UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE VETERINÁRIA
PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA EM ÁREA PROFISSIONAL DA SAÚDE - MEDICINA
VETERINÁRIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE RESIDÊNCIA

PARTICIPAÇÃO DO MÉDICO VETERINÁRIO NA VIGILÂNCIA SANITÁRIA: UM RELATO

DE EXPERIÊNCIA

Profissional Residente
Nathália Christovam dos Santos Residente – R1
Tutoria por
Isabele da Costa Angelo
PRAPS - MV
Vigilância e Atenção Básica à Saúde

SEROPÉDICA – 2023
 RESUMO

A Vigilância Sanitária possui o papel de fiscalizar produtos de saúde que podem

propiciar riscos à saúde humana, ambiental e animal. O presente trabalho busca relatar a
vivência da residente de primeiro ano na rotina do Departamento de Vigilância Sanitária
da cidade de Cabo Frio.
 1 INTRODUÇÃO

A Vigilância Sanitária (VISA) possui o papel de promover, prevenir e proteger o

cidadão dos riscos à saúde, além de intervir nas complicações sanitárias advindas da
produção e circulação de bens, do meio ambiente e da prestação de serviços de interesse
da saúde (ENAP, 2015).
Seu início se deu nos séculos XVIII e XIX, através da Polícia Sanitária, com o
objetivo de proteger os cidadãos das doenças transmissíveis que se propagavam naquela
época (FIOCRUZ, 2019). As ações da polícia eram fundamentadas na fiscalização de
embarcações, comércio de alimentos e observação das atividades dos trabalhadores.
Já em 1953, houve a criação do Ministério da Saúde, com politicas voltadas para
a saúde, principalmente para os moradores das zonas rurais. Com o passar dos anos, a
realização das Conferências Nacionais de Saúde consolidou o impacto da saúde pública
no Brasil, fortalecendo a criação de um sistema de saúde único para todos e a
organização de um sistema descentralizado, focando no munícipio (MERELES, 2018).
Em 1969, através do Decreto-Lei 986/69, foi estabelecido as normas básicas
para alimentos; em 1976 foi criada a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. Em
1988, com a Constituição Federal foi estabelecido o Sistema Único de Saúde (SUS) e
posteriormente em 1990 foi criada a Lei 8080, conhecida como Lei Orgânica da Saúde,
que regulamentou o SUS e incluiu no seu campo de atuação a vigilância sanitária, a
vigilância epidemiológica, a saúde do trabalhador e a assistência terapêutica integral
(ENAP, 2015).
Em 1999 foi criada a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, com a finalidade
de promover a proteção de saúde da população, através do controle sanitário da
produção e da comercialização de produtos e serviços, incluindo dos ambientes,
processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, além do controle de
aeroportos, fronteiras e portos (BRASIL, 1999).
No que se refere à saúde pública, existem diversos profissionais sanitaristas que
são competentes no serviço de Vigilância Sanitária, sendo de fundamental importância o
papel do médico veterinário, que possui um conhecimento interdisciplinar, na
fiscalização e higienização dos produtos de origem animal, evitando a propagação de
doenças que podem causar danos à saúde humana, atuando na prevenção e na promoção
da saúde (UNIBRASIL, 2020).
 Desde 1998, o médico veterinário está apto para atuar na saúde humana,
ambiental e animal, quando na Conferência Nacional da Saúde (CNS) foi categorizado
como profissional de saúde. É de suma importância o papel deste na saúde pública, visto
que são os únicos qualificados para lidar com as questões de cunho animal (ANJOS et
al., 2021). Dentre as ações do médico veterinário na VISA, pode-se citar: fiscalização
de estabelecimentos de interesse à saúde, como farmácias, hospitais e laboratórios de
análises clínicas; fiscalização de estabelecimentos de interesse a saúde de bens de
consumo, como supermercados, açougues e ambulantes e fiscalização zoosanitária em
imóveis comerciais ou residenciais, como irregularidades no saneamento ambiental
(CRMV-PR, 2016).
Este trabalho tem por objetivo relatar a experiência de uma residente médica
veterinária no Departamento de Vigilância Sanitária da cidade de Cabo Frio, estado Rio
de Janeiro.
 2 MATERIAL E MÉTODOS

