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Uma abordagem sociológica da sociologia:

a ciência como campo


VÍVIAN MATIAS DOS SANTOS*

Resumo
O presente ensaio objetiva analisar como o conceito de campo de Pierre
Bourdieu pode contribuir para uma abordagem sociológica da Sociologia. A
discussão desdobra-se desde a reflexão mais geral de como se firma a
ciência até as possibilidades de compreensão da Sociologia neste espaço.
Para tanto, fez-se necessário abordar o “campo científico” por meio das
relações entre sua estrutura e seus agentes - relações “multidimensionais”
que podem representar uma exitosa tentativa de superação da dicotomia
ação/estrutura; indivíduo/sociedade; micro e macroteorização.
Palavras-chave: Sociologia; ciência; campo científico; habitus.

Sociological approach of sociology – science as a field


Abstract
This article analyses how Pierre Bourdieu’s theory can contribute for
sociological approach of Sociology. This discussion examines how the
discipline is established like a Science, dialogue how the concept “scientific
field” may be able to break dichotomies: action / structure; individual /
society; micro and macro-theories.
Key words: Sociology; science; scientific field; habitus.

*
VÍVIAN MATIAS DOS SANTOS é Mestra em Políticas Públicas e Sociedade pela
Universidade Estadual do Ceará (UECE), doutoranda em Sociologia na Universidade Federal do Ceará
(UFC). Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas sobre Sexualidade, Gênero e Subjetividade (NUSS) da
UFC.

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1. Pensar a ciência sobre as bruxas foi
tentando romper a uma oportuna
dicotomia justificativa para
“ação/estrutura” eliminar as
curandeiras que
Quais saberes ao
competiam com a
longo da história da
classe médica
humanidade foram
masculina.
reconhecidos, ou
melhor, consagrados? Todas essas questões
Por que na Idade podem ser refletidas
Média “curandeiras” com maior
foram queimadas nas profundidade se, para
fogueiras da Santa começo de conversa,
Inquisição acusadas pensarmos a ciência
de bruxaria (PULEO, como um construto
2002) ao possuírem humano e como
um saber cuja somente uma das
linguagem a classe diversas formas de
médica emergente construção do
não dominava? conhecimento.
Pierre Bourdieu (1930-2002)
Como, no seio da Porém, desde o
“ciência moderna ocidental”, surge a surgimento da modernidade na ciência
Sociologia? De que forma esta (SANTOS, 2005), o conhecimento
disciplina se firma como ciência? vulgar, ou senso comum, mesmo sendo
– assim como a ciência – social e
Consolidando-se por meio da linguagem historicamente construído, não tem sido
filosófica, na Antiguidade a ciência já considerado uma forma válida de
inicia sua consagração como a melhor conhecimento.
maneira de compreensão da realidade.
O conhecimento científico era algo que De tal modo, a emergência do
poucos manipulavam e tinham o paradigma moderno nas ciências que se
domínio de suas práticas de produção. inaugura pelo predomínio das idéias
matemáticas – tão nítidas no
No medievo a ciência tinha como racionalismo cartesiano – continuou se
paradigma central a fé e o dogmatismo. não excluindo, mas marginalizando
Todo e qualquer conhecimento durante séculos as mulheres nos lócus
científico deveria ser constituído tendo formais de produção da ciência. Nelas
em vista a autoridade da Igreja Católica pesava o estigma de serem mais
Romana. Aqueles que produzissem sensíveis, passionais e intuitivas,
conhecimento que se contrapusesse aos portanto, não-racionais
dogmas que tal instituição elegeu como (SCHIENBINGER, 2001; CHASSOT,
científicos e, portanto, verdadeiros, 2003). Como elas poderiam se inserir de
poderiam pagar com a própria vida. forma não desigual em uma ciência que,
Somente homens celibatários podiam “moderna”, assentava-se
ter acesso ao conhecimento científico fundamentalmente num certo modelo de
(MACIEL, 1999), isso fez com que racionalidade?
82% do meio milhão de pessoas que
foram queimadas na fogueira, fossem O predomínio desta racionalidade
mulheres (PULEO, 2002). O discurso purificada de outras dimensões humanas

