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Dinâmica de
Engrenagens
1. Aspetos Gerais sobre
Engrenagens
Paulo Flores
José Gomes
Universidade do Minho
Escola de Engenharia
Guimarães 2014
ÍNDICE
1.1. INTRODUÇÃO
Nos mecanismos1, a transmissão ou transformação de movimento pode ser reali-
zada de duas formas distintas, nomeadamente por contacto direto ou por ligação in-
termédia (Flores e Claro, 2007). No primeiro caso, o movimento é promovido pelo
contacto entre as superfícies dos órgãos motor e movido. Neste grupo incluem-se,
por exemplo, os sistemas de transmissão por rodas de atrito, as engrenagens e os me-
canismos do tipo came-seguidor, tal como ilustra a figura 1.1.
1
Um mecanismo é um conjunto de corpos, em que um deles é fixo, ligados entre si por pares cine-
máticos com propósito de transmitir ou transformar um determinado movimento (Flores, 2012).
Uniões de veios
Rodas de atrito
Sistemas articulados
Quando se pretende efetuar a ligação entre dois veios em que os seus eixos estão
alinhados, ou apresentam um ligeiro desalinhamento axial ou angular, podem utili-
zar-se órgãos mecânicos denominados genericamente por uniões de veios ou aco-
plamentos (Cunha, 2008). As uniões elásticas, as juntas Oldham e as juntas Cardan
ou universais, representadas na figura 1.4, são exemplos de uniões de veios frequen-
temente usadas em mecânica. De um modo geral, este tipo de opção para ligar ou
unir veios é adotada quando as velocidades de rotação dos órgãos motor e movido
são iguais (Shigley e Mischke, 1989).
(a) (b)
Figura 1.5 – (a) Transmissão de movimento de rotação em rotação; (b) Transmissão de
movimento de rotação em translação.
2
Relação de transmissão é o quociente entre as velocidades de rotação de dois corpos, que transmi-
tem movimento de um para o outro.
3
O termo engrenagem diz sempre respeito a um par de rodas dentadas, uma das quais, a mandante,
arrasta a outra, a mandada. Não deve, portanto, confundir-se roda dentada com engrenagem.
(a) (b)
Figura 1.7 – (a) Engrenagens de uma batedeira; (b) Engrenagens de um brinquedo.
4
Em relação às rodas dentadas de aço, as rodas dentadas poliméricas têm uma densidade cerca de
sete vezes menor (Smith, 1990).
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
Figura 1.8 – (a) Relógio mecânico; (b) Diferencial de automóvel; (c) Pinhão-cremalheira
usado em comboios de montanha; (d) Roda dentada de máquina de grande porte; (e) Con-
tador; (f) Caixa redutora.
5
As rodas dentadas de grandes dimensões são utilizadas, por exemplo, na indústria cimenteira.
Figura 1.9 – Modelo do carro que segue o sul inventado na China no ano 260 a.C.
A figura 1.10a apresenta uma engrenagem primitiva usada pelos chineses no sécu-
lo III a.C. Este tipo de engrenagem é ainda utilizado nos nossos dias em sistemas de
elevação de água, sendo vulgarmente denominadas de noras (Branco et al., 2009).
Este tipo de roda é também utilizado em moinhos. As rodas dentadas primitivas eram
muito rudimentares, sendo constituídas por pedaços de madeira8 que se inseriam num
disco ou numa roda. Mais tarde, em pleno Quatrocento, o italiano Leonardo da Vinci
(1452-1519) apresenta inúmeras ilustrações onde se podem identificar arranjos de
engrenagens, tal como o que se ilustra na figura 1.10b (Drago, 1988).
6
Trem epicicloidal, também designado por redutor planetário, é um caso especial de engrenagens
que permite obter relações de transmissão bastante elevadas em soluções bastante compactas.
7
O deserto de Gobi é um extenso deserto situado entre a região norte da China e a região sul da
Mongólia. A título de curiosidade, refira-se que o vocábulo gobi significa deserto em Mongol.
8
Na realidade, as primeiras rodas dentadas eram feitas de madeira ou em materiais similares facil-
mente trabalháveis. Atualmente, os principais materiais são o aço de baixo carbono, o aço inoxidá-
vel, o ferro fundido nodular, o bronze e os materiais poliméricos.
Até ao século XVI, as engrenagens eram produzidas manualmente, cujo perfil fi-
nal dos dentes era obtido mais por acidente do que por planeamento ou projeto. A
primeira máquina capaz de fabricar rodas dentadas foi desenvolvida pelo espanhol
Juanelo Turriano (1501-1585), a qual foi especialmente concebida para facilitar a
construção de um relógio mecânico para o Rei Carlos V de Espanha (Vera, 1996). O
relógio incluía cerca de 2000 rodas dentadas. De facto, um campo de aplicação que
contribuiu significativamente para o desenvolvimento das engrenagens foi o da relo-
joaria. O primeiro relógio mecânico, em relação ao qual existem esquemas básicos
de projeto, deve-se ao italiano Giovanni Dondi (1348-1364) (Drago, 1988).
Com o advento da revolução industrial, no século XVIII, as engrenagens passa-
ram a ser fabricadas em materiais metálicos, apresentando, por isso, maior durabili-
dade e capacidade de carga. No início do século XIX, a indústria da produção de
rodas dentadas assumia já a forma tal como hoje é conhecida, em que os perfis dos
dentes obedeciam a curvas previamente definidas, tais como as curvas cicloide9 e
evolvente10 (Flores, 2009). A evolvente é, sem dúvida, a forma geométrica mais co-
mum nos perfis dos dentes das engrenagens. De entre os principais nomes que con-
tribuíram decisivamente para o estudo e desenvolvimento das engrenagens podem
ser destacados os que se listam na tabela 1.1. Outros autores poderiam ser incluídos,
porém, os que aqui se apresentam, resumem, de algum modo, as contribuições mais
relevantes (Drago, 1988). Na atualidade, os novos desenvolvimentos na área científi-
co-técnica das engrenagens prendem-se com os novos materiais, as novas técnicas de
fabrico e as metodologias avançadas de modelação, simulação, análise e otimização
de rodas dentadas, bem como ainda o uso extensivo da eletrónica (Li et al., 2014;
Denkena et al., 2014; Simon, 2014).
Tabela 1.1 – Alguns dos principais autores que contribuíram para o estudo e
desenvolvimento das engrenagens.
Nome Ano Contribuição
Nicolau de Cusa 1451 Efetuou estudos sobre a curva cicloidal.
Girolano Cardano 1525 Desenvolveu os primeiros modelos matemáticos de engrenagens.
Leonhard Euler 1754 Conhecido como o pai da engrenagem em evolvente em virtude dos seus estudos.
Robert Willis 1832 Desenvolveu inúmeros estudos sobre engrenagens e trens de engrenagens.
Wilfred Lewis 1892 Propôs um modelo simplificado para avaliar as tensões desenvolvidas nos dentes.
9
Cicloide é uma curva traçada por um ponto de uma circunferência, quando esta roda sem deslizar
ao longo de uma reta ou sobre uma circunferência.
10
Evolvente do círculo é a curva definida por um ponto de uma reta que roda sem escorregar sobre
um círculo.
(a) (b)
Figura 1.13 – (a) Engrenagem cilíndrica exterior; (b) Engrenagem cilíndrica interior.
12
Numa engrenagem cilíndrica, a relação de transmissão é a mesma que se obteria considerando dois
cilindros imaginários equivalentes, comprimidos um contra o outro, e que rodam um relativamente
ao outro sem escorregar.
13
Nas rodas de dentes helicoidais, os dentes estão dispostos transversalmente em forma de hélice em
relação ao eixo da roda.
14
As engrenagens cilíndricas de dentes em espinha ou de dupla hélice requerem máquinas-ferramenta
especiais para o seu fabrico.
Dentado helicoidal
Dentado em espinha
Cilíndricas
Dentado espiral
Pinhão-cremalheira
Dentado reto
Dentado helicoidal
Tipos de
engrenagens
Dentado espiral
Hipoide
Dentado helicoidal
Dentado espiral
Torsas
Parafuso sem-fim
(a) (b)
(c) (d)
Figura 1.18 – (a) Roda coroa; (b) Engrenagem não-circular; (c) Harmonic drive;
(d) Engrenagem em gaiola ou lanterna.
Íman
Rotor de alta
Rotor de baixa velocidade
Estator velocidade
Bobine
Roda de balanço
Rubi
Pino-batente
Alavanca ou âncora
Linguete
Roda de escape
a
ur Flanco
arg
L
Circunferência de coroa po
To
a
ro
co
de
cia co
Saliên l an
F iz
ra
ra d
o de
Altuente trância co
d Reen l an
F
Concordância
Raiz
Circunferência primitiva
Considere-se agora que uma engrenagem cilíndrica exterior de dentes retos é in-
tersetada por um plano perpendicular ao eixo das rodas. Deste modo, obtém-se o
perfil transversal17 do dentado, tal como se representa parcialmente na figura 1.22.
Assim, neste perfil do dentado podem distinguir-se os seguintes elementos18:
- Coroa ou cabeça, que é o arco de circunferência que delimita superiormente o
dente (segmento AE),
- Raiz ou pé, que é o arco de circunferência que delimita inferiormente o dente
(segmento DF),
- Linha de flanco, que é a parte do perfil do dente compreendida entre a coroa e a
raiz (segmentos AD e EF).
Às superfícies cilíndricas coaxiais com o eixo da roda que contêm as coroas e as
raízes dos dentes dá-se o nome de superfície de coroa e superfície de raiz, respetiva-
mente. Por conseguinte, os diâmetros destas superfícies denominam-se de diâmetro
de coroa (da) e diâmetro de raiz (df), os quais estão representados na figura 1.22. O
cilindro primitivo tem um diâmetro intermédio entre o diâmetro de coroa e o diâme-
tro de raiz. O diâmetro primitivo é representado simplesmente pela letra d, tal como
se pode observar na figura 1.22. Refira-se ainda que o diâmetro de base (db) tem um
diâmetro superior ao do da circunferência de raiz, como se verá ulteriormente. Deve
17
Quando o plano de interseção passa pelo eixo da roda obtém-se o perfil axial do dentado.
18
Dever referir-se que a nomenclatura adotada no presente texto segue a norma ISO 701 de 1988,
revista em 2013 e denominada International gear notation - Symbols for geometrical data.
Coroa
H
Raiz
ha Linha de flanco
E
A
e
hf
s I’
h I
G
B F
C
D
df d da
Circunferência primitiva
I I
Tangente ao perfil no ponto I Tangente ao perfil
Ao ângulo agudo formado pela tangente ao perfil do dente num ponto qualquer e
pelo raio da roda nesse ponto chama-se ângulo de incidência (), tal como ilustra a
figura 1.23. Na situação em que o ponto considerado para a tangência é o ponto pri-
mitivo (I), então o ângulo denomina-se ângulo de pressão (). O ângulo de pressão é
o ângulo que define a direção da força que a roda motora exerce sobre a movida.
19
Ponto primitivo é o ponto de tangência de duas circunferências primitivas de engrenagens conjuga-
das. Este assunto será objeto de estudo aprofundado nas secções subsequentes deste documento.
3,5 4
2,75
2,5
6
2,25
Figura 1.24 – Relação entre o módulo, tamanho dos dentes e número de dentes.
(a)
(b)
Figura 1.25 – (a) Engrenagem com módulo m1=m2=1 mm, z1=20 e z2=40;
(b) Engrenagem com módulo m1=1 mm, m2=2 mm e z1=z2=20.
Tal como foi referido anteriormente, duas rodas dentadas só podem funcionar cor-
retamente se tiverem o mesmo módulo. Assim, a fim de se demonstrar este princípio
considere-se duas engrenagens com as seguintes caraterísticas:
- m1=m2=1 mm, z1=20 e z2=40,
- m1=1 mm, m2=2 mm, z1=z2=20.
A figura 1.25 ilustra este par de engrenagens onde são visíveis as diferenças pelo
facto de se considerar ou não o mesmo módulo. Engrenagens com maior número de
dentes proporcionam transmissões mais suaves e evitam interferências.
O modo mais frequente de gerar os perfis dos dentes é o que se baseia na utiliza-
ção de curvas cíclicas ou de curvas evolventes (Wilson e Sadler, 1993). As curvas
cíclicas são geralmente obtidas a partir de trajetórias de pontos associados à circunfe-
rência. Estas curvas são caraterizadas por um processo de oscilação periódica entre
distâncias iguais. No sentido mais lato, uma evolvente é uma curva obtida a partir de
uma dada curva, unindo a esta uma corda inextensível e traçando a trajetória de um
ponto da corda ao ser enrolada ou desenrolada sobre a curva dada. A figura 1.27 re-
sume as principais curvas utilizadas na geração de perfis de dentes.
21
O funcionamento correto de uma engrenagem diz respeito, fundamentalmente, à garantia na trans-
missão do movimento com relação de transmissão constante.
De cicloide
Embora seja pouco usado em mecânica corrente, estuda-se aqui a geração do den-
tado cicloidal, no qual os perfis dos dentes são arcos de cicloides. Cicloide22 é uma
curva traçada por um ponto de uma circunferência, dita rolante, quando esta rola sem
escorregar ao longo de uma reta ou sobre outra circunferência. Quando a base é uma
reta, a curva obtida denomina-se de cicloide ordinária. Quando a base é uma circun-
ferência, a curva resultante designa-se de epicicloide23, quando a rolante é exterior à
base, e hipocicloide quando a rolante é interior à base (Henriot, 1979).
A título de exemplo, na figura 1.28 ilustra-se o procedimento relativo à obtenção
de uma curva cíclica epicicloide, em que a rolante é a circunferência de centro em O1
e de raio r1, sendo a base a circunferência centrada em O2 e de raio r2. A circunferên-
cia de base está fixa, enquanto a geratriz ou rolante rola sem escorregar sobre a cir-
cunferência de base, tal como se representa na figura 1.28a. Com efeito, para se obter
o traçado da epicicloide, deve começar-se por dividir a rolante num número de partes
iguais. No presente caso, a rolante é dividida em oito partes iguais, delimitadas pelos
pontos 1 a 8, como se ilustra na figura 1.28b. De seguida, pelo centro da rolante e
pelos pontos 1 a 8, desenham-se arcos de circunferência concêntricos com a base. Os
últimos estão desenhados a traço interrompido na representação da figura 1.28b. Na
circunferência de base desenham-se arcos de circunferência iguais entre si e com um
comprimento igual a 1/8 do perímetro da rolante. Estes arcos estão representados a
cinzento na figura 1.28b e delimitados pelos pontos PI1, I1I2, … I7I8. As sucessivas
posições do centro da rolante obtêm-se pela interseção do arco que passa pelo centro
da rolante, desenhado a cinzento na figura 1.28b, com as correspondentes direções
radiais. Estes centros estão representados na figura 1.28c por C1, C2, … C8. Podem
agora ser desenhadas as novas rolantes em cada centro obtido pelo procedimento
anterior, tal como se mostra na figura 1.28c. Finalmente, as sucessivas posições do
ponto de traçagem são obtidas pela interseção de cada rolante com os corresponden-
tes arcos de circunferência inicialmente desenhados, como mostra a figura 1.28d.
