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LEGISLAÇÃO

PROF. SVETLANA RIBEIRO

conteúdo, conceitos e processos e organizados em 3.3. EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL


unidades temáticas.
As muitas propostas educacionais postas em prática,
As unidades temáticas determinam objetos de desde o século XX, trazem como conceito pleno da
conhecimento para todo o Ensino Fundamental, educação a formação e desenvolvimento integral do ser
ajustando as especificidades dos diferentes humano. Os princípios políticos e filosóficos do conceito
componentes curriculares. Os objetos de de Educação Integral inscrevem-se no espírito
conhecimentos estão atrelados às habilidades que, humanista do século XIX, que concebem o ser humano
por sua vez, expressam aprendizagens que precisam ser como um “ser total”, preconizando uma educação que
garantidas aos estudantes nos variados contextos integre suas múltiplas dimensões – intelectual, afetiva,
escolares. física e moral. É sob esse novo olhar que surge a
Pedagogia da Escola Nova, compreendendo o indivíduo
É importante explicar que as habilidades não com um ser único, que vive e interage em um mundo
determinam ações ou condutas esperadas do professor, dinâmico.
nem influenciam a opção por abordagens ou
metodologias. Essas escolhas devem ser pensadas no No Brasil, essa tendência é implementada a partir da
âmbito do currículo e dos projetos pedagógicos, surgidos década de 20, através do Manifesto dos Pioneiros da
no chão da escola, considerando a realidade de cada Educação (1932), que acreditava fortemente no poder
instituição escolar, o contexto e as características dos da educação para moldar, unificar e civilizar a sociedade
seus estudantes. brasileira tendo em vista o progresso e o
desenvolvimento econômico. As experiências da Escola
Nos quadros que apresentam as unidades temáticas, os Nova, propostas por Anísio Teixeira (1969), foram
objetos de conhecimento e as habilidades estabelecidas pontuais no país, mas emergiram em todo o mundo para
para cada ano, cada habilidade é identificada por um chamar a atenção da sociedade sobre o papel e as
código alfanumérico conforme descrição abaixo: possibilidades da educação, sem reduzi-la a mera
instrução escolar.

Entretanto, com a Política do Estado Novo e o período


3.2.1. Quadro Alfanumérico da BNCC:
ditatorial no Brasil, esses ideais ficaram adormecidos. A
partir da Constituição Federal (1988), em que se
estabelece a redemocratização do país, é fortalecida a
percepção da educação como um direito social
fundamental, imprescindível para a conquista das
mudanças sociais e políticas rumo à construção de um
país democrático e justo. Estabeleceu-se, ainda, uma
ampla rede de proteção à criança e ao adolescente,
regulamentada pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente-ECA (1990).

A educação integral ganha outra dimensão e caráter,


refletidos na LDBEN (1996) e no Plano Nacional de
Educação (2001-2010), que fazem o indicativo do
aumento progressivo da jornada escolar para 07 (sete)
horas diárias como horizonte da política pública
3.2.2. Quadro Alfanumérico do Ensino educacional, um avanço significativo para diminuir as
Fundamental no Município de Jaboatão dos desigualdades sociais e ampliar democraticamente as
Guararapes: oportunidades de aprendizagem. Além dos marcos
legais, destacam-se avanços educacionais como a quase
universalização do acesso ao Ensino Fundamental para
praticamente toda a população de 7 a 14 anos e
obrigatoriedade da educação para a faixa etária de 4 a
17 anos. Segundo a Pesquisa Nacional de

Amostragem Domiciliar (PNAD), realizada, em 2009,


apenas 63,4% dos jovens concluem o ensino
fundamental, o que significa que a dita universalização
tem se revelado apenas no acesso e não na permanência
nem num aprendizado de qualidade. Essas conquistas
foram significativas e se revelaram como condições
favoráveis ao movimento pela educação integral no
Brasil. Porém, à medida que a educação se tornou uma
política de Estado, o desenvolvimento dessa forma
integral restringiu-se à universalização e à preparação
para o mundo do trabalho. Com isso, esvaziou-se a
noção de formação integral, tomada, então, como um
privilégio destinado a poucos.

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Em 2004, o Brasil passa a viver um contexto político e articulações e conflitos entre sujeitos da política e como
social favorável ao debate da Educação Integral com o resultado da absorção de influências de políticas
demonstrações explícitas a favor da agenda e da contemporâneas nos âmbitos nacional (o Programa Novo
implementação de políticas de educação integral em Mais Educação) e estadual (o Programa de Educação
tempo integral ou educação integral em jornada Integral), como de concepções e experiências históricas
ampliada: Conferência Nacional de Educação, Conselho de formação integral humana segundo a vertente liberal,
Nacional de Secretários Estaduais de Educação, a União que no Brasil teve como expoente o Manifesto dos
Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, a União Pioneiros da Educação Nova (1932) - um marco no país
Nacional dos Conselhos Municipais de Educação, a para o debate da educação como direito e as práticas de
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, educação integral propostas por Anísio Teixeira (1969).
as universidades públicas, além da Emenda
Constitucional 134/07, que trazia como proposição a De acordo com a experiência de educação adquirida, o
universalização da jornada diária de 7 (sete) horas na município de Jaboatão dos Guararapes, no ano de 2013,
escola fundamental, em um período de dez anos organizou-se e implantou, de forma gradativa, as
(Caderno: Bairro-Escola, 2007). Escolas de Tempo Integral - ETI. No ano de 2016, após
um período de descontinuidade na liberação de recursos
Em 2007, o Ministério da Educação - MEC no âmbito do financeiros da União para o Programa Mais Educação, já
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) cria o existiam 10 (dez) Escolas de Tempo Integral
Programa Mais Educação – PME (atualmente, Novo Mais implantadas no município, com sua proposta de trabalho
Educação - PNME) realizado por meio de parcerias entre diferenciada.
a esfera federal, governos estaduais e municipais para
propiciar o aumento da jornada escolar para 07 horas Foi instituída nessas escolas uma nova Matriz de
diárias a um número cada vez maior de estudantes. A Referência Curricular (SME/2016), que contempla, em
legislação, mais recente do Programa (2010), destaca sua carga horária, os saberes da base legal (áreas de
como princípios da educação integral: “a articulação dos conhecimento dos componentes curriculares), como
componentes curriculares com diferentes campos de também outros saberes instituídos na parte diversificada
conhecimento e práticas socioculturais; “a constituição dessa Matriz (distribuídos por eixos temáticos
de territórios educativos para o desenvolvimento da vivenciados nas atividades complementares). Essa
educação integral”; “a integração entre as políticas construção busca uma educação integral baseada nos 04
educacionais e sociais, em interlocução com as (quatro) pilares propostos no Relatório da Organização
comunidades escolares”; “a afirmação da cultura dos das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
direitos humanos” (Caderno Bairro-Escola, 2007). Cultura (UNESCO, 2010), na qual garante ao estudante
o direito de desenvolver suas competências e
A experiência da Educação Integral própria no município habilidades para conhecer, conviver, ser e produzir
do Jaboatão dos Guararapes foi influenciada pelo no mundo atual.
Programa Mais Educação (Novo Mais Educação), que em
2013 alcançava quase a totalidade de escolas do Ensino Tendo o estudante como a razão do processo educativo
Fundamental. Na época, era difundido que os recursos e acreditando que é preciso cuidar de sua formação,
financeiros e as orientações do Programa auxiliá-lo no seu desenvolvimento integral, as ETIs
potencializavam estrutural e pedagogicamente as buscam garantir não apenas a permanência do
escolas, promovendo novos olhares sobre o processo estudante na instituição de ensino, durante todo o dia,
educativo. mas, também, a realização de atividades que possam
reforçar e complementar o processo de ensino-
Frente a esse cenário, colocou-se em pauta na Secretaria aprendizagem. No intuito de pensar as práticas
Municipal de Educação a criação de um programa de educativas de forma planejada e coletiva, a Instrução
escolas de tempo integral próprio do município. Uma Normativa Nº01/2019, gestores, supervisores escolares
equipe da Secretaria de Educação construiu a primeira e professores realizam no espaço escolar a formação em
minuta do Programa de Escolas de Tempo Integral do serviço, havendo, assim, uma readequação da jornada
Jaboatão dos Guararapes e, depois de vários encontros escolar ampliada e a vivência cotidiana das atividades
- contando com a participação de vários atores políticos complementares dos Eixos Temáticos da Matriz de
- chegou-se à versão final do programa, com o perfil de Referência Curricular.
educação integral para além do tempo integral, tendo
como direcionamento a ampliação e a diversificação A partir da Instrução Normativa Nº02/2019, foi criado o
curricular como estratégia de melhor qualificação da Eixo Temático Pesquisa Orientada, concebida como
aprendizagem. O Programa foi oficializado pela Lei aula presencial e demais atividades desenvolvidas
Municipal n°849/2013, o que demonstrou a preocupação extraclasse, concomitante à formação em serviço dos
em garantir a institucionalidade enquanto política de profissionais, favorecendo o estímulo ao aprendizado
Estado. através do hábito à pesquisa, com participação ativa dos
estudantes nos projetos integrados da escola:
A pesquisa documental preliminar sobre os textos da
educação em tempo integral do Jaboatão dos • [...]a opção por um projeto educativo
Guararapes, no período de 2013 até o momento atual, integrado, em sintonia com a vida, as
nos leva a perceber, de maneira evidente, o seu caráter necessidades, possibilidades e interesses dos
híbrido , contendo influência de diferentes debates e de estudantes. Um projeto em que crianças,
diferentes agentes que atuam no campo educacional. adolescentes e jovens são vistos como cidadãos
Nessa perspectiva, o Programa Escolas de Tempo de direitos em todas as suas dimensões. Não se
Integral apresenta-se como produto de embates, trata apenas de seu desenvolvimento

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intelectual, mas também do físico, do cuidado no cotidiano da educação integral. Adotar práticas
com sua saúde, além do oferecimento de socioambientais e princípios educativos do fazer coletivo
oportunidades para que desfrute e produza (Mutirão
arte, conheça e valorize sua história e seu
patrimônio cultural, tenha uma atitude Agroecológico) nas escolas de tempo integral do
responsável diante da natureza, aprenda a município tem sido uma prática sistemática desde março
respeitar os direitos humanos e os das crianças de 2017. A concepção pedagógica das práticas teve
e adolescentes, seja um cidadão criativo, como inspiração o PEADs - Programa Educacional de
empreendedor e participante, consciente de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável (1989), SERTA–
suas responsabilidades e direitos, capaz de Serviço de Tecnologia Alternativa, com o propósito de
ajudar o país e a humanidade a se tornarem desenvolver, juntamente com os estudantes,
cada vez mais justos e solidários, a respeitar as professores e comunidades, atividades que priorizem
diferenças e a promover a convivência pacífica práticas democráticas, troca de saberes, formação de
e fraterna entre todos.(MEC,2015). rede agroecológica e ação de planejamento participativo
para transformação de realidades, em consonância com
a Matriz de Referência Curricular, o Currículo Escolar e
Projeto Político Pedagógico (PPP) das ETIs.
Trata-se, pois, de uma concepção de Educação Integral
que compreende o espaço social no qual se insere a Assim, pensar qualquer concepção pedagógica supõe
escola como constitutivo do processo educativo, dirigir o olhar para questões mais amplas que apontam
articulando os diferentes atores institucionais da escola, demandas e oportunidades presentes, inovações que se
da comunidade e do governo, garantindo, assim, o instalam como exigências, interesses e expectativas
cumprimento do dever do Estado, da responsabilidade peculiares às atuais gerações. Essas questões impõem
dos educadores e da família e fortalecendo as políticas que se construa uma nova compreensão sobre os papéis
públicas educacionais. do professor, estudante e do conhecimento, tripé sobre
o qual se constitui a relação ensino-aprendizagem, base
Esse entendimento de educação integral reconhece, de toda a atividade educativa.
além de compreender o ser humano como um todo, a
diversidade de espaços e agentes educativos que devem
fazer parte desse processo. A educação não ocorre
apenas dentro da escola, de forma sistemática, mas o 3.4. EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
aprendizado está em todos os espaços, ampliando, dessa
forma, a capacidade de intervir de forma crítica e
autônoma. 3.4.1. Marco Histórico e Concepção da Educação de
Jovens e Adultos
Essa nova visão de educação, como recomendam alguns
documentos de referências: Trajetórias Criativas: A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é vista como uma
Propostas – Identidade (Ministério da Educação, forma de alfabetizar quem não teve oportunidade de
2014);Bairro-Escola (educação comunitária) - estudar na infância ou aqueles que, por algum motivo,
Associação Cidade Escola Aprendiz; MEC - UNICEF e tiveram de deixar a escola em tempo regular.
Trilhas Educativas: diálogo entre o território e escola-
Associação Cidade Escola Aprendiz, 2011, pressupõe o Para se ter uma noção de como a EJA aconteceu no
envolvimento de todos, profissionais da Educação, das Brasil, se faz necessário um retrospecto da história das
escolas e do seu entorno, buscando parcerias e últimas décadas da ação do Estado no campo da EJA:
potenciais da comunidade, do bairro, da cidade, “Fundação Mobral (1967–1985), da Fundação Nacional
oportunidades educativas em que todos se sintam para Educação de Jovens e Adultos – Fundação Educar
responsáveis, criando, assim, as cidades educadoras. (1986–1990) e do Programa Brasil Alfabetizado”
(SUZUKI, 2009, p.16).
Segundo Isa Guará (Cadernos CENPEC, 2006) a ideia de
formação integral do ser humano está fundamentada, A Alfabetização de Jovens e Adultos passa a fazer parte
principalmente, em princípios éticos e humanistas, do sistema público educacional elementar do país
desenvolvidos nos projetos de educação para a somente a partir da década de 1930, período que teve
paz, dos direitos humanos e da educação para como fatores marcantes do processo de industrialização
valores. Nessa perspectiva, a educação integral propõe e a concentração populacional
articular os saberes a partir de projetos integradores,
ampliando o processo para a rede de espaços de em centros urbanos. Nascia, então, a preocupação do
aprendizagens. O foco está em organizar as vivências e Governo Federal em oferecer ensino básico gratuito a
a ação pedagógica em projetos, integrando diversos setores sociais em todo país, inclusive aos
conhecimento acadêmico com saberes da vida social, adultos. Em 1945, o país começa a viver um momento
aproximando o currículo ao contexto da vida. de redemocratização com o fim da ditadura de Vargas, o
mundo vivia uma nova realidade com o fim da Segunda
A participação na vida pública, hoje, mais que nunca, Guerra Mundial e a criação da Organização das Nações
envolve o cuidado com o meio ambiente, o cuidado com Unidas (ONU). Tudo isso contribuiu para que a educação
a vida em todas as suas formas e a responsabilidade de de adultos ganhasse destaque dentro da educação
cada um na construção de um mundo melhor. Considerar elementar comum. Havia a necessidade do governo de
as vivências com a natureza em salas de aula ou espaços integrar as massas populacionais de imigrações recentes
ao ar livre no processo de desenvolvimento cognitivo, e incrementar a produção.
social e emocional das crianças e jovens, faz-se presente

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Em 1947 foi instituída a Campanha da Educação de Fundação Educar, vinculada ao MEC, atuava com o apoio
Adolescentes e Adultos (CEAA), idealizada pelo educador financeiro às prefeituras municipais e às organizações da
Lourenço Filho e dirigida para pessoas maiores de 15 sociedade civil na execução de programas destinados
anos, com o currículo focado no aprendizado da leitura e àqueles que não tiveram acesso à escola na idade
da escrita. A CEAA se configurou como um movimento própria ou que dela foram excluídos. Com a promulgação
de massa para educação de adolescentes e adultos que da Constituição Federal em 1988, que confere à
pretendia, numa primeira etapa, a alfabetização em três Educação de Jovens e Adultos “status” de modalidade
meses e a condensação do curso primário em dois ensino, regulamentada em 1996 com a aprovação da Lei
períodos de sete meses. Na sequência viria a segunda de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN -
etapa, visando a capacitação profissional e o Lei Federal 9.394/96. A LDBEN incorpora os postulados
desenvolvimento comunitário. da Conferência da Educação Mundial para todos, que
aconteceu na Tailândia em 1990. Sendo que, naquele
Apesar do sucesso inicial, na década de 1950, a mesmo ano, o Governo Federal extinguiu a Fundação
campanha começou a fracassar, sendo extinta sob a Educar e criou o Programa Nacional de Alfabetização e
acusação de conceber o analfabetismo como causa e não Cidadania (PNAC). O programa foi inspirado nos ideais
como efeito da situação econômica, social e cultural do da referida Conferência. Em 1991, o MEC transfere as
País. Partindo-se dessa visão, o adulto analfabeto era obrigações com a educação supletiva que eram do
concebido como uma pessoa incapaz e marginal. No final Governo Federal para os Governos dos Estados e dos
da década, surgem críticas à CEAA não somente em Municípios.
relação às deficiências administrativas e financeiras,
como também a sua orientação pedagógica, ou seja, o A Lei Nº 9.394/96 - LDBEN reservou o Art. 37, para
caráter superficial do aprendizado face ao curto período regulamentar a Educação de Jovens e Adultos (EJA)
de duração, utilização de método inadequado à como Modalidade de Ensino e, em seguida, no Art. 38
população adulta e a falta de programa de educação trata dos cursos e exames supletivos. Ancorada na nova
(metodologia) de acordo com a regionalidade, pois, o LDBEN, são aprovadas as Diretrizes Curriculares
programa era único para todo o País. Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos
(Resolução CNE/CEB Nº1, de 5 de julho de 2000), dando
Surge assim um novo paradigma pedagógico para a ênfase às parcerias com sociedade civil mediante
educação de adultos tendo como principal expoente o convênios e estímulo ao voluntariado.
Professor Paulo Freire. O educador pernambucano
desenvolveu uma proposta de alfabetização de adultos Em 2007, dois importantes marcos contribuíram para o
inspirada na Educação Popular, que passou a ser desenvolvimento da modalidade: a reorganização do
empreendida por grupos e organizações não Programa Brasil Alfabetizado, através do Decreto Nº
governamentais destacando, entre esses, o Movimento 6.093 de 24 de abril de 2007, cujo objetivo era a
de Educação de Base (MEB), ligado à Conferência universalização da alfabetização de Jovens e Adultos, a
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Centro de Cultura partir dos 15 anos ou mais de acordo com as políticas
Popular (CPC), organizado pela União Nacional dos públicas da época, e a inclusão da modalidade no Fundo
Estudantes (UNE), que contava com o apoio de artistas de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
e intelectuais. e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB
- Emenda constitucional Nº 53/2006), regulamentado
O Governo Federal, em 1964, aprovou o Plano Nacional pela Lei Nº 11.494/2007 e pelo Decreto Nº 6.253/2007
de Alfabetização, que foi banido pelo golpe militar, no em substituição ao Fundo de Manutenção e
mesmo ano. Após o golpe militar, o único programa que Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização
sobreviveu foi o Movimento de Educação de Base (MEB), do Magistério (FUNDEF), que incluiu a EJA no contexto
com uma rede de Escolas Radiofônicas, vinculadas à de financiamento da Educação Básica.
Igreja Católica. Para tanto, teve os seus métodos de
ensino reestruturados. Ainda com o escopo de fortalecer e proteger a Educação
de Jovens e Adultos como Modalidade de Ensino, se
Com a ditadura militar, o Governo Federal institui o insurge os Planos Nacionais de Educação aprovados,
Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), em respectivamente, pelas Leis Federais Nº 10.172/2001 e
1967. Passando a atuar a partir da década de 1970, o Lei n° 13.005/2014.
MOBRAL apresentava três características básicas:
independência institucional e financeira face ao sistema Na modalidade de Educação de Jovens e Adultos - EJA,
regular de ensino e demais programas de adulto; a organização curricular do Município do Jaboatão dos
articulação operacional descentralizada apoiada em Guararapes – PE obedecerá a Resolução que institui as
comissões municipais e a centralização das orientações Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de
do processo educativo. Com a aprovação da Lei Federal Jovens e Adultos, Parecer CNE/CEB Nº 11/2000, e
Nº 5.692/72, Lei de Reforma do Ensino de 1º e 2º Graus, Resolução Nº 03/2010 do CNE/CEB, considerando as
incorpora-se ao Sistema Nacional de Educacional o situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias; e
Ensino Supletivo como alternativa para pessoas adultas, se pautará pelos princípios da igualdade, enquanto
mediados pelo ensino à distância, através de provas de condição de acesso, respeitando-se as diferenças e as
conhecimento, adquirirem a certificação nos níveis diversidades como direito, como percurso necessário à
primário e secundário. Em 1985, no interior do processo equidade, bem como a proposição de um modelo
de redemocratização, o MOBRAL deu lugar à Fundação pedagógico próprio da modalidade.
Educar.
Nessa perspectiva, o modelo pedagógico aqui proposto,
oportuniza o protagonismo dos professores e

