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WJUR0251_v3.

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Tutela penal dos bens jurídicos


supraindividuais
Crimes eleitorais
Competência

Bloco 1
Alexandre Salim
Competência

Quem é competente para julgar crimes eleitorais?

• Art. 35, II, do Código Eleitoral (BRASIL, 1965).

• Necessidade de a conduta violar, materialmente,


bens jurídicos relevantes para a Justiça Eleitoral.
Competência
STJ, 3ª Seção, CC 127.101:
“1. A simples existência, no Código Eleitoral, de descrição formal de
conduta típica não se traduz, incontinenti, em crime eleitoral, sendo
necessário, também, que se configure o conteúdo material de tal
crime.
2. Sob o aspecto material, deve a conduta atentar contra a liberdade
de exercício dos direitos políticos, vulnerando a regularidade do
processo eleitoral e a legitimidade da vontade popular. Ou seja, a par
da existência do tipo penal eleitoral específico, faz-se necessária, para
sua configuração, a existência de violação do bem jurídico que a
norma visa tutelar, intrinsecamente ligado aos valores referentes à
liberdade do exercício do voto, a regularidade do processo eleitoral e
à preservação do modelo democrático.
3. A destruição de título eleitoral da vítima, despida de qualquer
vinculação com pleitos eleitorais e com o intuito, tão somente, de
impedir a identificação pessoal, não atrai a competência da Justiça
Eleitoral.”
(BRASIL, 2015)
Conexão

Os delitos conexos aos crimes eleitorais também são


julgados pela Justiça Eleitoral?

• Art. 109, IV, da Constituição Federal (BRASIL, 1988).


• Art. 35, II, do Código Eleitoral (BRASIL, 1965).
• STF, Plenário, Inq 4435 (BRASIL, 2017a).
Crimes eleitorais
Institutos despenalizadores e princípio da
insignificância

Bloco 2
Alexandre Salim
Transação Penal

Artigo 76 da Lei n. 9.099/95:

“Havendo representação ou tratando-se de crime de


ação penal pública incondicionada, não sendo caso de
arquivamento, o Ministério Público poderá propor a
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou
multas, a ser especificada na proposta”.

(BRASIL, 1995)
Suspensão Condicional do Processo

Artigo 89 da Lei n. 9.099/95:


“Nos crimes em que a pena mínima cominada for
igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por
esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,
poderá propor a suspensão do processo, por dois a
quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo
processado ou não tenha sido condenado por outro
crime, presentes os demais requisitos que
autorizariam a suspensão condicional da pena (art.
77 do Código Penal)”.

(BRASIL, 1995)
Acordo de não persecução penal

Artigo 28-A do CPP:


“Não sendo caso de arquivamento e tendo o
investigado confessado formal e circunstancialmente
a prática de infração penal sem violência ou grave
ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos,
o Ministério Público poderá propor acordo de não
persecução penal, desde que necessário e suficiente
para reprovação e prevenção do crime, mediante as
seguintes condições ajustadas cumulativa e
alternativamente: (...)”.
(BRASIL, 1941)
Princípio da insignificância
TSE, Agravo de Instrumento n. 13.146:

“(...) 2. Não se aplica o princípio da insignificância ao dano


cometido contra o patrimônio público em detrimento de
serviços públicos essenciais. Precedentes.
3. O dano decorrente do crime previsto no art. 72, inciso
III, da Lei nº 9.504/1997 não pode ser considerado
irrelevante, em razão do prejuízo ao patrimônio público e
da violação aos símbolos e serviços essenciais da Justiça
Eleitoral.”.

(BRASIL, 2017b)
Princípio da insignificância
TSE, Recurso Especial Eleitoral n. 6.672:

“1. A divulgação de propaganda criminosa dentro da


cabine de votação e ao lado da urna eletrônica não pode
ser considerada insignificante, pois viola a liberdade de
escolha do eleitor no momento sigiloso de confirmação do
voto.
2. Inaplicável o princípio da insignificância ao crime
previsto no art. 39, § 5º, inciso III, da Lei nº 9.504/1997,
porque o bem jurídico tutelado é a liberdade de exercício
do voto. Precedentes.”
(BRASIL, 2017c)
Crimes eleitorais
Questões de Direito Material

Bloco 3
Alexandre Salim
Crimes eleitorais e questões de direito material

Classificação:

• Crimes eleitorais puros (específicos).

