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A L E X A N D R E M E L I T T O
SÍNDROME DOS
OVÁ R I O S P O L I C Í S T I C O S
GINECOLOGIA Prof. Alexandre Melitto | Síndrome dos Ovários Policísticos 2
APRESENTAÇÃO:
PROF. ALEXANDRE
MELITTO
@prof.alexandremelitto @estrategiamed
@estrategiamed t.me/estrategiamed
Estratégia
MED
GINECOLOGIA Síndrome dos Ovários Policísticos Estratégia
MED
SUMÁRIO
1.0 INTRODUÇÃO 4
2.0 FISIOPATOLOGIA 5
2 .1 FISIOPATOGENIA 5
2 .2 ETIOLOGIA 10
7 .2 SÍNDROME METABÓLICA 21
8.0 TRATAMENTO 22
8 .1 TRATAMENTO DOS DISTÚRBIOS METABÓLICOS 23
CAPÍTULO
1.0 INTRODUÇÃO
A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é a doença endócrina mais comum da mulher durante o período reprodutivo, com uma
prevalência estimada de 10%.
A causa da SOP ainda é desconhecida e é importante entender que a SOP é uma síndrome, e não uma doença, que aparentemente
tem múltiplas causas.
A principal característica fisiopatológica da SOP é a produção aumentada de hormônios masculinos pelos ovários (hiperandrogenismo)
e é esse desequilíbrio hormonal que leva ao distúrbio da foliculogênese e gera as manifestações clínicas da doença. Mas, calma! Explicaremos
tudo isso no decorrer deste resumo.
CAPÍTULO
2.0 FISIOPATOLOGIA
2 .1 FISIOPATOGENIA
Estrategista, para explicar a fisiopatologia da SOP, vamos primeiro revisar a teoria das duas células da esteroidogênese ovariana. Preste
muita atenção na imagem abaixo, porque é frequentemente cobrada nas provas.
Os ovários convertem o colesterol nos hormônios masculinos androstenediona e testosterona por meio do estímulo do LH nas células
da teca.
Por sua vez, o FSH faz com que as células da granulosa convertam esses andrógenos em estrógenos pela ação da enzima aromatase.
Na SOP ocorre o aumento da secreção de LH e a diminuição da secreção de FSH. Essa é uma das principais características da doença.
Sabendo disso, podemos entender o que está acontecendo nos ovários e por que as pacientes com SOP apresentam o hiperandrogenismo.
O LH em excesso leva a uma maior produção de androstenediona e testosterona nas células da teca e a deficiência de FSH faz com
que a conversão desses hormônios em estradiol e estrona nas células da granulosa diminua, fazendo com que os andrógenos se acumulem,
elevando seus níveis e levando ao hiperandrogenismo, que é a principal característica fisiopatológica da SOP e um de seus critérios diagnósticos.
Existe um “defeito” no feedback do hipotálamo nas pacientes com SOP e não ocorre a diminuição da secreção de LH com o aumento
dos níveis androgênicos. Nessas pacientes ocorre a perda do padrão cíclico normal de secreção de GnRH pelo hipotálamo, com o aumento da
amplitude e frequência dos pulsos de GnRH e isso leva a uma maior produção de LH pela hipófise (perpetuando o ciclo vicioso).
O esquema da teoria das duas células é a chave para o entendimento da fisiopatologia da SOP. Lembre-
se de que na SOP ocorre uma secreção aumentada de LH e diminuída de FSH.
Com isso, ocorre aumento da produção de andrógenos e diminuição da produção de estrógenos
nos ovários, levando ao hiperandrogenismo característico da SOP.
As alterações subsequentes ocorrem devido aos distúrbios do feedback negativo desses hormônios
sobre o eixo HHO, que leva à perda da ciclicidade e à anovulação crônica. Uma coisa leva a outra. Uma
coisa prejudica a outra, em um ciclo vicioso.
