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Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Direito penal III – Resumo II


Prof. Vanessa Chiari Gonçalves

Aluno: Rached da Silva Centeno

Sumário

1. Teorias da pena ......................................................................................................................... 3


1.1 Teorias declaradas ............................................................................................................ 3
1.2 Teorias Críticas .................................................................................................................. 4
2. Execução Criminal e incidentes de execução ............................................................................ 5
2.1 Progressão de regime.......................................................................................................... 5
2.1.1 Requisitos para progressão de regime ......................................................................... 6
2.2 Livramento condicional ....................................................................................................... 7
2.2.1 Requisitos para o livramento condicional .................................................................... 7
2.2.2 Suspensão livramento condicional............................................................................... 9
2.2.3 Revogação livramento condicional .............................................................................. 9
2.2.4 Efeitos da revogação .................................................................................................. 10
2.2.5 Soma x Unificação ...................................................................................................... 11
2.2.6 Remição e detração.................................................................................................... 11
2.3 Indulto e comutação de pena ........................................................................................... 12
2.3.1 Indulto ........................................................................................................................ 12
2.3.2 Comutação de pena ................................................................................................... 13
3. Efeitos da condenação ............................................................................................................ 14
3.1 Efeitos automáticos da condenação ................................................................................. 14
3.2 Efeitos da condenação que dependem de fundamentação ............................................. 15
4. Reabilitação criminal ............................................................................................................... 15
4.1 Reabilitação criminal no Código Penal .............................................................................. 15
4.2 Reabilitação criminal na lei de execuções penais - LEP..................................................... 16
5. Medidas de segurança ............................................................................................................ 17
5.1 Modalidades ...................................................................................................................... 17

1
5.2 Situações passíveis de medida de segurança .................................................................... 17
5.3 Prazo de cumprimento ...................................................................................................... 17
5.4 Desinternação ................................................................................................................... 18
5.5 Sistemas: Duplo binário x Vicariante................................................................................. 19
6. Ação penal ............................................................................................................................... 20
6.1 Ação penal pública ............................................................................................................ 20
6.2 Ação penal privada ............................................................................................................ 22
6.3 Decadência do direito de queixa ou de representação .................................................... 23
6.4 Renúncia do direito de queixa .......................................................................................... 24
6.5 Perdão do ofendido........................................................................................................... 24
6.6 Algumas exceções quanto à identificação do tipo de ação penal .................................... 24
7. Prescrição ................................................................................................................................ 26
7.1 Prescrição da pretensão punitiva ..................................................................................... 26
7.2 Prescrição da pretensão Executória ................................................................................. 31

2
1. Teorias da pena

Para entender como se faz a individualização na fase executória é importante


relembrarmos as teorias da pena, que são teorizações construídas no final do século
XVIII e implementadas no século XIX, preenchendo a necessidade de humanização da
pena.

Há dois grandes grupos de teorias da pena, as teorias declaradas e as teorias críticas,


seguindo a seguinte divisão:

Positivas
Teorias da pena

Retributivas Gerais
Declaradas Negativas
Preventivas
Positivas
Materialistas Especiais
Críticas Negativas
Agnósticas

1.1 Teorias declaradas

 Teorias declaradas Retributivas

Representam a ideia de que a pena tem como função retribuir o mal causado
pelo agente à vítima e à sociedade em geral em decorrência de um ato tipificado pelo
direito penal.

Kant preconizava o imperativo categórico, segundo o qual todas as pessoas


deveriam agir conforme os princípios que desejariam que fossem aplicados
universalmente. Considerando que todas as pessoas são livres para agir de acordo com
o imperativo categórico, a pena tem como objetivo ser uma resposta estatal ao
descumprimento do imperativo categórico, restaurando a sociedade do ponto de vista
da ética. Já Georg Hegel trabalha do ponto de vista do valor da norma, considerando
que a pena é a negação da negação da norma, por isso a afirmação do direito. Hegel
estava preocupado com a eficácia da norma jurídica penal, já Kant com a dimensão
ética da norma.

 Teorias declaradas Preventivas

O objetivo da pena, conforme as teorias preventivas, não se resume a devolver


ao agente o mal causado ou preservar a eficácia da norma, mas é evitar que novos

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crimes aconteçam, ou seja, voltam-se, ao contrário das teorias declaradas, para o
futuro e não para o passado.
Dividem-se, primeiramente, em gerais e especiais. As preventivas gerais
relacionam-se com a sociedade como um todo, podendo ser dividas em dois aspectos,
um positivo e outro negativo. Neste a pena é vista como intimidação – teoria da
coação psicológica – ou seja, pune-se para mostrar que as normas penais são
cumpridas. O aspecto positivo das teorias gerais preventivas retoma a ideia de Hegel,
no sentido de que a punição tem como finalidade que a norma possua valor e eficácia
perante a sociedade como um todo, punindo o agente que descumpre o denominado
contrato social, ferindo os bens jurídicos mais importantes.

As teorias de prevenção especial são dirigidas ao indivíduo que infringe a lei


penal e, assim como as teorias preventivas gerais, podem ser dividas em positivas e
negativas. As primeiras, as positivas, buscam a ideia de ressocialização do sujeito,
através da educação e da disciplina. Pune-se para transformar os maus em bons, os
infratores em pessoas cumpridoras da lei, de modo que, no futuro, eles não voltem a
praticar crimes. As especiais negativas têm como objetivo o encarceramento, ou seja,
enquanto o sujeito está afastado do convívio social não cometerá novos crimes.

Pena como resposta ao descumprimento do


Kant
Imperativo categórico .
Retributivas
Teorias declaradas

Hegel Pena como afirmação da norma penal.

Proteção bens
Positivas
jurídicos
Gerais Sociedade
Negativas Intimidação
Preventivas
Positivas Ressocialização
Especiais Indivíduo
Negativas Encarceramento

1.2 Teorias Críticas

 Teoria materialista: Aproxima-se da teoria da criminologia crítica, a qual define


a função da pena como a seletividade do sistema de justiça criminal, com base
na teoria do Labeling Approach (teoria do etiquetamento). Os teóricos da
criminologia crítica afirmavam que a neutralidade dos julgamentos é uma
falácia, pois como seres humanos, construídos socialmente, os juízes trazem
uma bagagem de aprendizados construídos ao longo da vida. Sendo assim,

4
quando o julgador avalia determinada situação de conflito, ele o faz em
conformidade com essa bagagem de experiência de vida.

Com base nas teorias de Karl Marx, as teorias materialistas pressupõem que a
finalidade do sistema criminal é a manutenção do modo de produção
capitalista, por meio da intimidação seletiva das massas, através da utilização
das forças estatais. Embora exista uma série de crimes que não atingem as
massas, o aparato é utilizado, em grande medida, para conter as massas.

No universo de crimes que existem, há um percentual altíssimo da massa


carcerária sobre crimes de furto e roubo, por exemplo, os quais estão ligados à
necessidade de obter bens e lucro. O aparato de opressão está a serviço do
capitalismo reprimindo os crimes voltados ao lucro fora do ambiente de
trabalho.

