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A ESCULTURA HELENÍSTICA1

Depois da derrota em Queroneia2 (338 a.C.), os gregos foram submetidos ao imperialismo


dos macedônios, dando início a um período de crise política e cultural.
A vida cultural e artística se deslocou para Alexandria, no Egito, Pérgamo, Rodes e Antióquia,
na Ásia Menor, a atual Turquia. Os sucessores de Alexandre Magno, que partilharam entre si o seu
imenso império, criaram ali centro artísticos que tomaram o nome da escola alexandrina, pergamena
e rodiense. Na época helenística, cultura e arte refletiam as ideias de Aristóteles (século IV), que
havia sido mestre de Alexandre. Aristóteles valorizava a experiência do homem por meio dos
sentidos para o conhecimento da realidade e de si mesmo.

A observação direta da realidade


As artes visuais foram muito influenciadas pelo novo modo de pensar e se basearam não
mais em modelos ideais, mas na percepção direta da realidade.
As formas e figuras idealizadas da arte clássica se contrapuseram formas e figuras mais
próximas da realidade, mais parecidas com o verídico, ou naturalista. Os artistas olharam para todos
os aspectos da figura humana, inclusive a feiura e a velhice.

O Laocoonte
O tema representado por Laocoonte filho de Príamo e sacerdote de Apolo, condenado por
Atena a ser estrangulado por duas gigantescas serpentes. O fato se relaciona à guerra de Troia, que
Ulisses introduziu na cidade por engano. Com base na narrativa de Homero na Ilíada, Laocoonte teria
se oposto à entrada da fatal “máquina de guerra”, desencadeando assim a ira da deusa protetora dos
Aqueus.
O trabalho provavelmente fazia parte de uma iconografia mais completa, mas é suficiente
para mostrar como o escultor representou a tensão física das três figuras, na desesperada tentativa
de se libertar do aperto das serpentes. Essa tensão é expressa com linhas de força contrapostas,
dilacerantes. Os corpos se contorcem entre as espiras das serpentes. A musculatura é fortemente
ressaltada para exprimir a tensão interna.

A expressão da dor e da derrota


As imagens clássicas do século V transmitiam um senso de equilíbrio, serenidade, pura
beleza. Na arte helenística os escultores representavam personagens e temas dramáticos.
A estrutura da compositiva é dinâmica dá a impressão de instabilidade; se acentuam as
torções, a tensão da musculatura, o claro-escuro do modelado. Os rostos exprimem sentimentos de
alegria e de dor.

A estrutura expressiva
Para exprimir a historicidade, a atualidade do fato, o escultor representou o bárbaro com
características realistas do seu grupo étnico: corpo musculoso e pesado; traços do rosto marcados,

1
PRETTE, Maria Carla. Para entender a arte: história, linguagem, época, estilo. São Paulo: Globo, 2008. p.156 – 157.
2
A conquista da Grécia pela Macedônia se seu no ano de 338 a. C., quando Filipe II venceu os gregos na batalha de
Queroneia.
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História da Arte – Prof. Dr. Carlos Edinei de Oliveira. E.mail. carlosedinei@unemat.br Página 1
aspecto rústico, cabelos desalinhados e hirsutos3; a mulher agonizante não tem uma beleza ideal e
veste uma túnica grosseira.
Essas duas figuras faziam parte de um grupo monumental de conteúdo fortemente
dramático: os Gálatas põem fim à sua vida, seguindo o exemplo do chefe, para evitar a desonra de se
tornarem escravos do vencedor.
A tragédia desse povo é expressa com o realismo da imagem, com forte gestualidade, de
modo a suscitar no observador uma reação psicológica e as consequentes reflexões: a história é o
presente; a cultura e a civilização ainda são os valores mais fortes; os bárbaros são homens, e seu
senso de honra é merecedor de respeito mesmo na derrota. É um monumento à história, não mais
ao mito ou a heróis legendários. Fazia parte de um grande ex-voto, erguido em Pérgamo por Átalo I,
vencedor dos Gálatas. Toda vitória contra as investidas dos bárbaros era celebrada como um
monumento.

A PINTURA EM VASOS4
Hoje a comunicação está entregue ao papel impresso, ao rádio, ao vídeo, à internet e aos
mais sofisticados sistemas eletrônicos. No mundo antigo, porém a comunicação se fazia com
imagens reproduzidas em qualquer suporte que pudesse ser visto pelas pessoas. Os objetos de uso
cotidiano eram os mais difundidos e eficazes instrumentos de comunicação visual.
Os vasos, que estão entre as mais belas produções da Grécia, não tinham somente uma
função prática, mas também a de informar, de educar, de distrair; eram com livros ilustrados que
podiam ser vistos de todos os lados. De fato, as imagens nos vasos ornavam o interior e o exterior
dos objetos, as alças, o pé, onde quer que uma figura pudesse ter ao mesmo tempo função
decorativa e ilustrativa.
A pintura em vasos ilustra fatos religiosos-mitológicos; histórias legendárias e épicas; cenas
da vida e dos costumes.