A cidade de Cabo Frio possui uma população estimada em 230.378 pessoas,

com densidade demográfica de 453,75 hab/km². Sua área territorial é de 413,449 km²,
com precisamente 82,3% dos domicílios com esgotamento sanitário adequado (IBGE,
2010).
O Departamento de Vigilância Sanitária se encontra no primeiro distrito da
cidade, localizado no bairro Jardim Flamboyant. Como coordenador do departamento
está um médico veterinário e a equipe é composta por diferentes profissionais: dois
farmacêuticos, um engenheiro, um biólogo e um dentista. Além disso, há quatro fiscais
sanitários de nível médio e superior, além de quatro agentes administrativos.
A médica veterinária foi inserida na rotina da VISA como residente do Programa
de Residência em Área Profissional da Saúde – Medicina Veterinária – Vigilância e
Atenção Básica à Saúde da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Sua
atuação e vivência profissional foi durante abril a outubro de 2021, totalizando 700
horas de atividades.
A vivência na VISA possibilitou a residente fazer fiscalizações nos diferentes
estabelecimentos da cidade; atendimento ao público na sede; elaboração de pareceres;
preenchimento de intimações e notificações através do sistema REGIN.
 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Fiscalizações
As fiscalizações sanitárias tem por motivo eliminar, diminuir ou prevenir riscos
à saúde, intervindo nos problemas sanitários advindos do meio ambiente, produção e
circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde (ENAP, 2015).
No período entre abril a outubro de 2021, foram realizadas 406 fiscalizações
(Tabela 1). Elas eram feitas em sua maioria no período de 8 horas às 17 horas, horário
de funcionamento do setor da VISA. Em algumas ocasiões, houve a necessidade de a
fiscalização ser feita à noite.

Estabelecimentos/outros Tot Estabelecimentos/ Tot Estabelecimentos/ Tot

al outros al outros al

Ferro Velho 1 Fábricas e indústrias 3 Banheiro 1

Farmácia, Drogarias, Manipulação 18 Artigos médicos e óticas 1 Peixaria 1

Laboratórios 3 Moradia de idosos 3 Ambulantes 290

Transportadora de 1 Academias 1 Fisioterapia 1

medicamentos
2 Ensino/creches 7 Odontologia 21
Consultórios médicos
2 Hoteis/pousadas 2 Casas 2
Estética, beleza, piercing
5 Home care 1 Casas de show/eventos 1
Empresas prestadoras de serviços
17 Clínicas 5 Fábricas e indústrias 3
Comércio alimentício em geral
15 Carros e caminhões 2 - -
Bares e restaurantes

Total: 406

Tabela 1 – Casuística das fiscalizações de acordo com o tipo de estabelecimento.

As fiscalizações eram feitas com diferentes objetivos. Algumas eram rotineiras,

outras tinham o objetivo de conceder a licença inicial de determinado estabelecimento,
outras eram feitas a partir do recebimento de denúncias. A equipe, por conta da
mobilização da Secretaria de Saúde para a vacinação da COVID-19, não dispunha de
carro próprio. Os carros eram previamente agendados com a Secretaria de Transporte ou
então a partir do trabalho conjunto com o PROCON. Por conta deste fato, a equipe
ficava reduzida, por falta de vaga no veículo. Um fiscal sanitário acompanhava o
técnico para determinado estabelecimento, como farmácias ou mercados.
Muitas fiscalizações resultavam em intimações, com o objetivo de melhorar os
estabelecimentos, estando de acordo com as legislações específicas. O fiscal sanitário
decretava a quantidade de dias necessários para que o contribuinte se regularizasse
perante a VISA. Em muitas ocasiões, foi-se necessário prorrogar os dias, pois muitos
contribuintes não conseguiam realizar as mudanças necessárias.
Outras ações durante as fiscalizações foram: apreensão, ato de infração, vistoria
para realização de eventos, interdição, vistoria para renovação, notificação, vistoria de
projeto, infração, vistoria de ambulantes, entre outros. Na Tabela 2, encontra-se o total
de cada fiscalização feita. Importante ressaltar que em muitas fiscalizações mais de uma
ação era feita.

Tabela 2 – Objetivos e ações das fiscalizações feitas pela VISA.