 Teoria agnóstica: Defendida, dentre outros, por Eugenio Zaffaroni, nega as


teorias declaradas, pois a punição corresponde a um estado de polícia, um
estado repressor, que somente se justifica diante da fragilidade do estado de
direito. Todo estado de direito prevê sanções. Há um antagonismo entre o
estado de polícia e o estado de direito, quando o último é cumprido o primeiro
é enfraquecido. Só é necessário um estado de polícia quando não se tem
condições de vida dignas nem acesso aos direitos fundamentais. A repressão é
típica de estados de direito frágeis. O objetivo da teoria agnóstica da pena é
reduzir o poder punitivo do estado de polícia e ampliar o estado de direito.

2. Execução Criminal e incidentes de execução

Com a sentença condenatória transitada em julgado forma-se o título executivo


penal (guia de recolhimento), que abre a possibilidade para abertura do processo de
execução criminal (PEC), o qual é composto, principalmente, pela sentença
condenatória, pelo acórdão, pela denúncia e identificação do condenado.

Tendo conhecimento do PEC, o juiz de execuções poderá determinar os


incidentes da execução, dentre os quais destacam-se a progressão de regime, o
livramento condicional e a remissão da pena.

2.1 Progressão de regime

A progressão de regime significa a passagem do regime fechado para o semiaberto ou


deste para o regime aberto, se cumpridos os requisitos legais.

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Regime Fechado

Cumpre os requisitos

Regime Semiaberto

Cumpre os requisitos

Regime Aberto

Não é possível, através do incidente de progressão, a passagem direta do regime fechado para
o regime aberto.

2.1.1 Requisitos para progressão de regime

 Bom comportamento carcerário (Requisito Subjetivo): Não ter praticado faltas


de natureza grave, como as previstas no artigo 50 da lei de execuções penais1.
O bom comportamento é atestado pelo diretor da casa prisional.

 Tempo de cumprimento da pena (Requisitos Objetivo)

 Se condenado por crime não hediondo: Precisa ter cumprido 1/6 da


pena no regime anterior.

Lei 7250/81. Art. 112. “A pena privativa de liberdade será


executada em forma progressiva com a transferência para regime
menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver
cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior [...].”

Exemplo: B é condenado por crime não hediondo a 6 anos de pena privativa


de liberdade em regime fechado. Para progredir para o regime semiaberto B
terá que ter bom comportamento e cumprir 1 ano de sua pena (1/6 de 6 anos).
Quando o juiz for verificar se B preencheu os requisitos para progredir ao
regime aberto deverá levar em consideração a pena remanescente, isto é, 5
anos. Sendo assim para progredir ao regime aberto, B terá que ter bom
comportamento no regime semiaberto e ter cumprido 10 meses (1/6 de 5
anos) de regime semiaberto. O mesmo se aplica aos crimes hediondos com as
respectivas frações.

1
Lei 7210/ 84. Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de liberdade que: I - incitar ou participar de
movimento para subverter a ordem ou a disciplina; II - fugir; III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de
ofender a integridade física de outrem; IV - provocar acidente de trabalho; V - descumprir, no regime aberto, as
condições impostas; VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39, desta Lei. VII – tiver em sua
posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos
ou com o ambiente externo.

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 Se condenado por crime hediondo: Precisa ter cumprido:
Se for primário  2/5 da pena
Se for reincidente 3/5 da pena

Lei 8072/90. Art. 2º, § 2º. A progressão de regime, no caso dos


condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o
cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for
primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.

 Para ser considerado reincidente o sujeito terá de ter sido condenado com
trânsito em julgado por crime hediondo e, posteriormente, cometer novo
crime hediondo em prazo não superior a 5 anos, contados do trânsito em
julgado do primeiro crime hediondo.
 Para todos os casos, exige-se o bom comportamento, já que os requisitos são
cumulativos.

2.2 Livramento condicional

Consiste em uma medida de política criminal que visa a reduzir o tempo de


permanência do apenado no cárcere, a fim de aumentar as possibilidades de sua
ressocialização, desde que cumpridos os requisitos legais.

Quem obtém livramento condicional fica em liberdade total até o cumprimento


da pena restante, não sendo necessário o recolhimento em albergue ou outro
estabelecimento, sem ter que usar qualquer meio de controle, como o de
monitoramento eletrônico. Terá ainda, como garantia, uma carteira de “salvo-
conduto” para caso de abordagem policial, comprovando sua situação de livramento
condicional. Todavia, o beneficiado tem alguns deveres como comparecer
mensalmente ao juízo, não sair da cidade e não alterar seu endereço sem pedir
autorização para o juízo responsável.

Por não haver necessidade de recolhimento em estabelecimento determinado,


o livramento condicional é mais benéfico que o regime aberto, exigindo, por isso,
maiores requisitos.

2.2.1 Requisitos para o livramento condicional

Primeiramente cabe destacar que, se preenchidos os requisitos do artigo 83,


caput e parágrafo único, do código penal, o juiz deverá conceder o benefício, pois não
se trata de uma faculdade do julgador e sim de um direito subjetivo do condenado.

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Art. 83. O juiz poderá conceder livramento condicional ao
condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2
(dois) anos, desde que:

 O primeiro requisito é ter sido condenado a pena privativa de liberdade por 2 ou


mais anos. Preenchido, passa-se a análise dos demais.

 Bom comportamento carcerário (Requisito subjetivo): Equivale a um atestado


do diretor da casa prisional, que avaliará, dentre outros, o fato de o condenado
não ter praticado falta disciplinar nem ter sido condenado em processo
administrativo disciplinar. Excepcionalmente, em caso de dúvida, é possível
que o Ministério Público solicite parecer fundamentado da equipe técnica do
presídio.
III - comprovado comportamento satisfatório durante a execução
da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e
aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho
honesto;

 Ter cumprido (Requisitos objetivos):

I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for


reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes
II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente
em crime doloso

 Se condenado por crime doloso não hediondo: Precisa ter cumprido:


A) mais de 1/3 da pena (1/3 mais 1 dia)  Se for primário
B) mais de 1/2 da pena (1/2 mais 1 dia)  Se for reincidente em crime
doloso.

V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de


condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for
reincidente específico em crimes dessa natureza.

 Se condenado por crime hediondo: Precisa ter cumprido mais 2/3 da


pena.

“Reincidente específico em crimes dessa natureza” (Art. 83, V, CP)  Há


divergência na doutrina sobre o significado dessa expressão. Parte da
doutrina entende que basta a ter sido condenado, com trânsito em julgado,
duas vezes por crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins ou terrorismo para ser considerado reincidente específico e não ter
direito ao livramento condicional.

8
Outra corrente, entretanto, entende que a mencionada expressão
significa que o bem juridicamente protegido deve ser o mesmo, ainda
que previsto em tipos legais distintos:

“[...] Assim, se tiver sido condenado anteriormente por um estupro


e, depois, cometer um latrocínio, como os bens juridicamente
protegidos são diversos, embora todos estejam previstos na Lei n"
8.072/90, acreditamos não haver a reincidência específica em
crimes dessa natureza, possibilitando, portanto, a concessão do
livramento condicional.”2

Em importante e recente julgado, o STF3 decidiu que o crime de tráfico de


entorpecentes, quando praticado por réu primário que tiver bons antecedentes e não
se dedique a atividades criminosas nem integre organização criminosa4, não é
considerado crime hediondo.