Unindo os pontos P, P1, P2, … P8, obtém-se a curva epicicloide.
Deve referir-se que é possível obter as equações paramétricas de uma curva epici-
cloide. Da análise da geometria da figura 1.28, observa-se que, por um lado, a curva
epicicloide é simétrica em relação a um eixo e, por outro, a normal em qualquer dos
seus pontos passa sempre pelo ponto de contacto da rolante com a base (Henriot,
1979; Wilson e Sadler, 1993).
22
Cicloide é uma palavra de origem grega que traduz a ideia de circular ou círculo.
23
Epicicloide vem do grego, onde epi significa sobre, e cicloide círculo. Por seu lado, o vocábulo
hipocicloide é também de origem grega, em que hipo significa sob, por debaixo.
2
I5 I4 I3 I2
I6 3
I1 1 4
r1 I7
P O1 P
I8 8 5
O2 7 6
r2
Ponto de traçagem
(a) (b)
P4
P5 P3
C4 C3
C5 C2 P6
C6 2 P2 2
C1
C7 3 3
1 4 P7 1 4
P1
C8 P P
8 5 P8 8 5
7 6 7 6
(c) (d)
Figura 1.28 – Traçado de uma curva cíclica epicicloide.
De seguida é apresentado o procedimento para se obter um dentado cicloidal para
uma engrenagem cilíndrica exterior de dentes retos. Assim, para o efeito devem con-
siderar-se as circunferências primitivas das duas rodas como as bases do movimento.
Então as circunferências rolantes rolam sem escorregar, ora uma, ora outra, sobre
cada circunferência de base, consoante se pretende gerar o perfil acima ou abaixo do
ponto primitivo. A figura 1.29 mostra como se obtêm os perfis cicloidais para o caso
de uma engrenagem cilíndrica exterior de dentado reto. Em primeiro lugar traçam-se
as circunferências primitivas representadas por C1 e C2, cujos centros são O1 e O2,
respetivamente, tal como se ilustra na figura 1.29a. Considere-se agora G1 e G2 como
sendo as circunferências geradoras, cujos centros e raios são, respetivamente P1, P2,
r1 e r2, tal como representado na figura 1.29b. As circunferências geradoras são tan-
gentes no ponto I às duas circunferências primitivas, sento este o ponto gerador ou de
traçagem. O perfil do dente da roda 1 é constituído por dois arcos (cf. figura 1.29c):
- O arco IA1, que é um arco de hipocilcoide que resulta de G1 rolar sem escorregar
interiormente sobre C1,
- O arco IB1, que é o arco de epicicloide que resulta de G2 rolar sem escorregar
exteriormente sobre C1.
O perfil do dente da roda 2 é também constituído por dois arcos (cf. figura 1.29d):
- O arco IA2, que é um arco de hipocilcoide que resulta de G2 rolar sem escorregar
interiormente sobre C2,
- O arco IB2, que é o arco de epicicloide que resulta de G1 rolar sem escorregar
exteriormente sobre C2.
G1 r1
P1
P2 r2
G2
C2 O2 C2 O2
(a) (b)
C1 O1 C1 O1
G1 r1 G1
P
A1 1 A1
I B2 I
B1 B1
A2
P2 r2
G2 G2
C2 O2 C2 O2
(c) (d)
Figura 1.29 – Obtenção de um dentado cicloidal para engrenagens cilíndricas
exteriores de dentes retos.
G1
B
I
G2
O2 Cf2 Ca2
C2
Figura 1.30 – Representação da linha de ação numa engrenagem de
dentado reto de perfil cicloidal.
I I
Curva evolvente
P
Corda inextensível
C
A
rb
A figura 1.34 ilustra a evolvente de um círculo, bem como um dente obtido a par-
tir da curva evolvente. Pode observar-se que quanto maior for o raio do círculo de
base, menos acentuada será a evolvente. No caso de uma cremalheira (roda de raio
infinito), a evolvente é um reta (Henriot, 1979; Budynas e Nisbett, 2011).
Evolvente
Corda
3
2 4
1
Dente
rb
Círculo de base
Círculo de base
C1 1
B
I
A 2
E
r2 rb2
Cb2 C2
O2
Círculo primitivo Círculo de base
C1 1
Cb1
rb1
O1
r1 F
B
I
C
A 2
E
r2 rb2
Cb2 C2
O2
’
I’
I
Fr N
I Ft
E
r1
1
P 2
1
O01 O02
0 0
Figura 1.39 – Sistema mecânico constituído por três corpos, em quem que dois deles
estão em contacto direto.
Considere-se o sistema mecânico constituído por três corpos em que dois deles es-
tão em contacto direto, tal como ilustra a figura 1.39. O corpo 0 é fixo, correntemente
denominado de fixe, enquanto os corpos 1 e 2 rodam relativamente ao corpo 0 em
torno dos centros instantâneos de rotação O01 e O02, respetivamente. É por demais
evidente que estes dois centros instantâneos de rotação se podem localizar por sim-
ples inspeção ou observação direta do sistema. Da aplicação da equação (1.16) con-
clui-se que neste sistema existem três centros instantâneos de rotação, ou seja, O01,
O02 e O12. Para determinar a localização O12 deve recorrer-se, conjuntamente ao teo-
rema da normal comum e ao teorema dos três centros. Este último teorema é também
Tangente comum
P 2
1
0 0
25
O teorema dos três centros ou teorema de Aronhold-Kennedy foi, primeiramente, desenvolvido por
Aronhold em 1872 e, posteriormente, por Kennedy em 1886. Os trabalhos destes dois cientistas fo-
ram realizados de forma independente. Na literatura alemã é comum encontrar-se a referência a es-
te teorema, como sendo o teorema de Aronhold, ao passo que na literatura anglossaxónica se pode
encontrar a referência ao teorema de Kennedy.
26
Quando as engrenagens estão no espaço tridimensional, então o centro instantâneo de rotação dá
lugar ao eixo instantâneo de rotação, e as curvas primitivas dão lugar às superfícies primitivas (e.g.
cones, cilindros, etc.).
P
C1
O12 I O12 I
Normal comum
v1 v2
C2
2
r2
2 O02 2
O02
0 C2
(a) (b)
Figura 1.41 – Identificação das curvas primitivas numa engrenagem.
1
O01
v2
P
v1
v1n v2n
2 O02
0
Figura 1.42 – Representação da velocidade periférica do ponto de contacto.
v2 2 O02 P (1.22)
27
A ação conjugada de curvas é utilizada em engrenagens e mecanismos do tipo came-seguidor, com
o propósito de se obter uma relação de velocidades constante durante funcionamento.
28
Nas engrenagens não circulares não é necessário que a normal comum passe pelo ponto primitivo,
basta que se verifique constância na relação de velocidades em cada instante do engrenamento.
29
Deve desde já notar-se que a direção normal no ponto de contacto não deve ser confundida com a
direção definida pela linha de engrenamento.
(a) (b)
7. Apresente duas vantagens e um inconveniente das engrenagens de dentado he-
licoidal face ao dentado reto.
12. Quais são os principais parâmetros que definem e caraterizam uma roda den-
tada de uso corrente?
15. Apresente dois inconvenientes associados ao uso de rodas com dentado cicloi-
dal.
17. Descreva o procedimento gráfico que permite obter uma curva evolvente de
círculo.
Paulo Flores
José Gomes
Universidade do Minho
Escola de Engenharia
Guimarães 2014
ÍNDICE
2.1. INTRODUÇÃO
No presente texto são apresentados conceitos e fundamentos relativos à carateri-
zação e ao desempenho de engrenagens cilíndricas de dentes retos, os quais servem
também de base no estudo de engrenagens de dentes inclinados, engrenagens cónicas
e engrenagens do tipo parafuso sem-fim. Na realidade, esta é a abordagem mais fre-
quentemente adotada nos principais livros de texto sobre a temática das engrenagens
(Juvinall e Marshek, 2006; Branco et al., 2009; Budynas e Nisbett, 2011).
A figura 2.1 mostra duas engrenagens1 cilíndricas de dentes retos, a qual serve
fundamentalmente para evidenciar a forma dos dentes, bem como o modo de engre-
namento entre cada par de rodas. As engrenagens cilíndricas de dentes retos podem
ser exteriores ou interiores, como ilustra também a figura 2.1 (Wilson e Sadler,
1993). É indubitável que as engrenagens cilíndricas de dentado reto são as mais fre-
quentemente utilizadas em máquinas e mecanismos quando se pretende transmitir
movimento entre eixos paralelos. Algumas das razões que concorrem para a sua po-
pularidade prendem-se com a simplicidade e facilidade associadas às atividades de
projeto, fabrico, montagem e manutenção (Flores e Gomes, 2014). Este tipo de en-
grenagem apresenta rendimentos elevados (até 99%), possibilita a obtenção de rela-
ções de transmissão elevadas (8:1) e transmite potências elevadas (Niemann, 1971).
(a) (b)
Figura 2.1 – (a) Engrenagem cilíndrica exterior de dentes retos;
(b) Engrenagem cilíndrica interior de dentes retos.
2
Ângulo de pressão é o ângulo formado pela linha de ação ou de engrenamento com a direção tan-
gente às circunferências primitivas no ponto primitivo (Henriot, 1979).
3
Ao dentado normalizado está sempre associado um ângulo de pressão igual a 20º. Dentado normal,
por seu lado, diz respeito a um dentado que não foi corrigido (Branco et al., 2009).
ha
e
hf
s
h
df d da
Figura 2.3 – Principais elementos geométricos e proporções dos dentes de uma roda
dentada cilíndrica exterior de dentado reto normal.
g
s
s
A figura 2.4 mostra as folgas que existem, na prática, nas engrenagens cilíndricas.
A folga entre os dentes pode estar associada ao afastamento (propositado ou não) dos
centros de rotação das rodas ou à diminuição da espessura do dente em relação aos
valores normalizados. Este tipo de folga pode ser não só necessário, como também
desejável, já que facilita a lubrificação e possibilita a dilatação dos dentes devido a
efeitos térmicos (Drago, 1988). Caso assim não fosse, as engrenagens tenderiam a
bloquear ou, pelo menos, a funcionar em condições pouco aceitáveis. As figuras 2.4
e 2.5 mostram, respetivamente, a existência da folga entre os dentes devido à diminu-
ição da espessura dos dentes e ao aumento do entre-eixo. Deve referir-se que a folga
entre os dentes é medida na direção da linha de ação.
Na prática, a folga entre os dentes depende do grau de precisão com que os dentes
das rodas são produzidos. Assim, diferentes cenários podem ser distinguidos, nome-
adamente (Budynas e Nisbett, 2011):
g 0 (engrenagens de muito elevada precisão) (2.13)
1 39
0 g p, s p (engrenagens de precisão) (2.14)
40 80
a
A folga na raiz é necessária para evitar que a superfície de coroa de uma roda e a
superfície de raiz da roda que com ela engrena entrem em contacto. Para o efeito, as
recomendações para a folga na raiz sugerem a seguinte relação (Henriot, 1979)
j h f ha 1,25m m 0,25m (2.18)
No que concerne ao raio de concordância da raiz dos dentes não existem reco-
mendações relevantes. Todavia, é boa prática que aquele raio seja proporcional ao
módulo da seguinte forma (Juvinall e Marshek, 2006)
1
m (2.19)
3
C1
1
r1
I
v1 v2 a
r2
2
C2
Ainda na figura 2.6 está representada a velocidade do ponto primitivo, o qual per-
tence quer ao pinhão, quer à roda. Atendendo a que este ponto é um centro instantâ-
neo de rotação, então pode escrever-se a seguinte igualdade
v1 v2 1r1 2 r2 (2.23)
em que 1 e 2 são as velocidades angulares do pinhão e da roda, respetivamente.
Assim, atendendo à definição de relação de transmissão, pode escrever-se que
1 r2 d 2
i (2.24)
2 r1 d1
4
Deve relembrar-se que o engrenamento entre duas rodas dentadas só é possível se estas tiverem o
mesmo módulo (Flores e Gomes, 2014).
Tabela 2.2 – Principais relações geométricas e proporções dos dentes para engrenagens
cilíndricas exteriores de dentado reto normal.
Parâmetro Expressão
Diâmetro primitivo d mz
Saliência ha m
Reentrância h f 1,25m
Altura do dente h 2,25m
Diâmetro de coroa d a m( z 2)
Diâmetro de raiz d f m( z 2,5)
z1 z 2
Entre-eixo am
2
z2
Relação de transmissão i
z1
Exercício 2.1
Enunciado: Considere uma engrenagem cilíndrica exterior de dentado reto normali-
zado, em que o pinhão e a coroa têm, respetivamente, 19 e 76 dentes. Atendendo a
que o módulo é igual a 3 mm, calcule os seguintes parâmetros geométricos para o
pinhão: (i) saliência, (ii) reentrância, (iii) altura do dente, (iv) diâmetro primitivo, (v)
diâmetro de coroa e (vi) diâmetro de raiz. Represente graficamente os parâmetros
anteriormente calculados (Wilson e Sadler, 1993).
5
Vantagem mecânica pode ser definida como o quociente entre força/ação desenvolvida num siste-
ma mecânico e a força/ação que é aplicada no mesmo sistema. Nas engrenagens a vantagem mecâ-
nica está diretamente relacionada com a razão entre os binários de saída e de entrada (Beer e
Johnston, 1991).
49
57
63
,5
F
2
1
C1
Cb1 O1
Circunferência de base
Circunferência de coroa
Figura 2.8 – Engrenagem cilíndrica interior de dentes retos.
6
Os perfis dos dentes denominam-se conjugados quando existe tangência entre as superfícies de dois
dentes de duas rodas engrenadas (Spotts e Shoup, 1998).
Tabela 2.3 – Principais relações geométricas e proporções dos dentes para engrenagens
cilíndricas interiores de dentado reto normal.
Parâmetro Expressão
Diâmetro primitivo d mz
Saliência ha m
Reentrância h f 1,25m
Altura do dente h 2,25m
Diâmetro de coroa do pinhão d a1 m( z1 2)
Diâmetro de coroa da roda d a 2 m( z2 2)
Diâmetro de raiz do pinhão d f 1 m( z1 2,5)
Diâmetro de raiz da roda d f 2 m( z 2 2,5)
z 2 z1
Entre-eixo am
2
z2
Relação de transmissão i
z1
B
I
Figura 2.9 – Engrenamento em que apenas há contacto num par de dentes, o qual garante,
teoricamente, a continuidade do engrenamento.
7
É evidente que cada dente de uma roda dentada está engrenado apenas uma vez em cada rotação
completa da roda. Este aspeto é fundamental no estabelecimento do número mínimo de dentes que
uma roda dentada deve ter (Henriot, 1979).
8
A linha de ação ou linha de engrenamento é, por definição, a linha que une as sucessivas posições
do ponto de contacto de uma engrenagem (Flores e Gomes, 2014).