• Crimes eleitorais acidentais.


Crimes eleitorais e questões de direito material

Pena mínima abstrata genérica:

Art. 284 do Código Eleitoral – “Sempre que este


Código não indicar o grau mínimo, entende-se que
será ele de quinze dias para a pena de detenção e de
um ano para a de reclusão”.

(BRASIL, 1965)
Crimes eleitorais e questões de direito material

Localização:
• Código Eleitoral (Lei n. 4.737/65).
• Lei das Eleições (Lei n. 9.504/97).
• Lei do Transporte e Alimentação (art. 11, Lei n.
6.091/74).
• Lei Complementar n. 64/90 (art. 25).
• Lei n. 7.021/82 (art. 5º).
• Lei n. 6.996/82 (art. 15).
Crimes eleitorais e questões de direito material

Denunciação caluniosa com fim eleitoral:


Art. 326-A do Código Eleitoral – “Dar causa à
instauração de investigação policial, de processo
judicial, de investigação administrativa, de inquérito civil
ou ação de improbidade administrativa, atribuindo a
alguém a prática de crime ou ato infracional de que o
sabe inocente, com finalidade eleitoral: Pena - reclusão,
de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se
serve do anonimato ou de nome suposto.
§ 2º A pena é diminuída de metade, se a imputação é
de prática de contravenção”.
(BRASIL, 1965)
Crimes eleitorais e questões de direito material

Lei das Eleições (Lei n. 9.504/97):

Art. 39, § 5º, II – “Constituem crimes, no dia da


eleição, puníveis com detenção, de seis meses a um
ano, com a alternativa de prestação de serviços à
comunidade pelo mesmo período, e multa no valor de
cinco mil a quinze mil UFIR: (...) II - a arregimentação
de eleitor ou a propaganda de boca de urna”.

(BRASIL, 1997)
Crimes eleitorais e questões de direito material
Lei do Transporte e Alimentação:

Art. 11 da Lei 6.091/74 – “Constitui crime eleitoral:

I - descumprir, o responsável por órgão, repartição ou unidade do


serviço público, o dever imposto no art. 3º, ou prestar, informação
inexata que vise a elidir, total ou parcialmente, a contribuição de que
ele trata:

Pena - detenção de quinze dias a seis meses e pagamento de 60 a 100


dias - multa;

II - desatender à requisição de que trata o art. 2º:

Pena - pagamento de 200 a 300 dias-multa, além da apreensão do


veículo para o fim previsto; (...)”.

(BRASIL, 1974)
Crimes eleitorais e questões de direito material
Lei do Transporte e Alimentação:
Art. 11 da Lei 6.091/74 – “Constitui crime eleitoral: (...)
III - descumprir a proibição dos artigos 5º, 8º e 10º;
Pena - reclusão de quatro a seis anos e pagamento de 200
a 300 dias-multa (art. 302 do Código Eleitoral);
IV - obstar, por qualquer forma, a prestação dos serviços
previstos nos arts. 4º e 8º desta Lei, atribuídos à Justiça
Eleitoral:
Pena - reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos; (...)”.

(BRASIL, 1974)
Crimes eleitorais e questões de direito material
Lei do Transporte e Alimentação:

Art. 11 da Lei 6.091/74 – “Constitui crime eleitoral: (...)


V - utilizar em campanha eleitoral, no decurso dos 90 (noventa) dias
que antecedem o pleito, veículos e embarcações pertencentes à
União, Estados, Territórios, Municípios e respectivas autarquias e
sociedades de economia mista:
Pena - cancelamento do registro do candidato ou de seu diploma, se
já houver sido proclamado eleito.
Parágrafo único. O responsável, pela guarda do veículo ou da
embarcação, será punido com a pena de detenção, de 15 (quinze) dias
a 6 (seis) meses, e pagamento de 60 (sessenta) a 100 (cem) dias-
multa”.

