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PREÂMBULO
1.1 Autoridade Requisitante e Dados do Processo
Exmo. Sr. Dr. Juiz, de Direito da Vara de infância e juventude da Comarca de
Barueri – São Paulo
PROCESSO: 1016583-04.2021.8.26.0068
REGISTRO IMESC: 571646
REQUERENTE: Augusto Arcanjo Neves, (menor de idade).
Representado por seu genitor, Sr. Dominas Fiel Arcanjo Neves.
Requerido: Prefeitura Municipal Barueri – Secretaria Municipal de Saúde
Natureza da Ação: Obrigação de Fazer.
Perita: Dra. Luciana Regina Costa Nishitani
Data da Perícia: 10 de abril de 2023.
Endereço: IMESC - Rua Barra funda, 824 – São Paulo – SP CEP: 01152-000
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Endereço: Rua Singapura, 374 – São Bernardo Residência – Barueri – São
Paulo CEP: 06448-020
2. HISTÓRICO
2.1RESUMO DA INICIAL
Trata-se de ação que o autor, Augusto Arcanjo Neves, move junto à
Prefeitura de Barueri, a fim de fornecimento de Bomba de aplicação de
insulina e insumos, para tratamento médico.
Move a presente ação para ter atendido o tratamento proposto por seu
médico assistente, visto ser de custo proibitivo, e fazendo uso da respectiva
proposta terapêutica informa ter havido melhora dos sintomas.
Move ação em face da Prefeitura do Município de Barueri
solicitando para efetivo controle de sua patologia:
● 01 sistema de infusão contínua de insulina Accu-Check Combo Set de
infusão com cateter de 08 mm com cânula 60 cm (10\mês) – 12
caixas\ano
● Reservatório de insulina 3,15 ml (caixa com 25 unidades) 05 caixas\ano
● Lancetas (1 caixa = 204), 10 caixas\ano
● Kit (04 pilhas\adaptador\tampa de bateria) = 03\ano
● 01 Lancetador Accu-Check FastClix
● 01 Aplicador de cateter
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2.2 ANAMNESE/HISTÓRIA DA MOLÉSTIA ATUAL
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Nega dificuldades no aprendizado escolar.
Refere viroses comuns da infância que evoluíram para cura, sem
intercorrências ou sequelas.
Nega transtorno de comportamento na infância.
Nega outros antecedentes nos familiares de importância para esta perícia.
Nega ser tabagista.
Nega ser etilista.
Nega ser usuário de drogas ilícitas.
2.4ANTECEDENTES PROFISSIOGRÁFICO
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4. DOCUMENTOS MÉDICOS LEGAIS
4.1Relatórios médicos
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Fls. 130 a 188 Portaria Conjunta 17 de 12 de novembro de 2019 aprova
Protocolo Clínico e diretrizes terapêuticas do Diabetes Melito tipo 1.
5. DISCUSSÃO
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estejam cadastrados no cartão SUS e/ou no Programa de Hipertensão e
Diabetes (Hiperdia).
DO QUADRO CLÍNICO
O diabetes mellitus (DM) consiste em um distúrbio metabólico
caracterizado por hiperglicemia persistente, decorrente de deficiência na
produção de insulina ou na sua ação, ou em ambos os mecanismos,
ocasionando complicações em longo prazo.
A hiperglicemia persistente está associada a complicações crônicas micro
e macro vasculares, aumento de morbidade, redução da qualidade de vida e
elevação da taxa de mortalidade.
A classificação do DM tem sido baseada em sua etiologia. Os fatores
causais dos principais tipos de DM – genéticos, biológicos e ambientais –
ainda não são completamente conhecidos. A classificação proposta pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Associação Americana de
Diabetes (ADA) e aqui recomendada inclui quatro classes clínicas: DM tipo 1
(DM1), DM tipo 2 (DM2), outros tipos específicos de DM e DM gestacional.
No diabetes mellitus tipo 1 ocorre a destruição da célula beta levando a
deficiência absoluta de insulina. Desta forma, a administração de insulina é
necessária para prevenir cetoacidose. A destruição das células beta é
geralmente causada por processo autoimune (tipo 1 autoimune ou tipo 1A),
que pode ser detectado por autoanticorpos circulantes como
antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD), anti-ilhotas e anti-insulina.
Em menor proporção, a causa é desconhecida (tipo 1 idiopático ou tipo 1B). A
destruição das células beta em geral é rapidamente progressiva, ocorrendo
principalmente em crianças e adolescentes (pico de incidência entre 10 e 14
anos), mas pode ocorrer também em adultos.
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“Ao contrário do que muita gente pensa, o conceito de medicina baseada
em evidências (MBE) não se restringe apenas a conceitos derivados de
grandes estudos clínicos da literatura internacional. Estes são apenas
componentes importantes de uma concepção muito mais ampla de MBE que
também leva em consideração a experiência pessoal do médico e as
preferências individuais dos pacientes para a elaboração de condutas
terapêuticas mais personalizadas e com maior probabilidade de sucesso. A
figura 1 resume esse conceito ampliado de MBE, segundo o qual as decisões
clínicas baseadas em evidência resultam da combinação harmônica entre
seus três componentes básicos.
