organização Administrativa

− Órgãos Reitores
A Lei do Banco Nacional de Angola, de 15 de Julho de 2010, Lei 16, que
revoga toda a legislação anterior, concretamente a Lei Orgânica do Banco
Nacional de Angola de 11 de Julho de 1997, estabelece no seu artigo 48º 1
os seguintes órgãos reitores:
1. Governador
2. Vice Governador 2 ou Vice Governadores
3. Conselho de Administração
4. Conselho de Auditoria
5. Conselho Consultivo

O Governador é nomeado pelo Presidente da República e exerce as suas

1
Vid. artigo 48º da Lei 16/10, do BNA.
2
Por achar conveniente acrescentá-mo-lo. Está previsto na Lei do BNA a existência de vice
governadores,
como diz o artigo 51º da Lei, mas o artigo 48º não o tinha em conta.
9
funções por um período de cinco anos.

Os Vice Governadores são nomeados pelo Presidente da República sob


proposta do governador e exercerão as suas funções por um período de
cinco anos.

As principais competências do governador do BNA, são:


a) Ostentar a sua representação legal a todos os efeitos e perante o
Tribunal.
b) Actuar, em nome do Banco, junto de instituições nacionais,
estrangeiras ou internacionais.
c) Convocar e presidir as reuniões do Conselho de Administração e a
quaisquer reuniões de comissões emanadas do mesmo.
d) Actuar como seu representante máximo e responder perante o
Conselho de Administração, encarregar-se da implementação da
política e da gestão diária do Banco.
e) Assinar os livros gerais podendo fazê-lo por rubrica.
f) Praticar tudo o que legalmente lhe seja incumbido.

A Lei 12/15 de 04 de Novembro, Lei de Bases das Instituições Financeiras,


diz que só as instituições de crédito bancárias podem receber depósitos
ou outros fundos reembolsáveis, para utilização por conta própria e
exercer a função de intermediário de liquidação de operações de
pagamento, artigos 6º e 9º da Lei 12/20153. Estas entidades são os bancos
em geral e as instituições de microfinanças.

As actividades previstas na presente lei regulamentadas pelo BNA, órgão


supervisor, só podem ser exercidas, a título profissional, pelas instituições
financeiras não bancárias, segundo o artigo 9º da nova lei4. Estas
entidades sujeitas à jurisdição do BNA são: Casas de Câmbio, Sociedades
Cooperativas de Crédito, Sociedades de Cessão Financeira ou Factoring,
Sociedades de Locação Financeira ou Leasing, Sociedades Mediadoras do
Mercado Monetário ou de Câmbios, Sociedades de Micro Crédito,
Sociedades que Prestam Serviço de Pagamentos, e Sociedades Operadoras
do Sistema de Pagamentos, Compensação ou Câmara de Compensação.

Quadro 3. Organigrama do Banco Nacional de Angola

Governador

Dois Vice

3
Vid. artigo 6º da Lei nova de 2015.
4
Vid. artigo 9º da Lei 12/15.
10
Gabinete do Gabinete de
Governador Auditoria Interna

Gabinete de
Desenvolviment
o
Conselho de Conselho de
Conselho Administração Auditoria
Consultivo
Departamento de Sistemas de Pagamentos e Operações

Departamento de Contabilidade e Gestão Financeira


Departamento de Gestão de Recursos Humanos

Departamento de Tecnologias de Informação


Departamento de Supervisão das Instituições

Departamento de Património e Serviços


Departamento de Mercados de Activos

Departamento de Controlo de Câmbios

Departamento de Estudos e Estatística


Departamento do Meio Circulante

Departamento da Dívida Externa

Departamento Administrativo

Delegações Regionais
ídi
ã d
d

Fonte: BNA vários anos e elaboração própria.

1.1.3.2. Funções do Banco Nacional de Angola

As principais funções do BNA encontram-se reguladas na Lei do BNA de


2010, a qual no seu artigo 3º 5 estabelece que, como Banco Central e
Emissor, tem como atribuição principal assegurar a preservação do valor
da moeda nacional e serão de sua competência as seguintes funções
gerais:
a) Conduzir, executar, acompanhar e controlar a política monetária;
b) Actuar como banqueiro único do Estado;
c) Direito exclusivo de emissão de notas e moedas metálicas;
d) Aconselhar o Executivo nos domínios monetário, financeiro e
cambial;
e) Participar com o Poder Executivo na definição, condução, execução,

5
Vid. artigo 3º da Lei 16/10, do BNA.

11
acompanhamento e controlo da política cambial e o respectivo
mercado;
f) Actuar como intermediário, nas relações monetárias internacionais
do Estado;
g) Velar pela estabilidade do sistema financeiro nacional, assegurando
a função de prestamista ou financiador em última instância;
h) Gerir as disponibilidades externas (reservas de divisas) do país que
lhe estejam cometidas;
i) Participar na elaboração da programação financeira anual do
Executivo, de modo a compatibilizar a gestão das reservas cambiais
e o crédito a conceder pelo BNA com as necessidades de
estabilização e desenvolvimento da economia;
j) Garantir e assegurar um sistema de informação, compilação e
tratamento das estatísticas monetária, financeira e cambial e outros
documentos, como instrumento eficiente de coordenação, gestão e
controlo;
k) Elaborar e manter actualizado o registo completo da Dívida Externa
do país e efectuar a sua gestão;
l) Elaborar a Balança de Pagamentos externos do país;
m) Exigir a qualquer entidade, pública ou privada, que lhe sejam
apresentadas, directamente as informações necessárias para o
cumprimento das suas funções ou, por motivos relacionados com as
suas atribuições em matéria de política monetária e cambial e do
funcionamento dos sistemas de pagamentos, regulando-os,
fiscalizando-os e promovendo a sua eficácia.

Mas, se considerarmos a classificação mais vulgarmente aceite das


funções de um Banco Central, se distinguem as seguintes:
- Definição e execução da política monetária.
- Responsável pela execução da política de taxa de câmbio e o
controlo de câmbios (Política cambial).
- Direito exclusivo de emissão de notas e posta em circulação de
moeda metálica.
- Banqueiro do Estado.
- Gestor das reservas de divisas ou das disponibilidades externas do
país.
- Banco do sistema bancário.
- Supervisor do sistema financeiro.
- Garantir e assegurar um sistema de informação, compilação e
tratamento das estatísticas.

1.1.4. O Sistema de Crédito

12
1.1.4.1. Evolução Histórica na Banca

1.1.4.1.1. No Mundo

Tal como a história da humanidade, a origem dos bancos está revestida de


certa controvérsia e pontos de descontinuidade, até porque não tem sido
consensual quanto à data de criação do primeiro banco, que se perde na
infinidade do tempo, tal como certa vez caracterizou o Prof. Joaquim
Teles, que foi presidente do Sindicato dos Contabilistas do Rio de Janeiro e
contador-geral do Banco Carlo Pareto, SA:
“Perde-se no turbilhão de muitos séculos, consumidos no cabriolar
constante da Terra em torno do Sol, a origem dos Bancos”.

Até onde a descrição histórica, em seus primeiros ensaios, nos deixa


perceber, vamos encontrar, muitos anos antes da era cristã, no comércio
que faziam os hindus e os chineses os primeiros vestígios de operações
bancárias.

Os hindus estendiam então o seu comércio para a China, para a Pérsia e


para o Egipto, iam em suas caravanas ao Mar Cáspio, em busca da
Cólchida, nas margens do Ponto Euxino que, como relata A. Conrado, se
tornou centro importante das riquezas da Índia.

Seguindo ainda esse caminho, os produtos hindus vinham do importante


empório da Cólchida até às cidades gregas do Mar Negro, donde se supõe
que eram levados à Europa.

O extraordinário desenvolvimento do comércio Índico exigia avultados


capitais, que não possuíam os caravanistas, obrigados por isso a
recorrerem aos capitalistas, que lhes emprestavam a juros de 1 a 1¼ % ao
mês, sob a caução de pedras preciosas e outros valores.

Como descreve Boucher, citado por A. Conrado em sua obra “O Comércio


e a Navegação na História”, era usada a letra de câmbio, chamada
undkgundi e por abreviatura undengui, que significa valor-papel, pequena
bola, como querendo dizer papel que rola, que circula.

Muitos anos depois da época a que nos reportamos, mais acentuadas se


nos deparam as origens dos bancos e dos banqueiros nas operações que
efectuavam os atenienses, romanos e lombardos, dos quais a notícia,
zombando e resistindo à acção destruidora de muitos séculos,
transmitindo-se de povo a povo, de nação a nação, conseguiu chegar até
aos nossos dias.

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Os trapezistas atenienses já se notabilizavam pela lisura com que
procediam, recebendo dinheiro em conta corrente, de cuja operação não
lhes era exigido recibo.

Os argentários romanos também faziam operações de depósito de


dinheiro, pelas quais pagavam reduzida taxa de juros, coberta pela
diferença de taxa que pagavam os mercadores, aos quais faziam
empréstimos, proporcionando assim a frutificação de capitais e lançando
as primeiras bases para a constituição do banco.

Foram, entretanto, os judeus da Lombardia que concorreram para que a


tais operações se desse o nome de operações de banco.

Era costume entre judeus lombardos, trazer para a praça ou feira uma
banca sobre a qual efectuavam as operações de compra e troca de
moedas, de compra e venda de ouro e pedras preciosas e de depósitos ou
restituição de dinheiro.

Talvez venham dessa espécie de operações e dessa banca, sobre a qual


eram realizadas, as palavras banco e banqueiro, constituindo tais
palavras o baptismo tradicional chegado até nós.

Se por analogia nos foi dado achar a origem das palavras banco e
banqueiro, vejamos pelo mesmo processo se nos é possível encontrar a
origem da palavra bancarrota, cuja locução queria designar o fracasso de
um banco.

A esse fracasso não escapavam os inexpertos banqueiros desses tempos,


alguns dos quais pagaram muito caro pelo facto de se arrastarem à ruína.
Quando tal fracasso sucedia, a população, em incontido e irreprimível
enfurecimento, lançava-se contra o banqueiro, fazendo-lhe a banca em
cacos e não raro deixando-o também em farrapos.

Dessa destruição da banca e do estado a que ficava reduzido o infeliz


banqueiro originou-se, sem dúvida, a palavra bancarrota, que significa
banco ou banqueiro quebrado, falido.

Tanto para os romanos como para os gregos a profissão de comércio era


considerada coisa desprezível, pois tais operações eram efectuadas por
gente humilde, por escravos ou estrangeiros prisioneiros ou escravizados.

Roma, que era rica e senhora do mundo, quando lhe faltou a fonte da qual
hauria toda a sua riqueza, caíra em negra miséria.

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Esse estado de miséria a que chegara a rainha do mundo, onde entretanto
havia grandes tesouros de arte, atraíra a cobiça de estrangeiros, que para
ela afluíram com grandes capitais, empregando-os em diversas
especulações. Entre as que mais seduziram esses estrangeiros estavam o
comércio e a indústria, especialmente o comércio bancário.

Foi assim que, segundo os melhores historiadores, se criara em 1157,


conforme opinam alguns, ou em 1171, na opinião de outros, o primeiro
banco – La Banca di Venezia – na mesma cidade.

Pouco mais de um século após e nos moldes do então célebre Banco de


Veneza, criaram os barceloneses a Taula de Cambi, em 1349.

Meio século depois que se criara a Banco de Barcelona, se fundava no


limiar da Idade Média, em 1409, o Banco de São Jorge, de Génova, o mais
célebre banco desse tempo, segundo Girolamo Boccardo.

O Banco de São Jorge, que chegou a tornar-se perigoso para o Estado pela
sua grande importância, durou quase quatro séculos, vindo a falir em
1797.

Em seguida, fundou-se, em Florença a Banca Salimberni, cuja importância


foi também notável, pois chegou a possuir cerca de cem agências
espalhadas por diversas partes do mundo.

A Idade Média, com as cruzadas religiosas, trouxe ao comércio um grande


desenvolvimento económico. Foi durante essas cruzadas que os europeus,
entretanto em contacto com os orientais por terra e descobrindo o
caminho marítimo das Índias, deram extraordinária expansão ao seu
comércio, criando para ele a necessidade de grande movimentação de
capitais. Essa expansão comercial concorreu, sem dúvida, para uma
extraordinária difusão de bancos na Itália, Alemanha, França, Inglaterra e
em outros países da Europa.

Dos bancos então criados, dois conseguiram resistir aos embates das lutas
oriundas de tal expansão e chegar até aos nossos dias, ostentando na sua
grandeza actual uma tradição gloriosa.

O primeiro, fundado com o nome de Banca della Pietà, em 1539, tem hoje
o nome de Banca di Napoli e é um dos maiores bancos do mundo e de
mais perfeita organização.

O segundo, fundado em 1622, é o Monte dei Paschi di Siena, que existe


ainda e é considerado a melhor instituição da Toscana. O Jornal de Angola

15
de 6ª feira, 08 de Março de 2013 diz que é um dos Bancos mais antigos do
mundo e o terceiro maior da Itália.

Além desses, outros bancos surgiram, os quais, pela sua organização e


funcionamento, mereceram destaque como instituições que marcaram
presença em suas épocas:

O Banco de Amsterdam, em Amsterdam, Holanda, fundado em 1609.

O Banco de Hamburgo, em Hamburgo, Alemanha, fundado em 1619.

O Banco de Inglaterra, em Londres, Inglaterra, fundado em 1694 e cuja


estrutura serviu de modelo aos demais bancos organizados naquela e em
épocas posteriores.

O Banco de França, em Paris, França, fundado em 1716.

O BanK of North America, em Filadélfia, Estados Unidos, fundado em 1781.

E é assim que, em lugar do obscuro judeu, do trapezista ateniense e do


argentário romano, em lugar da modesta “banca”, cujo despedaçar
constituía desastrada perda, temos os grandes bancos hodiernos, o moderno
banqueiro, homem versado em Economia Política e Finanças, hábil no
manejo dessa coisa complexa que se chama câmbio e nas grandes
operações de crédito, seguro dos resultados desse manejo, encarando sem
receio o jogo constante de grandes e avultadas somas.

Sobre o actual banqueiro pesa, em grande parte, a responsabilidade de


árbitro da expansão económica da nação, pelo muito que pode e deve
cooperar no desenvolvimento de seu comércio, de sua indústria e de sua
agricultura.

1.1.4.1.2. Em Angola

Data de 21 de Agosto de 1865 a abertura da primeira sucursal do Banco


Nacional Ultramarino (BNU) em Luanda, e as suas notas passaram a
constituir a moeda oficial. Pode-se afirmar que este facto marca a criação do
sistema bancário angolano.

O descontrolo ao nível da emissão monetária conduziu a uma situação


financeira insustentável. Para contornar esta situação, as autoridades
coloniais criaram a Junta da Moeda para iniciar um processo de Reforma
Monetária, cuja acção imediata era a constituição de um banco emissor
independente e a estabilização da moeda (o Escudo português foi
substituído pelo Angolar).
16
Em 31 de Outubro de 1926 o BNU encerrava as suas portas enquanto que
em 17 de Agosto do mesmo ano era criado o Banco de Angola, SARL,
constituído por escritura pública de 08 de Setembro de 1926, com sede em
Lisboa.

O Banco de Angola deteve até 1957 o exclusivo comércio bancário na


colónia, altura em que foi criado o Banco Comercial de Angola (BCA) que
não era mais do que uma dependência do Banco Português do Atlântico
(BPA).

O Decreto 36114 de 24 de Janeiro de 1947 introduziu alterações ao estatuto


do Banco de Angola, aprovado pelo Decreto 35670 de 28 de Maio de 1946 e,
no seu artigo 3º definia que “a sociedade (o Banco de Angola) destina-se, em
geral, a promover o desenvolvimento económico da colónia de Angola e, em
especial, a explorar o privilégio de emissão de notas de banco na referida
colónia e exercer todas as demais operações que lhe forem permitidas nos
termos do presente estatuto e da lei”.

Por força daquele diploma legal as competências do Banco de Angola foram


alargadas, dotando-lhe o verdadeiro estatuto de banco emissor. Dentre as
várias funções ressalte-se as seguintes: criar e emitir notas de banco;
descontar e redescontar letras e livranças; conceder, por período não
superior a cento e oitenta dias, empréstimos em conta corrente e
suprimentos devidamente caucionados; emitir saques, à vista e a prazo, e
cheques nominativos ou ao portador; negociar, descontar e comprar
cheques e saques à vista e ordens de pagamento; fazer empréstimos sobre
penhores; comprar e vender ouro e prata em moeda ou em barras, letras
cambiais, títulos de crédito nacionais e estrangeiros; recolher depósitos de
quaisquer somas à ordem, a prazo ou em conta corrente; etc.

Desta infinidade de operações de crédito comercial, industrial e agrícola do


Banco de Angola faz sobressair a natureza, não só de banco emissor, mas
fundamentalmente a actividade comercial, e só a partir de 1957 é que o
Banco de Angola começou a contar com a concorrência de outros bancos e
instituições financeiras, contava já com a sede em Luanda, na Avenida
Paulo Dias de Novais.

Assim, às vésperas da independência nacional o sistema bancário angolano


era composto pelo Banco de Angola, como banco emissor e banco
comercial; por cinco bancos comerciais, nomeadamente, o Banco Comercial
de Angola (BCA), o Banco de Crédito Comercial e Industrial (BCCI), o Banco
Totta Standard de Angola (BTSA), o Banco Pinto & Sotto Mayor (BPSM) e o
Banco Inter Unido; e quatro estabelecimentos de crédito, a saber, Instituto
17
de Crédito de Angola, o Banco de Fomento Nacional, a Caixa de Crédito
Agro-Pecuário e o Montepio Geral de Angola.

Angola ascendeu à independência em condições adversas marcada por


certa hostilidade, a começar pelo fim que se pôs ao monopólio bancário que
servia os interesses de grandes grupos económicos estrangeiros. Em 14 de
Agosto de 1975 a banca foi tomada para, em 1976 nacionalizar-se o Banco
de Angola e o Banco Comercial de Angola (BCA).

Em decorrência da Lei 69/76 de 05 de Novembro, (publicada no Diário da


República nº 226 de 10 de Novembro de 1976) o Banco de Angola foi
confiscado e em sua substituição foi criado o Banco Nacional de Angola
(BNA). O diploma seguinte, Lei 70/76 da mesma data, confiscou o BCA,
instituindo em seu lugar o Banco Popular de Angola (BPA).

A actividade bancária passou a ser exclusivo monopólio do Estado,


fortemente influenciada pela Resolução sobre Política Económica aprovada
pela 3ª Reunião Plenária do Comité Central do MPLA, em Outubro de 1976 e
ratificada pelo 1º Congresso do MPLA, em Dezembro de 1977. Instituiu-se
assim um rigoroso sistema de controlo da economia nacional através do
plano, das finanças e da banca.

Apesar de existirem dois bancos, na realidade o modelo era de monobanco,


onde o BNA assumia as funções de banco central, banco emissor e banco
comercial, enquanto que o BPA funcionava apenas como caixa de captação
de poupanças, sendo-lhe vedado o exercício da actividade creditícia.

Refira-se que o modelo económico adoptado era o de economia centralizada


e planificada, assente no modelo socialista. A partir de 1987, com o colapso
do bloco socialista, deu-se início ao processo de rompimento com este
modelo de desenvolvimento, que só viria a concretizar-se em 1991 com a
abertura do negócio bancário à inicitaiva privada, com excepção à faixa de
banco central.