Objetivos Total Ações Tota

l

Denúncia 25 Intimação 88

Rotina 30 Infração 7

Vistoria p/ licença inicial 38 Interdição 2

Decreto COVID-19 5 Apreensão 2

Vistoria p/ renovação 16 Multa 1

Vistoria p/ eventos 1 Notificação 1

Vistoria de projeto 1 - -

Vistoria de ambulantes 29 - -
0

Total 40 101
6

3.2 Sistema de Registro Integrado

Quando não havia fiscalizações na rua, havia a análise de processos via Sistema
de Registro Integrado (REGIN). Esse sistema integra os órgãos públicos envolvidos no
Registro de Empresas (Prefeituras, Secretaria de Fazenda Estadual, Receita Federal e
outros), com o objetivo de desburocratizar os processos de abertura e alteração de
empresas (REGIN, 2019).
 O sistema foi implementado na VISA no final de 2019, sendo obrigatório todos
os processos de pessoas jurídicas iniciarem no REGIN. Entretanto, muitos contribuintes
enfrentam problemas no sistema, preferindo dar entrada no processo de forma inicial. O
REGIN traz vantagens como: economia de tempo e dinheiro na abertura da empresa;
acompanhamento do processo via internet e realizar todo o processo de abertura da
empresa em um único lugar (REGIN, 2019).
No REGIN os processos passam por avaliação de três departamentos: Vigilância
Sanitária, Vigilância Ambiental e Secretaria de Fazenda. Na Tabela 3, encontram-se os
estabelecimentos que já dispõem da aprovação da VISA, mas possuem pendências junto
aos outros estabelecimentos, sendo necessário a liberação deles para dar continuidade à
licença sanitária.

Tabela 3 – Processos pendentes no REGIN.

Estabelecimentos Total Estabelecimentos Total

Bares e restaurantes 28 Ensino/creches 4

Farmácias, drogarias, manipulação 11 Academias 2

Comércio alimentício em geral 25 Fisioterapia 1

Empresas prestadoras de serviços 7 Consultórios 3

médicos
Hotéis/pousadas 1 1
Artigos médicos
Odontologia 5 1
Estética

Total 89

3.3 Análise de processos presencial

Além da análise de processos via REGIN, havia também a análise de processos
via presencial. A VISA possui uma listagem de documentos necessários para que haja a
liberação da licença inicial, renovação de processos, baixa de responsabilidade técnica
(RT), entre outros. O processo é aceito para análise dos fiscais e técnicos somente se
toda a documentação estiver presente. Na Tabela 4 estão presentes os estabelecimentos
que possuem processo presencial perante a VISA.
 Tabela 4 – Estabelecimentos com Processo Presencial na VISA.

Estabelecimentos/outros Total Estabelecimentos/outros Tota

l

Serviços de radiodiagnóstico 6 Fábricas e indústrias 1

Farmácia, Drogarias, Manipulação 82 Artigos médicos e óticas 9

Laboratórios 11 Academias 4

Transportadora de medicamentos 1 Ensino/creches 3

Consultórios médicos 27 Hoteis/pousadas 12

Estética, beleza, piercing 5 Home care 2

Empresas prestadoras de serviços 4 Clínicas 26

Comércio alimentício em geral 40 Fisioterapia 3

Bares e restaurantes 12 Odontologia 18

Total:266

Em sua maioria, os processos eram para renovação da licença sanitária. Na

VISA, a validade se encerra no dia 30 de abril de cada ano. Entretanto, muitas se
regularizaram apenas depois do prazo vigente. Na tabela 5, estão os motivos pelo qual
houve o atendimento presencial.

Tabela 5 – Motivos da ida presencial dos contribuintes à VISA.

Objetivos do processo Total Objetivos do Total

processo

Renovação 187 Inicial (quiosque) 1

Abertura de livro 8 Inicial (via REGIN) 2

Inicial 60 Autorização 3
retinoides
Inicial (mudança de endereço) 2 1
Alteração RT
Renovação (mudança de 1 1
endereço) Baixa de RT

Total:26
6
 Após os processos passarem por análise dos fiscais sanitários, técnicos e
coordenador da VISA, a licença já estava pronta para ser retirada. A licença sanitária
deve estar afixada em local visível ao público, juntamente com o alvará de localização
da prefeitura, cartão do CNPJ e laudo de vistorias do Corpo de Bombeiros
(CONTFOUR, 2020).
Na Tabela 6 há o número e tipos de estabelecimentos que retiraram a licença
sanitária. Observe que na Tabela 7, algumas licenças de anos passados foram retiradas
em 2021, mostrando que há um certo desleixo de alguns contribuintes de estar em dia
com a lei.