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Do visto a opção do uso do medicamento é critério do médico assistente,
obviamente com escolha alicerçada em bases científicas. E não havendo
obrigação, no sistema privado a prescrição de medicamentos genéricos, ou
adequados a políticas públicas de assistência farmacêutica.
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3. Medicamentos incorporados do Componente Especializado: o Grupo
3 do Componente Especializado foi incorporado pelo Componente Básico da
Assistência Farmacêutica.
No Componente Básico da Assistência Farmacêutica, o Ministério da
Saúde é responsável pela aquisição e distribuição das Insulinas Humanas
NPH e Regular (frascos de 10 ml), sendo que os Estados e municípios são
responsáveis pelo financiamento e aquisição de tiras reagentes para dosagem
da glicemia capilar, lancetas e seringas com agulha acoplada.
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No Grupo 1A estão incluídos os medicamentos com aquisição
centralizada pelo MS e no Grupo 1B os financiados com transferência de
recursos do MS, com aquisições pelas Secretarias Estaduais de Saúde.
2. O Grupo 2 é constituído por medicamentos cujas responsabilidades
pelo financiamento e aquisição são das Secretarias de Estado da Saúde.
3. Os demais medicamentos (Grupo 3) foram incorporados ao
Componente Básico da Assistência Farmacêutica, com aquisições e
dispensações sob responsabilidade dos Municípios.
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ferramenta AMSTAR. Os desfechos avaliados foram os níveis de hemoglobina
A glicosilada (HbA1c) e episódios de hipoglicemia. A redução dos níveis de
HbA1c nos estudos selecionados variou de 0,18% a 0,55%. No entanto, este
valor não é considerado clinicamente significativo. Os eventos de hipoglicemia
leve, grave e noturna não demonstraram diferenças significativas entre os
grupos em uso do SICI e MDI, em crianças e adultos com DM1. Não foram
identificadas evidências suficientes em relação a eventos adversos,
complicações tardias do diabetes e mortalidade.
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ação prolongada. A educação dos pacientes e seus familiares para o
autocuidado envolve processos de educação sobre alimentação saudável,
contagem de carboidratos, prática de exercícios físicos, identificação e
tratamento da hipoglicemia, administração de insulina, insulinoterapia
intensiva. Os objetivos de controle glicêmico devem ser determinados
individualmente, de acordo com a idade do paciente e a capacidade de
identificar e tratar hipoglicemias.
Maior informação sobre técnicas de aplicação de insulina pode ser
encontrada no Apêndice B deste Protocolo e estão disponíveis no Caderno de
Atenção Básica nº 36 (Estratégias para o Cuidado da Pessoa com Doença
Crônica – Diabete melito) e nas Diretrizes da Sociedade Brasileira de
Diabetes. Uso de seringas e canetas de insulina. As insulinas são
administradas por meio de seringas graduadas em unidades internacionais
(UI) ou canetas de aplicação. Ambas são apresentadas em vários modelos,
sendo que alguns permitem até mesmo o uso de doses de 0,5 unidade de
insulina. Assim como as seringas, as canetas podem ser usadas com agulhas
de diferentes comprimentos. Agulhas de 4 milímetros e com camada de
silicone torna a aplicação menos dolorosa, podendo facilitar a adesão do
paciente ao tratamento. A escolha da agulha e das técnicas de aplicação
desses medicamentos pela caneta segue, em geral, as mesmas orientações
da aplicação de insulina por meio de seringas. As seringas são os dispositivos
mais utilizados no Brasil e possuem escala graduada em unidades adequadas
à concentração da insulina U-100, disponível no Brasil. As seringas para
insulina com agulha fixa, sem dispositivo de segurança, estão disponíveis em
três apresentações: capacidade para 30, 50 e 100 UI. A seringa com
capacidade para 100 UI é graduada de duas em duas unidades, para 30 e 50
UI a escala é de uma em uma unidade e as seringas para 30 UI com escala de
meia em meia unidade. É importante ressaltar que essas duas últimas (de 30
e 50 UI) permitem a administração de doses ímpares. Para os profissionais da
saúde, que devem usar seringa de insulina com agulha fixa e dispositivo de
segurança para realizar aplicação, estão disponíveis seringas com capacidade
para 50 e 100 UI. A caneta de aplicação de insulina tem se tornado uma opção
popular nos últimos anos. Entre as suas vantagens em relação à seringa,
estão a praticidade no manuseio e transporte, além da opção de uso com
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agulhas mais curtas e finas. Essas vantagens proporcionam maior aceitação
social e melhor adesão ao tratamento, melhorando, consequentemente, o
controle glicêmico. Considerando a diversidade de canetas disponíveis no
mercado, que podem se diferenciar pela marca, graduação e dose máxima por
aplicação, o paciente deve utilizar a técnica de aplicação disponibilizada pelo
fabricante. Sistema de infusão contínua de insulina (SICI) ou bomba de
insulina. Os sistemas de infusão contínua de insulina (SICI) são conhecidos
como bomba de insulinas e constituem dispositivos mecânicos com comando
eletrônico que injetam insulina de forma contínua, a partir de um reservatório,
para um cateter inserido no subcutâneo, geralmente na parede abdominal
(região periumbilical), nádegas ou, ocasionalmente, coxas. Estes aparelhos
simulam a fisiologia normal, com liberação contínua de insulina (basal) e por
meio de aplicações em pulso (bolus) nos horários de refeições ou para
correções de hiperglicemia. O uso de SICI não substitui o cuidado do paciente
no controle da alimentação e monitorização da glicemia, além de requerer
outros dispositivos para manutenção do tratamento e cuidado do paciente,
como o uso de cateteres. Insulina NPH 100U/mL suspensão injetável Insulina
regular 100U/mL solução injetável Insulina Análoga de ação rápida 100U/mL
solução injetável Insulina Análoga de ação prolongada 100U/ml solução
injetável.
