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Entorse- Estudo de

Caso

Orientando: Rafael Santos Barata, nº 20190926


Orientador: Fisioterapia Helena Calvário

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Índice

1.Enquadramento Teórico.............................................................................................................2
1.1 Anatomia do tornozelo............................................................................................2
1.2 Entorses, mecanismos e tipos de lesão....................................................................4
1.3Reabilitação Fisioterapia..........................................................................................5
2.Estudo de Caso..........................................................................................................................8
2.1- Exame Subjetivo....................................................................................................8
2.2- Exame Objetivo......................................................................................................9
2.3-Objetivos de Tratamento.........................................................................................9
2.4- Plano de tratamento................................................................................................9
2.5-Reavaliação...........................................................................................................10
3-Conclusão...............................................................................................................................11
4-Referências Bibliográficas......................................................................................................11
5-Anexos....................................................................................................................................12
5.1Anexo I- FAOS (11-10)..........................................................................................12
5.2Anexo II-FAOS (25-10).........................................................................................16

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1.Enquadramento Teórico

1.1 Anatomia do tornozelo

A articulação talocrural é uma articulação complexa que conecta a tíbia e a


fíbula ao talus. É uma articulação do tipo gínglimo (articulação em dobradiça, as
superfícies articulares moldam-se uma a outra). A principal ação da articulação talocrural
é permitir a flexão dorsal e a flexão plantar do pé, bem como certo grau de inversão e
eversão, em conjunto com as articulações subtalar e transversa do tarso (articulação de
Chopart). Tem também a função de absorção dos choques do calcanhar contra o solo
durante a marcha.
Dada a importância do suporte de carga no momento de choque com o solo, esta
articulação necessita de ligamentos estabilizadores e que não impeçam a mobilidade da
mesma. Os ligamentos desta articulação são:
1) O ligamento talofibular anterior, que conecta o tálus à fíbula na parte externa
do tornozelo.
2) O ligamento fibular do calcâneo, que conecta a fíbula ao calcâneo.
3) O ligamento talofibular posterior, que estabiliza a parte posterior do
tornozelo.
4) O ligamento deltoide (ligamento mais forte), estabiliza a articulação durante a
eversão do pé. (J.A. Esperança Pina 2010) (Moore et al. 2019)

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A inervação desta articulação é realizada
por 3 nervos, o nervo tibial posterior, o sural e os
peroniais que se dividem em superficial e profundo.
Quando há lesão ligamentar por entorse, podem ocorrer
danos também nestas estruturas.
Os movimentos desta articulação são: a flexão
dorsal, flexão plantar, inversão e eversão.

Movimento Músculo
Flexão Plantar Gastrocnémio, sóleo, flexor longo dos
dedos, flexor longo do hálux, fibular
longo, tibial posterior
Flexão Dorsal Tibial anterior, extensor longo dos dedos,
extensor longo do hálux, fibular terceiro
Inversão Tibial anterior, tibial posterior
Eversão Fibular longo, fibular terceiro, fibular
curto

Após as entorses, quer seja em inversão ou eversão, os movimentos da


articulação podem estar comprometidos, mesmo que a ação muscular esteja intacta.
(J.A. Esperança Pina 2010) (Moore et al. 2019)

1.2 Entorses, mecanismos e tipos de lesão

Uma entorse consiste no estiramento ou rotura parcial/total de um ou mais


ligamentos da articulação do tornozelo, causada por um movimento de eversão/inversão
involuntário que excede os limites das amplitudes normais da articulação. Estas são as
lesões mais prevalentes das lesões do membro inferior
O mecanismo mais comum de lesão na entorse do tornozelo é a combinação de
inversão e adução do pé em conjunto com a flexão plantar, que geralmente provoca
uma deterioração do ligamento calcâneofibular e também tem frequentemente impacto
nos tendões peroniais anteriores. Em circunstâncias excecionais, pode ocorrer rotura do
ligamento anterior, com lesão capsular e rutura dos tendões peroniais. O ligamento