Tabela 6 – Licenças retiradas.

Estabelecimentos/outros Total Estabelecimentos/outros Tota

l

Tabela 7 Serviços de radiodiagnóstico 5 Fábricas e indústrias 2 –

Licenças sanitária
retiradas. Farmácia, Drogarias, Manipulação 69 Artigos médicos e óticas 7

Laboratórios Licença 8 Academias

Total 4

Transportadora de medicamentos 1 Ensino/creches 4

Licença sanitária 2021 189
Consultórios médicos 15 Hoteis/pousadas 11
Licença sanitária 2020 16
Estética, beleza, piercing 2 Clínicas 29
Licença sanitária 2019 2
Empresas prestadoras de serviços 6 Fisioterapia 2
Total
Comércio alimentício em geral 21 207
Odontologia 8

Bares e restaurantes 13 - -

3.4 Total:207

Denúncias
A VISA recebeu 34 denúncias durante o período de cenário externo. As
denúncias podiam ser feitas via presencial, feitas no balcão ou através de e-mail, via
ouvidoria. Muitos estabelecimentos foram denunciados por infringir o Decreto da
COVID 19, com aglomerações, uso incorreto de máscaras ou funcionamento após
horário permitido.
Outras denúncias foram: armazenamento de indevido de alimentos em
churrascaria; criação de porcos em área residencial com mau cheiro e moscas; mercado
com venda de produtos vencidos, veneno exposto próximo aos alimentos; loja fazendo
descarte irregular de lixo e band-aid encontrado em comida em restaurante.

3.5 Discussão
Foram realizadas 406 fiscalizações e, destas, 71,42% foram de ambulantes
(Figura 1). Por ser uma cidade turística, Cabo Frio possui um grande número de
ambulantes, sendo justificado a porcentagem. A fiscalização foi feita na Praia do Forte,
Praia do Peró e Morada do Samba, durante três dias. A princípio, as fiscalizações iriam
ocorrer da seguinte forma: primeiro dia – ambulantes que vendem churrasquinho;
segundo dia – ambulantes que vendem pizza; segundo dia – ambulantes que vendem
tapioca e milho.

Figura 1 – Fiscalização de ambulantes de churrasquinho na Praia do Forte. Fonte: Arquivo Pessoal, 2021.

Alguns pontos importantes que os fiscais sanitários observaram: lixeira com

tampa e pedal; cooler para acondicionar os alimentos; água potável para lavagem das
mãos; qualidade do forno; presença da frigideira e qualidade da chapa (Figura 2). Além
da fiscalização da VISA, os ambulantes passaram pela fiscalização da Defesa Civil, que
observou o gás e dimensões dos carrinhos.
 Figura 2 – Pontos importantes observados na fiscalização de ambulantes: cooler, água filtrada e lixeira com pedal.
Fonte: Arquivo pessoal, 2021.

Após passar pelas fiscalizações dos dois órgãos, os ambulantes iriam até a
Secretaria de Posturas e pegariam um encaminhamento para pagar a taxa de fiscalização
sanitária, retirando a licença sanitária na VISA por fim. Entretanto, a Secretaria de
Posturas não liberava o encaminhamento, causando grande confusão entre os setores.
As fiscalizações de consultórios odontológicos foram o segundo serviço mais
feito, com 5,18%. Apesar disso, o técnico dentista observou que há muitos
estabelecimentos funcionando sem a licença sanitária e muitos não procuram a VISA
para se regularizar. Muitas fiscalizações foram de rotina, apresentando surpresa ao
encontrar consultórios com mais de 30 anos de funcionamento sem licença sanitária.
Nesse ponto é necessário observar a falta de fiscalização satisfatória e falta de interesse
dos contribuintes de se regularizar perante a lei.
Outros estabelecimentos mais fiscalizados: farmácias, drogarias e manipulação
(Figura 3), com 4,44%; comércio alimentício em geral, com 4,19% e bares e
restaurantes, com 3,79%. Com a pandemia de COVID-19, muitas farmácias começaram
a funcionar. Entretanto, baseado na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC), há muitos
critérios a serem seguidos para que a farmácia consiga ter sua licença sanitária liberada.
 Figura 3 – Fiscalização para concessão de licença inicial em drogaria. Fonte: Arquivo Pessoal, 2021.