A Lei 04/91 – Lei Orgãnica do BNA, de 20 de Abril efectiva um sistema


financeiro de dois níveis, atribuindo-se a função de banco central e de
reserva ao BNA e as funções comerciais e de investimento e outras
instituições financeiras, estas criadas ao abrigo da Lei 05/91 de 20 de Abril
que introduz no panorama financeiro as figuras de instituições bancárias
(bancos comerciais e de investimento ou desenvolvimento), as instituições
especiais de crédito (cooperativas, caixas e mútuas de crédito e instituições
de poupança e crédito imobiliário) e as instituições parabancárias
(sociedades financeiras).

18
Neste novo panorama o BNA passou a dedicar-se à função de banco central,
transferindo de forma gradual a faixa comercial aos bancos comerciais.
Assim o BPA de simples caixa de captação de poupanças viu alargado o
âmbito da sua actividade passando a ter funções de banco comercial, e
através do Decreto 47/91 de 16 de Agosto, altera a designação para Banco de
Poupança e Crédito (BPC). Duas novas instituições públicas foram criadas,
nomeadamente o Banco de Comércio e Indústria (BCI), pelo Decreto 08-A/91
de 16 de Março, com início de actividade a 11 de Julho de 1991 e a Caixa de
Crédito Agro-Pecuária e Pescas (CAP), pelo Decreto 08-B/91 de 16 de Março, e
com início de actividade em 29 de Maio de 1991. Entretanto, esta última
instituição abriu falência e foi extinta a 26 de Maio de 2000, pelo Decreto
28/00.

Apesar do enquadramento jurídico-legal o permitir, só a partir de 1993 é


que começa a surgir no mercado financeiro nacional, instituições bancárias
estrangeiras e privadas, nomeadamente, sucursais de bancos portugueses,
como: o Banco Totta & Açores (BTA) em 29 de Abril de 1993 e transformado
em banco de direito angolano, com a designação de Banco Totta de Angola
(BTA), por decisão do Conselho de Ministros de Angola de 22 de Fevereiro
de 2002; o Banco de Fomento e Exterior (BFE) em 09 de Julho de 1993, e
transformado em banco de direito angolano, com a designação de Banco de
Fomento Angola (BFA), por decisão do Conselho de Ministros de Angola de
22 de Fevereiro de 2002; e o Banco Português do Atlântico (BPA) a 14 de
Maio de 1994, entretanto, transformado sucessivamente em Banco
Comercial Português (BCP) em 30 de Janeiro de 2002 e, posteriormente em
Banco Millennium Angola, por decisão do Conselho de Ministros do dia 22
de Fevereiro de 2006; e bancos privados de direito angolano como o Banco
Africano de Investimento (BAI) a 03 de Outubro de 1997; o Banco Comercial
Angolano (BCA) a 08 de Fevereiro de 1999; o Banco Sol (BS) a 08 de Outubro
de 2001; o Banco Espírito Santo Angola (BESA) a 24 de Janeiro de 2002; o
Banco Regional do Keve (BRK) com início de actividade a 01 de Outubro de
2003; o Novo Banco (NB) autorizado a operar a 19 de Novembro de 2003 e o
Banco Internacional de Crédito (BIC) autorizado a operar a 11 de Abril de
2005; e ainda outros bancos que têm estado a ser criados.

Actualmente o sistema creditício angolano está estruturado da seguinte


maneira, como se pode ver no quadro 4:

O Banco Nacional de Angola aparece como órgão reitor das entidades de


crédito, que são: os bancos, o Fundo de Desenvolvimento Económico e
Social, o Fundo de Fomento Empresarial, as Sociedades Cooperativas de
Crédito e as Sociedades de Micro Crédito.

19
Quadro 4. Entidades de Crédito em Angola

Banco Nacional de

Sistema Sociedades Sociedades Outras


Fundo Nacional Fundo
Cooperativ de Micro Entidade
de de
Foment
Bancos Instituições Caixa de
de Crédito
dos
Funcionários

Fonte: elaboração própria.

De acordo com a Lei 12/15, Lei de Bases das Instituições Financeiras,


entende-se por instituição de crédito toda entidade financeira bancária ou
não bancária que coloca ou promete colocar fundos à disposição de uma
pessoa singular ou colectiva contra a promessa de esta lhe restituir na data
de vencimento ou contrai, no interesse da mesma, uma obrigação por
assinatura, tal como uma garantia.

De acordo com esta Lei são consideradas instituições de crédito as entidades


financeiras bancárias (bancos e instituições de microfinanças); as
sociedades cooperativas de crédito; e as sociedades de micro crédito.

Como não existia um banco público de fomento, o Governo criou, segundo o


Decreto 21/99 de 27 de Agosto, o Fundo de Desenvolvimento Económico e
Social (FDES), com o objectivo de financiar acções que garantissem o
desenvolvimento económico e social nacional. Este Fundo é uma instituição
de crédito oficial e tem carácter transitório, até que estejam criadas as
condições para a existência de um banco de fomento. Este Fundo foi extinto
em 2006, com a criação do Banco de Desenvolvimento de Angola /BDA).

No ano 2006 criou-se o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) que é


uma instituição de crédito pública que tem como objectivo o estímulo da
iniciativa privada, visando a dotação de bens e equipamentos, a
capacitação e o acesso às novas tecnologias necessárias para a actividade
produtiva das pequenas, médias e grandes empresas.
Existe actualmente o Fundo de Fomento Empresarial criado em 2008. É
uma entidade de crédito pública que tem como objectivo servir de
mecanismo para potenciar o sector empresarial privado angolano. Este
fundo será dirigido preferentemente às empresas do sector industrial e
ajudará a reestruturar diversos projectos de investimentos já iniciados.

20
1.2. Intermediação Financeira e Prestação de Serviços

1.2.1. Intermediação Financeira

1.2.1.1. Caracterização e função económica das Instituições de Crédito


(IC)

Uma das funções fundamentais dos bancos e de outras IC no sistema


económico é a canalização da poupança para o investimento e consumo, e
isto não é mais do que intermediação financeira.

A Intermediação Financeira é a canalização, efectuada pelos bancos (e


outros intermediários financeiros) dos fluxos financeiros de sujeitos com
excedentes (Poupança) para os que deles têm carência (Investimento e
Consumo).
Esta função, que se materializa na captação das poupanças sob a forma de
depósitos e na sua cedência através da concessão de crédito, reveste-se
das seguintes características:

• O portador e o tomador de fundos não se conhecem;

• Os riscos inerentes à colocação (rentabilidade ou rendibilidade,


solvabilidade e liquidez) são assumidos pelas instituições
financeiras intermediadoras.

Paralelamente à actividade de intermediação financeira que é a


fundamental, os bancos desempenham ainda outras funções de natureza
complementar a esta, como sendo a realização de operações cambiais, a
realização de operações de desconto de títulos de crédito, a prestação de
garantias, guarda e gestão de carteira de títulos de clientes, guarda de
valores, aluguer de cofres, emissão de ordens de pagamento, etc.

A contabilidade bancária e a de outras IC como instrumentos para o


acompanhamento da actividade de uma instituição bancária ou afim
assume os dois seguintes tipos complementares de interesses:

̶ Do ponto de vista interno, de gestão, a contabilidade bancária ou a de


uma IC permite, de acordo com determinadas regras e procedimentos,
acompanhar a actividade do banco ou de outra IC em termos de
conhecimento da sua situação patrimonial (liquidez, solvabilidade,
compatibilização dos fundos próprios) resultados de exploração, etc.

̶ Do ponto de vista macro-económico, a contabilidade bancária ou a de

21
uma IC produz informação cujo interesse para a condução da política
económica é indiscutível, quer ao nível da política monetária (reservas
obrigatórias, redesconto, crédito interno) e quer ao nível da política
cambial (taxa de câmbio, disponibilidades sobre o exterior).

O posicionamento de um banco ou de uma IC no sistema económico


envolve a necessidade de pautar a sua actividade assente num conjunto
de requisitos que vai da segurança ao sigilo bancário. O problema da
segurança está ligado à volatilidade da “mercadoria” transaccionada: o
dinheiro. Desse facto, uma das mais relevantes funções da banca consiste
na responsabilidade que assume na sua função creditícia substituindo-se
ao sujeito que cede as poupanças. Esta função configura importantes
ganhos sociais graças à especialização e à dispersão de riscos que, deste
modo são conseguidos. Complementarmente a este aspecto de confiança
recíproca em termos de solvência patrimonial, coloca-se uma outra
questão também muito ligada à especificidade da função, a necessidade
de manter sigilo sobre a natureza das operações.

1.2.1.2. Evolução da função sócio-económica de um banco ou de uma


IC

Actualmente, com os ventos da globalização e os significativos avanços


nas tecnologias de informação e comunicação, verifica-se novas
tendências nos sistemas financeiros modernos, com particular realce para
os bancos e demais IC que cada vez mais vão diversificando o seu âmbito
de actividade e de negócios, adoptando hoje a figura de banca universal.

Mais do que simples intermediários financeiros os bancos e outras IC


direccionam as suas acções em várias vertentes: desintermediação,
concorrência, titularização, universalização, inovação, liberalização e
internacionalização.

Tradicionalmente o financiamento das economias era realizado,


sobretudo, por intermédio das instituições bancárias, e ainda hoje o é, em
larga medida.

Todavia, a actuação das instituições bancárias tem vindo a afastar-se cada


vez mais da sua função clássica de intermediação financeira, receber
depósitos e conceder créditos, ou seja, transformar os depósitos em
créditos.

Os bancos passaram a competir directamente com outras empresas


financeiras na prestação de novos serviços, e estas, por sua vez,
apresentam também produtos dirigidos aos clientes tradicionais da
22
banca. Esta “despecialização” institucional dos bancos tem permitido o
surgimento da concorrência, que se impõe cada vez mais com uma certa
agressividade e a inovação que ocorre nas técnicas utilizadas para
realizar as operações tradicionais e nas formas de operar.

Regra geral, a actividade bancária e de crédito, pela sua especificidade e


repercussões económicas, foi sempre alvo de uma cerrada
regulamentação por parte dos poderes instituídos. No entanto, devido às
pressões resultantes das rápidas transformações económico-financeiras
mundiais, tem havido necessidade de ultrapassar esses limites,
procurando novos produtos, mais concorrenciais e que possam satisfazer
as necessidades cada vez mais diversificadas dos clientes. A
desregulamentação, uma das tendências observadas nos sistemas
financeiros modernos, significa o aligeiramento, em geral, da legislação
sobre mercados financeiros.

Isto significa que é necessário estabelecer um equilíbrio entre a


regulamentação indispensável e a flexibilidade suficiente, de modo a
permitir a adaptação e a expansão do mercado.

1.2.1.3. Conceito e Objectivos dos Intermediários Financeiros

Um sistema económico é muito mais que uma constelação de mercados,


pressupõe a existência de um quadro institucional, dentro do qual actua
uma estrutura de poder capaz de exercer o controlo e coordenar as
actividades económicas.

A economia dos nossos dias, é cada vez mais complexa. A sua análise e o
seu entendimento requerem processos sofisticados e grandes doses de
imaginação. As inter-relações entre a economia real e os sistemas
financeiros são de tal tenor que, não somente a actividade e o
comportamento de um afecta sensivelmente à conduta do outro, senão
que determinadas entidades financeiras e agentes produtivos de outros
sectores, são partes integrantes de uma mesma unidade de decisão. Tudo
isto deve entender-se como uma resposta ao processo de crescimento
seguido por determinado sistema económico.

Os activos financeiros emitidos pelas unidades económicas de gasto para


cobrir o seu déficit podem ser adquiridos directamente pelos que poupam
últimos da economia. Mas, à medida que esta se desenvolve torna-se
necessária a aparição de instituições que medeiem entre os agentes com
superávit e aqueles que possuem déficit com o fim de tornar baratos os
custos na obtenção de financiamento, e de facilitar a transformação de
uns activos em outros, tornando-os mais atractivos para ambos.
23
O processo de transformação, exige um custo que naturalmente teremos
que acrescentar ao preço da matéria prima - os depósitos, etc. - para
determinar o preço do produto - o crédito -. Parece que o papel da banca
será o de tentar obter a matéria prima ao menor preço e reduzir ao
máximo os gastos de transformação, para conseguir um produto barato.
Quanto mais reduzidos forem os gastos de transformação por unidade de
produto, mais eficiente será o sistema.

Citando Antonio Torrero, “as empresas financeiras têm características


específicas que tornam aventurado alargar a elas a lógica que
normalmente se admite em empresas dedicadas a actividades produtivas.
As mais importantes são, por um lado, a maior possibilidade de fuga em
situações difíceis, com a tentação que isto supõe de aceitar níveis
crescentes de risco, com o objectivo de manter a rentabilidade; e, por
outro lado, a superior capacidade de demorar a aparição de perdas reais,
o que implica que estas podem-se acumular e que, quando se manifestam,
a sua dimensão cause surpresa”.

“Os intermediários financeiros se definem como o conjunto de instituições


especializadas na mediação entre os prestamistas e os que pedem
emprestado últimos da economia”. Em qualquer economia, muitos outros
agentes são ao mesmo tempo prestamistas e os que pedem emprestado.
Muitas famílias e empresas têm depósitos bancários ou Letras do Tesouro,
e são titulares de crédito ou investem em outras empresas e ao mesmo
tempo, desfrutam de linhas de crédito.

“Ao buscar-se uma caracterização precisa do papel dos intermediários


financeiros, não bastaria dizer que são agentes económicos que
emprestam e pedem emprestado fundos, pois o mesmo fazem muitos
outros agentes, mas deveria precisar-se que tal actividade de emprestar e
pedir emprestado constitui o eixo básico da sua actividade mercantil e na
razão da sua existência e que estão sempre dispostos a receber todos os
fundos que se deseje depositar a taxas de juros anunciadas”.
“Neste sentido, os intermediários financeiros diferenciam-se dos agentes
mediadores (dealers) em que estes compram e vendem activos financeiros
para manter um património, não originando na sua actividade nenhum
câmbio nos activos negociados, pois os dealers não criam novos nem
diferentes activos. Pelo contrário, os intermediários financeiros adquirem
activos como forma de investimento e não os revendem, mas, com base
neles, criam activos novos que colocam entre os que poupam, obtendo
destes os fundos necessários para a realização dos seus investimentos”.

24
1.2.1.4. Vantagens da Intermediação Financeira

A função de mediação financeira é geralmente vantajosa para todas as


unidades económicas, tanto para os prestamistas como para os que pedem
emprestado. Com efeito, para os primeiros porque os intermediários
financeiros lhes oferecem novos activos financeiros (indirectos) em que
materializar a sua riqueza, a uns custos muito inferiores aos que pagariam
se tivessem que ir ao mercado para consegui-los. Por outro lado, a mediação
financeira também gera vantagens para os que pedem emprestado últimos
ao facilitar-lhes a movimentação dos fundos de financiamento e a redução
do custo do mesmo, melhorando as oportunidades de obter recursos dos
pequenos poupadores que, na ausência dos intermediários, na maioria dos
casos, não iriam ao mercado, diminuindo assim os fundos disponíveis para
serem adquiridos pelas unidades económicas deficitárias.

Como vantagem adicional dos intermediários, podemos dizer que, em


igualdade de rendimento, o prestamista preferirá obter um direito sobre as
receitas futuras do intermediário em vez de um direito sobre as receitas
futuras do que pede emprestado último. Unicamente preferirá a este sobre
aquele, no caso de que os seus passivos sejam oferecidos a uma taxa de juro
superior.

O papel chave dos intermediários financeiros numa economia é o de


"aceitar passivos dos que pedem emprestado últimos que os poupadores
últimos não aceitariam e emitir passivos para estes agentes, cuja duplicação
não está ao alcance dos que pedem emprestado". Este processo de
transformação de activos constitui a base de actuação dos intermediários
financeiros que, ao exercê-la, criam activos de características únicas, dentro
da diversidade de formas que podem revestir (contas correntes, depósitos a
prazo, bónus bancários, apólices de seguros, etc.).

Os recursos da economia são movimentados no mercado, na sua maior


parte, por intermediários financeiros, que trabalham de forma especializada
e voltados para entrosar expectativas e interesses de agentes económicos
com capacidade de poupança, com os tomadores de recursos.

O objectivo de crescimento e desenvolvimento económico dos países elevou


a importância do papel do sistema financeiro, por meio, principalmente do
seu aporte de liquidez ao mercado e oferta diversificada de recursos para
financiamento.
O aperfeiçoamento dos mecanismos de intermediação financeira contribui
de forma relevante para o bem estar económico de um país, actuando sobre
os níveis de poupança, investimento, rendas, taxas de emprego, consumo,

25
entre outros.

Um país para se desenvolver tem de investir, aumentando desta forma a sua


capacidade produtiva, promovendo o emprego, factor determinante de
melhoria das condições sociais da população. Com a elevação do nível de
vida os sujeitos económicos estarão em condições de alocar cada vez mais
recursos em poupanças, factor crítico para as necessidades financeiras de
investimento, e assim, retoma-se o círculo virtuoso de desenvolvimento, com
os bancos a exercerem o papel de impulsionador do desenvolvimento, pois
na sua actividade de intermediação financeira, transformam recursos
ociosos (poupanças) em recursos produtivos (investimentos), combinando,
de forma racional e equilibrada, as expectativas dos agentes, detentores de
poupanças, às necessidades dos agentes tomadores de recursos.

Portanto, a intermediação financeira é de longe a mais importante fonte de


recursos para as necessidades de investimento, com vantagens e
comodidade para os seus intervenientes. Estas vantagens decorrem dos
seguintes factores:

▪ Custos de transacção: são os custos de tempo e dinheiro gastos ao se


tentar efectuar uma troca de activos financeiros, bens ou serviços. O
sistema financeiro actua como intermediário entre aforradores e
tomadores de empréstimos, pois reduz os custos de transacção ao
prover serviços financeiros;

▪ Economias de escala: é a redução de custos por unidade monetária


transaccionada decorrente do aumento do número de transacções;

▪ Assimetria de informação: problemas de assimetria de informação


surgem sempre que uma das partes envolvidas numa transacção não
tem toda a informação relevante para tomar uma decisão correcta;

▪ Selecção adversa: é o problema gerado pela assimetria de informação


antes que a transacção seja efectuada. Em mercados financeiros o
problema de selecção adversa ocorre porque os tomadores de
empréstimos que têm a maior probabilidade de produzir um resultado
indesejável do ponto de vista do emprestador de recursos são
exactamente aqueles que mais activamente procuram tomar
empréstimos e portanto são os que mais provavelmente sejam
seleccionados para recebê-los.

▪ Risco moral: em mercados financeiros o risco moral ocorre quando,


depois que uma transacção foi efectuada, existe o risco de que o
tomador dos recursos se engaje em actividades indesejáveis (que
26
reduzam o retorno ou aumentem o risco do investimento) do ponto de
vista do emprestador.

1.2.1.5. Tipos de Intermediários Financeiros

Podem existir (e existem de facto) diferenças entre os países. Segundo as


suas características e modalidades, pode-se distinguir em linhas gerais dois
tipos de intermediários financeiros: os intermediários financeiros bancários
e os não bancários.

. Intermediários Financeiros Bancários

Estes estão constituídos pelo Banco Central e as entidades bancárias, e se


caracterizam porque uma parte dos seus passivos (notas e depósitos à vista)
são passivos monetários, isto é, aceites geralmente pelo público como meio
de pagamento e, portanto, são dinheiro. Estas instituições podem gerar
recursos financeiros, não se limitando a realizar uma função de mediação
bancária.

Dentro dos intermediários financeiros bancários, o Banco Central é o


encarregado de executar a política monetária do governo, enquanto que as
entidades bancárias realizam operações activas com particulares, empresas
e outras instituições, para o qual necessita captar recursos mediante a
geração de depósitos à vista, a prazo, etc.