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tais como a emoção1, não somente então, se constituindo a partir de teorias,
estruturou na ciência uma dominação métodos e técnicas conhecidas hoje
masculina (BOURDIEU, 2005), mas como “quantitativistas”.
outras expressões de dominação.
1.1. A Ciência como um campo
Não se deve tratar a ciência como um
processo linear e imparcial, pois, como Não podendo ser de outra maneira, a
qualquer construto humano, se pretensa neutralidade científica se
desenvolve entrecruzando-se com as defronta com um sofisticado cenário
relações sociais mais amplas. Ela possui delineado pelas relações de poder. Os
configurações que não são desdobramentos da ciência se
independentes do tempo e do espaço. processam no sentido de atender às
Deste modo, Max Weber no prefácio demandas sócio-históricas e econômicas
escrito para “A Ética Protestante e o do tempo e lugar dos quais faz parte.
Espírito do Capitalismo” discute “o Por outro lado, a ciência também se
problema de reconhecer a peculiaridade constitui ao firmar regras e padrões de
específica do racionalismo ocidental” produtividade que pactuam com os
(1999, p.11). Um racionalismo que não anseios da comunidade científica
somente penetra nas ciências, mas hegemônica. Tendo isso em vista,
também nas várias instâncias de compreendê-la como um campo
organização social, na literatura, nas bourdieusiano pode ser uma alternativa
artes2. teórico-metodológica satisfatória, na
medida em que a noção de campo
O paradigma dominante da “ciência
evidencia que apesar de sua
moderna” acusava com veemência a
normatividade, a ciência é permeada por
existência de duas formas de
contradições e conflitos.
conhecimento não científico, e,
portanto, irracional: o senso comum e as Bourdieu (2004), ao considerar a
chamadas humanidades ou estudos ciência como um campo, defende a
humanísticos, como, por exemplo, os ideia de que a dinâmica da construção
estudos filosóficos e teológicos. Estas científica se dá pelo ininterrupto diálogo
duas formas de conhecimento passam a entre os fatores históricos, econômicos e
ser, então, potencialmente perturbadoras sociais externos, e suas leis internas.
e intrusas, ameaçando a verdade Para Bourdieu, o campo científico é “o
científica (SANTOS, 2005). Por isso, ao universo no qual estão inseridos os
surgir a Sociologia, para ser agentes e as instituições que produzem,
reconhecida e se firmar como ciência, reproduzem, ou difundem (...) a
apropriou-se da linguagem científica de ciência” (2004, p.20). E, neste universo
construído por agentes e instituições,
1 devem ser percebidas suas próprias leis,
Esta tem sido uma discussão presente não
somente entre os sociólogos do conhecimento,
mas, por se intercruzar com outros
historiadores ou filósofos da ciência. Um campos sociais (pressões externas),
exemplo é o neurologista português António pode-se perceber que a autonomia do
Damásio que lançou neste ano um livro campo científico se dá de forma
intitulado “O erro de Descartes – emoção, razão relativa.
e cérebro humano”, publicado pela editora
Companhia das Letras. Portanto, é relevante compreender que o
2
Um exemplo citado pelo autor é a forma como
a Música se constrói no ocidente a partir das
campo científico, como qualquer outro
idéias matemáticas, diferentemente das campo social, possui a capacidade de
sociedades orientais. refração, ou seja, toda e qualquer