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estudantes, o qual se pauta na concepção da Os sujeitos da EJA, principalmente os afetos ao 2º


escolarização como direito social, que viabiliza e Segmento, com relação à faixa etária, enquadram-se no
desencadeia a prática de outros direitos que garantam perfil definido como adolescente jovem, com idade
aos humanos sua condição de humanidade, sua compreendida entre 15 e 18 anos. A Lei Nº 12.852 2013
humanização, que é, essencialmente, a consciência (Estatuto da Juventude) define que são consideradas
crítica, o discernimento, compreendidos como jovens as pessoas com idade entre 15 e 29 anos de
capacidades cognitivas complexas, as quais os idade. Portanto, são denominados adolescentes jovens
diferenciam dos demais seres, na busca da autonomia as pessoas com idade entre 15 e 18 anos de idade, aos
como ponto de referência para a empatia e cooperação, quais se aplica a Lei Nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança
para o exercício do diálogo, resolução de conflitos, e do Adolescente) e, excepcionalmente, Estatuto o
objetivando a promoção do respeito ao outro e aos Estatuto da Juventude, quando não conflitar com as
direitos humanos, além de acolher e valorizar a normas de proteção integral do adolescente. Essa
diversidade, sem preconceito de qualquer natureza. assertiva nos permite questionar a modalidade de ensino
definida como aquela destinada às pessoas que não
Este se constitui o maior desafio para o Sistema de tiveram acesso à escola na idade própria (6 -14 anos),
Ensino: oferecer uma educação de qualidade social sendo constituída atualmente por adolescentes jovens
também para os sujeitos jovens e adultos que não que tiveram acesso à escola na idade indicada e que, por
puderam ter acesso à escola ou nela permanecer no diversos fatores, apresentam uma trajetória de
tempo considerado regular, reconhecendo e valorizando insucesso, por vezes condensada no fracasso escolar.
o conhecimento empírico acumulado por estes sujeitos,
o que implica competências desenvolvidas à proporção Os fenômenos destacados consolidam o que vem sendo
que se organize a modalidade em menor número de definido como juvenilização da Educação de Jovens e
anos, sem perder de vista a BNCC, adequando-as às Adultos - EJA.
especificidades, visando atender às necessidades, aos
ritmos e aos objetivos dos estudantes. • A juvenilização, intensificada na
contemporaneidade, decorre das deficiências
• Nesse processo, a BNCC desempenha papel do sistema escolar como a evasão e a
fundamental, pois explicita as aprendizagens repetência, que ocasionam a defasagem entre
essenciais que todos os estudantes devem a idade e série; da busca pela certificação
desenvolver e expressa, portanto, a igualdade escolar oriunda da necessidade de trabalhar; da
educacional sobre a qual as singularidades de acesso; da ausência de motivação para o
devem ser consideradas e atendidas. Essa retorno a escola, entre outras. (Carvalho, 2009,
igualdade deve valer também para as p.1)
oportunidades de ingresso e permanência em
uma escola de Educação Básica, sem o que o
direito de aprender não se concretiza
Na caracterização desses sujeitos, verifica-se a inserção
(BNCC,2018).
significativa de pessoas com deficiência, que, por
Nessa organização, é imprescindível a clareza de alguns diversos fatores, foram tangenciados para a modalidade
aspectos: o papel da escola, espaço concreto de vivência da Educação de Jovens e Adultos.
e aprendizado dos direitos humanos e dos saberes
• No ano de 2009, houve 37.985 matrículas de
socialmente reconhecidos necessários à construção dos
estudantes com deficiência (INEP/MEC) na EJA,
saberes científicos; o papel do conhecimento, bem
sendo 34.730 na EJA nível fundamental, e
cultural que proporciona a superação das condições de
3.255 no nível médio. Tal alunado corresponde
subordinação; o papel do estudante, sujeito construtor
a 0,81%do número de matrículas totais da
de seu próprio conhecimento, que cria e recria o mundo;
Educação de Jovens e Adultos, com prevalência
o papel do professor, intermediador e articulador do
de matrículas no nível Ensino Fundamental (DI
conhecimento. Faz-se necessário, ainda, situar este
PIERRO, 2015, p.1122)
Currículo em alguns aspectos fundamentais, como: a
dimensão humanizadora da educação; a realidade local;
situação de exclusão social/educacional da população
igual ou maior de 15 anos; os aspectos legais da A educação é compreendida como prática social ampla,
Educação de Jovens e Adultos; a formação do professor; que se especializa nas instituições de ensino, tendo por
e com relação ao currículo, tratamento dos conteúdos e finalidade a humanização das pessoas, devendo, nesse
sua distribuição no programa; as competências gerais e processo, também cuidar da profissionalização e da
específicas e por área de conhecimento. empregabilidade. Os estudantes da Educação de Jovens
e Adultos demandam por processos educativos que
Estudos realizados por Machado (2007); Rodrigues vinculem a formação humana à formação e qualificação
(2007); Garcia (2007); Michels (2007); Carvalho (2009) para o mundo do trabalho.
destacam elementos sobre o perfil dos estudantes da
Educação de Jovens e Adultos (EJA) que devem ser Nesse cenário, os processos de juvenilização, a inclusão
considerados na organização do currículo, atendendo a de pessoas com deficiência, a necessária formação
novas demandas decorrentes da restruturação do perfil profissional e a qualificação para o trabalho tencionam o
dos sujeitos da referida Modalidade de Ensino, quais currículo e a prática pedagógica. Contudo, a
sejam: a juvenilização, os estudantes com deficiência e ressignificação da prática pedagógica na Educação de
a educação profissional ou qualificação para o trabalho. Jovens e Adultos–EJA demanda por formação
continuada, tomando-se como referência os conteúdos

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curriculares e os pedagógicos, objetivando, assim, ser em processo de formação, tanto no ambiente escolar
construir a identidade do profissional da educação com com a presença dos Supervisores Escolares; quanto nos
exercício na modalidade. A formação continuada encontros formativos com os Coordenadores
também poderá contribuir para a construção da Educacionais. Para tanto se faz necessário refletir sobre
representação social de professores da Educação de suas ações tomando-se a prática pedagógica como
Jovens e Adultos - EJA como um direito que acompanha objeto de estudo apoiando-se no currículo e na relação
o ser humano por toda sua existência. professor, estudante e aprendizagem.

Segundo postulado da UNESCO (2010, p.6), a A escolha dos temas, surgem das necessidades citadas
pelos professores e daquelas observadas pelos
• [...]aprendizagem ao longo da vida, “do berço Coordenadores Educacionais no acompanhamento às
ao túmulo”, é uma filosofia, um marco escolas. Abordam, portanto, os conhecimentos científico
conceitual e um princípio organizador de todas e pedagógico, que contribuem para o desenvolvimento
as formas de educação, baseada em valores da identidade profissional e para a melhoria do ensino e
inclusivos, emancipatórios, humanistas e aprendizagem, com foco no currículo e no
democráticos, sendo abrangente e parte desenvolvimento integral do sujeito.
integrante da visão de uma sociedade do
conhecimento. Estas formações continuadas tem o objetivo de
contribuir para a melhoria da prática docente, assim
A Educação de Jovens e Adultos – EJA também deverá como da aprendizagem dos estudantes. Sugere-se ainda
atender às necessidades de aprendizagem das pessoas ao professor que busque, além dessas formações
idosas, respeitando-as como sujeitos de direitos, com oferecidas pela rede, cursos de extensão, especialização,
estatuto jurídico próprio6, com seu arcabouço de mestrados, doutorados e afins em outras instituições,
conhecimentos e saberes, cujo tempo humano não mais como possibilidade para a inovação e qualificação da
se coaduna com a pressa própria dos tempos escolares. prática pedagógica e ao seu enriquecimento como
A presença da pessoa idosa na escola não a sujeito.
descaracteriza como espaço de exercício de direito e de
construção de conhecimentos e saberes, mas demanda • O processo formativo desse profissional requer
outras lógicas nas relações estabelecidas entre quem um pensar crítico e superador de perspectiva
ensina e quem aprende. As referidas lógicas são clássica de formação continuada, tendo em
ressignificadas pelos conhecimentos e saberes próprios vista atender a construção de uma formação
da ancestralidade. Assim, as pessoas idosas, ávidas por continuada que possibilite a constituição de
conhecimentos e saberes, reconhecem na escola uma postura docente crítica, transformadora e
espaços de convivência e lazer, onde saberes e reflexiva, que considere as demandas da
conhecimentos se misturam na tessitura do novo. sociedade e do contexto escolar (SILVA, 2010,
Conforme afirma Cora Coralina, no seu Vintém de Cobre p.14).
(1976): “Saber a gente aprende com os mestres e os
livros. A sabedoria se aprende é com a vida e com os
humanos”
Assim, faremos das salas de aula campos de
A formação inicial de professores para atuar no 1º experimento e cenário para reflexão sobre a prática, com
Segmento da Educação de Jovens e Adultos é ofertada, o intuito de promover uma aprendizagem significativa
prioritariamente, em cursos de licenciaturas em dos estudantes, corroborando na construção de uma
pedagogia em contextos acadêmicos; a formação para o sociedade com justiça social.
2º Segmento ocorre nas diversas licenciaturas, que
Em consonância com a BNCC, nos quadros que
devem considerar a natureza dos processos educativos
apresentam as unidades temáticas, os objetos de
vinculados às pessoas jovens, adultas e idosas,
conhecimento e as habilidades estabelecidas para cada
considerando as suas diferentes formas de ser e estar no
módulo, a habilidade é identificada por um código
mundo.
alfanumérico conforme descrição abaixo:
6 Estatuto do Idoso, art. 20, dispõe que o idoso tem
direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões,
espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua
peculiar condição de idade, Estatuto do Idoso - Lei no
10.741/2003.

Partindo da premissa que o processo de envelhecimento


não subtrai do sujeito a capacidade de aprendizagem, a
EJA, descrita como os processos educativos destinados a
jovens, adultos e idosos, com necessidades e interesses
específicos, que desafiam a prática pedagógica. A partir
desses desafios ocorre a demanda por formação
continuada, entendida como processo formativo pautado
em evidências definidas pela escola.

A Secretaria Municipal de Educação do Jaboatão dos


Guararapes - PE desenvolve uma política permanente de
formação continuada, respaldando o professor como um

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Apesar das constatações das dificuldades, que são no processo de ensino e aprendizagem e realiza
enfrentadas nas unidades de ensino, muitos obstáculos o Atendimento Educacional Especializado/AEE
foram superados como, por exemplo, a ampliação das junto aos estudantes matriculados nas turmas
Salas de Recursos Multifuncionais-SRM e o Atendimento comuns do ensino regular, garantindo ações
Educacional Especializado-AEE para educandos, que pedagógicas a fim de proporcionar a plena
constituem o público da Educação Especial, ou seja, participação dos estudantes com necessidades
estudantes com Deficiência, Transtorno do Espectro educacionais específicas.
Autista - TEA e Altas Habilidades/Superdotação.

Outras situações, que compõem o contexto da educação


inclusiva, dizem respeito à contratação de intérpretes de Considerando o desenho da política pública educacional
Libras, braillista, aos apoios pedagógicos, aos deste município, em relação à Educação Especial, a
estagiários, ao atendimento domiciliar, às tecnologias normatização contida na Resolução CNE/CP Nº 2, de
assistivas: “hands free, Livox”, à aquisição de materiais 2017 que, institui e orienta a implantação da Base
para as SRM e, também, à implantação dos seguintes Nacional Comum Curricular – BNCC, o Plano Municipal de
projetos: Quebrando Barreiras Comunicacionais, Educação (2015-2024), a Resolução Nº 04 de
Quebrando Barreiras da Alfabetização; e Estimulação 02/10/2009 que, Institui as Diretrizes Operacionais para
Essencial e Precoce. Além disso, são desenvolvidas ações o Atendimento Educacional Especializado na Educação
voltadas para a formação de professores do AEE com Básica e a Lei Nº 13.146/2015, que institui a Lei
base na metodologia de Estudo de Caso e Plano de Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
Desenvolvimento Individual Escolar - PDIE. (Estatuto da Pessoa com Deficiência), impõe-se ressaltar
a necessidade de um olhar direcionado às práticas
Com a perspectiva de um novo instrumento legal para o pedagógicas inclusivas e ao processo de inclusão escolar
Sistema de Ensino, ou seja, o Currículo de Educação nas diferentes, etapas, níveis e modalidades de ensino,
Especial do Jaboatão dos Guararapes/PE, 2019, eleva-se na rede pública do Jaboatão dos Guararapes, em relação
a oportunidade de fortalecer o desenvolvimento do que aos estudantes com deficiência, transtorno do espectro
já está garantido nos marcos legais da Constituição autista e altas habilidades /superdotação.
Federal de 1988, da Lei de Diretrizes e Base da Educação
Nacional de 1996 e a Política da Educação Especial na No presente documento, a prática pedagógica inclusiva
Perspectiva Inclusiva (2008). Além disso, os Parâmetros é compreendida como o conjunto de decisões e fazeres
Curriculares Nacionais – PCNs (1999) destacam a que, no cotidiano escolar, poderão concretizar o
necessidade das adaptações curriculares e das desenvolvimento da diferença e da diversidade individual
estratégias para a educação de estudantes com e coletiva, com a finalidade de garantir o processo de
necessidades especiais (termo utilizado no próprio ensino e da aprendizagem dos atores sociais. A prática
texto). O referido documento reafirma a educação como pedagógica é indissolúvel das relações interativas,
direito de todos, dever do Estado e da família, tendo em resilientes e afetivas, uma vez que é um elemento
vista o pleno desenvolvimento da pessoa em sua constituinte das intervenções didáticas, do currículo, do
integralidade. conteúdo de ensino, da avaliação educacional, do ensino
colaborativo, da comunicação e da interrelação entre o
Nesse sentido, nos últimos dezesseis anos, as políticas atendimento educacional especializado e o ensino
educacionais implementadas no contexto brasileiro, regular.
apresentam a modalidade Educação Especial sob o viés
da perspectiva inclusiva. Tais políticas preconizam que Por conseguinte, o currículo representa o
todos os estudantes da Educação Especial em idade reconhecimento das diferenças e a potencialidade dos
escolar obrigatória frequentem escolas regulares. O sujeitos como construtores de conhecimento. Suas
Decreto Nº 7.611/2011 prega a inclusão total e tem sua necessidades passam a ser compreendidas de forma
centralidade no Atendimento Educacional Especializado individual para que os instrumentos pedagógicos possam
(AEE), assim como a Resolução Nº 04 de 02/10/2009, estar atrelados ao seu desenvolvimento escolar. No
que institui as Diretrizes Operacionais para o âmbito da escola, o currículo vai se constituindo e sua
Atendimento Educacional Especializado na Educação eficácia vai se materializando, quando a aprendizagem
Básica, modalidade Educação Especial. se torna evidente para todos.

Esse decreto reafirma que a Educação Especial, já Assim, a inclusão escolar é compreendida como a
referendada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação ruptura do paradigma da normalidade, da patologia e
Nacional – LDBEN/1996, em seu Capítulo V, Art. 58, é responde à complexidade da instituição escolar, pois
compreendida como modalidade de Educação Escolar, atende às necessidades basilares de cada estudante, que
oferecida, preferencialmente, na Rede Regular de é compreendido como sujeito de sua própria história.
Ensino. Tal compreensão também está presente, na Portanto, não pode ser categorizado com ou sem
Proposta Curricular da Secretaria de Educação e deficiência. O fortalecimento e a participação da
Esportes do Estado de Pernambuco – Ensino família fomentam a promoção do sentimento de
Fundamental, que em texto introdutório, (2019, p. 22) pertença à escola e à sala de aula.
declara:
Logo, a educação inclusiva, considerada como um
• [...] a Educação Especial é uma modalidade de princípio educativo, se torna uma necessidade intrínseca
ensino que transversaliza todas as etapas e de todos. Nesta perspectiva, a Educação Especial se
modalidades, identifica e disponibiliza recursos contrapõe aos modelos clínico-terapêuticos,
e serviços, orientando quanto a sua utilização assistencialistas, filantrópicos e segregacionistas e,

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sobretudo, com a ideia de ser um substitutivo do ensino avanço sistemático, gradual e contínuo da inclusão
regular, conforme Beyer (2006, p.73): escolar.

• A educação inclusiva caracteriza-se como um No Ensino Fundamental, a transversalidade da Educação


novo princípio educacional, cujo conceito Especial estará presente no currículo, que atende às
fundamental defende a heterogeneidade na legislações e às normas específicas. Logo, referendar
classe escolar, como situação provocadora de temas como acessibilidade, pessoa com deficiência,
interações entre crianças com situações diversidade humana tem a perspectiva de
pessoais as mais diversas. enriquecimento e de conhecimento do histórico de como
as pessoas com deficiência foram compreendidas no
contexto social.
Nesse sentido, no processo de elaboração do Referencial Por exemplo, o Município do Jaboatão dos Guararapes -
Curricular para o Município do Jaboatão dos Guararapes, PE, em seu marco legal, consta a Lei Municipal Nº
em 2019, com os fundamentos da BNCC (2017), para 722/2012, que estabelece a realização da Semana
fortalecer a modalidade da Educação Especial na Municipal da Pessoa com Deficiência, no período
perspectiva inclusiva, é pertinente acatar um compreendido entre os dias 25 (vinte e cinco) a 31
posicionamento de Beyer (2006), que ressalta o seguinte (trinta e um) de agosto de cada ano. Este evento deve
aspecto: as necessidades diferenciadas de cada permanecer e continuar mobilizando a todos os
estudante, que se manifestam desde a mais tenra idade profissionais da educação, famílias e comunidade para a
ou, na condição de jovens e de adultos, irão demandar efetivação da inclusão.
metodologias e estratégias pedagógicas, que
sejam apropriadas à promoção de sua Há, ainda, mais um elemento, que colabora com o
aprendizagem e, também, que evitem prejuízos ao planejamento das atividades voltadas ao
seu processo de escolarização. desenvolvimento das habilidades dos estudantes da
modalidade da educação especial: as descrições das
Nessa mesma ótica, tem-se: Competências Gerais da BNCC. Tais referências se
tornam fundamentais para a incrementação do currículo,
• As aprendizagens essenciais compõem o
de forma a conduzir os sujeitos às novas formas de
processo formativo de todos os educandos ao
aprender e de adquirir conhecimentos.
longo das etapas e modalidades de ensino no
nível da Educação Básica, com direito de pleno Estas ações de caráter educacional, elencadas no Projeto
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o Político Pedagógico e sinalizadas no Plano de Trabalho do
exercício da cidadania (BRASIL, 2017, p. 4). AEE, fomentam inúmeras atividades inclusivas, que
poderão facilitar o desdobramento de um currículo na
perspectiva inclusiva, sustentada no conceito de
Certamente, a Educação Especial sozinha não será a acessibilidade, trazido no dispositivo legal de Nº 10.098,
panaceia para as dificuldades apresentadas pelos de 19 de dezembro de 2000, em seu Capítulo I, das
estudantes com e sem deficiência. Mas, na interlocução Disposições Gerais, Art. 2º, como:
com a Educação Infantil, cuja legislação vigente
• [...] possibilidade e condição de alcance para
estabelece direitos de aprendizagem e de
utilização, com segurança e autonomia, de
desenvolvimento e com o Ensino Fundamental,
espaços, mobiliários, equipamentos urbanos,
considerando suas competências gerais e específicas,
edificações, transportes, informação e
áreas de conhecimento e habilidades, existem
comunicação, inclusive seus sistemas e
possibilidades de diálogo e de construção de uma
tecnologias, bem como de outros serviços e
proposta pedagógica articulada com o Atendimento
instalações abertos ao público, de uso público
Educacional Especializado - AEE. No contexto escolar, tal
ou privados de uso coletivo, tanto na zona
proposta irá consolidar ações pedagógicas que
urbana como na rural, por pessoa com
promovam aprendizagens essenciais para a vida de cada
deficiência ou com mobilidade reduzida
estudante.
(BRASIL, 2000, p. 1).
A pluralidade e a singularidade de todas as pessoas, que
compõem o ambiente escolar, são desafios que se
impõem à educação inclusiva. A Educação Infantil A partir do conceito supracitado e de suas dimensões
concebe a criança como sujeito histórico e de direitos, arquitetônica, comunicacional, metodológica,
que brinca, interage, deseja e aprende, por conseguinte, instrumental, programática e atitudinal, é indispensável
deverá atender às especificidades da criança pequena procurar conhecer cada estudante para identificar suas
com deficiência. O conhecimento de si e do outro é potencialidades/necessidades, tendo em vista seu
ampliado na convivência com outras crianças e adultos, crescimento global.
por isso a deficiência precisa ser identificada logo nas
primeiras fases do desenvolvimento infantil. De que forma tais dimensões podem ser incluídas no
currículo? A acessibilidade atitudinal, fundante na
Conforme Mendes (2010), a Educação Infantil deve ser relação da prática pedagógica inclusiva, consiste no
a opção preferencial de projetos políticos de implantação exercício da quebra de barreiras, existentes no âmbito
da inclusão, ou seja, precisa se tornar o foco prioritário escolar e na sociedade. Portanto, é indispensável
das diretrizes políticas, o que poderá desencadear um promover discussões que enfoquem os seguintes
aspectos: discriminação, preconceito e representações,