Estrategista, lembre-se sempre de que na SOP ocorre aumento do LH e diminuição do FSH. O FSH
é o hormônio folículo-estimulante. Ou seja, ocorre diminuição do estímulo para o desenvolvimento dos
folículos, que ficam “estacionados” no meio do caminho, de modo que não chegam a se desenvolver
completamente e, consequentemente, não ocorre a ovulação. Assim, os ovários ficam cheios de folículos
imaturos e tornam-se policísticos.
Os ciclos anovulatórios caracterizam-se por ciclos monofásicos (de uma fase só), em que o endométrio é submetido ao estímulo
proliferativo contínuo do estrogênio, sem oposição da progesterona, que é produzida pelo corpo lúteo após a ovulação (na segunda fase do
ciclo). Isso leva ao aumento do risco de desenvolvimento de hiperplasia e câncer do endométrio nessas pacientes.
A insulina também é importante na fisiopatologia da SOP. A maioria das mulheres com SOP têm uma resistência aumentada à insulina.
O mecanismo de resistência à insulina na SOP parece estar relacionado a um defeito pós-receptor de insulina. Por causa disso, o pâncreas
aumenta a produção de insulina na tentativa de vencer essa resistência e isso leva à intolerância à glicose e, possivelmente, ao diabetes. A
insulina e o fator de crescimento semelhante à insulina I (IGF-I) têm ação semelhante ao LH nas células da teca interna e do estroma ovariano,
e contribuem também para o aumento da produção de androgênios.
Ou seja, a SOP é uma doença em que observamos o desequilíbrio de muitos hormônios. Além da
hipersecreção de LH, as mulheres com SOP têm uma resistência aumentada à insulina.
A insulina liga-se ao receptor, mas não funciona, sendo necessário mais insulina para cumprir a
missão de fazer a glicose entrar na célula. Essa insulina também age junto com LH nas células da teca,
estimulando a produção dos androgênios, que acarretam um maior desequilíbrio e pioram ainda mais
a situação.
A hiperinsulinemia faz com que o fígado diminua a produção de SHBG e outras proteínas carreadoras de fatores de crescimento. Com
isso, aumenta a fração livre de andrógenos e de fatores de crescimento como o IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina tipo I). Com
o aumento da fração livre de andrógenos, ocorre a piora do hiperandrogenismo, já que a fração livre é a forma ativa do hormônio e o IGF-1,
juntamente com a insulina, exerce um efeito proliferativo sobre o endométrio, aumentando o risco de desenvolver a hiperplasia e o câncer. O
aumento da fração livre de fatores de crescimento também eleva o risco da paciente para outros tipos de câncer, como o de mama, pâncreas,
fígado e outros.
Além de tudo isso, a hiperinsulinemia favorece a disfunção endotelial, bem como o risco de doença cardiovascular, obesidade, apneia
do sono e doença hepática gordurosa não alcoólica.
Aumento do risco de
apneia do sono
Aumento do risco de
doença hepática
gordurosa não alcoólica
Fluxograma: Hiperinsulinemia
Obesidade
Infertilidade
Menstruação irregular
Dislipidemia
Hirsutismo/acne
Diabetes melito
Doença cardiovascular
Aumenta Diminui
LH FSH
Testosterona Estradiol
A figura abaixo mostra a fisiopatologia da SOP e todos os órgãos que estão envolvidos em seu desenvolvimento:
Figura: Fisiopatologia da síndrome dos ovários policísticos Fonte: Nestler JE. Metformin for the treatment of the polycystic ovary syndrome. N Engl J Med. 2008;
358(1):47-54.
2 .2 ETIOLOGIA
A síndrome dos ovários policísticos aparenta ter múltiplas causas para justificar todas as alterações observadas em sua fisiopatologia
e essas causas ainda não estão completamente esclarecidas. Existe a possibilidade de causas genéticas e epigenéticas (com interferências do
meio ambiente).
Sabemos que problemas durante a gestação podem ter repercussões na recém-nascida. A exposição
intrauterina a elevadas concentrações de androgênios pode levar a alterações da regulação do eixo HHO
e a uma tendência à hipersecreção de LH. Como dissemos antes, as mulheres com SOP têm o hipotálamo
menos sensível ao feedback negativo dos androgênios; os neurônios secretores de GnRH apresentam uma
resistência em relação a esses hormônios, de modo que continuam aumentando os pulsos de GnRH e
estimulando a secreção de LH pela hipófise.
