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“Os desafios da engenharia de produção para uma gestão inovadora da Logística e Operações”
Santos, São Paulo, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2019.
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1 Introdução
Assim como nos postos de trabalho para a indústria e projetos de equipamentos que melhoram
relações homem-máquina, o projeto de um veículo automotivo deve envolver não apenas o
bom funcionamento dos componentes físicos como também considerar o usuário como parte
de seu sistema, garantindo assim que necessidades como conforto, segurança e conveniência
sejam atendidas (BHISE, 2012). Um dado preocupante e que também justifica esse artigo é
que motoristas expostos a quatro horas de direção possuem o dobro da possibilidade de sofrer
de dores na região lombar quando comparados a pessoas que passam quatro horas sentadas,
trabalhando em escritórios (KYUNG et al. 2008).
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pessoa o execute sem pausas adequadas para descanso. Se esses e outros problemas citados
acima não forem respeitados, as condições podem proporcionar fadiga, dores musculares e até
insalubridades no ambiente de trabalho.
Com isso, este estudo tem por objetivo realizar uma análise ergonômica da postura de
motoristas particulares autônomos, com auxílio de ferramentas da ergonomia, visando a
melhoria da qualidade de vida destes trabalhadores.
2 Revisão da literatura
2.1 Ergonomia
Para Abrahão et al. (2009) a ergonomia se relaciona com entendimento das interações entre
sistemas ou elementos e seres humanos a fim de melhorar o bem-estar do homem e o
desempenho geral do sistema. Pode-se dizer que a ergonomia se aplica ao projeto de
máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar segurança, saúde,
conforto e eficiência no trabalho (DUL; WEERDMEESTER, 2004).
Quanto à classificação, de maneira geral, tanto Moraes e Mont`Alvão (2009), como a
Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) e a International Ergonomics Association
(IEA), discorrem sobre os domínios da ergonomia, que são: ergonomia organizacional,
ergonomia cognitiva e ergonomia física.
2.1.1Domínios da ergonomia
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A Ergonomia Física está majoritariamente associada a atividades físicas sendo estruturada por
conhecimentos de anatomia, antropometria, biomecânica e fisiologia.
Os pontos mais importantes dela incluem análise das posturas, manipulação de materiais,
movimentos repetitivos, lesões musculoesqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT), projetos de
criação, arranjo e implantação de postos de trabalho, saúde e segurança dos trabalhadores
(SERRANHEIRA, 2010).
Como este trabalho consiste na análise da postura de motoristas particulares autônomos, a
Ergonomia Física terá enfoque principal.
Batalha et al. (2008) apresentam conceito de método ergonômico, que usa recursos de
variados campos de conhecimentos para analisar o trabalho. Isso leva a observar a atividade e
utilizar ferramentas de caráter quantitativo ou qualitativo, além da questão da interação entre
homem e elementos do sistema, não se limitando apenas ao posto de trabalho.
Existeum alto número de ferramentas ou métodos disponíveis, conforme menciona Másculo
(2011), mas para cada situação de trabalho pode-se selecionar umaou mais ferramentas
adequadas.
Laperuta (2018) apresenta uma comparação entre diversas ferramentas de ergonomia, entre
elas está o método RULA (Rapid Upper Limb Assessment). Esta ferramenta é classificada
como um método rápido e fácil de usar, que avalia diversos segmentos do corpo humano e seu
resultado é preciso. Além disso, figura entre os primeiros métodos com maior número de
publicações associadas aos métodos ergonômicos.
Ferramentas tradicionais e autônomas como RULA podem ser empregadas quando existem
necessidades específicas a serem tratadas ou se há dúvidas de movimento repetitivo (DUFFY,
2008). Conforme McAtamney e Corlett (1993), a ferramenta de ergonomia RULA é um
método de pesquisa desenvolvido para uso em análises ergonômicas sobre locais de trabalho
relacionados aos distúrbios de membros superiores edeve ser utilizado em um contexto de
avaliação ergonômica geral.