Em uma vistoria para licença inicial, uma farmácia foi interditada, multada e
com medicamentos apreendidos, pelas seguintes infrações: estar funcionando sem a
licença sanitária; venda de medicamentos controlados e sujeitos a controle especial sem
possuir licença para tal (Figura 4) e estar funcionando sem o responsável técnico
farmacêutico no local.
 Figura 4 – Medicamentos apreendidos em farmácia. Fonte: Arquivo Pessoal, 2021.

Com o avanço da pandemia, muito se observou o aumento de estabelecimentos

com venda de alimentos, incluindo mercados, lanchonetes, mercearias, bares e
restaurantes. Quando há manipulação de alimentos, há a obrigatoriedade de ter um
responsável técnico, podendo este ser médico veterinário ou nutricionista. Algo que
possui um entrave é a ocorrência de nutricionistas como responsáveis técnicos de
mercados. Entretanto, sabe-se que produtos de origem animal, compete somente ao
médico veterinário a responsabilidade técnica, por possuir maior conhecimento sobre a
área. Porém, como há pouco interesse dos veterinários nessa área, o profissional acaba
perdendo seu espaço para outra profissão.
A vistoria de ambulantes foi o objetivo mais frequente, com 71,42%. Seguido
por ele, a vistoria para licença inicial, com 9,35%, fiscalização de rotina, com 7,39% e
averiguação de denúncias (Figura 5), com 6,15%. Um estabelecimento não pode
funcionar sem a licença sanitária e outras documentações, e muitos estabelecimentos
não possuíam, o que configura um problema que pode acarretar em situações
catastróficas.
 Figura 5 – Denúncia do Ministério Público do Trabalho em hortifruti. Fonte: Arquivo Pessoal, 2021.

Quando ocorria a vistoria pra licença inicial, o fiscal sanitário, juntamente com o
técnico da área, seguia um roteiro de inspeção específico para cada estabelecimento.
Essa vistoria era demorada, pois comumente havia muitos pontos a serem corrigidos.
Após a vistoria, o fiscal preenchia a intimação com os todos os itens que precisavam ser
corrigidos, com alguns dias para que que os contribuintes providenciassem as
melhorias.
Os fiscais também faziam fiscalizações de rotina, e se surpreendiam com a
quantidade de estabelecimentos que nem sequer faziam ideia do que se tratava a licença
sanitária. O fiscal intimava o contribuinte a comparecer à sede da Vigilância Sanitária
para que ele entrasse em conformidade com a lei (Figura 6). Além disso, muitos
contribuintes davam entrada na licença, mas não renovavam a cada ano. Com isso, o
fiscal alertava que o nome da empresa entrava na dívida ativa da justiça, podendo
futuramente trazer problemas financeiros.
Figura 6 – Intimação preenchida pela residente para que contribuinte comparecesse à sede da VISA. Fonte: Arquivo
Pessoal, 2021.

Houveram denúncias sobre o não cumprimento do Decreto da COVID-19,

principalmente por funcionar fora do horário permitido, com aglomerações e sem
distanciamento. Além disso, outros motivos foram: alimentos fora do bom estado de
conservação (Figura 7), denúncia via Ministério Público do Trabalho por falta de
condições de descanso para funcionários, denúncia via Centro de Referência
Especializado em Assistência Social, por idosos viverem em condições precárias de
saúde. Neste último caso, é importante salientar que tal situação não é competência da
Vigilância Sanitária, porém, ao receber um ofício do Ministério Público, é obrigatório o
departamento averiguar o local e fornecer um parecer sobre o fato.
 Figura 7 – Alimentos fora de seu estado de conservação. Fonte: Arquivo Pessoal, 2021.

Das ações feitas, 87% foram intimações, com prazos para que o estabelecimento
se regularize perante à VISA. As infrações (Figura 8) foram feitas por cerca de 7% dos
estabelecimentos, podendo ser classificada como leve, média, grave ou gravíssima.
Cerca de 2% dos estabelecimentos foram interditados (Figura 9), podendo essa
interdição ser parcial, como por exemplo, interdição de armário de antimicrobianos pelo
fato da farmácia não possuir liberação da venda dos mesmos, ou total, com o
fechamento do estabelecimento.
 Figura 8 – Modelo de auto de infração. Fonte: Arquivo Pessoal, 2021.