2.2.2 Suspensão livramento condicional

Lei 7210/84. Art. 145. Praticada pelo liberado outra infração penal, o
Juiz poderá ordenar a sua prisão, ouvidos o Conselho Penitenciário e
o Ministério Público, suspendendo o curso do livramento condicional,
cuja revogação, entretanto, ficará dependendo da decisão final.

Para a suspensão do livramento condicional não se exige o trânsito em julgado


de nova condenação, mas a mera prisão preventiva. Assim, se o condenado
beneficiado com o livramento condicional for preso em flagrante o juiz competente
analisará o caso e decretará a soltura do réu, para que responda em liberdade, ou a
sua prisão preventiva, caso que terá, em respeito ao princípio da presunção de
inocência, seu livramento condicional suspenso (e não revogado).

2.2.3 Revogação livramento condicional

CP. Art. 86 - Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser


condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível:

I - por crime cometido durante a vigência do benefício;

II - por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste Código.

2
GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral, V1, 17. Ed. p. 723 .
3
HC 118533
4
Art. 33, §4º da lei 11.343/06 – Tráfico Privilegiado

9
O livramento condicional será revogado quando o beneficiado for condenado
por novo crime a pena privativa de liberdade com trânsito em julgado. Duas situações
podem ocasionar a revogação:

A) O agente ter cometido o crime durante a vigência do benefício: Verifica-se quando


o agente está em período de livramento condicional, pratica outro crime e é
condenado com sentença transitada em julgado. Nesse caso, não há que se falar em
soma ou unificação de penas; a consequência é a revogação do benefício.

B) O agente ter cometido crime anterior a vigência do benefício: Exemplo: o agente


comete três furtos em série, no mesmo modo e local, sendo condenado por dois deles,
sendo posteriormente beneficiado com o livramento condicional por preencher os
requisitos legais. No entanto, quando o agente ainda cumpre sua pena em livramento
condicional, ocorre o trânsito em julgado referente ao outro furto que ainda não havia
sido apurado.

 Revogação facultativa: “se o liberado deixar de cumprir qualquer das


obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente condenado, por
crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade” (Art.
87,CP)

2.2.4 Efeitos da revogação

Art. 88 - Revogado o livramento, não poderá ser novamente


concedido, e, salvo quando a revogação resulta de condenação por
outro crime anterior àquele benefício, não se desconta na pena o
tempo em que esteve solto o condenado.

A) O agente ter cometido crime durante a vigência do benefício:

 Revogação do livramento
 Não poderá ser concedido livramento condicional novamente
 Perde o período que cumpriu em livramento condicional, sendo esse período
somado ao da nova condenação.

B) O agente ter cometido crime anterior a vigência do benefício E com a soma ou


unificação das penas não preencher os requisitos do livramento condicional:

 Revogação do livramento
 PODERÁ ser concedido livramento condicional novamente, se preenchidos os
requisitos legais.
 NÃO perde o período que cumpriu em livramento condicional.

10
2.2.5 Soma x Unificação

CP. Art. 86 - Revoga-se o livramento, se o liberado vem a ser


condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível:

[...]
II - por crime anterior, observado o disposto no art. 84 deste Código.

CP . Art. 84 - As penas que correspondem a infrações diversas devem


somar-se para efeito do livramento.

A regra geral é que o juízo de execuções responsável pelo agente em


livramento condicional, ao receber a nova condenação, faça a soma das penas. Deverá,
entretanto, fazer a unificação quando não tenha sido feita pelo juízo que condenou o
réu.
A unificação da pena, que deveria ter sido feita em etapa anterior do processo,
será realizada quando se tratar de crime continuado nos termos do artigo 71 do CP 5,
nas hipóteses onde os crimes são apurados em processos distintos, sendo o agente
condenado por parte dos crimes e posteriormente por um ou mais.

2.2.6 Remição e detração

Lei 7280/84. Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime


fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo,
parte do tempo de execução da pena.

A cada três dias trabalhados, no regime fechado ou no semiaberto, o


réu pode remir um dia da totalidade de sua pena.

Além do trabalho, o estudo também pode ser computado, sendo que a


cada 12 horas, divididas em pelo menos 3 dias, pode ser reduzido um dia de pena.
Pode ainda o condenado trabalhar durante o dia e estudar a noite, computando-se a,
cada três dias, dois dias de pena.

5
CP, Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes
da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes,
devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos
crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois
terços.

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Condenado em regime fechado ou semiaberto
Atividade Quantidade Remição
Trabalho 3 dias 1 dia
12 horas (mínimo 3
Estudo 1 dia
dias da semana)
3 dias de trabalho
com 12 horas de
Trabalho e Estudo 2 dias
estudo (mínimo 3
dias da semana)

 Detração:

CP. Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na


medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no
estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em
qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior.

Todo o tempo de prisão provisória, antes da condenação, computa como tempo de


cumprimento de pena.

2.3 Indulto e comutação de pena

2.3.1 Indulto

O indulto representa a extinção completa da pena do condenado que preencher os


requisitos expressos em decreto publicado anualmente no mês de dezembro pelo
poder executivo. O indulto é mais benéfico que o livramento condicional (Indulto >
Livramento condicional > Regime aberto).
O indulto não se confunde com a saída temporária que consiste em 5 saídas do
estabelecimento, com total de 7 dias, para os presos em regime semiaberto com as
finalidades previstas nos incisos I, II e III do artigo 122 da LEP – Lei 7210/84, desde que
cumpridos os requisitos legais previstos no artigo 123 da mesma lei. A confusão entre
os dois institutos, por quem não possui os conhecimentos técnicos, dá-se em razão de
muitos presos solicitarem a saída temporária no natal, período próximo ao da
publicação do decreto que concede o indulto e a comutação de pena. Embora a
publicação do decreto seja em dezembro, a concessão do indulto ou da comutação de
pena será realizada alguns meses depois, já no ano seguinte.

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São diversas as possibilidades e requisitos para concessão do indulto, os quais,
geralmente, alteram-se a cada nova publicação do decreto.

Uma das situações previstas no último decreto natalino (decreto 8615/15) para
concessão do indulto é:

 Requisito subjetivo:

 Bom comportamento carcerário: Atestado pelo diretor da casa


prisional. É requisito para todas as possibilidades previstas no decreto.

 Requisitos Objetivos:

 Ter o agente cumprido:

A) Se for primário: 1/3 da pena até 25/12/2015.


B) Se for reincidente: 1/2 da pena até 25/12/2015

Caso o condenado não tenha cumprido os requisitos até essa data, não terá direito ao
indulto, mesmo que posteriormente os preencha.

 Pena de até 8 anos: Precisa ter sido condenado a pena menor ou igual a
8 anos. Esse requisito é relativizado no inciso IV do artigo 1º, o qual traz
hipóteses que, mesmo com condenação a pena superior a 8 anos, o
condenado poderá ter direito ao indulto.
 Não pode ter sido condenado por crime hediondo ou equiparado.

