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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI

CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

Aluno: CICERO ANDERSON DE MELO SILVA – 6 SEMESTRE

FICHAMENTO DISSERTATIVO DO LIVRO: Diálogos de Platão; Hípias Maior «


Hípias Menor
É de conhecimento geral o termo “relativo” aplicado a debates e discussões
voltadas a filosofia em temas musicais seja frequentemente usado. Em
específico, é muito recorrente o termo “belo” em boa parte dessas discussões,
seja direta ou indiretamente utilizado. No livro: Diálogos de Platão; Hípias Maior
« Hípias Menor, há um trecho que diz:
“Na sua tentativa de
atingir a essência do que é belo, o sofista pondera que o ouro tem a capacidade
de tornar as coisas belas, mesmo as feias, quando são adornadas com esse
elemento. Sócrates refuta a tese de Hipias, mostrando que existe outra matéria
utilizada na escultura, o marfim, capaz de deixar os artefatos adornados com ele
igualmente belos. Para complicar a obviedade da assertiva de Hipias, Sócrates
conjectura se, ao invés de marfim, caso fosse utilizada uma pedra semelhante
ao marfim no prodígio de uma escultura, tais objetos poderiam ser considerados
realmente belos.” P.48
No trecho podemos ver que os pontos apontados por Sócrates do que é “belo”
vai muito além dos pontos colocados por Hípias. Vejamos, ao descrever que o
ouro tem a capacidade de “embelezar” as coisas mesmo que as mesmas sejam
“feias” na tentativa de atingir ou chegar próximo da definição de belo, Sócrates
refuta todo o embasamento com outros elementos além do ouro que possuem
semelhantes características de “belo”. De maneira análoga, é muito recorrente
que na sociedade moderna ocorram inúmeras situações semelhantes, sejam
aplicadas ao consumismo ou padrão imposto pela sociedade em relação ao belo.
Ao usar o exemplo de “...caso fosse utilizada uma pedra semelhante ao marfim
no prodígio de uma escultura, tais objetos poderiam ser considerados realmente
belos.”, Sócrates deixa claro que a relatividade presente no conceito de belo é o
que torna algo belo ou não.
Ainda sobre o conceito de belo no contexto de Sócrates, “...levando à conclusão
de que o belo não pode ser determinado como aquilo que é útil, vantajoso ou
bom.”, para ele, a utilidade é de deveras importância para algo que se julga
apenas belo, pois, há uma diferença entre o que é belo e o que é O belo. Ao
perguntar para uma criança a diferença, de imediato a resposta dela será apenas
uma só, ademais, ao indagar a diferença e faze-las pensar, em maioria, cada
criança terá uma definição do que é O belo e o que é belo, pois, os conceitos
farão as mesmas lembrarem de coisas diferentes se separados.
Há um trecho do livro que aborda melhor a questão da diferença entre O que é
e “O”:
“O impasse é quebrado
quando Hipias sustenta não observar nenhuma diferença entre dizer o que é belo
e o que é o belo, prometendo responder à questão de modo a não ser refutado
pelo anônimo. Contudo, o sofista apresenta não a ideia do belo, mas sua
apreciação acerca de coisas que considera belas.” P.46
O exemplo de perguntar as duas definições para uma criança é justamente a
vasta oportunidade de se aprender algo novo, pois, as crianças costumam
observar muito e consequentemente, perguntar. Se elas se perguntam o que é o
belo, talvez lembrem de padrões ou coisas impostas por outras pessoas como
“um lugar cheio de rosas” ou “uma pessoa de longos cabelos de cor castanho”,
ademais, haverá uma diferença quando chegar no “o que é belo?”, muitos irão
citar coisas menos complexas como “o meu brinquedo novo” ou “uma roupa de
determinada marca” ou um simples novo aparelho/brinquedo infantil. Todo esse
gancho para chegarmos ao pondo de que o belo é totalmente relativo, sendo útil
ou não, é um aspecto que abrange muitas opiniões e visões de diferentes idades
