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XXXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.

ANÁLISE ERGONÔMICA SOBRE A


POSTURA DE MOTORISTAS
PARTICULARES AUTÔNOMOS
Carla Santos de Araujo (Centro Federal de Educação Tecnológica
Celso Suckow da Fonseca - CEFET/RJ (Campus Nova Iguaçu) )
carla.santos.rj@hotmail.com
Domenick Gomes Arias Coutinho (Centro Federal de Educação
Tecnológica Celso Suckow da Fonseca - CEFET/RJ (Campus
Maracanã) )
domenickgarias@gmail.com
Luís Felipe de Souza (Centro Federal de Educação Tecnológica
Celso Suckow da Fonseca - CEFET/RJ (Campus Nova Iguaçu) )
felipe_cjp@hotmail.com
Raynne Suzano de Freitas (Universidade Federal Fluminense )
raynnesuzano@yahoo.com.br
LUIZ PHILLIPE MOTA PESSANHA (UNIVERSIDADE
CANDIDO MENDES (Campos dos Goytacazes) )
luizmpessanha@gmail.com

Atualmente, o número de pessoas executando serviço de motorista


aumentou com o avanço dos aplicativos para celular que prestam essa
comodidade. Dessa forma, surgem muitos motoristas autônomos que
desempenham suas atividades de trabalho sem levar em conta questões
ergonômicas, inclusive com relação a postura que assumem ao dirigir.
Ainda, o uso de aplicativo e consequentemente um smartphone
apresenta novas atribuições para esse trabalhador que reforçam a
necessidade de uma investigação ergonômica. A preocupação com a
postura nos postos de trabalho é um dos focos da ergonomia e com o
aumento do número de trabalhadores na função de motorista leva,
dentre outras coisas, a demanda por avaliação da postura. Com isso, a
presente pesquisa realizou um estudo das condições de trabalho, sob a
ótica da ergonomia física, desses trabalhadores. Para isso foi
realizado um estudo de caso, que fez uso da ferramenta ergonômica
RULA (Rapid Upper Limb Assessment) e consulta aos próprios
trabalhadores através de questionário envolvendo situações sobre
postura ao trabalhar e possíveis reclamações de dores. Foi notado que
há problemas com estes trabalhadores, pois relatam dores em sua
maioria, além da ferramenta RULA também indicar necessidade de
mudanças no posto de trabalho. Algumas melhorias podem ser
tomadas pelo próprio trabalhador na correção de sua postura e
medidas práticas favoráveis, mas ajuda externa no sentido de
orientação também se faz necessária. É preciso ainda algum estudo
futuro que também leve em consideração um maior número de
trabalhadores e também outras abordagens e ferramentas ergonômicas
para complementar os dados apresentados nesse trabalho.

Palavras-chave: Ergonomia, Postura, Motorista, Aplicativo, RULA

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1 Introdução

A ergonomia é reconhecida inicialmente na luta pela saúde do trabalhador contra acidentes e


pela melhoria das condições de trabalho (WISNER, 1996). Ou seja, busca sempre adaptar o
trabalho ao homem. Muitos ainda associam ergonomia apenas a objetos ou mobiliário ditos
“ergonômicos” nos locais de trabalho, conforme é retratado por Abrahão et al. (2009), porém
a ergonomia pode ser aplicada em muitos outros campos.

Assim como nos postos de trabalho para a indústria e projetos de equipamentos que melhoram
relações homem-máquina, o projeto de um veículo automotivo deve envolver não apenas o
bom funcionamento dos componentes físicos como também considerar o usuário como parte
de seu sistema, garantindo assim que necessidades como conforto, segurança e conveniência
sejam atendidas (BHISE, 2012). Um dado preocupante e que também justifica esse artigo é
que motoristas expostos a quatro horas de direção possuem o dobro da possibilidade de sofrer
de dores na região lombar quando comparados a pessoas que passam quatro horas sentadas,
trabalhando em escritórios (KYUNG et al. 2008).