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que persistem em excluir sujeito por suas características física e curricular, tendo em vista a pessoa com
físicas e classes sociais. deficiência na sua integralidade. O planejamento escolar
irá interferir nas ações constituintes do Projeto Político
A acessibilidade arquitetônica ocorre quando a Pedagógico, na prática pedagógica, no trabalho docente
instituição escolar começa a discutir os seguintes e na participação da família.
aspectos: localização territorial, infraestrutura, trajeto
utilizado pelos estudantes, lugar onde ele se senta na As ações terão como finalidade minimizar a
sala de aula e faz suas atividades. A acessibilidade superação de barreiras atitudinais no cotidiano da
comunicacional ocorre pela utilização do código Braille, escola, através de práticas acessíveis, que
da Língua Brasileira de Sinais – Libras, de softwares e de promovam a aprendizagem e a autonomia das
outros instrumentos. A acessibilidade metodológica se pessoas com e sem deficiência.
concretiza a partir da definição das intervenções
didáticas e de seus pressupostos teóricos. Assim, o currículo, deve contemplar os princípios da
educação inclusiva, estando articulados com a
A acessibilidade instrumental diz respeito aos seguintes flexibilização de objetivos e de planejamentos mais
fatores: disposição e uso de materiais concretos, individualizados, exigindo que a educação assuma um
adaptadores de lápis, organização do estojo, objetos sentido mais amplo. Portanto, impõe-se refletir sobre
calmantes, plano inclinado, protetores e acesso aos aqueles que ainda estão excluídos do interior da escola
recursos pedagógicos. Por fim, a acessibilidade e, ao mesmo tempo, tentar superar as dificuldades de
programática está relacionada ao planejamento do diálogo com os estudantes e suas famílias. Logo, é
professor, por conseguinte, depende de projetos e de indispensável manter um ambiente acolhedor e analisar
programas disponibilizados pela rede de ensino e, a função da escola no que se refere às aprendizagens
também, das adaptações curriculares, que são essenciais.
necessárias ao ensino e à aprendizagem.
Desse modo, o conjunto de esforços voltados para a
Reafirmamos, também, que o Plano de Desenvolvimento formação de professores, a adaptação curricular e a
Individual Escolar na Rede Municipal de Ensino do formação de redes de apoio à educação inclusiva
Jaboatão dos Guararapes, na atual gestão configuram-se como respostas para práticas
governamental, passa a ser entendido como uma pedagógicas inclusivas que se destinam aos estudantes
proposta fundamental para responder às necessidades frequentadores da escola atual.
dos estudantes matriculados na SRM, bem como de
outros estudantes que são estigmatizados, no contexto Com a implementação do novo currículo para a Educação
escolar, por suas diferenças. Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva,
gerenciada pelo Governo Municipal, novas perspectivas
Ao longo da vigência desta proposta curricular, a estão por vir em relação ao processo de inclusão de
Educação Especial, concebida como uma modalidade de estudantes com deficiência, transtorno do espectro
ensino terá o desafio de discutir e implantar, na autista e altas habilidades/superdotação. Assim, em
Rede Municipal de Ensino, um currículo que seja consonância com a BNCC, o presente currículo é um
adaptado às condições dos que mais necessitam documento, que redireciona os fazeres das práxis e
aprender. Portanto, a escola precisa levar em fortalece as políticas públicas para o Sistema de Ensino
consideração o perfil dos seus estudantes. Nessa do Município do Jaboatão dos Guararapes, mediante o
perspectiva, a BNCC, afirma: macro projeto: “unir para incluir”, instituído a partir de
2017, com a finalidade precípua promover a melhoria e
• As instituições ou redes de ensino devem a ampliação do processo de inclusão escolar, mediante o
intensificar o processo de inclusão escolar dos Atendimento Educacional Especializado - AEE para a
estudantes com deficiência, transtornos globais Educação Básica na Rede Pública de Ensino.
do desenvolvimento e altas habilidades nas
classes comuns do ensino regular, garantindo
condições de acesso e de permanência com
aprendizagem, buscando prover atendimento 4. TEMAS INTEGRADORES
de qualidade (BRASIL, 2017, p. 7).
As Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos
Humanos (Resolução CNE/CP nº 01/2012) prescrevem
que, na Educação Básica, o currículo poderá ser
Nessa linha de argumentação e corroborando com estruturado tomando por base a perspectiva disciplinar,
afirmação acima, a Lei Nº 13.146/2015, no Capítulo IV, transversal ou mista, fundindo disciplinaridade e
que trata do direito à educação, prevê a incumbência do transversalidade. O currículo escolar é o grande
poder público de assegurar, criar, desenvolver, norteador de todo o processo pedagógico de uma
incentivar, acompanhar e avaliar um sistema instituição educacional. A aprendizagem escolar está
educacional inclusivo em todos os níveis e modalidades intrinsecamente vinculada ao currículo, sendo que este é
de ensino. organizado com o objetivo de orientar as ações dos
professores e os diferentes níveis de ensino. Para que os
Assim, diante dos princípios da educação inclusiva, os estudantes de todo o país tenham acesso a uma
Sistemas de Ensino, no âmbito dos Governos Federal, formação integral, o Ministério da Educação (MEC)
Estadual e Municipal devem garantir o direito à educação definiu que as instituições de ensino devem incorporar
a todos, a partir da ressignificação dos modelos em seus planos pedagógicos os temas
classificatórios e discriminatórios. Por conseguinte, cabe transversais/integradores, como saúde, meio ambiente,
à escola a obrigatoriedade de planejar sua organização

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as relações étnico-raciais, orientação sexual, trabalho, A Educação em Direitos Humanos - EDH, alicerçada no
consumo, diversidade etc. respeito e proteção à dignidade da pessoa humana,
compreende o conjunto de práticas educativas
A transversalidade diz respeito à possibilidade de se fundamentadas nos direitos humanos, tendo como
instituir, na prática educativa, uma analogia entre objetivo formar o sujeito de direito. Nesse contexto, o
aprender conhecimentos teoricamente sistematizados RCMJG pautou-a no compromisso pela construção de
(aprender sobre a realidade) e as questões da vida real uma escola que se que reconheça como espaço pleno de
(aprender na realidade e da realidade). Os temas vivências de direitos, premissa fundamental para
transversais/integradores dizem respeito a questões que embasar as relações humanas que acontecem na escola
atravessam as experiências dos sujeitos em seus em todos os seus âmbitos.
contextos de vida e atuação e que, portanto, intervêm
em seus processos de construção de identidade e no Ao fazer a opção por tratar a EDH na perspectiva
modo como interagem com outros sujeitos, transversal, o RCMJG filia-se ao entendimento de que a
posicionando-se ética e criticamente sobre e no mundo cultura dos direitos humanos, conteúdo da EDH, não
nessas interações. Os temas integradores perpassam cabe apenas em um componente curricular, devendo,
objetivos de aprendizagem de diversos componentes assim, ganhar espaço no conjunto dos componentes que
curriculares, nas diferentes etapas da Educação Básica. compõem o currículo. Materializada na perspectiva
Portanto, as temáticas devem ser sociais e transversal, a EDH fortalece os paradigmas da educação
contemporâneas. Ao manterem a orientação de sua integral, considerando os estudantes em todas as suas
abordagem transversal, por se referirem a assuntos que dimensões. Além disso, sedimenta uma cultura de paz
atravessam as experiências dos estudantes em seus na escola, fundamentada na defesa e reconhecimento da
contextos, contemplam aspectos que contribuem para igualdade de direitos, valorização das diferenças e das
uma formação cidadã, política, social e ética. O diversidades, laicidade do Estado e democracia na
Referencial Curricular Municipal do Jaboatão dos educação.
Guararapes por sua vez, apresenta doze temáticas e
bases legais, para que as unidades educacionais da Rede A escola, na perspectiva da EDH, deve desenvolver uma
Municipal de Ensino os apreciem e escolham um ou mais educação pautada em várias dimensões necessárias à
os temas integradores definidos conforme proposições formação cidadã: ciências, artes, cultura, história, ética,
dos Projetos Políticos Pedagógicos. afetividade, entre outras. Assim, a escola é concebida
como espaço sociocultural, lugar de convivência
inclusiva, respeitosa e afetiva. O ambiente escolar deve
proporcionar, também, uma convivência acolhedora, de
4.1. Educação das Relações Étnico-raciais e Ensino autorresponsabilidade com o desempenho de cada
da História e Cultura Afro-brasileira, Africana e estudante, de cada professor, consigo mesmo, bem
Indígena (Leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008, como de cuidado com o outro, considerando a dignidade
Parecer CNE/CP nº 03/2004, Resolução CNE/CP nº de todo ser humano.
01/2004 e Parecer CNE/CEB nº 14/2015)

Essa temática deve ser trabalhada articulada a


diferentes componentes curriculares, mas também no 4.3. Direitos da Criança e Adolescente (Lei nº
âmbito do currículo como um todo. Deve assegurar o 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do
conhecimento e o reconhecimento desses povos na Adolescente, Lei nº 12.852/2013 – Estatuto da
formação cultural, social, econômica e histórica da Juventude, Lei nº 13.257/2016 – Marco Legal da
sociedade brasileira, ampliando as referências Primeira Infância, de 08 de março de 2016)
socioculturais da comunidade escolar na perspectiva da
valorização da diversidade étnico-racial, contribuindo No campo da discussão dos Direitos da Criança e do
para a construção e afirmação de diferentes identidades. Adolescente, o direito de brincar da criança e o direito de
ser cuidada por profissionais qualificados, na primeira
É necessário que as práticas escolares contemplem nos infância, devem ser prioridade nas políticas públicas. A
seus currículos o ensino da história e cultura afro- criança tem, sobretudo, o direito a ter a presença da
brasileira, africanas e indígenas como forma de mãe, pai e/ou cuidador em casa nos primeiros meses por
reconhecimento da contribuição que diversos povos meio da licença-maternidade e paternidade concedida
deram para a história e cultura nacional e a diversas para cumprimento dos cuidados.
culturas mundiais. Desta maneira, será alcançada uma
educação das relações étnico-raciais que respeite a Por sua vez, o direito à educação deve ser garantido a
diversidade brasileira e que busque a 000000erradicação todas as crianças e adolescentes, observando o pleno
da desigualdade, discriminação e combate ao racismo, desenvolvimento de suas potencialidades por meio de
ensejando a construção de uma sociedade baseada no uma preparação cultural qualificada, uma base científica
reconhecimento das diferenças. Possibilitando a e humana na perspectiva de contribuir para a superação
ampliação das práticas escolares para além da das desvantagens decorrentes das condições
legislação. socioeconômicas e culturais adversas. Nessa direção,
situamos também o Estatuto da Juventude, que vem
corroborar a inserção social qualificada do jovem como
lei complementar ao Estatuto da Criança e do
4.2. Educação em Direitos Humanos – EDH (Plano Adolescente, visando garantir direitos de quem tem
Nacional de Educação em Direitos Humanos, 2006, entre 15 e 29 anos de idade. O Estatuto da Juventude
Decreto nº 7.037/2009, Parecer CNE/CP nº propõe expansão das garantias dadas à infância e à
8/2012 e Resolução CNE/CP nº 1/2012) adolescência, além da compreensão de que o jovem

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deve ser visto nas suas necessidades no momento natureza, dialogando por meio dos diferentes
presente e não a posteriori. componentes curriculares.

Desse modo, as aprendizagens essenciais devem ser


contempladas, proporcionando o desenvolvimento das
competências e habilidades necessárias, e possibilitando 4.6. Educação para o Consumo e Educação
às crianças, adolescentes e jovens o direito a uma Financeira e Fiscal (Parecer CNE/CEB nº 11/2010
educação de qualidade para que possam atuar e Resolução CNE/CEB nº 07/2010)
socialmente na construção de um mundo mais justo,
Esses temas apontam para abordagens na escola que
equitativo, democrático e humano.
proporcionem ao estudante ter uma compreensão sobre
O contexto escolar deve ser preparado visando a uma finanças e economia, consumo responsável, processo de
formação cidadã em que todas as crianças e arrecadação financeira e a aplicação dos recursos
adolescentes devem ser protegidos contra práticas que recolhidos como também sua importância para o valor
fome tem a exploração do trabalho infantil e social dos tributos, procedência e destinação. De modo
discriminação étnico-racial, religiosa, sexual, de gênero, geral, essas abordagens devem possibilitar ao estudante
pessoa com deficiência ou de qualquer outra ordem. analisar, fazer considerações fundamentadas, tomar
decisões e ter posições críticas sobre questões
financeiras que envolvam a sua vida pessoal, familiar e
da realidade social e, por conseguinte, compreender a
4.4. Processo de Envelhecimento, Respeito e cidadania, a participação social, a importância sobre as
Valorização do Idoso (Lei nº 10.741/2003) questões tributárias, o orçamento público, seu controle,
sua execução e sua transparência, bem como a
O envelhecimento é um fenômeno natural da condição
preservação do patrimônio público.
humana. Para além da cronologia, há um conjunto amplo
de aspectos que também configuram essa etapa do
desenvolvimento humano: biológicos, culturais,
históricos, psicológicos e sociais. Embora o 4.7. Diversidade Cultural (Parecer CNE/CEB nº
envelhecimento humano seja uma condição natural, as 11/2010 e Resolução CNE/CEB nº 07/2010)
representações e sentimentos são construídos
socialmente. Dessa forma, faz-se necessário que as Ao abordarmos a diversidade cultural, biológica, étnico-
escolas incluam, em suas práticas curriculares, ações racial, devemos considerar a construção das identidades,
que visem ao desenvolvimento de comportamentos e o contexto das desigualdades e dos conflitos sociais. Este
atitudes que aproximem as gerações, estimulem os tema aborda a construção histórica, social, política e
estudantes para o convívio, destituído de preconceitos, cultural das diferenças que estão ligadas às relações de
com pessoas idosas e sejam educadas para o poder, aos processos de colonização e dominação.
envelhecimento humano.
Este currículo propõe ações e práticas educativas que
O objetivo é garantir o respeito, a dignidade e a contemplem essa temática na sala de aula e em toda
educação ao longo da vida. Assim, no âmbito escolar, comunidade escolar para que se promova o combate ao
deve-se também reconhecer o protagonismo da pessoa preconceito e à discriminação. É importante, no contexto
idosa enquanto estudante e como sujeito que, munido escolar, possibilitar a compreensão de que a sociedade
de experiências e saberes, aprende mais sobre si mesmo humana, sobretudo a brasileira, é composta por vários
e sobre o mundo. elementos que formam a diversidade cultural e a
identidade de cada povo e de cada comunidade. A partir
dessa perspectiva, devem ser desenvolvidas atitudes de
respeito às diferenças, considerando que a completude
4.5. Educação Ambiental (Lei nº 9.795/1999, humana é construída na interação entre as diferentes
Parecer CNE/CP nº14/2012, Resolução CNE/CP nº identidades.
2/2012 e Programa de Educação Ambiental de
Pernambuco - PEA/PE 2015)

A Educação Ambiental é um processo contínuo, 4.8. Relações de Gênero (Parecer CNE/CEB nº


dinâmico, participativo e interativo de aprendizagem das 07/2010, Resolução CNE/CEB nº 02/2012, Lei no
questões socioambientais. Dessa forma, a Educação 11.340/2006 – Lei Maria da Penha, Lei de Racismo
Ambiental constitui uma das dimensões do direito ao nº 7.716/89, Plano Nacional de Educação em
meio ambiente equilibrado e sustentável, prioridade na Direitos Humanos, 2006 e Portaria MEC nº
garantia da qualidade de vida das pessoas por meio de 33/2018)
concepções e práticas inter/transdisciplinares, contínuas
e permanentes, realizadas no contexto educativo. A relação de gênero é entendida como uma categoria de
Priorizando as questões ambientais, devemos despertar análise que ajuda a pensar a maneira como as ações e
no estudante a importância de manter relações posturas dos homens e das mulheres são determinadas
harmoniosas entre a sociedade e a natureza, pela cultura em que estão inseridos (SCOTT, 1990).
preservando a biodiversidade e as culturas. É nessa Deve ser também compreendida como um conceito
perspectiva que as atividades educativas devem baseado em parâmetros científicos de produção de
envolver a escola e a comunidade em seu entorno, saberes que transversaliza diversas áreas do
refletir sobre atitudes de proteção e preservação da conhecimento, sendo capaz de identificar processos
históricos e culturais que classificam e posicionam as

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pessoas a partir de uma relação sobre o que é entendido intersetoriais que problematizem as condições da
como feminino e masculino, essencial para o circulação e convivência nos espaços públicos desde a
desenvolvimento de um olhar referente à reprodução de própria escola, seja no campo ou na cidade, para que se
desigualdades no contexto escolar. A perspectiva da promova a convivência mais harmoniosa nos espaços
‘igualdade de gênero’, no currículo, é pauta para um compartilhados, de modo a incentivar uma circulação
sistema escolar inclusivo que crie ações específicas de mais segura de forma eficiente e, sobretudo, mais
combate às discriminações e que não contribua para a humana.
reprodução das desigualdades que persistem em nossa
sociedade. A educação para o trânsito deve prever, no currículo da
Educação Básica, a construção de valores direcionados
Não se trata, portanto, de anular as diferenças ao comportamento respeitoso, ao cuidado com as
percebidas entre as pessoas, mas sim de fortalecer a pessoas e com o meio ambiente, considerando o direito
democracia à medida que tais diferenças não se humano à vida, que se constitui no seu bem maior.
desdobrem em desigualdades. A garantia desse debate
e a elaboração de estratégias de enfrentamento às
diversas formas de violência são, portanto, direitos
4.11. Trabalho, Ciência e Tecnologia (Parecer
assegurados por lei. Esses são pautados em demandas
CNE/CEB nº 11/2010 e Resolução CNE/CEB nº
emergenciais e que reafirmam a necessidade de os
07/2010)
espaços escolares serem lócus de promoção da cidadania
e respeito às diferenças. Para efetivar isso, é necessária Trazer essa temática para o currículo da Educação Básica
a implementação de ações com a perspectiva de eliminar contribui para a compreensão do Trabalho enquanto
atitudes ou comportamentos preconceituosos ou princípio educativo que envolve não só discussões acerca
discriminatórios relacionados à ideia de inferioridade ou do mundo do trabalho, mas também acerca do
superioridade de qualquer orientação sexual, identidade desenvolvimento de capacidades humanas para
ou expressão de gênero, em atendimento ao que transformação da realidade material, social. Relaciona-
concerne nas alterações da Lei Federal de Racismo nº se ainda à compreensão da Ciência e Tecnologia
7.716/89 atualizada em 13 de junho de 2019 pelo enquanto dimensões capazes de provocar reflexões e
Supremo Tribunal Federal.. intervenções sobre o mundo nos aspectos sociais e
naturais sem perder de vista o caráter da
sustentabilidade.
4.9. Educação Alimentar e Nutricional (Lei nº
Nesse sentido, é fundamental que os currículos e as
11.947/2009)
práticas dos professores promovam a pesquisa, como
Esse tema deve ser vivenciado por toda comunidade princípio pedagógico, associada a uma abordagem
escolar de forma contínua e permanente, visando reflexiva dos conteúdos que considere a relação
desenvolver práticas educativas, na perspectiva da complexa entre os potenciais do Trabalho, da Ciência e
segurança alimentar e nutricional, que respeitem a da Tecnologia para resolução de problemas, a ampliação
cultura, as tradições, os hábitos alimentares saudáveis e da capacidade produtiva e empreendedora, bem como
as singularidades dos estudantes. Perpassa pela para a garantia de um espaço de reflexão e atuação
valorização da alimentação escolar, o equilíbrio entre crítica e ética sobre suas influências nos impactos
qualidade e quantidade de alimentos consumidos, além ambientais e sociais.
do estudo sobre macro e micronutrientes necessários
É importante que o currículo da Educação Básica, ao
para a formação do indivíduo.
abordar essa temática, promova uma reflexão sobre as
Dessa forma, o currículo traz a educação alimentar e diversas formas de trabalho, o uso das tecnologias, as
nutricional, inserindo conceitos de alimentação e suas respectivas funções e organização social em torno
nutrição nas diferentes etapas de ensino, considerando de cada profissão, a contribuição dessas para o
o acesso à alimentação saudável como algo fundamental desenvolvimento da sociedade, bem como sobre as
para o crescimento e desenvolvimento dos indivíduos. relações sociais e de poder que se estabelecem em torno
Nessa dimensão, é necessário que o currículo desenvolva do mundo do trabalho.
a percepção de que uma alimentação adequada e
saudável é um direito humano, e que seja adquirida e
consumida garantindo a segurança alimentar e 4.12. Saúde, Vida Familiar e Social (Parecer
nutricional. CNE/CEB nº 11/2010, Resolução CNE/CEB nº
07/2010, Decreto nº 7.037/2009, Parecer CNE/CP
nº 08/2012 e Resolução CNE/CP nº 01/2012)
4.10. Educação para o Trânsito – (Lei nº
A temática saúde é um conceito que nos remete não só
9.503/1997)
a ausência de doença, mas, sobretudo, ao completo
A alta incidência de violência no trânsito, inclusive com bem-estar que permeia as pessoas saudáveis. A
mortes, remete à necessidade de incentivar a concepção que se entende por saúde tem relações
conscientização por meio de um trabalho de Educação diretas com o meio cultural, social, político, econômico,
para o Trânsito, envolvendo valores e princípios ambiental e afetivo em que se vive. A visão histórica dos
fundamentais para um convívio social saudável: respeito diversos significados de saúde também sofre variações
ao próximo, solidariedade, prudência e cumprimento às ao longo do tempo. O currículo, ao desenvolver esse
leis. É preciso promover práticas educativas e tema, deve considerar a saúde numa perspectiva mais

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ampla que envolve as várias dimensões do ser humano, Ensino Fundamental uma vez que o mundo globalizado
tais como: saúde mental, comportamental, atitudinal, oferece oportunidades para que sejam ampliadas as
orgânica, física, motora, afetiva, sensorial, entre outras. relações a partir do estudo de uma segunda língua.