2.3.2 Comutação de pena

Prevista no artigo 2º do decreto natalino, a comutação de pena é a extinção parcial da


pena.
Art. 2º Concede-se a comutação da pena remanescente, aferida em
25 de dezembro de 2015, de um quarto, se não reincidentes, e de um
quinto, se reincidentes, às pessoas condenadas a pena privativa de
liberdade, não beneficiadas com a suspensão condicional da pena
que, até a referida data, tenham cumprido um quarto da pena, se
não reincidentes, ou um terço, se reincidentes, e não preencham os
requisitos deste Decreto para receber o indulto.

São requisitos para comutação de pena previstos no decreto de 2015.

 Ser condenado a pena privativa de liberdade


 Não ter sido beneficiado com o SURSIS até 25/12.

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 Bom comportamento carcerário: Atestado pelo diretor da casa prisional.
 Não preencher os requisitos para indulto
 Não ter sido beneficiado com a comutação no decreto anterior
 Não ter sido condenado por crime hediondo ou equiparado.
 Ter cumprido:

A) Se for primário: 1/4 da pena até 25/12/2015  Para comutar 1/4 da pena
B) Se for Reincidente: 1/3 da pena até 25/12/2015  Para comutar 1/5 da pena

3. Efeitos da condenação

3.1 Efeitos automáticos da condenação

São efeitos automáticos pois não dependem de qualquer fundamentação, aplicando-se


automaticamente após o trânsito em julgado, independentemente de constarem na
sentença.

Art. 91 - São efeitos da condenação:

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

Certos tipos penais possibilitam uma ação de reparação civil. Por exemplo:
crime de lesão corporal praticado na direção de veículo automotor – atropelamento –
causando a debilidade permanente na vítima, com culpa do agente causador. A
condenação na esfera penal constituirá um título executivo que, na esfera civil não
poderá ser discutido novamente. Na esfera penal se condena, determinando a
existência de culpa, e na esfera civil decide-se o quantum da indenização.

II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé:

a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso,
porte ou detenção constitua fato ilícito;

Ex.: A arma do crime. As armas utilizadas em crimes ficam em favor da união, sendo,
entretanto, incineradas devido a numeração estar raspada.

b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo
agente com a prática do fato criminoso.

Produto do crime é o que foi furtado ou roubado, ou o lucro que se obteve com a coisa
roubada ou furtada (confisco).

§ 1o Poderá ser decretada a perda de bens ou valores equivalentes ao produto ou proveito do


crime quando estes não forem encontrados ou quando se localizarem no exterior.

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Ex.: Dinheiro ilícito, decorrente de um crime de colarinho branco, é depositado em
contas no exterior. Comprovado que o réu realmente tem conta no exterior, não
sendo acessível por meio de cooperação internacional, o §1º do artigo 91 autoriza que
seja confiscado patrimônio do réu equivalente ao dinheiro não acessível no exterior.

§ 2o Na hipótese do § 1o, as medidas assecuratórias previstas na legislação processual


poderão abranger bens ou valores equivalentes do investigado ou acusado para posterior
decretação de perda.

3.2 Efeitos da condenação que dependem de fundamentação

Se o juiz não fundamentar na sentença, não são aplicados. (Art. 92. Parágrafo único)

Art. 92 - São também efeitos da condenação:

I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:

 Quando:

 Pena aplicada for privativa de liberdade


 Pena igual ou superior a um ano
 Crime praticado com abuso de poder ou violação de dever para com a administração
pública

OU quando:

 Pena privativa de liberdade superior a 4 anos em qualquer crime

II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela, nos crimes dolosos,
sujeitos à pena de reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado;

III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de crime
doloso.

Obs.: O efeito previsto no inciso III é automático para os crimes previstos no Código de
Trânsito Brasileiro.

4. Reabilitação criminal

4.1 Reabilitação criminal no Código Penal

Art. 93 - A reabilitação alcança quaisquer penas aplicadas em


sentença definitiva, assegurando ao condenado o sigilo dos registros
sobre o seu processo e condenação.

15
É a possibilidade de solicitar que os registros de condenação criminal sejam
excluídos da folha corrida, atestados ou certidões do condenado que teve sua pena
extinta há mais de 2 anos e tenha tido, no período de 2 anos mencionado:
 domicílio no País
 bom comportamento

 Tenha ressarcido do dano causado pelo crime OU


 Demonstre impossibilidade de ressarcir OU
 Exiba documento que comprove a renúncia da vítima OU
 Exiba documento que comprove a novação da dívida.

Todavia, os registros continuam nos bancos de dados do poder judiciário, apenas não
aparecerão em eventuais pesquisas públicas, a exemplo quando o sujeito for procurar
um emprego e o empregador buscar seus antecedentes criminais.

 Negada a reabilitação, poderá ser requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido
seja instruído com novos elementos comprobatórios dos requisitos necessários. (Art.
93, parágrafo único).

4.2 Reabilitação criminal na lei de execuções penais - LEP

Não exige os dois anos da extinção da pena.

LEP - Art. 202. Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha


corrida, atestados ou certidões fornecidas por autoridade policial ou
por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência à
condenação, salvo para instruir processo pela prática de nova
infração penal ou outros casos expressos em lei.

Conforme doutrina majoritária, a lei de execuções penais prevalece sobre o código


penal, pois, além de ser mais benéfica ao agente, é mais específica que o código penal.

 Em qualquer caso, o juízo competente para concessão da reabilitação criminal


não é o juízo de execuções e sim o juízo que condenou o agente.

 Revogação da reabilitação: “Art. 95 - A reabilitação será revogada, de ofício ou


a requerimento do Ministério Público, se o reabilitado for condenado, como
reincidente, por decisão definitiva, a pena que não seja de multa.”  Todas as
condenações anteriores retornam para folha corrida do agente.

16
5. Medidas de segurança

É um tratamento (e não uma pena) aplicável, em regra, ao sujeito imputável que


tenha praticado fato típico e ilícito, mas não culpável.

5.1 Modalidades

 Internação: Quando a pena prevista para o crime praticado for de retenção, ou


seja, para os crimes mais graves.
 Tratamento ambulatorial: Quando a pena prevista para o crime praticado for
de detenção (crimes menos graves). Trata-se de uma terapia compulsória, na
qual o sujeito não tem sua liberdade restrita, mas fica obrigado a comparecer
periodicamente ao psiquiatra para tratamento.

5.2 Situações passíveis de medida de segurança

Em regra a medida de segurança aplica-se apenas aos inimputáveis, todavia,


um agente imputável ou semi-imputável pode desenvolver uma patologia durante o
período de cumprimento de sua pena, devendo sua pena ser convertida em medida de
segurança.

 Imputável: É condenado, recebe pena e cumpre na penitenciária. Pode


desenvolver ou agravar uma patologia já existente, nesse caso a pena é
convertida em medida de segurança (Art. 98)

 Semi-imputável: É condenado e recebe uma pena com minorante na terceira


fase do método trifásico. Assim como os imputáveis, podem desenvolver ou
agravar uma patologia já existente, devendo a pena ser convertida em medida
de segurança

 Inimputável: É aquele que, comprovadamente, não possui consciência de seus


atos. Ao praticar ato típico e ilícito é absolvido, por não atender ao requisito da
culpabilidade, porém recebe medida de segurança.