Em se tratando da atividade de direção de veículos automotivos, a falta de uma postura


adequada pode acarretar em alguns problemas específicos que são agravados conforme o
tempo atrás do volante aumenta, como cãibras nos pés, dores na região lombar, torcicolos,
dores na lateral do corpo, na cabeça e nos olhos.
As condições de trabalho as quais motoristas são expostos interferem no estado
psicofisiológico dos mesmos, o que pode resultar em irritabilidade, levando ao
comportamento agressivo na direção; insônia, que pode causar sonolência durante o trabalho;
distúrbios da atenção, essencial para direção segura, para citar alguns fatores (BATTISTON;
CRUZ;HOFFMANN, 2006).
De acordo com Esteves (2015), a evolução tecnológica, notadamente a internet e os telefones
celulares, em conjunto com a mudança de comportamento das pessoas, possibilitaram um
novo serviço que é o transporte de passageiros via aplicativos móveis. Estes serviços se
popularizaram junto com a facilidade no acesso à internet móvel.
Este modelo de prestação de serviço, pode ser caracterizado como transporte particular
autônomo. Para Chahad e Cacciamali (2005), transportadores autônomos como motoristas
que possuem veículo próprio, trabalham para várias empresas e são contratados diretamente
do mercado para viagens isoladas, de forma individualizada. Por se tratar de um serviço
autônomo, no qual o motorista faz seus horários, o trabalho pode se tornar exaustivo, caso a

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pessoa o execute sem pausas adequadas para descanso. Se esses e outros problemas citados
acima não forem respeitados, as condições podem proporcionar fadiga, dores musculares e até
insalubridades no ambiente de trabalho.
Com isso, este estudo tem por objetivo realizar uma análise ergonômica da postura de
motoristas particulares autônomos, com auxílio de ferramentas da ergonomia, visando a
melhoria da qualidade de vida destes trabalhadores.

2 Revisão da literatura

2.1 Ergonomia

Para Abrahão et al. (2009) a ergonomia se relaciona com entendimento das interações entre
sistemas ou elementos e seres humanos a fim de melhorar o bem-estar do homem e o
desempenho geral do sistema. Pode-se dizer que a ergonomia se aplica ao projeto de
máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar segurança, saúde,
conforto e eficiência no trabalho (DUL; WEERDMEESTER, 2004).
Quanto à classificação, de maneira geral, tanto Moraes e Mont`Alvão (2009), como a
Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) e a International Ergonomics Association
(IEA), discorrem sobre os domínios da ergonomia, que são: ergonomia organizacional,
ergonomia cognitiva e ergonomia física.

2.1.1Domínios da ergonomia

A Ergonomia organizacional trata de questões como projeto de trabalho, organização


temporal, trabalho em grupo, teletrabalho e gestão da qualidade dentre outros. Otimiza
sistemas sociotécnicos, regras e processos, conforme menciona Abrahão et al. (2009).
A Ergonomia Cognitiva está diretamente relacionada aos processos nos quais um indivíduo
percebe (input), elabora e comunica (output) a informação para se adaptar ao meio em que
vive. O input está associado aos órgãos dos sentidos que captam estímulos do meio externo.
Esses estímulos de cores, sons, texturas, sabores, odores são processados sob forma de
informações no cérebro, através das percepções do indivíduo. O resultado final de
processamento será observado pelos comportamentos, ações ou movimentos, denominados de
output (WACHOWICZ, 2013).

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A Ergonomia Física está majoritariamente associada a atividades físicas sendo estruturada por
conhecimentos de anatomia, antropometria, biomecânica e fisiologia.
Os pontos mais importantes dela incluem análise das posturas, manipulação de materiais,
movimentos repetitivos, lesões musculoesqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT), projetos de
criação, arranjo e implantação de postos de trabalho, saúde e segurança dos trabalhadores
(SERRANHEIRA, 2010).
Como este trabalho consiste na análise da postura de motoristas particulares autônomos, a
Ergonomia Física terá enfoque principal.

2.2 Ferramentas da Ergonomia Física

Batalha et al. (2008) apresentam conceito de método ergonômico, que usa recursos de
variados campos de conhecimentos para analisar o trabalho. Isso leva a observar a atividade e
utilizar ferramentas de caráter quantitativo ou qualitativo, além da questão da interação entre
homem e elementos do sistema, não se limitando apenas ao posto de trabalho.
Existeum alto número de ferramentas ou métodos disponíveis, conforme menciona Másculo
(2011), mas para cada situação de trabalho pode-se selecionar umaou mais ferramentas
adequadas.
Laperuta (2018) apresenta uma comparação entre diversas ferramentas de ergonomia, entre
elas está o método RULA (Rapid Upper Limb Assessment). Esta ferramenta é classificada
como um método rápido e fácil de usar, que avalia diversos segmentos do corpo humano e seu
resultado é preciso. Além disso, figura entre os primeiros métodos com maior número de
publicações associadas aos métodos ergonômicos.