É necessário que a pessoa se perceba em sua Como preceitua a BNCC, o objetivo do ensino da Língua
multidimensionalidade e que a esfera da saúde seja Portuguesa reside em possibilitar aos estudantes uma
reconhecida sob os diversos aspectos que envolvem uma participação efetiva nas práticas das mais variadas
vida saudável. O contexto político relativo a como a linguagens, a fim de lhes ampliar as capacidades
sociedade está organizada também interfere na expressivas linguísticas e seus conhecimentos relativos
dimensão da saúde do cidadão. A estrutura da saúde a essas linguagens.
pública, o planejamento das cidades, o saneamento
básico, o estilo de vida do/no campo ou da/na cidade, o Deve-se, ainda, observar que é essencial aprofundar as
sistema de transporte e habitacional, as relações reflexões acerca dos conhecimentos dos componentes da
familiares e sociais poderão interferir na saúde. área de Linguagem, visto que uma análise mais acurada
sobre a questão é entendida como meio para o
Os temas integradores, acima abordados, além de entendimento dos modos de se expressar e de participar
estarem presentes em habilidades e competências de no mundo e não como fim em si mesma.
diferentes componentes curriculares, devem estimular o
desenvolvimento de atividades para serem vivenciadas Para ensinar Língua Portuguesa, assim como os demais
no contexto da escola, envolvendo todas as áreas do componentes curriculares, é fundamental que se reveja
conhecimento que compõem o currículo. Por isso, é e se avalie concepções, objetivos, procedimentos e
necessário que se realize um trabalho interdisciplinar, resultados, de forma que todas as ações pedagógicas
motivador, inclusivo, resultando em uma experiência possam convergir para um ponto comum: ampliar as
mais enriquecedora para os estudantes, os professores competências comunicativo-interacionais dos
participantes e toda a comunidade escolar. educandos. O empenho de se fazer essa reflexão sobre
a ação pedagógica, nas práticas diárias do ensino de
língua, constitui-se em uma vigília constante sobre o que
se pretende ensinar, para que se pretende ensinar, como
5. AS ÁREAS DO CONHECIMENTO E SUAS se pretende ensinar, o que e como estão sendo avaliados
ORGANIZAÇÕES CURRICULARES os conteúdos escolares. Dessa forma, o professor
encontra condições de não ser apenas um mero
repetidor de listas de conteúdos, muitas vezes, alheios à
5.1. ÁREA I - LINGUAGENS língua que se fala, ouve, lê e escreve.

A área de Linguagens, nos documentos oficiais, é


composta pelos seguintes componentes curriculares:
5.1.1. COMPONENTE CURRICULAR DA LÍNGUA
Língua Portuguesa, Arte, Educação Física nos Anos
PORTUGUESA
Iniciais, e nos Anos Finais com a Língua Inglesa. É
imprescindível, pois, que os estudantes se apropriem das Para ensinar Língua Portuguesa, assim como os demais
especificidades de cada linguagem sem, entretanto, se componentes curriculares, é fundamental que se reveja
distanciar da visão do todo no qual elas estão inseridas. e se avalie concepções, objetivos, procedimentos e
Portanto, é importante que eles percebam a resultados, de forma que todas as ações pedagógicas
dinamicidade das linguagens, considerando o fato de que possam convergir
todos são partícipes desse processo de transformação
contínua. para um ponto comum: ampliar as competências
comunicativas interacionais dos estudantes. O empenho
Tão importante quanto estudar a Língua Portuguesa é de se fazer essa reflexão sobre a ação pedagógica, nas
reconhecer que os outros componentes da área práticas diárias do ensino de língua, constitui-se em uma
representam formas de encontro como novo ao mesmo vigília constante sobre o que se pretende ensinar, para
tempo em que se estabelecem como conexões para as que se pretende ensinar, como se pretende ensinar, e
diversas realidades já vivenciadas pelos estudantes. O como estão sendo avaliados os conteúdos escolares.
trabalho realizado para aproximar os estudantes da Arte Dessa forma, o professor encontra condições de não ser
se estabelece no cotidiano das escolas, a fim de apenas um mero repetidor de listas dos conteúdos,
aproximar realidades de produção cultural que vão do muitas vezes, alheios à língua que se fala, ouve, lê e
popular ao erudito. Uma vez que consideramos que toda escreve.
manifestação de arte deve ser compreendida como
forma de existência da atividade humana e de expressão Neste currículo a concepção de linguagem é vista em
de suas formas de ver e estar no mundo, estudar arte é uma perspectiva sociointeracionista, a qual leva em
condição “sine qua non” para o currículo escolar. consideração tanto as formas linguísticas quanto os
aspectos envolvidos em seu funcionamento, os níveis de
É indispensável que nossos estudantes construam as linguagem e interlocutores, numa visão na qual a língua
habilidades relativas ao fortalecimento do seu corpo e de é um elemento cognitivo e social, constitutiva da
sua saúde, bem como que conheçam a história das realidade e essencialmente dialógica. A partir dessa
práticas desportivas e sua influência para o concepção de linguagem como interação, propõe-se que
desenvolvimento biopsicossocial do ser humano. De o ensino se efetive através de práticas articuladas de
modo semelhante, é imprescindível que a língua oralidade, leitura e escrita e análise linguística.
estrangeira seja alvo de investimento dos anos finais do

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Considerando esses pressupostos, em articulação com 5.1.1.3. Práticas de Produção de Textos


as competências gerais da BNCC, o componente
curricular Língua Portuguesa deve garantir aos Marcuschi (2008) afirma que a escrita é usada em
estudantes o desenvolvimento de competências contextos sociais da vida cotidiana em paralelo com a
específicas, de acordo com os seguintes eixos: oralidade. Em cada texto, as ênfases e os objetivos do
uso da escrita são variados e diversos. Há relação entre
a escrita e o contexto social de produção e recepção,
fazendo surgir gêneros textuais, cada um com suas
5.1.1.1. Práticas de Oralidade formas e funções, suas particularidades temáticas, suas
intenções específicas e formas comunicativas.
São práticas sociais interativas, que se apresentam sob
variadas formas ou gêneros textuais, fundadas na A atividade de escrita é interativa, com expressões e
realidade sonora. Elas são realizadas em níveis de manifestações verbais de ideias, informações, intenções,
registros do menos formal ao mais formal - nos variados crenças ou sentimentos que se quer partilhar. Embora o
contextos de uso. Nesse sentido, o papel da escola é sujeito com quem se quer interagir pela escrita, muitas
mostrar aos estudantes a grande variedade da fala, vezes, não esteja presente, é inegável que ele existe e é
conscientizando-os de que a língua não é homogênea e imprescindível ser levado em consideração no momento
estática, trabalhando com eles diferentes níveis de da produção escrita, assim como devem ser
linguagem, desde o coloquial até o mais erudito. Assim, consideradas também as condições de recepção desse
não se deve considerar nos atos de interação oral o texto.
“certo” e o “errado”, mas saber que a variedade
linguística utiliza, nos diferentes contextos sociais, o Dessa forma, nas práticas de produção de texto, o
registro adequado às diferentes situações de professor deve dar ênfase a práticas de escritas com
comunicação, considerando as intencionalidades e os autoria, destinatário, referência, enfim, decidir sobre o
interlocutores envolvidos no ato comunicativo. Isso que vai ser escrito, para que, para quem e como vai ser
implica em considerar as variedades linguísticas escrito, visto que, socialmente, não existe escrita “para
existentes (geográfica ou diatópica, histórica ou nada”, “para não dizer nada” e “para não ser ato de
diacrônica, social ou diastrática, dentre outras). linguagem” (MARCUSCHI,2008).

É importante destacar que, embora a oralidade e a


escrita da língua apresentem similaridades, há
diferenças entre elas, pois a fala é, na maioria das vezes, 5.1.1.4. Práticas de Análise Linguística
espontânea, a interação se dá, quase sempre, face a face
O desenvolvimento da competência discursiva dos
e é complementada com recursos gestuais, de entonação
estudantes dependerá de um trabalho sistematizado,
e outros, enquanto que a escrita pode ser planejada,
tanto no nível da textualidade (estrutura macro e micro
elaborada e não dispõe de recursos extralinguísticos.
dos gêneros textuais) quanto no nível da gramática
(competência linguística). Assim, o isolamento de
unidades mínimas é um procedimento de análise que só
5.1.1.2. Práticas de Leitura de Textos tem sentido se retomado ao nível do texto. A análise do
uso de determinada palavra em um texto só terá sentido
A leitura de textos é uma atividade de interação entre se contribuir para a sua compreensão em um contexto
sujeitos, indo além da simples decodificação de sinais comunicativo específico.
gráficos. O leitor como um dos sujeitos da interação,
busca recuperar, interpretar e compreender o conteúdo Possenti (1999) define gramática a partir da noção de
e as intenções do autor, por meio dos elementos conjunto de regras: as que devem ser seguidas
gráficos, elaborando hipóteses, confirmando-as ou (gramática normativa), as que são seguidas (gramática
refutando-as e tirando suas conclusões. Muito do que o descritiva) e as que o falante domina (gramática
leitor consegue apreender faz parte do seu internalizada). Nessa perspectiva, o objetivo do ensino
conhecimento de mundo, acerca dos elementos que da língua não é formar gramáticos ou linguistas
constituem e facilitam a compreensão do texto. descritivistas, mas usuários da língua, pessoas capazes
de interagir verbalmente, de modo autônomo e eficaz,
A leitura tem como funções: o acesso ao conhecimento na perspectiva dos propósitos das múltiplas situações de
produzido, o desenvolvimento do prazer estético, o interação em que estejam engajados.
acesso às especificidades da escrita, o
lazer(hedonística), a fuga da realidade, o estímulo à Deve-se considerar como competência geral para o
criatividade, o preenchimento de tempo, a satisfação das ensino da Língua Portuguesa a ampliação da capacidade
pessoais, a moralidade; o auto respeito, dentre outras discursiva do estudante em atividades de uso social da
(MARCUSCHI,2008). As atividades de leitura em língua, de maneira a compreender outras exigências de
contextos escolares devem, assim, contribuir para a adequação da linguagem. Segundo Beaugrande e
ampliação dos repertórios de informação do leitor. As Dressler(1983), há sete fatores que condicionam as
experiências gratuitas do prazer de ler permitem situações de produção textual, quais sejam: a coerência
também que se compreenda o que é típico da escrita e a coesão (de natureza linguística e conceitual); e a
formal dos textos da comunicação pública. intencionalidade, a aceitabilidade, a situacionalidade, a
informatividade e a intertextualidade (de natureza social
e pragmática). Assim, um texto bem elaborado deve
conter esses fatores de textualidade. Quanto mais
variado for o contato do estudante com diferentes tipos

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e gêneros textuais, mais fácil será assimilar as vem adequar e atualizar os Parâmetros Curriculares
regularidades que determinam o seu uso. Nacionais se dará a partir de quatro linguagens: Artes
Visuais, Dança, Música e Teatro. A cultura brasileira
Em relação à Literatura, esta tem sido uma forte aliada deve, de acordo com as Leis 10.639/03 e 11.645/08,
no desenvolvimento cultural dos estudantes. É valorizar a história e cultura de matriz africana, afro-
importante não ser concebida como uma prática utilitária brasileira e indígena.-
de leitura ou ainda que o texto literário sirva como
pretexto para o trabalho da gramática ou de outros A BNCC propõe que a abordagem das linguagens: Artes
componentes do currículo, mas como atividade visuais, Dança, Música e Teatro articule seis dimensões
autônoma, funcionando como um jogo em torno da do conhecimento que, de forma indissociável e
linguagem, das ideias, das formas, sem subordinação a simultânea, caracterizam a singularidade da experiência
um objetivo prático gramatical. artística. Não se trata de eixos temáticos ou categorias,
mas de linhas maleáveis que se interpenetram,
constituindo a especificidade da construção do
conhecimento em Arte na escola, sem nenhuma
5.1.2. COMPONENTE CURRICULAR DE ARTE
hierarquia ou ordem entre elas, para se trabalhar com
A arte surgiu ainda nos primórdios da humanidade, dada cada uma no campo pedagógico. Essa referência busca
a necessidade de o ser humano primitivo expressar facilitar o processo de ensino e aprendizagem em Arte,
ideias e sentimentos na sua relação com a natureza. integrando os conhecimentos do componente curricular.
Sendo o ser humano dotado de raciocínio lógico, Sendo os conhecimentos e as experiências artísticas
diversificou o seu modo de viver, pensar e agir. A partir constituídos por materialidades verbais e não verbais,
daí a criatividade humana e a tecnologia existente levou sensíveis, corporais, visuais, plásticas e sonoras, é
à invenção de objetos, artefatos e utensílios para auxiliar importante levar em conta sua natureza vivencial,
tarefas do cotidiano, garantir a sobrevivência ou adornar experiencial e subjetiva. As dimensões são:
corpos e ambientes, unindo o uso do raciocínio lógico ao
• Criação: refere-se ao fazer artístico, quando os
das mãos no ato de “criar”. Revelou-se, então, como
sujeitos criam, produzem e constroem. Trata do
uma de suas primeiras ações sobre a natureza, em que
apreender o que está em jogo durante o fazer artístico,
o homem a utiliza e transforma (FISCHER, 1983). Disso
permeado por tomadas de decisão, entraves, desafios,
surgiram as linguagens visual (pintura rupestre), oral
conflitos, negociações e inquietações.
(sons, palavras) e simbólica (gestos, escrita,
vestimentas e adornos), ressignificando as ideias • Crítica: refere-se às impressões que impulsionam os
humanas em objetos (vasos, colares, utensílios, armas sujeitos em direção a novas compreensões do espaço em
de caça), e atos artísticos (música, dança e teatro) que que vivem, através do estudo e pesquisa. Articula ação
reuniam o senso auditivo e/ou visual. e pensamento propositivos, envolvendo aspectos
estéticos, políticos, históricos, filosóficos, sociais,
A Arte desenvolveu-se num processo sócio-histórico-
econômicos e culturais.
político, relacionando ambiente (lugar, espaço, tempo),
filosofia (pensamento, ideias), antropologia • Estesia: é a experiência sensível dos sujeitos em
(comportamentos, modos de vida, costumes) e relação ao espaço, ao tempo, ao som, à ação, às
metafísica (crenças, valores, coisas místicas). É nela que imagens, ao próprio corpo e materiais diversos. Nela, o
se interpreta/reinterpreta, se cria/recria o mundo, nos corpo em sua totalidade (emoção, percepção, intuição,
contextos que influem a criação, expressão e sensibilidade e intelecto) protagoniza a experiência, pela
manifestações artístico-culturais plenas de sentido, sensibilidade e percepção para se conhecer a si mesmo,
simbologia, empirismo e epistemologia. O contato com o outro e o mundo.
ela deve favorecer o diálogo, questionamento e análise
do objeto e/ou ato artístico. A arte na educação como • Expressão: possibilidades de exteriorizar e manifestar
expressão pessoal e como cultura, é um importante as criações subjetivas por meio de procedimentos
instrumento para a identificação cultural e o artísticos, individual e coletivamente. Emerge da
desenvolvimento individual (BARBOSA, 2010). experiência artística com os elementos constitutivos de
cada linguagem, dos seus vocabulários específicos e das
No ensino-aprendizagem em Arte, a celebrada proposta suas materialidades.
ou abordagem triangular de ensino da arte, pensada por
Ana Mãe Barbosa prevê três ações básicas a serem • Fruição: refere-se ao deleite, ao prazer, ao
contempladas: apreciar/ler, contextualizar e estranhamento e à abertura para se sensibilizar durante
praticar/produzir. Esta tríade não privilegia qualquer a participação em práticas artísticas e culturais;
dessas ações, alinhando-as no ato da fruição, implicando na relação continuada dos sujeitos com
decodificação e reprodução/releitura de um objeto produções artísticas e culturais das mais diversas
artístico simultânea e dialogicamente. "A arte como épocas, lugares e grupos sociais.
linguagem aguçadora dos sentidos transmite significados
que não podem ser transmitidos por meio de nenhum • Reflexão: refere-se ao processo de construir
outro tipo de linguagem, tal como a discursiva ou a argumentos e ponderações sobre as fruições, as
científica" (BARBOSA, 2010). experiências e os processos criativos artísticos e
culturais. É a atitude de perceber, analisar e interpretar
No Sistema Municipal de Ensino do Jaboatão dos a arte, seja como criador ou leitor.
Guararapes - SMEJG, o estudo da Arte, como previsto na
Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Nº 9.394/96 e A referência a essas dimensões busca facilitar o processo
estruturado na Base Nacional Comum Curricular, que de ensino e aprendizagem em Arte, integrando os

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conhecimentos do componente curricular. Uma vez que tradição e manifestações contemporâneas,


os conhecimentos e as experiências artísticas são reelaborando-as nas criações em Arte.
constituídos por materialidades verbais e não verbais,
sensíveis, corporais, visuais, plásticas e sonoras. É 4. Experienciar a ludicidade, a percepção, a
importante levar em conta sua natureza vivencial, expressividade e a imaginação, ressignificando espaços
experiencial e subjetiva. da escola e de fora dela no âmbito da Arte.

Segundo a BNCC é importante que o componente 5. Mobilizar recursos tecnológicos como formas de
curricular Arte considere o diálogo entre essas registro, pesquisa e criação artística.
linguagens, com a literatura, e outras formas estéticas
6. Estabelecer relações entre arte, mídia, mercado e
híbridas, como as artes circenses, o cinema e a
consumo, compreendendo, de forma crítica e
“performance”, integrando aprendizagens amplas e
problematizadora, modos de produção e de circulação da
complexas e propiciando entender os costumes e valores
arte na sociedade.
das culturas, manifestados na arte. Do ponto de vista
histórico, social e político, isso contribui para a formação 7. Problematizar questões políticas, sociais, econômicas,
integral do Ser. Ao longo do Ensino Fundamental, os científicas, tecnológicas e culturais, por meio de
estudantes devem expandir seu repertório e ampliar sua exercícios, produções, intervenções e apresentações
autonomia nas práticas artísticas, por meio da reflexão artísticas.
sensível, imaginativa e crítica sobre os conteúdos
artísticos e seus elementos constitutivos e também sobre 8. Desenvolver a autonomia, a crítica, a autoria e o
as experiências de pesquisa, invenção e criação. trabalho coletivo e colaborativo nas artes.

Na BNCC de Arte, cada uma das quatro linguagens do 9. Analisar e valorizar o patrimônio artístico nacional e
componente curricular constitui uma unidade temática, internacional, material e imaterial, com suas histórias e
que reúne objetos de conhecimento e habilidades diferentes visões de mundo.
articulados às seis dimensões apresentadas
anteriormente. Além dessas, uma última unidade O mundo atual, influenciado pelas mídias, é carregado
temática, Artes integradas, explora as relações e de informações de apelo visual que leva as pessoas a
articulações entre as diferentes linguagens e suas consumirem muitos produtos e serviços: imagens,
práticas, inclusive aquelas possibilitadas pelo uso das vídeos e representações do real que se fazem cada vez
novas tecnologias de informação e comunicação. mais presentes no cotidiano.

