O significado do trabalho • Além da sobrevivência material o trabalho passa a
implicar uma sobrevivência moral.
humano
• Historicamente há uma evolução na concepção a
respeito do trabalho humano de acordo com o modo
de produção.
• Na Idade Média, o homem trabalhava
essencialmente pela sua sobrevivência material.
Durante a Era Moderna, com o surgimento do
capitalismo e a evolução da sociedade industrial o
processo do trabalho sofreu radicais transformações,
tanto nos seus aspectos estruturais quanto
ideológicos.
- Maria Elizabeth fez uma pesquisa com grupos para
estudar sobre as concepções que prevalecem na
sociedade capitalista moderna a respeito do trabalho
humano:
1) PRIMEIRO GRUPO = concluiu que trabalhar para o
homem moderno transformou-se numa mera “venda
de tempo”, não importando a quem ou para o que
seja. O que importa é o resultado econômico –
permanência do significado de trabalho anterior ao
capitalismo.
2) SEGUNDO GRUPO = Weber, constata uma
reavaliação do trabalho dentro do cristianismo, a
partir da Reforma Protestante. Desse modo a
atividade profissional passa a ter um significado
intrínseco, representando o cumprimento de um
dever e a busca de realização – não é mais um meio
e sim um fim em si mesmo.
O significado do trabalho humano na
nossa sociedade:
Trabalho como um dever
• Um dos principais significados do trabalho na nossa
sociedade é a relação entre atividade profissional e
cumprimento de um dever. Em nossa cultura, o
trabalho, representa um valor moral que, de certa
forma, é repassado ao indivíduo que o executa.
• Trabalho é toda atividade humana que gera
algum valor → expressa a capacidade humana de
fazer coisas e de fazer-se sujeito, num processo de
autovalorização.
Independentemente do seu conteúdo, dos objetivos
que visa atingir, do prazer que proporciona a quem
o executa, o trabalho representa um valor. É um
valor em si mesmo.
• Até mesmo o trabalhador mais insatisfeito com as
suas tarefas admite, por outro lado, estar feliz porque
sua consciência está tranquila e sente-se útil à
sociedade.
• Observando a evolução do processo de trabalho
capitalista percebe-se que, à medida em que o
homem é desvalorizado neste processo, maior valor é
atribuído ao trabalho em si mesmo.
• Enquanto o trabalhador foi se tornando mais
desvalorizado o trabalho foi assumindo um valor
cada vez maior, independentemente de quaisquer
fatores presentes no seu modo de organização. E
ainda mais: tendência de se valorizar qualquer tipo
de trabalho pelo simples fato de ser trabalho.
• Dessa forma alguns dos principais objetivos do
capitalismo estarão sendo plenamente atendidos:
todos dedicando-se excessivamente ao trabalho,
preocupados com a eficiência e sentindo-se bem por
estar cumprindo seu dever e sendo valorizados
socialmente.
• Outra mudança fundamental ocorrida com o
capitalismo foi a transformação do trabalho em
mercadoria.
Trabalho como fonte de auto-realização
• A grande maioria das pessoas percebe a atividade
profissional também com o fonte de realização,
caracterizando um outro significado do trabalho na
nossa cultura - em outras palavras, desde que
estejam satisfeitos profissionalmente as outras áreas
de suas vidas passam a ter uma importância
secundária. É o trabalho sendo traduzido como a
principal dimensão da existência humana.
• Paradoxo entre a perda de auto-identificação no
trabalho e a ideologia que incentiva a busca de
auto-realização através do mesmo.
- Aposentado: O aposentado pode acabar
desenvolvendo um sentido de inutilidade e vazio em
relação a aposentadoria, e isso se deve a dois
motivos: em primeiro lugar, a constatação que
alguns fazem de que após tantos anos de busca não
conseguiram alcançar aquela realização que
acreditavam ser possível obter através do trabalho;
em segundo, os que acreditavam ter-se realizado
profissionalmente, mas com a aposentadoria
perderam a única fonte que julgavam digna para
este fim.
• Os dados fornecidos pelos diversos grupos indicam
que ainda está bastante presente na nossa cultura a
busca da realização através do trabalho como
finalidade última da existência.
• Até mesmo aqueles que tentaram alcançá-la
durante toda a vida sem obterem sucesso, como é o
caso de muitos aposentados, preferem acreditar que
a dificuldade foi pessoal, ou seja, não realizaram
porque não aproveitaram as oportunidades, por
incompetência ou por não se terem esforçado o
suficiente – ideologia do homem auto-realizado +
cargos com maior teor de auto-realização/ vistos
como mais bem sucedidos.
Trabalho como “fuga”
• Outro significado atribuído ao trabalho na nossa
sociedade é o uso da atividade profissional como um
meio de fuga à solidão, ao tédio, à angústia, enfim,
nos mais diversos sentimentos considerados típicos do
homem moderno.
• Enquanto está-se dedicando ao trabalho, o
individuo encontra-se protegido de entrar em
contato com tais sentimentos.
• Muitos usam o trabalho excessivo como uma
compensação para os problemas familiares e até
mesmo, para aqueles reativos ao próprio trabalho e,
finalmente, existem outros que usam a sua atividade
profissional como uma proteção contra "erros", ou
seja, contra atos condenáveis pela sociedade.
• Ao dedicar-se de forma compulsiva ao trabalho, o
indivíduo evita entrar em contato com alguns
sentimentos considerados incômodos e dolorosos –
encontra no trabalho um excelente meio de fuga.
Trabalho como atividade cansativa
• Percepção do trabalho como uma atividade muito
cansativa que sempre leva Ao desgaste físico ou
mental.
• Podendo levar a um estado de extrema fadiga, o
que leva a necessidade de recuperação, no entanto
muitas pessoas tem dificuldade de se proporcionar
um descanso adequado.
• A maioria dedica horas excessivas ao trabalho,
numa flagrante desproporção em relação aos
momentos de folga.
• O fato é que a relação suor-esforço-trabalho ainda
está muito presente na nossa cultura, sendo que
vários indivíduos estabelecem também a associação
entre a fadiga decorrente do trabalho e o aumento
da dignidade do homem. Este é um ponto de vista
estreitamente relacionado com a concepção da
Igreja Católica a respeito do trabalho humano.
↪ colocando-o como um meio de se chegar à
espiritualidade através do sofrimento, da
perseverança, da obediência, da submissão e do
respeito à autoridade.
Trabalho e exigência de produtividade
• Um aspecto final a ser considerado, refere-se à
constante exigência que muitos indivíduos em nossa
cultura se fazem quanto a ser produtivos durante a
maior parte do seu tempo. Eles têm que estar sempre
fazendo algo “útil”, produzindo alguma coisa para
evitar o sentimento de culpa.
• Sendo a produtividade, nesse caso, vista como ter a
maior parte do tempo ocupada com alguma
atividade remunerada; por isso, muitos aposentados
não valorizam as atividades que realizam depois da
aposentadoria, se sentindo inúteis e improdutivos.
• É possível verificar que, na sociedade moderna, o
trabalho transformou-se no centro da vida das
pessoas. Tudo parece girar em torno dele, sendo
colocado como o valor supremo na nossa cultura;
todas as outras dimensões da existência estão
submetidas a ele, ou simplesmente perderam a
importância.
O significado do trabalho par a o índio
Maxakali
• O Índio Maxakali vive o trabalho de uma forma
bastante irregular, não se prendendo a uma
atividade apenas, ou tampouco repetindo as
mesmas tarefas em dias consecutivos. Todos sabem
fazer um pouco de tudo.
• Dedicam-se ao trabalho mais no período da • A pobreza que constatamos. nos dias atuais, não se
manhã quando o sol tá menos quente. O restante do deve à escassez de recursos materiais, mas decorre,
tempo dedicam ao artesanato. Gostam muito de sobretudo da maneira como são distribuídos e
ficar sem fazer nada, olhando um pra cara do outro utilizados.
e conversando.
↪ o povo Maxakali passa a maior parte do seu • As necessidades que o homem moderno busca
dia conversando, rindo, passeando, cantando, ou satisfazer através da dedicação excessiva ao
simplesmente dormindo. trabalho, podem ser artificialmente criadas, porque
servem aos interesses e às instituições vigentes.
• Não atribuem qualquer valor ao trabalho em si
mesmo. Tudo indica que eles percebem o trabalho
apenas como fonte de sobrevivência, alimentam-se
com o resultado do plantio ou da caça e adquirem o
que necessitam com o dinheiro arrecadado com a
venda dos seus produtos.