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influência externa é mediada, Assim, percebendo a Ciência desta
retraduzida pela lógica do campo. forma, para uma mensuração mais
Assim, convém entender que: quanto aproximada do seu grau de autonomia
mais autônomo for um campo, menor faz-se mister que voltemos especial
será a influência de ordem exógena; atenção para a sua dinâmica interna na
quanto mais consolidadas forem suas qual o campo científico e seus sub-
leis, suas normas e padrões, menor será campos são conformados por seus
sua heteronomia. agentes e suas ações: são os agentes
sociais de um campo que “criam o
O campo científico, relativamente
espaço (...), e o espaço só existe (de
autônomo e heterônomo, está sujeito a
alguma maneira) pelos agentes e pelas
reconfigurações. Nestes termos a
relações objetivas entre os agentes que
tentativa de compreender a ciência
aí se encontram” (BOURDIEU, 2004,
contemplará uma dimensão
imprescindível para a sua estruturação: p.23).
o poder, sobremaneira em sua dimensão Paradoxalmente este campo é
simbólica, ou melhor, “esse poder estruturado a partir da posição que tais
invisível o qual só pode ser exercido agentes ocupam em sua dinâmica, e esta
com a cumplicidade daqueles que não posição não é escolhida por eles
querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmos. A grosso modo, a estrutura do
mesmo que o exercem” (BOURDIEU, campo científico vai ser determinada
2007, p. 7-8). pela distribuição de capital científico
entre os seus agentes que podem ser
A ciência não foi construída
instituições ou indivíduos. Mas então, o
historicamente engendrando-se a si
que seria capital científico, tão essencial
mesma sem qualquer influência do
na estruturação de um campo? Bourdieu
mundo a sua volta. As mudanças de
diz que:
paradigmas (KUHN, 1998), o que
chamamos de revoluções científicas, (...) o capital científico é uma
possuem uma natureza tanto endógena espécie particular do capital
quanto exógena, tanto inovadora quanto simbólico (o qual, sabe-se, é
tradicional, e sua profundidade vai sempre fundado sobre atos de
depender de como se estabelecem as conhecimento e reconhecimento)
que consiste no reconhecimento (ou
relações de poder entre seus agentes, e
no crédito) atribuído pelo conjunto
entre o próprio campo e as pressões de pares-concorrentes no interior do
externas. campo científico (BOURDIEU,
A forma de existência do campo 2004, p.26).
científico é marcada pela complexidade Indivíduos e instituições têm um poder
daquelas relações estabelecidas entre estruturante no interior do campo
sua estrutura interna e as pressões científico a partir da posição por estes
externas. Estas últimas consistem na ocupada. Tal posição é determinada e
maneira como o campo da ciência se também determinante da acumulação de
relaciona com os demais campos e, capital científico. O acúmulo de capital,
mais amplamente, com as conjunturas e, conseqüentemente de posições
nas quais estão situados os seus
respectivos sistemas simbólicos3. conhecimento que os <<sistemas simbólicos>>
cumprem a sua função política de instrumentos
de imposição ou de legitimação da dominação,
3
“É enquanto instrumentos estruturados e que contribuem para assegurar a dominação
estruturantes de comunicação e de (...)” (BOURDIEU, 2007, p.11).