CAPÍTULO
São necessários pelo menos dois dos três critérios acima e exclusão de outras causas de hiperandrogenismo ou
anovulação
Estrategista, muitas questões sobre a SOP envolvem a fisiopatologia e os critérios diagnósticos (tema
quente)!!!
Para lembrar os critérios de Rotterdam, basta lembrar-se das principais características da síndrome dos
ovários policísticos, que são o excesso de androgênios, a anovulação crônica e os ovários policísticos (que dão
o nome à síndrome!).
O hiperandrogenismo pode ser diagnosticado clinicamente (hirsutismo/acne) ou laboratorialmente
(aumento dos níveis de testosterona ou SDHEA).
E mais uma informação importantíssima: os consensos de diagnóstico indicam que, para fazer o diagnóstico de SOP, outras
causas de disfunção ovulatória e hiperandrogenismo devem ser excluídas. Ou seja, a SOP é um diagnóstico de exclusão!
São necessários pelo menos dois dos três primeiros critérios, além da exclusão de outras causas de hiperandrogenismo ou
anovulação para fechar o diagnóstico de SOP.
CAPÍTULO
A maioria das manifestações clínicas da SOP ocorrem devido ao hiperandrogenismo, que costuma se manifestar clinicamente
com hirsutismo e acne. A anovulação manifesta-se clinicamente com a irregularidade menstrual ou amenorreia e a infertilidade.
Figura: Hiperandrogenismo e fisiopatologia da SOP. (Fonte: Síndrome dos ovários policísticos. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. 103p. (Série Orientações e Recomendações FEBRASGO, n.4, Comissão Nacional de Ginecologia Endócrina).
O excesso de androgênios provoca hirsutismo, acne, pele oleosa, queda de cabelo e, em casos mais graves, sinais de virilização, com
clitoromegalia, engrossamento da voz, alopecia e aumento de massa muscular.
O hirsutismo é o crescimento de pelos em locais onde as mulheres não costumam ter pelos e seu diagnóstico pode ser difícil, ainda
mais se levarmos em consideração a diferença entre as raças e etnias. Por isso, usamos o índice de Ferriman-Gallwey. Esse índice é uma escala
para quantificação de pelos em algumas áreas do corpo da mulher.
De acordo com a FEBRASGO, podemos considerar hirsutismo os valores acima de 4-6. Você deve
estar se perguntando, "4 ou 6"? A resposta depende da etnia da paciente. Se a paciente for oriental,
consideramos o valor de corte como 4, e, se a paciente for hispânica, do Oriente Médio ou de outras
regiões do Mediterrâneo, consideramos o valor de corte como sendo 6.
De acordo com outras bibliografias (Berek & Novak 2020, Williams 2014), consideramos como
hirsutismo os valores maiores ou iguais a 8.
CAPÍTULO
5.0 DIAGNÓSTICO
✓ 20 ou mais folículos com diâmetro médio de 2 a 9 mm (antes considerava-se 12 ou mais folículos); e/ou
TTGO 75 g 2 horas
Perfil lipídico
Tabela: Rotina de exames a serem solicitados para as pacientes com suspeita de SOP. (Fonte: Ginecologia de Williams, 2014)
Repare que os exames laboratoriais têm o objetivo de confirmar o hiperandrogenismo, por meio da dosagem de testosterona e SDHEA,
e afastar diagnósticos diferenciais da SOP. A dosagem de LH e FSH tem o objetivo de avaliar se a paciente não está com uma insuficiência
ovariana prematura, que é um dos diagnósticos diferenciais da SOP.
Como dissemos, a maioria das pacientes com SOP apresenta resistência aumentada à insulina e risco de desenvolver DM II. Além
disso, sabemos que a SOP também pode estar relacionada à obesidade. Portanto, precisamos solicitar exames de glicemia e colesterol para
essas pacientes. Mulheres com SOP têm um risco aumentado para o desenvolvimento da síndrome metabólica, bem como de doenças
cardiovasculares e por isso precisam ser rastreadas para essas doenças.