. Intermediários Financeiros não Bancários

Estes, à diferença dos anteriores, os seus passivos não são dinheiro, por isso,
a sua actividade é mais mediadora do que a daqueles. Dentro dos
intermediários financeiros não bancários podem-se incluir uma grande
variedade de instituições, com características próprias para cada país, mas
que se podem recolher nos seguintes subgrupos:

a) Intermediários financeiros não bancários cujos passivos, ainda que


não sejam dinheiro, têm, em linhas gerais, um valor monetário fixo e
podem ser convertidos em dinheiro com facilidade. Neste subgrupo se
incluem as instituições de poupança (caixas de poupança e
cooperativas de crédito de alguns países, sociedades de empréstimo à
construção) que captam recursos através de depósitos de poupança, a
prazo e certificados de depósito, que ao serem de giro lento, lhes
permitem conceder empréstimos a médio e longo prazo e adquirir
activos de renda fixa a longo prazo.

Na actualidade, as Caixas de Poupança e as Cooperativas de Crédito

27
aparecem, em muitos países, dentro dos intermediários financeiros
bancários pois que, como a banca, captam recursos à vista
mobilizáveis mediante cheque, que constituem dinheiro.

Também neste subgrupo incluem-se por um lado os bancos de


negócios que captam recursos a médio e longo prazo mediante
depósitos a prazo ou emissão de bónus ou acções e proporcionam
financiamento a médio e longo prazo aos interessados, e as
companhias de financiamento de vendas a prazo, que tomam crédito
a curto e médio prazo ou recebem depósitos para financiar vendas a
prazo, em especial bens de consumo duradouro.

b) Instituições cujos passivos têm um valor monetário que pode variar


com frequência. Trata-se basicamente dos fundos e sociedades de
investimento que colocam os seus participantes ou acções,
geralmente, entre os pequenos poupadores com o fim de obter
recursos para a aquisição de valores bolsistas, sobretudo acções.

c) Instituições seguradoras, entre as que se incluem as companhias de


seguros, cuja função mediadora é subsidiária da sua actividade
seguradora de riscos, que é a principal. Estas instituições se
caracterizam por acumular importantes reservas a partir dos prémios
dos segurados, que investem em obrigações, acções, etc.
À diferença dos anteriores, os seus passivos só podem ser convertidos
em dinheiro antes do momento previsto (sinistro, aposentação, etc.)
com fortes perdas e grandes restrições.

1.2.1.6. Serviços Prestados pelos Intermediários Financeiros aos


Agentes Económicos

• Redução do Risco

A actuação dos intermediários financeiros permite reduzir o risco dos


diferentes activos mediante a diversificação da carteira. Além disso, estes
podem obter, a longo prazo, um rendimento de suas carteiras superior ao
obtido por qualquer agente individual ao aproveitar as economias de escala
que se derivam da gestão das mesmas. Estas economias de escala aparecem
por três razões fundamentais:
1. Indivisibilidades: dado o volume elevado de recursos que dispõem os
intermediários financeiros podem adquirir activos de qualquer valor

28
nominal, circunstância que pode estar vedada a muitos indivíduos
cujos recursos sejam inferiores a estes nominais mínimos. Por isto, o
intermediário financeiro pode diversificar mais, porque a sua carteira
de activos é maior.

2. Economias de gestão: num mercado financeiro, caracterizado por


correntes contínuas de informação, é necessário obter os
conhecimentos mais completos, rápidos e fiáveis sobre a evolução dos
mercados, preços, desenvolvimento futuro dos mesmos, etc. Dado o
volume de operações de um intermediário financeiro, este pode
dedicar maior quantidade de recursos para aceder a esta informação
e, o fará de forma mais eficiente, dado que estas instituições (Bancos,
Caixas de Poupança, Companhias de Seguro, etc.) têm um grande
número de profissionais que se dedicam a tempo completo a manejar
as suas carteiras de activos em função desta informação que obtêm.

3. Economias de transacção: refere-se a que as carteiras dos indivíduos


não permanecem constantes ao longo do tempo, mas que, pelo
contrário, requerem câmbios nos seus activos, os quais supõem custos
de transacção (impostos, direitos e comissões de mediadores, etc.).

Ao estabelecer estes custos normalmente como uma quantia fixa, ou de


forma decrescente ao valor da operação, os intermediários financeiros
incorrem em custos mais baixos e obtêm rendimentos mais altos que os de
um investidor particular.

Estas três razões permitem aos intermediários financeiros obterem um


rendimento da sua carteira de activos superior, para qualquer nível de risco,
comparando com o que poderia obter um agente particular que só
dispusesse de um volume de fundos relativamente pequeno. Desde o ponto
de vista económico, provavelmente o oferecer direitos sobre uma carteira
diversificada de activos é a função crucial dos intermediários financeiros e a
que melhor explica o seu papel na economia.

• Adequação às necessidades de prestamistas e dos que pedem


emprestado

A actuação dos intermediários financeiros permite adequar-se às


necessidades de prestamistas e dos que pedem emprestado. Com efeito,
mediante, basicamente, a transformação dos prazos das suas operações,
podem realizar tal adequação. Esta transformação significa de maneira
simples que captam recursos a curto prazo, e cedem-nos a prazos maiores.
Desta forma, esta actuação permite que prestamistas e os que pedem
emprestado não necessitem pôr-se previamente de acordo sobre o prazo da
29
operação concertada.
Não obstante, a transformação do prazo das operações pelos intermediários
financeiros supõe um risco para eles, não reduzível através da
diversificação e, consistente na possibilidade de que as taxas de juros a curto
prazo se elevem, tendo que pagar mais pelos recursos captados neste
período de tempo que pelos emprestados a prazo mais longo. Para fazer
frente a este risco, o intermediário estabelece um diferencial favorável de
interesses entre ambos prazos.

• Gestão do Mecanismo de Pagamentos

Os intermediários financeiros realizam a denominada gestão do mecanismo


de pagamentos. Para isto, os intermediários financeiros bancários admitem,
entre outros, depósitos em conta corrente, cujos talões comprovativos são
utilizados habitualmente como meios de pagamento. Assim, os
intermediários têm um papel central neste mecanismo de pagamentos da
economia através do abono ou do encargo destes talões nas contas dos
agentes económicos.

1.2.1.7. O Risco das Operações de Crédito

1.2.1.7.1. O Risco no Crédito Bancário e no de Outras IC

Em qualquer operação de crédito está subjacente o risco que em certa


medida é coberto pelo juro. A cobrança de juro, prática comum nos dias de
hoje, começou por ser condenada, na idade média, pela Igreja Católica. A
condenação da cobrança do juro pela Igreja, causou uma certa paralisação
na actividade bancária durante aquela época e foram os judeus que
passaram a desempenhar um papel preponderante nesta actividade.

A contrariar a tese de São Tomás de Aquino, segundo a qual quem receber


juro por empréstimo está a praticar um acto injusto, porque está a vender
algo que não existe, surgem duas teorias:

▪ A do lucro cessante; quem tem dinheiro pode aplicá-lo de modo a obter


um lucro e, se o empréstimo impede a obtenção desse lucro, então é
legítimo cobrar um juro em compensação do lucro que se deixou de
obter;

▪ A do dano emergente; quem empresta dinheiro corre o risco de este lhe


não ser restituído e, portanto, o juro será uma compensação por esse
risco.

O risco é um dos elementos fundamentais, ligado à essência do próprio

30
crédito, na apreciação e decisão de qualquer operação. Toda e qualquer
operação de crédito comporta em si um risco e neste sentido deve ser
considerado.

É evidente que o risco tem um campo de análise muito vasto, por vezes,
difícil, complexo, e, em muitos casos, até subjectivo.

Desde logo porque tem origens, razões e natureza muito diversificadas.


Depois porque, também, os diversos intervenientes ou agentes têm perante
o risco atitudes diferenciadas que resumiríamos nos seguintes tipos:
➢ Há os que têm aversão ao risco; isto é: não querem correr riscos ou,
quando muito, ponderam demoradamente o risco que podem correr
e só o correm se a rentabilidade lhes for elevada e muito atractiva.
➢ Há os que são indiferentes ao risco; não ponderam suficientemente os
riscos que correm, quando não mesmo os ignoram ou negligenciam.

➢ Há, ainda, o “jogador” que gosta de correr riscos ou tem perante eles
uma atitude de confrontação ou desafio; sente-se atraído pelo abismo
e gosta de experimentar a sensação.

➢ Há, finalmente, aqueles – e julgamos que os mais avisados – que


aceitando, conscientemente, correr riscos, sabem ponderá-los e
avaliá-los correcta e sensatamente no momento próprio.

Por outro lado, as técnicas de análise do risco têm vindo, ao longo dos
tempos, a experimentar diversas adaptações face a crescente complexidade
e volume do crédito e, também, às novas tecnologias e recursos de gestão
disponíveis, mas visando sempre minorar a influência dos riscos de
natureza subjectiva.

Encontramos, assim, técnicas baseadas em documentos financeiros


(balanços, demonstração de resultados, orçamentos, etc.) e que se apoiam
em simples indicadores relacionados com a liquidez, solvabilidade, grau de
endividamento, de autonomia financeira, etc.

Outras, mais recentes e em desenvolvimento, baseadas em dados de


mercado, estatísticas externas e outras que, utilizando o sistema de rácios,
permitem situar a empresa no respectivo sector de actividade em termos de
risco comparado.

Uma dessas técnicas, em fase de adaptação e desenvolvimento, mas cuja


prática se vem gradualmente implementando, é o chamado “scoring”.

Como método de análise do crédito, fundamentalmente aplicável ao


31
“crédito aos particulares”, visa a análise objectiva do risco, procurando
avaliar a capacidade e solvabilidade do cliente. Baseia-se na combinação
sistematizada de indicadores, principalmente através da quantificação de
certos elementos do crédito, mais ou menos relevantes e considerando as
características da operação. A pontuação final, comparada com uma
notação padrão previamente definida, marcará objectivamente a decisão,
visando, também deste modo, reduzir o carácter subjectivo mas que, apesar
de tudo, se torna muito difícil evitar.

O “scoring” como método ainda, relativamente, recente de avaliação


aplicado ao “crédito pessoal a particulares” tem, também em vista a
celeridade ou quase automatização do processo de concessão de crédito,
uma vez que se trata duma modalidade prática mais ou menos simples, em
rápida e crescente expansão suscitando grande dinamismo e agressividade
entre a concorrência bancária e de outras IC.

Associado à natureza intrínseca do crédito, toda a operação de crédito


envolve risco, ou seja: a possibilidade ou probabilidade de não ser paga em
tempo devido, por razões de vária ordem.

O risco é, assim, um elemento básico na apreciação do crédito e que,


normalmente, se mantém ao longo do decurso da respectiva operação.

1.2.1.7.2. Sua Origem

A origem do risco, pode ser muito diversa e poderíamos, globalmente,


ordená-la da seguinte forma:

1. De origem geral, relacionada com:

➢ Situação político-económica nacional e internacional;

➢ Conflitos sócio-laborais;

➢ Catástrofes naturais;

➢ Revoluções, conflitos militares, razões políticas, etc.

2. De ordem particular, relacionada com:

➢ Situação concreta do cliente: Sua reputação, idoneidade, experiência


profissional, capacidade e conhecimentos de gestão, situação
económico-financeira, posicionamento na concorrência e seu grau de
domínio ou dependência, condições de instalação e exploração da

32
empresa, etc. Apreciado de outra forma poderíamos assim sintetizar:

• Risco de negócio: Associado à gestão da exploração e às


condições do negócio;

• Risco financeiro: Associado à estrutura e situação financeira da


empresa.

➢ Condições concretas da operação: Relacionadas com o seu objectivo


ou finalidade, montante, prazo, forma de utilização, plano de
pagamento, modalidade do crédito, tipo e valor das garantias, etc.

➢ Situação e perspectivas do sector de actividade ou ramo profissional:


Competitividade, tendências sectoriais de evolução,
condicionamentos de natureza interna e externa, origem e condições
de abastecimento dos mercados nacionais e internacionais, fontes e
stocks das matérias primas, grau de evolução tecnológica,
características próprias da actividade (agrícola, comercial, industrial,
turística, serviços, etc.) ou do ramo profissional e seu enquadramento
nas condições, exigências e garantias do mercado de trabalho e
outras.

1.2.1.7.3. Sua natureza

Também o risco pode advir ou estar associado a situações, origens e razões


de variada natureza, entre as quais destacaremos:

1. Subjectiva

O risco de natureza subjectiva não é quantificável e depende:

• Das análises pessoais, dos conhecimentos, experiência, isenção, senso


e sensibilidade dos analistas e decisores do crédito;

• Da valoração feita, diferente de indivíduo para indivíduo, de certos


aspectos, especialmente de natureza pessoal, como sejam: idoneidade,
seriedade, competência, vocação, confiança, etc. Neste particular
dificilmente um sujeito será apreciado exactamente da mesma
maneira por duas pessoas diferentes, porque diferentes serão,
também, os juízos de valor, as sensibilidades e os conceitos – é a
subjectividade em presença com os seus efeitos.

Só por estas razões se poderá afirmar que há sempre um risco potencial em


qualquer operação de crédito, que deve ser minorado independentemente

33
do rigor técnico da análise ou da natureza das garantias. Hoje em dia existe
uma clara tendência, até pelos meios tecnológicos disponíveis, mais ou
menos sofisticados, de reduzir o peso e influência dos riscos de natureza
subjectiva nas decisões de crédito.

2. Objectiva

O risco de natureza objectiva é quantificável, por isso, susceptível de


tratamento e verificação por:

• Análises cuidadas de balanços, fichas de posição e de


responsabilidades;

• Apreciação das características e condições concretas das operações e


dos negócios;

• Estudos económicos de mercado, de sectores de actividade, etc.

3. Previsível

Por factos mais ou menos identificáveis ou apreendidos pelo senso comum


ou através da consulta de elementos ou instâncias fidedignas e, ainda, por
via de captação de sinais de alerta mais ou menos reveladores.

Estes sinais ou a sua interpretação, contendo uma natural carga subjectiva,


podem, no entanto, despertar ou direccionar a atenção para uma atitude
mais cuidadosa e preventiva.

4. Imprevisível

Por factos desconhecidos ou de difícil ou impossível determinação e


controlo, como sejam, por exemplo: a concorrência inesperada de uma
grande multinacional que provoque distorções profundas no mercado,
falência do principal cliente ou fornecedor, encerramento inesperado da
principal fonte de abastecimentos de matéria prima, incêndio, catástrofe,
conflito armado, etc.

No entanto, em qualquer destes dois últimos aspectos do risco – previsível e


imprevisível – é sempre de interesse avaliar e considerar o grau respectivo,
para se ponderar sobre a maior ou a menor exposição ao risco e daí se
anteciparem medidas adequadas à sua prevenção e defesa. A experiência
ou maturidade, associadas à capacidade de observação e interpretação e
análise, podem ter, também aqui, a sua benéfica influência.

1.2.1.7.4. Divisão e Prevenção


34
Sendo o risco um elemento intimamente associado ao crédito bancário,
haverá que atender a algumas recomendações, procedimentos ou cautelas
para o prevenir, ou sempre que possível, para dividir e amortecer o seu
peso e influência. Indicamos algumas delas:

1. Divisão/Diversificação da clientela

Evitando concentração excessiva das responsabilidades, mas alargando o


leque de clientes e, assim, dividir o risco.

2. Divisão do montante das operações

Evitando excessivas responsabilidades num número muito restrito de


operações e, assim, reduzir os efeitos negativos de uma operação mal
sucedida.

3. Diversificação dos sectores de actividade

Evitando excessiva concentração ou dependência de um só sector de


actividade ou de um único mercado e dos seus riscos próprios, face às crises
ou perturbações graves a que possam estar sujeitos.

4. Diversificação territorial

Minorando o risco duma excessiva concentração territorial ou regional e


dos prejuízos, crises, catástrofes ou conflitos graves que a possam afectar.

1.2.1.7.5. Classificação do grau de risco

Tendo a sua importância na análise da situação geral do banco também o


grau de risco é variável consoante a área de análise em que é avaliado.
Podemos destacar três:

1. Por clientes

Para o efeito, deverá tomar-se particularmente em conta:

➢ Montante, natureza e tipo das suas responsabilidades e prazos;

➢ Tipo e valor das garantias existentes;

➢ Finalidade das operações, sabendo-se que consoante o objectivo, o


interesse e a oportunidade da sua aplicação, assim poderá variar o
grau de risco;

35
➢ Situação económico-financeira e conclusões da análise de balanços
com destaque para os coeficientes de liquidez, solvabilidade e
endividamento;

➢ Outros elementos de análise relativos à idoneidade, competência e


comportamento do cliente perante o banco, ao grau de modernização
e eficiência do seu equipamento e instalações, ao conceito e
influência no mercado, etc.

2. Por sectores de actividade económica

Embora, aqui, a classificação seja um tanto aleatória de elementos que


encerra, convirá reter alguns aspectos como sejam:

➢ Se estamos perante uma actividade em expansão, em recessão ou em


crise; de futuro, tradicional ou em vias de extinção; de grande
exigência tecnológica, de predominância artesanal ou intermédia, etc.
Cada uma destas situações terá, necessariamente, um grau de risco
diferente que convirá identificar com alguma objectividade.

➢ Ponderar as suas características ou tipo de risco a que a actividade


esteja sujeita, consoante pertença ao sector primário, secundário ou
terciário, sendo certo que mesmo entre sectores há, por vezes
diferenciação assinalável de grau de risco.

➢ Conhecer o tipo e grau de concorrência a que o sector esteja exposto e


os meios de defesa de que, eventualmente, disponha.

➢ Avaliar se o risco a que o sector esteja sujeito é, normalmente,


prolongado, efémero ou acidental ou, ainda, de natureza ciclo-sazonal,
estrutural ou, simplesmente conjuntural.

3. Por países/regiões

O recurso a estudos ou relatórios de entidades ou organismos


internacionais e a consulta de publicações ou revistas da especialidade
poderão, entre outras fontes de informação, constituir um importante
auxiliar no conhecimento de situações que interessam à classificação do
grau de risco do país ou região, como sejam:

➢ A situação sócio-política e económico-financeira;

➢ O conceito e credibilidade internacional;


36
➢ O grau de endividamento interno e externo;

➢ O posicionamento no ranking internacional relativo ao risco-país;

➢ E ainda informação sobre a influência e posição relativa no comércio


internacional e, também, sobre os usos e costumes próprios seguidos
nas práticas comerciais.

4. Sua importância na análise da situação do banco ou doutra IC

A classificação do grau de risco assim ordenada, constituindo um valioso


suporte na apreciação do crédito, tem ainda, manifesta importância para:

➢ A análise da situação geral da IC, designadamente poder fazer uma


avaliação mais correcta das áreas mais sensíveis de risco em que está
envolvido;

➢ O estudo da composição qualitativa da sua carteira de crédito/clientes


e daí poder fundamentar critérios selectivos e rigorosos para a
constituição de provisões de crédito;

➢ A definição de uma mais adequada política de crédito;

➢ A estruturação dum plano estratégico e de desenvolvimento orientado.

1.2.1.7.6. Influência do grau de risco

O conhecimento do grau de risco do crédito concedido é de particular


interesse para a gestão da IC, pois que lhe confere elementos com especial
influência e relevância:

➢ Na selecção e classificação da sua carteira de clientes;

➢ Na política de concessão de linhas e limites de crédito;

➢ Na fixação das taxas de juro e condições à clientela, dado que, o grau


de risco da operação e do cliente é um importante factor a ponderar
nesta matéria.