5.3 Prazo de cumprimento

O prazo mínimo de internação é estabelecido na decisão judicial, na sentença,


sendo de 1 a 3 anos (Art. 97,§1º), de acordo com a perícia médica. Transcorrido o
prazo mínimo estabelecido na sentença, pessoa passa por uma nova perícia e, caso
não tenha cessada a periculosidade, deverá continuar cumprindo medida de
segurança. Após a primeira avaliação, depois de cumprido o período mínimo,

17
anualmente o sujeito deverá ser submetido a nova perícia para avaliar a sua
periculosidade. A regra é que a perícia seja realizada anualmente, no entanto, o juízo
de execuções pode solicitá-la a qualquer tempo. Exemplo:

3 ANOS - MÍNIMO 1 ANO 1 ANO 1 ANO

1º Perícia – Não 2º Perícia – Não 3º Perícia – Não


cessou cessou cessou
periculosidade periculosidade periculosidade

Nos termos do artigo 97, §1º do código penal, a internação será por tempo
indeterminado, entretanto, alguns doutrinadores entendem essa previsão como uma
condenação perpétua e, portanto, inconstitucional. Nesse sentido, parte da doutrina
aponta como prazo máximo para o agente:

 Semi-imputável e imputável: O máximo da pena concreta a que fora


condenado.
 Inimputável: Pode ficar internado pelo tempo máximo do tipo que teriam sido
condenados se não fossem inimputável. Ex.: Homicídio – máximo 20 anos.
Há precedente dos tribunais superiores que determinam o máximo 30 anos
para todos os crimes.

5.4 Desinternação

Havendo medicação suficiente para que o agente não esteja submetido à


possibilidade de novos episódios psicóticos, não há motivos para que fique internado,
ou seja, cessando a periculosidade, o sujeito é encaminhado para a desinternação, que
é o período correspondente a um ano, pelo qual o sujeito deve ficar em
acompanhamento.

Não se exige a cura completa da doença para que o agente seja


encaminhado para a desinternação, bastando que tenha cessado a
periculosidade (que a doença possa ser controlada por medicamentos
de modo que o agente não traga riscos à sociedade).

Se o agente praticar, antes do decurso de um ano, fato indicativo de


persistência de sua periculosidade, deverá ser internado novamente,
reestabelecendo-se a situação anterior à desinternação.

18
5.5 Sistemas: Duplo binário x Vicariante

Os dois regimes tratam da possibilidade de cumulação de pena e de medida de


segurança ou tratamento ambulatorial. O sistema duplo binário, adotado pelo código
penal em sua origem, permitia a cumulação de pena com medida de segurança e a
conversão desta naquela. Nesse sistema, o condenado cumpria as pena restritiva de
liberdade e posteriormente a medida de segurança. Já o sistema Vicariante, por sua
vez, não permite cumulação, diante da condenação do réu, de pena e medida de
segurança, tampouco a conversão de medida de segurança em pena (o contrário é
permitido - Art. 98, CP).

Exemplo: B, semi-imputável, praticou um homicídio simples e recebeu uma pena de 10


anos em regime fechado. B cumpriu 2 anos de sua pena, mas nesse período de tempo
agravou uma patologia já existente antes da condenação e, com base em uma perícia
médica, foi transferido para o instituto psiquiátrico forense de sua região, tendo
obtido a conversão da pena em medida de segurança pelo período mínimo de 2 anos.
Após cumprir 2 anos de medida de segurança, o instituto considerou, com base em
nova perícia médica, que a periculosidade de B cessou.

 Condenado a 10 anos
 Cumpriu 2 anos em regime fechado
 Permaneceu 2 anos em medida de segurança

De acordo com o sistema:

 Duplo binário: B poderia ser devolvido para a penitenciária, sendo a medida


de segurança convertida em pena.

 Vicariante: B deveria ser encaminhado à desinternação, mesmo não tendo


cumprido os 10 anos a que fora condenado, dada impossibilidade de
converter a medida de segurança em pena. De acordo com artigo 97,§3º, se
B, no período de 1 ano em desinternação:

 Não praticar nenhum crime ou fato indicativo de persistência de sua


periculosidade  estará livre, sendo extinta sua punibilidade;
 Praticar novo fato típico, ilícito e culpável  Poderá ser punido
novamente com pena.

O Brasil adotou, com a reforma da parte geral do código penal em 1984, o


sistema Vicariante, proibindo a cumulação de medida de segurança em pena, assim
como a conversão de medida de segurança em pena, o que se verifica pela:

19
 Absolvição do inimputável, sendo-lhe aplicável medida de segurança (Art. 26,
CP) – Sentença absolutória imprópria.
 Redução de pena do semi-inimputável de 1/3 a 2/3 (Art. 26, parágrafo único,
CP)

 Presente no caso alguma das formas de extinção da punibilidade, como as


previstas no artigo 107 do CP, não há que se falar em aplicação de pena ou
medida de segurança – Art. 96, parágrafo único, CP.

6. Ação penal

São tipos ou espécies de ação penal: A) ação penal pública; B) Ação penal privada.

Ação penal

Pública Privada

Condicionada à Subsidiária da
Incondicionada Exclusiva
representação ação pública

 A identificação do tipo de ação penal, se pública ou privada, é feita diretamente


no código penal ou na legislação extravagante material (não no código de
processo penal).
 Como regra  Toda ação penal é pública, salvo se houver expressa
determinação de que a ação penal é privada (Art. 100, CP).

 AP pública incondicionada: Qualquer crime que não especifique o tipo de AP.


 AP privada exclusiva  Geralmente, os crimes de menor potencial ofensivo
(pena máxima menor ou igual a 2 anos). Ex: Lesão corporal simples (Art. 129,
CP).

6.1 Ação penal pública

Pode ser incondicionada, quando a apuração do crime independe da vontade


da vítima, ou condicionada à representação do ofendido.

20
 AP pública Incondicionada (Art. 100, CP)  Representam grande parte dos
casos. A apuração do crime pelas autoridades competentes não depende de
autorização da vítima, ou seja, para que o ministério público inicie a ação ou
requisite a instauração de inquérito policial, não é exigida qualquer condição
especial, basta que existam indícios de autoria e materialidade.

 AP pública condicionada à representação (Art. 100,§1º, CP)  Para que o


Ministério Público possa processar o acusado – oferecer a denúncia – e se dê
início às investigações policiais, faz-se necessária a representação da vítima ou
de seu representante legal, que é uma manifestação, formal ou informal, no
sentido de que deseja representar criminalmente contra o acusado. Exemplo:
CP, Art. 147 (ameaça).

 Há casos também em que a legislação exige a representação do Ministro da


Justiça para a atuação do ministério público, a exemplo do crime cometido
contra honra do presidente da república (Art. 145, parágrafo único, CP). Não há
prazo para requisição do ministro da justiça, desde que antes da prescrição do
crime.