CAPÍTULO
Estrategista, este tópico é um dos mais cobrados sobre esse tema! O diagnóstico diferencial da síndrome
dos ovários policísticos deve ser feito com as outras causas de hiperandrogenismo e anovulação.
As doenças mais prevalentes que precisam ser investigadas com exames de rotina para o diagnóstico diferencial são os distúrbios da
tireoide, a hiperprolactinemia, os tumores produtores de androgênios (ovário e adrenal) e a hiperplasia adrenal congênita de início tardio.
Lembre-se de que a SOP é um diagnóstico de exclusão. Mesmo havendo a presença de dois dos três
critérios, só podemos concluir que se trata de SOP após afastar outras patologias.
Não se esqueça do quarto critério de Rotterdam: exclusão de outras causas de hiperandrogenismo e
anovulação.
Questões sobre o diagnóstico diferencial da SOP são muito frequentes nos concursos para a Residência
Médica. A tabela abaixo irá ajudar você a acertar todas essas questões!
Nível de testosterona
Tumor ovariano secretor de androgênio Elevado
total
Rastreamento
Uso de androgênios exógenos Elevado
toxicológico
Tabela: Diagnóstico diferencial de disfunção ovulatória e hiperandrogenismo, (Fonte: Ginecologia de Williams, 2014)
Estrategista, as As bancas adoram a síndrome dos ovários policísticos e gostam mais ainda de questões
sobre seus diagnósticos diferenciais, principalmente a hiperplasia suprarrenal congênita de início tardio.
Lembre-se de que essa é uma doença genética e, na maioria dos casos, sua fisiopatologia é a deficiência da
21-hidroxilase. Seu diagnóstico é feito pela observação de níveis elevados da 17-hidroxiprogesterona.
Fluxograma: Diagnóstico diferencial da SOP. (Fonte: Síndrome dos ovários policísticos. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia
(FEBRASGO); 2018. 103p. (Série Orientações e Recomendações FEBRASGO, n.4, Comissão Nacional de Ginecologia Endócrina)
CAPÍTULO
Estrategista, falamos da resistência insulínica na fisiopatologia da SOP. Essa resistência está associada a
uma série de distúrbios que levam à síndrome metabólica e ao aumento do risco de doenças cardiovasculares.
7 .1 RESISTÊNCIA INSULÍNICA
Vimos anteriormente que a maioria das pacientes com SOP apresentam resistência à insulina.
Sabemos que os fetos PIG têm um risco maior de desenvolver a SOP quando adultas. Entendemos que isso deve acontecer porque o
feto PIG precisa de mais glicose para desenvolver-se, o que leva a uma produção maior de insulina. Ou seja, o estresse do período intraútero
faz com que o feto se acostume a precisar de mais insulina para fazerem os tecidos absorverem a glicose.
Existe uma relação entre os níveis de androgênios e a resistência insulínica. Quanto maior
for a concentração androgênica, maior a chance de a mulher com SOP desenvolver resistência
insulínica, intolerância à glicose e diabetes tipo 2, assim como o aumento dos níveis de insulina faz
com que o fígado diminua a produção de SHBG e carreadores de fatores de crescimento. Com isso,
aumenta a fração livre de androgênios e IGF-1 (Insulin like growth factor 1), que, juntamente com
o LH, pode estimular a produção de androgênios pelas células da teca interna no ovário. Ou seja, o
hiperandrogenismo e a hiperinsulinemia estão bastante interligados!
Existem várias técnicas laboratoriais para a avaliação da resistência insulínica e do aumento dos níveis de insulina, mas a acantose
nigricans é o sinal clínico da hiperinsulinemia que pode substituir os testes laboratoriais.
A acantose nigricans é uma alteração da pele, caracterizada por manchas escuras e espessas. Costumam aparecer nas regiões de
“dobras”.