Hoje em dia vai-se acentuando a prática de estabelecer a taxa de juro,


também em função do grau de risco-cliente, partindo duma taxa base como
a “prime-rate”, “lisbor” ou “euribor” por exemplo, nas operações

37
domésticas. Também nos empréstimos internacionais o grau de risco-país é
elemento fundamental na definição da respectiva taxa de juro. Daí haver
países com taxas de juro bem mais gravosas que outros, face ao seu
posicionamento mais desfavorável no ranking internacional:

➢ Na definição do seu posicionamento e participação nas operações de


crédito internacional, ou até na sua integração em sindicatos bancários
para participação em certos tipos de operações;

➢ Na orientação geral da política de crédito procurando, assim, faixas de


clientela, sectores de actividade e mercados preferenciais.

1.2.1.8. O MERCADO DE CRÉDITO

1.2.1.8.1. Caracterização Geral

O crédito bancário e o das IC, especialmente pela sua componente técnica e


efeito económico, baseia-se num conjunto de princípios, práticas e
fundamentos que o caracterizam e diferenciam das outras modalidades de
crédito.

Destacaríamos algumas destas características fundamentais:

1. Sua natureza e funções

➢ Praticado pelas diversas instituições do conjunto do sistema bancário e


financeiro;

➢ Gerador e mobilizador, por excelência, dos diferentes tipos ou


modalidades de crédito;

➢ Elemento regularizador da massa monetária na medida em que cria


moeda;

➢ Presta apoio efectivo ao tecido social e empresarial, satisfazendo


necessidades individuais, facilitando as transacções comerciais,
fomentando o investimento e favorecendo a activação do consumo, a
circulação, a transformação e a produção de bens e serviços.

➢ Em suma, promove e impulsiona o desenvolvimento sócio-económico


pela acção do crédito directo (concedendo fundos a favor das empresas
e particulares) e do crédito indirecto (caucionando
responsabilidades/compromissos ou obrigações dos seus clientes

38
perante terceiros).

2. Condições-base que deve satisfazer

➢ Idoneidade, confiança, honestidade e credibilidade dos peticionários e


demais intervenientes;

➢ Conhecimentos e capacidade de gestão dos empresários;

➢ Situação e capacidade económico-financeira das empresas ou


particulares;

➢ Finalidade e condições do pedido de crédito (montante, modalidade,


tipo de negócio aplicado, prazo, plano de pagamento e garantias);

➢ Confiança e segurança do crédito que assegurem o seu reembolso


atempado, eliminando ou reduzindo, assim, o risco inerente a
qualquer operação de crédito;

➢ E, também, não tanto como condição-base mas como elemento


importante, a rentabilidade, tendo em particular atenção os factores:
tempo, prazo, risco e natureza da operação e/ou do cliente.

3. Imobilização

Uma característica base e importante a que nem sempre se dá o devido


relevo é a mobilidade ou a renovação do crédito, evitando, assim, os
inconvenientes de imobilização – causa grave de crises bancárias no
passado – que, fundamentalmente, representa um risco e um custo.

➢ Um risco, porque reduz a mobilidade dos fundos que, em situação


limite, pode até bloquear a capacidade de concessão de crédito, pondo
em perigo a própria actividade da instituição. Daí, por exemplo, a
importância duma carteira de créditos ou de outros recursos
facilmente mobilizáveis, também como forma de contribuir
positivamente para a composição dos rácios de liquidez ou atenuar
situações de grave crise económica, normalmente propícias ao
agravamento das imobilizações pelo natural crescimento do crédito
mal parado.

É óbvio que se o risco de imobilização é perigoso o risco de perda é grave,


pois que é à sua responsabilidade que o banqueiro aplica os fundos nele
depositados e não deve, por isso, dentro duma gestão prudente, praticar
operações de crédito de risco muito exposto ou excessivo.
39
➢ Um custo que é inerente à imobilização de capitais. Não havendo
renovação dos capitais não haverá crédito novo, não se pode alargar o
crédito a novos clientes. Limita-se assim a expansão das actividades do
banco e restringe-se o gerar de receitas.

E quanto mais rígido e mais volumoso for esse imobilizado maior será o
custo.

Com efeito, o crédito, como o sangue, deve circular pelas vias certas e no
ritmo adequado para alimentar e revigorar as células do tecido económico e
social. Quanto mais circular mais gente serve e mais actividades suporta e
desenvolve. A imobilização, pelo contrário, corresponde à estagnação, é
improdutiva, não gera riqueza, tem custos e pode ser fatal.

4. Impacto económico

O crédito bancário e das outras IC assume-se como um vector poderoso,


autêntica alavanca, no desenvolvimento sócio-económico, em particular
pelas duas seguintes razões:

a. Meios e recursos que mobiliza

Efectivamente mobiliza avultados recursos e fundos, grande parte dos quais


representados pelos depósitos recolhidos dos clientes e doutras fontes
nacionais e internacionais, que distribui pelos mais diversos beneficiários,
agentes económicos e sectores de actividade, criando moeda e dinamizando
os mercados e a economia em geral.

b. Influência que exerce

Especialmente pela vasta rede geográfica dos sistemas bancário e de crédito


e pela intensa divulgação e distribuição do crédito, este passa a exercer
poderosa influência quer nos hábitos de consumo e satisfação doutras
necessidades dos indivíduos quer, ainda, no desenvolvimento das relações
comerciais, no apoio ao tecido empresarial, na criação de infraestruturas,
no fomento de obras públicas, etc.

Esta influência reforça-se ainda pelo prestígio, dimensão, segurança e


credibilidade generalizada das IC, parceiros indissociáveis do progresso e
desenvolvimento.

Particularmente no contexto actual, dominado pela globalização da


economia, a influência das vastas redes internacionais dos bancos e das

40
demais instituições financeiras, por vezes associadas ou cruzadas, revela-se
dum poder e duma força planetária decisiva e fundamental.

1.2.1.8.2. Sua relação com a empresa

A relação e funções do crédito bancário e das IC na empresa, que ao longo


dos tempos têm vindo a ser sujeitas a profunda evolução são hoje, por
demais variadas e complexas para que se esgotem numa qualquer listagem
que se pudesse elaborar.
Particularmente numa época de internacionalização e modernização da
economia e com a frequente criação de novos instrumentos de crédito e
práticas inovadoras para acorrer a situações e necessidades novas que
surgem no mercado, essas relações são cada vez mais estreitas e as funções
e objectivos do crédito cada vez mais vastos e complexos.

No entanto, à guisa de caracterização geral, poderíamos destacar um


conjunto de elementos definidores que enquadram essa relação, como
sejam:

➢ Segundo a linha mais tradicional, que vem perdendo gradualmente o


seu peso, o crédito bancário e de outras IC apresenta-se como um
mobilizador dos activos da empresa, em particular pelo desconto do
seu papel comercial e como garante dos seus compromissos ou
obrigações perante terceiros;

➢ Constitui-se, cada vez mais, como um reforço/complemento dos seus


capitais próprios, facilitando e promovendo o desenvolvimento da sua
actividade, seja pelo apoio às necessidades correntes ou periódicas de
tesouraria, seja pelo financiamento aos ciclos de exploração ou
investimento, incluindo novos projectos;

➢ Contribui, também, para o restabelecimento de desequilíbrios


financeiros temporários.

Em situações especiais, pode permitir a reestruturação ou saneamento


financeiro das empresas, desde que economicamente viáveis e sob
determinadas condições.

➢ Não deve, no entanto, substituir-se à função ou obrigação do


empresário ou gestor, nem confundir-se com os capitais próprios da
empresa – o que nem sempre é bem observado.

A função e o posicionamento do banqueiro ou do trabalhador das


instituições de crédito perante a empresa devem ser sempre bem distintos
41
dos do empresário, gestor ou dos comanditários; pois que eles, pela
concessão de crédito bancário ou de outras IC, apenas emprestam dinheiro
em determinadas condições e para determinados fins, e que devem receber
no prazo contratado.

➢ Assim sendo, o crédito bancário e o das outras IC, como capital alheio,
deve ter permanência temporária e não definitiva ou excessivamente
prolongada dentro da empresa, mas ajustada à finalidade de crédito e
da operação que o suporta;

➢ Deve atender ao desejável equilíbrio entre capitais próprios e capitais


alheios da empresa, tendo em conta que essa relação varia,
principalmente, de acordo com a natureza, dimensão e área da sua
actividade. Uma empresa comercial, por exemplo, não apresentará a
mesma relação de capitais que uma empresa industrial com um
elevado imobilizado em equipamentos e infraestruturas;

➢ Deve atender ao risco que resulta duma concessão de crédito


imprudente ou excessivamente arriscada que, em regra, exigirá novo
crédito para liquidação do anterior, por vezes em rotação ou cadeia
insustentável e perigosa.

Tal prática, a maior parte das vezes, não serve senão para disfarçar a
situação de crise da empresa, deteriorar as relações com a IC e protelar
decisões cada vez mais gravosas.
➢ Deve, ainda, ter sempre em conta a estreita co-relação existente entre
objectivo-prazo-segurança.

1.2.1.8.3. As Instituições de Crédito como agentes privilegiados na


concessão de crédito bancário e de crédito de outras IC

No passado as Instituições de Crédito estiveram sempre submetidas a


rigorosa legislação e cuidada fiscalização no exercício da sua actividade,
naturalmente por imperativo da sua própria natureza e importância e a fim
de lhes conferir a imprescindível credibilidade e confiança junto dos seus
depositantes e do público em geral.

Porém, face às rápidas e profundas transformações sócio-económicas, às


permanentes exigências dos mercados e às inovações tecnológicas, tem-se
vindo a assistir à frequente criação de novas práticas, conceitos e produtos
que visam satisfazer essas variadas necessidades e, também, ao
aparecimento duma rede cada vez mais diversificada de Instituições
Financeiras.

42
Daqui que se verifique um crescente movimento de liberalização e
desregulamentação que, sem perda do desejável rigor, permita uma maior
flexibilização para mais rápida adaptação aos mercados.
Por outro lado, há que proteger os interesses de todos os intervenientes no
sistema e regular o bom funcionamento da actividade financeira de modo a
prevenir crises ou rupturas e orientá-la no apoio à política económica.

Por isso, continua a existir uma rigorosa legislação e supervisão das


Instituições financeiras, embora, naturalmente, adaptadas às condições dos
novos tempos. Delas ressaltam algumas imposições e regras de
funcionamento que, em essência, representam condicionantes à sua
actividade geral e ao crédito em particular, como sejam:

➢ Exigência de capital social mínimo;

➢ Composição dos fundos próprios (capital social + reservas legais, de


reavaliação, estatutárias, etc.), limites mínimos e sua compatibilização
com os activos;

➢ Condicionamentos à concessão de crédito e limites à concentração de


riscos;

➢ Constituição obrigatória de provisões para riscos de crédito e outros;

➢ Definição de rácios de solvabilidade que, para além do mais, devem


condicionar a composição da carteira de crédito;

➢ Exigência de reservas mínimas de caixa e de rácios de liquidez.

Estando as Instituições de Crédito sujeitas ao cumprimento das disposições


legais e regras deste tipo, terão que ter em devida conta por um lado a
origem, a natureza e o volume dos recursos (próprios e alheios) de que
dispõem; por outro o seu grau de exigibilidade. E, assim, na articulação
destas duas vertentes, poderão definir uma adequada política de crédito em
conjugação óbvia com outras componentes.

É evidente que a “origem, natureza e volume dos fundos e recursos” é


particularmente relevante na definição da política e capacidade de crédito
de qualquer IC. Desde logo porque, de acordo com o seu maior ou menor
volume, aumenta ou diminui a capacidade creditícia e os depósitos, nas
suas diversas formas e modalidades, são o recurso essencial do comércio
bancário.

43
Depois, porque a sua composição influenciará a selecção do tipo de
operações de crédito e, consequentemente, a opção pelos sectores de
actividade e mercados onde elas prevaleçam.
Assim, fácil se torna compreender que, estando a instituição condicionada,
para além das disposições legais, à evolução destas duas variáveis e sujeita
ao peso das imobilizações, às repercussões nefastas das crises económicas
ou outras, é importante a adopção duma política de crédito criteriosa e
segura. Política essa que deverá, também, ter em conta a indispensável
flexibilidade para permitir, a qualquer momento, uma rápida adaptação às
condições da instituição e do mercado.

Como forma de ultrapassar dificuldades que derivam do cumprimento de


disposições legais, designadamente dos limites de concentração de crédito
ou de outro tipo de razões ligadas à insuficiente capacidade de crédito,
divisão de risco ou outras é, por vezes, frequente constituírem-se sindicatos
de bancos para certos tipos de operações. Entre elas destacam-se
financiamentos de montante muito avultado ou que comportem uma
margem de risco mais exposta, em regra associadas a importantes projectos
de investimento de longo prazo de grandes empresas ou consórcios e mais
frequentes ainda na montagem de operações internacionais de vulto
expressivo e ainda a grandes investimentos públicos.

1.2.1.9. Estruturas Bancárias

1.2.1.9.1. Especialização bancária

Os imperativos da regulamentação prudencial destinada à protecção dos


depositantes do sistema bancário e outros investidores ou credores e a
necessidade de disciplina das operações de crédito e de financiamento por
razões macroeconómicas exigem que se identifique o conjunto de
instituições sujeitas a esses regimes. Além disso, é necessário estabelecer a
distinção entre instituições de crédito e outras instituições financeiras.

As transformações estruturais a que se tem assistido nos mercados


financeiros, nomeadamente em matéria de novas tecnologias, inovações
financeiras, diversificação da actividade das instituições financeiras,
formação de grupos financeiros de diferente estrutura, etc., têm tornado
cada vez mais difícil a tarefa de estabelecer claras linhas divisionárias entre
IC e outras instituições financeiras e mesmo, por vezes, entre instituições
financeiras e empresas não financeiras.
Segundo a directiva 77/780/CEE de 12 de Dezembro de 1997 da União
Europeia, instituição de crédito é definida como “uma empresa cuja
actividade consiste em receber do público depósitos e outros fundos

44
reembolsáveis e em conceder créditos por sua própria conta”.

A recepção de depósitos e outros fundos reembolsáveis do público, constitui


um dos critérios de base para a definição de instituição de crédito, residindo
nisto a especialização bancária.

Apesar da definição da União Europeia, os estados-membros não estão


inibidos em adoptarem conceitos mais amplos de instituição de crédito. A
este respeito, merece especial referência a lei bancária francesa de 1984 que
considera instituição de crédito qualquer empresa que efectue, a título de
profissão habitual, qualquer dos seguintes três tipos de operações: recepção
de fundos do público, operações de crédito e emissão ou gestão de meios de
pagamento.

A respeito, a Lei 12/15 de 30 de Setembro – Lei das Instituições Financeiras,


classifica instituições financeiras em instituições financeiras bancárias e
instituições financeiras não bancárias.

São instituições financeiras bancárias os bancos em geral, cujas actividades


são:

a) Receber do público depósitos ou outros fundos reembolsáveis;

b) Exercer a função de intermediário de liquidação de operações de


pagamento;

c) Realizar operações sobre metais preciosos, nos termos estabelecidos


pela legislação cambial;

d) Operar na comercialização de contratos de seguro;

e) Promover o aluguer de cofres e guarda de valores;

f) Realizar operações de capitalização;

g) Realizar operações de locação financeira e cessão financeira;

h) Conceder garantias e outros compromissos;

i) Realizar operações de crédito;

j) Realizar operações no mercado de capitais através das sociedades de


intermediação;

k) Prestar serviços de pagamento;

45
l) Efectuar transacções por conta própria ou alheia sobre instrumentos
do mercado monetário, financeiro ou cambial;

m) Participar em emissões ou colocações de valores mobiliários e


prestações de serviços correlativos;

n) Prestar consultoria, guarda, administração e gestão de carteira de


valores mobiliários;

o) Praticar o comércio de compra e venda de notas, moedas estrangeiras


ou de cheques de viagem;

p) Tomar participações no capital de sociedades;

q) Outras operações análogas e que a lei não proíba.

As instituições financeiras não bancárias enquadram-se em três categorias:

1. Instituições financeiras não bancárias ligadas à moeda e ao crédito,


sujeitas à jurisdição do BNA (na função de Banco Central);

2. Instituições financeiras não bancárias ligadas à actividade seguradora


e previdência social, sujeitas à jurisdição da Agência Reguladora de
Seguros de Angola (ARSEG);

3. Instituições financeiras não bancárias ligadas ao mercado de capitais e


ao investimento, sujeitas à jurisdição do organismo de Supervisão do
Mercado de Valores Mobiliários.

1.2.1.9.2. Concentração bancária

Da definição de instituição de crédito, pode-se resumir que se trata de


empresa que, a título profissional:

➢ Receba fundos reembolsáveis do público;

➢ Tenha a faculdade de os utilizar por sua própria conta;

➢ Conceda crédito.

O conceito de fundos reembolsáveis do público baseia-se nos seguintes três


elementos:

♦ Uma entrega de fundos (numerário ou, num primeiro momento,

46
valores para cobrança se, e na medida em que o produto desta ficar
sujeita a determinadas condições, feita por uma pessoa a outra);

♦ Obrigação, por parte desta, de restituição da quantia recebida;

♦ Faculdade, atribuída a esta pessoa, de disposição, por sua conta, dos


fundos assim recebidos.

O conceito de utilização de fundos por conta própria remete-nos para o


facto de que se a actividade típica da instituição consiste na recepção de
depósitos ou outros fundos reembolsáveis do público e na concessão de
crédito por conta própria, é natural, dada a natureza económica desta
actividade, a possibilidade da utilização daqueles fundos por conta própria.

Deste modo, são excluídas do conceito de instituição de crédito as


instituições que não tenham por objecto actividades por conta própria, por
exemplo, as Sociedades Gestoras de Fundos de Investimento, as Sociedades
Corretoras, as Sociedades Gestoras de Patrimónios e as Sociedades Gestoras
de Fundos de Pensões.

Entretanto, as instituições que recebem depósitos e concedem crédito por


conta própria e que, além disso, realizam operações por conta alheia, por
exemplo, no domínio dos valores mobiliários, não devem deixar, por este
facto, de estar submetidas à rigorosa disciplina prudencial que é aplicada às
Instituições de Crédito, essencialmente para defesa dos interesses dos
depositantes e investidores não institucionais.
O conceito de concessão de crédito deve ser entendido em sentido muito
amplo, e deverá incluir:

♦ Os contratos reais pelos quais alguém entrega fundos a outrem, com a


obrigação por parte deste de os restituir (mútuo, desconto bancário);

♦ Os contratos consensuais, através dos quais alguém coloca à disposição


ou promete entregar a outrem fundos reembolsáveis (abertura de
crédito);

♦ A prestação de garantias (fiança, aval, garantia bancária autónoma);

♦ Os contratos de locação financeira;

♦ Os contratos de factoring;

♦ A aquisição de obrigações e outros títulos de dívida.

Elemento comum a todas as operações abrangidas é o seu carácter oneroso,


47
traduzido, normalmente, na obrigação de pagamento de juros ou de uma
comissão.

Um outro aspecto essencial para a relevância do conceito de concessão de


crédito, no quadro da caracterização da concentração bancária, é o seu
carácter habitual.
No âmbito da concentração da actividade bancária podemos incluir entre as
IC as empresas que realizam operações de colocação à disposição e a gestão
de meios de pagamento

São considerados como meios de pagamento todos os instrumentos que,


seja qual for o suporte ou o procedimento técnico utilizado, permitam a
qualquer pessoa transferir fundos. A faculdade de emissão de notas e
moedas é exclusivo do banco central e apenas as instituições
de crédito estão autorizadas a abrir contas sobre as quais possam ser
sacados por determinados instrumentos de pagamento, como o cheque e o
cartão de débito.

1.2.1.9.3. Regime bancário

Em todos os países a constituição e o exercício da actividade das instituições


de crédito carecem de autorização concedida pelas autoridades designadas
para esse efeito (Conselho de Ministros, Ministério das Finanças e o Banco
Central).