2
rb2
Cf2 r2
Cb2
C2 F
Ca2
B
D
I
L M
C
A
Ca1
E C1
Cb1
Cf1
r1
rb1
1
O1
Observando a figura 2.10, pode afirmar-se que o engrenamento entre dois dentes
se inicia quando a circunferência de coroa da roda movida interseta a linha de ação.
Este ponto é representado pela letra C na figura 2.10. Neste mesmo instante, o ponto
em que o perfil do dente do pinhão interseta a circunferência primitiva é materializa-
do pelo símbolo L. De modo análogo, o engrenamento termina quando a circunferên-
cia de coroa da roda motora interseta a linha de ação. Este ponto é representado pela
letra D na figura 2.10. Neste mesmo instante, o ponto em que o perfil do dente do
pinhão interseta a circunferência primitiva é materializado pelo símbolo M. À distân-
cia entre os pontos de início e término do engrenamento (segmento CD), chama-se
comprimento de condução ou comprimento de ação (Budynas e Nisbett, 2011). Con-
clui-se, portanto, que o engrenamento entre um par de dentes está, em geral, compre-
endido entre os pontos A e B que definem a linha de engrenamento.
Os ângulos 1 e 2 representados na figura 2.11 denominam-se de ângulos de con-
dução ou ângulos de ação das rodas motora e movida, respetivamente. Por seu lado,
os ângulos 1 e 2 representam os ângulos de aproximação das rodas motora e movi-
da, e dizem respeito à amplitude de rotação de cada uma das rodas desde o início do
contacto, até ao instante em que o ponto de contacto ocorre no ponto primitivo. Do
O2
2
rb2
Cf2 r2
Cb2 2 2 F
C2
Ca2 2
B
D
I
L M
C
A
Ca1
E 1 C1
Cb1
1 1
Cf1
r1
rb1
1
O1
Figura 2.11 – Representação de três posições sucessivas de um par de dentes engrenado.
lf
a f IM (arco de afastamento) (2.32)
cos
Com efeito, a duração do engrenamento pode ser definida como a soma das parce-
las correspondentes às fases de aproximação e de afastamento, ou seja
l la l f CD (comprimento de condução) (2.33)
l
a aa a f LM (arco de condução) (2.34)
cos
Deste modo, para que haja continuidade do engrenamento é necessário que se ve-
rifique a seguinte condição (Henriot, 1979)
l pn ou a p (2.35)
em que pn representa o passo normal9 e p é o passo primitivo10.
Define-se relação de condução, ou razão de condução, como sendo o quociente
entre o arco de condução11 e o passo, ou seja (Budynas e Nisbett, 2011)
a l
(2.36)
p πm cos
A equação (2.36) permite determinar o número médio de pares de dentes em con-
tacto durante o engrenamento. Para a situação de engrenamento representada na figu-
ra 2.9, a relação de condução é igual à unidade, significando que um dente e o entre-
dente ocupam completamente o arco de condução LM. Por outras palavras, quando
um par de dentes está a iniciar o contacto no ponto A, o par de dentes anterior está,
no mesmo instante, a terminar o contacto no ponto B. Note-se que nesta situação
particular, os pontos A e C, bem como os pontos B e D, são coincidentes. Na prática,
9
Passo normal é a distância que separa dois flancos homólogos consecutivos. Trata-se, portanto, de
um segmento de reta (Flores e Gomes, 2014).
10
Passo primitivo ou passo é, por definição, o comprimento do arco da circunferência primitiva com-
preendido entre dois flancos homólogos e consecutivos (Henriot, 1979).
11
O arco de condução é, por vezes, denominado de arco de ação ou arco de engrenamento (Wilson e
Sadler, 1993).
O2
2
Cf2
Cb2
C2 F
Ca2
B
I lf D
L aa af M
la
C
A
Ca1
E 1 C1
Cb1
1 1
Cf1
1
O1
ID rb1 1 (2.43)
em que rb1 representa o raio de base do pinhão. Sabendo que a relação entre o raio de
base e o raio primitivo de uma roda dentada de dentes retos é dada pela equação
(2.30), então as equações (2.42) e (2.43) podem ser reescritas da seguinte forma
CI
1 (2.44)
r1 cos
ID
1 (2.45)
r1 cos
Substituindo agora as equações (2.44) e (2.45) nas equações (2.40) e (2.41), respe-
tivamente, resulta que
CI l
aa LI a (2.46)
cos cos
ID l
a f IM f (2.47)
cos cos
Atendendo à definição de passo, a equação (2.38) pode ser expressa como
a CI ID CD
(2.48)
p πm cos πm cos
em que o denominador pode ser designado como passo de base , ou seja,
pb πm cos (2.49)
e que representa o passo medido na circunferência de base (Wilson e Sadler, 1993).
O comprimento de condução, necessário para determinar a relação de condução,
pode ser expresso da seguinte forma
CD CI ID (2.50)
em que
CI CB IB (2.51)
ID AD AI (2.52)
CB O C O B
2
2
2
2
r2 ha 2 2 r22 cos 2 (2.55)
Por outro lado, ainda da análise da figura 2.12, sabe-se que
IB r2sen (2.56)
Logo, o comprimento de aproximação é dado pela seguinte expressão
la CI CB IB r2 ha 2 2 r22 cos2 r2sen (2.57)
De modo análogo, pode ser determinado o comprimento de afastamento. Assim,
do triângulo O1AD, podem ser calculados os comprimentos dos lados O1D e O1A,
O1D r1 ha1 (2.58)
O1 A r1 cos (2.59)
Da aplicação do teorema de Pitágoras ao triângulo retângulo O1AD vem que
AD O D O A
1
2
1
2
r1 ha1 2 r12 cos 2 (2.60)
Agora, da observação da figura 2.12 conclui-se que
AI r1sen (2.61)
Logo, o comprimento de afastamento é dado pela seguinte expressão
l f ID AD AI r1 ha1 2 r12 cos2 r1sen (2.62)
Com efeito, o comprimento de condução pode ser calculado combinando as equa-
ções (2.50), (2.57) e (2.62), resultando em
l CD r2 ha 2 2 r22 cos2 r2sen r1 ha1 2 r12 cos2 r1sen (2.63)
Finalmente, a relação da condução expressa pela equação (2.48) pode ser reescrita
da seguinte forma
1 z 22 z12 z z
sen 2 z 2 1 sen 2 z1 1 1 2 sen (2.65)
π cos 4 4 2
F/2
F
Cb2
F/2
C2
D B
Ca2 Q Ca1
P
C1
C
Cb1
A
E
Figura 2.13 – Evolução das forças de contacto nos dentes durante o engrenamento.
Tal como foi mencionado anteriormente, relações de condução mais elevadas são
benéficas, não só em termos de continuidade do engrenamento, mas também em ter-
mos da distribuição das forças de contacto entre as superfícies dos dentes (Branco et
al., 2009). Assim, a figura 2.13 diz respeito à evolução das forças de contacto12 ao
longo de engrenamento, para um par de dentes conjugados. Nesta representação ad-
mite-se que existem dois pares de dentes engrenados ao mesmo tempo durante os
períodos correspondentes aos comprimentos de condução CP e QD. Com efeito, du-
rante estes dois períodos, a força de contacto é distribuída pelos dois pares de dentes,
enquanto no período correspondente ao comprimento de condução PQ, a força é
apenas suportada por um par de dentes. Pode facilmente observa-se que o compri-
mento de condução PQ diminui com o aumento da relação de condução, o que é van-
tajoso em termos de distribuição das forças desenvolvidas durante o engrenamento.
12
A análise sobre a distribuição de forças aqui apresentada é algo simplista, na medida em que os
efeitos associados à deformação dos dentes e aos erros de fabrico/montagem são negligenciados.
O1
1
~
~
F
vt1 vt2
C1
B
v1
D
P
vr1
I v2
C2 vr2
A C
E
~
~
2
O2
Da análise das equações (2.67) e (2.68) pode observar-se que no caso de engrena-
gens interiores, existe menos escorregamento uma vez que as duas rodas rodam no
mesmo sentido e, consequentemente, é menor o valor absoluto de (Budynas e Nis-
bett, 2011). O sentido da velocidade linear de escorregamento depende diretamente
do sentido da velocidade instantânea de rotação, . Uma vez definido o sentido de
funcionamento de uma engrenagem exterior, verifica-se que mantém, quer o mó-
dulo, quer a intensidade, durante o engrenamento. Com efeito, a velocidade de escor-
regamento, que varia linearmente, é (Henriot, 1979):
- Tangente aos perfis conjugados no ponto de contacto,
- Nula no ponto primitivo,
- Máxima no início e no fim do engrenamento, porém, com sentidos opostos.
O1
1 vg
~
~
F
vt1 vt2
C1
B
v1
D
P
vr1
I v2
C2 vr2
A C
E
~
~
2
O2
O1
1
~
~
F
C1 V2
V1
U2 V
U1
T2 U
S S1 S2 T1 T
R
C2 R 2 R1
Q
P Q2
Q1
P2
E P1
~
~
2
O2
V2
U2
V1
T2
U1 Linha primitiva
T1
S2
R2 S1
Q2 R1
P2
Q1
P1
Coroa Pinhão
P P1
~
E ~
2
O2
1
O1
V1
V2
U1 U2
Linha primitiva
T1 T2
S1 S2
R1 R2
Q1
P1 Q2
P2
Pinhão Coroa
Figura 2.18 – Escorregamento entre dois perfis conjugados de engrenagem interior.
Por seu lado, os arcos elementares descritos pelas circunstâncias primitivas podem
ser determinadas considerando que aquelas descrevem um movimento uniforme
d
ds v1dt 1 1 dt (2.73)
2
d
ds v2 dt 2 2 dt (2.74)
2
Combinando agora as equações (2.72), (2.73) e (2.74) obtêm-se as expressões
2
1dt dx (2.75)
d1 cos
2
2 dt dx (2.76)
d 2 cos
1
~
~
d1
F
C1
P
dx
I
ds
E C2
d2
~
~
2
O2
Figura 2.19 – Ponto genérico P situado sobre a linha de engrenamento para o caso de uma
engrenagem cilíndrica exterior que descreve um deslocamento elementar dx.
P1Q1 P2Q2
gs2 (2.81)
P2Q2
em que gs1 e gs2 se referem aos escorregamentos específicos do pinhão e da coroa,
respetivamente. Deve desde já aludir-se a que é relevante, do ponto de vista do proje-
to de engrenagens, minimizar os escorregamentos específicos (Branco et al., 2009).
Com referência à figura 2.20 observa-se que as velocidades de rolamento dos per-
fis dos dentes do pinhão e da coroa estão representadas por vr1 e vr2, respetivamente.
Os valores destas componentes das velocidades periféricas podem ser calculados do
seguinte modo (Wilson e Sadler, 1993)
vr1 1 AP (2.82)
vr 2 2 BP (2.83)
em que P é um ponto genérico que se considera como pertencente, ora ao pinhão, ora
à coroa. Assim, as velocidades de escorregamento específico entre os perfis dos den-
tes do pinhão e da coroa podem ser determinadas pela diferença entre as velocidades
de rolamento. Então, tem-se que
vg1 vr1 vr 2 (2.84)
vg 2 vr 2 vr1 (2.85)
onde vg1 é a velocidade de escorregamento do perfil do dente do pinhão relativamen-
te ao perfil do dente da coroa e, por sua vez, vg2 diz respeito à velocidade de escorre-
gamento do perfil do dente da coroa em relação ao perfil do dente do pinhão.
Com efeito, o escorregamento específico pode também ser estabelecido como
sendo o quociente entre a velocidade de escorregamento e a velocidade de rolamento,
ou seja (Branco et al., 2009)
vr1 vr 2 v
g s1 1 r2 (2.86)
vr1 vr1
vr1 vr 2 vr1
gs2 1 (2.87)
vr 2 vr 2
2
C2
B v2
P
I vr2 v1
A
vr1
E
1
C1
O1
2
~ +1
~
F
B
+1 vr1 vgs
I vgs
-vr2 vgs
C vr1
A vr1 vr2
E
vr2 vr2
gs2
gs1
1
O1
2
~
~
F
B
D
Ca1
Ca2 I
C vr1=1AD
A
E
vr2=2BC
lf
la
1
O1
vr 2 2 BC (2.91)
em que
d1 d sen 2la
AC AI IC sen la 1 (2.92)
2 2
d2 d sen 2la
BC IB IC sen la 2 (2.93)
2 2
Exercício 2.3
Enunciado: Considere uma engrenagem cilíndrica exterior de dentado reto normali-
zado, em que o pinhão e a coroa têm, respetivamente, 19 e 76 dentes. Atendendo a
que o módulo é igual a 3 mm, calcule os valores dos escorregamentos específicos
máximos. Comente o resultado obtido.
2 r2
Fr
N
I
Ft
E
r1
1
Figura 2.23 – Forças que atuam numa engrenagem cilíndrica exterior de dentado reto.
O2
2
F
~
~
B
D
Ca1
N
Ca2 I
C
A R
E
Fa
~
~
1
O1
Figura 2.24 – Representação das forças que atuam nos perfis conjugados quando se
considera a existência de atrito entre as superfícies dos dentes.
14
O coeficiente de atrito é um parâmetro estatístico que pode ser obtido experimentalmente. Em
termos geométricos, o coeficiente de atrito pode ser definido como =tg, em que é o ângulo de-
finido pelas forças resultante e normal, como se pode observar na figura 2.24.
g (2.101)
d1 d 2 cos
Na equação (2.101) os sinais (+) e (–) referem-se, respetivamente, a engrenamentos
exteriores e interiores. Por seu lado, os comprimentos de aproximação e de afasta-
mento, la e lf, foram também estudados previamente na secção dedicada à análise da
relação de condução. Assim, introduzindo as equações (2.101) na (2.100) resulta que
o trabalho dissipado por atrito nos perfis conjugados é expresso de seguinte modo
1 1 la l f
2 2
W N
'
(2.102)
d1 d 2 cos
a
Deve notar-se que a equação (2.102) apenas representa o trabalho dissipado por
atrito pelos perfis conjugados dos pares de dentes engrenados, a que corresponde o
comprimento de condução (l=la+lf). A questão fundamental que se deve agora colo-
car prende-se com a definição da quantidade de pares de dentes que está em contacto
durante cada volta completa do pinhão. Para o efeito, considere-se a representação da
figura 2.25, em que ao comprimento de condução se faz corresponder um arco de
circunferência com um comprimento equivalente situado sobre a circunferência de
base (Henriot, 1979).
Da análise da figura 2.25 observa-se que durante o período de engrenamento, que
vai desde o ponto C até ao ponto D, o pinhão descreve um ângulo igual a
la l f 2(la l f )
(2.103)
rb1 d1 cos
Então, o número total de períodos de engrenamento é dado por
2π 2π πd cos
nT 2πf 1 (2.104)
T 2(l a l f ) la l f
d1 cos
em que, por definição, a frequência (f) diz respeito ao número de ocorrências de um
evento num determinado intervalo de tempo. A frequência é também definida como
o inverso do período (T) (Beer e Johnston, 1991). Pode, portanto, dizer-se que a
equação (2.104) representa a quantidade de pares de perfis conjugados em contacto
durante uma volta completa do pinhão.