A síndrome HAIR-AN é um acrônimo. É caracterizada por hiperandrogenismo (HA), resistência insulínica (IR) e acantose nigricans (AN).
Síndrome HAIR-AN
✓ (HA) - Hiperandrogenismo
✓ (IR) – Resistência Insulínica
✓ (AN) – Acantose Nigricans
A síndrome metabólica é caracterizada por alterações clínicas e laboratoriais associadas ao aumento do risco de desenvolvimento de
doenças cardiovasculares.
CAPÍTULO
8.0 TRATAMENTO
Estrategista, a perda de peso por meio da prática de exercícios físicos e dieta é a primeira orientação
terapêutica para a síndrome dos ovários policísticos.
A perda de peso pode equilibrar a situação hormonal da paciente, restaurando os ciclos ovulatórios e
diminuindo o risco metabólico.
Os contraceptivos orais combinados de estrogênio e progesterona são a primeira escolha no tratamento medicamentoso da SOP.
Servem para o tratamento do hiperandrogenismo e da disfunção menstrual, além de serem anticoncepcionais.
O tratamento das mulheres com SOP que não desejam engravidar é basicamente:
✓ Perda de peso (prática de atividades físicas e dieta).
✓ Uso de anticoncepcionais combinados.
Os anticoncepcionais orais combinados, além do efeito contraceptivo, oferecem vários benefícios para
mulheres com SOP, por meio do estrógeno e progestágeno em sua formulação.
Estrógeno:
- tem um efeito de supressão dos andrógenos ovarianos;
- estimula a produção de SHBG pelo fígado, diminuindo a testosterona livre;
- inibe a ação da 5-alfarredutase, diminuindo a conversão de testosterona em di-hidrotestosterona na pele, tratando o
hirsutismo.
Progestágeno:
- inibe a secreção de LH, diminuindo a produção de andrógenos pelas células da teca;
- faz oposição ao efeito proliferativo do estrogênio no endométrio, prevenindo a hiperplasia e o câncer de endométrio.
Como estamos tratando da SOP, é óbvio que queremos o progestágeno menos androgênico possível. Atualmente a primeira escolha é
a drospirenona.
Progestágenos Exclusivos
Uma outra opção é o tratamento com progestágeno exclusivo, que pode ser cíclico ou contínuo. Mas, é importante frisar que o
tratamento com progestágeno exclusivo não irá melhorar os sintomas de acne e hirsutismo.
ANTIANDROGÊNIOS
Se não houver uma melhora satisfatória do hirsutismo com o uso de anticoncepcionais combinados após seis meses, adicionamos um
medicamento antiandrogênico. Os antiandrogênios agem bloqueando a ação dos androgênios nos tecidos alvo.
Os antiandrogênios são medicamentos que podem apresentar efeitos colaterais importantes, tais como
trombose e redução da libido. Por isso, devem ser indicados com bom senso.
Além disso, nunca devemos nos esquecer de indicar o uso de um método anticoncepcional juntamente
com os antiandrogênios, devido ao risco de malformação fetal, com distúrbio no desenvolvimento dos genitais
externos masculinos.
A perda de peso, por meio da prática de exercícios físicos e dieta, pode restaurar os ciclos ovulatórios e diminuir o risco metabólico,
porque diminui a resistência insulínica característica da SOP. Além disso, a perda de peso leva à diminuição da produção de androgênios
através da conversão periférica (na gordura).
Tratamento medicamentoso
Nem todas as pacientes com SOP têm indicação de tratamento medicamentoso para a resistência insulínica:
Metformina: é a primeira opção terapêutica indicada para esses casos. É um sensibilizador da insulina que age facilitando a absorção
de glicose e reduz os níveis de insulina. Além disso, tem um efeito anorexígeno que ajuda na perda de peso. A metformina pode restaurar a
ciclicidade menstrual e a ovulação em aproximadamente 40% das mulheres com SOP e com isso pode ajudar no tratamento da infertilidade.