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Segundo Másculo (2011), o Método RULA tem como base a observação direta das posturas
adotadas das extremidades superiores (braço, antebraço e mãos), pescoço, ombros, tronco e
pernas, ao longo da execução de uma tarefa.
McAtamney e Corlett (1993), Másculo (2011) e Iida e Guimarães (2016) apresentam a
sistemática de utilização do RULA como uma avaliação que deve ser feita através da
comparação entre postura ergonômica adotada no posto de trabalho real e imagens
esquemáticas previamente estabelecidas de possíveis posturas que podem ser tomadas. Diante
disso, o avaliador deve selecionar imagens, cada uma com sua respectiva pontuação, de
acordo com o mais próximo do caso real em estudo. A Figura 1 ilustra um dos passos.
Conforme menciona Másculo (2011), são feitos somatórios com pontuações obtidas nas
avaliações das subdivisões do corpo, incluindo possíveis acréscimos por condições mais
severas e análise específica da forma que atividade é feita, incluindo carga envolvida. O
resultado desse método quando aplicado por completo é a geração de uma pontuação entre 1 e
7 onde o nível de risco é crescente, como mostra a Tabela 1 abaixo.
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Assim, este métodopropõe-se a determinar, no que diz respeito às posturas assumidas durante
o trabalho, propriedades de intervenção ou necessidade posteriores investigações realizadas
por peritos ou ergonomistas (COLOMBINI; OCCHIPINTI; FANTI, 2005).
O foco desse trabalho é analisar a postura de motoristas particulares autônomos. Para isso,
contará com o auxílio desta ferramenta da ergonomia para realizar a avaliação de risco de
lesão musculoesquelética em geral. Para saber a pontuação final e a intervenção a ser tomada,
foi utilizado o software Ergolândia 6.0, desenvolvido pela FBF Sistemas.
3 Metodologia
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Ao final, o programa gera pontuação do nível de intervenção, exatamente conforme já
mencionado na Tabela 1, que evidencia o risco da execução de uma determinada tarefa para
saúde do trabalhador e qual grau de intervenção da mesma.
Para análise desses dados obtidos pela ferramenta ergonômica RULA e pelo questionário, são
utilizados conhecimentos em engenharia de produção, na área de Ergonomia e de
Probabilidade e Estatística.
4 Estudos de caso
O presente estudo de caso é composto por três etapas. A primeira é a análise dos resultados
ilustradas em gráficos com as respostas do questionário geral que foram obtidas junto a 30
motoristas (incluindo os 4 que foram selecionados para a avaliação pelo RULA) por meio da
ferramenta Google Forms. A aplicação deste questionário teve duração de 2 meses com início
em setembro e término em outubro de 2018. Posteriormente, serão apresentados resultados da
análise via ferramenta ergonômica (RULA). E, por fim, propostas de melhoria para os
problemas relatados nos tópicos acima.
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Fonte: Autores
Diante disso, na Figura 3 é ilustrado quantos dias trabalham por semana e na Figura 4 quantas
horas são trabalhadas por dia.
Fonte: Autores
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Fonte: Autores
Na Figura 3, pode-se notar que cerca de 46,7% dos entrevistados trabalham entre 4 e 6 dias
semanais e 40% trabalham a semana toda. Já analisando resultados da Figura 4, nota-se que
40% dos motoristas trabalham em uma jornada de até 8 horas por dia, o que aproxima da
prática na maioria das empresas brasileiras. Nesse levantamento, nenhum dos motoristas
entrevistados tem rotina de trabalho superior a 13 horas por dia. Esse período de trabalho
requer um tempo maior de descanso durante a jornada de trabalho.Como grande parte dos
entrevistados trabalham mais de 4 dias na semana, é necessário que se tenha um tempo para
descanso. Porém, apenas 13,3% dos entrevistados fazem essas pausas e 46,7% desses
entrevistados as realizam principalmente na hora do almoço/jantar o que é correto.
Adicionalmente, perguntou-se sobre a prática de exercícios de alongamento e 60% dos
motoristas nunca fazem exercícios de relaxamento ou alongamento. Isso faz com que esses
trabalhadores sejam mais propensos a sentir dores e desconfortos musculares, visto a carga de
trabalho semanal. Na Figura 5, obtém-se as respostas da pergunta: “Quais partes do corpo
você costuma sentir dores após trabalhar?”
