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Marketing Rebellion
De Mark Schaefer
INTRODUÇÃO autores com ideias originais, analisando as práticas de mercado,
propondo reflexões e apontando caminhos. Ele passou décadas
Mark Schaefer é uma das figuras mais interessantes do content como executivo de multinacionais e agora se dedica à vida de autor.
marketing mundial. Assistir a uma palestra dele é ter a sensação de
que o tradicional e o inovador podem perfeitamente caminhar lado Neste documento, o que você vai encontrar é uma resenha do
a lado. Ler um de seus sete livros é ter a certeza disso. Marketing Marketing Rebellion. Diferentemente de um resumo, uma resenha
Rebellion – The Most Human Company Wins significa algo como traz não apenas a condensação das ideias centrais do livro, mas
“Rebelião do Marketing – As Empresas Mais Humanas Vencem”, também a contribuição de quem a escreve. No caso, a minha
numa tradução livre. contribuição.
Trata-se de um livro que provoca uma reflexão urgente neste Boa leitura!
momento em que os hipsters do marketing chegaram para insinuar
que nada do que as empresas aprenderam durante décadas serve Cassio Politi
mais. É como se toda a experiência anterior tivesse sido inútil, como
se o DNA humano tivesse sido reprogramado a partir do momento
em que inventaram automação de marketing, geração de lead,
growth hacking e outras ferramentas da era digital.
Não é por acaso que faltam Mark Schaefer por aqui. Refiro-me a
O FIM DO CONTROLE sabonete artesanal de uma marca regional pouco conhecida — e
mais caro que os demais.
A marca de sabonetes Ivory nasceu em 1878, sendo vendidos em
barras individuais. Naquele momento, o grande desafio da sua Ele ficou intrigado. Ora, Dove, Dial, Ivory e outras marcas fizeram
fabricante, a Procter & Gamble, era vencer o hábito dos americanos propaganda na TV focadas naquelas pessoas a vida toda. Na hora de
de comprar mercadorias de mãos conhecidas. Se fossem comprar comprar, eles escolheram outra marca.
sabonete, que fosse de um produtor local cuja família eles
conhecessem e na qual eles confiassem. Ninguém estava habituado a — Por que vocês adoram essa marca? — perguntou Mark.
comprar algo de desconhecidos.
— Não acho que adoro a marca. Mas acho que adoro as mãos que
Durante a década de 1880, o caminho encontrado pela P&G para fizeram esse sabonete. Conheço os donos e sei que eles têm um
vencer essa barreira cultural foi criar a massificação não apenas da compromisso de fazer um negócio saudável e sustentável —
produção, mas também da comunicação. respondeu a jovem esposa.
O sabonete Ivory foi um caso icônico do final do século retrasado Mark perguntou se eles já tinham visto alguma vez algum anúncio
nos Estados Unidos. Ele representa a explosão da mídia de massa, daquela marca local.
usada por milhares de outras marcas e produtos, e que gerou
— Não. Na verdade, não me lembro da última vez que vi algum
resultados fabulosos. O Ivory chegou a ter 50% de market share.
anúncio de qualquer coisa.
Outras empresas também entraram na disputa. Com a alta
competição, sua participação caiu para 20% na década de 1970 — o No fundo Marketing Rebellion faz coro a uma corrente do content
que ainda era significativo. Hoje, porém, não chega a pífios 3%. marketing à qual pertence não apenas Mark Schaefer mas também
Como explicar esse declínio? autores como Joe Pulizzi, Robert Rose, Ann Handley, Andrew Davis,
Jay Baer, Jay Acunzo e tantos outros. Eles têm notado a perda de
Bem, Mark Schaefer tem uma explicação menos acadêmica e mais
eficiência da publicidade tradicional.
pragmática. Ele estava visitando sua cidade natal, Knoxville, no
Tennessee. Acompanhado de um casal de amigos bem mais jovem, O fato é que, ao mesmo tempo em que se fala da perda de eficiência,
ele foi a um comércio local e notou que eles compraram um nota-se o crescimento do volume de publicidade sendo exposta no
É disso que Mark Schaefer fala quando cita o caso do Ivory. A história perdurou só até 2014. Em outubro daquele ano, uma
reportagem da revista Exame esclareceu que era tudo cascata. O
Marketing Rebellion explica que esse fenômeno não é nada novo. Em nonno Vittorio nunca existiu. A história foi toda inventada como
1900, a indústria da propaganda já movimentava o equivalente a uma jogada de publicidade. A repercussão negativa do caso gerou
US$ 2 bilhões anuais nos Estados Unidos nos valores de hoje. um arranhão na imagem da Diletto.