A exigência de autorização e a inscrição obrigatória num registo especial


têm por objectivo evitar o estabelecimento e o funcionamento de IC em
condições susceptíveis de afectar a liquidez do sistema financeiro e a
confiança dos depositantes ou outros credores, por exemplo, quando a
gestão dos riscos não obedece a padrões adequados.

A política de concessão de autorização tem de atender a dois objectivos que


estão parcialmente em conflito: por um lado, permitir o desenvolvimento de
uma concorrência activa no sector financeiro; e, por outro, assegurar que
apenas sejam autorizadas instituições financeiramente sólidas e que
ofereçam garantias suficientes de uma prudente gestão.

A concessão de autorização para a instalação ou o exercício de actividade,


como IC, depende normalmente da satisfação de um certo número de
requisitos sobre a sua previsível viabilidade e solidez financeira, o capital
mínimo, a idoneidade dos accionistas, a capacidade profissional dos
administradores, o compromisso de adopção de sãos princípios de
organização e de uma gestão prudente, etc.

48
O regime para o exercício da actividade bancária em Angola vem expresso
na Lei 12/15 de 30 de Setembro, e em Avisos, Instrutivos e Directivas
dimanadas pelo BNA, sendo de realçar as seguintes disposições:

➢ Capital social mínimo: O Aviso 04/13 de 11 de Maio do BNA,


determina que os bancos só poderão constituir-se com um capital
social mínimo integralmente realizado em dinheiro não inferior a USD
25 milhões, ou seja Kwanzas 2 biliões e 500 milhões.

➢ Compatibilização dos fundos próprios com o grau de risco da


estrutura dos seus activos: o Aviso 3/2000 de 10 de Março do BNA
determina que as instituições financeiras independentemente do
limite de capital mínimo realizado, são obrigadas a manter o valor dos
seus fundos próprios compatibilizados com o grau de risco da
estrutura dos seus activos; e o valor mínimo dos fundos próprios
deverá corresponder a 10% do valor calculado com base na
ponderação de risco dos respectivos activos;

➢ Gestão do risco: O Aviso 5/96 de 17 de Abril do BNA determina que


todas as IC devem proceder a uma adequada gestão dos riscos que
assumem no desenvolvimento da sua actividade, a fim de prevenirem
situações que possam afectar a sua solvabilidade;

➢ Limite de endividamento: O limite do endividamento dos bancos está


fixado em 15 vezes o valor dos seus fundos próprios;

➢ Publicação do Balanço e contas de cada exercício: O Aviso 2/2000 de


10 de Março determina que as Instituições Financeiras, após o
encerramento do exercício de cada ano, deverão publicar no Diário da
República e em jornal nacional de grande circulação os seguintes
documentos:

〉 Balanço global;

〉 Demonstração de Resultados;

〉 Inventário de títulos e participações financeiras;

〉 Inventário de imobilizações corpóreas e incorpóreas;

〉 Anexo, contendo notas explicativas e quadros suplementares,


quando aplicáveis.

49
1.2.1.10. Técnicas de Intervenção do Estado na Economia, via Sistema
Bancário

O Estado exerce influência na economia de diversas formas, quer


produzindo e aprovisionando um conjunto de bens e serviços, que o
mercado é incapaz de satisfazer, por ineficiência, são os chamados bens
comuns, quer procedendo à redistribuição dos rendimentos, por imposição
aos agentes económicos do pagamento de uma tributação, e quer ainda
exercendo influência directa ou indirecta no rumo da economia, através do
exercício da política macro-económica.

Assim, um estado moderno desempenha quatro funções económicas:

√ Estabelece o enquadramento legal da actividade económica:


constituição, leis e regras do jogo económico;

√ Afecta os recursos necessários para os bens colectivos através dos


impostos, da despesa e da regulamentação quando existem falhas do
mecanismo de mercado;

√ Redistribui os recursos através de transferências para melhorar o bem


estar social;

√ Determina a política de estabilização macro-económica para esbater as


flutuações do desemprego, conter a inflação e promover o crescimento
económico de longo prazo.

A política macro-económica apresenta-se subdividida em várias políticas


que concorrem para a promoção do desenvolvimento económico e do bem
estar social.

Uma das componentes da política macro-económica, que é exercida pelo


sistema bancário, é a política monetária. Através da política monetária, cuja
autoridade e execução, normalmente, é delegada ao banco central, o estado
procura preservar o valor da moeda, tornando-a ajustada às reais
necessidades da economia.

É nisto que, em termos gerais, consiste a política monetária, cuja


intervenção no mercado financeiro processa-se através de um conjunto de
instrumentos, de natureza directa e de natureza indirecta.

1.2.1.10.1. Directas

As intervenções directas constrangem os intermediários financeiros que


concedem créditos, submetendo-os a normas fixadas pelas autoridades
50
monetárias. Este tipo de intervenção deve ser efectuada a título excepcional,
em certas circunstâncias que exigem uma actuação mais directa do banco
central, em caso de se registar uma taxa de inflação muito alta, por
exemplo.

São instrumentos directos de política monetária:

• Política de fixação das taxas de juro;

• Política de fixação de limites quantitativos de crédito;

• Política selectiva de crédito.

1.2.1.10.2. Indirectas

As intervenções indirectas são exercidas sobre a liquidez dos bancos e


permitem actuar sobre a criação monetária sem criarem entraves à sua
iniciativa.
São instrumentos indirectos de política monetária:

• Política de redesconto;

• Política de reservas obrigatórias;

• Política de mercado aberto (open market).

Podemos assim concluir que são instrumentos de política monetária o


conjunto de instrumentos e acções para controlar a moeda pelo banco
central a fim de garantir o poder de compra da moeda.

1.2.1.11. Interdependência entre os Intermediários Financeiros

A interdependência entre os intermediários financeiros, especialmente a


empresa bancária ou outra instituição de crédito e as empresas que
conformam a denominada economia real, produz-se não somente porque
aquelas canalizam a poupança ao investimento e facilitam o movimento de
pagamentos entre os diferentes agentes da economia, mas também porque
proporcionam um input importante: serviços de assessoramento. A provisão
destes dois input constituem um veículo de importantes laços entre a
empresa financeira e a não financeira.

Estes laços costumam ser mais estreitos no caso dos grandes bancos e das
grandes empresas não bancárias.

Determinadas distorsões económicas dependem da maior ou menor

51
complementaridade entre o sistema financeiro e a economia real. Portanto,
não pode suster-se uma subordinação do aparelho produtivo ao sistema
creditício.

Para que seja possível que o sistema financeiro seja visto como
intermediação entre os que poupam e os investidores, se requer que a
intermediação possa oferecer um incentivo suficiente no que diz respeito à
segurança e ao rendimento, para fomentar a poupança em lugar do
consumo. Os intermediários financeiros não podem ser meros mediadores
sem ausência de risco, mas devem actuar como verdadeiros agentes
económicos que, ao mesmo tempo que prestam o serviço, acrescentam valor
económico e conseguem um benefício que compense o ter assumido o risco.

1.2.1.12. Modelo simplificado de Economia Fechada

O diagrama seguinte sintetiza um modelo simplificado de economia


fechada onde se patenteia a importância da banca na intermediação
financeira.

Quadro 4. MODELO DO SISTEMA ECONÓMICO FECHADO DO PONTO DE


VISTA DE UM BANCO COMERCIAL /Famílias – Empresas – Banca

(fluxo real)

EMPRESAS
(fluxo monetário)

Factores Remune-
R Financiame
APLICAÇÕES
Bens Pagamento nto
ração dos ao
RECURSOS de
Produ- Investiment e
Bens Factores o Bens
APLICAÇÕES
RECURSOS
tivos Produtivos e
Serviços e RECURSOS
(Salários,
(Trabalho, Serviços
Serviços
Juros,...) 52
capital,...)
Poupança
Fonte: Instituto de Formação Bancária (2005) Contabilidade Bancária

Nesta representação gráfica distinguimos três circuitos:

• Um primeiro circuito em que as Famílias fornecem às Empresas


factores de produção (fluxo real) e estas, em troca, entregam-lhes
salários, lucros rendas (fluxo monetário).

• Um segundo circuito em que as Empresas entregam às Famílias


bens e serviços (fluxo real) e estas, pagando bens e serviços,
devolvem às Empresas os meios de pagamento (fluxo monetário).

• Um terceiro circuito em que os fluxos de Poupança e de


Investimento têm um único sentido: das Famílias para os Bancos e
destes para as Empresas (fluxos financeiros).

Explicação do Quadro 4

Famílias

Factores Salários,
produção lucros, 1º Circuito
(fluxo real) rendas

Empresas

53
Empresas

Meios de
Bens e
pagamento
Serviços
(fluxo
(fluxo real)
monetário) 2º Circuito

Famílias

Famílias

Bancos 3º Circuito

Empresas

Poupança e investimento
(fluxos financeiros)

Podemos concluir que:


• Na actividade económica, aos fluxos reais se contrapõem os fluxos
monetários (1º e 2º circuitos).

• Na economia os fluxos financeiros traduzem o importante papel


das instituições monetárias, como elemento fundamental no
encontro de sujeitos que poupam (famílias) e dos que investem
(empresas) (3º circuito).

1.2.2. Prestação de Serviços Bancários

1.2.2.1. Caracterização

No ponto anterior abordámos uma função fundamental da actividade


bancária – a intermediação financeira. Temos conhecimento que nem só
de recursos (depósitos) e aplicações (crédito) vive a banca.

Se um cliente pretender comprar ou vender moeda estrangeira, receber


54
os juros das suas obrigações, ou guardar objectos importantes de natureza
pessoal, onde se deve dirigir?

Sabemos que a resposta a esta pergunta passa por uma das funções da
actividade bancária – a prestação de serviços bancários.

Prestação de serviços bancários – função complementar à intermediação


financeira, que os Bancos colocam à disposição dos seus clientes e que
incide sobre os meios de pagamento (por exemplo: cobranças, etc.) ou
assume natureza diversa (por exemplo: aluguer de cofres, concessão de
garantias bancárias, etc.)

1.2.2.2. Aspectos Relevantes

Ao abordarmos esta função podemos referir a três aspectos importantes,


que são:

- Contributo indirecto na captação de depósitos;


- Qualidade e diversidade dos serviços bancários;
- Proliferação de instituições financeiras não monetárias.

Contributo indirecto na captação de depósitos

Sendo muitos destes serviços de reduzida relevância, exercendo,


inclusivamente, um peso bastante modesto na formação dos resultados de
exploração dos Bancos, eles valem pelo seu contributo indirecto na
captação de depósitos.
Exemplos:

- A cobrança de valores;
- O depósito e guarda de títulos;
- O pagamento de consumos (água, telefone, electricidade, etc.);
- O pagamento de ordenados.

Qualidade e diversidade dos serviços bancários

A qualidade e a diversidade dos serviços bancários oferecidos ajudam a


estreitar a relação entre o cliente e o Banco, permitindo melhorar a
imagem deste e aumentar o grau de fidelização daqueles.

Proliferação de instituições financeiras não monetárias

Actualmente, com a proliferação de instituições financeiras não


monetárias, assiste-se a uma tendência crescente para a desintermediação
financeira.
55
Se juntarmos a este facto, a existência duma propensão para a redução da
margem financeira (diferencial entre as taxas de juro que os bancos
cobram nas suas aplicações (taxas activas) e as que pagam pela captação
de recursos (taxas passivas)(, os bancos sentem-se impelidos, cada vez
mais, a melhorar e aumentar o leque de serviços bancários, por forma a
compensar a eventual diminuição de resultados na intermediação
financeira.

1.2.2.3. Sistematização por Natureza

Apresentamos os serviços mais vulgarmente prestados pelos bancos


comerciais.

Quadro 5. Serviços

Guarda e Manutenção de Títulos


Operações de Bolsa
Créditos Abertos
Cofres Nocturnos
Aluguer de Cofres
Gestão de Carteiras
Relativos a Meios de Pagamento Numismática e
Medalhística

Garantias Bancárias
Informações Comerciais

SERVIÇOS Compra e Venda de moeda


estrangeira
Cobranças
Ordens de Transferência
Ordens de Pagamento
Ordens de Pagamento
Permanentes
Diversos Emissão de Cheques
Traveller Cheques
Cartão de Débito
Cartão de Crédito
Recebimentos de Impostos
Seguros

Fonte: Instituto de Formação Bancária (2005) Contabilidade Bancária

56
1.3. Enquadramento legal da actividade das Instituições de Crédito

Os documentos mais importantes são:

• A Lei 12/15, Lei de Bases das Instituições Financeiras, estudada


anteriormente;

• O Plano de Contas das Instituições Financeiras (CONTIF).

2. A NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA NA ACTIVIDADE DAS


INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO

2.1.Evolução do Plano de Contas

A Contabilidade contém uma linguagem fundamental na actividade das


IC. Como todas as formas de comunicação, vai sofrendo adaptações e
alterações para manter a sua actualidade.

A comunicação a este nível estabeleceu-se a través da evolução do


conceito de Normalização Contabilística que foi influenciando a evolução
paralela do Plano de Contas das Instituições Financeiras.

O princípio da normalização da contabilidade de estabelecimentos de


crédito tem evoluído nos tempos, tendo surgido, pela 1ª vez em Angola no
final do século XIX.

2.2.Cronologia Legislativa

Seria complicado analisar a realidade económico-financeira de um país


sem normalização contabilística, em que as instituições bancárias e outras
adoptassem apenas princípios próprios relativamente à sua
contabilidade.

Isto só seria possível se cada instituição possuísse uma organização


individualista da sua contabilidade em que a ausência de padrões oficiais,
apontaria para a inexistência de critérios idênticos quanto:

- À terminologia;
- Ao âmbito das contas;
- Às regras de valorimetria dos elementos patrimoniais;
- À determinação dos resultados;
- À elaboração e apresentação das peças contabilísticas.
57
A multiplicidade de critérios apontada não traria vantagens: nem para os
bancos e outras instituições de crédito, que não teriam possibilidade de se
situarem comparativamente; nem para a didáctica, dado que as escolas e
os profissionais de contabilidade usariam critérios diferentes; nem para a
análise económica, por não permitir análises sectoriais, regionais e
nacionais; nem para o Estado, porque os elementos estatísticos
necessários para o planeamento da economia, seriam diversos.

É esta gama de inconveniência que tem gerado nos técnicos, gestores e


poderes públicos uma preocupação constante que se consubstancia na
Normalização Contabilística.

A actividade bancária não escapa a tal tipo de preocupação e constitui


mesmo um sector pioneiro na matéria. Justifica-se bem tal situação pela
importância de que o sector se reveste na condução da vida económica
das sociedades modernas.

2.2.1. Legislação Publicada

Podemos apresentar o seguinte quadro:

Quadro 6. Legislação Publicada e Ano


Data Legislação
1896 Regulamento da Lei de 3 de Abril, aprovado por Decreto de 27 de
Agosto
1925 Decreto 10634 de 20 de Março
1954 Decreto 39525 de 2 de Fevereiro
1959 Decreto-Lei 42641 de 12 de Novembro
1990 Publicação Oficial do Plano de Contas (PCIF)
1999 Publicação do Plano de Contas das Instituições Financeiras (PCIF)
instituído pelo Instrutivo 13/99 de 1 de Setembro, do BNA
2007 Publicação do Plano de Contas das Instituições Financeiras
(CONTIF) instituído pelo Instrutivo 09/07, de 19 de Setembro, do
BNA.
Fonte: Instituto de Formação Bancária (2005); J. Peres (2011)
Contabilidade Bancária e elaboração própria

Pela observação do quadro podemos constatar a evolução que houve.

Vamos estudar, de forma breve, o conteúdo desta legislação.


58
Regulamento da Lei de 3 de Abril de 1896, aprovado por Decreto de 27
de Agosto

Determinava a obrigatoriedade de todos os bancos ou estabelecimentos


afins enviarem à Repartição de Comércio um balancete referido ao último
dia do mês anterior, elaborado em conformidade com a classificação de
contas estabelecida no modelo apenso ao mesmo regulamento.

O balanço anual era organizado de harmonia com a mesma classificação.

Facultava, no entanto, conforme a especialidade das operações a que os


bancos se dedicassem e sempre seguindo a classificação indicada no
modelo (plano), a inserção de quaisquer outras contas que se
entendessem como necessárias.

Devido ao reduzido número de contas previsto ou por falta de fiscalização


adequada, não foi conseguida a desejada uniformidade na apresentação
de balanços e balancetes e muito menos se atingiu a pretendida
normalização da contabilidade bancária.

Decreto 10634 de 20 de Março de 1925

Retomam-se com ligeiras alterações os processos contados no anterior


Regulamento.

Criam-se sensivelmente por essa altura novos modelos de balancete,


balanço e desenvolvimento das contas de lucros e perdas, adoptados
obrigatoriamente a partir do início de 1931.

Ainda aqui o objectivo da normalização não foi alcançado, dado que o


Decreto continuava a permitir a inserção de outras contas tidas por
necessárias.

A contabilidade era, ainda, organizada de modo quase livre.

Só posteriormente se efectuava a adaptação para a informação oficial,


dado que a obediência aos modelos oficiais se limitava ao conteúdo dos
documentos a enviar à Inspecção de Comércio Bancário.

Decreto 39525 de 2 de Fevereiro de 1954

Critica a situação anterior, fala em normalização contabilística, mas


mantém apenas a normalização dos balanços, balancetes e contas de
ganhos e perdas que as instituições de crédito eram obrigadas a enviar à

59
Inspecção Geral de Crédito e Seguros (IGCS).

Decreto-Lei 42641 de 12 de Novembro de 1959

Este Decreto-Lei é o que definitivamente consagra a normalização


contabilística das instituições bancárias e outras afins.

Com ele, passou a vigorar o seguinte regime:


- Normalização dos modelos informativos (balancetes mensais,
balanço e contas de lucros e perdas) a enviar à IGCS por parte das
instituições de crédito;
- Normalização dos modelos a publicar (balancetes trimestrais,
balanços e contas de exportação) por parte das instituições de
crédito;
- Os elementos a publicar e a contabilidade (incluindo os critérios
valorimétricos) dos bancos comerciais, têm de obedecer às normas
definidas por aquela Inspecção.

Relativamente às normas a observar na organização e movimentação da


contabilidade, salienta-se:

- Obrigatoriedade de abertura no razão principal e nos razões


auxiliares das contas previstas bem como a proibição de abertura
de novas contas no razão principal sem prévia autorização da IGCS;
- Liberdade de desdobramento das contas criadas;
- Proibição de compensação entre contas com terceiros e de receitas
e encargos;
- Agrupamento das contas em conjunto de relativa homogeneidade,
antecipando, de certo modo, a noção de classes de contas:

Quadro 7. Agrupamento de contas

- Disponível e Realizável
- Imobilizado
ACTIVO - Outras Contas do Activo
- Contas de Ordem

- Exigível
- Outras Contas do Passivo
- Provisões
PASSIVO - Capital e Reservas
- Resultados
- Contas de Ordem

60
Fonte: Instituto de Formação Bancária (2005) Contabilidade Bancária

Plano de Contas 1990

De 1975 a 1990 vigorou no país o modelo de mono-banco, como resultado


do sistema económico então prevalecente que era de economia estatizada
e planificada centralmente. A normalização contabilística, estava assente
entre o Plano de 12 de Novembro de 1959 e os princípios orientadores do
modelo socialista de desenvolvimento económico e social, com
omnipresença do Estado em quase todas as actividades.

Foi a 22 de Agosto de 1990 e perante a cedência de implementação de um


quadro descentralizado da actividade bancária que se instituiu um Plano
de Contas que atendesse à estruturação de um sistema bancário de dois
níveis.