 A representação da vítima ou requisição do ministro da justiça não vincula o


Ministério Público, que pode arquivar o inquérito policial ou as peças de
informação ou oferecer a denúncia. A representação é apenas uma autorização
para apuração do crime.

 Prazo para representação: 6 meses a contar do dia em que o ofendido ou seu


representante legal descobrir a autoria do crime.

 Destinatários da representação: Autoridade policial (Delegado), MP ou Juiz.

 Feita a representação, até que o MP ofereça a denúncia, a representação pode


ser retratada, impossibilitando o oferecimento da denúncia. Dentro do prazo
decadencial, a representação poderá ser realizada novamente.

Petição inicial acusatória nas ações penais públicas  Denúncia (Elaborada


pelo Ministério Público – titular da ação)

21
6.2 Ação penal privada

É a ação em que o direito de acusar pertence, exclusiva ou subsidiariamente, ao


ofendido ou seu representante legal. O titular da ação não é o ministério público e sim
a vítima (ou ofendido) ou seu representante legal. Geralmente, são submetidos à ação
penal privada os crimes de menor potencial ofensivo, compreendidos nessa categoria
os que a pena máxima não ultrapassa 2 anos ou quando o legislador especificar que a
apuração do crime “somente se procede mediante queixa” (Ex.: Crimes contra honra,
Art. 145, CP)

Petição inicial acusatória nas ações penais privadas  Queixa ou queixa-


crime (Elaborada pelo advogado da vítima). Vítima é titular da ação.

 O Ministério público pode: A) Oferecer a denúncia; B) Enviar o inquérito para


autoridade policial tomar medidas necessárias (solicitar diligências) ; C) Solicitar
o arquivamento do inquérito.
 Apenas o MP pode arquivar o inquérito
 O agente só será considerado réu quando o MP oferecer a denúncia e o poder
judiciário receber a denúncia.

 AP privada exclusiva (Art. 100,§2º)  É promovida mediante queixa do


ofendido ou de quem tenha qualidade de representá-lo. A iniciativa de apurar o
crime deve partir do ofendido. O prazo para oferecer a queixa-crime é de 6
meses a contar do dia em que a vítima ou seu representante legal descobriu a
autoria do crime.

 Subsidiária da ação pública (Art. 100 §3º)  Ocorre quando o crime,


incialmente de AP pública, não tem a denúncia oferecida pelo MP no prazo
legal (5 dias se o indiciado estiver preso ou 15 dias se o indiciado estiver solto).
Nesse caso a vítima poderá tomar a iniciativa e contratar um advogado que irá
apresentar uma queixa (ou queixa-crime) no lugar da denúncia não ofertada,
em 6 meses, a contar do término do prazo do MP. Transcorrido o prazo de 6
meses, a titularidade da ação retorna de modo exclusivo para o MP. Se o
ofendido ou seu representante não oferecer a queixa-crime, o MP poderá fazê-
lo, tanto no prazo de 6 meses quanto após o prazo de 6 meses.

 Mesmo que o MP justifique a desídia por acúmulo de serviço a iniciativa passa


a ser privada.

22
5 ou 15 dias 6 meses Enquanto o crime
não prescrever
Apenas MP MP pode oferecer a denúncia ou o
pode oferecer ofendido pode oferecer a queixa- Apenas MP pode
a denúncia crime oferecer a denúncia

 Se o ofendido estiver impossibilitado de oferecer a queixa-crime (por morte ou


por ter sido declarado ausente), a competência passa para o cônjuge,
ascendente, descendente ou para o irmão (Art. 100, §4º).

 A qualquer tempo o MP pode retomar a titularidade da ação penal, caso em


que o advogado torna-se assistente da acusação.

6.3 Decadência do direito de queixa ou de representação

De acordo com artigo 103 do CP, o direito do ofendido de oferecer queixa ou


representar contra o autor do crime decai em 6 meses, contados a partir do dia em
que o ofendido teve ciência da autoria do crime (no caso de AP pública condicionada a
representação ou AP privada) ou contados a partir do término do prazo que o
ministério público tem para oferecer a denúncia (no caso de AP privada subsidiária da
ação penal pública).
6 meses, contados a
 AP pública condicionada à representação
partir do dia que o
 AP privada exclusiva
ofendido descobrir a
autoria do crime.

6 meses, contados a
 AP privada subsidiária da pública
partir do término do
prazo do MP oferecer
denúncia (5d ou 15d)
 Os prazos valem tanto para o ofendido (vítima)
quanto para seu representante.
 Se a autoria do crime não foi descoberta, o prazo de 6 meses não começa a
correr nos casos de AP pública condicionada a representação e AP privada.
 Não existe decadência para o prazo do MP oferecer denúncia, respeitado,
entretanto, o prazo prescricional do crime.

23
6.4 Renúncia do direito de queixa

A renúncia ao direito de queixa pode ser expressa ou tácita (Art. 104, CP):

A) Expressa  A vítima declara expressa e formalmente a renúncia, através de


declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador
com poderes especiais (Art. 50. CPP)

B) Tácita  Quando o ofendido pratica ato incompatível com a vontade de


exercer direito de queixa. (Art. 104, parágrafo único, CP). Ex.: Convidar o autor
do crime para ser padrinho de seu casamento, após a ocorrência do fato típico.

 O pagamento de indenização à vítima (em âmbito civil), não é suficiente


para renúncia tácita do direito de queixa.
 A renúncia do direito de queixa contra um dos autores ou partícipes
alcança a todos que supostamente tenham participado do fato criminal.

Assim como o perdão, a renúncia ao direito de queixa aplica-se apenas à ação


penal privada, na qual predominam os crimes de menor potencial ofensivo – de pena
máxima cominada em abstrato não superior a 2 anos. São crimes de competência do
juizado especial criminal 9099/95.

6.5 Perdão do ofendido

Ao contrário da renúncia, o perdão ocorre no decorrer do processo e não antes


de iniciá-lo. Realizada a queixa-crime contra o(s) indiciado(s), o ofendido poderá
conceder o perdão de modo expresso, tácito, processual ou extraprocessual (fora dos
autos) (Art. 106,CP)

 O ofendido não poderá escolher qual dos querelados será beneficiado com o
perdão e seguir a ação contra os demais, pois o perdão a todos alcança.
 Se houver mais de uma vítima (ofendidos), o fato de uma conceder o perdão
não prejudica o direito dos demais de prosseguir com a ação.
 O querelado (indiciado) possui o direito de não aceitar o perdão e seguir com a
ação para provar judicialmente sua inocência.
 Aceitação do perdão tem como consequência a extinção da punibilidade.

6.6 Algumas exceções quanto à identificação do tipo de ação penal

Em regra, identifica-se o tipo de ação, se de iniciativa pública ou privada, pelo próprio


tipo legal ou nas suas disposições gerais. No entanto, há casos que a identificação do
tipo de ação está na legislação extravagante ou em orientação jurisprudencial, como:

24
 Lesão corporal Leve nos casos de violência doméstica e familiar contra
mulher: Ação pública incondicionada. Súmula 542 STJ (A ação penal relativa ao
crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é
pública incondicionada) e STF (ADI 4424 e ADC 19). Não se aplica o artigo 88 da
lei 9099/95 por determinação do artigo 41 da lei Maria da Penha (11.340/06)

 Lesão corporal dolosa leve ou culposa: O crime de lesão corporal comum leve
ou culposa, por sua vez, segue a regra prevista no artigo 88 da lei 9099/95 
AP pública condicionada à representação.

