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David Chalmers publicou em seu website um guia muito interessante para uma discussão

filosófica amigável e construtiva dentro de ambientes formais de discussão filosófica, como


congressos, conferências e seminários.
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José Eduardo Porcher (jeporcher@ufrgs.br) traduziu e o disponibilizou a sua versão traduzida
em pdf.
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Diretrizes para uma discussão filosófica respeitosa, construtiva e inclusiva *

As diretrizes abaixo são destinadas primariamente à discussão filosófica oral em contextos


formais: colóquios, conferencias, seminários, aulas e assim por diante. Muitos delas tem alguma
aplicação para discussão informal filosófica também.

As normas específicas servem como meios de facilitar as normas mais gerais de ser respeitoso,
construtivo e inclusivo. Estas provavelmente não são normas categóricas e há situações em que
é apropriado violá-las, mas, no entanto, em muitos contextos filosóficos elas são normas úteis
para ter presente. Encoraja-se que grupos adaptem e modifiquem estas diretrizes para os seus
fins como acharem melhor.

Tudo isso é um trabalho altamente experimental e em andamento. Sugestões para adição,


subtração e mudanças são mais do que bem-vindas.

Obrigado a muitos filósofos por suas sugestões até agora.

Normas de respeito
1. Seja gentil.
2. Não interrompa.
3. Não apresente objeções na forma de rejeições definitivas (deixe em aberto a possibilidade de
que há uma resposta).
4. Não seja incrédulo.
5. Não revire os olhos, fazer caretas, rir de um participante, etc, especialmente para os outros ao
seu lado. (Exceção parcial para sinalizar violações das normas para o moderador.)
6. Não inicie conversas paralelas paralelo à discussão principal.
7. Reconheça os insights do seu interlocutor.
8. Faca objeções a teses, não a pessoas.

Normas de construtividade
1. Está bem objetar, mas também é sempre bom ser construtivo, elaborando o projeto do
apresentador ou fortalecendo a sua posição. Até mesmo objeções podem ser lançadas de forma
construtiva.
2. Mesmo quando uma objeção é destrutiva em relação a uma posição, é muitas vezes útil
encontrar um insight positivo sugerido pela objeção.
3. Se você está pensando que o projeto é inútil e não há nada a ser aprendido com ele, pense
duas vezes antes de fazer sua pergunta.
4. Está bem questionar os pressupostos de um projeto ou de uma ´área, mas as discussões em
que estas questões predominam podem ser infrutíferas.
5. Você não precisa continuar repetindo a mesma objeção (individual ou coletivamente) até que
o apresentador desista se entregue à submissão.
6. Lembre-se que a filosofia não é um jogo de soma zero. (Versão relacionada: filosofia não é
Clube da Luta.)

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https://www.investigacoesfilosoficas.com/guia-para-uma-discussao-filosofica-inclusiva-construtiva-e-respeitosa/

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*Tradução da compilação ‘Guidelines for respectful, constructive, and inclusive philosophical discussion’ de David
Chalmers. Sugestões e correções com respeito à tradução podem ser encaminhadas a José Eduardo Porcher
(jeporcher@ufrgs.br). A distribuição deste material é incentivada.
Normas de inclusividade
1. Não domine a discussão (exceção parcial para o apresentador!).
2. Faca uma pergunta por vez (demais perguntas vão para o fim da fila).
3. Não deixe a sua pergunta (ou a sua resposta) demorar uma eternidade.
4. Reconheça os pontos apresentados pelos interrogadores anteriores.
5. Está bem fazer uma pergunta que você acha que pode ser obtusa ou desinformada.
6. Não use exemplos desnecessariamente ofensivos.

Normas procedurais
1. Se houver tempo, faça uma pausa de 3 a 5 minutos antes da discussão (para descansar, sair
e formular perguntas). Segure as perguntas até depois do intervalo.
2. O moderador, e não o apresentador, deve receber as perguntas (para evitar tendenciosidade)
e o moderador deve manter uma lista de interlocutores.
3. Para fazer uma nova pergunta a qualquer momento, levante a mão até que o moderador o
veja e o adicione à lista. Para dar prosseguimento (follow-up) à uma pergunta levantada por outra
pessoa, levante o dedo.
4. A menos que você seja o palestrante, o interlocutor do momento ou o moderador, não fale
sem ser chamado (exceções limitadas para piadas ocasionais e outras interjeições muito breves,
a não abusar).
5. Dando prosseguimento à sua própria pergunta geralmente está bem (a menos que o tempo
seja curto), mas rodadas de prosseguimento geralmente devem ser cada vez mais breves, e
pense duas vezes se terceiras e posteriores rodadas são realmente necessárias.
6. Prosseguimentos devem partir diretamente da discussão presente, ao invés de serem
tangencialmente ou distantemente relacionados (para prosseguimentos desse tipo, levante a
mão e faça uma nova pergunta).
7. O moderador deve tentar equilibrar o debate entre os participantes, priorizando aqueles que
não tenham falado antes (não é obrigatório chamar as pessoas na ordem em que vão sendo
vistas).
8. O moderador deve tentar fazer as coisas andarem de modo que todo mundo que tenha uma
questão possa fazê-la. Em períodos curtos de discussão, ou quando é curto o período de tempo
restante, isso pode ser difícil; não permitir prosseguimentos ajuda.

Meta-normas
1. Quando as normas forem violadas, se incentiva o moderador a apontar isso gentilmente, e
outros devem se sentir livres para dizer alguma coisa ou para avisar o moderador.
2. Se for mais confortável, também está bem calmamente apontar violações após o seminário
(ou para avisar o moderador que pode conversar com o transgressor).
3. Se o moderador violar as normas, fique à vontade para apontar isso na hora ou depois.
4. Tente não ficar na defensiva quando uma violação for apontada.
5. Respeite o moderador quando fizer cumprir essas normas.
6. Policiamento geralmente funciona melhor com um toque gentil.

Normas adicionais em potencial


1. Máximo de dois minutos por questão (versão modificada: depois de dois minutos, aceitam-se
interrupções).
2. Priorize alunos na recepção de questões (versão modificada: não priorize professores).
3. Peça permissão para dar prosseguimento à sua própria pergunta (versão modificada: peça
permissão para qualquer prosseguimento após o primeiro).
4. Não se preocupe em impressionar as pessoas.
5. Tome cuidado para não importunar palestrantes durante o intervalo ou depois da discussão
(eles podem precisar de descanso).
6. Discuta estas normas como um grupo no início de um curso ou atividade relacionada.

Recursos (e fontes) relacionados


Rules for philosophy classes (Ned Markosian)
Pledges for a professional philosopher (Carrie Jenkins)
Seminar chairing policy suggestions (British Philosophical Association)
How to criticize with kindness (Daniel Dennett)

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