Assim, a 20 de Agosto de 1991, em pleno ano da reestruturação da


economia e da democracia multipartidária, o Despacho 62/91 do BNA
determina que o Plano de Contas aprovado pelo Despacho 36/90 de 22 de
Agosto, passa a constituir o Plano de Contas das Instituições Financeiras
(PCIF).

Plano de Contas de 1999

O Plano de Contas de 1990 vigorou até 1999, altura em que, em resultado


das mudanças operadas no sistema bancário e no sistema creditício
angolano e do surgimento de novas instituições bancárias e de crédito, foi
publicado o Plano de Contas das Instituições Financeiras (PCIF) revisto e
alterado, que entrou em vigor em Janeiro de 2000, através do Instrutivo
13/99 de 1 de Setembro, do BNA.

Este Plano de Contas obedecia às seguintes linhas de orientação:

- Aproximação do sistema contabilístico dos sectores bancário e


creditício nacionais às regras e práticas em vigor nos sistemas
financeiros mais evoluídos, em particular às exigências da
comunidade europeia sobre a matéria;
- Uniformização, simplificação e compatibilização dos sistemas de
tratamento de dados contabilísticos e estatísticos, fornecidos pelas
instituições de crédito às autoridades monetárias.
- Criação de condições para que, num futuro próximo, a prestação de
informação contabilística e estatística se venha a realizar através de
transmissão automática de dados, facilitando, deste modo, a
informatização da informação da gestão bancária e creditícia.

61
O PCIF, por força de uma tendência crescente para o interrelacionamento
e interdependência dos mercados financeiros nacionais, não poderia
afastar-se significativamente dos padrões internacionalmente seguidos,
nas suas várias vertentes: nomenclatura; quadro de operações; critérios
valorimétricos; e princípios contabilísticos.

Procurava-se que a informação financeira obtida a partir do quadro de


contas, complementado por desdobramento em função da aplicação de
tabelas, respondesse, de modo sistemático e adequado às necessidades de
informação contabilístico-financeira:

- Ao nível da gestão interna, proporcionando elementos que


permitissem a análise da situação financeira, da rendibilidade e da
situação de risco;
- Ao nível das estatísticas monetária e financeira, assegurar o nível
exigível de compatibilidade;
- Ao nível dos utilizadores externos, em particular da supervisão do
sistema financeiro nacional, espelhar, de modo claro e verdadeiro, a
situação financeira desta área de actividade.

A estrutura classificativa do plano assentava na lógica de classificação


decimal, apresentando uma repartição por 9 classes, de 1 a 9, ficando
vaga a classe 0 que, eventualmente, poderia ser preenchida pela
contabilidade analítica.

O agrupamento das contas encontrava-se reflectido nas classes seguintes:


• Classe 1 – Disponibilidades
• Classe 2 – Aplicações
• Classe 3 – Recursos Alheios
• Classe 4 – Imobilizações
• Classe 5 – Contas Internas e de Regularização
• Classe 6 – Capitais Próprios e Equiparados, Provisões e Resultados
• Classe 7 – Custos por Natureza
• Classe 8 – Proveitos por Natureza
• Classe 9 – Contas Extrapatrimoniais

As 3 primeiras classes concentravam e davam relevo à intermediação


financeira – na classe 3, a captação de recursos; nas classes 1 e 2, a sua
aplicação.

As restantes classes estavam organizadas de modo a que a sua estrutura


interna correspondesse ao conteúdo interno das principais classes
geradoras de custos e proveitos.
62
2.3. O Plano Contabilístico das Instituições Financeiras (CONTIF)

O CONTIF veio substituir o PCIF e entrou em efectividade em Janeiro de


2010.

Este Plano tem por objectivo uniformizar os registos contabilísticos,


sistematizar os procedimentos e critérios de registo, estabelecer regras
para divulgação de informações, tudo em consonância com as melhores
práticas internacionais. O CONTIF visa racionalizar e padronizar a
utilização das contas, de modo a possibilitar o acompanhamento do
sistema financeiro, particularmente no que se refere à análise, avaliação
do desempenho e controlo das actividades desenvolvidas pelas
instituições supervisionadas pelo BNA.

Neste contexto foram incorporados critérios contabilísticos


recomendados internacionalmente como a mensuração pelo valor justo,
hedge accounting, método da equivalência patrimonial, reavaliação de
activos, actualização monetária, imparidade (impairment), entre outros,
bem como procedimentos para propiciar o melhor conhecimento da
situação económico-financeira do conglomerado ou do grupo económico
no qual a instituição está inserida, como a consolidação de demosntrações
financeiras e as regras de evidenciação.

Adicionalmente a estrutura conceitual do CONTIF tem o propósito de


simplificar e reduzir a quantidade de informações a serem prestadas
pelas instituições de forma segmentada. Concebido para atender
plenamente as necessidades actuais do BNA em termos de informações
financeiras, o plano é flexível e permite alterações e expansões
teoricamente ilimitadas, que propiciarão a inclusão, alteração ou exclusão
de quaisquer tipos de informações. Essa imunidade a obsolescência e a
simplificação das informações a serem remetidas pelas instituições são
aspectos relevantes para a adopcão do CONTIF.

2.3.1. Elenco de Contas

O elenco de Contas do CONTIF é formado por codificação alfanumérica. A


parte numérica, código, é constituída pelo número de dígitos necessário à
identificação do grupo, classe, conta, subconta e detalhamentos, enquanto
a parte alfabética representa a denominação da conta.

A codificação das contas observa a seguinte estrutura:

1 2 3 4 5 6 7

63
X XX XX XX XX XX XX

Nível 1 – GRUPO: representado pelo primeiro dígito.


Nível 2 – CLASSE: representada pelos segundo e terceiro dígitos.
Nível 3 – CONTA : representada pelos quarto e quinto dígitos.
Nível 4 – SUBCONTA: representada pelos sexto e sétimo dígitos.
Nível 5 – DETALHAMENTO: representado pelos oitavo e nono dígitos.
Níveis 6 e 7 – SUBDETALHAMENTO: representado pelos 10º, 11º, 12º e 13º
dígitos.

Os grupos contabilísticos são assim divididos:

1. Activo;
2. Passivo;
3. Interesses Minoritários;
4. Fundos Próprios;
5. Resultado do Exercício;
6. Fluxo de Caixa do Período;
7. Mutações nos Fundos Próprios;
9. Contas Extrapatrimoniais.

1. ACTIVO
1.10 . DISPONIBILIDADES
1.20. APLICAÇÕES DE LIQUIDEZ
1.30. TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS
1.40. INSTRUMENTOS FINANCEIROS DERIVADOS
1.50. CRÉDITOS NO SISTEMA DE PAGAMENTOS
1.60. OPERAÇÕES DE CÂMBIO
1.70. CRÉDITOS
1.75. CLIENTES COMERCIAIS E INDUSTRIAIS
1.80. OUTROS VALORES
1.85. INVENTÁRIOS COMERCIAIS E INDUSTRIAIS E ADIANTAMENTOS A
FORNECEDORES
1.90. IMOBILIZAÇÕES

2. PASSIVO
2.10. DEPÓSITOS
2.20. CAPTAÇÕES PARA LIQUIDEZ
2.30. CAPTAÇÕES COM TÍTULOS E VALORES MOBILIÁRIOS
2.40. INSTRUMENTOS FINANCEIROS DERIVADOS
2.50. OBRIGAÇÕES NO SISTEMA DE PAGAMENTOS
2.60. OPERAÇÕES DE CÂMBIO
2.70. OUTRAS CAPTAÇÕES

64
2.80. OUTRAS OBRIGAÇÕES
2.85. FORNECEDORES COMERCIAIS E INDUSTRIAIS
2.90. PROVISÕES PARA RESPONSABILIDADES PROVÁVEIS
2.95. PROVISÕES TÉCNICAS

3. INTERESSES MINORITÁRIOS
3.10. CAPITAL SOCIAL
3.20. RESERVA DE ACTUALIZAÇÃO MONETÁRIA DO CAPITAL SOCIAL
3.30. RESERVAS E FUNDOS
3.40. RESULTADOS POTENCIAIS
3.50. RESULTADOS TRANSITADOS
3.60. (-) DIVIDENDOS PAGOS ANTECIPADAMENTE
3.70. RESULTADO DA ALTERAÇÃO DOS CRITÉRIOS CONTABILÍSTICOS
3.80. (-) ACÇÕES OU QUOTAS PRÓPRIAS EM TESOURARIA

4. FUNDOS PRÓPRIOS
4.10. CAPITAL SOCIAL
4.20. RESERVA DA ACTUALIZAÇÃO MONETÁRIA DO CAPITAL
4.30. RESERVAS E FUNDOS
4.40. RESULTADOS POTENCIAIS
4.50. RESULTADOS TRANSITADOS
4.60. (-) DIVIDENDOS ANTECIPADOS
4.70. RESULTADO DA ALTERAÇÃO DE CRITÉRIOS CONTABILÍSTICOS
4.80. (-) ACÇÕES OU QUOTAS PRÓPRIAS EM TESOURARIA

5. RESULTADO DO EXERCÍCIO
5.10. RESULTADO OPERACIONAL
5.20. RESULTADO NÃO OPERACIONAL
5.30. ENCARGOS SOBRE OS RESULTADOS CORRENTES
5.80. INTERESSES MINORITÁRIOS
5.90. APURAMENTO DO RESULTADO

6. FLUXO DE CAIXA DO PERÍODO


6.10. FLUXO DE CAIXA DAS OPERAÇÕES
6.20. FLUXO DE CAIXA DOS INVESTIMENTOS
6.30. FLUXO DE CAIXA DOS FINANCIAMENTOS
6.90. VARIAÇÕES NAS DISPONIBILIDADES

7. MUTAÇÕES NOS FUNDOS PRÓPRIOS


7.10. MUTAÇÕES NO CAPITAL SOCIAL
7.20. MUTAÇÕES NA RESERVA DE ACTUALIZAÇÃO MONETÁRIA
7.30. MUTAÇÕES NAS RESERVAS E FUNDOS
7.40. MUTAÇÕES NOS RESULTADOS POTENCIAIS

65
7.50. MUTAÇÕES NOS RESULTADOS TRANSITADOS
7.60. MUTAÇÕES NOS RESULTADOS ANTECIPADOS
7.70.MUTAÇÕES NO RESULTADO DA ALTERAÇÃO DOS CRITÉRIOS
CONTABILÍSTICOS
7.80. MUTAÇÕES EM ACÇÕES OU QUOTAS PRÓPRIAS EM TESOURARIA
7.90. VARIAÇÕES NOS FUNDOS PRÓPRIOS

9. CONTAS EXTRAPATRIMONIAIS
9.10. CONTAS DE CONTROLO
9.20. RESPONSABILIDADES POR VALORES CONTINGENTES
9.99.DEVEDORES E CREDORES POR RESPONSABILIDADES
EXTRAPATRIMONIAIS

2.3.2. Conteúdo e Movimentação das Contas

2.4. Normas Gerais, Princípios Contabilísticos e Características


Qualitativas

2.4.1. Normas Gerais

O CONTIF é de utilização obrigatória para os tipos de instituições que o


BNA vier a definir.

O elenco de Contas Padronizado deve ser utilizado como base para o


registo contabilístico das operações realizadas pelas instituições definidas
pelo BNA.

A criação e a alteração de contas é da competência do BNA, sendo vedadas


às instituições modificar qualquer elemento constitutivo de conta
padronizada, ou seja, código, denominação, função e sequência de
apresentação.

A instituição pode utilizar contas de uso interno ou desdobrar as contas


de uso oficial, por exigência do BNA ou em função das suas necessidades
de controlo interno e de gestão, devendo, em qualquer hipótese,
convertê-las para o sistema padronizado e respeitar o conteúdo da conta
principal.

A existência de títulos contabilísticos no CONTIF não pressupõe a


permissão para a prática de operações ou serviços entretanto vedados por
lei, norma, regulamento ou acto administrativo ou dependente de prévia
autorização do BNA.

66
O registo da movimentação contabilística deve ser efectuado, no mínimo,
no nível da conta.

As contas de natureza credora, como as do passivo e de proveitos, são


apresentadas com o sinal negativo (-). As contas de natureza devedora,
como as do activo e de custos, são apresentadas sem sinal (a indicação do
sinal positivo (+) é dispensada.

A complementar estas normas gerais existem os princípios contabilísticos


de observância obrigatória, ou seja, as instituições devem seguir os
princípios fundamentais de contabilidade de modo que as demonstrações
financeiras elaboradas, expressem, com fidedignidade e clareza, a real
situação económico-financeira da instituição.

2.4.2. Princípios Contabilísticos

Com o objectivo de que as contas apresentem uma imagem verdadeira e


apropriada do património, da situação financeira e dos resultados,
dever-se-á ter em conta os seguintes princípios:

⇒ Princípio da Entidade
Reconhece o património como objecto da Contabilidade e afirma
autonomia patrimonial, independentemente de pertencer a uma pessoa,
um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer
natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Como observação,
ressalta que a soma ou aglutinação contabilística não resulta em nova
entidade, mas numa unidade de natureza económico-contabilística.

⇒ Princípio da Continuidade
Presume-se que a instituição continue as suas actividades, não tendo
intenção nem necessidade de entrar em liquidação ou de reduzir
significativamente a sua actividade, até que surjam novas evidências em
contrário. O pressuposto que a instituição tem continuidade operacional
indeterminada influencia tanto a classificação como os critérios de
avaliação do património e das suas mutações, tanto quantitativas como
qualitativas. A observância deste princípio é indispensável à correcta
aplicação do Princípio da Especialização, em virtude da relação entre a
quantificação do património e a realização de proveitos e apropriação de
custos com a continuidade da entidade.

⇒ Princípio da Consistência ou da Uniformidade


Os critérios e procedimentos valorimétricos não podem ser modificados
de um exercício para o outro, excepto quando determinados pelo BNA ou
67
definidos pela instituição com o objectivo de aprimorar o processo de
registo ou avaliação das suas operações, ocasião em que devem ser
detalhados os novos procedimentos adoptados, em nota às contas, e
divulgados os efeitos no balanço patrimonial e na demonstração de
resultados, inclusive os relativos a períodos anteriores, em garantia da
comparabilidade das demonstrações financeiras, possibilitando aos
usuários dessas demonstrações delinear as tendências da entidade com o
menor grau de dificuldade possível.

⇒ Princípio da Especialização, do Acréscimo ou da Efectividade


das Operações
Os proveitos e os custos são reconhecidos quando obtidos ou incorridos,
independentemente do seu recebimento ou pagamento, devendo
incluir-se nas demonstrações financeiras dos períodos a que respeitam.
Este princípio determina quando as alterações no activo ou no passivo
resultam em aumento ou diminuição do património líquido. Os proveitos
são considerados realizados quando, nas transacções com terceiros, o
pagamento for efectuado ou assumido firme compromisso de efectivá-lo;
na extinção, parcial ou total, de um passivo, qualquer que seja o motivo,
sem o desaparecimento concomitante de um activo de valor igual ou
maior; na geração natural de novos activos, independentemente da
intervenção de terceiros; e no recebimento efectivo de doações e
subvenções. Os custos são considerados incorridos quando deixar de
existir o correspondente valor activo, por transferência da sua
propriedade para terceiro; pela diminuição ou extinção do valor
económico de um activo; pelo surgimento de um passivo, sem o
correspondente activo.

⇒ Princípio da Actualização Monetária


Os efeitos da alteração no poder aquisitivo da moeda nacional devem ser
reconhecidos nos registos contabilísticos através do ajustamento dos
valores de entrada dos componentes patrimoniais. A aplicação do
princípio é recomendada para recompor o valor aquisitivo da moeda em
situações onde há perda do poder de compra.

⇒ Princípio da Prudência ou do Conservadorismo


As contas devem integrar um grau de precaução por estimativas
realizadas em condições de incerteza, não permitindo, contudo, a criação
de reservas ocultas ou provisões excessivas ou a deliberada quantificação
de activos e proveitos por defeito ou de passivos e custos por excesso. Este
princípio impõe a escolha da hipótese que resulte em menor património

68
líquido, quando se apresentarem opções igualmente válidas diante dos
demais princípios contabilísticos. Determina a adopção do menor valor
para os componentes do activo e maior para os do passivo, sempre que se
apresentarem alternativas igualmente válidas para a quantificação das
mutações patrimoniais que alterem o património líquido.

2.4.3. Características Qualitativas

Além dos princípios contabilísticos, as instituições devem atribuir as


seguintes características qualitativas das demonstrações contabilísticas,
de forma a proporcionar informações úteis à tomada de decisão:

〉 Substância sobre a forma


As operações devem ser contabilizadas atendendo à sua substância e à
realidade financeira e não apenas à sua forma legal;

〉 Materialidade e Relevância
As demonstrações financeiras devem evidenciar todos os elementos que
sejam relevantes e que possam afectar avaliações ou decisões de terceiros,
inclusive eventual mudança de política contabilística que tenha efeitos
materialmente relevantes nos exercícios sociais subsequentes;

〉 Correspondência de Balanços Consecutivos


Os saldos de abertura do balanço de um exercício devem ser iguais aos
saldos de encerramento constantes do exercício precedente;

〉 Não compensação de saldos


Os elementos do activo e do passivo devem ser valorizados
separadamente, não sendo permitidas quaisquer compensações entre os
saldos devedores e credores, inclusive das contas de resultados, com
excepção das compensações relativas às operações interdepartamentais
ou interdependências, ou outras definidas pelo BNA;

〉 Denominador comum monetário


As demonstrações financeiras, sem prejuízo dos registos detalhados de
natureza quantitativa, serão expressas em moeda nacional a valores da
data de referência.

2.5. Análise das Classes de Contas e sua articulação com o ambiente


económico

2.5.1. As Contas do Balanço e Extrapatrimoniais

2.5.1.1. Contas do Balanço


69
As contas na sua relação com o património classificam-se em:

2.5.1.1.1. Contas do Activo

Estas contas agrupam elementos patrimoniais activos, ou seja,


representam bens da própria instituição e os direitos que lhe pertencem.

Exemplos: Caixa, Disponibilidades sobre instituições de crédito no país,


Crédito Interno, Imobilizações Financeiras, Imobilizações Corpóreas, etc.

2.5.1.1.2. Contas do Passivo

Estas contas agrupam os elementos patrimoniais passivos, isto é,


elementos que representam obrigações pecuniárias a pagar;

Exemplos: Recursos de Instituições de Crédito no país, Depósitos,


Responsabilidades representadas por títulos, Credores, etc.

2.5.1.1.3. Contas da Situação Líquida

Estas contas englobam os valores abstractos que resultam da diferença


entre o Activo e o Passivo.

Exemplos: Títulos de Participação e Empréstimos Subordinados, Capital,


Reservas, Resultados, etc.
Podemos constatar que, enquanto as contas do activo e do passivo contêm
elementos concretos, os da situação líquida são abstractos, dado que se
referem apenas à diferença de valor entre aquelas.

2.5.1.2. Contas Extrapatrimoniais

São contas extrapatrimoniais as que envolvem a relevação de


responsabilidades ou compromissos assumidos pela instituição ou por
terceiros perante esta, e que não estão relevados em contas patrimoniais.

Estas contas estão incluídas no Grupo 9 ou na Classe 9.10 – Contas


Extrapatrimoniais do CONTIF.

3. A CONTABILIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES NAS IC

Os bancos, no exercício da sua actividade tradicional, praticavam,


primordialmente, operações de “compra” e “venda” de dinheiro, isto é,
aceitavam, sob a forma de activos monetários, depósitos de clientes que,
depois, geriam e aplicavam em operações de crédito, a curto, médio ou
70
longo prazo.