2.2.1A Ferramenta de Ergonomia RULA -Rapid Upper Limb Assessment

Ferramentas tradicionais e autônomas como RULA podem ser empregadas quando existem
necessidades específicas a serem tratadas ou se há dúvidas de movimento repetitivo (DUFFY,
2008). Conforme McAtamney e Corlett (1993), a ferramenta de ergonomia RULA é um
método de pesquisa desenvolvido para uso em análises ergonômicas sobre locais de trabalho
relacionados aos distúrbios de membros superiores edeve ser utilizado em um contexto de
avaliação ergonômica geral.

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Segundo Másculo (2011), o Método RULA tem como base a observação direta das posturas
adotadas das extremidades superiores (braço, antebraço e mãos), pescoço, ombros, tronco e
pernas, ao longo da execução de uma tarefa.
McAtamney e Corlett (1993), Másculo (2011) e Iida e Guimarães (2016) apresentam a
sistemática de utilização do RULA como uma avaliação que deve ser feita através da
comparação entre postura ergonômica adotada no posto de trabalho real e imagens
esquemáticas previamente estabelecidas de possíveis posturas que podem ser tomadas. Diante
disso, o avaliador deve selecionar imagens, cada uma com sua respectiva pontuação, de
acordo com o mais próximo do caso real em estudo. A Figura 1 ilustra um dos passos.

Figura 1: Exemplo de um dos passos do método RULA.

Fonte: McAtamney e Corlett (1993)

Conforme menciona Másculo (2011), são feitos somatórios com pontuações obtidas nas
avaliações das subdivisões do corpo, incluindo possíveis acréscimos por condições mais
severas e análise específica da forma que atividade é feita, incluindo carga envolvida. O
resultado desse método quando aplicado por completo é a geração de uma pontuação entre 1 e
7 onde o nível de risco é crescente, como mostra a Tabela 1 abaixo.

Tabela 1: Nível de intervenção para os resultados do método RULA.


Nível de ação Pontuação Intervenção
1 1 ou 2 Postura aceitável
Deve-se realizar uma observação.
2 3 ou 4 Podem ser necessárias mudanças.
Deve-se realizar uma investigação.
3 5 ou 6 Devem ser introduzidas mudanças.
4 7 Devem ser introduzidas mudanças imediatamente.
Fonte: McAtamney e Corlett (1993)

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Assim, este métodopropõe-se a determinar, no que diz respeito às posturas assumidas durante
o trabalho, propriedades de intervenção ou necessidade posteriores investigações realizadas
por peritos ou ergonomistas (COLOMBINI; OCCHIPINTI; FANTI, 2005).
O foco desse trabalho é analisar a postura de motoristas particulares autônomos. Para isso,
contará com o auxílio desta ferramenta da ergonomia para realizar a avaliação de risco de
lesão musculoesquelética em geral. Para saber a pontuação final e a intervenção a ser tomada,
foi utilizado o software Ergolândia 6.0, desenvolvido pela FBF Sistemas.

3 Metodologia

O trabalho aqui apresentado baseia-se inicialmente numa revisão bibliográfica sobre


Ergonomia, Saúde e Postura e a Ferramenta de Ergonomia RULA através de livros, artigos e
manuais sobre o assunto de modo a aproximar a linha de análise com a literatura existente e
apontar linhas de investigação, sobre os aspectos ergonômicos acerca dos motoristas
particulares autônomos.
A consulta da literatura, notadamente sobre o método RULA, mostrou a necessidade de coleta
de dados quantitativos, ou seja, mensuráveis, no posto de trabalho.
O levantamento de dados buscando compreender e interpretar determinados comportamentos,
opiniões e expectativas de um grupo concreto de indivíduos, utilizando para isso técnicas
estatísticas, para realizar análise de dados, se caracteriza como uma pesquisa de abordagem
quantitativa (RAMOS; BUSNELLO, 2003).
Sob esta ótica, foi feito um estudo de caso no qual 4 motoristas foram analisados através da
observação no posto de trabalho, e para avaliação foi utilizada a ferramenta ergonômica
RULA. Foi feito também um questionário aplicado aos motoristas por meio de uma
ferramenta disponibilizada pelo Google chamada Google Forms. Este questionário teve por
objetivo: caracterizar o respondente, levantar informações sobre rotina da atividade/trabalho
e identificar possíveis regiões de dor/desconforto provenientes do trabalho.
Quanto à utilização da ferramenta ergonômica RULA ela se encontra disponível no software
Ergolândia 6.0, utilizado para análise, e foi feito através da comparação entre o posto de
trabalho real dos motoristas com as situações exemplificadas no próprio programa através de
imagens. Para decidir a angulação que melhor se encaixa na situação, foram feitas
observações da postura dos trabalhadores enquanto o mesmo executava a atividade. Assim,
foi possível escolher a opção no software que melhor se enquadra na situação observada.