Nessas unidades, as habilidades são organizadas em dois Assim, as Artes Visuais tradicionalmente conhecidas –
blocos (1º ao 5º ano e 6º ao 9º ano), para permitir que pintura, desenho, escultura, gravura, arquitetura, arte
os sistemas e as redes de ensino, as escolas e os decorativa – fundamentam e se associam às expressões
professores organizem seus currículos e suas propostas visuais contemporâneas: fotografia, cinema, televisão,
pedagógicas com a devida adequação aos seus vídeo, web arte, holografia, instalação, “design”, moda,
contextos. Não sendo proposta de forma linear, rígida ou performance, “flash mobile”, “lives”, entre outras,
cumulativa com relação a cada linguagem ou objeto de ditadas pela tecnologia. E as pessoas fazem imediatas
conhecimento, mas relacionando cada nova experiência associações com símbolos, signos, mensagens, códigos
às anteriores e às posteriores na aprendizagem em Arte. e outras formas de percepção visual e de valores
Os agrupamentos propostos não devem ser tomados culturais dos povos.
como modelo obrigatório para o desenho dos currículos.
Nesse contexto, o olhar é entendido como forma de
Assim, as competências específicas da área de
aprendizagem, potencializando o simples fato de
Linguagens, no componente curricular Arte, deve
ver/enxergar para percebê-lo, compreendê-lo e
garantir aos estudantes o desenvolvimento de algumas
reinterpretá-lo, ampliando a cultura visual, que sempre
competências específicas.
acompanhou o ser humano como
1. Explorar, conhecer, fruir e analisar criticamente
um campo que aborda os hábitos e costumes visuais dos
práticas e produções artísticas e diversas sociedades, em
povos os considera como fonte de transmissão cultural e
distintos tempos e espaços, para reconhecer a arte como
entendimento do mundo e da realidade, combinando
um bem cultural do seu entorno social, dos povos
estudos da cultura, arte, história e antropologia.
indígenas, das comunidades tradicionais brasileiras e de
fenômeno cultural, histórico, social e sensível a Na escola as atividades com Artes Visuais devem levar o
diferentes contextos e dialogar com as diversidades. estudante a uma visão mais crítica, provocadora de
sentidos e estesias e ajudá-lo a compreender como, por
2. Compreender as relações entre as linguagens da Arte
que e de que maneira o fenômeno visual acontece para,
e suas práticas integradas, inclusive aquelas
daí, reconstruir/ressignificar esse olhar num processo de
possibilitadas pelo uso das novas tecnologias de
contextualização, fruição e produção, a partir de diversas
informação e comunicação, pelo cinema e pelo técnicas de composição visual (pintura, desenho,
audiovisual, nas condições particulares de produção, na colagem, entre outras).
prática de cada linguagem e nas suas articulações.
No campo da linguagem corporal, a Dança sempre
3. Pesquisar e conhecer distintas matrizes estéticas e esteve associada ao raciocínio lógico, ampliando seu
culturais – especialmente manifestas na arte e nas sentido e expressão para representar ideias e fatos e
culturas que constituem a identidade brasileira –, sua simbolizar elementos naturais e artificiais. Na
primitividade, a dança, consistia na imitação (mimese)

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da natureza por meio do corpo, codificando o movimento Ela desperta o respeito e a valorização aos saberes e à
dos astros, animais e plantas e embelezando expressões identidade dos estudantes. Adequando a sua prática ao
deíficas; quem criava os movimentos era considerado trabalho com a diversidade cultural brasileira, a música
como alguém ligado ao “sagrado”, diferente dos demais possibilita compartilhar experiências e despertar a
seres humanos, conforme BERTHOLD(2010). autonomia e dignidade. No campo científico, a
neurociência revela que a música ativa diversas partes
Ainda, segundo RAMOS (2009), do cérebro, estimula e integra simultaneamente várias
funções cognitivas: memória, associação sensorial e
• “A mimese, entendida não como mera imitação,
corporal, linguagem corporal e simbólica. A música nas
cópia (sentido hegemônico modernamente),
escolas, se compreendida para o desenvolvimento da
mas como produção que se constitui
cidadania, faz superar as negatividades de quaisquer
ontologicamente com identidade própria, será
processos formativos, possibilitando as positividades
sempre a apresentação de algo que
presentes nas culturas, garantindo condições subjetivas
anteriormente inexistia, ou que só havia em
e objetivas da humanização dos povos e formação
potência, e agora se instaura, ou se repete, no
cidadã. Pode ser trabalhada através de cantigas de roda,
sentido de suceder no tempo essa latência
cancioneiro popular, grupos vocais e instrumentais,
anterior, concreta ou imaginária, e se
bandas musicais ou fanfarra, instrumentos alternativos
materializa diante dos nossos olhos como se
e experimentos acústicos diversos.
fosse a própria natureza a fazê-lo”. (RAMOS,
2009) Ainda com a ideia de se expressar, o ser humano fez
surgir o Teatro. Originado nele próprio, sua relação com
a natureza e sua capacidade criativa, aparece em várias
Assim, surgiram rituais, procissões, desfiles e culturas, épocas e concepções variadas: nas expressões
expressões que, mesmo sem o uso da palavra, eram orientais (China, Japão e Índia) e heranças ocidentais
facilmente compreendidas pelos espectadores no (civilizações Mesopotâmica e Helênica), entre outras. O
contexto sociocultural e espaço-temporal, aprimorando- Teatro surge da expressão do corpo e da voz por seres
se e ganhando especificidades em cada cultura e humanos que, por exemplo, chamava a atenção,
transitando do sagrado para o mundano; dos palácios vestidos e adornados com movimentos ao redor das
para as ruas; das procissões para a carnavalização; do fogueiras, imitando a
erudito para o popular; confundindo-se com a gênese do
natureza e seres vivos e se diferenciando dos demais, o
Teatro e religiões primitivas. Na Antiguidade e
que lhes conferia um sentido mágico e encantatório: “o
Modernidade a Dança deu origem às danças: palaciana,
Xamã, que é o porta-voz do deus, o dançarino
pastoris (origem da quadrilha junina), clássica, moderna
mascarado que afasta os demônios, o ator que traz a
e contemporânea, popular (frevo, maracatu, caboclinho,
vida à obra do poeta - todos obedecem ao mesmo
forró), de rua (“street dance”, “break”, “hip hop”,
comando, que é a conjuração de uma outra realidade,
“funk”); sempre para expressar alegria, tristeza,
mais verdadeira. (...)elevam o artista acima das leis que
reverência, sentimentos nobres e outros aspectos da
governam a vida cotidiana, o transforma no mediador de
vida, coreografadas nas composições corporais dos
um vislumbre mais alto; e a presença de espectadores
povos (BERTHOLD, 2010).
preparados para receber a mensagem desse vislumbre”.
No ambiente da escola, a Dança deve ser entendida (BERTHOLD, 2010).
como aprendizado corporal e cinestésico, valorização da
Com a convenção dos gestos, sons, palavras,
cultura e identidade. Pode ser trabalhada a partir de
movimentos e espaços, o Teatro se desenvolveu,
cantigas de roda, experimentos corporais, montagens
principalmente na Grécia e Roma, que criaram o aparato
coreográficas e outras ações que contemplem a mesma,
cênico (Theatron) e o texto teatral por volta de 500 a.C.
no fazer artístico dos estudantes. Deve priorizar as
e os gêneros da Tragédia e Comédia, celebrados até hoje
manifestações originais do país e da região, nas suas
por vários autores ao longo dos séculos, com variantes
formas populares e eruditas.
estilísticas a cada era. De natureza complexa, estabelece
A Música é uma expressão originária de todos os povos, relações com outras linguagens da arte (música, dança,
que abrange os diversos usos e funções: artísticas, literatura e suas diversas modalidades), numa rede
culturais, sociais, religiosas, filosóficas e políticas, intercontextual e inter/transdisciplinar.
conforme apresentado na Proposta Curricular da Rede
Na escola, o Teatro deve favorecer a percepção do
Municipal (2011). Sua aplicabilidade transdisciplinar no
mundo, a vivência de personagens do cotidiano, a
contexto educacional aciona estratégias cognitivas,
criação/recriação de dramaturgias escritas ou cênicas e
motoras, afetivas, críticas e contribui para a formação
o protagonismo individual e coletivo dos estudantes.
integral do ser humano. O ensino da Música, previsto
Também desenvolver o senso crítico e reflexivo e a
pela Lei Federal Nº 11.769/ 2008, torna a Música parte
convivência em grupo; ajudar a lidar com: regras,
do componente curricular obrigatório na Educação
tempo-ritmo de cada indivíduo, ética e respeito,
Básica e instituída como constituinte da Arte. De acordo
desenvolvendo aspectos afetivos, cognitivos e
com Fonterrada (2008), pode-se compreender a
socioculturais. Pode ser trabalhado com brincadeiras do
educação musical como um espaço para inserção da arte
faz-de-conta, jogos dramáticos ou teatrais,
na vida do ser humano, para atingir outras dimensões
improvisações com lendas, contos e narrativas da
de si, do outro e com o mundo. Deve ter um sentido
tradição oral e textos dramáticos de autores nacionais e
muito mais amplo que apenas divertir ou desenvolver
internacionais, jogos corporais, mímica e pantomima,
habilidades.
entre outros.

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5.1.3. COMPONENTE CURRICULAR DE EDUCAÇÃO . Brincadeiras e Jogos;


FÍSICA
. Esportes;
O Referencial Curricular da Educação do Município do
Jaboatão dos Guararapes, a partir da LDBEN - Lei Nº . Danças;
9.394/96 atribui à Educação Física valor igual aos demais
. Lutas;
componentes curriculares da escola, abandonando o
entendimento de ser uma mera atividade destituída de . Ginásticas;
sentido e significado na prática educativa, passando a
ser considerada como área do conhecimento, como . Práticas Corporais de Aventura.
estabelecido em seu Art.26 da Educação do Município. “A
Educação Física, integrada à proposta pedagógica da A Unidade Temática Brincadeiras e Jogos abrange
escola, é componente curricular da Educação Básica, atividades voluntárias desenvolvidas dentro de
ajustando-se as faixas etárias e às necessidades da determinados limites de tempo e espaço, caracterizadas
população escolar, sendo facultativa nos cursos pela criação e alteração de regras, pelo respeito de cada
noturnos”.(BRASIL,1996). participante ao que foi acordado coletivamente, bem
como pela perspectiva do ato de brincar em si. Essas
A referida Lei, então, passou por diferentes ajustes para práticas não têm um conjunto estável de regras e,
garantir, no texto de seus artigos, o real entendimento portanto, ainda que possam ser reconhecidos como
da Educação Física enquanto componente curricular, jogos similares em diferentes épocas e partes do mundo,
sofrendo duas alterações: uma incluindo o termo são recriados, constantemente, pelos diversos grupos
“obrigatório”, por meio da Lei nº 10.328/2001; e a outra culturais. Desse modo, é possível reconhecer que um
pela Lei nº 10.793/2003,definindo a atual redação: conjunto grande dessas brincadeiras e jogos é
propagado através de redes de sociabilidade informais,
“Art. 26. (...) o que possibilita reconhecê-los como populares.
• §3º A Educação Física integrada à proposta
pedagógica da escola, é componente curricular É de suma relevância estabelecer uma diferença entre
obrigatório da Educação Básica, sendo sua jogo como conteúdo específico e jogo como ferramenta
prática facultativa ao estudante que: cumpra auxiliar de ensino. Sabe-se que, no campo educacional,
jornada de trabalho igual ou superior a seis jogos e brincadeiras são criados com o objetivo de
horas, maior de trinta anos de idade, que provocar interações sociais específicas entre seus
estiver prestando serviço militar inicial, ou que, participantes ou para consolidar determinados
em situação similar, estiver obrigada à prática conhecimentos. Nessa visão, o jogo, é compreendido
da Educação Física, amparado pelo Decreto Lei como caminho para outra aprendizagem.
n.1.044/69 e que tenha prole”.
Destaca-se, nesse contexto, a mesma importância
atribuída aos jogos e brincadeiras presentes na memória
dos povos indígenas e das comunidades tradicionais,
A Educação Física está inserida na área de Linguagens e representando formas de conviver, possibilitando o
segundo Daolio (2004), reflete a importância hoje reconhecimento de seus valores e formas de viver em
atribuída ao movimento corporal humano como instância diferentes contextos ambientais e socioculturais
de comunicação, de interações recíprocas mediante brasileiros.
expressões (significação e ressignificação) de gestos
corporais culturalmente construídos, legitimados, A Unidade Temática Esportes engloba as
reconhecidos e compartilhados como expressões das manifestações formais e derivadas dessa prática. O
linguagens. Desse modo, a Educação Física é esporte é definido pela comparação de um determinado
compreendida como o componente curricular desempenho entre indivíduos ou grupos (adversários),
responsável pelo ensino e aprendizagem das práticas gerido por um conjunto de regras formais,
corporais culturalmente construídas e constituídas como institucionalizadas por organizações (associações,
expressões das linguagens humanas ao longo do federações e confederações esportivas), definidas por
processo histórico de civilização. normas de disputa que promovem o desenvolvimento
das modalidades em todos os níveis de competição.
Nesta perspectiva, o desafio da Educação Física é Entretanto, essas características não apresentam um
contribuir para o desenvolvimento de uma educação único sentido ou apenas um significado entre aqueles
compreendida como um processo de formação humana, que o praticam, principalmente quando o esporte é
que valoriza o domínio de conhecimentos, a formação desenvolvido no contexto do lazer, da educação e da
política e ética dos sujeitos escolares, bem como garantir saúde.
uma educação inclusiva. Esta área do conhecimento está
comprometida com a construção de uma escola como As práticas provenientes dos esportes preservam suas
tempo e espaço de convivência sociocultural, com o características formais de regulação das ações, mas
aprendizado de saberes e desenvolvimento do sujeito, adequam as demais normas institucionais aos interesses
respeitando a pluralidade das potencialidades humanas, dos participantes, às características quanto ao espaço,
valorizando o conhecimento, a arte, a identidade, os número de jogadores, material disponível etc.
sentimentos e as suas múltiplas linguagens.
Essa unidade temática está estruturada num modelo de
Portanto, as práticas corporais na Educação Física, classificação baseado na lógica interna, tendo como
segundo a BNCC (2017) estão organizadas em seis pressuposto os critérios de cooperação, interação com o
unidades temáticas:

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adversário, desempenho motor e objetivos táticos da meio de combinações de ataque e defesa (judô, boxe,
ação. esgrima, “tae kwon do”, capoeira etc.).

Essa organização propicia a distribuição das modalidades A Unidade Temática Ginásticas constitui propostas
esportivas em categorias, favorecendo as ações motoras práticas com formas de organização e significados
intrínsecas, agrupando esportes que apresentam distintos, o que exige a necessidade de explicitar a
exigências motrizes semelhantes no desenvolvimento de classificação de cada uma: ginástica geral, de
suas práticas. condicionamento físico e de conscientização corporal.

Conforme a BNCC, os esportes estão classificados em A ginástica geral, também denominada como ginástica
sete categorias, o que facilita a compreensão do que para todos, agrupa as práticas corporais que têm como
caracteriza cada uma delas, mas não se constituem elemento organizador a exploração das possibilidades
como prescrições das modalidades a ser acrobáticas e expressivas do corpo, a interação social, o
obrigatoriamente trabalhadas na escola. São elas: compartilhamento do aprendizado e a não
competitividade.
. Marca: modalidades caracterizadas pela comparação
de resultados registrados em segundos, metros ou quilos Pode ser formada de exercícios no solo, no ar (saltos),
(todas as provas do atletismo, ciclismo, levantamento de em aparelhos (trapézio, corda, fita elástica), de maneira
peso etc.). individual ou coletiva, e combina um conjunto diverso de
piruetas, rolamentos, paradas de mão, pontes,
.Precisão: modalidades que se caracterizam por pirâmides humanas etc. Compõem também essa prática
arremessar/lançar um objeto, visando acertar um alvo os chamados jogos de malabar ou malabarismo.
específico, estático ou em movimento, com a
comparação do número de tentativas realizadas, a As ginásticas de condicionamento físico se caracterizam
pontuação obtida em cada tentativa (maior ou menor do pela exercitação corporal voltada à melhoria do
que a do adversário) ou a proximidade do objeto rendimento, à aquisição e à manutenção da condição
arremessado ao alvo (mais perto ou mais longe do que física individual ou à modificação da composição
o adversário conseguiu deixar), como nos seguintes corporal. Na maioria das vezes, são organizadas em
casos: bocha, golfe, tiro com arco, tiro esportivo etc. sessões planejadas de movimentos repetidos, com
frequência e intensidade definidas.
.Técnico-combinatório: modalidades em que o
resultado da ação motora comparado é a qualidade do As ginásticas de conscientização corporal são formadas
movimento segundo padrões técnico-combinatórios por práticas que utilizam movimentos suaves e lentos,
(ginástica artística, ginástica rítmica). como a recorrência a posturas ou à conscientização de
exercícios respiratórios, voltados à obtenção de uma
.Rede/quadra dividida ou parede de rebote: melhor percepção sobre o próprio corpo (Pilates).
modalidades que se caracterizam por arremessar, lançar Algumas dessas práticas que constituem esse grupo têm
ou rebater a bola em direção a setores da quadra origem em práticas corporais milenares da cultura
adversária nos quais o adversário seja incapaz de oriental como a “ioga” e o “taíchíchuan”.
devolvê-la da mesma forma ou que leve o adversário a
cometer um erro dentro do período de tempo em que o A Unidade Temática Danças compreende o conjunto
objeto do jogo está em movimento. Alguns exemplos de das práticas corporais caracterizadas por movimentos
esportes de rede são voleibol, vôlei de praia, tênis de rítmicos, organizados em passos e evoluções específicas,
campo, tênis de mesa, “badminton” e peteca. Já os também podendo ser integradas a coreografias. As
esportes de parede incluem raquetebol, “squash” etc. danças podem ser desenvolvidas de maneira individual,
em duplas ou em grupos. Dessa maneira, além das
.Campo e taco: modalidades que se caracterizam por danças presentes no contexto comunitário e regional,
rebater a bola lançada pelo oponente o mais longe podem ser trabalhadas as danças do Brasil e do mundo,
possível, para tentar percorrer o maior número de vezes as de matrizes indígenas e africanas, as danças urbanas
as bases ou a maior distância possível entre as bases, e folclóricas regionais e as danças de salão e
enquanto os defensores não recuperam o controle da contemporânea.
bola, e, assim, somar pontos (beisebol, críquete etc.).
A Unidade Temática Lutas é voltada para as disputas
.Invasão ou territorial: modalidades que se corporais, nas quais os participantes utilizam técnicas,
caracterizam por comparar a capacidade de uma equipe táticas e estratégias específicas para imobilizar,
introduzir ou levar uma bola (ou outro objeto) a uma desequilibrar, atingir ou excluir o oponente de um
meta ou setor da quadra/campo defendida pelos determinado espaço, combinando ações de ataque e
adversários (gol, cesta, “touchdown” etc.) protegendo, defesa direcionadas ao corpo do adversário. Dessa
simultaneamente o próprio alvo, meta ou setor do campo maneira, além das lutas presentes no contexto
(basquetebol, “frisbee”, futebol, futsal, futebol comunitário e regional, podem ser trabalhadas lutas
americano, “handebol”, hóquei sobre grama, polo brasileiras (capoeira, “huka-huka”, luta marajoara etc.),
aquático, “rúgbi” etc.). bem como lutas de diversos países do mundo (judô,
“aikido”, “jiu-jítsu”, “muay thai”, boxe, “chinese boxing”,
.Combate: modalidades caracterizadas como disputas
esgrima, “kendo” etc.).
nas quais o oponente deve ser subjugado, com técnicas,
táticas e estratégias de desequilíbrio, contusão, Por fim, na Unidade Temática Práticas Corporais de
imobilização ou exclusão de um determinado espaço, por Aventura, utilizam-se expressões e formas de
experimentação corporal focados nas perícias e proezas

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provocadas pelas situações de imprevisto surgidas práticas de linguagem e da experiência estética,


quando o praticante interage com um ambiente inclusiva e intercultural das crianças.
desafiador.

Vale ressaltar que a diferenciação das Práticas Corporais


de Aventura tem por base o ambiente onde são 5.1.3.2. A Educação Física no Ensino Fundamental
praticadas: na natureza e urbanas. As práticas de - Anos Finais
aventura na natureza são caracterizadas pela exploração
No que concerne aos Anos Finais, o trabalho a ser
das incertezas que o ambiente físico cria para o
desenvolvido deverá explorar as práticas corporais numa
praticante (corrida orientada, corrida de aventura,
perspectiva de vivência, apropriação, aprofundamento,
corridas de “mountain bike”, rapel, tirolesa, arborismo
ressignificação e reconstrução, no contexto histórico e
etc.). Já nas práticas de aventura urbanas são
social da cultura humana em geral, garantindo aos
explorados os ambientes da cidade para o
estudantes a aprendizagem num nível de experimento
desenvolvimento de “parkour”, “skate”, patins, “bike”
que os possibilite refletir sobre a ação, construir valores
etc.
e o protagonismo comunitário.
Vale ressaltar que, em princípio, todas as práticas
O desenvolvimento do processo de ensino e
corporais poderão ser objeto do trabalho pedagógico em
aprendizagem do componente curricular Educação Física
qualquer etapa e modalidade de ensino. No entanto,
nos Anos Iniciais e Finais deverá atender com base na
alguns critérios de progressão do conhecimento devem
BNCC, competências específicas, como:
ser garantidos, tais como os elementos específicos das
diferentes práticas corporais, as características dos 1. Compreender a origem da cultura corporal de
sujeitos e os contextos de atuação, sinalizando movimento e seus vínculos com a organização da vida
tendências de organização dos conhecimentos. coletiva e individual.
É importante frisar que apesar de não ter sido 2. Planejar e empregar estratégias para resolver desafios
apresentada como uma das práticas corporais do e aumentar as possibilidades de aprendizagem das
Currículo da Educação Física no Município, ressalta-se a práticas corporais, além de se envolver no processo de
necessidade, quando possível, dos estudantes terem a ampliação do acervo cultural nesse campo.
oportunidade de vivenciar práticas corporais aquáticas,
em razão da sua relevância para a segurança pessoal e 3. Refletir, criticamente, sobre as relações entre a
seu potencial de fruição durante o lazer. Essas práticas realização das práticas corporais e os processos de
englobam tanto os esportes aquáticos (em especial, a saúde/doença, inclusive no contexto das atividades
natação em seus quatro estilos competitivos), quanto a laborais.
proposta de vivenciar atividades aquáticas como
aprender, entre outros movimentos básicos, o controle 4. Identificar a multiplicidade de padrões de
da respiração, a flutuação em equilíbrio, a imersão e os desempenho, saúde, beleza e estética corporal,
deslocamentos na água. analisando, criticamente, os modelos disseminados na
mídia e discutir posturas consumistas e preconceituosas.
Convém destacar que as práticas corporais na escola
deverão ser recriadas com base em sua função social e 5. Identificar as formas de produção dos preconceitos,
suas possibilidades materiais e o cenário de cada compreender seus efeitos e combater posicionamentos
contexto escolar, podendo ser desenvolvidas em discriminatórios em relação às práticas corporais e aos
qualquer etapa e modalidade de ensino. seus participantes.