Actualmente, com a tendência que se verifica no sistema financeiro


moderno, como a liberalização, universalização, inovação e a
concorrência, os bancos são levados a colocar no mercado produtos e
serviços que não lhes competiam tradicionalmente, enquanto
intermediários financeiros.

Com efeito, os bancos promovem e divulgam a prestação de serviços, já


não para incrementar a sua actividade principal, a concessão de crédito,
mas para obter receitas e contrapartidas no âmbito dos próprios serviços.

Com referência às operações bancárias tradicionais, o circuito é o


seguinte:
➢ Os clientes com excedentes monetários solicitam aos bancos a
constituição de depósitos, onde possam aplicar as suas
disponibilidades;

➢ Agindo em conformidade, os bancos promovem a abertura de


contas que , consoante o contrato de abertura preestabelecido,
poderão ser movimentadas à vista ou a prazo;

➢ Os clientes com dificuldades de liquidez, em contrapartida,


dirigem-se aos bancos na intençaõ de obter crédito. Se for do seu
interesse, os bancos poderão satisfazer essa pretensão através de
uma das operações de crédito: desconto de títulos, contrato de
aberturas de crédito, nas suas diversas modalidades,
conta-empréstimo ou conta-corrente.
A actividade bancária não se limita, contudo, à recepção de depósitos e à
concessão de crédito. Os clientes têm à sua disposição outros tipos de
operações e serviços, como: transferências, ordens de pagamento,
operações sobre títulos de crédito, operações cambiais e de comércio
externo.
É de referir ainda a outros tipos de serviços, como: a cobrança de valores,
o aluguer de cofres-fortes e a administração de propriedade.

Na actividade de captação de recursos, os bancos executam operações


passivas, constituindo, por conseguinte, responsabilidades perante
terceiros. Na faixa de concessão de crédito os bancos realizam operações
activas, tendo direitos perante terceiros.

3.1. Os Produtos e os Serviços das IC e a sua relevação contabilística

3.1.1. Produtos e Serviços das Instituições de Crédito. Operações


71
Gerais

3.1.1.1. Produtos do Passivo

São operações passivas contabilizadas no passivo do balanço do banco,


essencialmente os depósitos dos clientes.

O depósito é uma operação que garante ao cliente segurança e uma


remuneração pelo capital depositado. Constitui ainda um meio através do
qual o banco capta os recursos financeiros que lhe permitem realizar as
operações de crédito.

A constituição de um depósito implica sempre um contrato entre dois


intervenientes: o depositante ou sacador (o cliente) e o depositário ou
sacado ( o banco).

As duas partes ficam, legalmente, com determinadas obrigações. O banco


torna-se responsável pelos bens que lhe forem entregues, e o cliente, por
efectuar movimentos apenas nas condições acordadas.

3.1.1.2. Produtos do Activo

São operações activas, contabilizadas no activo do balanço do banco,


essencialmente, o crédito concedido aos clientes.

Conforme vimos referindo, uma das atribuições dos bancos é a


canalização de recursos financeiros para os agentes que deles carecem. Os
bancos transferem activos financeiros que captaram para empresas e
particulares que deles necessitem. Essa função é chamada de
intermediação bancária e uma das suas vertentes é o crédito bancário:

Existem dois tipos de crédito bancário:


1. Crédito por desembolso: O banco disponibiliza, ao cliente, uma
determinada importância por um prazo definido e mediante
remuneração. Neste tipo de crédito podemos identificar três tipos
contratuais distintos, que são:
➢ O Crédito por Empréstimo;

➢ O Crédito por Abertura de Crédito;

➢ O Crédito por Desconto.

No crédito por Empréstimo o banco disponibiliza a um cliente, por tempo


determinado uma certa quantia ficando este obrigado a restituí-la, findo o
prazo acordado, bem como a pagar ao banco a devida remuneração.

72
A Abertura de Crédito é um contrato em que o banco se obriga a ter à
disposição de um cliente, fundos, até um determinado montante e por um
determinado período de tempo, fundos esses que o cliente utilizará de
acordo com as suas conveniências, estando obrigado a reembolsar o
banco os fundos que utilizar, pagar a respectiva remuneração (o juro)
bem como eventuais comissões a que haja lugar.

O Crédito por Desconto é um contrato em que o banco antecipa o valor de


um crédito ao seu titular, deduzido do correspondente juro e eventuais
despesas, transmitindo-lhe este o respectivo crédito que o banco vai
cobrar no seu vencimento. A modalidade deste crédito mais praticada
pelos bancos é o desconto titulado, ou seja, o desconto de letras e
livranças.
2. Crédito por assinatura: O banco garante, perante terceiros, o bom
cumprimento de uma obrigação do seu cliente. Neste tipo de crédito
podemos identificar dois tipos de garantias distintas:
➢ A Garantia Bancária;

➢ O Aval Bancário.

3.1.2. Produto Bancário e de Outra Instituição de Crédito


3.1.2.1. Caracterização

Os produtos e serviços bancários ou de instituições afins não se revestem


todos da mesma natureza. A unidade de quantificação pode ser diferente
e o seu preço pode ser uniforme ou divergir de cliente para cliente.

Há, portanto, na noção global de produto bancário ou de outra IC a


existência de diversas componentes, que passamos a indicar:
• Natureza ou conteúdo;
• Unidades de medida;
• Preço.
3.1.2.2. Natureza ou conteúdo

Natureza ou conteúdo do produto é a prestação, decorrente da actividade


da IC, a um cliente, de determinada e concreta utilidade que, de algum
modo, satisfaz as suas necessidades.
Mas os produtos não são todos iguais. Não é, pois, indiferente abordar
numa amostragem, depósitos à ordem, em paralelo com obrigações do
Estado.

Todavia, podemos sistematizar os produtos segundo as relações que entre


73
eles se podem estabelecer:

➢ Complementares (por exemplo, os depósitos à ordem e o catão


MULTICAIXA);
➢ Sucedâneos ou alternativos (por exemplo, os depósitos a prazo e os
bilhetes do tesouro);
➢ Funcionalmente dependentes (por exemplo, os depósitos à ordem e
o desconto comercial).
Outra componente é a unidade de medida.

3.1.2.3. Unidade de medida

A quantificação dos produtos bancários ou de outra IC expressa-se,


normalmente, em unidades monetárias e pode exprimir-se em variáveis
de saldo ou fluxo, consoante a referência temporal está reportada a uma
data ou período.

Nalguns casos, pode ter interesse referenciar os produtos por unidades


físicas; é o caso dos quantitativos de garantias, letras descontadas,
número de contas. A sua relação com o quantitativo monetário, definido
médias por produto, permite avaliar com mais profundidade os custos, a
produtividade e a margem líquida do produto.
Coloca-se em seguida a questão do preço.

3.1.2.4. Preço

Cada produto tem preços de venda que, segundo a sua natureza, podem
ser uniformes ou divergir de cliente para cliente e, segundo a modalidade
ou tipo, pode ter relação quer com fixações feitas pelas autoridades
monetárias, quer com as práticas que a concorrência vai adoptando.

Actualmente, é cada vez mais dominante, na fixação de preços, a prática


da concorrência, o que dá a esta componente uma importância acrescida.

Num mercado cada vez mais concorrencial, os preços de custo são


determinantes para a fixação dos preços de venda e aqui podem surgir
dificuldades de vária ordem, nomeadamente determinar com rigor a
natureza desses custos e proveitos:
• De natureza financeira;
• De risco de negócio;
• De complementaridade ou de dependência funcional de
produtos;

74
• De natureza administrativa.
Apresentamos, a seguir, um quadro do preço de venda dos diversos
produtos que integram a actividade bancária, sistematizado de acordo
com a natureza do produto:

Quadro 7. Preço de venda dos produtos bancários

PRODUTOS DE INTERMEDIAÇÃO OUTROS PRODUTOS


ESERVIÇOS
APLICAÇÕES Preço de venda
+ Correcção pela normalização
financeira
+ Proveitos de
complementaridade de produto Preço de venda
- Custo financeiro + Proveitos de
- Risco do produto (solvência, complementaridade de
taxa de juro, cambial, produto
liquidez) - Risco do produto
= Margem bruta (solvência)
- Imputação de custos = Margem bruta
administrativos - Imputação de custos
= Margem líquida administrativos
RECURSOS Proveitos de complementaridade = Margem líquida
de produto
+ Correcção pela normalização
financeira
- Custo financeiro
- Risco do produto (taxas de juro,
cambial, liquidez)
= Margem bruta
- Imputação de custos
administrativos
= Margem líquida

Fonte: Manual do IFBA.


3.1.3. Produtos Bancários e de Outras Instituições afins e seu
Enquadramento Contabilístico

3.1.3.1. Caracterização
As IC oferecem no seu dia a dia uma gama diversificada de produtos aos
seus clientes, ligada à sua vocação tradicional, e de serviços com ou sem
expressão patrimonial.

75
3.1.3.2. Produtos de Intermediação do Balanço
A intermediação financeira é uma das funções da actividade bancária e
da de outras IC, que se materializa através de vários produtos existentes:
os produtos de intermediação do balanço. Pelo seu carácter inovador, o
Plano atribui grande peso e importância às aplicações e recursos
interbancários, que podem ser sistematizados da seguinte forma:
➢ Aplicações
• Interbancárias
• Crédito
• Financeiras
• Fundos consignados
➢ Recursos
• Interbancários
• Depósitos à ordem
• Depósitos com pré-aviso
• Depósitos a prazo

A sistematização da informação é apresentada no quadro da relevação


contabilística dos produtos de intermediação do balanço.

Quadro 8. Quadro de relevação contabilística

Designação RELEVAÇÃO CONTABILÍSTICA


dos
Produtos COM EXPRESSÃO PATRIMONIAL EM TERMOS DE EXPLORAÇÃO

(Nome (Código (Rubrica que no (Código (Receita da


do da balanço da operação,
Produto) rubrica expressa rubrica expressa nas
ou conta monetariamente de rubricas de
do o produto) proveitos) proveitos)
produto)

Fonte: Manual do IFBA.

3.1.3.3. Outros Produtos e Serviços

Uma outra função da actividade das IC é a prestação de serviços. Esta


função, complementar à intermediação financeira, é cada vez mais
relevante na vida das IC.

Quanto à sua natureza, os serviços bancários e de outras IC dividem-se


em:
➢ Serviços bancários com expressão patrimonial;
76
➢ Serviços bancários sem expressão patrimonial.

1.1.4. Resultados e Margens por Produto (Rendibilidade)


3.1.4.1. Caracterização

É fundamentalmente na actividade de intermediação financeira que as IC


rentabilizam a sua actividade. Efectivamente, na concessão de crédito, os
bancos cobram juros (de operações activas) dos clientes e na captação de
recursos pagam juros (de operações passivas) aos clientes. O diferencial
entre estas duas taxas, ou seja, entre aquelas que cobram e aquelas que
pagam, representa a margem financeira.

3.1.4.2. Resultados

Os produtos e serviços das IC distribuem-se na perspectiva da


intermediação financeira. A banca capta recursos de que normalmente
tem de suportar custos financeiros (JP), para efectuar aplicações que lhe
propiciam proveitos financeiros (JA). O diferencial entre ambos designa-se
por margem financeira (RF).

RF = JA - JP

Acessoriamente as IC prestam serviços, pelos quais cobram taxas ou


comissões (SB), normalmente, de acordo com um preçário estabelecido.

Se à margem financeira alcançada (RF) adicionar os proveitos


provenientes dos serviços bancários prestados, obtém-se o produto
bancário (PB).

PB= RF +
SB

O produto bancário ou o de outras IC não é mais do que o resultado


gerado pela actividade desenvolvida ao nível de produtos de
intermediação financeira e serviços bancários.

Entretanto, os bancos e outras IC no exercício da sua actividade incorrem


em custos, que são os custos operativos (CO) ou de funcionamento, e
podem ser de dois tipo:

➢ Custos específicos ou directos: quando estão associados


directamente aos produtos;

➢ Custos gerais ou indirectos: quando estão ligados à manutenção da


estrutura do banco.
77
Constituem custos operativos os custos com pessoal (CP), fornecimentos
de terceiros (FT), serviços de terceiros (ST) e dotação para amortização
(Am).

CO = CP + FT + ST +
Am

Após isto, pode-se determinar os resultados da actividade (RB), cujo valor


é igual à diferença entre o produto bancário (PB) e os custos operativos
(CO).

RB=PB - CO
Resumindo, tem-se:

RB = PB – CO
PB = RF + SB
RF = JA – JP
CO = CP + FT + ST + Am

Na determinação do resultado pelo método tradicional ou contabilístico,


se calculam os proveitos das aplicações (JA) e o custo dos recursos (JP),
constituindo a respectiva diferença, o resultado da intermediação (RF).

A este, o RF, acrescenta-se as receitas provenientes da prestação de


serviços bancários (SB) obtendo, assim, o produto bancário (PB).
Finalmente deduzem-se os custos operativos (CO) e apura-se o resultado
final (RB).

Todavia, este método só dá resultados correctos se as aplicações forem


iguais aos recursos, o que o torna inconveniente para a análise da
rendibilidade de produtos.

Margens por produto (rendibilidade)

O método anterior apresenta o inconveniente de que as aplicações devem


ser iguais aos recursos. O método das taxas marginais contorna este
inconveniente ao partir de uma taxa base ou padrão (TB).

Se se pretender determinar a margem das aplicações, estabelece-se a


diferença entre a taxa real normalizada das aplicações (TR) e a referida
taxa padrão (TB). Assim, a margem bruta ou comercial (Ma) será:

Ma = TR -
TB
78
Para a margem dos recursos, estabelece-se a diferença entre a taxa
padrão (TB) e a taxa normalizada dos recursos (TR). Assim a margem
bruta ou comercial (Mr) virá:

Mr = TB -
TR

É evidente que os resultados devem ser idênticos (em RF, PB e RB) aos
alcançados pelo método tradicional ou contabilístico.

Existe, porém, uma vantagem significativa no método das taxas


marginais. Este, para além de determinar o resultado global, permite
determinar resultados parciais não só por função (aplicações e recursos)
como por produtos.

0 A Movimentação Específica de Algumas Contas


3.0.1. Operações em Moeda Estrangeira

Caracterização do sistema Multi Currency

O Kwanza é a unidade monetária com que as instituições bancárias e


outras instituições de crédito (IC) angolanas, basicamente, operam. Esta
unidade traduz numericamente os activos e passivos nas referidas
instituições.

No entanto os bancos e outras IC possuem igualmente valores activos e


passivos expressos em moedas estrangeiras. Este facto coloca questões de
natureza contabilística que se prendem com:
• A impossibilidade de se juntar na mesma estrutura contabilística
unidades monetárias diferentes;
• O apuramento de resultados;
• A integração de estruturas contabilísticas em unidades diferentes.

A contabilização das operações cambiais assenta no mecanismo do


Sistema Multi Currency, cujas principais características apresentamos de
seguida:
• Consagra a existência de um razão com as respectivas contas para
cada moeda;
• O saldo dessas contas define a posição cambial em cada moeda:
credora (posição longa) se os activos superam os passivos; devedora
(posição curta) na situação contrária;
• Estes razões articulam-se com o razão em noeda nacional onde
existe a conta Operações Cambiais com saldos simétricos ao das

79
posições em moeda estrangeira;
• O apuramento de resultados efectua-se mais de acordo com a
realidade do mercado de câmbios e as situações de risco envolvidas.

Esquema de Contabilização

O esquema de contabilização da moeda estrangeira tem como objectivos:


• O controlo contabilístico das operações;
• A correcta representação dos elementos do activo, do passivo e das
responsabilidades extrapatrimoniais;
• O acompanhamento da posição cambial.

Os procedimentos contabilísticos, nas operações em moeda estrangeira,


diferem em função do efeito que estas têm sobre a posição cambial.

Podemos, deste modo, definir dois grupos de operações:


➢ Operações com efeito cambial: são as operaçºões que implicam
variação no saldo dos valores expressos em moeda estrangeira.
Exemplos: Compra e venda de moeda; integração de resultados na moeda
de conversão (Kwanza).

➢ Operações sem efeito cambial: são as operações que não implicam


variação no saldo dos valores expressos em moeda estrangeira.
Exemplos: Constituição ou recepção de depósitos; concessão ou obtenção
de créditos.

As operações em moeda estrangeira com objecto de procedimento


contabilístico específico, são as seguintes:
➢ Operações cambiais à vista;
➢ Operações cambiais a prazo
➢ Operações cambiais “swap”.

Exemplos:

Operação cambial à Operação cambial a Operação cambial


vista prazo “Swap”

80
O Banco compra ao O Banco decide O Banco vende de
seu cliente Manuel contratar com o seu imediato ao seu cliente
um cheque no valor cliente David, uma Fortunato USD 1
de USD 1 milhão a venva de USD 1 milhão milhão por EUR
AKZ 80.00 por USD. a efectuar daqui a 90 950.000.00 com a
dias ao câmbio de AKZ condição de, num
83.00 por USD. prazo de 90 dias
comprar o mesmo
valor de USD por EUR
950.000.00.

Estas três situações realizadas pelo Banco são alguns dos exemplos das
referidas operações.

Assim, o primeiro quadro refere que o Banco compra, no momento, ao


seu cliente um cheque no valor de 1 milhão de dólares à taxa de 80
kwanzas por dólar.

Estamos em presença de uma operação cambial à vista porque: é uma


operação efectuada de imediato (normalmente 2 dias após à data do
contrato).
De seguida, o Banco contrata com o seu cliente, a venda de dólares, a
efectuar num prazo de 90 dias, ao câmbio de 83 kwanzas por dólar.

Esta é uma operação cambial a prazo, porque: é uma operação de venda a


preço fixo, cuja movimentação de fundos será efectuada numa data
futura, logo, para além de 2 dias úteis após a data de contratação.

Finalmente, na última operação, o Banco efectua uma venda imediata a


um cliente, de 1 milhão de dólares por 950.000 euros, com a condição de,
num prazo de 90 dias, comprar o mesmo valor de dólares por 950.000
euros.

Este é um exemplo de uma operação cambial “swap”, que se caracteriza


da seguinte maneira: é uma operação de compra (venda) de uma moeda
por outra, à vista, e venda (compra) a prazo do mesmo montante da
primeira moeda, em oposição a um montante contratado da segunda.

Consultando o Plano as contas intervenientes, são:


(13) 1131000A1 – Disponibilidades sobre instituições de crédito no
estrangeiro
(33) 2110000D1 ou 2120000D1 – Depósitos
(59) 1411000A7, 1512000B3 ou 1512001B3 – Outras contas de controlo e
ligação
81
(94) 91610000Q1 – Operações cambiais, de taxa de juro e sobre cotações

Uma das questões que se levanta, nas operações cambiais à vista, é a


reavaliação da posição cambial.

A seguir apresentamos o quadro que o Plano define relativamente aos


critérios valorimétricos.