Logo, o trabalho dissipado por atrito (escorregamento) durante uma volta comple-
ta do pinhão é igual a
1 1 la l f πd1 cos
2 2
Wa N (2.105)
d1 d 2 cos la l f
ou seja
Wa πN a f d1 (2.106)
d1 d 2 la l f
Combinando agora as equações (2.97), (2.98) e (2.106) pode inferir-se que o tra-
balho útil, que é transmitido efetivamente pela engrenagem durante uma rotação
completa do pinhão, é dado por
1 1 l l
2 2
1 1 la l f
2 2
1 (2.109)
cos d1 d 2 la l f
lf F
la
D
C
A
E
r1
rb1
O1
Exercício 2.4
Enunciado: Considere uma engrenagem cilíndrica exterior de dentado reto normali-
zado, em que o pinhão e a coroa têm, respetivamente, 19 e 76 dentes. Atendendo a
que o módulo é igual a 3 mm e que o coeficiente de atrito é de 0,05, determine o ren-
dimento da engrenagem. Comente o resultado obtido.
O2
Cf2
Cb2
C2
F
Ca2
D
B
I
C
A
P
E
Ca1
C1
Cb1
Cf1
1
O1
Ca1
C1
Cf1
O1
Figura 2.27 – Remoção da porção dos dentes tendo em vista a eliminação das interferências
de funcionamento em engrenagens cilíndricas exteriores.
15
Na realidade, as engrenagens que operam com folgas excessivas produzem elevados níveis de ruído
e choques, e originam um desgaste acelerado nas zonas em que os perfis não são conjugados.
16
Refira-se, a título de curiosidade, que o talhe dos dentes pode ser feito por reprodução, frezamento
ou por geração (Mabie e Reinholtz, 1987). Este tópico do talhe dos dentes está fora do âmbito dos
objetivos do presente texto e, por isso, não é aqui incluído.
17
Trocoide é uma curva bidimensional descrita por um ponto de uma circunferência quando esta rola
sem escorregar sobre uma reta.
18
Segundo Antunes (2012) o número mínimo de dentes observado numa roda dentada foi de quatro.
O2
Triângulo limite
d2
Cb2 F
C2
Ca2
ha2
B
A
ha1
E
Ca1
C1
d1 Cb1
O1
Atendendo a que
d2
O2 A ha 2 (2.114)
2
d2
O2 B cos (2.115)
2
AB AI IB (2.116)
d1
AI sen (2.117)
2
d2
IB sen (2.118)
2
então, a equação (2.113) vem que19
2 2 2
d2 d d d
ha 2 2 cos 1 sen 2 sen (2.119)
2 2 2 2
19
Refira-se que neste processo, atendendo a que está perante a situação limite, o sinal = é substituído
pelo sinal ≤.
z2 z22 z12 2 z1 z2
wa sen 2 (2.129)
2 4 4
Exercício 2.5
Enunciado: Considere uma engrenagem cilíndrica exterior de dentado reto normali-
zado, em que o pinhão e a coroa têm, respetivamente, 19 e 76 dentes. Atendendo a
que o módulo é igual a 3 mm, verifique se existem interferências de funcionamento.
1. Quais são os principais parâmetros que caraterizam uma roda dentada cilíndri-
ca de dentes retos normalizados?
7. Explique por que razões a relação de condução deve estar compreendida entre
1,2 e 1,6.
14. Quais são as principais variáveis geométricas que afetam o rendimento de uma
engrenagem?
17. Qual é o número mínimo de dentes que o pinhão de uma engrenagem do tipo
pinhão-cremalheira deve ter para que não haja interferências de funcionamen-
to?
Paulo Flores
José Gomes
Universidade do Minho
Escola de Engenharia
Guimarães 2014
ÍNDICE
3.1. INTRODUÇÃO
Nas engrenagens cilíndricas de dentes inclinados ou helicoidais, tal como a pró-
pria designação sugere, os dentes apresentam uma inclinação relativamente ao eixo
das rodas. Na verdade, neste tipo de engrenagens os dentes estão dispostos transver-
salmente em forma de hélice em relação ao eixo das rodas. A figura 3.1 evidencia as
diferenças entre uma engrenagem cilíndrica de dentes retos e uma engrenagem cilín-
drica de dentes inclinados. É oportuno observar-se que as engrenagens de dentes re-
tos são um caso particular das engrenagens de dentes helicoidais, isto é, representam
o caso em que o ângulo de inclinação dos dentes é nulo. O ângulo de inclinação dos
dentes é frequentemente denominado de ângulo de hélice (Shigley e Mischke, 1989).
Em geral, o ângulo de inclinação dos dentes varia entre 15 e 30º. Quando o ângulo de
inclinação é pequeno, os benefícios associados a uma engrenagem de dentes helicoi-
dais é também pequeno. Por seu lado, valores elevados para o ângulo de inclinação
tendem a bloquear o engrenamento das rodas (Mabie e Reinholtz, 1987).
(a) (b)
Figura 3.1 – (a) Engrenagem cilíndrica exterior de dentes retos;
(b) Engrenagem cilíndrica exterior de dentes inclinados.
(a) (b)
Figura 3.3 – (a) Engrenagem cilíndrica exterior de dentes inclinados em que os eixos são
paralelos; (b) Engrenagem cilíndrica exterior de dentes inclinados de eixos cruzados.
1
Nas engrenagens helicoidais em cada posição dos dentes há, simultaneamente, vários dentes engre-
nados, exceto quando as engrenagens são significativamente estreitas. Nas engrenagens helicoidais
não existe, portanto, uma posição de engrenamento individual como no caso das engrenagens cilín-
dricas de dentado reto (Niemann, 1971).
2
Na verdade, esta miríade de aspetos positivos faz com que as engrenagens cilíndricas de dentes
helicoidais encontrem particular campo de aplicação na indústria automóvel. De facto, aspetos co-
mo o baixo nível de ruído, a elevada capacidade de transmissão de potência são de capital impor-
tância na indústria automóvel (Branco et al., 2009). Por outro lado, com engrenagens cilíndricas
helicoidais podem ser utilizados menores atravancamentos axiais.
(a) (b)
Figura 3.5 – (a) Linhas de engrenamento em engrenagem cilíndrica de dentes retos;
(b) Linhas de engrenamento em engrenagem cilíndrica de dentes inclinados.
Fr
Fr
Ft
Ft
Fa
(a) (b)
Figura 3.6 – (a) Forças que atuam em engrenagens cilíndricas de dentes retos;
(b) Forças que atuam em engrenagens cilíndricas helicoidais.
Geratriz Geratriz
Shigley e Mischke (1989), Branco et al. (2009), entre outros autores, descrevem a
geração do perfil dos dentes helicoidais de modo distinto do anteriormente apresen-
tado. Assim, em primeiro lugar considera-se um pedaço de papel em forma de para-
lelogramo, o qual é enrolado à volta de um cilindro, denominado cilindro de base,
como mostra a figura 3.9. O papel é então enrolado de tal modo que um dos lados
coincide com a hélice do dentado helicoidal. Com efeito, mantendo o pedaço de pa-
pel esticado e desenrolando-o em torno do cilindro de base, então cada ponto situado
no lado do paralelogramo que representa a hélice gera uma curva evolvente. Por con-
seguinte, a superfície obtida pelas evolventes assim gerada forma a chamada envol-
vente helicoidal, tal como se representa na figura 3.9 (Henriot, 1979; Shigley e
Uicker, 1980; Budynas e Nisbett, 2011; Norton 2013).
4
Os perfis dos dentes baseados na utilização de curvas/superfícies cíclicas não são considerados
neste estudo, uma vez que aqueles são de uso pouco frequente (Wilson e Sadler, 1993).
Perfil evolvente
Cilindro de base
P
C1 R
1 J
O1
Cb1
Q
E
I
S
O2
2
Cb2
Plano gerador
C2
Atendendo a que os cilindros de base são elementos fixos das engrenagens cilín-
dricas de dentes helicoidais e que o plano gerador descreve um movimento de rola-
mento puro sobre aqueles cilindros, então pode observar-se que (Flores, 2012)
1 rb 2
i (3.1)
2 rb1
onde 1 e 2 representam as velocidades angulares das rodas de uma engrenagem
cilíndrica de dentes inclinados, sendo rb1 e rb2 os respetivos raios de base. Da análise
da equação (3.1) conclui-se que a relação de transmissão numa engrenagem de den-
tes helicoidais não depende explicitamente do entre-eixo, tal como acontece nas en-
grenagens cilíndricas de dentado reto (Flores e Gomes, 2014b).
5
Recorde-se que os perfis dos dentes denominam-se conjugados quando existe tangência entre as
superfícies de dois dentes de duas rodas engrenadas (Spotts e Shoup, 1998).
n
P
t
b
Plano de rotação
Plano normal
O
Circunferência primitiva
Circunferência de base
6
Dever referir-se que a nomenclatura adotada no presente texto segue a norma ISO 701 de 1988,
revista em 2013 e denominada International gear notation - Symbols for geometrical data.
7
Na verdade, só faz sentido falar do ângulo de pressão quando existe o engrenamento entre as super-
fícies conjugadas de dois dentes.
pt
pn
px
Eixo da roda
Hélice de base
b
db
d
Eixo da roda
8
Os parâmetros geométricos relativos às engrenagens cilíndricas de dentes inclinados seguem as
mesmas recomendações existentes para as rodas de dentado reto. Assim a saliência e a reentrância
apresentam o mesmo valor independentemente deste ser medido no plano de rotação ou no plano
normal ao dente. Por seu lado, os valores do ângulo de pressão e do passo são, em geral, definidos
no plano normal, podendo também ser estabelecidos no plano de rotação. Nas engrenagens cilíndri-
cas de dentes inclinados, o ângulo de pressão real é normalizado e assume o valor de 20º.
P
Q
T t
n
R
S
Plano de rotação
Plano normal
Circunferência primitiva
TS QR (3.14)
Combinando as equações (3.11)-(3.14) vem que
tgn tgt cos (3.15)
A equação (3.15) pode ser generalizada para estabelecer a relação entre dois
quaisquer elementos reais e aparentes, ou seja,
(Elemento real)n (Elemento aparente)t cos (3.16)
Deste modo tem-se que
pn pt cos (3.17)
mn mt cos (3.18)
sn st cos (3.19)
en et cos (3.20)
A saliência e a reentrância relacionam-se com o módulo real da seguinte forma
(Henriot, 1979)
ha mn (3.21)
h f 1,25mn (3.22)
Por conseguinte, a altura total do dente é obtida pela soma da saliência com a re-
entrância, ou seja
h ha h f 2,25mn (3.23)
Por seu lado, o diâmetro de coroa e o diâmetro de raiz podem ser calculados do
seguinte modo (Flores e Gomes, 2014b)
da d 2ha (3.24)
d f d 2h f (3.25)
Exercício 3.1
Enunciado: Considere uma engrenagem cilíndrica exterior de dentado inclinado
normalizado, em que o pinhão e a coroa têm, respetivamente, 12 e 60 dentes. O pi-
nhão é uma roda esquerda, ao passo que a coroa é uma roda direita. O dentado é
normal, i.e., não corrigido. Assim, atendendo a que o módulo real tem um valor igual
a 3 mm e que o ângulo de inclinação da hélice primitiva é de 30º, calcule, para o pi-
nhão, os seguintes parâmetros geométricos: (i) ângulo de pressão aparente, (ii) sali-
ência, (iii) reentrância, (iv) altura do dente, (v) diâmetro primitivo, (vi) diâmetro de
coroa e (vii) diâmetro de raiz (Wilson e Sadler, 1993).
A tabela 3.1 inclui as principais relações geométricas e proporções dos dentes pa-
ra engrenagens cilíndricas de dentes inclinados (Budynas e Nisbett, 2011).
Tabela 3.1 – Principais relações geométricas e proporções dos dentes para engrenagens
cilíndricas exteriores de dentado helicoidal.
Parâmetro Expressão
tg n
Ângulo de pressão aparente t tg 1
cos
mz
Diâmetro primitivo d mt z n
cos
Saliência ha mn
Reentrância h f 1,25mn
Altura do dente h 2,25mn
Diâmetro de coroa da mt ( z 2 cos )
Diâmetro de raiz d f mt ( z 2,5 cos )
z1 z2
Entre-eixo a mn
2 cos
z2
Relação de transmissão i
z1
Eixo da roda
A’
B
b I
Hélice primitiva btg
II 1=
A
I1
1
O1
1 z22 z2 z z
sen 2 t z2 cos cos2 1 sen 2 t z1 cos cos2 1 2 sen t (3.43)
π cos t 4 4 2
Da análise do que acaba de ser exposto pode afirmar-se que nas engrenagens ci-
líndricas de dentes inclinados o problema da continuidade do engrenamento não é tão
premente devido ao fator de recobrimento. Na verdade, este tipo de engrenagens pos-
sibilita, que os dentes tenham menor saliência o que é vantajoso do ponto de vista
das interferências dos dentes (Branco et al., 2009).
Exercício 3.2
Enunciado: Considere uma engrenagem cilíndrica exterior de dentado inclinado
normalizado, em que o pinhão e a coroa têm, respetivamente, 12 e 60 dentes. O pi-
nhão é uma roda esquerda, ao passo que a coroa é uma roda direita. O dentado é
normal, i.e., não corrigido. Assim, atendendo a que o módulo real tem um valor igual
a 3 mm e que o ângulo de inclinação da hélice primitiva é de 30º, calcule a relação de
condução da engrenagem (Wilson e Sadler, 1993).
Exercício 3.3
Enunciado: Considere uma engrenagem cilíndrica exterior de dentado inclinado
normalizado, em que o pinhão e a coroa têm, respetivamente, 12 e 60 dentes. O pi-
nhão é uma roda esquerda, ao passo que a coroa é uma roda direita. O coeficiente de
atrito é de 0,05. Atendendo a que o módulo real tem um valor igual a 3 mm e que o
ângulo de inclinação da hélice primitiva é de 30º, calcule o rendimento da engrena-
gem (Wilson e Sadler, 1993). Comente o resultado obtido.
mn mt cos (3.48)
Assim, da aplicação dos mesmos procedimentos considerados para o caso das en-
grenagens cilíndricas exteriores de dentes retos, a definição do número mínimo de
dentes que uma roda cilíndrica de dentes helicoidais deve ter, para que não haja inter-
ferências de funcionamento, é expressa por (Henriot, 1979)
4 cos ( z2 cos )
z1 z2 z22 (3.49)
sen2t
No caso em que uma das rodas é do tipo cremalheira tem-se que
2 cos
z1 (3.50)
sen2t
Exercício 3.4
Enunciado: Considere uma engrenagem cilíndrica exterior de dentado inclinado
normalizado, em que o pinhão e a coroa têm, respetivamente, 12 e 60 dentes. O pi-
nhão é uma roda esquerda, ao passo que a coroa é uma roda direita. Atendendo a que
o módulo real tem um valor igual a 3 mm e que o ângulo de inclinação da hélice
primitiva é de 30º, verifique se existem interferências de funcionamento (Wilson e
Sadler, 1993).