O sentido da forma e da ordem


As imagens pintadas eram estilizadas em desenhos apropriados para preencher pequenas
superfícies; as histórias contadas eram curtas, mas precisas; os códigos figurativos deviam ser de fácil
interpretação. Os vasos eram transportados nas embarcações mercantis e assim chegavam a lugares
distantes, levando a mensagem da cultura grega. O suporte, ou seja, os objetos em cerâmica, era
moldado no torno, que, com formas elegantes e perfeitas, reproduzia sempre os mesmos modelos: a
ânfora, a hidra (para a água), a cratera ( para vinho), a copa (para beber) e outras formas clássicas.
Desde os modelos mais antigos vemos a racionalidade dos gregos ao compor as decorações
do objeto com um acentuado sendo de ordem. No período arcaico, as histórias são distribuídas em
faixas e as figuras são escuras sobre o fundo rosado da argila cozida, silhuetas esquemáticas de
deuses, cavalos, heróis durante uma luta.

3
Cheio de pelos longos, rijos e espessos; cabeludo, barbado.
4
PRETTE, Maria Carla. Para entender a arte: história, linguagem, época, estilo. São Paulo: Globo, 2008. p.168 – 169.

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Um código de figuras e de símbolos
O pintor dos vasos devia seguir sempre regras estabelecidas quanto às proporções dos
personagens, às suas características somáticas, a representação de gestos e ações, vestimentas e
símbolos.
Os principais estilos usados na produção da cerâmica grega são:
 estilo geométrico, o mais antigo ( século VIII a. C);
 estilo com figuras pretas ( séculos VII – VI a.C);
 estilo com figuras vermelhas ( final do século VI).
As figuras pretas são obtidas com um fino verniz à base de óxidos de ferro que, depois de um
segundo de cozimento do vaso, tornava-se preto. Os detalhes das figuras eram entalhados com uma
ponta metálica, de modo a deixar transparecer o fundo claro. Com verniz branco eram pintados os
rostos das figuras femininas. As figuras vermelhas eram obtidas deixando intacta a cor do fundo e
delineando os desenhos com um finíssimo traço preto.
As principais formas dos vasos gregos:
Ânfora, pelike, cratera com volutas, hidra, cratera em forma de cálice e copa.

GRÉCIA: ELES INVENTARAM MUITO MAIS QUE AS OLÍMPIADAS5

A história – alguns diriam o zênite – da civilização ocidental começou na Grécia Antiga.


Durante a breve Idade do Ouro, de 480 a 430 a. C. uma explosão de criatividade resultou em um
nível de excelência sem paralelo nos campos da arte, arquitetura, poesia, drama, filosofia, governo,
leis, lógica, história e matemática. Esse período é também chamado Época de Péricles, em
homenagem ao político ateniense que defendeu a democracia e estimulou o livre pensar.
A filosofia grega se resumia nas palavras de Protágoras: “O homem é a medida de todas as
coisas”. Esta frase, aliada à ênfase de outros filósofos na investigação racional e no questionamento
do estado de coisas, criou uma sociedade de artistas e intelectuais autônomos.
Assim como a dignidade e o valor do homem centralizavam os conceitos gregos, a figura
humana era o principal motivo na arte grega. Enquanto a filosofia destaca a harmonia, a ordem e a
clareza de pensamento, a arte e a arquitetura refletiam um respeito semelhante pelo equilíbrio.

Juventude eterna: influência do ideal grego


Assim como a “Vitória Alada” reflete a filosofia humanista grega, as proporções ideais das
estátuas clássicas influenciaram o estilo heroico do “Davi” de Michelangelo. Rodin, por sua vez, fez
um trabalho menos acadêmico a partir da escultura renascentista de Michelangelo, que inspirou “A
idade do Bronze”.

1.Vitória da Samotrácia. C.190 aC. Louvre Paris. 2. Davi – Michelangelo – 1501 -4 – Galeria Dell Academia, Florença 3. A Idade do
Bronze, Rodin, 1876. Mineapolis Institute of Arts/ EUA.

5
Strickland, Carol. Arte contemporânea: da pré-história ao pós-moderno. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p.12.
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