1. Rubricas objecto de reavaliação diária


➢ Ouro (15) 1240000A1
- Menor dos valores: aquisição ou cotação (fixing da tarde)
mercado de Londres
➢ Títulos de negociação (24) 1310000A1
- De rendimento fixo
• Última cotação de mercado acrescida dos juros corridos
• Sem cotação: menor dos valores de aquisição ou presumível do
mercado
➢ Activos, passivos e compromissos em ME

2. Outras avaliações
➢ Títulos de investimento (24) 1310000A1
- Custos de aquisição (títulos emitidos ao valor nominal)
- Valor nominal (títulos emitidos ao valor descontado)
➢ Imobilizações, incluindo Participações Financeiras
- Custo de aquisição em MN, excepto:
- Quando as reavaliações legalmente autorizadas e incorporadas
em “Reservas de Reavaliação”
- Quando a aquisição de imobilizado em ME se encontra coberta por
uma operação de financiamento em condições de prazo e
montante adequados
➢ Restantes elementos patrimoniais, passivos eventuais e
compromissos
- Valor contratado
➢ Demais valores extrapatrimoniais
- Valor nominal, ou
- Valor convencional

Admitindo para o exemplo anterior, que o contrato estabelecido entre o


Banco e o seu cliente Manuel tenha sido celebrado em 15 de Março e a
concretização da operação em 17 de Março, então a posição cambial à
vista, no dia 15 de Março, era a seguinte:

82
MOEDA POSIÇÃO SPOT CÂMBIO MÉDIO CONTRAVALOR
(À VISTA) DO DIA
USD 1.000.000.00 83.00 83.000.000.00
AKZ 80.000.000.00 1.00 80.000.000.00
Diferencial de Reavaliação 3.000.000.00
Perante o resultado apurado, o lançamento a efectuar será:

(59100) 1411001A7 – Operações cambiais à vista-divisas-compra


3.000.000.00

a (830) 511600E1 – Lucros dif. Reav. Cambial posição à vista


3.000.000.00

3.0.2. Operações de Títulos

Caracterização

Os bancos e outras IC compram títulos com objectivos diferentes. Assim


como os objectivos das aquisições diferem, também o tratamento que o
plano lhes dedica é diverso.

De acordo com o plano, os títulos adquiridos pelas IC são registados


relativamente aos objectivos definidos, segundo a metodologia de
tratamento que se sintetiza no quadro seguinte:

QUADRO RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS


TÍTULOS DE TÍTULOS DE PARTICIPAÇÕES
RUBRICAS RENDIMENTO VARIÁVEL RENDIMENTO FIXO (24) FINANCEIRAS (400)
(24) 1310000A1 19120000A1
1310000A1
1) Negociação Investimento Detenção de capital
Conceitos de empresas
2) Revenda Conservação Participação no
Intenção capital
de
Aquisição
3) Intervenção imediata ou Carácter mais estável Ligação à actividade
Natureza de curto prazo da instituição e com
carácter duradouro
4) Obtenção de mais valias Equilíbrio nas Complementaridade
Objectivo resultantes de flutuações aplicações/recursos com de negócio ou
pontuais dos mercados obtenção de taxa de domínio sobre a
ou diferenças favoráveis rendimento empresa
entre preços contratados compensadora
e preços de acesso ao
mercado

83
Passemos a uma breve análise dos títulos de acordo com:
➢ O tipo de rendimento
➢ A intenção de aquisição
De acordo com o tipo de rendimento que conferem, os títulos agrupam-se,
em:
� Rendimento Fixo
São exemplos de títulos de rendimento fixo: Bilhetes do Tesouro;
Certificado em Leilão de Investimento Público (CLIP); Obrigações (emissão
pública e privada) e Certificados de Depósitos.
� Rendimento Variável
São exemplos de títulos de rendimento variável: Acções e Unidades de
Participação.
� Rendimento Fixo e Variável
São exemplos de títulos de rendimento fixo e variável: Títulos de
Participação e Unidades de Participação.

O critério de anexação dos títulos, numa ou noutra conta, está dependente


da intenção de aquisição, ou seja:
� Títulosd eRendimento Variável: quando a intenção de aquisição se
realiza com o objectivo de venda, visando a obtenção de uma
mais-valia.
� Títulos de Rendimento Fixo: se a intenção de aquisição for
realizada com a finalidade de conservar os títulos.

Tratamento contabilístico
O tratamento contabilístico dos títulos é bastante complexo, dada a sua
diversificação, pelo que em forma de apresentação nos basearemos num
exemplo de contabilização de aquisição e manutenção em carteira de
títulos de negociação de rendimento variável.

Exemplo:

Um Banco pretende obter com 10.000 acções da Empresa Niccal, uma


mais-valia através da sua venda nos próximos 6 meses, ante a expectativa
de subida da sua cotação na Bolsa.

Se categorizarmos esta situação de acordo com os quatro vectores,


nomeadamente:
• Intenção de aquisição;
• Natureza;

84
• Objectivo
• Tipo de rendimento

Poderemos obter o seguinte quadro:

Intenção de Natureza Objectivo Tipo de


Aquisição Rendimento
Prazo 6 meses Intervenção de (...) obter uma Variável
curto prazo mais-valia. (Acções)
Previsível a subida
de cotação na Bolsa,
destas acções.

O processo a seguir, na contabilização da compra de acções da Niccal


passa pela contabilização no acto de aquisição pelo valor de aquisição
(vc).

Admitindo que, o valor nominal seja de AKZ 100.00 e o valor de aquisição de


AKZ 1.300.00, a contabilização será efectuada, no valor de AKZ
13.000.000.00, a débito da conta (24001)1310000A1 – Títulos de Rendimento
Variável e a crédito da conta(33200) 2110000D1 – Depósitos à Ordem.

Se existir cobrança de rendimentos (R), o respectivo produto será levado a


crédito da conta (819) 518Z01129L8 – Rendimento de Outros Títulos de
Rendimento Variável, por débito da conta Depósitos à Ordem.

3.0.3. Crédito Vencido

Caracterização
Se as instituições, de modo geral, honram os seus compromissos para com
os depositantes, nem sempre o mesmo acontece por parte dos seus
clientes de crédito que, por razões diversas, nem sempre satisfazem as
suas dívidas no respectivo vencimento, fazendo com que estas entrem em
situação de incumprimento.
Os Bancos e outras IC têm todo o interesse em relevar contabilisticamente
o crédito concedido na referida situação.
A relevação contabilística do crédito e juros vencidos, por regularizar,
processa-se nas contas:
(28) 1710090A1 – Crédito Vencido principal,
1710092A3 – Crédito Vencido – Juros e
1710098A5 – Crédito Vencido – Juros Vencidos a Regularizar

A contabilização do crédito (Capital) e juros vencidos, têm especificidades,


quer na contabilização do capital e quer na contabilização dos juros.

85
Contabilização do Capital
São transferidos para a conta (28) 1710090A1 todos os créditos (capitais)
que se encontrem por regularizar, independentemente da sua titulação,
decorridos, no máximo, trinta dias sobre o seu vencimento.
No entanto a instituição pode efectuar a sua transferência logo que
entenda que estão esgotadas as possibilidades de uma regularização
imediata.
É dado o mesmo tratamento às prestações de capital contratualmente
previstas para períodos futuros mas que, por razões de não cumprimento
de uma das prestações (de capital ou de juros) possam, nos termos legais,
considerar-se vencidas e em relação às quais existam dúvidas quanto à
sua cobrabilidade.

A Contabilização dos Juros


São transferdos para a conta (288) 1710098A5 – Crédito Vencido – Juros
Vencidos a Regularizar os juros vencidos na data em que a cobrança se
deveria ter efectuado, ficando a aguardar naquela conta pelo período
máximo de 3 meses.
Findo este período, e na ausência da respectiva liquidação, processar-se-á
a sua regularização contabilística.

Exemplo:
A agência central do Banco Renascer concedeu um crédito em conta
corrente, no valor de AKZ 40.000.00 à sua cliente Sociedade Turística da
Funda, SARL, para esta proceder à renovação parcial do mobiliário da sua
unidade hoteleira.
O empréstimo referido deveria ser liquidado em 5 prestações semestrais de
AKZ 8.000.00 acrescidas dos juros vencidos.
No entanto à data do vencimento da 3ª prestação, que já não foi paga, a
empresa entrou em situação de insolvência.
Consequentemente, o Banco Renascer decidiu passar todo o crédito não
liquidado para “Crédito Vencido”.
Na base desta atitude, estiveram as fortes dúvidas quanto à possibilidade de
a garantia, prestada por um dos sócios no caso previsível de falência, cobrir
a dívida na sua totalidade.
Refira-se, ainda, que à data da 3ª prestação, os juros vencidos eram de AKZ
2.200.00.

A partir deste caso, analisemos os lançamentos efectuados na


contabilidade do Banco Renascer, em consequência desta decisão.

86
1. PELO CAPITAL

(221)1710000A1-Crédito Vivo-Principal 1710090A1-Crédito


Vencido-Principal
40.000.00 1ª prestação 8.000.00 24.000.00
2ª prestação 8.000.00

24.000.00

2. PELOS JUROS

- No dia do vencimento:

1210200A3-No País-Juros 1710098A5-Crédito Vencido


Decorridos-MMI Juros a Regularizar
2.200.00 2.200.00 2.200.00

- Três meses após a data do vencimento


• Pela anulação de proveitos

5111170000G1-Juros Dev. Outras 1710098A5-Crédito Vencido


Aplicações-Residentes Empresas Juros a Regularizar
2.200.00 2.200.00

• Pelo registo extrapatrimonial (de acordo com o Plano as


rubricas extrapatrimoniais podem ser
movimentadas em partidas simples)

91710002Q1 ou 917200002Q1-Juros Vencidos


da Sociedade Turística da Funda, SARL
2.200.00

3.2.4. Provisões

As Provisões destinam-se a fazer face a encargos com prejuízo do


87
exercício ou a ele imputáveis, de verificação já comprovada ou de
comprovação futura, mas sempre de montante ainda desconhecido ou
indeterminado.

No entanto não podemos deixar de referir que as provisões a considerar


como custos ou perdas do exercício para efeitos fiscais, vêm enumeradas
na Portaria nº 668/72 de 28 de Setembro.

Os limites impostos pela legislação significam os quantitativos máximos


que são aceites como custos fiscais, podendo esses limites ser
ultrapassados desde que o excesso seja tributado.

No que se refere ao sistema bancário, o referido diploma remete as


paovisões fiscalmente dedutíveis como custos para a disciplina própria
imposta pelo banco central.

A constituição de provisões resulta de um princípio da contabilidade


geralmente aceite, o da prudência, que estabelece que as contas devem
integrar um grau de precaução por estimativas realizadas em condições
de incerteza, não permitindo, contudo, a criação de reservas ocultas ou
provisões excessivas ou, ainda, a quantificação inadequada de activos e
proveitos ou de passivos e custos.

A constituição de provisões destinam-se a fazer face a perdas esperadas


ou à cobertura de riscos potenciais, mas contudo elas devem estar
dimensionadas aos valores em risco.

O Aviso nº 9/2007 do BNA, publicado no DR I Série nº 116 de 26 de


Setembro de 2007, classifica os créditos concedidos e as garantias
prestadas, em ordem crescente de risco, bem como estabelece o
percentual das provisões a constituir mensalmente para fazer face às
perdas de crédito e de garantias, não podendo entretanto ser inferior ao
produto decorrente da aplicação dos percentuais estabelecidos sobre o
valor contabilístico de cada crédito.

NÍVEL RISCO PROVISÃO DIAS DE ATRASO


A Nulo 0%
B Muito Reduzido 1% Atraso > a 15 e = ou < a 30 dias
C Reduzido 3% Atraso > a 30 e = ou < a 60 dias
D Moderado 10% Atraso > a 60 e = ou < a 90 dias
E Elevado 20% Atraso > a 90 e = ou < a 150 dias
F Muito Elevado 50% Atraso > a 150 e = ou < a 180 dias
G Perda 100% Atraso > a 180 dias

88
Para maior clarificação do esquema de contabilização de operações de
provisões, veremos o seguinte exemplo:

O Banco Macuta apresenta a classificação temporal do crédito vencido,


conforme o quadro abaixo.

Calcule as provisões a constituir e efectue os eventuais reajustamentos


contabilísticos, sabendo que o saldo da conta 1.70.90. Provisão para
Créditos de Liquidação Duvidosa era de Kzs 850,7 milhões.

Nível Risco Provisão Saldo Contabilístico (milhões Kzs)


(%)
A Nulo 0
B Muito 1
C Reduzido 3 1.450
D Reduzido 10 880
E Moderado 20 980
F Elevado 50 1.100
G Muito 100 375
Elevado 335
Perda 496

Neste caso, os limites máximos para a constituição de provisões seriam, de


acordo com as percentagens permitidas, os seguintes:

Nível Risco Provisão Saldo Provisões a


(%) Contabilístico Constituir
(milhões de Kz) (milhões de Kz)
A Nulo 0 1.450 0,0
B Muito 1 880 8,8
C Reduzido 3 980 29,4
D Reduzido 10 1.100 110,0
E Moderado 20 375 75,0
F Elevado 50 335 167,5
G Muito 100 496 496,0
Elevado
Perda
TOTAL DAS PROVISÕES A CONSTITUIR
886,7
1.70.90 Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa
850,7
Diferença
89
36,0

Daqui resulta que o saldo final de provisões para crédito vencido poderá
atingir 886,7 milhões de kzs. Como, porém, a referida rubrica já
apresentava um saldo acumulado de 850,7 milões de kzs, teremos que o
reforço da provisão do exercício é de 36,0 milhões de kzs, e o lançamento
a efectuar será:

D: 5.10.10.90.10 Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa


549 Constituição de Provisões Específicas para Perdas
C: 1.70.90 (-) Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa
549 Constituição de Provisões Específicas para Perdas
(Pela contabilização do reforço das provisões em 36,0 milhões de
kzs)

3.2.5. Imobilizado e Amortizações

No CONTIF a classe 1.90 Imobilizações reparte-se pelas seguintes contas


de relevação dos activos imobilizados:
1.90.10 Imobilizações Financeiras
1.90.20 Imobilizações Corpóreas
1.90.20.10 Imóveis em Uso
1.90.20.20 Móveis, Utensílios, Instalações e equipamentos
1.90.20.30 Imobiliações em Curso
1.90.20.80 Outras Imobilizações Corpóreas
1.90.20.90 (-) Depreciações Acumuladas
1.90.30 Imobilizações Incorpóreas

O registo gradual da depreciação do Imobilizado implica, em


contrapartida, inscrições nas contas:
5.10.80.10.90 Depreciações e Amortizações
5.10.80.90. Resultados de Imobilizações
5.20.10 Ganhos e Perdas nas Imobilizações
5.20.20 Resultado na Alienação de Imobilizações

A Portaria nº 755/72 de 26 de Outubro, define da seguinte forma as taxas:

TABELA I TABELA II
Taxas específicas estabelecidas por Taxas genéricas, aplicáveis a
ramos de actividade (classificação quaisquer ramos de actividade
de acordo com a classificação das

90
actividades económicas pelo INE)

De harmonia com o preceituado no artigo 5º do mesmo documento, só


podem aplicar-se as taxas da Tabela II quando, para os elementos do
activo dos ramos de actividade de que se trate, não estejam fixadas taxas
específicas na Tabela I.

Não são susceptíveis de reintegração ou amortização os bens que já


tenham excedido o período máximo de vida útil, entendendo-se como tal,
o que resulta de uma taxa igual a metade da taxa aplicável segundo as
tabelas anexas à portaria.

Não são igualmente objecto de amortizações, os valores correspondentes


aos terrenos registados na rubrica 1.90.20.10 Imóveis de Uso.

3.2.6. Contas Interdepartamentais

A actividade de um banco desenvolve-se não apenas através de um único


orgão ou unidade, mas com recurso a estabelecimentos espalhados pelo
país inteiro, para além de orgãos centrais vocacionados para
determinadas operações de carácter mais especializado.

Entre todos os orgãos, se estabelecem relações patrimoniais que se


materializam em grande parte através de transferências internas de
valores, de que são exemplo:
• Remessas de numerário (notas e moedas nacionais e estrangeiras);
• Envio de cheques, letras, ordens de pagamento, títulos, etc.

Estas transferências são sempre objecto de tratamento contabilístico


prórpio, quer a montante, quer a jusante do circuito.

Deste modo, é possível o balanceamento patrimonial dentro dos diversos


orgãos da instituição e o controlo dos valores em trânsito. De acordo com
o CONTIF, esta movimentação deve ser efectuada através das contas:
0 Créditos no Sistema de Pagamentos/Relações entre Agências e
2.50.10 Obrigações no Sistema de Pagamentos/Relações entre Agências.

1 PERIODIFICAÇÃO DE CUSTOS E PROVEITOS

Decorre da função principal dos bancos e de outras instituições afins a


intermediação financeira que resulta da captação e colocação de recursos.

Mas estas captações e colocações de capitais obedecem a prazos


previamente estabelecidos no acto de contratação e a elas estão
associados custos (juros passivos) e proveitos (juros activos) que embora
91
se vençam em data pre-determinada, traduzem a remuneração do capital
por todo o tempo da sua utilização, seja ela efectuada pelos :
• Bancos (depósitos, certificados de depósitos, obrigações);
• Clientes (crédito concedido).

O processo de escalonar o juro ao longo do tempo designa-se por


periodificação e resulta da aplicação do princípio da especialização
temporal.
A periodificação consiste na trnsformação dos pagamentos e
recebimentos (fluxos descontínuos) em custos e proveitos (fluxos
contínuos) adequados aos recursos e aplicações a que respeitam.

A transformação dos fluxos descontínuos em contínuos é feita através das


contas dos seguintes grupos:
FACTOS PATRIMONIAIS CONTAS PARA REGULARIZAÇÃO
SEGUNDO A CONCRETIZAÇÃO NO
TEMPO
Descontínuos Contínuos Postecipada Diferida
Recebimentos Proveitos Grupo1 – Proveitos Grupo1 – Receitas
a com Proveito
Receber (D) Diferido (C)
Pagamentos Custos
Grupo2 – Custos a Grupo2 – Despesas
Pagar (C) com Custo Diferido
(D)
As contas a movimentar estão relacionadas com o momento da
concretização dos pagamentos e recebimentos.

De facto, temporalmente, os pagamentos e recebimentos referem-se a


uma data e os seus transformados em fluxos contínuos (custos e
proveitos) a um período.
TEMPORALMENTE
Pagamento e Recebimento Custos e Proveitos
Data Período
Mas relativamente à data verificam-se dois tipos de situações, consoante
ela se situe no início ou no fim do período.
Assim:
• Juro (custo ou proveito) diferido se o pagamento ou recebimento se
verifica no início.
Juro Diferido

Data

92
• Juro (custo ou proveito) postecipado se o pagamento ou recebimento se
verifica no fim
Juro postecipado

Data
Esquema de contabilização

Exemplo:

A Agência do Banco Renascer no Tômbua aceitou, no dia 15 de Março, um


depósito de AKZ 500.000.00 ao seu cliente Sousa Mavinga, pelo prazo de 181
dias à taxa de 13,5%
O impostode selo aplicado sobre os juros foi de 20%.

Pelos dados expostos o processo de tratamento contabilístico dos


respectivos juros, desde o mês de constituição do depósito até ao
respectivo vencimento, apresenta-se da seguinte forma:

❖ Cálculo dos juros a periodificar


Tendo em atenção o número de dias em que o depósito vigorou em cada
mês e a respectiva taxa de juros, teremos os seguintes valores de
periodificação mensal.

MÊS Nº DE DIAS VALOR


Março 17 3.140.00
Abril 30 5.550.00
Maio 31 5.730.00
Junho 30 5.550.00
Julho 31 5.730.00
Agosto 31 5.730.00
Setembro 11 2.040.00
TOTAL 181 33.470.00

❖ Dos valores calculados, resultam os seguintes lançamentos:

52-Custos a Pagar 70-Juros e Custos Equiparados


33.470.00 3.140.00 Março 3.140.00
5.550.00 Abril 5.550.00
5.730.00 Maio 5.730.00
5.550.00 Junho 5.550.00
5.730.00 Julho 5.730.00
5.730.00 Agoso 5.730.00

93
2.040.00 Setembro 2.040.00

33-Depósitos 39000-Retenção Impostos na


Fonte
26.780.00 6.690.00

Para crédito ao cliente Pelo imposto a entregar


ao tesouro

94

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