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deltoide pode ser danificado por eversão traumática, embora este tipo de entorse
ocorra com muito menos frequência do que em inversão, há maior possibilidade de
lesões

associadas neste tipo de entorse, tais como a fratura distal ou proximal da fíbula e até do
tálus.
A sintomatologia clínica da entorse do tornozelo inclui a incapacidade de andar
ou até mesmo a incapacidade de fazer qualquer movimento que envolva a articulação do
pé, uma sensação de queimadura, dor à palpação que aumenta com a mobilidade,
mudança de cor e hematomas rápidos. A intensidade destas manifestações depende da
gravidade da entorse.
Graus de Lesão:
Entorse de grau 1 (leve) - Ligeiro estiramento e rotura microscópica das fibras
do ligamento, comumente do ligamento talofibular anterior. Edema ao redor do
tornozelo.
Entorse de grau 2 (moderada) - Rotura parcial do ligamento. Edema ao redor
do tornozelo.
Entorse de grau 3 (grave) - Rotura completa do ligamento. Edema ao redor do
tornozelo. (Ortega-Avila et al.2020)
Há dois tipos de fatores de risco para a entorse, o primeiro são os intrínsecos:
composição corporal, lesão anterior no tornozelo, a musculatura na região do tornozelo
não ser suficientemente estável e forte para evitar a instabilidade articular do complexo
do tornozelo. Os segundos são os externos: desportos que envolvem muito o complexo
articular do tornozelo, como o basquetebol, futebol, voleibol. (Delahunt, E., & Remus,
A. 2019)

1.3Reabilitação Fisioterapia

Os tratamentos para tratar as estruturas e recuperar a funcionalidade após uma


entorse podem ser conservadores ou cirúrgicos. O tratamento conservador é
normalmente aplicado às entorses de grau I e II, e as lesões de grau III são tratadas
cirurgicamente, embora, para estas últimas, uma abordagem conservadora seja por
vezes considerada suficiente. Uma abordagem conservadora é designada como a

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utilização de métodos como a imobilização a curto prazo, imobilização completa,
gelo, medicamentos anti-inflamatórios não esteroides locais ou sistémicos e fisioterapia.
(Ortega-Avila et al.2020)

Physical Therapy Guidelines for Lateral Ankle Sprain


(Massachusetss General Hospital)
Fase Objetivo Tratamento Fisioterapia
Fase I Fase -Diminuir o PRICE (Protection, Rest, Ice, Compression,
aguda/ edema Elevation)
inflamatória Dias - Diminuir a dor -Proteção: dos ligamentos lesionados contra novas
1-3 pós entorse - Melhorar a lesões, e evitar atividades que possam agravar a
circulação lesão ou causar mais dor.
-Descanso: Descansar nas primeiras 24 horas após a
lesão. A sustentação de peso conforme tolerado
com dispositivos auxiliares, como muletas, pode
ajudar no controlo da dor.
-Gelo: Gelo/frio 10-15 minutos – 3 vezes ao dia, ou
mais frequentemente para controlo da dor e edema
-Compressão: Use uma banda elástica para limitar o
edema. Certificar-se que a banda fica justa (não
muito apertada para não causar efeito garrote, mas
confortável) à volta dos dedos dos pés e do pé, e um
pouco mais frouxa ao envolver o tornozelo e a parte
inferior da perna. Isso ajudará a eliminar o edema
do pé.
-Elevação: Elevar a perna 25 a 45 centímetros
acima do coração ajudará a minimizar o edema na
área.
Terapia Manual: A mobilização ântero-posterior
da articulação talocrural nas lesões grau I e grau II
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pode ajudar a reduzir efetivamente a dor.
Fase II Ganho de -Diminuir e Continuar a usar gelo para diminuir a dor e o
amplitude de eliminar a dor e o edema conforme necessário.
movimento edema Mobilização articular: Articulação tibiofibular
progressiva -Melhorar a distal, talocrural, subtalar, conforme necessário.
2-4 dias a 2 flexibilidade e Amplitudes de movimento: dentro do grau sem
semanas pós amplitude de dor, começar com dorsiflexão e flexão plantar,
entorse movimento adicionar inversão e eversão à medida que a dor e a
-Melhor suporte sensibilidade sobre os ligamentos diminuem.
de carga Flexibilidade: Alongar o complexo gastro/sóleo –
(recuperação do começar com suporte sem peso e depois progredir
padrão de marcha para posições com suporte de peso conforme
normal) tolerado. Verifique a rigidez dos flexores do
quadril, quadríceps e isquiotibiais.
Progresso no treino de marcha: aumentar a
sustentação do peso e diminuir a necessidade de
auxiliares de marcha conforme tolerado.
Fase III -Recuperar Mobilização: Continuar conforme necessário.
Fortalecimento amplitudes de Flexibilidade: continuar a alongar conforme
muscular e movimento necessário.
neuromuscular -Melhorar a força  Progressão de exercícios de fortalecimento de
progressivo e resistência dorsiflexão, flexão plantar, eversão e inversão.
2-6 semanas pós muscular Exercícios ativos de amplitude de movimento para
entorse -Melhorar a exercícios resistidos (concêntricos e excêntricos)
articulação utilizando pesos e bandas elásticas.
propriocepção e Treino de propriocepção: progredir de sentado
controlo motor para a posição bípede sobre ambas as pernas e
-Normalizar o depois sobre uma perna apenas. Progressão:
padrão de marcha Exercício de olhos abertos para olhos fechados.
sem o uso de Adicionar alcance com desafios dinâmicos em
auxiliares de superfícies niveladas e progressão para superfícies
marcha. instáveis usando por exemplo placas oscilantes.
Fase IV -Voltar ao treino  Exercício progressivo de fortalecimento e
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de força com resistência muscular
Fase Funcional modificações Treino de coordenação e agilidade - Atividades a
>6 semanas pós ligeiras serem consideradas dependendo da capacidade do
entorse -Melhorar a força paciente, recuperação mecânica dos membros
muscular, inferiores e tipo de atividade profissional/e/ou
velocidade, recreativa à qual o paciente retornará. Exemplos:
agilidade e Saltos (progresso bilateral, apenas para a perna com
controlo o pé lesionado); Exercícios de escada de agilidade;
neuromuscular. Saltos (saltos de caixa. saltos em profundidade
-Melhorar a sobre obstáculos/obstáculos), Treinamento
mecânica corporal pliométrico/agilidade específico para desporto)
e padrões de Considerar o uso de testes funcionais para
movimento retomar o desporto.
adequados.
-Aumentar a
estabilidade
proximal
Fase Profilática -Prevenção de  Continuar o fortalecimento
(objetivo de novas lesões Exercícios propriocetivos funcionais para
evitar uma nova trabalhar velocidade, equilíbrio, coordenação e
entorse) agilidade.
Treino de resistência cardiovascular Calçado
adequado
Apoio externo profilático, especialmente para
instabilidade crónica.
(Physical Therapy Guidelines for Lateral Ankle Sprain)