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hierarquicamente mais elevadas, vai possuem um agente pertencente a um
depender de como tais agentes têm seus determinado campo.
trabalhos conhecidos pela comunidade
1.2. As Tomadas de posição se
científica, se são reconhecidos,
defrontam com as disposições?
consagrados, ou não.
Os cientistas devem ser percebidos
Mas, ao mesmo tempo em que o
como agentes do campo científico que,
reconhecimento de certos agentes
para serem reconhecidos neste espaço,
estrutura o campo científico, a estrutura
devem agir de acordo com as regras e as
também exerce uma influência
normas de cientificidade que são ao
considerável sobre o processo de
mesmo tempo estruturadas e
conhecimento e reconhecimento dos
estruturantes da ciência. Neste sentido é
agentes. Ou seja, na comunidade
relevante saber que “uma das funções
científica, a consagração de certas
da noção de habitus é a de dar conta da
instituições e cientistas, se por um lado
unidade de estilo que vincula as práticas
dão formas à estrutura da ciência, por
e os bens de um agente singular ou de
outro, tal estrutura exerce pressão sobre
uma classe de agentes [...]. Os habitus
a acumulação de capital científico
são princípios geradores de práticas
destes agentes.
distintas e distintivas” (BOURDIEU,
A ação dos agentes e a estrutura do 1996, p.21-22).
campo, ambos têm influência decisiva É próprio do campo científico um
para a construção da realidade e, habitus específico. Os habitus são
portanto, este duplo aspecto deve ser “operadores de distinções”
levado em consideração em suas (BOURDIEU, 1996, p. 22). Busca-se
múltiplas relações. Talvez este seja um esta distinção. Médicos agem de forma
ponto interessante para pensar como a se diferenciarem de curandeiros, bem
Bourdieu contribuiu para uma como agem de forma a se diferenciarem
abordagem sociológica do campo entre eles mesmos. Merton não errou ao
científico que tentasse romper com um perceber a competitividade como uma
problema persistente representado pelas das características fundamentais da
reflexões dicotômicas que pairam como ciência (SANTOS, 1978; NEFFA,
um espectro nas ciências sociais: 2000).
Persistem entre eles (sociólogos) Há uma incessante luta por acumulação
desacordos fundamentais, mas há
de capital científico que determina e é
um princípio fundante em relação
ao qual todos estão de acordo: a determinado (simultaneamente) pela
micro e a macroteoria são luta por financiamentos. Aqueles que
igualmente insatisfatórias; ação e recebem os maiores financiamentos
estrutura precisam ser agora produzem mais, publicam suas
articuladas (ALEXANDER, 1986, pesquisas, têm maiores possibilidades
p.5). de se consagrarem no campo, havendo a
possibilidade, inclusive, de se tornarem
Para pensar essa articulação entre
dominantes temporais (BOURDIEU,
indivíduo e sociedade em termos
2004) e participarem dos processos
boudieusianos, entre cientista e ciência,
decisórios que constroem a política
deve-se entender de forma intrínseca ao
científica.
campo a noção de habitus
(BOURDIEU, 1996), ou seja, as Todavia, o habitus científico, como
disposições, as tendências de ação que maneiras de ser duráveis, podem

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também levar os agentes a se oporem às dentro dos limites de sua trajetória na
forças de um campo. Ou seja, neste ciência e, por que não dizer, fora dela.
conceito bourdieusiano reside a
2. Pensar a Sociologia como sub-
possibilidade de transformação da
campo científico
realidade. As posições que os agentes
ocupam na estrutura do campo O estudo da Sociologia requer um
dependem de seu capital, cuidado redobrado com as suas
desenvolvendo estratégias que particularidades.
dependem, sobretudo, dessas posições
(BOURDIEU, 2004, p. 29). Pensá-la em termos de ciência normal
(KUHN, 1998), talvez não seja a melhor
A grande contribuição de Bourdieu ferramenta teórico-metodológica, visto
neste âmbito específico é afirmar que que há um “desacordo amplo e
dependendo da posição ocupada, as persistente” no terreno das ciências
estratégias de ação de um agente são sociais como um todo. O dissenso é
diferenciadas. algo próprio destas ciências, tanto que
Essas estratégias orientam-se seja “as condições definidoras da crise do
para a conservação da estrutura seja paradigma nas ciências naturais são a
para a sua transformação, e pode-se rotina nas sociais” (ALEXANDER,
genericamente verificar que quanto 1986, p.7). O debate e o questionamento
mais as pessoas ocupam uma acerca dos fundamentos da Sociologia
posição favorecida na estrutura, são uma constante ao longo de sua
mais elas tendem a conservar ao história.
mesmo tempo a estrutura e a sua
posição, nos limites, no entanto, de Contudo, algumas questões podem ser
suas disposições (isto é, de sua indispensáveis para uma abordagem
trajetória social, de sua origem sociológica da Sociologia. Como
social) que são mais ou menos exemplo, a modernidade que se
apropriadas à sua posição inaugura com os modelos cartesiano e
(BOURDIEU, 2004, p. 29). baconiano – bases para o predomínio
Partindo-se deste princípio aproxima-se das ditas “ciências naturais” – deve ser
mais dos “porquês” das mudanças de levada em consideração ao analisar as
paradigmas (KUHN, 1998), das configurações do campo científico que
rupturas epistemológicas, das tornou possível a consolidação e
descontinuidades da modernidade reconhecimento da Sociologia francesa
(GIDDENS, 1991) nas ciências. As de base durkheimiana?
reconfigurações do campo científico
A estreita e imbricada relação entre o
devem ser analisadas justamente na
reconhecimento deste sub-campo e o
tessitura destas relações que privilegiam
campo científico “moderno” (que a
agente/ estrutura, ação/ estrutura. É o
princípio desconsiderou os estudos
reconhecimento de que os indivíduos
humanísticos), pode ser percebida no
têm o poder de modificar a estrutura e
prefácio à segunda edição d’As Regras
de que até certo ponto estes indivíduos
do Método Sociológico, onde Émile
são modificados, “moldados” pela
Durkheim defende: “O que ela (nossa
estrutura do campo.
regra) reclama é que o sociólogo se
As tomadas de posição (BOURDIEU, coloque no mesmo estado de espírito
1996) encontram seus limites nas dos físicos, químicos, fisiologistas,
disposições. Cientistas podem modificar quando se lançam numa região ainda
a estrutura do campo científico, mas inexplorada de seu domínio científico”

