Você está na página 1de 5

TPM

 Capítulo 3

 A metodologia de projeto

É constituída por todos os procedimentos, técnicas, ajudas ou “ferramentas”


que o projetista poderá usar e combinar entre si para a concretização de um projeto.
Apesar de alguns dos métodos poderem ser meros procedimentos normais
e convencionais de projeto, nos últimos anos tem-se assistido a um aumento
substancial de novos procedimentos, os quais são vulgarmente agrupados sob o nome
de metodologia de projeto.
A intenção principal destes novos métodos é o de permitirem a introdução de
procedimentos racionais no projeto. Alguns são mesmo novas invenções, enquanto
que outros são meras adaptações de métodos usados noutras áreas de conhecimento
(como a investigação operacional ou a administração, por exemplo), sendo, outros
ainda, simples formalizações das técnicas informais usadas pelos projetistas.
Estes métodos tentam
resolver os novos desafios que são
colocados, atualmente, ao trabalho
de projeto (ver capítulo anterior),
tendo Jones, em “Design Methods”
(1981), descrito 35 métodos, de
entre os quais se incluem os
seguintes:
Como se pode constatar,
alguns destes métodos são meras
versões formais de procedimentos
convencionais vulgarmente
utilizados (como é o caso da
pesquisa bibliográfica ou da
entrevista a utilizadores), outros
são ainda aplicações de métodos
desenvolvidos inicialmente noutros
campos (como o ‘brainstorming’ na
publicidade) e outros ainda novas
“invenções” (como é o caso dos
métodos ‘AIDA’ e ‘Alexander’).
O processo de formalização de um procedimento tende a alargar a abordagem
do problema e o âmbito de procura de soluções apropriadas, uma vez que encoraja e
permite ao projetista alcançar outras soluções, bem para além da que lhe poderá ter
ocorrido inicialmente aquando da análise do problema.
Este conjunto de métodos pode ser agrupado, genericamente, em dois
grandes grupos:
• Os métodos criativos, e
• Os métodos racionais.

 Métodos criativos

Existem vários métodos que são usados para estimular o pensamento criativo,
os quais procuram, geralmente, aumentar o fluxo de ideias, removendo os bloqueios
mentais que inibem a criatividade, ou alargar o âmbito de procura de soluções.

1. ‘Brainstorming’

Este é o mais conhecido e difundido método criativo. Permite gerar um


número considerável de ideias, muitas das quais serão descartadas à posteriori, mas
identificando outras que poderá valer a pena serem consideradas. É geralmente
conduzido numa sessão que reúne um grupo de 4 a 8 pessoas.
Este grupo deverá ser constituído por especialistas em diversas áreas e por
outros (não especialistas) familiarizados com a área do problema. Não deverá
haver nenhum caráter hierárquico dentro do grupo, apesar de ser necessário que um
dos elementos deste grupo assuma a liderança do processo.
O líder do grupo deverá assegurar que o formato do método de ‘brainstorming’
seja seguido na íntegra e que esta sessão não degenere numa discussão do tipo “mesa-
redonda”. Uma outra tarefa importante atribuída ao líder do grupo é a exposição do
problema como ponto de partida. (O problema é, frequentemente, formulado tendo
por base uma pergunta, por exemplo: “Como é que se poderá melhorar…?”)
Em resposta ao problema formulado, é pedido aos membros do grupo que,
durante alguns minutos e em silêncio, registem as primeiras ideias que lhes ocorrerem
para resolver o problema proposto. (Torna-se conveniente que cada um dos membros
do grupo possua uma série de cartões para registo da ideia, ou das ideias
subsequentes. As ideias deverão ser expressas de forma sucinta e uma apenas por
cartão.)
Seguidamente, solicita-se a cada membro do grupo que leia apenas uma ideia
do conjunto de ideias que teve, não sendo permitidas críticas por parte dos restantes
membros do grupo. (Nesta fase, a viabilidade não é importante, pois a avaliação e a
selecção da solução será feita à posteriori). A ideia que é apresentada por cada
membro deverá ser trabalhada pelos outros membros no seio do grupo, como um
estímulo para novas ideias, ou, tão simplesmente, para combiná-la com as suas
próprias ideias. Por este motivo, deverá haver uma breve pausa depois da leitura de
cada ideia por um elemento do grupo, por forma a permitir um momento de reflexão e
a escrita/registo de novas ideias.
A sessão não deverá ter uma duração superior a 20-30 minutos e deverá
terminar quando deixarem de surgir novas ideias. No final o líder do grupo, ou outra
pessoa, reúne todos os cartões e, isoladamente, avalia as ideias registadas. A
separação e a classificação das ideias por grupos é um procedimento de auxílio à fase
de avaliação, indicando os principais tipos de ideias ou sugerindo, como acontece
frequentemente, novas ideias. Se o resultado for a identificação das áreas principais da
solução e uma ou duas novas ideias sobre como resolver o problema, então a sessão
de ‘brainstorming’ terá valido a pena...