B
A
rc
r
P P
O O’
B Corte AA
A
Corte BB
(a) (b) (c)
Figura 3.17 – Representação de uma roda cilíndrica de dentes inclinados cortada por um
plano perpendicular ao eixo e por um plano perpendicular à hélice primitiva.
O raio de curvatura da elipse da figura 3.17c pode ser calculado do seguinte modo
(Spotts e Shoup, 1998)
r
rc (3.51)
cos2
em que r representa o raio primitivo. O perfil do dente no plano perpendicular à héli-
ce do dente é o mesmo que o perfil para uma roda de dentes retos com um raio primi-
tivo rc. Assim, as propriedades de uma roda de dentes helicoidais são semelhantes às
Atendendo a que
mn mt cos (3.54)
então, a equação (3.53) pode ser reescrita da seguinte forma
d
zc (3.55)
cos mt
3
Exercício 3.5
Enunciado: Considere uma engrenagem cilíndrica de dentado inclinado normaliza-
do, em que o pinhão e a coroa têm, respetivamente, 15 e 36 dentes. O pinhão é uma
roda esquerda, ao passo que a coroa é uma roda direita. Atendendo a que o módulo
real tem um valor igual a 3 mm e que o ângulo de inclinação da hélice primitiva é de
20º, calcule o número de dentes equivalente para o pinhão.
9
As rodas cruzadas podem também ser designadas de engrenagens torsas (Flores e Gomes, 2014a).
Roda 1
Roda 2
1
2
10
Na realidade, excetuando o caso em que os ângulos de hélice são pequenos, as rodas cruzadas apre-
sentam, em geral, a mesma direção para as hélices (Shigley e Uicker, 1980).
mn z1 z
a 2 (3.62)
2 cos 1 cos 2
A figura 3.20 mostra as componentes das velocidades existentes no engrenamento
de duas rodas cruzadas relativas ao ponto primitivo. Da análise desta figura pode
observar-se que são iguais as componentes na direção normal. O mesmo não aconte-
ce com as componentes tangenciais, pelo que se verifica a existência de escorrega-
mento. Na verdade, nas rodas cruzadas existe escorregamento, inclusive no ponto
primitivo (Wilson e Sadler, 1993).
Roda 1
Roda 2
n
2 P
v2 1
1 t
vn
v1
2
Figura 3.20 – Componentes das velocidades no contacto entre duas rodas cruzadas.
Atendendo ao que foi anteriormente dito e da análise da figura 3.20 podem escre-
ver-se as seguintes relações
v1n v1 cos 1 (3.63)
Exercício 3.6
Enunciado: Duas rodas dentadas helicoidais de eixos cruzados têm um módulo real
de 15 mm. O pinhão, que é o órgão motor, tem 20 dentes e apresenta um ângulo de
hélice de 20º. O ângulo formado pelos eixos das rodas é igual a 50º. Ambas as rodas
são de hélice direita. Assim, atendendo a que a relação de transmissão é igual a 2,
calcule a distância entre eixos desta engrenagem (Wilson e Sadler, 1993).
Figura 3.21 – Representação das forças axiais que atuam nas rodas cruzadas em função da
direção das rodas e do sentido de rotação do órgão motor.
Exercício 3.7
Enunciado: Considere duas rodas cruzadas de módulo normal igual a 3 mm e um
ângulo de pressão é de 20º. O número de dentes do pinhão e da roda são, respetiva-
mente, iguais a 15 e 24, sendo os correspondentes ângulos de hélice de 20 e 30º. Cal-
cule para as ambas as rodas os seguintes parâmetros: (i) ângulo de pressão aparente,
(ii) número de dentes equivalente, (iii) diâmetro primitivo, (iv) diâmetro de base.
4. Descreva o tipo de contacto existente entre duas rodas dentadas de dentes he-
licoidais.
11. Deduza uma expressão que permita relacionar dois quaisquer elementos real e
aparente.
13. Diga como se pode calcular a distância entre eixos numa engrenagem cilíndri-
ca de dentes helicoidais.
14. Defina ângulo de inclinação primitiva para uma engrenagem cilíndrica de den-
tado inclinado.
15. Diga entre que valores pode variar o ângulo de inclinação primitiva para rodas
de hélice simples e rodas de dupla hélice.
21. Considere uma roda cilíndrica com 30 dentes helicoidais, cujo ângulo de héli-
ce primitiva é igual a 25º. Atendendo a que o módulo aparente é de 10 mm,
calcule os seguintes parâmetros: (i) diâmetro primitivo, (ii) módulo normal,
(iii) passo normal e (iv) passo aparente (Wilson e Sadler, 1993).
22. Considere uma engrenagem cilíndrica de dentado helicoidal normal, cujo pas-
so real é igual a 5 mm. O ângulo de inclinação primitiva é de 30º, sendo o nú-
mero de dentes do pinhão e da roda, respetivamente, igual a 15 e 24. Assim,
calcule para ambas a rodas: (i) o passo aparente, (ii) o diâmetro primitivo, (iii)
o número de dentes equivalente (Shigley e Uicker, 1980).
23. Um pinhão cilíndrico de dentes inclinados com hélice direita, com 12 dentes, é
utilizado para acionar uma roda cujo ângulo de hélice é de 45º. O dentado é
normalizado. A relação de transmissão da engrenagem é igual a 3. Assim, cal-
cule o rendimento desta engrenagem. Comente o resultado obtido (Shigley e
Uicker, 1980).
24. Duas rodas cilíndricas de dentes helicoidais constituem uma engrenagem ci-
líndrica de eixos paralelos em que o ângulo de hélice é de 20º. A relação de
transmissão é de 1,5 e a distância entre eixos é igual a 120 mm. O dentado é
normalizado. Assim, determine a relação de condução desta engrenagem. Co-
mente o resultado obtido (Mabie e Reinholtz, 1987).
Paulo Flores
José Gomes
Universidade do Minho
Escola de Engenharia
Guimarães 2015
ÍNDICE
4. ENGRENAGENS CÓNICAS
4.1. INTRODUÇÃO
Em geral, as engrenagens cónicas são utilizadas nas situações em que os eixos das
rodas motora e movida são concorrentes1 (Wilson e Sadler, 1993). As engrenagens
cónicas podem ter dentes retos, helicoidais e espirais ou curvos, podendo ainda apre-
sentar eixos descentrados2 (hipoides). A figura 4.1 ilustra os principais tipos de en-
grenagens cónicas (Flores e Gomes, 2014a).
1
As engrenagens cónicas são frequentemente denominadas de engrenagens concorrentes, pelo facto
de os eixos das rodas se intersetarem.
2
Refira-se que nas engrenagens cónicas descentradas ou hipoides o desalinhamento deve ser o me-
nor possível de modo a minimizar as perdas por atrito e aquecimento (Niemann, 1971).
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 1
também situações práticas em que os eixos das rodas apresentam um ângulo inferior
ou superior a 90º (Niemann, 1971). Para que haja engrenamento entre duas rodas
cónicas, os seus eixos devem intersetar-se no mesmo vértice3, independentemente do
tipo de dente e do ângulo que os eixos formam (Henriot, 1979; Shigley e Mischke,
1989). À semelhança das engrenagens cilíndricas, as engrenagens cónicas podem ser
exteriores ou interiores (Flores e Gomes, 2014a).
O diferencial dos automóveis é indubitavelmente o mais popular e conhecido
exemplo de aplicação de engrenagens cónicas, tal como o que se ilustra na figura 4.2.
De um modo simples pode definir-se diferencial como sendo uma associação de ro-
das dentadas que possibilita que as rodas motoras dos automóveis rodem com velo-
cidades angulares distintas, independentemente da direção do movimento do auto-
móvel4 (Branco et al., 2009; Paz, 2011).
3
É evidente que a hipoide é uma exceção a esta regra, pois, por definição, neste tipo de engrenagem
os eixos são descentrados.
4
O diferencial automóvel não será estudado no âmbito do presente documento. Para o efeito, o leitor
deverá consultar a literatura da especialidade, nomeadamente a que se refere ao estudo de trens de
engrenagens (Mabie e Reinholtz 1987).
5
Para determinadas situações também se produzem rodas dentadas cónicas por injeção de moldes,
prototipagem rápida e impressão 3D (Antunes, 2012).
A geração do perfil dos dentes das rodas cónicas pode ser levada a cabo conside-
rando o método em evolvente. Tal como no caso das engrenagens cilíndricas, tam-
bém nas engrenagens cónicas os perfis dos dentes podem ser definidos pelo traçado
em evolvente. Nas primeiras considera-se uma circunferência de base, obtendo-se
uma evolvente cilíndrica, enquanto nas segundas se utiliza um cone de base, resul-
tando, deste modo, uma evolvente esférica. A evolvente esférica exata6 pode obter-se
pelo rolamento puro de um círculo gerador sobre o cone de base. O círculo gerador é
concêntrico e tangente ao cone de base, como se esquematiza na figura 4.4. O arco
PP’ representa parte da evolvente esférica exata que resulta da trajetória descrita pelo
ponto P pertencente à linha geratriz do elemento gerador, quando este último rola
sem escorregar sobre o cone de base (Wang et al., 2011).
As engrenagens cónicas em evolvente esférica têm relativamente pouco interesse
prático em virtude da dificuldade em obter rodas com o perfil exato (Shigley e
Uicker, 1980; Mabie e Reinholtz, 1987). Na verdade, os perfis dos dentes assim obti-
dos apresentam um flanco curvo com um ponto de inflexão, tal como se pode visua-
lizar na figura 4.5a. Por isso, na prática prefere-se o perfil piramidal ou trapezoidal
para a forma dos dentes das engrenagens cónicas, em detrimento do perfil exato. A
figura 4.5b diz respeito ao perfil piramidal ou trapezoidal (Niemann, 1971).
6
O termo exata é aqui utilizado para dar enfâse à evolvente esférica teórica, a qual é distinta da
evolvente real. A evolvente real é uma aproximação à evolvente teórica ou exata.
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 3
Círculo gerador
Geratriz
S P
P’
Cone de base
(a) (b)
Figura 4.5 – Perfis de dentes de rodas cónicas; (a) Perfil exato; (b) Perfil aproximado.
A figura 4.7 diz respeito ao engrenamento de duas rodas cónicas em que a forma
dos dentes não é gerada em evolvente esférica. Na verdade, neste engrenamento exis-
te um pequeno desvio em relação ao perfil exato, em virtude das superfícies dos den-
tes serem constituídas por faces planas. Como consequência, a linha de ação 8 ou de
engrenamento apresenta a forma de oito, sendo, por isso, o perfil denominado de
octoide (Niemann, 1971). O engrenamento octoide corresponde ao desenvolvimento
7
Uma engrenagem cilíndrica de dentes retos pode ser vista como um caso particular de uma engre-
nagem cónica em que o raio da esfera tem um valor infinito, traduzindo-se num plano onde se pode
estudar a interação entre os dentes (Shigley e Uicker, 1980).
8
Na verdade, apenas parte da linha de ação é utilizada durante o engrenamento, isto é, a parte que é
aproximada de trajetória reta (Flores e Claro, 2007).
(a) (b)
Figura 4.7 – Engrenamento de duas rodas cónicas.
9
A roda coroa pode ser considerada como um caso particular de uma roda cónica em que os dentes
se desenvolvem paralelamente ao eixo da roda. Este tipo de roda funciona com rodas similares às
cónicas e, em alguns casos, com rodas cilíndricas. A roda coroa encontra aplicação em relógios
mecânicos como mecanismo de escape (Flores e Claro, 2007).
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 5
90º
Figura 4.8 – Engrenamento de duas rodas cónicas, sendo uma das rodas do tipo coroa.
Tal como se referiu anteriormente, as engrenagens cónicas ou concorrentes podem
apresentar dentes com formas diversas, tais como dentes retos, dentes helicoidais e
dentes espirais (Henriot, 1979; Budynas e Nisbett, 2011). A figura 4.9a diz respeito à
representação simplificada10 de uma engrenagem cónica de dentado reto. Neste caso
particular, pode observar-se que os dentes das rodas motora e movida concorrem no
vértice S dos cones primitivos.
Refira-se de novo que devido às inerentes dificuldades de talhe, as rodas cónicas
de dentado reto apresentam dentes piramidais, sendo, por isso, planas as faces dos
dentes11 (Drago, 1988). Na figura 4.9b ilustram-se as diferenças entre o dentado em
evolvente esférica e dentado piramidal para o caso das engrenagens cónicas de den-
tes retos (Niemann, 1971).
Perfil piramidal
Evolvente esférica
(a) (b)
Figura 4.9 – (a) Representação simplificada de uma engrenagem cónica de dentes retos;
(b) Dentado em evolvente esférica e dentado piramidal.
10
Por simplicidade, no presente texto apenas se representam os cones primitivos das rodas motora e
movida, sendo que os dentes estão materializados pela interseção dos próprios dentes com os cones
primitivos (Henriot, 1979; Niemann, 1971).
11
Na prática, na linha de engrenamento não existem grandes diferenças entre os dentados em evol-
vente esférica e piramidal, pelo que é de todo conveniente adotar este último caso para o dentado
reto em engrenagens cónicas.
S’ S
S’
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 7
S
h
ha
hf
Ge
b
b/2
rat
ior
ri z
Ge
ter
b/2
pri
x
re
rat
mi
nta
ri z
e
ti v
m
ple
mé
a,
om
R
dia
nec
Co
, Rm
ior a
ter a,
i n beç
tar ca
m en e de , f
ple c on e pé
com S do ed
ne ulo o con a,
a
Co g
Ân d aíd
gu
l o
de
s ,
Ân l o l t ura
gu de
a
Ân lo Cone interior
g u
f Ân
Cone de cabeça
Cone primitivo
Círculo Cone de pé
médio
Cone exterior
Diâmetro de pé, df
Diâmetro primitivo, d
Diâmetro de cabeça, da
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 9
f – ângulo de pé do dente ou raiz,
d – diâmetro primitivo,
da – diâmetro de cabeça ou coroa,
df – diâmetro de pé ou raiz,
h – altura do dentado,
ha – altura de cabeça do dente ou saliência,
hf – altura de pé do dente ou reentrância,
R – geratriz primitiva,
Rm – geratriz média,
b – largura do dentado,
m – módulo exterior da engrenagem cónica ou módulo da engrenagem comple-
mentar ou equivalente.
Deve desde já referir-se que no caso das rodas cónicas, o passo é definido na ex-
tremidade exterior do dentado sobre os cones primitivos. Com efeito, o estabeleci-
mento das relações matemáticas entre o módulo, o passo, o número de dentes e os
diâmetros primitivos são as mesmas que se consideram para as engrenagens cilíndri-
cas, ou seja, (Flores e Gomes, 2014b),
d1 mz1 (4.1)
d 2 mz 2 (4.2)
p mπ (4.3)
No atinente às proporções dos dentes, consideram-se as mesmas que no caso das
engrenagens cilíndricas, ou seja (Flores e Gomes, 2014b),
ha m (4.4)
h f 1,25m (4.5)
h 2,25m (4.6)
12
O método aproximado de Tredgold foi proposto pelo engenheiro britânico Thomas Tredgold em
1822, tendo sido adotado desde então até aos nossos dias (Crosher, 2014).