2.Estudo de Caso

2.1- Exame Subjetivo

Utente P.S com 43 anos e do sexo feminino. É casada e vive com o marido e os
seus dois filhos num rés de chão no Souto de Casa. Fez o 12º ano e de momento

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trabalha numa fábrica de polimentos das 6h as 14h. Antecedentes de queda na
altura do natal de 2022, e desde aí é acompanhada na ortopedia por dores intensas no
joelho quando faz esforços intensos. Numa consulta dia 15-06-2023 refere que torceu o
pé em eversão e que tem tido muitas dores na região externa do pé, sem conseguir
realizar eversão do pé. Realiza fisioterapia 3x por semana, primeiro dia de fisioterapia
foi dia 29-09-2023 com diagnóstico médico de entorse no tornozelo esquerdo (lado não
dominante). Os principais objetivos da utente são: não ter dor e voltar a fazer a sua vida
sem ter medo de apoiar o pé.

2.2- Exame Objetivo

Utente motivada, colaborante e comunicativa. Alterações no padrão de marcha,


utente não consegue realizar a fase de apoio médio , de saída e de propulsão do pé
esquerdo por dor na região retro e infra maleolar. Arrasta o pé e transfere o peso para o
lado direito do corpo. Edema no maléolo externo do pé esquerdo, e edema discreto no
maléolo interno. Pontos dolorosos na região do maléolo externo, região infra, retro e
supra maleolar-zona sensível à palpação. Amplitudes articulares do tornozelo limitadas
por dor (7/10 EVA), tem dor à mobilização passiva e ativa. Teste da Gaveta Anterior
Positivo- Integridade Ligamentar comprometida.

2.3-Objetivos de Tratamento

Objetivos a Curto prazo (1ª semana) Objetivos a Médio (2ª e 3ª semana)


1º-Diminuir Dor 1º-Abolir Dor
2º-Abolir Edema 2º-Restaurar amplitudes de movimentos
3º-Aumentar amplitudes de movimento 3º-Aumentar força muscular do membro
4º-Aumentar funcionalidade do membro

2.4- Plano de tratamento

- Estimulação elétrica transcutânea (TENS)- Nível de Evidência D Numa fase


aguda da entorse- Moderada evidência contra e a favor do uso de TENS- Útil para
controlar os sintomas do utente.