• Recusam-se a viver de forma regular, disciplinada,

obedecendo a esquemas pré-estabelecidos, inclusive
de horário.

• Também não apresentam qualquer sinal de culpa

por não trabalhar e passar a maior parte do tempo
em outras atividades não diretamente ligadas à
sobrevivência ou, simplesmente, sem fazer nada.

• Para os Maxakalis, o trabalho não está associado a

uma questão de consciência ou cumprimento de um
dever, como ocorre entre nós, mas simplesmente a
obtenção de meios para sua sobrevivência.

• Trata-se de uma agricultura de subsistência, onde

não existe divisão do trabalho, ocorrendo apenas
uma leve diferença entre o trabalho do homem e da
mulher. E também outra característica dessa
sociedade é que não possuem chefes, ou seja,
ninguém possui o direito de ditar ordens pros outros.

• Outro ponto importante é que os Maxakalis são

pessoas que por se contentarem com muito menos
bens matérias do que nós, não necessitam dedicar-se
excessivamente ao trabalho. Não se baseiam na
premissa de trabalhar mais para ter cada vez mais.

• A nossa economia é, em grande parte, baseada na

criação de necessidades, o que exige constante
esforço e o uso do trabalho e dos recursos disponíveis
até o seu limite máximo para obter a sua satisfação.

• Passamos praticamente toda a nossa existência

tentando satisfazer necessidades muitas vezes
artificialmente criadas a fim de manter o equilíbrio
de um sistema que se baseia na superprodução e no
superconsumo