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Fonte: Autores
De acordo com a Figura 5, as partes onde há bastante a presença de dores são: coluna (53,3%
dos entrevistados), pescoço (40% dos entrevistados) e pés (33,3% dos entrevistados). Tais
dores podem ser causadas por conta das regulagens inadequadas que o automóvel proporciona
ou falta delas. Porém, ao serem questionados sobre possibilidade de regular o volante e a
satisfação das regulagens de bancos e pedais, as respostas apontam que mais de 50% dos
entrevistados tem a regulagem do volante e não demonstraram insatisfação respeito de bancos
e pedais, conforme os dados apresentados. Assim, supõe que a afirmação sobre o problema
ser no automóvel em si pode não ser verdadeira.
Logo, tais dores relatadas podem ser causadas graças à postura inadequada ao dirigir. Esta
afirmação pode ser validada com a Figura 6, onde a pergunta foi: “Você acha que essas dores
são por conta da sua postura inadequada ao dirigir ?”
Fonte: Autores
Além disso, a carga de trabalho sem intervalos para fazer alongamentos também pode
influenciar no surgimento das dores relatadas. Essa afirmação é evidenciada na Figura 7, a
respeito da opinião dos entrevistados sobre a influência da alta carga de trabalho no
surgimento das dores.
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Fonte: Autores
Outro problema que pode contribuir para essas dores é o uso excessivo do celular. Este
aparelho é o meio pelo qual os motoristas são requisitados pelos passageiros e utilizados para
seguir para o destino do cliente, com o auxílio do GPS. Infelizmente, ele nem sempre fica em
posição condizente com a postura ideal para manuseio, tal qual os instrumentos originais do
carro. A Figura 8 mostra a frequência que esses motoristas mexem no celular ao dirigir.
Fonte: Autores
Mesmo não sendo algo de muito incômodo para alguns motoristas, este aparelho pode
colaborar para o surgimento de dores nos braços e ombros visto que é necessário movimentá-
los muitas vezes para fazer manuseio do celular, além da própria movimentação do tronco em
algumas situações que também pode contribuir para dores.
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Como dito anteriormente, a ferramenta ergonômica utilizada foi o RULA. Esta análise foi
feita através do programa Ergolândia, com quatro motoristas do aplicativo. As Figuras abaixo
ilustram o motorista analisado e seu respectivo resultado obtido através do software.
Figura 10: Postura assumida pelo motorista 1 e sua pontuação no método RULA
Figura 11: Postura assumida pelo motorista 2 e sua pontuação no método RULA
Figura 12: Postura assumida pelo motorista 3 e sua pontuação no método RULA
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Figura 13: Postura assumida pelo motorista 4 e sua pontuação no método RULA
Como aqui apontado, a maioria dos motoristas disse sentir dores ao longo de sua jornada de
trabalho. Isto pode ser explicado muitas vezes pelas posturas incorretas, alta carga de trabalho
e pela falta de alongamentos e/ou movimentação natural dos mesmos ao longo de seu dia de
trabalho.
Com isso, uma recomendação que visa à melhoria da saúde desses trabalhadores seria realizar
atividades físicas principalmente antes da jornada de trabalho. Assim, será possível alongar
toda musculatura que será utilizada ao longo de seu dia. Além disso, fazer pausas para
descanso e alongamentos também é necessário em busca da eliminação das dores musculares.
Quanto a ferramenta RULA, os resultados obtidos através da análise postural servem como
base para definir o nível de ação a ser tomado. Para a atividade em questão, a pontuação final
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do método foi quatro. Isso significa que a atividade deve ser investigada e mudanças podem
ser necessárias.
Logo, uma mudança que pode ser tomada é a correção, se necessário, da postura ao dirigir.
Além disso, como a regulagem dos bancos, volante e a posição dos pedais são favoráveis de
acordo com o questionário, o ajuste correto também é uma medida imprescindível em busca
da melhoria das condições de trabalho para esses motoristas.