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Ao final, o programa gera pontuação do nível de intervenção, exatamente conforme já
mencionado na Tabela 1, que evidencia o risco da execução de uma determinada tarefa para
saúde do trabalhador e qual grau de intervenção da mesma.
Para análise desses dados obtidos pela ferramenta ergonômica RULA e pelo questionário, são
utilizados conhecimentos em engenharia de produção, na área de Ergonomia e de
Probabilidade e Estatística.

4 Estudos de caso

O presente estudo de caso é composto por três etapas. A primeira é a análise dos resultados
ilustradas em gráficos com as respostas do questionário geral que foram obtidas junto a 30
motoristas (incluindo os 4 que foram selecionados para a avaliação pelo RULA) por meio da
ferramenta Google Forms. A aplicação deste questionário teve duração de 2 meses com início
em setembro e término em outubro de 2018. Posteriormente, serão apresentados resultados da
análise via ferramenta ergonômica (RULA). E, por fim, propostas de melhoria para os
problemas relatados nos tópicos acima.

4.1 Análise dos dados do questionário

Inicialmente, pretendeu-se entender um pouco sobre a jornada de trabalho desses motoristas.


O surgimento destes aplicativos é relativamente recente, porém, essa profissão já cresceu
consideravelmente. Por isso, o tempo de experiência nessa profissão não é muito alto. Como
mostra a Figura 2, apenas 13,3 % dos entrevistados tem mais de 3 anos de experiência como
motorista autônomo.

Figura 2: Tempo na profissão

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Fonte: Autores

Diante disso, na Figura 3 é ilustrado quantos dias trabalham por semana e na Figura 4 quantas
horas são trabalhadas por dia.

Figura 3: Dias trabalhados na semana

Fonte: Autores

Figura 4: horas trabalhadas por dia

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Fonte: Autores

Na Figura 3, pode-se notar que cerca de 46,7% dos entrevistados trabalham entre 4 e 6 dias
semanais e 40% trabalham a semana toda. Já analisando resultados da Figura 4, nota-se que
40% dos motoristas trabalham em uma jornada de até 8 horas por dia, o que aproxima da
prática na maioria das empresas brasileiras. Nesse levantamento, nenhum dos motoristas
entrevistados tem rotina de trabalho superior a 13 horas por dia. Esse período de trabalho
requer um tempo maior de descanso durante a jornada de trabalho.Como grande parte dos
entrevistados trabalham mais de 4 dias na semana, é necessário que se tenha um tempo para
descanso. Porém, apenas 13,3% dos entrevistados fazem essas pausas e 46,7% desses
entrevistados as realizam principalmente na hora do almoço/jantar o que é correto.
Adicionalmente, perguntou-se sobre a prática de exercícios de alongamento e 60% dos
motoristas nunca fazem exercícios de relaxamento ou alongamento. Isso faz com que esses
trabalhadores sejam mais propensos a sentir dores e desconfortos musculares, visto a carga de
trabalho semanal. Na Figura 5, obtém-se as respostas da pergunta: “Quais partes do corpo
você costuma sentir dores após trabalhar?”