142
(1999, p. XIX). Desta forma, o Tal distinção pode ser bem analisada
sociólogo utiliza como estratégia por meio dos habitus dos agentes
afirmar uma espécie de similitude entre específicos de cada lugar em que se
os fenômenos classificados como estruturou a Sociologia como ciência. É
naturais e sociais. a ação destes agentes nas diversas
estruturas que contribui para a
Se nesta época havia o predomínio das
construção não de uma sociologia, mas
idéias matemáticas, as abordagens
de “sociologias”. Disso pode-se
quantitativas eram necessárias e
apreender que as estruturas internas
condição para que a Sociologia fosse
deste sub-campo entrecruzam-se e
reconhecida como ciência, como um
sofrem influências das particularidades
dos sub-campos do campo científico.
sociais, políticas, econômicas e culturais
Assim, Durkheim pode ser
de cada sociedade em que se
compreendido como um agente que
estruturam.
conseguiu a consagração neste espaço,
contribuindo para a construção de uma Nem somente a ação dos agentes
linguagem própria do que hoje se (dinâmica interna do campo), nem
costuma chamar de “ciências do homem somente o contexto social mais amplo
e da sociedade” (PASSERON, 1995, (as “determinações” externas) são
p.24). Tal linguagem, mesmo se suficientes para a realização de uma
enquadrando nos moldes das ciências abordagem sociológica da Sociologia. A
naturais hegemônicas, conseguiu se utilização do campo boudieusiano para
firmar também a partir de suas a análise da Sociologia como sub-
peculiaridades. campo emerge como uma útil
“ferramenta” conceitual/metodológica
É interessante saber que a expressão
que tenta articular ação/estrutura, a
“sociologia” foi utilizada na França para
micro e a macroteorização.
“dar nome ao projeto de integração
comparativa das pesquisas sobre as Em suma: nem a enfatização de
sociedades humanas” (PASSERON, estruturas coercitivas determinantes das
1995, p. 26) devido ao legado comte- ações individuais e coletivas; nem a
durkheiminano. Já nos países anglo- unilateral abordagem da ação individual
saxônicos, a sociologia surge como uma como determinante das estruturas.
subdivisão da antropologia social, onde Não pretendemos, neste ensaio,
um maior reconhecimento vai ocorrer reconstruir a história da Sociologia de
somente com o interacionismo e com o modo a esgotar as diversas escolas e
desenvolvimento da sociologia correntes intelectuais, teóricas, ou algo
empírica. semelhante. Ao contrário, o intuito é
Não basta, desta forma, entender a apenas lançar um olhar sobre a
sociologia como um sub-campo do possibilidade de se construir uma
campo científico. Deve-se sempre compreensão mais profunda da
analisá-la como um sub-campo que se sociologia por meio da noção de campo
estrutura de maneira diferenciada nos de Pierre Bourdieu, também um agente
espaços e nos tempos. Assim, como reconhecido e consagrado deste sub-
afirma Passeron (1995), a sociologia campo científico.
francesa é distinta da anglo-saxônica,
que é distinta da alemã que se
desenvolveu de maneira mais vinculada
à história e à economia.

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