 Estupro: O CP determina, no artigo 225, que os crimes sexuais (Art. 213 a 224)
devem ser apurados mediante ação penal pública condicionada a
representação, mas o STF criou uma exceção a esse dispositivo através da
súmula 608: “No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação
penal é pública incondicionada.”

Extinção da punibilidade é a extinção do direito de punir do Estado. No artigo


107 estão previstas algumas das hipóteses de extinção da punibilidade, as quais
podem ser divididas em duas categorias de situações, pois parte dos incisos tratam de
causas que excluem a pena e o registro criminal e ou parte de situações que extinguem
apenas a pena, permanecendo o registro da condenação.

A) Pela morte do agente: A responsabilidade penal é subjetiva, logo não passa da


pessoa do condenado (Art. 5º, XLV, CF).

B) Anistia, graça ou indulto:

 Anistia: É o esquecimento jurídico do ilícito.

 Pode haver anistia mesmo após o trânsito em julgado.


 É concedida mediante lei de competência do congresso nacional,
sancionada pelo presidente da república.
 A anistia é coletiva, não sendo direcionada a uma pessoa em específico.
Todos que preencherem os requisitos previstos na lei têm direito a
benesses.
 Apaga os registros criminais do agente.
 Não alcança os efeitos extrapenais, ou seja, se não impede a condenação na
esfera civil pelos danos causados.

 Graça: É similar ao indulto, pois também é de competência do presidente da


república, podendo ser delegada a outras autoridades (Art. 84, parágrafo único,
CF). É individual, pessoal. Deve ser requerida pela parte interessada. Não há,
atualmente, precedentes de concessão de graça.

25
Indulto: Ao contrário da graça, é coletivo e concedido espontaneamente pelo
presidente da república, ou autoridade delegada dessa função, através de decreto
publicado anualmente no mês de dezembro. Extingue a pena e a punibilidade.

C) Retroatividade da lei que não mais considera o fato como criminoso: (Abolítio
criminis) Quando nova lei é editada, abolindo o tipo penal praticado pelo agente.
Extinção da punibilidade, mesmo que o crime já tenha transitado em julgado –
registro de condenação é apagado.

D) Prescrição, Decadência ou perempção:

 Prescrição (item 7)
 Decadência: Ocorre nos casos em que o início ação depende de queixa ou de
representação da vítima, privada ou condicionada a representação – 6 meses – Art.
103).
 Perempção: Aplicada aos crimes de ação privada, quando o autor da ação
comete alguma das condutas descritas no artigo 60 do CPP, que caracterizam o
desinteresse na demanda.

E) Renúncia (Item 6.4)


F) Perdão do Ofendido (6.5)

G) Retratação do agente: Alguns crimes, a exemplo da calúnia e da difamação,


permitem a retratação na primeira audiência.

H) Perdão judicial: Quando a lei expressamente permitir. Exemplo:

 Art. 121. § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de


aplicar a pena, se as conseqüências da infração atingirem o próprio agente de
forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

7. Prescrição

É a perda do direito de punir do estado (da punibilidade) pelo decurso do


tempo. É um prazo que corre sempre contra o Estado e a favor do acusado. A
prescrição pode ser da pretensão punitiva ou da pretensão executiva. A primeira
ocorre antes do trânsito em julgado, o qual é, em regra, o termo inicial da prescrição
da pretensão executiva (Art. 112, I)

7.1 Prescrição da pretensão punitiva

26
Extingue completamente a punibilidade, isto é, tanto a pena quanto os
registros criminais do agente. Divide-se didaticamente (apenas o nome é alterado) em
duas categorias em relação ao momento da ocorrência: A) Abstrata; B) Concreta
(Retroativa e intercorrente).

A “linha do tempo” processual do agente, quanto à prescrição da pretensão


punitiva, possui como termo inicial, na maioria dos casos, a consumação do crime, ou
as hipóteses previstas no artigo 111 do CP. Na análise da prescrição da pretensão
punitiva, há, em regra, 3 momentos processuais importantes para fins de análise da
prescrição.

I) Recebimento da denúncia

II) Publicação da sentença condenatória ou acórdão condenatório (Sentença


absolutória não é marco interruptivo)

III) Trânsito em julgado.

Em cada um desses momentos deverá ser analisado se o crime está prescrito


ou não. Portanto, caso a acusação recorra da condenação, há três momentos onde
deverá ser feita a análise de prescrição, com base em três períodos de tempo (A, B e
C), conforme imagem abaixo:

“Linha do tempo” processual, quando a acusação recorre da condenação

A B C

I II III
II

Consumação Recebimento Publicação Trânsito em


Acusação
do crime – denúncia da sentença julgado
recorre
ou queixa condenatória

A primeira análise da prescrição (período A) e a segunda (período B) são realizadas de


acordo com a pena em abstrato, prevista no tipo penal, nos termos dos artigos 109,
que informa os prazos prescricionais, e 115, que reduz o prazo prescricional pela
metade se o “criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou,
na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos”

Exemplo: Crime de estelionato (Art. 171), praticado por agente de 20 anos (pena
máxima de 5 anos). De acordo com artigo 109, III, quando a pena máxima for superior
a quatro e não exceder a 8, a prescrição ocorre em 12 anos. Aplicando o artigo 115,

27
como o agente é menor de 21 anos de idade, a prescrição é reduzida pela metade,
sendo de 6 anos.

Primeira análise da prescrição (A): Se da consumação do crime até o


recebimento da denúncia não transcorrerem 6 anos, o crime não está prescrito,
ZERANDO a contagem.

Segunda análise da prescrição (B): Se do recebimento da denúncia (1º


marco interruptivo) até a publicação da sentença (2º marco interruptivo) não
transcorram 6 anos, o crime não está prescrito, ZERANDO a contagem, desde que a
sentença proferida e publicada seja condenatória. Sentença absolutória não é marco
interruptivo.

Sentença Absolutória:

Caso a sentença absolva o réu e a acusação recorra, a terceira análise da


prescrição deverá ser feita diante do momento de publicação do acórdão
condenatório, ou seja, o período C, estende-se, nesse caso, do recebimento da
denúncia até o trânsito em julgado, já que a contagem não é interrompida na decisão
de primeiro grau.

A B C

I II

Em regra Recebimento Trânsito em


Publicação Acusação
consumação – denúncia julgado
da sentença recorre
Art. 111,CP ou queixa
Absolutória

A partir da publicação da sentença, a terceira análise da prescrição (C), sendo a


sentença condenatória, deve ser feita com base na pena atribuída ao agente. Há duas
hipóteses: A) Acusação recorre da sentença; B) Acusação não recorre sentença

A) Acusação recorre da sentença condenatória

A B C

I II III
II

Em regra Recebimento Publicação Trânsito em


Acusação
consumação – denúncia da sentença julgado
recorre
Art. 111,CP ou queixa condenatória

28
A terceira análise da prescrição (C) é a denominada “ concreta intercorrente” ou
“concreta superveniente”, sendo realizada de acordo com a pena atribuída ao agente
na sentença condenatória.