Figura 5: Partes do corpo onde os trabalhadores sentem dores

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Fonte: Autores

De acordo com a Figura 5, as partes onde há bastante a presença de dores são: coluna (53,3%
dos entrevistados), pescoço (40% dos entrevistados) e pés (33,3% dos entrevistados). Tais
dores podem ser causadas por conta das regulagens inadequadas que o automóvel proporciona
ou falta delas. Porém, ao serem questionados sobre possibilidade de regular o volante e a
satisfação das regulagens de bancos e pedais, as respostas apontam que mais de 50% dos
entrevistados tem a regulagem do volante e não demonstraram insatisfação respeito de bancos
e pedais, conforme os dados apresentados. Assim, supõe que a afirmação sobre o problema
ser no automóvel em si pode não ser verdadeira.
Logo, tais dores relatadas podem ser causadas graças à postura inadequada ao dirigir. Esta
afirmação pode ser validada com a Figura 6, onde a pergunta foi: “Você acha que essas dores
são por conta da sua postura inadequada ao dirigir ?”

Figura 6: Dores por causa da postura inadequada

Fonte: Autores

Além disso, a carga de trabalho sem intervalos para fazer alongamentos também pode
influenciar no surgimento das dores relatadas. Essa afirmação é evidenciada na Figura 7, a
respeito da opinião dos entrevistados sobre a influência da alta carga de trabalho no
surgimento das dores.

Figura 7: Influência da carga de trabalho nas dores

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Fonte: Autores

Outro problema que pode contribuir para essas dores é o uso excessivo do celular. Este
aparelho é o meio pelo qual os motoristas são requisitados pelos passageiros e utilizados para
seguir para o destino do cliente, com o auxílio do GPS. Infelizmente, ele nem sempre fica em
posição condizente com a postura ideal para manuseio, tal qual os instrumentos originais do
carro. A Figura 8 mostra a frequência que esses motoristas mexem no celular ao dirigir.

Figura 8: Frequência do manuseio do celular enquanto dirige

Fonte: Autores

Mesmo não sendo algo de muito incômodo para alguns motoristas, este aparelho pode
colaborar para o surgimento de dores nos braços e ombros visto que é necessário movimentá-
los muitas vezes para fazer manuseio do celular, além da própria movimentação do tronco em
algumas situações que também pode contribuir para dores.

4.2 Ferramenta ergonômica

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Como dito anteriormente, a ferramenta ergonômica utilizada foi o RULA. Esta análise foi
feita através do programa Ergolândia, com quatro motoristas do aplicativo. As Figuras abaixo
ilustram o motorista analisado e seu respectivo resultado obtido através do software.

Figura 10: Postura assumida pelo motorista 1 e sua pontuação no método RULA

Fonte: Autores e Ergolândia 6.0

Figura 11: Postura assumida pelo motorista 2 e sua pontuação no método RULA

Fonte: Autores e Ergolândia 6.0

Figura 12: Postura assumida pelo motorista 3 e sua pontuação no método RULA

Fonte: Autores e Ergolândia 6.0

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Figura 13: Postura assumida pelo motorista 4 e sua pontuação no método RULA

Fonte: Autores e Ergolândia 6.0

Conforme pode-se observar, os motoristas apresentam algumas pequenas diferenças em


relação a postura, porém alguns fatores se repetem. A posição do braço não é favorável para
nenhum deles, ultrapassando 45° em relação à situação de repouso. A rotação do pescoço
também é presente já que é indispensável o uso do retrovisor ao dirigir e o punho também não
permanece neutro ao girar o volante ou utilizar o câmbio. Por fim a posição estática por mais
de um minuto é comum a todos.
Esses fatores em comum dos motoristas analisados foram suficientes para uma pontuação
preocupante e todos obtiveram o mesmo nível final 2. Isto significa que é necessária
observação para que possíveis mudanças possam ser tomadas e também corrobora com
problemas apontados no questionário.

4.3 Propostas de melhorias

Como aqui apontado, a maioria dos motoristas disse sentir dores ao longo de sua jornada de
trabalho. Isto pode ser explicado muitas vezes pelas posturas incorretas, alta carga de trabalho
e pela falta de alongamentos e/ou movimentação natural dos mesmos ao longo de seu dia de
trabalho.
Com isso, uma recomendação que visa à melhoria da saúde desses trabalhadores seria realizar
atividades físicas principalmente antes da jornada de trabalho. Assim, será possível alongar
toda musculatura que será utilizada ao longo de seu dia. Além disso, fazer pausas para
descanso e alongamentos também é necessário em busca da eliminação das dores musculares.
Quanto a ferramenta RULA, os resultados obtidos através da análise postural servem como
base para definir o nível de ação a ser tomado. Para a atividade em questão, a pontuação final