MINISTÉRIO DA SAÚDE A Portaria nº 38/SCTIE/MS, de 11 de
setembro de 2018, tornou pública a decisão de não incorporar o sistema
de infusão contínua de insulina para tratamento de segunda linha de
pacientes com diabete melito tipo 1, no âmbito do Sistema Único de
Saúde – SUS. O relatório da CONITEC que tratou do Assunto (relatório de n°
375 setembros de 2018, em:
http://conitec.gov.br/imagesRelatorios/2018/Relatorio_BombaInfusaoInsulina_
DiabetesI.pdf. Foram realizadas buscas na literatura, considerando todas as
bombas de insulina disponíveis no mercado e não apenas a marca do
demandante. Foram selecionados quatro estudos, dois deles apresentaram
qualidade alta, um estudo de qualidade moderada e outro de baixa qualidade,
conforme a ferramenta AMSTAR. Os desfechos avaliados foram os níveis de
hemoglobina A glicosilada (HbA1c) e episódios de hipoglicemia. A redução
dos níveis de HbA1c nos estudos selecionados variou de 0,18% a 0,55%. No
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entanto, este valor não é considerado clinicamente significativo. Os eventos de
hipoglicemia leve, grave e noturna não demonstraram diferenças significativas
entre os grupos em uso do SICI e MDI, em crianças e adultos com DM1. Não
foram identificadas evidências suficientes em relação a eventos adversos,
complicações tardias do diabetes e mortalidade.
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Quesitos do requerente: Fl:240 e 241
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médico e considerando as necessidades e preferências individuais de cada
pessoa com diabetes tipo 1.
Quesitos da requerida:
7. CONCLUSÃO
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situações de atividade física e consumo alimentar, além do conforto de não
precisar fazer três ou mais aplicações de insulina por dia. Contudo, quando se
compara com a efetividade e segurança com a técnica de múltiplas doses de
insulina, a redução da Hemoglobina glicada, do número de episódios de
hiperglicêmicos, não há diferença entre as duas metodologias. As evidências
não demonstram claro benefício entre o uso de bomba de insulina de infusão
contínua ou múltiplas doses de insulina. Não foram encontradas evidências de
superioridade entre modelos dos insumos disponíveis no mercado para o
melhor controle da doença. Em avaliações de custo-efetividade, deve-se levar
em consideração o benefício do tratamento, mas também quais os custos
envolvidos e qual a fonte pagadora desses custos, sejam eles públicos ou
privados. Ao decidir por uma tecnologia e/ou tratamento mais dispendioso,
leva-se em consideração o benefício muito maior em relação a outros
tratamentos. Ressaltamos que se trata de uma tecnologia de alto custo de
aquisição e de manutenção, e que esta consideração deve ser avaliada não só
no contexto de política pública de saúde, mas por considerar que recursos
públicos são finitos e que possuem destinação que quando realocadas podem
gerar prejuízos à população assistida pelo SUS.
Comentário: Reafirmo que tal parecer não questiona ou infere que a
requerente não esteja sendo adequadamente tratada, pois a escolha do
medicamento, como anteriormente discutido, é critério do médico assistente,
que respeita bases científicas, mas não é a única forma de abordagem
terapêutica e de visão em termos de opção terapêutica, sobretudo no respeito
da Políticas Públicas de Assistência Farmacêutica.
8. MÉTODO
9. ENCERRAMENTO
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As conclusões desta jurisperita basearam-se nos relatos do autor
(anamnese), exame físico, exames complementares solicitados e/ou
apresentados e tais conclusões poderão ser revistas e, eventualmente
alteradas, caso sejam apresentadas novas evidências e fatos devidamente
documentados.
Tais conclusões poderão ser revistas e, eventualmente, alteradas, caso
sejam apresentadas novas evidências e fatos, devidamente documentados.
Esperando haver alcançado o objetivo desta, coloco-me à disposição da
autoridade judiciária para qualquer esclarecimento adicional encerrando o
presente laudo.
Referências
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4 Rodacki M, Teles M, Gabbay M, Montenegro R, Bertoluci M. Classificação do
diabetes. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2022). DOI:
10.29327/557753.2022-1, ISBN: 978-65-5941-622-6.
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