Figura 9 – Adesivo de interdição. Fonte: Arquivo Pessoal, 2021.

Além disso, 2% dos estabelecimentos tiveram mercadorias apreendidas (Figura

10), por não possuir a liberação da venda, vender alimentos fora da temperatura ideal
para consumo ou estar fora da validade. Somente 1% dos estabelecimentos foram
multados, pois a multa ocorre somente em casos graves ou gravíssimos, ou quando não
há mais opção de prorrogar a intimação e o estabelecimento continua funcionando.
Apenas 1% foram notificados, quando há a comunicação da ocorrência de eventos,
problemas ou situações associadas a produtos e serviços (ANVISA, 2020).

Figura 10 – Mercadorias apreendidas em supermercado, por estarem com a temperatura fora do seu estado de
conservação. Fonte: Arquivo Pessoal, 2021.

Apesar do REGIN ser um novo sistema que promete maior facilidade para
liberação da licença sanitária, a maioria dos contribuintes de Cabo Frio não se adaptou a
ele. Há uma prorrogativa de que processos iniciais de comércio alimentício em geral
devem dar entrada somente pelo REGIN. Entretanto, os contribuintes alegam que não
conseguem anexar documentos e acompanhar o processo.
Outro problema do REGIN é o fato de poucos técnicos e fiscais sanitários terem
se adaptado ao sistema. Atualmente, somente um fiscal sanitário e um técnico
farmacêutico possuem o cadastro, o que acaba trazendo uma maior demora no processo
de liberação. Na Tabela 3 estão somente os processos pendentes nos outros
departamentos, como a Vigilância Ambiental e Secretaria de Fazenda. Os processos
também devem passar pelo Corpo de Bombeiros. Dos 89 processos pendentes, 31,47%
são de bares e restaurantes; 28,1% de comércio alimentício em geral; 12,35% farmácias,
drogarias e manipulação e 7,9% são de empresas prestadoras de serviços. É importante
ressaltar que quando havia a renovação anual dos estabelecimentos, esta deveria ser
feita de forma presencial.
 Deram entrada no setor da VISA 266 estabelecimentos no período relatado. A
maioria dos processos foram do setor de saúde, sendo o primeiro lugar farmácia,
drogarias e manipulação, com 30,9%. Segundo o técnico farmacêutico, existem cerca
200 farmácias na cidade de Cabo Frio, e nem todas possuem a licença para
funcionamento, o que configura um risco sanitário para a população.
Em segundo lugar na entrada de processos foi o comércio alimentício em geral,
com 15,03%. Inclui-se nesse tipo de estabelecimento empresas de alimentos preparados
para consumo domiciliar, os chamados deliverys. Segundo dados do Governo Federal,
foram abertas mais de 3 milhões de empresas em 2020. Isso mostra um aumento nesse
tipo de negócio, afetando a atividade empresarial de toda uma população.
Outros estabelecimentos que mais deram entrada durante período relatado:
consultórios médicos, com 10,15% e clínicas, com 9,8%. Podemos deduzir que houve
uma explosão desse tipo de estabelecimentos devido a pandemia de COVID-19. Com
ela, houve um aumento no índice de doentes, havendo a necessidade de alocar melhor a
população. Além disso, observa-se que há uma maior preocupação com a saúde física;
muitas clínicas e consultórios referem-se a serviços estéticos.
Na entrada desses processos, 70,3% eram renovação. A licença sanitária vence
em 30 de abril de cada ano, devendo o contribuinte levar toda a documentação
necessária para que haja a liberação da renovação. Observou-se um movimento maior
nessa época do ano, entretanto muitos contribuintes atrasaram e renovam a licença após
esse período.
Cerca de 22,55% dos processos eram de licença inicial, mostrando que, mesmo
com o REGIN, o contribuinte continuava iniciando o processo de forma presencial.
Outros motivos da ida dos contribuintes à VISA: abertura de livro, com 3% e
autorização de retinoides, com 1,12%. A abertura de livro é obrigatória a todo
estabelecimento que vende os seguintes medicamentos: entorpecentes, psicotrópicos,
medicamentos sujeitos a controle especial e medicamentos imunossupressores
(PORTARIA Nº 344, 1998). Os estabelecimentos que dão entrada nesse processo, são:
laboratórios farmacêuticos, indústria farmoquímica, distribuidoras, drogarias e
farmácias. Farmácias e drogarias também costumam dar entrada no processo de
autorização de retinoides, podendo comercializar esse tipo de medicamento somente
quando possuírem a liberação da VISA.
Das licenças retiradas, 33,33% eram de farmácias, drogarias e manipulação;
14% clínicas; 10,14% comércio alimentício em geral e 7,24% consultórios médicos.
Atualmente, a liberação só é feita depois da assinatura do coordenador, do fiscal
sanitário que analisou o processo e do técnico. A licença sanitária deve estar afixada,
juntamente do alvará de localização e do certificado de aprovação do Corpo de
Bombeiros, em local visível ao público. Estabelecimentos como farmácias, drogarias e
manipulação apresentavam certa pressa em retirar a licença, devido ao fato de que
transportadoras não aceitam vender remédios para estabelecimentos que não estão em
dia com a VISA e outros órgãos.
Destas licenças, 91,3% eram a licença sanitária 2021; 7,7% licença 2020 e 1%
licença 2019. Isso mostra que alguns contribuintes acabam abandonando o processo,
não indo retirar o documento. Além disso, quando o contribuinte já está cadastrado na
VISA, mas acaba não renovando, é necessário retirar as licenças anteriores antes de dar
entrada no processo do ano atual, sendo necessário pagar as taxas de fiscalização
sanitária dos anos anteriores.
 4 CONCLUSÃO