13
Na verdade, este método é suficientemente exato desde que a engrenagem cónica contenha rodas
com 8 ou mais dentes. Em geral, as rodas cónicas devem ter pelo menos 13 dentes.
14
Odontoide diz respeito a algo que apresenta a forma de dente.
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 11
Superfície esférica Cone complementar
re
r
Cone primitivo
Ponto primitivo
(a) (b)
Figura 4.15 – (a) Representação do traçado aproximado de Tredgold; (b) Representação da
roda cilíndrica equivalente a uma roda cónica.
A figura 4.16 ilustra uma engrenagem cónica e a correspondente engrenagem ci-
líndrica equivalente formada a partir dos respetivos cones complementares. A engre-
nagem equivalente é construída a partir dos raios equivalentes representados na figu-
ra 4.16. Os raios equivalentes correspondem à geratriz dos cones complementares.
r1
re1
1
2
r2
re2
Exercício 4.1
Enunciado: Considere uma engrenagem cónica exterior de dentado reto cujo ângulo
primitivo do pinhão é igual a 18,43º. O ângulo de conicidade das rodas é igual 90º.
Atendendo a que o pinhão e a roda têm, respetivamente, 16 e 48 dentes, determine o
número de dentes formativo da engrenagem cilíndrica equivalente.
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 13
4.5. RELAÇÕES GEOMÉTRICAS
Nesta secção são apresentadas as principais relações geométricas e proporções dos
dentes para o caso das engrenagens cónicas. Para o efeito, considere-se a figura 4.17,
relativa à representação esquemática de um engrenamento cónico, cujas velocidades
de rotação são, respetivamente, 1 e 2. Ainda nesta figura está representado o eixo
instantâneo de rotação15, SI, da engrenagem, em que I denota o ponto primitivo exte-
rior (Niemann, 1971; Henriot, 1979).
S 1 A
1
2
2
IB SIsen 2 (4.14)
resulta que
sen 2 z2
i 1 (4.15)
2 sen1 z1
Da análise da equação (4.15) pode concluir-se que o estabelecimento dos ângulos
primitivos, 1 e 2, depende da relação de transmissão, sendo o ângulo de conicidade
dado pela seguinte relação matemática
Σ 1 2 (4.16)
15
Quando um corpo roda no espaço tridimensional em relação a outro corpo, existe um eixo comum
de rotação, cuja posição relativamente a ambos os corpos pode ou não variar de instante para ins-
tante. A estes eixos dá-se o nome de eixos instantâneos de rotação (Flores e Claro, 2007).
S
1
1
2
2
(a) (b)
S 1
2 1
2
(c) (d)
1
S
2=90º
(e)
Figura 4.18 – Posições relativas dos cones primitivos em engrenagens cónicas: (a) Engre-
nagem exterior, =90º; (b) Engrenagem exterior, <90º; (c) Engrenagem exterior, >90º;
(d) Engrenagem interior, <90º; (e) Engrenagem interior com roda plana, >90º.
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 15
Para engrenagens exteriores em que =90º tem-se que
1 2 Σ (4.18)
z1
tg1 (4.19)
z2
z2
tg 2 (4.20)
z1
1 sen 2 sen(90 - 1)
i cotg1 (4.21)
2 sen1 sen1
Para engrenagens exteriores em que <90º tem-se que
senΣ
tg 2 (4.22)
z1
cos Σ
z2
1 Σ 2 (4.23)
Para engrenagens exteriores em que >90º tem-se que
sen(180 Σ )
tg 2 (4.24)
z1
cos(180 Σ )
z2
1 Σ 2 (4.25)
Para engrenagens interiores em que <90º tem-se que
senΣ
tg 2 (4.26)
z
senΣ 1
z2
1 2 Σ (4.27)
Para engrenagens interiores em que >90º, sendo a roda plana, tem-se que
2 90 º (4.28)
1 Σ 2 (4.29)
Tal como foi referido anteriormente, nas engrenagens cónicas as proporções dos
dentes são estabelecidas na extremidade exterior dos dentes sobre as circunferências
primitivas (Henriot, 1979). Para dentados normais tem-se que
ha m (saliência) (4.30)
2sen
tg a (ângulo de saliência) (4.32)
z
d
R r12 r22 (geratriz primitiva) (4.36)
2sen
b
Rm R (geratriz média) (4.37)
2
É oportuno salientar-se que os valores do passo, módulo, espessura e intervalo se
referem sempre à engrenagem cilíndrica equivalente (Flores e Gomes, 2014b). O
ângulo de pressão real e outras grandezas desta natureza, no caso de dentes helicoi-
dais, são definidos sobre a circunferência média da roda.
Exercício 4.2
Enunciado: Considere uma engrenagem cónica exterior de dentado reto, cujo valor
do ângulo formado pelos eixos das rodas é igual a 70º. Atendendo a que a relação de
transmissão é igual a 2, determine os valores dos ângulos primitivos das rodas (Wil-
son e Sadler, 1993).
Exercício 4.3
Enunciado: Considere uma engrenagem cónica exterior de dentado reto, cujo ângulo
entre os eixos das rodas é igual a 90º. Atendendo a que a relação de transmissão é
igual a 3, o módulo é de 4 mm e que a roda tem 48 dentes, determine: (i) os diâme-
tros primitivos das rodas; (ii) os ângulos primitivos e (iii) a geratriz primitiva.
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 17
Assim, da aplicação das equações (4.1) e (4.2) obtêm-se os diâmetros primitivos
das rodas, isto é
d1 mz1 4 16 d1 64 mm
d 2 mz 2 4 48 d 2 192 mm
Por seu lado, atendendo a que o ângulo de conicidade é de 90º, os ângulos primi-
tivos das rodas podem ser calculados utilizando as equações (4.19) e (4.20), ou seja
z1 16
tg1 1 tg 1 1 18,43º
z2 48
z2 48
tg 2 2 tg 1 2 71,57 º
z1 16
Finalmente, a geratriz primitiva pode ser determinada recorrendo à equação
(4.36), resultando que
d1 64
R1 R1 101,2 mm
2sen1 2sen18,43
d2 192
R2 R2 101,2 mm
2sen 2 2sen71,57
Exercício 4.4
Enunciado: Para o enunciado do exercício 4.3, calcule as proporções dos dentes das
duas rodas, os ângulos de saliência e de reentrância, bem como os diâmetros de co-
roa. Considere o dentado normalizado.
2,5sen 2 2,5sen71,57
tg f 2 f 2 2,83º
z2 48
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 19
4.6. PARÂMETROS DE DESEMPENHO
O estudo dos parâmetros de desempenho das engrenagens cónicas de dentado reto
ou inclinado é idêntico ao que foi apresentado para o caso das engrenagens cilíndri-
cas correspondentes (Flores e Gomes, 2014b; Flores e Gomes, 2014c). Para o efeito é
necessário, em primeiro lugar, determinar o número de dentes equivalente utilizando
o método aproximado de Tredgold (Mabie e Reinholtz, 1987), ou seja
z
ze (4.38)
cos
em que z representa o número de dentes da roda cónica e denota o ângulo de cone
primitivo. Tal como já foi referido anteriormente, o número de dentes equivalente é
superior ao número de dentes real, pelo que as engrenagens cónicas apresentam um
funcionamento mais suave do que as engrenagens cilíndricas com o mesmo número
de dentes (Juvinall e Marshek, 2006; Budynas e Nisbett, 2011).
De entre os diversos parâmetros de desempenho, o estudo da continuidade do en-
grenamento é, sem dúvida, o que se revela de maior importância. Assim, para engre-
nagens cónicas de dentes retos, a relação de condução pode ser calculada do seguinte
modo (Flores e Gomes, 2014b)
1 ze22 z2 z z
sen 2 ze 2 1 e1 sen 2 ze1 1 e1 e 2 sen (4.39)
π cos 4 4 2
em que representa o ângulo de pressão, sendo o número de dentes equivalente da-
do pela equação (4.38). Esta análise é verdadeira, pois se se considerar uma vista
perpendicular à linha do cone primitivo, o engrenamento das rodas cónicas é em tudo
semelhante ao engrenamento de duas rodas cilíndricas de dentes retos (Niemann,
1971; Henriot, 1979; Wilson e Sadler, 1993).
Por seu lado, para engrenagens cónicas de dentes inclinados, a relação de condu-
ção é escrita da seguinte forma (Flores e Gomes, 2014c)
l btg
(4.40)
πmt cos t πmt
onde o primeiro termo do segundo membro desta equação é dado por
z2
e 2 sen 2 z cos cos2
4 t e2
1 ze21
sen 2 t ze1 cos cos2 (4.41)
π cos t 4
ze1 ze 2
sen t
2
Exercício 4.5
Enunciado: Considere uma engrenagem cónica de dentado reto normalizado em que
o ângulo de conicidade é igual a 90º. Atendendo a que o módulo é de 3 mm, a rela-
ção de transmissão é igual a 2 e que o pinhão tem 20 dentes, determine a relação de
condução deste par cinemático. Comente o resultado obtido.
z 40
tg 2 2 2 tg 1 2 63,43º
z1 20
z2 40
ze 2 ze2 89,44
cos 2 cos 63,43
Exercício 4.6
Enunciado: Considere que a engrenagem descrita no exercício 4.5 apresenta uma
inclinação de dentes igual a 35º e uma largura de 10 mm para os dentes. Assim, estu-
de a continuidade do engrenamento da referida engrenagem.
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 21
Padrão de resposta esperado:
Utilizando os dados apresentados na resolução do exercício 4.5, após a aplicação
da equação (4.40) relativa à relação de condução de engrenagens com dentes helicoi-
dais, resulta que a relação de condução total é de 1,89. Verifica-se, portanto, que a
engrenagem cónica descrita apresenta boa continuidade de engrenamento.
z
2 4 2 1
z cos 2
z1 z
2 2 (4.45)
cos1 cos 2 cos 2 sen
2
ou seja
4 cos1z2 1 cos1
2
cos1 cos1
z1 z2 z2 (4.46)
cos 2 cos 2 sen 2 cos 2
Quando z2 tende para infinito, a equação (4.46) pode ser simplificada do seguinte
modo (Henriot, 1979)
2 cos1
z1 (4.47)
sen 2
Finalmente, para o caso das engrenagens cónicas terem dentes inclinados deve
proceder-se do mesmo modo, determinando o número de dentes da engrenagem ci-
líndrica equivalente e aplicam-se as mesmas expressões estabelecidas para as engre-
nagens cilíndricas de dentes inclinados (Flores e Gomes, 2014c).
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 23
Figura 4.20 – Ilustração de uma engrenagem hipoide.
10. Para as engrenagens cónicas, diga em que zona das rodas se define o passo.
13. Diga como se pode obter o número de dentes formativo ou imaginário de uma
roda cónica.
16. Diga como podem ser definidos os ângulos de conicidade em engrenagens có-
nicas.
18. Considere uma engrenagem cónica de dentes helicoidais cujo ângulo de coni-
cidade é igual a 90º. Atendendo a que a relação de transmissão é igual a 4, o
ângulo de inclinação primitiva é igual a 30º e que o pinhão tem 15 dentes, de-
termine o número de dentes equivalentes.
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 25
19. Considere que na engrenagem descrita no exercício 18 a largura dos dentes é
igual a 30 mm. Assim, calcule a relação de condução da referida engrenagem.
Comente o resultado obtido.
20. Considere uma engrenagem cónica de dentado reto normalizado em que o ân-
gulo de conicidade é igual 90º. Atendendo a que o módulo é de 3 mm, a rela-
ção de transmissão é igual a 2 e que o pinhão tem 20 dentes, calcule a relação
de condução deste engrenamento. Comente o resultado obtido.
24. Considere uma engrenagem cónica exterior de dentado reto, cujo valor do ân-
gulo formado pelos eixos das rodas é igual a 105º. Atendendo a que a relação
de transmissão é igual a 2 e que o pinhão tem 20 dentes, calcule as proporções
dos dentes, os diâmetros primitivos das rodas, bem como os ângulos de saliên-
cia e de reentrância.
4. ENGRENAGENS CÓNICAS 27
Cinemática e
Dinâmica de
Engrenagens
5. Engrenagens de Para-
fuso Sem-Fim
Paulo Flores
José Gomes
Universidade do Minho
Escola de Engenharia
Guimarães 2015
ÍNDICE
5.1. INTRODUÇÃO
As engrenagens de parafuso sem-fim pertencem ao grupo das engrenagens torsas1,
em que uma das rodas tem a forma de um parafuso (Branco et al., 2009). As engre-
nagens de parafuso sem-fim podem também ser consideradas como um caso particu-
lar das engrenagens helicoidais cruzadas, sendo que a capacidade de carga é maior
no caso do parafuso sem-fim (Flores e Gomes, 2014c). A figura 5.1 ilustra uma en-
grenagem de parafuso sem-fim com roda helicoidal. Na verdade, esta é uma das for-
mas mais simples e mais frequentemente utilizada na prática corrente e que inclui um
parafuso cilíndrico e uma roda cilíndrica de dentes helicoidais, daí a designação de
parafuso sem-fim roda helicoidal (Niemann, 1971; Drago, 1988). Na grande maioria
das aplicações de parafusos sem-fim o ângulo formado pelos eixos do parafuso e da
roda é igual a 90º. As engrenagens de parafuso sem-fim não são, em geral, reversí-
veis, isto é, funcionam apenas quando o veio motor aciona o parafuso sem-fim, uma
vez que quando o sistema é acionado pela roda, a engrenagem tende a bloquear2
(Henriot, 1979; Shigley e Uicker, 1980).
1
Por definição, as engrenagens torsas são constituídas por pares de rodas em que os eixos não são
complanares (Flores e Gomes, 2014a).
2
A tendência que as engrenagens de parafuso sem-fim têm para bloquear é tanto maior quanto maior
for a relação de transmissão. É oportuno referir que um parafuso sem-fim roda helicoidal pode ser
utilizado como redutor com uma relação de transmissão igual a 50:1, porém, a mesma engrenagem
não pode ser usada como multiplicador (i.e., revertida) com uma relação de 1:50.
Avanço
Exercício 5.1
Enunciado: Considere uma engrenagem de parafuso sem-fim roda helicoidal de 2
entradas. Sabendo que a velocidade de rotação do parafuso é igual a 400 rpm e que a
roda tem 40 dentes, calcule a velocidade de rotação da roda.
5
Globoide diz respeito a algo que tem forma ou aspeto de um globo.
6
Na verdade, é mais adequado falar-se em filetes do parafuso sem-fim do que em dentes.
2
r1
C1
1 O1 g2
I
g1 2
1 r2
O2
C2
7
Relembre-se que nas engrenagens torsas os eixos das rodas não são complanares.
r1 M
C1
G u1
1 O1 g2
F
I
g1 2 2
1
1 r2
N
E
O2
C2
Plano gerador
Plano de engrenamento
u2
2
r1 M
C1
G u1
1 O1 g2
I F
Q
g1 2 2
1
1 r2
N
E
O2
C2
Plano gerador
Roda
C2
I
L1
Representando o passo helicoidal do parafuso sem-fim por pz, então, por defini-
ção, uma dada secção desloca-se uma distância pz por cada rotação do parafuso sem-
fim. Esta amplitude de movimento de translação axial chama-se avanço, tal como se
evidencia na figura 5.3. Assim, em analogia com a cremalheira, pode afirmar-se que
a roda helicoidal descreve a mesma amplitude de rotação quando a cremalheira se
desloca em movimento puro de translação ao longo do eixo do parafuso sem-fim, ou
seja é como que o parafuso sem-fim não rodasse.