(BRASIL, 1974)
Crimes eleitorais e questões de direito material
Lei Complementar n. 64/90:
Art. 25 – “Constitui crime eleitoral a arguição de
inelegibilidade, ou a impugnação de registro de
candidato feito por interferência do poder econômico,
desvio ou abuso do poder de autoridade, deduzida de
forma temerária ou de manifesta má-fé:
Pena - detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
multa de 20 (vinte) a 50 (cinquenta) vezes o valor do
Bônus do Tesouro Nacional (BTN) e, no caso de sua
extinção, de título público que o substitua”.

(BRASIL, 1990)
Crimes eleitorais e questões de direito material

Lei n. 7.021/82:

Art. 5º – “Constitui crime eleitoral destruir, suprimir


ou, de qualquer modo, danificar relação de
candidatos afixada na cabina indevassável:
Pena - detenção, até seis meses, e pagamento de
sessenta a cem dias-multa”.

(BRASIL, 1982b)
Crimes eleitorais e questões de direito material

Lei n. 6.996/82:

Art. 15 – “Incorrerá nas penas do art. 315 do Código


Eleitoral quem, no processamento eletrônico das
cédulas, alterar resultados, qualquer que seja o
método utilizado”.

(BRASIL, 1982a)
Crimes eleitorais
Questões de Direito Processual

Bloco 4
Alexandre Salim
Crimes eleitorais e questões de direito processual

Procedimento:

• Regra: art. 356 e seguintes do Código Eleitoral.


• Acusado com prerrogativa de foro: Lei n. 8.038/90.

(BRASIL, 1990b)
Crimes eleitorais e questões de direito processual

Ação penal eleitoral:

• Pública incondicionada (art. 355 do Código


Eleitoral).
• Denúncia em dez dias (art. 357 do Código
Eleitoral).
• Não há previsão do número de testemunhas.

(BRASIL, 1965)
Crimes eleitorais e questões de direito processual

Resposta à acusação:

• Art. 359, parágrafo único, do Código Eleitoral.

(BRASIL, 1965)
Crimes eleitorais e questões de direito processual

Audiência de instrução, alegações finais e sentença:

• Arts. 359 a 361 do Código Eleitoral.


• Interrogatório ao final, em nome do princípio da
ampla defesa.

(BRASIL, 1965)
Crimes eleitorais e questões de direito processual

Recurso criminal eleitoral:


• Art. 362 do Código Eleitoral.
• Prazo de dez dias (interposição + razões).

(BRASIL, 1965)
Teoria em Prática
Bloco 5
Mariano Lauria
Reflita sobre o seguinte caso prático:
Manoel é atual prefeito e candidato a reeleição. Fez uma péssima
administração, sempre envolvido em escândalos. Constatando pelas
pesquisas oficiais que sua chance de reeleição é pequena, Manoel toma
uma drástica decisão: encaminha um cabo eleitoral ao populoso bairro
conhecido como Docas no afã de arregimentar eleitores. No dia combinado
entre o cabo eleitoral e os moradores, Manoel comparece pessoalmente a
fim de conversar individualmente com diversos eleitores, combinando, a
depender das necessidades de cada um, o oferecimento de ajuda em troca
do voto, desde milheiros de tijolos, até cestas básicas e medicamentos.
Além disso, para garantir conforto àqueles que aderiram a sua campanha,
promete fretar um ônibus para transportar seus eleitores aos locais de
votação no dia do pleito. E assim é feito, apesar de que algumas pessoas
não chegam a votar em Manoel.
Reflita sobre o seguinte caso prático:
Figura 20 – Solução caso prático (parte 01)

Diante do que foi estudado e considerando o presente caso concreto, analise, na condição de membro do Ministério Público
Eleitoral responsável pelo caso, e se posicione sobre os seguintes pontos:

1- Qual(is) seria(m) o(s) crime(s) cometido(s) por Manoel?

R Corrupção eleitoral (art. 299 do CE) e transporte ilegal de eleitor no dia da votação (art. 11 da Lei n. 6.091/74).
:
2- Os eleitores do bairro das Docas que combinaram e votaram no atual prefeito cometeram algum crime?

