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RESENHA

Discurso Sobre a Servidão Voluntária

LA BOÉTIE, Étienne De. Discurso Sobre a Servidão Voluntária. [S.l.]: L.C.C.


Publicações Eletrônicas, 2006.

Étienne de La Boétie foi um filósofo humanista do final do século XVI, sendo


o Discurso sobre a Servidão Voluntária sua principal obra, escrita quando La Boétie
tinha apenas 18 anos. Dentre os diversos pontos expostos pelo autor neste texto,
de forma inicial vem a crítica à monarquia e a tirania, onde questiona a capacidade
de um governo composto por um só alcançar os interesses de todos. Nesse sentido
podemos dizer que conforme La Boétie o poder que um só homem exerce sobre os
outros é ilegítimo.

Ademais faz uma análise quanto ao modo voluntário do povo em servir


cegamente a um governante: “um número infinito de pessoas não a obedecer, mas
a servir, não governadas mas tiranizadas, sem bens, sem pais, sem vida a que
possam chamar sua?”. Para o filósofo é o próprio povo que sem se questionar
aceita a dominação, abre mão da sua liberdade para ser servo.

Nesta análise La Boétie expõe as causas da servidão voluntária, onde


perpassa sobre questões políticas e aquilo que é considerado da natureza humana,
afirmando que todos os seres humanos são livres por natureza e que nascemos
com própria alforria e a capacidade para defendermos esse ideal de liberdade.

Acerca das causas que implicam na servidão, o hábito é apontado como uma
destas. Assim, para aqueles que nascem sob a tirania e não conhecem outras
formas de governo, uma consequência é se habituarem à servidão “quem mais do
que os tiranos tem conseguido para sua segurança, habituar o povo não só à
obediência e à servidão, mas até à devoção?”. Também cita a covardia dos servos,
o tirano é apontado como o mais “vulnerável” nesse sistema se comparado ao
povo, mas é a idealização que ele é o mais forte, o mais cruel e invencível é o que o
mantém no poder e quem alimenta isso são os servos, afirmando que “a perda da
liberdade, perde-se imediatamente a valentia.”

As crenças religiosas também tiveram um papel marcante, servindo como


arma de persuasão para manter o povo sob o jugo. Todavia, dentre as causas da
dominação, a mais feroz e apontada como o segredo para esse sistema se manter é
a participação na tirania. Por ambição aqueles que estavam ao redor do rei se
deixavam ser dominados, apoiavam e participavam de toda crueldade do tirano.
Desta maneira o monarca instituía algum tipo de poder a alguns homens e estes
tornavam-se tiranos a dominar determinado grupo que estivesse em posição
inferior, e esse ciclo ia se repetindo: “Essa meia dúzia tem ao seu serviço mais
seiscentos que procedem com eles como eles procedem com o tirano. Abaixo
destes seiscentos há seis mil devidamente ensinados…”, por fim, nas palavras do
autor, a colocação mais precisa para definir o segredo da dominação: O tirano
submete a uns por intermédio dos outros.”

La boétie através do Discurso sobre a Servidão Voluntária explora a natureza


da obediência e servidão, faz uma análise sobre os fatores que levam a dominação
voluntária, questiona a razão para a não rebelião popular diante de um governo
injusto e cruel. Em diversos momentos do texto nos deparamos com a exaltação da
liberdade e incentivos à busca por esta, definida pelo autor como algo natural e
desejado por toda a criação, acima de tudo pelo homem.

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