A figura 5.9 diz respeito à secção de uma engrenagem de parafuso sem-fim roda
helicoidal que resulta quando aquela é intersetada pelo plano médio. Deste modo,
obtém-se uma cremalheira cujos perfis dos filetes são simétricos10 entre si, pelo que
8
Cremalheira diz respeito a uma roda cujo raio é infinito. Este tipo particular de roda descreve mo-
vimento de translação retilínea (Flores e Gomes, 2014a).
9
Secções que resultam da interseção do parafuso sem-fim com um plano paralelo ao eixo.
10
Deve referir-se que quando se considera um plano distinto do plano médio, mas ainda paralelo à
roda, a cremalheira que se obtém não apresenta filetes com perfis simétricos.
1
1
px1
1
pz1
Mó tronco-cónica
(a) (b)
Mó
/2 b1
b1
Hélice de base
db1
(c)
Figura 5.10 – Perfis de filetes de parafuso sem-fim: (a) Perfil trapezoidal; (b) Perfil gerado
por tronco de cone de revolução; (c) Perfil helicoidal evolvente.
O perfil trapezoidal é, sem dúvida, dos perfis mais utilizados em transmissões me-
cânicas de parafuso sem-fim roda helicoidal. Quando as cargas em jogo são relati-
vamente baixas podem utilizar-se filetes com perfil triangular, não obstante o seu
rendimento ser relativamente baixo devido ao elevado atrito que se desenvolve. Exis-
pt1
1
pz1 pn
11
Na presente análise considera-se que o elemento 1 é o parafuso sem-fim e que o elemento 2 diz
respeito à roda helicoidal.
Para um parafuso sem-fim, o passo axial pode ser calculado do seguinte modo,
p z1
p x1 (5.2)
z1
em que z1 representa o número de filetes ou de entradas do parafuso sem-fim.
2
d2
I v1 v2
1
d1
Figura 5.12 – Representação do engrenamento parafuso sem-fim roda helicoidal.
Hélice primitiva
p z1 1
d1
1
Eixo do sem-fim
Hélice primitiva
pz1
(a) (b)
Figura 5.13 – (a) Representação do passo num parafuso sem-fim; (b) Planificação do passo.
Exercício 5.2
Enunciado: Considere uma engrenagem de parafuso sem-fim roda helicoidal de 3
entradas. Sabendo que o ângulo de inclinação dos filetes é igual a 75º, o passo heli-
coidal é de 80 mm e que a roda tem 30 dentes, determine os diâmetros primitivos do
parafuso sem-fim e da roda.
Roda 2
1
2
Tal como no caso das engrenagens cilíndricas helicoidais de eixos paralelos, nas
engrenagens torsas pode também escrever-se que (Mabie e Reinholtz, 1987)
mn1 z1
d1 mt1 z1 (5.11)
cos 1
mn 2 z2
d 2 mt 2 z2 (5.12)
cos 2
Roda 1
Roda 2
n
2 P
v2 1
1 t
vn
v1
2
pt1
px1
pz1
pn
pz1
1
px1
1
d1 d1
pn px1sen1 (5.25)
mn mx1sen1 (5.27)
sendo mt1 e mx1 os passos aparente e axial do parafuso sem-fim.
Atendendo à definição de módulo tem-se que
pn
mn (5.28)
π
pt1
mt1 (5.29)
π
p x1
mx1 (5.30)
π
mn mx 2sen 2 (5.32)
pn pt 2 cos 2 (5.33)
pn px 2sen 2 (5.34)
em que 2 denota o ângulo de hélice da roda helicoidal (Henriot, 1979).
Das equações (5.24), (5.26), (5.31) e (5.33) resulta que
pn pt1 cos 1 pt 2 cos 2 (5.35)
mn mt1 cos 1 mt 2 cos 2 (5.36)
Pela definição de módulo sabe-se que
d1 mt1z1 (5.37)
d 2 mt 2 z2 (5.38)
Atendendo a que nas engrenagens de parafuso sem-fim roda helicoidal os ângulos
de hélice são complementares, então das equações (5.36)-(5.38) pode escrever-se que
1 z2 d 2mt1 d 2mn cos 2 d 2
i tg1 (5.39)
2 z1 mt 2d1 d1mn cos 1 d1
dado que
sen 1 cos 2 (5.40)
Com efeito, a equação (5.39), conjuntamente com a equação (5.35), estabelece a
relação fundamental que permite efetuar o cálculo dos dentes das engrenagens de
parafuso sem-fim roda helicoidal (Henriot, 1979).
Combinando agora as equações (5.27) e (5.31) resulta que
mn mx1sen1 mt 2 cos 2 (5.41)
Com efeito, da substituição da equação (5.40) na equação (5.41) obtém-se que
mx1 mt 2 (5.42)
e, consequentemente,
px1 pt 2 (5.43)
Assim, pode dizer-se que para que haja engrenamento entre o parafuso sem-fim e
a roda é necessário que as condições expressas pelas equações (5.42) e (5.43) se veri-
fiquem para que ambos os elementos apresentem o mesmo módulo (ou passo) real
(Henriot, 1979; Branco et al., 2009).
d a1 d1 2ha1 (5.61)
d f 1 d1 2h f 1 (5.62)
d f1
cos t1 (5.66)
d1
b1 8d2ha1 (5.69)
z
b1 px1 4,5 2 (5.70)
50
b1 14mx1 cos 1 (5.71)
d a 2 d 2 2ha 2 (5.77)
d f 2 d2 2h f 2 (5.78)
b2 2mx1 z2 1 (5.80)
A distância entre os eixos do parafuso sem-fim e da roda é igual a
d1 d 2
a (5.81)
2
Para maximizar a capacidade de transmissão de potência, no projeto de engrena-
gens de parafuso sem-fim roda helicoidal, deve garantir-se que o diâmetro primitivo
do parafuso sem-fim esteja dentro do seguinte intervalo (Juvinall e Marshek, 2006)
a 0,875 a 0,875
d1 (5.82)
2 1,7
Exercício 5.3
Enunciado: Considere uma engrenagem de parafuso sem-fim roda helicoidal de 2
entradas. O parafuso sem-fim tem um diâmetro primitivo de 50,8 mm. A roda tem 30
dentes e um módulo aparente igual a 4,23 mm. Sabendo que se trata de uma engre-
nagem normalizada, determine: (i) o diâmetro primitivo da roda; (ii) a distância entre
os eixos; (iii) o módulo axial do parafuso sem-fim; (iv) o passo axial do parafuso; (v)
o passo helicoidal do parafuso sem-fim; (vi) o ângulo de inclinação dos filetes; (vii) o
ângulo de inclinação primitiva da roda.
Exercício 5.4
Enunciado: Considere uma engrenagem de parafuso sem-fim de entrada dupla e com
uma roda helicoidal de 30 dentes. O parafuso, que é o órgão motor, tem 44 mm de
diâmetro primitivo, um módulo axial de 3 mm e um ângulo de pressão real igual a
20º. Assim, determine a relação de condução desta engrenagem.
F1
n
N
Fr1
Ft1
F1
1
N
Fa1
Fa1 Ft 2 (5.96)
Na verdade, quando o ângulo entre os eixos do parafuso sem-fim e da roda é igual
a 90º verifica-se que as componentes radiais da força que atua no engrenamento são
iguais no parafuso e na roda. Observa-se ainda que a componente tangencial da força
que atua no elemento motor é igual à componente axial que atua no elemento movi-
do. Do mesmo modo, constata-se que a componente axial da força que atua no órgão
motor é igual à componente tangencial que atua no órgão movido.
2
Fr2
Fa1
Fa2
Ft1
Ft2
Fr1
1
Parafuso: órgão motor
F2
n
N
Fr2
F2
Fa2 1
N Ft2
0.08
Coeficiente de atrito, Parafuso: aço cementado; Roda: bronze fosforoso
0.06
0.04
0.02
0.00
0 2 4 6 8 10
Velocidade de deslizamento, vs [m/s]
Figura 5.21 – Variação do coeficiente de atrito para engrenagens de parafuso sem-fim roda
helicoidal lubrificadas e para diferentes materiais.
Exercício 5.5
Enunciado: Considere uma engrenagem de parafuso sem-fim roda helicoidal reduto-
ra em que o órgão motor roda a 1200 rpm e transmite uma potência de 0,75 kW. O
parafuso sem-fim apresenta hélice direita, duas entradas e um diâmetro primitivo de
50 mm. A roda tem 30 dentes e um passo aparente de 13 mm. Os materiais do para-
fuso e da roda são o aço cementado e bronze fosforoso, respetivamente. Determine o
rendimento desta engrenagem admitindo que o ângulo de pressão real é de 20º.
9. Apresente o tipo de material que deve ser utilizado nos diversos órgãos de
uma engrenagem de parafuso sem-fim roda helicoidal.
10. Quais são os principais tipos de perfis dos filetes das engrenagens de parafuso
sem-fim roda helicoidal?
14. Qual a relação entre os módulos reais de um parafuso sem-fim e de uma roda
helicoidal para que haja engrenamento?
15. Deduza uma expressão para a relação de transmissão numa engrenagem de pa-
rafuso sem-fim roda helicoidal.
18. Uma engrenagem de parafuso sem-fim roda helicoidal redutora é acionada por
um motor de 1,5 kW a 720 rpm. A velocidade de saída é de 40 rpm. O parafu-
so sem-fim tem uma única entrada e um ângulo de inclinação primitiva igual a
75º. O módulo real da engrenagem é igual a 4 mm. Assim, determine o núme-
ro de dentes da roda e o diâmetro primitivo do parafuso sem-fim.
20. Considere uma engrenagem de parafuso sem-fim roda helicoidal de dupla en-
trada. O parafuso sem-fim tem um diâmetro primitivo igual a 50 mm e um
módulo axial de 4 mm. A roda tem 32 dentes. Atendendo a que o dentado é
normalizado, determine: (i) o passo axial do parafuso; (ii) o passo helicoidal
do parafuso; (iii) o módulo aparente da roda; (iv) o diâmetro primitivo da ro-
da; (v) a relação de transmissão; (vi) o ângulo de inclinação dos filetes; (vii) o
ângulo de passo; (viii) o ângulo de pressão axial; (ix) a distância entre eixos;
(x) a saliência do parafuso; (xi) a saliência da roda; (xii) o diâmetro de coroa
da roda; (xiii) o diâmetro de base da roda.
Paulo Flores
José Gomes
Universidade do Minho
Escola de Engenharia
Guimarães 2015
ÍNDICE
6.1. INTRODUÇÃO
Como é sabido, as engrenagens são sistemas mecânicos utilizados para transmitir
potência e movimento entre os órgãos motor e movido. Tal como acontece em outros
sistemas mecânicos de transmissão de movimento, o projeto e dimensionamento dos
componentes que constituem as engrenagens assenta no conhecimento das forças que
se desenvolvem durante o seu funcionamento (Shigley e Mischke, 1989; Wilson e
Sadler, 1993). No caso das engrenagens, a determinação das forças que atuam nos
dentes depende das condições de funcionamento e do tipo de dentado. Na verdade, o
correto conhecimento da magnitude e do sentido de atuação das diversas componen-
tes da força de engrenamento é de primordial importância, pois permite a determina-
ção dos esforços que atuam nos dentes, nos veios que suportam as rodas dentadas, e
nos respetivos apoios dos veios. Com efeito, conhecidas cargas que se desenvolvem
nas engrenagens é possível efetuar o cálculo dos dentes, o dimensionamento dos vei-
os e a seleção dos apoios (Branco et al., 2009).
A análise dinâmica de engrenagens diz respeito ao estudo das forças que atuam
nas engrenagens. Esta análise é frequentemente denominada de análise de forças e
assenta, em geral, num conjunto de premissas simplificativas. Em primeiro lugar, na
análise dinâmica de engrenagens é habitual efetuar-se a simplificação que considera
que as forças de engrenamento são pontuais e atuam na zona central dos flancos dos
dentes. Por outro lado, durante o engrenamento de duas rodas dentadas é provável
que um dente seja mais solicitado do que os dentes adjacentes, por isso, é comum
considerar-se que a força de engrenamento é totalmente transmitido apenas num den-
te. Na análise dinâmica de engrenagens é habitual considerar-se que o rendimento é
unitário (Shigley e Uicker, 1980). Esta assunção é verdadeira para o caso das engre-
nagens cilíndricas de dentado reto e inclinado, bem como no caso das engrenagens
cónicas de dentes retos. Na verdade, nestes tipos de engrenagens é expectável que
haja perdas na ordem de 1 a 2%, as quais podem, todavia, ser desprezadas. Esta sim-
plificação não deve ser efectuada no caso das engrenagens de parafuso sem-fim de-
vido ao elevado escorregamento que acontece entre os flancos dos filetes e dos den-
tes das rodas (Drago, 1988; Juvinall e Marshek, 2006; Budynas e Nisbett, 2011; Flo-
res e Gomes, 2014a; Norton, 2013).
Os elementos das engrenagens têm inércia, a qual quando associada a aceleração
desenvolve forças de inércia. Quando as forças de inércia são relativamente pequenas
face às demais forças em jogo, então as primeiras podem ser desprezadas na análise
de forças em engrenagens. Este tipo de análise é frequentemente denominada de aná-
lise estática, uma vez que se assume que os elementos estão em repouso. Com efeito,
a análise dinâmica de engrenagens é, em geral, realizada utilizando as condições de
equilíbrio, pelo que o estabelecimento correto dos sentidos das forças que atuam nas
engrenagens é de capital importância (Thomas e Hillsman, 1993). Subsequentemen-
te, torna-se necessário conhecer as magnitudes daquelas forças e, deste modo, proce-
der ao projeto das engrenagens, nomeadamente no cálculo dos dentes, no dimensio-
namento dos veios e na seleção dos apoios dos veios.
O2
Ft I
F
Fr
E
d1
O1
1
Exercício 6.1
Enunciado: Considere uma engrenagem cilíndrica de dentado reto normalizado em
que o pinhão é accionado por um motor que roda a 1750 rpm e transmite uma potên-
cia de 2,5 kW. Atendendo a que o pinhão tem 20 dentes um módulo de 2,5 mm, de-
termine as forças que atuam nesta engrenagem.
1
5
4
2 3
Fe
x
F14 y Fe
F21
x 4 y Fm x
F34 F14 x
F21 F41 1
t n y
y
F51 F51 F41
F34
y
F12 n
x F15 y
F43
F12
n
F52 t
F52 x
F23 x 3
F m t 5 t F43
F15 F25
2 x
F32 n
y
F23
F25
Fe
y
F32
Figura 6.2 – Diagramas do corpo livre dos diversos componentes de um alicate.