2. Sinética

Este é um dos métodos do pensamento criativo mais complexos, tendo sido


desenvolvido por W. Gordon em 1957 como aperfeiçoamento do método de
‘brainstorming’. A sinética é uma atividade de grupo em que as críticas não são
permitidas e em que os membros do grupo tentam criar, combinar e desenvolver
ideias que permitam resolver o problema. Ao contrário do método de ‘brainstorming’,
o grupo trabalha coletivamente na busca de uma solução, em vez de se gerar uma
quantidade enorme de ideias.
Com o objetivo de se evitarem percursos tradicionais e soluções imediatas e
conhecidas, a sinética baseia-se em dois tipos de mecanismos mentais:
• “Transformar o estranho em familiar”, e
• “Transformar o familiar em estranho”.

A sessão, mais longa que a de ‘brainstorming’, inicia-se com a exposição do


problema a resolver. Analogias são então procuradas para transformar o estranho
(desconhecido ou complexo) em algo familiar e compreensível (para o qual ajudam os
procedimentos de análise, de síntese ou de generalização – relacionar com situações
concretas e conhecidas –), expressando o problema em termos de uma analogia mais
familiar.
O mecanismo mais interessante e caraterístico deste método é a transformação
do familiar e conhecido em algo estranho e novo. ANALOGIAS pouco usuais e
criativas são procuradas, o que pode conduzir a novas soluções concetuais. Com este
fim, a sinética recorre a quatro tipos de analogias:

• A analogia direta (por exemplo: biológica);


• A analogia pessoal (imaginando-nos nós próprios na situação);
• A analogia simbólica (poesia, metáforas, símiles), e
• A analogia fantasiosa (desejos ‘impossíveis’).

Numa sessão de sinética, estas quatro diferentes analogias ocorrem


simultaneamente, não sendo possível, nem útil, separá-las. Mediante o pensamento
analógico, a sinética considera as duas vertentes do processo criativo:
• O pensamento emocional e irracional, e
• O pensamento racional e lógico.

3. TRIZ - Teoria para Resolução de Problemas Inventivos

Metodologia criada por Genrich S. Altshuller em 1946, na ex-União Soviética.


Altshuller chegou a ser preso em 1948 (durante o consulado de Estaline), por este
achar as suas ideias subversivas, tendo sido libertado em 1950. Publicou o seu
primeiro trabalho sobre a TRIZ em 1954. A TRIZ começa a disseminar-se pela ex-
União Soviética e mais estudos são desenvolvidos, entretanto, nesta área. Devido à
chamada ‘Guerra Fria’, só nos anos 90 do Séc. XX é que esta metodologia começou a
ser difundida no resto do mundo.
É uma metodologia:
• sistemática e estruturada para o solucionamento de problemas de engenharia;
• baseada nos sistemas técnicos e orientada para a evolução tecnológica;
• que permite a análise e compreensão dos sistemas técnicos;
• que é capaz de ajudar a revelar o futuro de um determinado sistema técnico,
indicando os caminhos para o alcançar;
• que reduz o efeito da inércia psicológica;
• que auxilia e orienta os processos cognitivos na criação de novos conceitos, e
• que pode ser usada conjuntamente com outras metodologias.