O Referencial Curricular do Município segue critérios de 6. Interpretar e recriar os valores, os sentidos e os


progressão do conhecimento, respeitando as significados atribuídos às diferentes práticas corporais,
especificidades de cada etapa/ano, numa perspectiva bem como aos sujeitos que delas participam.
inclusiva, levando em conta o reconhecimento do direito
7. Reconhecer as práticas corporais como elementos
assegurado pela Declaração de Salamanca aprovada na
constitutivos da identidade cultural dos povos e grupos.
Conferência Mundial de Educação (1994).
8. Usufruir das práticas corporais de forma autônoma
Assim, o componente curricular de Educação Física deve
para potencializar o envolvimento em contextos de lazer,
garantir aos estudantes o desenvolvimento de
ampliar as redes de sociabilidade e a promoção da
competências específicas.
saúde.

9. Reconhecer o acesso às práticas corporais como


5.1.3.1. A Educação Física no Ensino Fundamental direito do cidadão, propondo e produzindo alternativas
- Anos Iniciais para sua realização no contexto comunitário.

Nos Anos Iniciais, o foco do ensino-aprendizagem é a 10. Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes
valorização do trabalho lúdico a partir do resgate das brincadeiras, jogos, danças, ginásticas, esportes, lutas e
vivências experimentadas na Educação Infantil de práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho
maneira articulada, progressiva e sistemática. Nesse coletivo e o protagonismo.
contexto, a progressão do conhecimento, para os anos
iniciais, deverá favorecer a consolidação das
aprendizagens anteriores garantindo ampliação das

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5.1.4. COMPONENTE CURRICULAR DA LÍNGUA 5.1.4.1. Língua Inglesa nos Anos Finais do Ensino
INGLESA Fundamental

Na era da globalização digital, as novas tecnologias Apesar do ensino de uma língua estrangeira ser
facilitam o acesso à informação e, ao mesmo tempo, imprescindível na sociedade ser seguido. No entanto, os
provocam mudanças profundas na forma como as estudantes são convidados a refletir sobre o que é
pessoas interagem, produzem, se relacionam e adequado e inteligível nas diferentes interações.
aprendem. Nesse cenário, aprender uma língua
estrangeira é fundamental para participar ativa e O esquema curricular proposto pelo documento organiza
criticamente em meio a essa sociedade interconectada e as habilidades da área em cinco eixos:
plural.
contemporânea, a obrigatoriedade do ensino de Língua
Nessa perspectiva, o papel social da Língua Inglesa Inglesa no Brasil é algo recente. Essa obrigatoriedade só
ultrapassa as fronteiras geográficas e políticas e é foi ampliada no currículo do Ensino Fundamental com a
reconhecido como um dos principais instrumentos, capaz Reforma do Ensino Médio (Lei n°13.415, 2017), que
de ampliar os horizontes dos estudantes em termos altera a LDBEN (n° 9.394, de 1996), na qual o ensino do
profissionais e pessoais, contribuindo para a formação idioma se torna obrigatório no país a partir do 6° ano do
integral dos estudantes. (MOITA LOPES, 2005). Ensino Fundamental ao lado de Língua Portuguesa e
Matemática.
Nesse contexto, o caráter formativo do estudo da Língua
Inglesa está, portanto, intimamente ligado à noção de Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s (Brasil,
ação e transformação pessoal e social pela educação 1998), enfatizaram o ensinar e o aprender uma língua
(linguística); consciente e crítica, na qual as práticas adicional no contexto escolar e, nessa perspectiva, o
pedagógicas e políticas estão intrinsecamente ligadas. ensino do inglês no Ensino Fundamental permite o
(BRASIL, 2017). acesso a uma ampla rede de comunicação e a uma gama
de informações presente na sociedade contemporânea.
Ao priorizarmos esse caráter formativo da aprendizagem Isso significa dizer que a aprendizagem desse idioma é,
da língua inglesa, reforçamos a função social e política portanto, necessária como instrumento de compreensão
do idioma, que é tratado em seu status de língua franca. do mundo, de inclusão social e de valorização pessoal.
Nesse viés, não há um padrão de língua inglesa a ser Desse modo, os estudantes são incentivados a participar
ensinado ou um modelo a de diferentes práticas sociais mediadas pela língua. o
que os leva a conhecer novas realidades, assim como a
Oralidade: envolve a compreensão (ou escuta) e a compreender melhor o contexto social que os cerca e,
produção oral (ou fala), articuladas pela negociação na possivelmente, contribuir para transformá-lo.
construção de significados partilhados entre os
interlocutores. Segundo a BNNC (2017), ao longo dos anos finais do
Ensino Fundamental, os estudantes devem desenvolver
Leitura: aborda a interação dos estudantes com o texto as seguintes competências relativas à língua inglesa.
escrito. Os significados são construídos com base na
compreensão e na interpretação dos diferentes gêneros 1. Identificar o lugar de si e o do outro em um
escritos em língua inglesa, que circulam nos diversos mundo plurilíngue e multicultural, refletindo,
campos e esferas da sociedade. criticamente, sobre como a aprendizagem da
língua inglesa contribui para a inserção dos
Escrita: considera a natureza processual e colaborativa sujeitos no mundo globalizado, inclusive no que
do ato de escrever, e por outro lado, concebe o ato de concerne ao mundo do trabalho.
escrever como prática social e reitera a finalidade da
condizente com essa prática, oportunizando aos 2. Comunicar-se na língua inglesa, por meio do uso
estudantes agir com protagonismo. variado de linguagens em mídias impressas ou
digitais, reconhecendo-a como ferramenta de
Conhecimentos linguísticos e gramaticais: propõe a acesso ao conhecimento, de ampliação das
contextualização das práticas de uso, análise e reflexão perspectivas e de possibilidades para a
sobre a língua, articulando às práticas de oralidade, compreensão dos valores e interesses de outras
leitura e escrita. O estudo do léxico e da gramática culturas e para o exercício do protagonismo social.
apresenta um caráter indutivo, para que os estudantes
possam descobrir as regularidades e irregularidades do 3. Identificar similaridades e diferenças entre a
funcionamento sistêmico do inglês. Língua Inglesa e a língua materna/outras línguas,
articulando-as a aspectos sociais, culturais e
Dimensão intercultural: esse eixo valoriza a identitários, em uma relação intrínseca entre
diversidade entre povos e contempla o multiculturalismo língua, cultura e identidade.
que hoje caracteriza boa parte do globo visando uma
reflexão mais ampla sobre o uso da língua inglesa no 4. Elaborar repertórios linguístico-discursivos da
mundo, seus valores, seu alcance e seus efeitos nas língua inglesa usados em diferentes países e por
relações entre diferentes pessoas e povos, tanto na grupos sociais distintos dentro de um mesmo país,
sociedade contemporânea quanto em uma perspectiva de modo a reconhecer a diversidade linguística
histórica. (Brasil, 2017). como direito e valorizar os usos heterogêneos,
híbridos e multimodais emergentes nas sociedades
contemporâneas.

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5. Utilizar novas tecnologias, com novas educação, resultaram falivelmente em tecnicidades


linguagens e modos de interação para pesquisar, insignificantes, não é suficiente. A didática e os
selecionar, compartilhar, posicionar-se e produzir procedimentos de ensino devem ser sólidos o suficiente
sentidos em práticas de letramento na língua para que os estudantes superem a limitação em
inglesa, de forma ética, crítica e responsável. unicamente memorizar fórmulas e axiomas, mas façam
uso deles por meio de múltiplas estratégias e variados
6. Conhecer diferentes patrimônios culturais, procedimentos de cálculo, pois a Matemática deve, antes
materiais e imateriais, difundidos na língua de tudo, elevar as condições de
inglesa, com vistas ao exercício da fruição e da
ampliação de perspectivas no contato com • [...] articulação entre a expressão e a
diferentes manifestações artístico-culturais. compreensão de fenômenos; entre a análise
argumentativa e a síntese que favorece a
Dessa forma, espera-se que o estudo da Língua Inglesa tomada de decisões; entre o enfrentamento de
sob o viés discursivo traga contribuições significativas questões que a realidade concreta
para a formação escolar dos estudantes e que os auxilie continuamente apresenta e o recurso a
na apropriação da língua, levando em conta instrumentos abstratos que constituem meios
necessidades, interesses e possibilidades de uso em um de aproximação de tal realidade” (MACHADO e
mundo globalizado e plural. D’AMBROSIO, 2014, p.15).

5.2. ÁREA II – MATEMÁTICA Ampliar as possibilidades do desenvolvimento da


inteligência humana a partir da aprendizagem dos
A Matemática, ciência indispensável para a resolução de
conteúdos de natureza lógica, científica e útil, próprios
problemas práticos da vida moderna, esteve presente,
da Matemática, contribui na formação crítica e reflexiva
em todas as épocas, entre as formas de interação com o
desde os primeiros anos do Ensino Fundamental,
mundo físico, social e cultural, em resposta a um amplo
devendo ser consolidada e aprofundada à medida que se
leque de demandas, desde as mais elementares ações
avançam os níveis de escolaridade. Por fim, não menos
cotidianas até as relações de produção e de troca de
importante, o uso de princípios, normas e propriedades
bens e serviços que foram se diversificando e
da Matemática devem ser valorizados por sua relevância
intensificando ao longo da história. Assim sendo, é
na análise e solução para as questões prementes da
reconhecida como produto da cultura humana e, como
sociedade contemporânea.
tal, está em constante evolução. A realidade global, na
qual nos encontramos imersos, e os anseios da vida
contemporânea decorrentes de tal realidade, tem
mostrado a apropriação das habilidades matemáticas 5.2.1. Componente Curricular de Matemática
como um imperativo à inserção e sucesso em sociedade,
marcada por rápidas e profundas mudanças, exigindo Considerando esses pressupostos e em articulação com
capacidade de adaptação a novos processos tecnológicos as competências gerais da Educação Básica, a área de
de produção e de comunicação. Matemática e, por consequência, o componente
curricular de Matemática deve garantir aos estudantes o
A Matemática, conforme organização apresentada na desenvolvimento de competências específicas:
BNCC (2017), constitui área de conhecimento formada
por cinco unidades temáticas específicas: números, 1. Reconhecer que a Matemática é uma ciência humana,
álgebra, geometria, grandezas e medidas e fruto das necessidades e preocupações de diferentes
probabilidade e estatística. Os componentes curriculares culturas, em diferentes momentos históricos, e é uma
são considerados essenciais na promoção das ciência viva, que contribui para solucionar problemas
aprendizagens numa perspectiva do letramento científicos e tecnológicos e para alicerçar descobertas e
matemático, ou seja, a Matemática a ser ensinada deve construções, inclusive com impactos no mundo do
proporcionar o desenvolvimento e manifestação do trabalho.
pensamento, do raciocínio e da argumentação, com base
2. Desenvolver o raciocínio lógico, o espírito de
no conhecimento científico, para o exercício efetivo da
investigação e a capacidade de produzir argumentos
cidadania.
convincentes, recorrendo aos conhecimentos
Dessa forma, demonstrar autonomia e pluralidade nos matemáticos para compreender e atuar no mundo.
modos de pensar e agir, solucionar problemas de
3. Compreender as relações entre conceitos e
natureza numérica, algébrica, geométrica, probabilística
procedimentos dos diferentes campos da Matemática
ou estatística, com lógica e consistência diante de
(Aritmética, Álgebra, Geometria, Estatística e
situações reais do cotidiano, ter espírito investigativo
Probabilidade) e de outras áreas do conhecimento,
sendo capaz de ampliar as possibilidades do
sentindo segurança quanto à própria capacidade de
levantamento de hipóteses e ter capacidade de
construir e aplicar conhecimentos matemáticos,
expressar-se apropriadamente sempre que necessário,
desenvolvendo a autoestima e a perseverança na busca
compõem o conjunto que caracteriza a formação de um
de soluções.
sujeito matematicamente letrado.
4. Fazer observações sistemáticas de aspectos
Assim sendo, conforme Machado e D’Ambrosio (2014),
quantitativos e qualitativos presentes nas práticas
apenas tornar a Matemática palatável para facilitar a
sociais e culturais, de modo a investigar, organizar,
aprendizagem de conteúdos que, ao longo da história da

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representar e comunicar informações relevantes, para através da realização de cálculos mentais, algoritmos
interpretá-las e avaliá-las crítica e eticamente, quanto pelo uso de calculadoras e outros recursos
produzindo argumentos convincentes. tecnológicos.

5. Utilizar processos e ferramentas matemáticas, O ensino dos números no Ensino Fundamental contempla
inclusive tecnologias digitais disponíveis, para modelar e o conhecimento dos números naturais e dos números
resolver problemas cotidianos, sociais e de outras áreas racionais, nas representações fracionárias e decimais,
de conhecimento, validando estratégias e resultados. como instrumentos eficazes para resolver determinados
problemas e como objetos de estudo, considerando-se
6. Enfrentar situações-problema em múltiplos contextos, suas propriedades, relações e o modo como se
incluindo-se situações imaginadas, não diretamente configuram historicamente (MANDARINO, 2010, p.98).
relacionadas com o aspecto prático-utilitário, expressar Desse modo, os estudantes devem ser estimulados a
suas respostas e sintetizar conclusões, utilizando compreender os diferentes significados destes números
diferentes registros e linguagens (gráficos, tabelas, e a relação existente entre eles, a valorizar e conhecer
esquemas, além de texto escrito na língua materna e os diferentes percursos existentes para operar sobre eles
outras linguagens para descrever algoritmos, como e a ser capazes de estabelecer articulações com outras
fluxogramas, e dados). unidades temáticas.

7. Desenvolver e/ou discutir projetos que abordem, Na Unidade Temática Álgebra, as relações lógicas do
sobretudo, questões de urgência social, com base em conceito de número são construídas a partir de todos os
princípios éticos, democráticos, sustentáveis e tipos de relações que os sujeitos estabelecem entre os
solidários, valorizando a diversidade de opiniões de objetos do mundo físico (KAMIL, 1991). Dentre as várias
indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos de relações lógicas destacam-se indispensáveis para o
qualquer natureza. desenvolvimento do pensamento algébrico as relações
de ordenação de uma grandeza expressas por ordem de
8. Interagir com seus pares de forma cooperativa,
seriação (quando se considera a ordem linear de
trabalhando coletivamente no planejamento e
grandeza), importante na aprendizagem da sucessão
desenvolvimento de pesquisas para responder a
natural dos números, e por ordem de sequenciação,
questionamentos e na busca de soluções para
quando se considera a sucessão de elementos
problemas, de modo a identificar aspectos consensuais
organizados por um padrão ou regra estabelecida.
ou não na discussão de uma determinada questão,
respeitando o modo de pensar dos colegas e aprendendo Assim sendo, a relação da álgebra com os números é
com eles. bastante evidente no trabalho com sequências
(recursivas e repetitivas) (BNCC, 2017), pois os números
Tais habilidades específicas levam em conta que os
além de serem usados como instrumentos para a
diferentes campos que compõem a Matemática reúnem
contagem de coleções, para identificar com um código
um conjunto de ideias fundamentais que produzem
uma pessoa ou um objeto, para medir e ordenar
articulações entre eles: equivalência, ordem,
(MANDARINO, 2010, p.106) também são utilizados para
proporcionalidade, interdependência, representação,
localizar um elemento de uma sequência, identificar
variação e aproximação. Essas ideias fundamentais são
padrões de regularidade ou criar novos padrões. As
importantes para o desenvolvimento do pensamento
ideias de regularidade, generalização de padrões e
matemático dos estudantes e devem se converter, na
propriedades da igualdade, (BNCC, 2017) envolvidas no
escola, em objetos de conhecimento.
pensamento algébrico são expressas por meio de
Assim, as cinco unidades temáticas, correlacionadas, equações e sistema de equações a serem resolvidas no
orientam a formulação de habilidades a serem contexto da resolução de situações-problema, nas quais
desenvolvidas ao longo do Ensino Fundamental, sendo os estudantes devem ser capazes de indicar um valor
que cada uma delas pode receber ênfase diferente, a desconhecido em uma sentença algébrica por meio de
depender do ano de escolarização. equações e inequações estabelecendo relações
quantitativas representadas tanto por números quanto
Na Unidade Temática Números, a Matemática está por letras ou outros símbolos (BNCC, 2017, p. 268-269).
presente nas atividades mais simples do dia a dia e
desde os mais remotos tempos civilizatórios. A gênese A Geometria está presente no nosso dia a dia e é
da Matemática está indissociavelmente relacionada às vivenciada por nós desde o aprendizado dos primeiros
necessidades básicas humanas, à quantificação de movimentos e no reconhecimento dos objetos e do
objetos e à mensuração de grandezas. À medida que se espaço que nos circunscreve, sendo, portanto, um
intensificavam os usos da Matemática, a criação de campo da Matemática intrínseco à natureza humana
símbolos e sinais que facilitassem a expressão e (LIMA e CARVALHO, 2010, p. 135). É também originada
generalizassem o raciocínio matemático, lhe garantiu o das necessidades e das interações com o contexto social
status de linguagem universal. Assim sendo, é esperado e se desenvolve continuamente nas artes, nas
que além da capacidade de fazermos usos dos números construções e em diversas outras ações rotineiras, como
para quantificar, medir, ordenar coisas ou saber na realização de deslocamentos e na localização de
identificar ou criar códigos, também sejamos capazes de pessoas ou objetos em diferentes representações
operar utilizando os números como forma de buscar gráficas (mapas, croquis, plantas baixas).
soluções e respostas para inúmeras situações práticas. É
O ensino da Matemática deve permitir o
importante destacar que essas respostas podem ser
desenvolvimento de competências geométricas cada vez
matematicamente expressas de forma exata, mas
mais elaboradas de localização, de reconhecimento de
também por ideias de aproximação ou estimativa, tanto

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deslocamentos, de representação de objetos do mundo em diferentes mídias comunicativas, e estimular o


físico, de classificação das figuras geométricas e de pensamento crítico para que os leitores possam e saibam
sistematização do conhecimento (LIMA e CARVALHO, tomar decisões com base nessas informações. Deve
2010, p. 135), fazendo uso de estratégias interventivas ainda priorizar o desenvolvimento de capacidades
que envolvam o estudo das representações em um investigativas que envolvam processos para a coleta, a
sistema de coordenadas cartesianas, a identificação de construção de diferentes representações gráficas, por
figuras bidimensionais e tridimensionais (descrevendo meio de gráficos e tabelas, e a realização de análises
algumas de suas características, estabelecendo relações baseadas nos dados coletados.
entre elas e a representação de diferentes vistas de
figuras tridimensionais e reconhecimento da figura A estatística também se utiliza das teorias probabilísticas
representada por essas diferentes vistas), a resolução de e tem como finalidade levar os estudantes a
situações-problema envolvendo cálculos de figuras compreender que nem todos os fenômenos são
geométricas e as aplicações e demonstração do teorema determinísticos. Para isso, o ensino deve se centrar no
de Tales e de Pitágoras. desenvolvimento da noção de aleatoriedade, de modo
que os estudantes compreendam que há eventos certos,
Todos os dias realizamos várias operações mentais eventos impossíveis e eventos prováveis (BNCC, 2017,
inerentes à Matemática e nem nos damos conta da p. 272). A seleção de conteúdos deve priorizar a
presença dela em nossas vidas, assim, na Unidade resolução de situações-problema envolvendo o espaço
Temática Grandezas e medidas olhamos as horas nos amostral, através do princípio multiplicativo e a
relógios, medimos os intervalos de tempo nos indicação da probabilidade de um evento, a resolução de
calendários, medimos os ingredientes para preparamos situações-problema de contagem indicando as
as refeições, compramos ou vendemos alguma coisa, possibilidades de sucesso de um evento.
medimos a velocidade, a distância, a temperatura e até
os objetos do mundo físico ao nosso redor. Todas essas
tarefas são possíveis a partir da determinação de uma
5.3. ÁREA III - CIÊNCIAS DA NATUREZA
unidade de medida capaz de comparar diferentes
quantidades de uma mesma grandeza. Grandeza é tudo A BNCC (2017) reforça a importância da área de Ciências
aquilo considerado como possível de ser medido e as da Natureza para a formação do estudante, uma vez que
grandezas estão relacionadas a um objeto geométrico ou ensinar Ciências no Ensino Fundamental está
a um fenômeno físico. diretamente relacionado à promoção e ao compromisso
com o desenvolvimento do letramento científico,
A inclusão dos conteúdos dessa unidade temática
entendendo-se que esse envolve a capacidade de
justifica-se pelos seus usos sociais, por sua utilização nas
compreender, interpretar e transformar o mundo.
técnicas e nas ciências, pelas conexões com outras
disciplinas escolares e pelas articulações com outros Nesse contexto FREIRE (2002) reforça que ensinar exige
conteúdos da Matemática, sobretudo com a geometria. compreender que a educação é uma forma de
Seu ensino deve contemplar a resolução de situações- intervenção no mundo. Certamente isso é possível uma
problema envolvendo as grandezas comprimento, vez que os estudantes são capazes de emitir juízos de
massa, capacidade, superfície, volume, ângulo, tempo, valor sobre problemáticas socioambientais de forma
temperatura e velocidade; a realização de medições, crítica, com base nos conhecimentos sociais, históricos e
estimativas e comparações em situações diversas; o culturalmente construídos e integrados com os
reconhecimento das unidades de medida padrão, seus conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais,
múltiplos e submúltiplos e das unidades não vivenciados durante as aulas de ciências. Dessa forma,
convencionais; a variação de duas grandezas direta ou a sala de aula se configura como um espaço permanente
inversamente proporcionais; medidas de superfície e de de construção do conhecimento.
equivalência de figuras planas por composição e
decomposição; e realização de cálculos de área de Por sua vez, DELORS (2012), em seu estudo sobre a
figuras planas pela decomposição e/ou composição em educação no século XXI, apresenta os quatro pilares que
figuras conhecidas, ou por meio de estimativas, bem podem auxiliar o processo de aprendizagem dos
como o cálculo da área da superfície total de alguns estudantes: o aprender a conhecer (adquirir
sólidos e do volume de alguns prismas retos. instrumentos de compreensão), o aprender a fazer
(para poder agir sobre o meio envolvente), o aprender
Na Unidade Temática de Probabilidade e a viver juntos (cooperação com os outros em todas as
Estatística, a estatística é vista como uma ciência que atividades humanas) e o aprender a ser (formação de
lida com análises baseadas em um conjunto de dados indivíduos autônomos, intelectualmente ativos e
estatísticos. A sua origem remonta aos tempos das independentes, capazes, de estabelecer relações
antigas civilizações, cerca de 2.000 anos antes da era interpessoais, de se comunicarem e evoluírem
cristã, quando se deu início a necessidade do permanentemente, de intervirem de forma consciente e
levantamento de informações sobre a realidade proativa na sociedade).
populacional e o acúmulo de riquezas (LIMA, 2019),
sendo, portanto, de natureza intrínseca ao Os estudantes do Município do Jaboatão dos Guararapes
desenvolvimento tecnológico e científico da humanidade. têm a oportunidade de conviver em um local singular,
A estatística a ser ensinada na escola deve considerar o que se caracteriza por apresentar uma diversidade tanto
papel social assumido por esta ciência e criar nos aspectos antrópicos (ciência, tecnologia, sociedade,
considerações favoráveis para o desenvolvimento de cultura, turismo, indústria, comércio, agricultura),
habilidades interpretativas, dos níveis elementares até quanto nos aspectos naturais (remanescentes de Mata
os mais complexos, diante de informações divulgadas Atlântica, manguezais, praias, dentre outros).