2
O termo livre significa que o corpo está desligado do sistema mecânico de que faz parte, sendo que
os seus efeitos são substituídos pelas forças e momentos que atuam sobre o corpo.
3
Nos pares cinemáticos inferiores, o contacto entre os seus elementos constituintes é uma superfície.
z
Rotação 5
x y
z
Translação
ou 5
prismática x y
z
Esférica
ou 3
globular x y
Cilíndrica 4
x y
z
Plana 3
x y
z
Helicoidal
ou de 4
parafuso x y
2
1
1 3
a b c
4
Deve referir-se que no caso dos pares cinemáticos superiores, o contacto entre os seus elementos é
do tipo pontual ou linear (Flores e Claro, 2007).
1
r r
F21 F23 Fcx
1 3
M1 Fax a r
F12 b r
F32 c M3
t 2 t
F21 F23
3
Fby
Figura 6.5 – Diagramas do corpo livre das rodas do trem descrito no exercício 6.2.
Exercício 6.3
Enunciado: A figura 6.6a ilustra um trem de engrenagens acionado pelo anel exteri-
or, 1, que, por sua vez transmite o movimento às rodas 2, 3 e 4. A roda central, 5,
está estacionária e ligada ao braço 6. Assim, atendendo a que o momento motor que
atua na roda 1 é igual a M1, determine a relação de transmissão do trem.
5
Esta situação é verdadeira, uma vez que se admite que o rendimento é unitário.
1
5
6
3 4
(a)
F1 F1
1 2 F2
d2
F2
F1
d1
F2 M6
F1
6
M1
F1
F2
(b)
Figura 6.6 – (a) Trem de engrenagens; (b) Diagramas do corpo livre.
n2
2
b
r
F21
F F21
0 I
t
F21
I
x
1
Fa1 a
E 1
a Fa1
y
Fa1
Ma1
0
n1
(a) (b)
Com efeito, F21 representa a força que a roda 2 exerce sobre a roda 1. Atendendo
à terceira lei de Newton sabe-se que F21 e F12 têm a mesma direção, a mesma magni-
tude, mas atuam em sentidos opostos. A força que o veio a exerce na roda 1 é desig-
nada por Fa1, a qual tem duas componentes cartesianas, tal como se pode identificar
na representação da figura 6.7. O efeito do motor na roda 1 é indicado por Ma1, que
representa o momento motor. É frequente omitir os índices associados aos veios,
assim tem-se que Ma1=M1. Com efeito, doravante, utilizar-se-á esta nomenclatura no
âmbito da análise dinâmica de engrenagens.
Uma vez elaborados os diagramas do corpo livre dos componentes das engrena-
gens, pode proceder-se à análise dinâmica, também denominada análise de forças.
Assim, quando o sistema6 em estudo está em repouso ou tem uma velocidade cons-
6
O vocábulo sistema denota qualquer componente, conjunto de componentes ou parte de uma má-
quina ou mecanismo que se pretende estudar. Com efeito, a análise de sistemas mecânicos comple-
xos pode ser simplificada sobremaneira pela sucessiva elaboração do diagrama do corpo livre dos
seus elementos.
F 0 (6.18)
M 0 (6.19)
o que significa que é nulo o somatório de todas as forças e todos os momentos que
atuam no sistema em equilíbrio.
n2
2
d2
r
Fb2
F21 2
y
Fb2
b F F21
I
t
F21 b
x
Fb2
I 1
x
Fa1
a M1 t
F12
E 1 d1 Fa1 I
y M2
Fa1
a F12
r
F12
n1
(a) (b)
Figura 6.8 – (a) Engrenagem cilíndrica de dentes retos em que o pinhão é o órgão
motor; (b) Diagramas do corpo livre do pinhão e da roda.
7
Este momento é frequentemente denominado de momento de torção (Shigley e Uicker, 1980; Shi-
gley e Mischke, 1989).
n2 n2
2 2
F F
b b
r
F12 r
F12
t t
I F12 I F21
t t
F21 F12
r r
E F21 F21 E
a a
1 1
Pinhão: órgão motor n1 Pinhão: órgão motor n1
(a) (b)
Figura 6.9 – Representação das forças que se desenvolvem no engrenamento em
engrenagens cilíndricas de dentes retos: (a) O pinhão é o órgão motor e roda no
sentido indireto; (b) O pinhão é o órgão motor e roda no sentido direto.
Exercício 6.4
Enunciado: A figura 6.4 ilustra um trem de engrenagens simples constituído por 3
rodas de dentes retos normalizados. O pinhão é acionado por um motor de 30 kW a
1000 rpm. O módulo dos dentes é igual a 10 mm, sendo que as rodas 1, 2 e 3 têm 35,
45 e 60 dentes, respetivamente. Assim, determine: (i) a distância entre os eixos das
rodas 1 e 3; (ii) a relação de transmissão entre as rodas 1 e 3; (iii) o momento que
atua na roda 3; (iv) as reações no apoio da roda 3.
t
F37 F21
F27
r 1
F21
M7
t
F31
t
F51
7
r r
F31 F51
F47 r
F41
F57 M1
t
F41
Exercício 6.5
Enunciado: Na figura 6.10 representa-se um trem epicicloidal8 com roda fixa, no
qual todas as rodas são cilíndricas de dentes retos normalizados e cujo módulo é de 2
mm. O trem é acionado pelo planetário, roda 6, sendo a potência e a velocidade an-
gular iguais a 14,4 kW e 400 rad/s, respetivamente. A saída do trem é pelo braço,
elemento 7 na representação da figura, e o anel exterior, roda 1, está fixo. O planetá-
rio tem 36 dentes e cada um dos satélites tem 32 dentes. Assim, determine a veloci-
dade de saída deste trem (Wilson e Sadler, 1993).
8
Um trem epicicloidal é um conjunto de 3 ou mais rodas dentadas em que pelo menos uma roda tem
eixo não fixo e roda em torno de um outro eixo fixo do mesmo trem. Quando assim não acontece, o
trem é denominado de trem normal (Mabie e Reinholtz, 1987).
Fr
F t
n
a t
F F
O
Plano de rotação
Plano normal
Circunferência primitiva
Figura 6.11 – Forças que atuam nas engrenagens cilíndricas de dentes inclinados.
F a F t tg (6.30)
Ft
F (6.31)
cos n cos
onde n representa o ângulo de pressão real ou normal, t é o ângulo de pressão apa-
rente ou transverso e denota o ângulo de inclinação primitiva (Flores e Gomes,
2014c; Branco et al., 2009).
Por seu lado, a força tangencial pode ser calculada do seguinte modo
60 P
Ft (6.32)
πdn
sendo P a potência a transmitir, n a velocidade de rotação do órgão motor e em que
d mt z (6.33)
onde mt é o módulo transverso ou aparente do dente e z é o número de dentes.
De um modo simples pode dizer-se que a componente tangencial da força de en-
grenamento, também denominada força útil ou transmitida, permite o dimensiona-
mento dos dentes. Por seu lado, as componentes radial e axial possibilitam o dimen-
sionamento dos veios e a seleção dos respetivos apoios.
A determinação do sentido de atuação das componentes tangencial e radial é idên-
tica ao caso das engrenagens cilíndricas de dentes retos. O sentido da força axial de-
pende do sentido de rotação da roda e do facto de se tratar de uma roda com hélice
esquerda ou direita. De qualquer modo deve referir-se que o sentido de força axial é
sempre o que promove a compressão das superfícies dos dentes.
t r t r
F12 F21 F21 F21
1 1
a a
F21 F12
1
a a
F12 t
F21 F21 t
F12
1 r r
F12 F12
2
2 2 2
a a
F21 t
F21 F12 t
F12
1 r r
F12 F12
2
2 2 2
Exercício 6.6
Enunciado: Uma engrenagem cilíndrica de dentes inclinados é acionada por um mo-
tor elétrico de 20 kW de potência e que roda a 1440 rpm. O pinhão, que é o órgão
motor, tem 18 dentes, 4 mm de módulo real e um ângulo de inclinação dos dentes de
30º. Atendendo a que o dentado é normalizado, calcule as forças de engrenamento.
3
b
C D
180
P = 1,5 kW
n = 2000 rpm
a c
A 1 B E F
4
Figura 6.14 – Trem de engrenagens normal composto e revertido.
Exercício 6.7
Enunciado: O trem de engrenagens da figura 6.14 é acionado por um motor elétrico
de 1,5 kW de potência através de uma engrenagem exterior de rodas cilíndricas de
dentes retos. O motor roda a 2000 rpm no sentido indicado na figura. O pinhão 1 e a
roda 2 têm 14 e 56 dentes, respetivamente. O dentado é normalizado sendo o módulo
igual a 5 mm. O trem inclui ainda uma engrenagem exterior de rodas cilíndricas de
dentes helicoidais cujo ângulo de inclinação dos dentes é de 28º e o módulo real é de
3 mm. A relação de transmissão neste último andar é igual a 4 e a distância entre os
eixos é de 180 mm. Assim, (i) elabore o diagrama do corpo livre do veio b sabendo
que as cargas axiais são suportadas pelo apoio C; (ii) determine as forças que atuam
nos dentes das rodas 2 e 3; (iii) calcule as reações nos apoios C e D; (iv) determine o
momento torsor que atua no veio a.
2
x
RC RCz
C
RCy n3
3
n2 t
RDz
z F12 D
100
r t
F12 a
F43 x
300 F43
y
r
RD
F43
100
Figura 6.15 – Diagrama do corpo livre do veio b do exercício 6.7.
50 200 50 50
C D
P = 1,0 kW
n = 1500 rpm
y
a
x
A 1 B
Figura 6.16 – Sistema de transmissão por rodas cilíndricas helicoidais.
Exercício 6.8
Enunciado: Na figura 6.16 representa-se uma engrenagem exterior de rodas cilíndri-
cas de dentes helicoidais que transmite potência e movimento de um motor elétrico
de 1 kW para um rolo que aciona uma correia transportadora. O motor gira a 1500
rpm, no sentido indicado na figura, e o material transportado pelo rolo origina uma
carga uniformemente distribuída, na direção positiva do eixo z, de 3,5 N/mm. Os
diâmetros primitivos do pinhão e da roda são, respetivamente, 64 mm e 320 mm,
tendo o pinhão 20 dentes. Considere que o dentado em ambas as rodas é normaliza-
do. Assim, (i) faça, utilizando uma perspetiva adequada, o diagrama do corpo livre
do veio b; (ii) determine as forças que atuam nos dentes da roda 2; (iii) calcule as
reações nos apoios C e D.
x RCz
RC
3,5 N
/mm
C RDy
y
RC 2
D M2
z 50
RDz
x
200 t
F12
50 n2
50
a
r F12
F12
Figura 6.17 – Diagrama do corpo livre do veio b do exercício 6.8.
Ft
rm
F
Fr
Fa
S
Figura 6.18 – Representação das forças de engrenamento em rodas cónicas de dentes retos.
F
Ft
b/2
b
r
Fr F
a
Ft F
d/2
dm/2
t r t r
F21 F21 F12 F21
1 a 1 a
F21 F21
r r
2 F12 2 F12
a t a t
F12 F12 F12 F21
2 2
(a) (b)
F12r F21
a
(6.41)
F12a F21
r
(6.42)
Exercício 6.9
Enunciado: Uma engrenagem exterior cónica de dentes retos normalizados é acio-
nada pelo pinhão através de um motor elétrico de 10 kW de potência e que roda com
uma velocidade igual a 600 rpm. O pinhão tem um diâmetro primitivo igual a 200
mm e dentado com uma largura de 40 mm. A roda gira a 200 rpm. O ângulo de coni-
cidade da engrenagem é de 60º. Assim, determine as forças de engrenamento que
atuam nesta engrenagem, bem como o momento que atua no veio da roda.
D
30
60
1
2
A B
90
b
C
y
M2
n2
RDz 2
r
a F12
D F12
r m2
RCy
RDy
t
F12
C
z
60 rm1 x
RCz RC
x
90
65,52
M Cz 0 RDy (60 90) F12t 90 2 0
donde resulta que
RCx 524,23 N
RCy 938,85 N
RCz 451,47 N
RDy 579,34 N
RDz 276,74 N.
Finalmente, o momento que tem atua no veio da roda pode ser calculado do seguinte
modo
196,54
M Cx 0 M 2 F12t 2 M 2 149,27 Nm.
O2
2
F
~
~
B
D
Ca1
N
Ca2 I
C
A F
E
N
~
~
1
O1
Figura 6.23 – Representação das forças que atuam nos perfis conjugados quando se
considera a existência de atrito entre as superfícies dos dentes.
Fr
Fcos1
F
F
n Ft 1
1
a Fsen1
F
Figura 6.24 – Forças que se desenvolvem no engrenamento de um parafuso sem-fim.
F r Fsen n (6.46)
2 r
F12 2 r
F12
a t
F21 a F12 t
F12 F21
t a
F21 F12
1 1
t a
F12 F21
r r
F21 F21
1 1
2 2
2 r
F12 2 r
F12
t a
F12 a F21 t
F12 F21
t a
F21 F12
1 1
a t
F21 F12
r r
F21 F21
1 1
F12r F21
r
(6.50)
F12a F21
t
(6.51)
Exercício 6.11
Enunciado: Considere uma engrenagem de parafuso sem-fim roda helicoidal reduto-
ra em que o órgão motor é o parafuso que gira a 1200 rpm e transmite uma potência
de 0,75 kW. O parafuso tem hélice direita, duas entradas e um diâmetro primitivo de
50 mm. A roda tem 30 dentes e um passo aparente de 13 mm. O dentado é normali-
zado e o coeficiente de atrito médio entre os filetes do parafuso e os dentes da roda é
igual a 0,03. Assim, determine as forças de engrenamento no parafuso e na roda.
A 2
40
B
65
2
Exercício 6.12
Enunciado: Um parafuso de hélice direita com duas entradas transmite 2 kW de po-
tência a 2950 rpm a uma roda helicoidal com 32 dentes. A roda tem um módulo apa-
rente de 4 mm, uma largura igual a 30 mm e um ângulo de pressão real de 20º. O
parafuso tem 50 mm de diâmetro primitivo. Admite-se que o coeficiente de atrito
médio entre o parafuso e a roda é igual 0,024. A figura 6.26 ilustra os elementos pri-
mitivos desta engrenagem. Assim, (i) calcule as forças de engrenamento; (ii) deter-
mine as reações nos apoios do veio da roda; (iii) calcule o momento de saída.
RAy RBz
B
2
z
40
n2 RBx
x
65 y
RB
2. Deduza uma expressão que permita relacionar a força transmitida numa en-
grenagem com as caraterísticas do elemento motor de uma engrenagem.
11. Faça o diagrama do corpo livre de uma engrenagem exterior cilíndrica de den-
tes retos.
12. Faça o diagrama do corpo livre de uma engrenagem exterior cilíndrica de den-
tes inclinados.
13. Faça o diagrama do corpo livre de uma engrenagem exterior cilíndrica cónica.
3
b
C D
180
P = 1,5 kW
n = 2000 rpm
a c
A 1 B E F