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do método foi quatro. Isso significa que a atividade deve ser investigada e mudanças podem
ser necessárias.
Logo, uma mudança que pode ser tomada é a correção, se necessário, da postura ao dirigir.
Além disso, como a regulagem dos bancos, volante e a posição dos pedais são favoráveis de
acordo com o questionário, o ajuste correto também é uma medida imprescindível em busca
da melhoria das condições de trabalho para esses motoristas.
Para o ajuste correto do banco, o manual do proprietário relativo ao modelo de carro indica
como realizar tais regulagens. Além disso, há vários manuais elaborados por Especialistas da
Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET). Estes manuais podem ser
facilmente consultados na internet.

5 Conclusão

O presente trabalho teve como objetivo central realizar uma análise da postura dos motoristas
de aplicativo na região metropolitana do Rio de Janeiro. Para isso, foi utilizada a ferramenta
ergonômica RULA e o questionário, que ajudou na caracterização e identificação dos
problemas advindos dos motoristas que foram analisados.
Em relação a quantidade de dias destinados ao trabalho, a maioria dos motoristas informou
que trabalhava de 4 a 7 dias, que o turno de trabalho era de 5 a 8 horas e que realizavam
pausas para descanso. Porém apenas 13% dos trabalhadores relataram que destinavam um
tempo durante seu serviço para fazer exercícios de relaxamento ou alongamento.Como esses
usuários passam a maior parte do seu dia numa posição estática (sentada), exercícios de
alongamento e relaxamento dos músculos são cruciais para se evitar dores musculares.
Trabalhadores que permanecem longos períodos na posição estática, como digitadores e
motoristas, acabam proporcionando maior sobrecarga na região dos membros superiores e
pescoço conforme ensinam Abrahão et al. (2009)
Quanto a presença de dores pelo corpo, a maior parte dos motoristas relatou que sente mais
dores na coluna e no pescoço, porém eles não demonstraram insatisfação com as posições dos
pedais e regulagens dos bancos e possuem regulagem do volante em sua maioria. Logo, essas
dores não estão relacionadas com a disposição dos itens originais do carro, como bancos,
pedais e volante.
Eliminando esta alternativa, voltou-se o olhar para como o motorista se comporta quando
dirige em termos de postura. Os resultados do questionário para esta situação validaram esta
alternativa, já que os entrevistados disseram que essas dores estavam relacionadas a más

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posturas ao dirigir adotadas por eles, por causa da carga de trabalho e também certo incômodo
por causa do uso de celular.
A aplicação da ferramenta da ergonomia física RULA também apresentou como resultado a
necessidade de observação e possíveis mudanças no posto de trabalho, o que ratificou o que
consta nas respostas do questionário.
Conforme menciona Másculo (2011), nenhum posto de trabalho ideal do ponto de vista
ergonômico mantém uma postura estática. Abrahão et al. (2009) mostram ainda que o posto
precisa ser planejado e o que for necessário ser manuseado deve estar em uma zona de
alcance confortável que não comprometa a saúde do trabalhador. Infelizmente a fixação do
celular no vidro do carro nem sempre segue essa premissa.
Vale ressaltar que a saúde ocupacional do trabalhador é resultado de sua própria postura,
ações e posições que realiza ao executar uma atividade específica (GOMES, 2010).
Conclui-se então a partir do estudo de caso que é necessário a implantação de programas de
orientações, realizadas por profissionais da saúde e talvez pelas próprias empresas donas dos
aplicativos, visando à correção de posturas inadequadas e na melhoria das condições de saúde
em geral destes trabalhadores durante seu dia a dia de trabalho.
Além disso, fazer exercícios leves, como andar, caminhar e ginástica laboral são algumas
medidas por parte do próprio trabalhador que são benéficas. Recomenda-se também para
quem trabalha sentado levantar-se por 15 minutos após 2 horas de atividade. Em relação ao
assento, uma medida é utilizar a melhor adequação do mesmo, procurando uma posição
correta e confortável que não seja prejudicial ao corpo.
O presente trabalho possui limitação proveniente do método quantitativo. Então, como
sugestão para futuros trabalhos, recomenda-se ampliar a ferramenta utilizada para
investigação (questionário) para aproximar a análise das particularidades existentes na
atividade dos motoristas, abordando nesse sentido o trabalho real desse profissional.

Referências

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