Para o ajuste correto do banco, o manual do proprietário relativo ao modelo de carro indica
como realizar tais regulagens. Além disso, há vários manuais elaborados por Especialistas da
Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET). Estes manuais podem ser
facilmente consultados na internet.
5 Conclusão
O presente trabalho teve como objetivo central realizar uma análise da postura dos motoristas
de aplicativo na região metropolitana do Rio de Janeiro. Para isso, foi utilizada a ferramenta
ergonômica RULA e o questionário, que ajudou na caracterização e identificação dos
problemas advindos dos motoristas que foram analisados.
Em relação a quantidade de dias destinados ao trabalho, a maioria dos motoristas informou
que trabalhava de 4 a 7 dias, que o turno de trabalho era de 5 a 8 horas e que realizavam
pausas para descanso. Porém apenas 13% dos trabalhadores relataram que destinavam um
tempo durante seu serviço para fazer exercícios de relaxamento ou alongamento.Como esses
usuários passam a maior parte do seu dia numa posição estática (sentada), exercícios de
alongamento e relaxamento dos músculos são cruciais para se evitar dores musculares.
Trabalhadores que permanecem longos períodos na posição estática, como digitadores e
motoristas, acabam proporcionando maior sobrecarga na região dos membros superiores e
pescoço conforme ensinam Abrahão et al. (2009)
Quanto a presença de dores pelo corpo, a maior parte dos motoristas relatou que sente mais
dores na coluna e no pescoço, porém eles não demonstraram insatisfação com as posições dos
pedais e regulagens dos bancos e possuem regulagem do volante em sua maioria. Logo, essas
dores não estão relacionadas com a disposição dos itens originais do carro, como bancos,
pedais e volante.
Eliminando esta alternativa, voltou-se o olhar para como o motorista se comporta quando
dirige em termos de postura. Os resultados do questionário para esta situação validaram esta
alternativa, já que os entrevistados disseram que essas dores estavam relacionadas a más
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posturas ao dirigir adotadas por eles, por causa da carga de trabalho e também certo incômodo
por causa do uso de celular.
A aplicação da ferramenta da ergonomia física RULA também apresentou como resultado a
necessidade de observação e possíveis mudanças no posto de trabalho, o que ratificou o que
consta nas respostas do questionário.
Conforme menciona Másculo (2011), nenhum posto de trabalho ideal do ponto de vista
ergonômico mantém uma postura estática. Abrahão et al. (2009) mostram ainda que o posto
precisa ser planejado e o que for necessário ser manuseado deve estar em uma zona de
alcance confortável que não comprometa a saúde do trabalhador. Infelizmente a fixação do
celular no vidro do carro nem sempre segue essa premissa.
Vale ressaltar que a saúde ocupacional do trabalhador é resultado de sua própria postura,
ações e posições que realiza ao executar uma atividade específica (GOMES, 2010).
Conclui-se então a partir do estudo de caso que é necessário a implantação de programas de
orientações, realizadas por profissionais da saúde e talvez pelas próprias empresas donas dos
aplicativos, visando à correção de posturas inadequadas e na melhoria das condições de saúde
em geral destes trabalhadores durante seu dia a dia de trabalho.
Além disso, fazer exercícios leves, como andar, caminhar e ginástica laboral são algumas
medidas por parte do próprio trabalhador que são benéficas. Recomenda-se também para
quem trabalha sentado levantar-se por 15 minutos após 2 horas de atividade. Em relação ao
assento, uma medida é utilizar a melhor adequação do mesmo, procurando uma posição
correta e confortável que não seja prejudicial ao corpo.
O presente trabalho possui limitação proveniente do método quantitativo. Então, como
sugestão para futuros trabalhos, recomenda-se ampliar a ferramenta utilizada para
investigação (questionário) para aproximar a análise das particularidades existentes na
atividade dos motoristas, abordando nesse sentido o trabalho real desse profissional.
Referências
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CHAHAD, J. P. Z; CACCIAMALI, M. C. As transformações estruturais do setor de
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