Já naquele tempo, havia fraudes também. O Clark Stanley era um Voltando à linha do tempo traçada em Marketing Rebellion, a
milagroso linimento de óleo de cobra que prometia curar todo tipo segunda rebelião inclui o fim dos segredos, e isso tem relação
de doença em campanhas massivamente comunicadas nos jornais com a tecnologia. Tudo começou com a Zenith, antiga fabricante de
americanos da época. Em 1905, porém, uma série de 11 artigos TV. Foi ela quem criou o primeiro controle remoto na década de
publicados pela revista Collier’s Weekly desmascarou o óleo. 1950. Na época, era um controle ainda com fio, dentro do que a
Chamou-o de fraude e provou que não curava nada. Era puro tecnologia disponível na época permitia. Foi o primeiro e ainda
charlatanismo. tímido ato para transferir (literalmente) o controle para as mãos do
consumidor.
A fraude gerou revolta popular. A partir disso, criaram-se regras e
leis para regular a propaganda. É isso que Mark Schaefer chama de a Muita coisa aconteceria nesse sentido depois, como você bem sabe:
primeira rebelião do marketing: o fim das mentiras.
A McKinsey revisitou esse relatório e, depois de estudar mais de 125 ● As empresas acreditam que apenas 13% das mensagens
mil jornadas de decisão do consumidor em 350 marcas de 30 enviadas pelos seus times de marketing não foram
setores, concluiu que a fidelidade do cliente é mais evasiva do que solicitadas pelas pessoas. No entanto, os consumidores
sempre foi. Noventa por cento das categorias não mostraram sentem que 85% das mensagens que recebem das empresas
fidelidade alguma. são SPAM.
Estamos nos movendo em direção a um mundo livre de assinaturas, ● As empresas acreditam que 81% das suas mensagens de
mais humano, mais emocional, livre de anúncios, sem funil, livre de marketing são relevantes e úteis, mas 84% dos consumidores
fidelidade a grandes marcas. Mark Schaefer, então, nos alerta para o dizem que essas comunicações não são nada úteis.
fato de que os clientes estão no comando. Eles são o departamento
de marketing.
“Sempre me perguntam o que vai mudar nos próximos dez anos. Ok, é
uma pergunta interessante. Mas quase nunca recebo esta pergunta: ‘O
que NÃO vai mudar nos próximos dez anos?’. Eu digo que esta segunda
pergunta é a mais importante entre as duas porque você pode criar
uma estratégia de negócios em torno das coisas que são estáveis ao Isso quem está dizendo em Marketing Rebellion não é Mark
● Se sentir amadas;
● Proteger seus próprios interesses; Philip Kotler é o maior autor de marketing de todos os tempos. Em
participação no podcast do Marketing Book, aos 87 anos, ele
● Encontrar significado;
concordou com os outros experts com a ideia de que, ao
● Ser respeitadas. supervalorizar a tecnologia, muitos profissionais perdem o foco no
ser humano.
O marketing realmente trata de todas as coisas humanas. É uma
questão, então, de fazer a conexão entre os três campos de estudos “O que os consumidores estão perdendo em nosso mundo de alta
das ciências humanas e a essência do marketing, que é satisfazer às tecnologia é o alto toque. Eles estão perdendo a satisfação de
necessidades das pessoas. Aonde se chega? A isto: relacionamentos reais e sabendo que outras pessoas se importam. Se
eu encarar um balconista indiferente à minha presença ou comer em
Esse é o problema das empresas. Elas não conseguem ser reais, A pesquisa “Por que confiança e transparência são componentes
mesmo quando tentam parecer reais. Ou principalmente quando cruciais do sucesso da marca”, da eConsultancy, publicada em abril
tentam parecer reais. de 2018, mostra que 58% dos adultos não confiam em uma marca
até que vejam a "prova do mundo real" de que ela cumpriu suas
Aqui, no Brasil, nada é mais patético do que os bancos que se dizem promessas.
sustentáveis plantando árvores. Nós sabemos o que bancos fazem:
prestam serviços e oferecem soluções financeiras — e não há nada Isto engloba um conceito que Mark Schaefer gosta de chamar de
de errado nisso. “marketing artesanal”. Baseia-se na ideia de que, se você representa
uma marca na qual as pessoas acreditam tangivelmente, elas estão
Pode ser que, no passado, na era offline, as campanhas publicitárias dispostas a lutar por você e até a pagar mais pelo seu produto.
fossem capazes de nos emocionar porque éramos — por falta de “Artesanal” é uma daquelas palavras que já foram usadas na web,
opção — quase obrigados a assistir aos intervalos comerciais. Hoje como “marca pessoal” e “best-seller".
dificilmente alguém vai cair nessa conversa. Os consumidores estão
imunes às campanhas publicitárias e às mentiras que as marcas O marketing artesanal tem estas características:
contam.
• É tão convincentemente autêntico, crível e natural que as
O sucesso não é mais medido pelo tamanho do orçamento pessoas vão querer levar a história da sua marca adiante;
Pesquisas de 2015 da McKinsey mostram que a tecnologia é bem 1. Pare de fazer o que os clientes odeiam. Vá lá e descubra o que
utilizada quando ela serve não para interromper o consumidor, mas os clientes amam. Faça (ao menos) isso.
para tornar o seu caminho até o produto mais fácil ou mais rápido. 2. Tecnologia deveria ser invisível para os clientes e ser usada
Nesse aspecto, ter sucesso significa criar um processo mais apenas para ajudar a sua empresa a ser mais compassiva,
transparente, fazendo com que o consumidor confie na empresa. receptiva, fascinante e útil.