e tipos.
Para mim, enquanto discente em música e questionado pelo que é belo em
relação a música, os conceitos mais atuais de músicas populares como POP,
KPOP ou INDIE são os que me passam a mente, pois, admiro todo o trabalho de
fundo atrelado a essas produções como arranjos que fazem referencia o tempo
todo aos grandes sucessos do passado e a forma genial de ligarem um ao outro
sem que cada um perca a sua identidade, tornando assim, tudo atrativo. Ainda
enquanto discente em música, ao ser questionado pelo que seria “O belo”,
definitivamente me vem a mente as músicas clássicas que eram populares entre
a nobreza, a sensação que acompanha tal lembrança é exatamente o fictício
histórico de nobreza e música voltados exclusivamente a apreciação, com
grandes arranjos e complexas formações de harmonia.
O belo, para mim, voltado a música está totalmente ligado a sensação do
momento em que estamos inseridos, seja por influência do ambiente e círculo de
amigos ou por influência do momento em nossa vida. É indescritível a sensação
prazerosa e relativamente preocupante de ouvir uma música de ritmo e letra triste
em um dia triste, pois, é como se parte dessa tristeza fosse transformada naquele
momento em uma companhia musical que está existindo exclusivamente para
lhe trazer conforto mesmo que também triste. Num contexto geral e pessoal onde
o belo é tudo aquilo que me faz sentir atraído apenas por ser “belo”, não passa
apenas dessa descrição, entretanto, ao contextualizar o belo e dar-lhe uma
utilidade como “é belo e me serve para determinada função”, o termo ganha um
maior destaque e importância para mim, seja no contexto consumidor ou no
contexto de apreciador.
Enquanto ao belo ser útil, o livro possui um trecho que diz:
“argumento estrategicamente
armado por Sócrates visa mostrar que, apesar de a ideia de bem encontrar-se
associada à de belo, ambos diferem um do outro - nem o belo pode ser
considerado bom nem o bom considerado belo, pois “nem a causa é efeito, nem
o efeito, causa” (Platão, Hípias Maior, 297c), levando à conclusão de que o belo
não pode ser determinado como aquilo que é útil, vantajoso ou bom.” P.52”
É evidente que atrelar a imagem de algo belo ao útil é completamente errônea,
uma vez que se levarmos em consideração que tudo aquilo que é bonito também
deverá ser belo, não existiria a beleza. Não que algo belo e útil não possa existir,
porém, é escasso e exceção. Como um exemplo mais prático e direto, podemos
utilizar a borda dourada de um anel, é algo útil? Definitivamente não há chances
de alguém necessariamente utilizar disso para viver ou para algum beneficio de
saúde, porém, traz para alguns o conceito de beleza, elegância e poder. Uma
simples tomada, mesmo que suja ou enferrujada, funcional, mas visualmente
prejudicada é algo útil? Sim! A necessidade de ter luz em determinados
ambientes é mais importante que um simples interruptor que faz parte apenas
do mecanismo do ambiente.
Trazendo mais uma vez a ótica de uma criança aplicada ao belo e útil, podemos
analisar que o conceito de beleza e funcionalidade/utilidade só começa a ser
usado a partir do momento em que uma criança é instigada a fazer a
diferenciação dos mesmos, pois, para ela até aquele momento apenas a
funcionalidade é o que de fato importa.
O Hípias passeia por diversos momentos sobre os questionamentos em relação
a beleza, ademais, deixa para todos a reflexão principal que está totalmente
atrelada a relatividade que as coisas possuem, sejam elas visões ou contextos
específicos de algo, é de extrema importância que as análises de trechos do livro
sejam bem exploradas para que haja uma compreensão da palavra e significado
“relativo”.

“Jamais aparecerá feio a ninguém de modo algum” (HM, 291b)

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