R: Também cometeram o delito de corrupcão eleitoral (art. 299 CE).

Fonte: elaborada pelo autor.


autor
Continuação da análise e resposta do caso prático
Figura 20 – Solução caso prático (parte 2)

3- E aqueles que não chegaram a votar em Manoel?

Da mesma forma o art. 299 (corrupção eleitoral), pois é crime formal, consumou no momento em que combinaram a
R: promessa de venda do voto.

Manoel não é reeleito, restando sem mandato, mas o crime foi cometido enquanto ainda era atual prefeito, qual seria o
4- órgão jurisdicional competente para o processamento da respectiva ação penal?

R: O juiz eleitoral de primeiro grau (Manoel não tem foro privilegiado nessa situação).

Fonte: elaborada pelo autor.


Dica do Professor
Bloco 6
Mariano Lauria
Dica do Professor
Sugere-se reflexão crítica sobre a necessidade de uma
ampla reforma nos delitos eleitorais. Para tanto, a dica do
professor é: ler o seguinte artigo, de Luciano Anderson de
Souza. A reforma da legislação penal eleitoral: um
necessário caminho para o aperfeiçoamento da democracia
brasileira.

SOUZA, Luciano A. de. A reforma da legislação penal


eleitoral: um necessário caminho para o aperfeiçoamento da
democracia brasileira. Revista Brasileira de Ciências
Criminais. vol. 127, p. 295-320, jan./2017.
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Presidência da
República, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 30 jun.
2021.
BRASIL. Decreto-lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal.
Brasília: Presidência da República, 1941. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 19 maio
2021.
BRASIL. Lei Complementar n. 64, de 18 de maio de 1990. Estabelece, de acordo com o
art. 14, § 9º da Constituição Federal, casos de inelegibilidade, prazos de cessação [...].
Brasília: Presidência da República, 1990a. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp64.htm. Acesso em: 30 jun. 2021.
BRASIL. Lei n. 4.737, de 15 de julho de 1965. Institui o Código Eleitoral. Brasília:
Presidência da República, 1965. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4737compilado.htm. Acesso em: 30 jun.
2021.
BRASIL. Lei n. 6.091, de 15 de agosto de 1974. Dispõe sobre o fornecimento gratuito de
transporte, em dias de eleição, a eleitores residentes nas zonas rurais [...]. Brasília:
Presidência da República, 1974. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6091.htm. Acesso em: 30 jun. 2021.
Referências
BRASIL. Lei n. 6.996, de 7 de junho de 1982. Dispõe sobre a utilização de
processamento eletrônico de dados nos serviços eleitorais [...]. Brasília: Presidência da
República, 1982a. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1980-
1988/l6996.htm. Acesso em: 30 jun. 2021.
BRASIL. Lei n. 7.021, de 6 de setembro de 1982. Estabelece o modelo da cédula oficial
única a ser usada nas eleições de 15 de novembro de 1982 [...]. Brasília: Presidência da
República, 1982b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1980-
1988/L7021.htm. Acesso em: 30 jun. 2021.
BRASIL. Lei n. 8.038, de 28 de maio de 1990. Institui normas procedimentais para os
processos que especifica, perante o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal
Federal. Brasília: Presidência da República, 1990b. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8038.htm. Acesso em: 30 jun. 2021.
BRASIL. Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais
Cíveis e Criminais [...]. Brasília: Presidência da República, 1995. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm. Acesso em: 30 jun. 2021.
BRASIL. Lei n. 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as eleições.
Brasília: Presidência da República, 1997. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9504.htm. Acesso em: 30 jun. 2021.
Referências
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência n. 127.101. Rio
Grande do Sul: STJ, 2015. Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=2013005924
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. INQ 4.435. Distrito Federal: STF, 2017a.
Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5149810.
Acesso em: 30 jun. 2021.
BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Agravo de Instrumento n. 13.146. São Paulo:
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BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Especial Eleitoral n. 6.672.
Corumbaíba: TSE, 2017c. Disponível em: https://inter03.tse.jus.br/sjur-
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Bons estudos!

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