3. Você não pode ser o dono dos seus clientes, nem da jornada
A tecnologia pode facilitar a jornada do cliente. Mas como podemos deles nem de um funil de vendas. Busque o seu espaço no
usar a tecnologia para realmente construir confiança? Não há mercado e ajude as pessoas a pertencerem a ele.
pessoa melhor para responder à pergunta do que Christopher S. 4. Nunca intercepte, nunca interrompa. Mereça receber um
Penn, cofundador e CEO da Trust Insights. “O uso de Inteligência convite.
Artificial faz três coisas muito bem: aceleração, precisão e 5. Seja relevante, consistente e superior. Construa confiança em
automação. E, assim, muitos dos nossos processos de marketing, tudo o que você faz.
como análise, análise preditiva e previsão ficarão muito mais fáceis 6. Seja fã dos seus fãs. Faça com que eles sejam os heróis da sua
e levarão menos tempo”. Nada além disso. história.
7. Transcenda a desconfiança inerente do público sobre a sua
Acontece que os humanos ainda são melhores em descobrir as empresa por meio da honestidade implacável.
quantidades desconhecidas, os insights que podem realmente 8. Não esteja "dentro" da comunidade do cliente. Seja "da"
expandir nossos negócios. As máquinas não serão capazes de comunidade do cliente.
canalizar empatia, ética, julgamento ou agregar experiência de vida 9. Marketing nunca é voltado para o seu porquê. É voltado para
tão cedo. o porquê dos seus clientes.
10. A empresa mais humana vence.
Daí vem a importância de um marketing centrado em humanos — e
não em tecnologia. Mark Schaefer criou, assim, o Manifesto para o
Marketing Centrado no Humano. São dez leis que, se você seguir,
estará praticando o marketing em conformidade com a terceira
Outro exemplo é o aeroporto internacional de Denver, que investiu Conteúdo gerado pelo usuário
milhões de dólares em um sistema wi-fi de alta velocidade e
adicionou 10 mil tomadas sob os assentos da sala de espera. Além Conteúdo gerado pelo usuário significa simplesmente pessoas
disso, incentivou lojas e restaurantes a disponibilizar quartos para postando de forma autêntica e honesta sobre seu amor pelo seu
mães que amamentam. produto. Uma foto no Instagram, uma postagem no blog e um evento
do Facebook Live em seu hotel ou conferência podem representar
De quebra, o aeroporto construiu uma praça pública que possui uma uma defesa autêntica. É o caso do aeroporto de Denver.
pista de patinação no gelo e um campo de minigolfe — ambos
gratuitos. "Um passageiro feliz gasta mais dinheiro", justifica Kim De acordo com a Netsphere Strategies, 63% dos consumidores
Day, CEO do aeroporto. Resultado: o gasto médio por passageiro americanos e 66% dos britânicos confiam mais nas fotos dos
cresceu de US$ 10,82 em 2013 para US$ 12,37 em 2017. Em 2018, o produtos dos clientes do que naquelas publicadas pelas marcas.
Sempre que você escolhe hotéis para a sua viagem e visita o
Observar e analisar amigos que estão comprando é uma maneira Marketing de experiência
comum e eficiente de tomar decisões de compra. Moldar as visões
de uma marca e fornecer uma influência psicológica pelo menos O marketing da experiência (ou experiencial) envolve os clientes em
igual às recomendações de produtos boca a boca costuma funcionar uma história de marca por meio de ativações divertidas, interativas
bem. e mutuamente benéficas.
Primeiro você deve criar e manter uma rotina para encontrar — Andrew: Eu estava brincando!
metodicamente essas pessoas. Isto pode envolver o departamento
de atendimento ou criar programas de recompensas. Ou mesmo — Kateryna: Se você pede, nós entregamos!
envolver gerentes de contas para nutrirem essa rara fidelidade.
Quando Andrew Grill voltou para seu quarto naquela noite, um
O segundo passo pode ser resumido a uma palavra: surpreender. elefante de brinquedo estava esperando em seu quarto. Em cima da
cama, havia também elefantes feitos de toalhas de banho. Como não
Empresas como Ralph Lauren, Adidas e Target criaram aplicativos podia ser diferente, ele compartilhou sua história — e sua alegria —
secretos de smartphones para encantar constantemente seus por todas as suas redes sociais.
melhores clientes. Outras marcas criam programas ainda mais
ousados para surpreender. Estabelecer conexão emocional da marca com o público é mais
Título: Este resumo traduzido foi feito pela Tracto Content Marketing e
Marketing Rebellion – The Most Human Company Wins (ver site). publicado em fevereiro de 2020.
Editora:
Business Grow.
Ano de publicação:
2019.