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-Crioterapia-Gelo- Nível de Evidência C Numa fase aguda da entorse-Fraca
evidência a favor do uso de Gelo associado a exercício ativo-assistido- Útil para
controlar os sintomas e a funcionalidade do utente.

-Proteção e carga progressiva- Nível de Evidência A Numa fase aguda da


entorse-Forte evidência a favor do uso proteção e carga progressiva- Ligadura
funcional- útil para proteger os tecidos afetados. Exercícios com carga progressiva nos
tecidos lesados.

-Exercício terapêutico- Nível de Evidência A Numa fase aguda da entorse-Forte


evidência a favor do uso de exercício terapêutico -Programa de exercícios incluindo
exercícios de mobilização passiva e ativa, flexibilidade, treino neuromuscular, educação
postural e treino e equilíbrio.

-Terapia Manual- Nível de Evidência A Numa fase aguda da entorse-Forte


evidência a favor do uso de Terapia Manual -Massagem e Mobilização Ativa e Passiva.
(Martin RL, 2021)

2.5-Reavaliação

1-Reavaliação dia 11/10 na 5ª sessão. Aplicada a FAOS mede os sintomas e o


grau de funcionalidade do pé e tornozelo do utente - Dimensões- Sintomas: 85,7%; Dor
69,4 %; Funcionalidade ; Funcionalidade, desporto e lazer 82,3%; Qualidade de Vida
31,2%- o que representa um grau sintomático e de disfunção baixo, mas com impacto
negativo na qualidade de vida da utente
2-Reavaliação dia 25-10-2023 na 10ª sessão (4 semanas): Utente sem dor à
palpação, e sem edema, dor em esforços que envolvam cargas elevadas no pé de 2/10 na
EVA, amplitudes de movimento restauradas- Flexão Dorsal-20º; Flexão Plantar-45º,
Eversão 20º, Inversão 35º. Força muscular nível 5 (teste muscular). Padrão de maracha
sem alterações. FAOS: Dimensões- Sintomas 100%; Dor 94,4%; Funcionalidade 100%;
Funcionalidade, desporto e lazer 80%; Qualidade de Vida 87,5%- o que representa uma
melhoria elevada em termos de sintomas, dor , funcionalidade e consequentemente uma
melhor qualidade de vida.

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3-Conclusão
Concluindo, a abordagem terapêutica utilizada foi baseada na evidência de
tratamento para entorses em fase aguda, e tendo em conta os resultados, foi uma
abordagem com benefícios elevados para a utente nestas 4 semanas. A limitação
principal do estudo passa por a utente continuar a trabalhar o que gerou alguma variação
sintomática e em algumas sessões foi impeditiva de avançar com o plano de tratamento.
Para trabalhos futuros será de considerar a aplicação apenas de crioterapia e
eletroterapia em fase aguda da entorse, visto que a evidência é fraca, no entanto na
prática clínica os resultados são bastantes benéficos.

4-Referências Bibliográficas
-Anatomia humana da locomoção / J. A. Esperança Pina ; il. Nuno Folque. - 4ª ed. -
Lisboa ; Porto : Lidel, 2010

-Delahunt, E., & Remus, A. (2019). Risk Factors for Lateral Ankle Sprains and Chronic
Ankle Instability. Journal of athletic training, 54(6), 611–616.
https://doi.org/10.4085/1062-6050-44-18
-Martin RL, Davenport TE, Fraser JJ, Sawdon-Bea J, Carcia CR, Carroll LA, Kivlan
BR, Carreira D. Ankle Stability and Movement Coordination Impairments: Lateral
Ankle Ligament Sprains Revision 2021. J Orthop Sports Phys Ther. 2021
Apr;51(4):CPG1-CPG80. doi: 10.2519/jospt.2021.0302. PMID: 33789434.
-MOORE, Keith L.; DALLEY, Arthur F.; AGUR, Anne M. R.. Anatomia orientada
para a clínica. 8 Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019)
-Ortega-Avila, A. B., Cervera-Garvi, P., Marchena-Rodriguez, A., Chicharro-Luna, E.,
Nester, C. J., Starbuck, C., & Gijon-Nogueron, G. (2020). Conservative Treatment for
Acute Ankle Sprain: A Systematic Review. Journal of clinical medicine, 9(10), 3128.
https://doi.org/10.3390/jcm9103128
-Physical Therapy Guidelines for Lateral Ankle Sprain Massachusetts General Hospital
Orthopaedics

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5-Anexos
5.1Anexo I- FAOS (11-10)

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5.2Anexo II-FAOS (25-10)

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