Exemplo: Agente é condenado a 1 ano e 6 meses. É preciso aplicar igualmente os


artigos 109 e 115 do CP.

 Art. 109 = 1 ano e 6 meses = Inciso V = prescreve em 4 anos.


 Art. 115 = 4 anos/2 = 2 anos

Quando a sentença for transitar em julgado, é necessário que se analise se


desde a publicação da condenação até o trânsito em julgado (quando não caibam mais
recursos) transcorreram 2 anos ou não. Caso tenham transcorrido, o crime estará
prescrito e o agente terá sua punibilidade completamente extinta, não tendo
quaisquer registros criminais. Caso contrário, a condenação transitará em julgado,
devendo o processo ter seguimento em fase de execução (se não for absolvido por
outra causa).

B) Acusação NÃO recorre da sentença condenatória

Haverá a análise da denominada prescrição “concreta retroativa”. Sendo o


réu condenado e a sentença condenatória publicada, a acusação terá um prazo para
recorrer. Caso não recorra, gerando o trânsito em julgado para a acusação, e a defesa
o faça, partindo-se do pressuposto de quenão há reforma para pior no recurso
interposto pela defesa, já é possível fazer uma análise da prescrição, pois a pena
recebida na sentença é a maior pena possível a ser atribuída ao agente. A análise
concreta retroativa deve ser feita diante do período (B), do recebimento da denúncia
até a publicação da condenação. Entretanto, deverá ser realizada com base na pena
concreta determinada na sentença.

A B C

I II III
II

Em regra Recebimento Publicação Trânsito em


Acusação
consumação – denúncia da sentença julgado
Não recorre
Art. 111,CP ou queixa condenatória

Se

29
Seguindo no mesmo exemplo: Exemplo: Agente é condenado a 1 ano e 6 meses. A
acusação não recorre da sentença, transitando em julgado para a acusação. A defesa
recorre. É preciso aplicar igualmente os artigos 109 e 115 do CP.

 Art. 109 = 1 ano e 6 meses = Inciso V = prescreve em 4 anos.


 Art. 115 = 4 anos/2 = 2 anos

Se do recebimento (I) até a publicação da sentença condenatória (II) (período B),


passaram-se 2 anos, já é possível considerar o crime prescrito, independentemente de
qualquer decisão posterior.

Da consumação até o recebimento A


Abstrata
Do recebimento até a publicação B

Sentença condenatória ou Acódão


recorrível
Prescrição

Retroativa Quando apenas a defesa recorre.

Do recebimento até a publicação B


Concreta

Quando a acusação recorre


Intercorrente
Da publicação até o trânsito em
C
julgado

 Crimes de competência do tribunal do júri: Há possibilidade de haver


acréscimo de um ou dois marcos interruptivos da prescrição. Quando o juiz
concluir que existem indícios suficientes de autoria e materialidade emitirá
uma pronúncia formal, encerrando a primeira etapa do julgamento. No
momento em que essa pronúncia for publicada em cartório, a contagem da
prescrição deve ser interrompida. Se defesa recorrer da pronúncia, e a
pronúncia for confirmada pelo tribunal, a prescrição será interrompida
novamente, desde o dia do julgamento do tribunal que confirma a pronúncia.
Devido a isso, a defesa deve ter certeza do recurso, sob pena de prejudicar a
prescrição do crime. Cabe salientar que a pronúncia não se trata de
condenação do réu, apenas o pronunciamento que há indícios de autoria e
materialidade e, por isso, o processo deve ter seguimento.

I II III IV V
II II II

Em regra Recebimento Pronúncia Confirmação Publicação Trânsito em


consumação – denúncia da sentença julgado
Art. 111,CP ou queixa Pronúncia condenatória 30
7.2 Prescrição da pretensão Executória

Quando a decisão condenatória transita em julgado, sem que tenha ocorrido a


prescrição do crime, o Estado constitui título executivo que lhe permitirá dar
continuidade ao processo penal, em fase executória, a fim de exercer seu poder de
punir.

 Observações iniciais:

 Mesmo que ocorra a prescrição do crime nessa fase, o agente manterá a


condenação em seus registros criminais, que poderá ser utilizada para fins de
configurar eventual reincidência.
 A prescrição poderá ser suspensa em algumas situações, mas nunca
interrompida.
 O prazo prescricional só corre quando o réu estiver em “liberdade” (não estiver
cumprindo pena)

 Termo inicial da prescrição após sentença condenatória irrecorrível

Conforme artigo 112 do CP, o termo inicial para fins de análise da prescrição em fase
executória pode ser:

 O dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação:


Isso ocorre quando a acusação perde o direito de recorrer, podendo ou não se
confundir com a data em que a sentença transita em julgado. Se, por exemplo,
a acusação não recorrer dentro do prazo legal da sentença condenatória de
primeiro grau, o último dia em que poderia ter recorrido será o termo inicial do
prazo prescricional em fase executória (interpretação literal – há entendimento
diverso do STF no sentido de que o termo inicial será quando houver trânsito
em julgado para ambas as partes, HC 137.924/SP)
 O dia que revoga a suspensão condicional da pena ou o livramento
condicional: Nesse caso, no prazo prescricional deve ser contato apenas o
restante da pena.
 O dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da
interrupção deva computar-se na pena: São possíveis causas para interrupção
da execução a fuga do condenado ou sua internação em razão de doença
mental. De acordo com artigo 113 do CP, em caso de fuga, o prazo prescricional
será em relação ao tempo restante de pena a cumprir.

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 Início da execução: É um marco suspensivo da prescrição, ou seja, enquanto o
condenado cumpre pena, em quaisquer dos regimes, o prazo prescricional
estará suspenso.

Exemplo:

Trânsito em julgado da sentença condenatória: 01/01/2012 (acusação recorreu em


todas as possibilidades)

Pena: 1 ano e 6 meses

Condenado: 20 anos de idade ao tempo do crime

Início do cumprimento da pena: 01/01/2013

Fuga: 01/08/2013

Apresenta-se novamente: 01/04/2014

Crime prescreve: 2 anos (Art. 109, V + 115,CP)

I II III
II

Condenação Início o Fuga Réu se


transitada cumprimento apresenta
em julgado da sentença

Prazo Prazo Prazo Prazo


começa suspenso continua suspenso

1 ano 8 meses

7 meses

O réu cumpriu 7 meses de pena. Já transcorreu 1 ano e 8 meses do prazo


prescricional. Nos termos do artigo 113 do CP, a prescrição deve ser regulada pelo
tempo que resta da pena, ou seja: 11 meses. Aplicando os artigos 109, VI e 115 do
CP, a prescrição do réu é de 1 ano e 6 meses (3 anos/2). Conclui-se que o crime está
prescrito, extinguindo-se a punibilidade, ainda que os registros criminais
permaneçam.

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