Ferramentas da TRIZ:
• Princípios inventivos;
• Matriz de contradições;
• Padrões inventivos;
• Tabela de efeitos;
•…
Em anexo a este capítulo (Anexo 1) apresenta-se um artigo científico onde se
aborda o uso dos conceitos fundamentais da TRIZ e do método dos princípios
inventivos no desenvolvimento de produtos.

4. O processo criativo

Os métodos descritos anteriormente são apenas algumas técnicas que se têm


mostrado úteis para “despertar” o pensamento criativo dos projetistas ou das equipas
de projeto. Todavia, a criatividade e as ideias originais parecem também ocorrer
espontaneamente, sem o auxílio de qualquer um dos métodos que permitem estimular
o pensamento criativo.
Imensos estudos têm mostrado que a perspicácia criativa súbita, e que sugere
uma solução para o problema que está a ser trabalhado, ocorre, frequentemente,
quando o projetista não está à espera que tal aconteça e depois de um período em que
este terá pensado em diversas outras coisas não relacionadas com a resolução do
problema em questão.
Contudo, a ocorrência de uma ideia brilhante só acontece, geralmente, depois
de desenvolvido algum trabalho para a resolução do problema. Esta ideia é o embrião
que necessita de ser trabalhado para que seja desenvolvida uma solução completa e
adequada para o problema.
Uma sequência de pensamentos do tipo reconhecimento-preparação-
incubação-iluminação-verificação parece ocorrer no pensamento criativo:

• Reconhecimento, é a primeira perceção ou confirmação de que o


“problema” existe;
• Preparação, é a aplicação de um esforço deliberado para compreender o
problema;
• Incubação, é o período de reflexão e amadurecimento, em que o
subconsciente é colocado a trabalhar;
• Iluminação, é a (muitas das vezes, súbita) perceção ou formulação de uma
ideia-chave, e
• Verificação, representa todo o restante trabalho de desenvolvimento e teste
de uma ideia.
 Métodos racionais

Apesar dos objetivos serem semelhantes aos dos métodos criativos, são os
métodos racionais os que definem, vulgarmente, a metodologia de projecto, uma vez
que encorajam à utilização de uma abordagem sistemática.
Existe uma enorme variedade de métodos racionais (a lista anterior é um
exemplo disso mesmo), abordando todos os aspetos do projeto, desde a clarificação
do problema até ao projeto de detalhe. Os capítulos seguintes resumirão uma seleção
dos métodos mais relevantes e vulgarmente usados hoje em dia, os quais estão
agrupados nos seguintes tópicos:
• Clarificação e estabelecimento dos objetivos do projeto;
• Estabelecimento da estrutura de funções do produto;
• Estabelecimento das especificações do produto;
• Criação de soluções alternativas;
• Avaliação das soluções alternativas, e
• Aperfeiçoamento de detalhes.

A figura seguinte sugere a forma como estas diferentes fases se relacionam


entre si e com o modelo problema-solução
apresentado no capítulo 2:

Este modelo integra os aspetos


processuais do projeto com os aspetos
estruturais dos problemas de projeto:
• Os aspectos processuais são
representados pela sequência de métodos
(a partir da fase assinalada no canto
superior esquerdo e com sentido contrário
ao dos ponteiros do relógio), enquanto
que,
• Os aspectos estruturais são representados pelas setas que mostram as
relações
comutativas entre o problema e a solução, e as relações hierárquicas entre o
problema /subproblemas e as subsoluções/solução.

Apesar de não ser relevante que cada um dos métodos seja seguido “à risca” e
de uma forma “não-imaginativa”, o importante será, contudo, o seguimento, com
algum rigor, dos princípios que regem cada um dos métodos.

Você também pode gostar