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Do ponto de vista antrópico, as atividades econômicas perceber o próprio corpo, as crianças vão
desenvolvidas no município, permitem que o currículo da construindo concepções que fundamentam suas
área de Ciências da Natureza seja vivenciado de forma expectativas quanto ao modo como as coisas
contextualizada, mostrando aos estudantes que as funcionam. As elaborações feitas pelas crianças
diversas atividades humanas se configuram em sobre os fenômenos naturais e o funcionamento
potencialidades. No entanto, o desenvolvimento dessas das coisas tem como ponto de partida as
potencialidades aponta para a necessidade do cuidado interações socioculturais que ocorrem nas
com os aspectos naturais, vislumbrando, assim, um diversas esferas da comunidade, como por
caminhar para o processo da sustentabilidade. exemplo no meio familiar, ou partindo das aulas
de Ciências. MORAIS e ANDRADE (2010).
Em relação aos ambientes naturais, o Município possui
remanescentes de Mata Atlântica, manguezais, uma Dando continuidade e aprofundando esses
faixa litorânea com aproximadamente 10 km de conhecimentos nos anos iniciais e finais do Ensino
extensão, a maior lagoa urbana de restinga do Brasil, um Fundamental e na Educação de Jovens e Adultos,
rio que tem a maior parte de sua bacia hidrográfica utilizam-se práticas contextualizadas, integradas,
localizada no município, dentre outros espaços que desafiadoras e motivadoras.
podem ser utilizadas como campo de estudo. Não
bastasse essa riqueza natural, também possui um corpo O ensino de Ciências deve propiciar ao estudante a
docente, comprometido e envolvido em estudos e construção do seu próprio conhecimento, de forma ativa,
pesquisas, no intuito de construir saberes, transpondo- crítica e sustentável, com base na compreensão
os didaticamente para os diversos níveis e modalidades científico-tecnológica e na realidade sociopolítico-
de ensino. econômica-ambiental, proporcionando a formação
integral, contribuindo para uma sociedade justa,
Os estudantes, alicerçados a partir de uma formação democrática e inclusiva.
tecnológica e sustentável, são motivados, a refletir sobre
suas ações (atitudes), considerando os impactos O Currículo aqui estruturado está organizado em três
socioambientais, do passado, presente e futuro, numa unidades temáticas:
perspectiva local e global.
Matéria e Energia, que visa ao estudo de materiais e
Dessa forma, as características antrópicas e naturais do suas transformações, fontes e tipos de energia utilizados
Município favorecem o estudo de objetos de de inúmeras formas na vida em geral, na perspectiva de
conhecimentos contidos na BNCC, observando-se que construir conhecimento sobre a natureza da matéria e
existe uma relação intrínseca entre a área de Ciências da dos diferentes usos da energia.
Natureza, com as ações de observação, investigação,
Vida e Evolução, que sugere o estudo de questões
registro, construção de novos conhecimentos e
relacionadas aos seres vivos, às suas características e
socialização destes, vinculado ao desenvolvimento
necessidades, à vida como fenômeno natural e social,
científico, tecnológico e sustentável.
aos elementos essenciais para sua manutenção e à
compreensão dos processos evolutivos que geram a
diversidade de formas de vida no planeta.
5.3.1. Componente Curricular Ciências
Terra e Universo, que busca a compreensão de
Os conhecimentos científicos e as tecnologias fazem características da Terra, do Sol, da Lua e de outros
parte do cotidiano dos estudantes, os quais têm acesso corpos celestes – suas dimensões, composição,
e mantêm interação em diversos aspectos, tais como na localizações, movimentos e forças que atuam entre eles
produção de fármacos, alimentos, materiais de limpeza, e os principais fenômenos celestes.
eletroeletrônicos, dentre outros.
Toda organização desse currículo, em consonância com
Desde os primórdios até os dias atuais, a ciência procura a BNCC, serve de alicerce para a estruturação dos
atender às necessidades sociais vigentes. Nessa objetos de conhecimentos de todas as etapas do Ensino
perspectiva, o desenvolvimento das ciências e suas Fundamental, com o intuito de desenvolver habilidades
tecnologias estão relacionados às ondas de inovação que superem a disciplinarização como forma de
científica e tecnológica. Essas ondas interferem organização do currículo, garantindo, dessa maneira, o
diretamente nos movimentos de inovação do saber fazer diálogo com as demais áreas do saber e com o contexto
ciência e tecnologia durante um determinado período. do estudante.

Nesse contexto, o professor deve estimular a curiosidade O desenvolvimento das competências relacionadas à
epistemológica do estudante a partir de suas vivências e área possibilitará uma compreensão mais ampla da
visão de mundo. Inicialmente, na etapa da Educação estrutura de vida que temos e das condições que
Infantil, oportunizando a exploração de ambientes e precisamos para a construção de uma sociedade justa,
fenômenos, assim como a relação com o próprio corpo e democrática e inclusiva.
o bem-estar, proporcionando uma melhor qualidade de
vida: Para tanto, a área de Ciências da Natureza e o
componente curricular de Ciências devem garantir aos
• Ao manipular brinquedos e outros objetos, ao estudantes o desenvolvimento das seguintes
lidar com a luz, as sombras, a água e o vento, competências específicas:
ao observar o comportamento dos animais, o
desenvolvimento de animais e plantas, e ao

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1. Compreender as Ciências da Natureza como considera o ser humano sujeito histórico e cultural,
empreendimento humano, e o conhecimento vivendo e atuando na sociedade em vista de sua
científico como provisório, cultural e histórico. transformação e tem, dentre os espaços de formação, a
escola que busca uma educação de qualidade humana e
2. Compreender conceitos fundamentais e social através do desenvolvimento do sujeito autônomo,
estruturas explicativas das Ciências da Natureza, consciente e capaz de dialogar com o passado,
bem como dominar processos, práticas e articulando as categorias e os conhecimentos histórico-
procedimentos da investigação científica de modo geográficos com o presente, construindo um futuro em
a sentir segurança no debate de questões que os valores sociais sejam voltados para o bem comum
científicas, tecnológicas, socioambientais e do e que envolvam a solidariedade, a participação, o
mundo do trabalho, continuar aprendendo e enfrentamento contra a desigualdade social, a liberdade
colaborar para a construção de uma sociedade individual e a diversidade de pensamento.
justa, democrática e inclusiva.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular
3. Analisar, compreender e explicar (BNCC):
características, fenômenos e processos relativos
ao mundo natural, social e tecnológico (incluindo • Os conhecimentos específicos na área de
o digital), como também as relações que se Ciências Humanas exigem clareza na definição
estabelecem entre eles, exercitando a curiosidade de um conjunto de objetos de conhecimento
para fazer perguntas, buscar respostas e criar que favoreçam o desenvolvimento de
soluções (inclusive tecnológicas) com base nos habilidades e que aprimorem a capacidade de
conhecimentos das Ciências da Natureza. os estudantes pensarem diferentes culturas e
sociedades, em seus tempos históricos,
4. Avaliar aplicações e implicações política, territórios e paisagens (compreendendo melhor
socioambientais e culturais da ciência e de suas o Brasil, sua diversidade regional e territorial).
tecnologias para propor alternativas aos desafios E também que os levem a refletir sobre sua
do mundo contemporâneo, incluindo aqueles inserção singular e responsável na história da
relativos ao mundo do trabalho. sua família, comunidade, nação e mundo.
(BRASIL, 2017, P.306).
5. Construir argumentos com base em dados,
evidências e informações confiáveis e negociar e
defender ideias e pontos de vista que promovam a
consciência socioambiental e o respeito a si É dessa forma que algumas categorias fundamentais das
próprio e ao outro, acolhendo e valorizando a ciências humanas como tempo, espaço e movimento,
diversidade de indivíduos e de grupos sociais, sem permeiam o pensamento histórico-geográfico
preconceitos de qualquer natureza. despertando nas crianças e adolescentes a leitura e a
compreensão da sociedade e do espaço de vivência em
6. Utilizar diferentes linguagens e tecnologias que estão inseridos por meio de diversas linguagens.
digitais de informação e comunicação para acessar
e disseminar informações, produzir conhecimentos Por essa razão, os saberes produzidos precisam estar em
e resolver problemas das Ciências da Natureza de consonância com as demandas da sociedade diversa e
forma crítica, significativa, reflexiva e ética. plural contemporânea, de forma que possa haver um
diálogo entre passado e presente, na perspectiva de
7. Conhecer, apreciar e cuidar de si, do seu corpo trabalhar na construção de um futuro no qual haja a
e bem-estar, compreendendo-se na diversidade valorização do indivíduo como um cidadão dotado de
humana, fazendo-se respeitar e respeitando ao direitos e deveres, com um sentido de responsabilidade
outro, recorrendo aos conhecimentos das Ciências para valorizar os direitos humanos, o respeito ao meio
da Natureza e as suas tecnologias. ambiente e o fortalecimento de valores sociais, tais como
a solidariedade, a participação e o protagonismo voltado
8. Agir pessoal e coletivamente com respeito,
para o bem em comum.
autonomia, responsabilidade, flexibilidade,
resiliência e determinação, recorrendo aos Nessa perspectiva, o processo de ensino-aprendizagem
conhecimentos das Ciências da Natureza para deve ter como eixo condutor o desenvolvimento da
tomar decisões frente a questões científico- autonomia dos estudantes a partir do estudo de
tecnológicas e socioambientais e a respeito da problemas relacionados ao contexto em que estão
saúde individual e coletiva, com base em princípios inseridos, já que o papel do estudante é ser um sujeito
éticos, democráticos, sustentáveis e solidários. problematizador e investigador. Dessa forma, vale
ressaltar que o processo de ensino-aprendizagem que
busca a relação entre teoria e prática promovendo a
5.4. ÁREA IV - CIÊNCIAS HUMANAS relação entre pensamento e ação, possibilitando a
formação de indivíduos capazes de intervir na realidade,
A área das Ciências Humanas se constitui historicamente conviver e respeitar a multiculturalidade, a pluralidade
através dos componentes curriculares de Geografia e de ideias, a diversidade de gênero, de religião, de
História tendo como objeto de estudo o ser humano em sexualidade, de classe social e étnico-racial (respaldado
suas relações com e na sociedade. Nos dias atuais, este na Lei Federal nº 11.645, de 10 março de 2008).
objeto é tomado, do ponto de vista teórico e
metodológico, numa perspectiva crítico-dialética que

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Na área das Ciências Humanas o processo de ensino- longo do tempo, buscando compreender a
aprendizagem, deve estar articulado com as materialização dos fenômenos socioespaciais. O espaço,
competências gerais da BNCC, e com as competências dessa forma, constitui-se o objeto de estudo da
específicas da área citadas abaixo: Geografia, sendo formado por um conjunto indissociável,
solidário contraditório, de sistemas de objetos e sistemas
1. Compreender a si e ao outro como identidades de ações no qual a história se dá. O
diferentes, de forma a exercitar o respeito à
diferença em uma sociedade plural e promover os espaço geográfico é assim, multidimensional no qual os
direitos humanos. indivíduos e os diferentes grupos sociais desenvolvem
suas práticas, ou seja, produzem, socializam,
2. Analisar o mundo social, cultural e digital e o consomem, lutam, sonham, enfim, vivem e fazem a vida
meio técnico-científico-informacional com base caminhar.
nos conhecimentos das Ciências Humanas,
considerando suas variações de significado no O Ensino da Geografia de acordo com a proposta
tempo e no espaço, para intervir em situações do curricular da BNCC (2017) prioriza o desenvolvimento do
cotidiano e se posicionar diante de problemas do raciocínio geográfico, maneira pelo qual seu campo de
mundo contemporâneo. estudo, acontece através da leitura dos lugares, das
paisagens, da interpretação das espacialidades, dos
3. Identificar, comparar e explicar a intervenção territórios, da organização do espaço geográfico,
do ser humano na natureza e na sociedade, potencializando e estimulando dessa forma, o
exercitando a curiosidade e propondo ideias e desenvolvimento do pensamento espacial com aplicação
ações que contribuam para a transformação de pesquisa e análise das informações obtidas no estudo.
espacial, social e cultural, de modo a participar
efetivamente das dinâmicas da vida social. Para Neto,

7. Interpretar e expressar sentimentos, crenças e • O raciocínio geográfico é a capacidade mental


dúvidas com relação a si mesmo, aos outros e às do indivíduo em fazer analogia e inferência dos
diferentes culturas, com base nos instrumentos de eventos humanos e naturais desenvolvido pela
investigação das Ciências Humanas, promovendo o Geografia escolar ancorado nas estratégias
acolhimento e a valorização da diversidade de pedagógicas e nas categorias de análise da
indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, Geografia e de seus princípios lógicos de
identidades, culturas e potencialidades, sem subcategorias que lhes possibilitam utilizarem
preconceitos de qualquer natureza. (NETO, 2018).

8. Comparar eventos ocorridos simultaneamente


no mesmo espaço e em espaços variados, e
eventos ocorridos em tempos diferentes no mesmo A BNCC enumera o raciocínio geográfico a partir dos
espaço e em espaços variados. seguintes princípios:

9. Construir argumentos, com base nos . Princípio da Analogia: um fenômeno geográfico


conhecimentos das Ciências Humanas, para sempre é comparável a outros. A identificação das
negociar e defender ideias e opiniões que semelhanças entre fenômenos geográficos é o início da
respeitem e promovam os direitos humanos e a compreensão da unidade terrestre.
consciência socioambiental, exercitando a
. Princípio da Conexão: um fenómeno geográfico
responsabilidade e o protagonismo voltados para
nunca acontece isoladamente, mas sempre em interação
o bem comum e a construção de uma sociedade
com outros fenômenos próximos ou distantes.
justa, democrática e inclusiva.
. Princípio da Diferenciação: é a variação dos
10. Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e
fenômenos de interesse da geografia pela superfície
iconográfica e diferentes gêneros textuais e
terrestre (por exemplo, o clima), resultando na diferença
tecnologias digitais de informação e comunicação
entre áreas.
no desenvolvimento do raciocínio espaço-temporal
relacionado a localização, distância, direção, . Princípio da Distribuição: exprime como os objetos
duração, simultaneidade, sucessão, ritmo e se repartem pelo espaço.
conexão.
. Princípio da Extensão: espaço finito e contínuo
É importante salientar que o documento curricular não delimitado pela ocorrência do fenômeno geográfico.
traz modelos prontos a serem seguidos. No entanto,
pode-se desenvolver a autonomia dos professores e das . Princípio da Localização: posição particular de um
professoras na construção de caminhos a serem objeto na superfície terrestre. A localização pode ser
percorridos visando o bem comum da comunidade absoluta (definida por um sistema de coordenadas
educacional. geográficas) ou relativa (expressa por meio de relações
espaciais topológicas ou por interações espaciais).

. Princípio da Ordem: ordem ou arranjo espacial é o


5.4.1. Componente Curricular de Geografia princípio geográfico de maior complexidade. Refere-se
ao modo de estruturação do espaço de acordo com as
A Geografia, enquanto ciência humana visa analisar as
regras da própria sociedade que o produziu.
relações estabelecidas entre a sociedade e a natureza ao

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O ensino da Geografia deve, portanto, despertar nos Dentro de sua formulação a BNCC (2017) apresenta as
estudantes o protagonismo, o (re)conhecimento, a seguintes competências específicas para o ensino da
compreensão e o sentimento de pertencimento em seu Geografia:
espaço de vivência, bem como se sentir cidadão do
mundo, cooperando para que as gerações futuras 1. Utilizar os conhecimentos geográficos para
tenham um ambiente melhor, baseado em princípios entender a interação sociedade/ natureza e
éticos, respeitando a diversidade étnico racial exercitar o interesse e o espírito de investigação e
enfatizados na Lei Federal Nº 11.645, de 10 março de de resolução de problemas.
2008, combatendo a violência e o preconceito em todas
2. Estabelecer conexões entre diferentes temas do
as suas variáveis.
conhecimento geográfico, reconhecendo a
Diante do exposto e dos desafios inerentes à ciência importância dos objetos técnicos para a
geográfica que por sua natureza é dicotômica, compreensão das formas como os seres humanos
interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar, a fazem uso dos recursos da natureza ao longo da
BNCC para o Ensino Fundamental (Anos Iniciais e Anos história
Finais), apresenta como unidades temáticas:
3. Desenvolver autonomia e senso crítico para
. O sujeito e seu lugar no mundo, a valorização da compreensão e aplicação do raciocínio geográfico
vida cotidiana e a percepção de suas relações sociais e na análise da ocupação humana e produção do
étnico-raciais e espaciais ocorre através do raciocínio espaço, envolvendo os princípios de analogia,
geográfico que busca ampliar o olhar do estudante para conexão, diferenciação, distribuição, extensão,
se desenvolver na sociedade como cidadão ativo, localização e ordem.
democrático, solidário e consciente de seu papel como
4. Desenvolver o pensamento espacial, fazendo
sujeito social.
uso das linguagens cartográficas e iconográficas,
. Conexões e escalas, o foco passa a ser a analogia e de diferentes gêneros textuais e das
a compreensão entre as diversas escalas (local e global) geotecnologias para a resolução de problemas que
existentes no espaço de convivência, na sociedade e envolvam informações geográficas.
meio físico natural em diversos períodos históricos.
5. Desenvolver e utilizar processos, práticas e
. Mundo do trabalho, essa abordagem perpassa pela procedimentos de investigação para compreender
compreensão de processos e técnicas construtivas, além o mundo natural, social, econômico, político e o
do uso de diferentes materiais produzidos pelas meio técnico-científico e informacional, avaliar
sociedades em diversos tempos e espaços. Bem como ações e propor perguntas e soluções (inclusive
pelas transformações promovidas pela Revolução tecnológicas) para questões que requerem
Industrial e Técnico-científico-informacional nas relações conhecimentos científicos da Geografia.
de trabalho, emprego e renda no campo e na cidade.
6. Construir argumentos com base em informações
. Formas de representação e pensamento espacial, geográficas, debater e defender ideias e pontos de
o ensino se baseia em conceitos cartográficos e formas vista que respeitem e promovam a consciência
de representação espacial através da leitura, construção socioambiental e o respeito à biodiversidade e ao
e/ou criação de mapas, gráficos, tabelas, audiovisuais, outro, sem preconceitos de qualquer natureza.
imagens de satélites, fotografias, histórias em
7. Agir pessoal e coletivamente com respeito,
quadrinhos, charges e uso de outras ferramentas
autonomia, responsabilidade, flexibilidade,
tecnológicas, desenvolvendo dessa forma, o pensamento
resiliência e determinação, propondo ações sobre
espacial e o raciocínio geográfico.
as questões socioambientais, com base em
. Natureza, ambientes e qualidade de vida, favorece princípios éticos, democráticos, sustentáveis e
a articulação entre a Geografia física e a Geografia solidários.
humana, tornando-se evidente e necessária uma vez
que, as atividades antrópicas incentivadas pelo
capitalismo e os impactos socioambientais decorrentes 5.4.2. Componente Curricular de História
dessas atividades, estão presentes em todo o planeta. O
conhecimento e a compreensão dessas transformações O ensino de História tem como objeto de estudo a
no meio natural, inclusive no ambiente rural (do Campo) compreensão dos processos e dos sujeitos históricos, o
e Urbano, leva o estudante a repensar sua relação com desvendamento das relações estabelecidas entre os
o meio ambiente. grupos humanos em diferentes tempos e espaços.
Assim, as propostas pedagógicas no âmbito de ensino
De acordo com a BNCC (2017), essas unidades têm o compromisso com as práticas historiográficas, no
temáticas, apresentam como objetivo a continuidade e a sentido da produção do conhecimento histórico com as
progressão das aprendizagens dos estudantes do Ensino devidas especificidades e particularidades.
Fundamental em níveis crescentes de complexidade,
estimulando o desenvolvimento do Raciocínio Geográfico O processo de construção do conhecimento histórico está
para melhor compreensão da sociedade em que está diretamente ligado à interpretação que os historiadores
inserido. fazem de outras épocas, ou melhor, das fontes desses
diferentes períodos, travando constantes e significativos
debates sobre os tempos históricos e suas dimensões
social, cultural, econômica e política.