De modo geral, podemos observar alguns problemas durante o período de

vivência na VISA: há ainda muitos estabelecimentos em não conformidade com a
Vigilância Sanitária, ou seja, não possuem licença sanitária de funcionamento e muitos
contribuintes dão início ao processo, porém não finalizam, podendo futuramente trazer
problemas para eles.
Além disso, há poucos insumos para trabalho na VISA: anteriormente, o setor
possuía carro próprio, mas por conta da vacinação da COVID-19, o carro foi retirado e
o setor depende da boa comunicação com o setor de transporte para que ocorra as
fiscalizações. Muitas vezes o carro estava marcado e não aparecia, atrasando o serviço
dos fiscais e técnicos. Por conta da falta de fiscalizações em alguns dias, muitos
contribuintes vinham reclamar, causando transtorno para todos.
Por conta desse problema de falta de carros, o Ministério Público interferiu,
perguntando diretamente ao coordenador da VISA se o setor possuía carro próprio e
quais eram as condições de higiene do setor. Atualmente, estima-se que o setor arrecade
mais de R$ 300.000,00 através somente das taxas de fiscalização sanitária. Entretanto,
como esse valor arrecadado vai para a Secretaria de Saúde, a qual faz parte o
Departamento de Vigilância Sanitária, o dinheiro não chega no setor, possuindo este,
condições precárias de funcionamento.
A residente conclui que a experiência na VISA foi de extrema valia, pois pôde
vivenciar como funciona o setor público, com todas suas dificuldades e facilidades.
Além disso, conviveu com diferentes profissões, aprendendo com uma equipe
multidisciplinar ímpar.
 5 REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Economia. Governo Federal. Brasil teve em 2020 o melhor
desempenho da década na abertura de empresas. Brasília, 2021.

BRASIL. Portaria nº 344, de 12 de maio de 1998(*). Aprova o Regulamento Técnico

sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial.

CABO FRIO. Lei Complementar, de 20 de dezembro de 2016. Institui o Código

Sanitário do Município de Cabo Frio. Cabo Frio, 2016.

CONTFOUR. Conheça os documentos de afixação obrigatória para empresas. In:

CONTFOUR Contabilidade Digital. Rio de Janeiro, 2020. Disponível em:
https://contfour.com/contabil/conheca-os-documentos-de-afixacao-obrigatoria-para-
empresas/. Acesso em: 19 set. 2021.

JUCERJA. Apresentação REGIN e pedido de viabilidade. Governo do Estado do Rio

de Janeiro. Rio de Janeiro, 2019.