Obesidade
Pouca eficácia se
Metformina Reduz produção e resistência
Biguanida não houver perda
(1ª escolha) hepática de glicose insulínica, diabetes
de peso
tipo 2
Tabela: Tratamento da SOP para as pacientes que não desejam engravidar. (Fonte: UpToDate)
A SOP pode cursar com infertilidade devido à anovulação crônica. Vamos falar do tratamento dessas mulheres.
PERDA DE PESO
Estrategista, imagino que você deva estar pensando: "de novo a perda de peso?!". Sei que já mencionei
isso algumas vezes. Desculpe-me! Mas vou continuar repetindo....
Essa repetição tem um ótimo motivo! A perda de peso é a primeira medida para o tratamento da SOP
em todos seus aspectos, sejam eles o controle da menstruação, a diminuição do risco do câncer de endométrio,
melhora do hiperandrogenismo, controle dos distúrbios metabólicos e até mesmo o tratamento da infertilidade
com retorno da ovulação. Uma modesta perda de peso de 5% a 10% já é suficiente para observarmos melhora
do quadro clínico das pacientes com SOP.
Ou seja, a perda de peso é: tudo de bom para a SOP!!!
O princípio básico da indução da ovulação é elevar os níveis de FSH. Lembre-se de que o FSH é o
hormônio folículo-estimulante, ou seja, estimula o crescimento e amadurecimento dos folículos. Lembre-se
também de que o FSH está baixo na SOP.
Temos duas maneiras de elevar os níveis de FSH. Podemos usar medicamentos que estimulam a
produção de FSH pela hipófise ou podemos injetar o próprio FSH.
Letrozol: atualmente o letrozol é a primeira escolha de tratamento medicamentoso para a indução da ovulação em pacientes com SOP.
O letrozol é um inibidor da aromatase. Ou seja, inibe a conversão de testosterona e androstenediona (androgênios) em estradiol e estrona
(estrógenos). Com isso, não ocorre o feedback negativo de estrogênio na hipófise, levando ao aumento da produção de FSH.
Você deve estar se perguntando: “a diminuição da produção de estrógenos não vai ser pior para
a mulher com SOP? A produção de estrógenos pelos ovários já não estava diminuída antes, devido à
secreção aumentada de LH e diminuída de FSH?”.
Exato! A resposta está exatamente aí! Vamos voltar ao início, ou seja, na SOP, temos aumento do
LH e diminuição do FSH. Com isso, não ocorre o amadurecimento dos folículos, que ficam “estacionados”,
formando o ovário de aspecto policístico.
O letrozol leva ao aumento da produção do FSH, regulando e equilibrando novamente todo o sistema. No primeiro momento,
diminui a produção de estrógeno mais ainda. O mecanismo de feedback mantém-se funcionando e a hipófise aumenta os níveis de
FSH. Com isso, o folículo dominante (que estava “estacionado”) finalmente amadurece e cresce e os níveis de estrogênio aumentam.
Em um segundo momento (após o uso do letrozol), vai ocorrer a supressão do FSH pelo estrogênio produzido pelo folículo
dominante, com a atresia dos outros pequenos folículos em crescimento, ocorrendo a ovulação apenas desse folículo (um único
óvulo). Isso é ótimo, porque diminui o risco de uma gestação múltipla.
Em resumo, o letrozol “dá um choque no sistema” e faz com que o mecanismo de feedback, que estava parado, volte a
funcionar adequadamente. Assim, ocorre o reequilíbrio hormonal e a ovulação.
Clomifeno: o citrato de clomifeno era o medicamento de primeira linha para as pacientes com SOP há muitos anos (e em alguns
serviços continua sendo a primeira escolha), com a metformina sendo usada apenas como uma alternativa. No entanto, o clomifeno e a
metformina são menos eficazes para o tratamento da infertilidade do que o letrozol.
O clomifeno é um agonista parcial do estrogênio (SERM). Também age induzindo a hipófise a produzir mais FSH. Seu uso pode resultar
no desenvolvimento de muitos folículos e em um risco de gestação múltipla.
https://estr.at/3bqKJo3
CAPÍTULO
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