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Compreendemos a História com as diferentes e múltiplas . Relações Sociais.


possibilidades que se mostram nas sociedades, tanto nos
dias atuais quanto no passado, as quais emergiram da A partir desse contexto seguem as competências
ação consciente ou inconsciente dos homens, específicas de História a serem desenvolvidas pelos
considerando desdobramentos, que se impuseram com estudantes na Educação Básica:
o desenrolar das ações desenvolvidas por esses sujeitos.
1. Compreender acontecimentos históricos,
Cada época tem suas particularidades. A História é um
relações de poder e processos e mecanismos de
conhecimento em constante construção e reconstrução
transformação e manutenção das estruturas
realizada pelos homens no seu tempo carregando em si
sociais, políticas, econômicas e culturais ao longo
as marcas, experiências e valores de cada época. A
do tempo e em diferentes espaços para analisar,
produção do conhecimento Histórico se faz em diferentes
posicionar-se e intervir no mundo contemporâneo.
linguagens, narrações sobre o mundo em que os
indivíduos viveram e vivem, suas instituições e 2. Compreender a historicidade no tempo e no
organizações sociais. espaço, relacionando acontecimentos e processos
de transformação e manutenção das estruturas
Portanto, a História não é rememorar de fatos
sociais, políticas, econômicas e culturais, bem
considerados marcantes, mas conhecer, analisar e
como problematizar os significados das lógicas de
criticar, além desse, também os acontecimentos do
organização cronológica.
cotidiano de sua população, suas resistências e seus
desejos, suas lutas, que, anonimamente, compõem o 3. Elaborar questionamentos, hipóteses,
universo geral da existência humana e influenciam na argumentos e proposições em relação a
construção do futuro. documentos, interpretações e contextos históricos
específicos, recorrendo a diferentes linguagens e
Segundo PINSKY (2009), os currículos escolares vêm se
mídias, exercitando a empatia, o diálogo, a
adequando aos estudos históricos nas Universidades. Ela
resolução de conflitos, a cooperação e o respeito.
ressalta que a velha História de fatos e nomes foi
substituída pela História Social e Cultural e que as 4. Identificar interpretações que expressem visões
pessoas comuns já são reconhecidas como sujeitos de diferentes sujeitos, culturas e povos com
históricos. Dessa forma, a proposta curricular de História relação a um mesmo contexto histórico, e
do município de Jaboatão dos Guararapes pretende posicionar-se criticamente com base em princípios
estimular ações nas quais professores e estudantes éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e
sejam sujeitos do processo de ensino e aprendizagem. solidários.
Nesse sentido, eles próprios devem assumir uma atitude
crítica diante dos conteúdos propostos no âmbito do 5. Analisar e compreender o movimento de
Ensino Fundamental estimulando o movimento populações e mercadorias no tempo e no espaço e
consciente e criador para conhecerem a própria história, seus significados históricos, levando em conta o
realizando comparações e interpretações do mundo respeito e a solidariedade com as diferentes
social relacionadas à formação cidadã. Sobretudo, o populações.
conhecimento do outro através de novas interpretações
pautadas no respeito à diversidade. 6. Compreender e problematizar os conceitos e
procedimentos norteadores da produção
Ao reconhecer o Brasil como um país multiétnico e historiográfica.
pluricultural deve ser garantido a todos o direito de
aprender e construir conhecimentos, afirmando sua 7. Produzir, avaliar e utilizar tecnologias digitais
identidade e multiplicidade de culturas. Por isso, a de informação e comunicação de modo crítico,
valorização de uma educação multicultural na atualidade ético e responsável, compreendendo seus
é resultado de anos de resistência e de luta política de significados para os diferentes grupos ou estratos
diversos grupos e movimentos sociais no Brasil e no sociais.
mundo. A partir de então, a luta e a mobilização desses
É importante enfatizar que as competências
grupos influenciaram o surgimento de políticas
homologadas na BNCC podem se adequar as
afirmativas, como a Lei Federal Nº 11.645/2008, que
especificidades dos estados, municípios e comunidades.
tornou obrigatória o ensino de História e Cultura Afro-
Nessa perspectiva, as escolas poderão tratar o contexto
Brasileira e Indígena nas escolas de todo o Brasil.
local a qual está inserido, flexibilizando a proposta do
Nessa perspectiva, a abordagem deste campo de Referencial Curricular. Por fim, acreditamos que este
conhecimento requer aprofundamento em seus currículo tem como objetivo estimular não só o
conceitos estruturantes, tais como: aprendizado, mas também a conscientização dos
estudantes como sujeitos ativos no processo histórico.
. Processo Histórico; Nesse sentido a BNCC legitima:

. Tempo; • “Por todas as razões apresentadas”, espera-se


que o conhecimento histórico seja tratado como
. Sujeito Histórico; uma forma de pensar, entre várias; uma forma
de indagar sobre as coisas do passado e do
. Cultura, Memória;
presente, de construir explicações, desvendar
. Cidadania; significados, compor e decompor
interpretações, em movimento contínuo ao

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longo do tempo e do espaço. Enfim, trata-se de Não obstante, surgem também nessa estruturação do
transformar a História em ferramenta a serviço fazer religioso, as filosofias de vida que são
de um discernimento maior sobre as fundamentadas nas crenças, valores e tradições
experiências humanas e as sociedades em que religiosas dos povos, refletindo-se nos mitos (ideia de
se vive”. (BNCC, 2017, p.399). como a vida cósmica foi criada), divindades (simbolizam
a ação heroica e divina dos “seres superiores”), vida e
post-mortem (imanência e transcendência), tradições
orais e escritas (leis e orientações das práticas
5.5. ÁREA V - ENSINO RELIGIOSO
religiosas), doutrinas (base do pensamento sistemático
Desde o surgimento da vida, o ser humano se constituiu religioso), crenças (ancestralidade, reencarnação,
da sua relação com a natureza, com os seres vivos e os ressurreição, transmigração, entre outras), princípios e
objetos concretos e com as ideias, sentimentos e valores éticos (equalizadores do comportamento ritual e
emoções, esses de natureza subjetiva. Essa dualidade social).
estabeleceu no ser humano a dimensão concreta,
Essas filosofias permitem definir o que seria certo ou
factual, da realidade (imanência) e a dimensão astral,
errado, permitido e não-permitido e,
plena de símbolos, códigos, valores e crenças
independentemente de religiosidades estabelecem
(transcendência), que se foram adensando nas diversas
posturas que mesmo pessoas não religiosas passam a
culturas ao longo da História. Essas dimensões
adotar, embasadas em aspectos racionais, científicos e
permeiam as relações dos seres humanos entre si, nas
filosóficos, entre outros. “Esses princípios, geralmente,
suas semelhanças e diferenças (alteridades), com a
coincidem com o conjunto de valores seculares de
natureza e com o sagrado/divino, possibilitando
mundo e de bem, tais como: o respeito à vida e à
distinguir o “eu” e o “outro”, o “nós” e o “eles”, através
dignidade humana, o tratamento igualitário das pessoas,
de representações e símbolos que atuam diretamente na
a liberdade de consciência, crença e convicções, e os
construção e estabelecimento das identidades. E na
direitos individuais e coletivos” (BNCC,2018).
identificação dessas semelhanças e diferenças entre o eu
e os outros e na compreensão desses símbolos, signos e
códigos o ser humano promove a relação entre o
concreto/imanente com o subjetivo/transcendente. 5.5.1. Componente Curricular De Ensino Religioso

Na transcendência se originam as manifestações O Ensino Religioso, de acordo com a BNCC, constitui uma
religiosas nas quais os indivíduos e as coletividades Área do Conhecimento e um Componente Curricular
buscam explicações para a vida e a morte, atribuindo específico que busca desenvolver o estudo dos aspectos
sacralidade e sobrenaturalidade a coisas, pessoas e religiosos inerentes ao ser humano e integrantes da
forças naturais, ressignificando a realidade objetiva. E formação do Ser. A prática desse componente apresenta
para mediar essa dimensão transcendental atuam o um objetivo essencialmente social num processo de
símbolo, o mito e o rito, linguagens básicas da expressão ensino-aprendizagem no qual o ser humano esteja
religiosa. voltado para o outro, visando desenvolver uma vivência
e uma filosofia de vida fundamentada na ética, e na
Nesse proceder, o ser humano fez surgir diversas defesa dos direitos humanos, elementos fundamentais
expressões espirituais e ritualísticas nas quais aparecem para a formação humanística.
cerimônias, festividades, celebrações, louvações,
orações, peregrinações e outras, nas quais os códigos, No ambiente escolar o Ensino Religioso prescinde de uma
ritos, mitos e símbolos atuam marcantemente. Os ação integrada, implicando numa proposta
códigos ressignificando ideias, os ritos narrando interdisciplinar e numa compreensão clara da relação
gestualmente a ideia metafísica, utilizando lugares entre religiosidade, fé e vida. Seus objetivos devem ser
sacralizados (montanhas, mares, rios, florestas, bem definidos, os conteúdos selecionados com uma
templos, santuários, caminhos e outros), que se equilibrada programação para cada ano, proporcionando
diferenciam dos outros graças ao caráter simbólico que um estudo sistemático e orgânico, situando o estudante
adquirem na execução dos rituais observados nas no saber referente ao que seja religião, religiosidade,
diferentes culturas; os mitos corporificando atributos doutrina, cultura e expressão religiosa, e suscitando os
heroicos e/ou deíficos a serem decodificados pelos temas: filosofias de vida, crenças, valores e
homens. representações diversas do universo transcendental. Do
ponto de vista do magistério, o componente requer do
E para presidir essas ações aparecem as figuras também profissional sua compreensão como fenômeno social,
simbólicas dos líderes espirituais, incumbidos das sua consciência da laicidade e não dogmatização no
reuniões e rituais religiosos: xamãs, sacerdotes, pajés, ensino de valores éticos e morais, contextualizando-os
yalorixás e babalorixás (pais-de-santo da afro- numa dimensão espaço-temporal, de acordo com os
brasilidade), entre outros que, além de organizar os tópicos a seguir:
rituais e transmitir a doutrina e interpretar os textos
sagrados, também fazem a divisão de atividades dos Configuração do fenômeno religioso por meio das
seguidores nas manifestações religiosas, transmitindo e ciências da tradição religiosa;
incentivando práticas, princípios e valores inerentes a
cada uma delas. Tal liderança de certa forma se Conhecimento e sistematização do fenômeno
confunde com aspectos políticos, econômicos, culturais, religioso pelas tradições religiosas e suas
e ainda educacionais, ambientais e da saúde, numa teologias;
relação cósmica dos entes envolvidos.

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Análise das tradições religiosas na estruturação e modo a assegurar os direitos humanos no


manutenção das diferentes culturas e constante exercício da cidadania e da cultura de
manifestações socioculturais; paz.

Exegese dos textos sagrados orais e escritos das Como previsto na BNCC, o Ensino Religioso se dará
diferentes matrizes religiosas (africana, indígena, mediante a observância das Unidades Temáticas, dos
ocidental e oriental); Objetos de Conhecimento e das Habilidades, que
orientarão o Currículo ao longo de todo o Ensino
Compreensão do sentido da atitude moral como Fundamental, notadamente nos Anos Iniciais.
consequência do pensamento religioso
sistematizado na tradição e como expressão da A Unidade Temática Identidades e Alteridades
consciência e da resposta individual e coletiva das reúne as dimensões imanência (dimensão concreta,
pessoas. biológica) e transcendência (dimensão subjetiva,
simbólica).
O Componente Ensino Religioso, ao considerar as
diferentes vivências, percepções e elaborações que Tais dimensões possibilitam que os humanos se
integram o substrato cultural da humanidade, a partir de relacionem entre si, com a natureza e com a(s)
relatos e registros elaborados sistematicamente, por divindade(s), percebendo suas semelhanças e diferenças
diferentes grupos sociais, pretende, como Área de (alteridades) e distinguindo o “eu” e o “outro”, “nós” e
conhecimento: instigar, desafiar e subsidiar as gerações “eles”, mediando suas relações dialógicas por
vindouras, oportunizar a liberdade de expressão religiosa referenciais simbólicos (representações, saberes,
e viabilizar a prática da “Declaração Universal sobre a crenças, convicções, valores) inerentes à construção das
Diversidade Cultural” (UNESCO,2001). identidades. Nessa unidade pretende-se que os
estudantes reconheçam, valorizem e acolham o caráter
O Ensino Religioso deve ser de caráter facultativo, sendo singular e diverso do ser humano, por meio da
vedada qualquer forma de discriminação, favoritismo ou identificação e do respeito às semelhanças e diferenças
sectarismo religioso. Sua prática na Educação Básica, entre o eu (subjetividade) e os outros (alteridades), da
visa a desenvolver as seguintes competências gerais: compreensão dos símbolos e significados e da relação
Compreensão da importância dos sujeitos na formação entre imanência e transcendência.
da sociedade; valorização das atitudes, das opiniões, das
críticas de si mesmo e dos outros; manifestação de A dimensão da transcendência trata do fato de o ser
atitudes de respeito, cuidado e responsabilidade por si humano ter conferido valor de sacralidade a objetos,
mesmo e pelo outro; respeito à natureza e coisas, pessoas, forças da natureza ou seres
reconhecimento da sua importância para a continuidade sobrenaturais, transcendendo a realidade concreta. Ela
da vida; identificação do elemento transcendente; baseia os fenômenos e experiências religiosas e as
conhecimento dos símbolos, ritos e mitos das tradições respostas, sentidos e significados da vida e morte
religiosas a serem representadas em sala de aula; ansiadas pelos homens individual e coletivamente. Ela é
identificação de valores necessários para o convívio em mediada por linguagens específicas, tais como o símbolo,
sociedade. o mito e o rito que, junto a outros elementos, comporão
a Unidade Temática Manifestações Religiosas.
O componente curricular de Ensino Religioso deve
garantir aos estudantes o desenvolvimento de Unidade Temática Manifestações Religiosas
competências específicas. engloba a dimensão transcendental é mediada por
linguagens específicas como o símbolo, o rito e o mito.
1. Conhecer os aspectos estruturantes das O símbolo é um elemento cotidiano ressignificado para
diferentes tradições/movimentos religiosos e representar algo além de seu sentido primeiro. Sua
filosofias de vida, a partir de pressupostos função é mediar realidades da experiência religiosa, que
científicos, filosóficos, estéticos e éticos. é uma construção subjetiva ali com diferentes práticas
espirituais ou ritualísticas: cerimônias, celebrações,
2. Compreender, valorizar e respeitar as
orações, festividades, peregrinações, entre outras.
manifestações religiosas e filosofias de vida, suas
Enquanto linguagem gestual, os ritos narram, encenam,
experiências e saberes, em diferentes tempos,
repetem e representam histórias e acontecimentos
espaços e territórios.
religiosos. Dessa forma, se o símbolo é uma coisa que
3. Reconhecer e cuidar de si, do outro, da significa outra, o rito é um gesto que também aponta
coletividade e da natureza, enquanto expressão de para outra realidade.
valor da vida.
Os rituais religiosos são geralmente realizados
4. Conviver com a diversidade de crenças, coletivamente em espaços e territórios sagrados naturais
pensamentos, convicções, modos de ser e viver. ou construídos, que se distinguem dos demais por seu
caráter simbólico, nos quais os diferentes sujeitos se
5. Analisar as relações entre as tradições religiosas relacionam, constroem, desenvolvem e vivenciam suas
e os campos da cultura, da política, da economia, identidades religiosas. Realizados em territórios
da saúde, da ciência, da tecnologia e do meio sagrados, tais rituais também apresentam lideranças
ambiente. que presidem e organizam os serviços religiosos.
Sacerdotes, líderes, funcionários, guias ou especialistas,
6. Debater, problematizar e posicionar-se frente entre outros, desempenham funções específicas: difusão
aos discursos e práticas de intolerância, das crenças e doutrinas, organização dos ritos,
discriminação e violência de cunho religioso, de interpretação de textos e narrativas, transmissão de

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práticas, princípios e valores, assumindo uma função habilidades BNCC e habilidades específicas do Jaboatão
religiosa, sociocultural e até política. dos Guararapes.

Unidade Temática Crenças Religiosas e Filosofias • Nesse sentido, é fundamental que os currículos
de Vida, enfoca os aspectos estruturantes das e as práticas dos professores promovam a
diferentes tradições/movimentos religiosos e filosofias pesquisa, como princípio pedagógico, associada
de vida, particularmente sobre mitos, ideia(s) de a uma abordagem reflexiva dos conteúdos que
divindade(s), crenças e doutrinas religiosas, tradições considere a relação complexa entre os
orais e escritas, ideias de imortalidade, princípios e potenciais do Trabalho, da Ciência e da
valores éticos. Tecnologia para resolução de problemas, a
ampliação da capacidade produtiva e
Os mitos, elemento estruturante das tradições religiosas, empreendedora, bem como para a garantia de
representam a tentativa de explicar a criação da vida, da um espaço de reflexão e atuação crítica e ética
natureza e do cosmos. Contam histórias dos deuses ou sobre suas influências nos impactos ambientais
heróis divinos, relatando, por meio de simbolismos, a e sociais.(Currículo de PE -2018)
manifestação das divindades, estabelecendo uma
relação entre imanência e transcendência. Situa-se
numa relação espaço-temporal e apresenta-se como
uma história verdadeira, repleta de elementos Constitui-se em um documento orientador do Sistema
imaginários. Para o mito, a criação é uma obra de Municipal de Ensino para a Rede municipal e na
divindades, seres, entes ou energias que transcendem a modalidade da Educação Infantil das escolas privadas.
materialidade do mundo. São representados de diversas Também é inspirador para as modalidades da educação
maneiras, sob distintos nomes, formas, faces e sentidos, básica, essas, por suas especificidades e singularidades,
segundo cada grupo social ou tradição religiosa. deverão ter adequações curriculares no interior das
instituições.
O mito, o rito, o símbolo e as divindades alicerçam as
crenças, entendidas como um conjunto de ideias, O estudo do Referencial Curricular Municipal do Jaboatão
conceitos e representações estruturantes de dos Guararapes deve acontecer de forma coletiva,
determinada tradição religiosa. As crenças fornecem assessorado pela supervisão educacional, dentro das
respostas teológicas aos enigmas da vida e da morte, instituições e/ou pelas reuniões sistemáticas na
que se manifestam nas práticas rituais e sociais sob a formação continuada da rede municipal de ensino. A
forma de orientações, leis e costumes. consulta dos docentes aos organizadores curriculares,
deverá acontecer de forma recorrente, na elaboração
Daí surgem as narrativas religiosas que são preservadas dos planos de trabalho para as práticas educativas nos
e passadas de geração em geração pela oralidade: estabelecimentos de ensino do Ensino Fundamental e
cosmovisões, crenças, ideia(s) de divindade(s), nas unidades educacionais da Educação Infantil da Rede
histórias, narrativas e mitos sagrados constituíram Municipal de Ensino do Jaboatão dos Guararapes – PE.
tradições específicas, inicialmente orais ou sob a forma Por isso, a providência de deixar os organizadores
de textos escritos. Estas narrativas reúnem afirmações, curriculares em anexo, não desvirtua nem desmerece o
dogmas e verdades que procuram atribuir sentidos e valor do documento base, pelo contrário, cada
finalidades à existência, bem como orientar as formas de organizador curricular é resultante da fundamentação
relacionamento com a(s) divindade(s) e com a natureza. segundo os preceitos da BNCC e do Currículo de
Se configurarão em doutrinas, do sistema religioso, Pernambuco, no Referencial Curricular Municipal do
sendo transmitidas e ensinadas aos seus adeptos de Jaboatão dos Guararapes.
maneira sistemática para assegurar uma compreensão
mais ou menos unitária e homogênea de seus conteúdos.

As filosofias de vida se ancoram em princípios cujas


fontes não advêm do universo religioso, decorrendo de
fundamentos racionais, filosóficos, científicos, entre
outros. Pessoas sem religião adotam princípios éticos e
morais cuja origem tem relação com valores seculares
de mundo e de bem, como o respeito à vida e à dignidade
humana, a equidade das pessoas, a liberdade de
consciência, crença e convicções, e os direitos individuais
e coletivos.

6. ORGANIZADORES CURRICULARES

Neste documento, os organizadores curriculares


referentes às modalidades da Educação Infantil, do
Ensino Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos,
contempla as áreas de conhecimento, obedecendo a
ordem sequencial e uma abordagem sobre cada
componente curricular, e apresenta na sua estrutura,
ano/eixo, unidades temáticas, objetos de conhecimento,

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